DOCE MENTE
Oh!
Mente que docemente mente ao meu coração...
O tempo passa... e a cada passo mais vazia fica minha alma...
Porque você não vem de mansinho, chega bem dentro de mim
e arranca do meu peito esta solidão???...
Essas lembranças de amores perdidos que me torturam e me tiram
a razão???...
Por horas a fio medito e tristemente lamento... Por que tanto sofrer
e chorar???...
Oh! Doce Mente! Como me enganas! Faz-me crer que tudo vai voltar, que
novamente feliz vou ficar!
E eu... tolo e inconsciente, em loucura total, espero...
Perdido nesse estranho ninho de loucos, ladeado por alguns Cristos e
muito Napoleão...
Neste hospício cheio de pobre gente rica que tudo tem e... nada...
em vão... no profundo mar da escuridão...
A vida escorrega lentamente pelos sábios dedos do Tempo...
O chão de minha cela almofadada se enche de quadrados...
Lá fora, na fria noite calma, cheia de lampejos, a alva lua com
sua beleza nua, os prados e minha grade prateia...
Lentamente noto uma pequenina luz invadindo meu covil...
atordoado, meio ofuscado na penumbra...
Em meu torpor demoro a reconhecer o que é...
e pouco a pouco um sorriso invade minha face...
lembranças felizes de minha infância...
folguedos de criança...
brincadeiras sem fim...
a eterna espera por Papai Noel...
É Vida!.... Vejo Vida enfim!...
Eu não morri!... Eu não sou louco!...
Estão todos enganados!... Eu sei quem eu sou!...
Os volteios de um pequeno vaga-lume enchem o ar de rabiscos foscos,
esverdeados, oscilantes...
cada vez mais perto... cada vez mais perto... levanto a mão trêmula
em busca da luz...
busco a vida... a vida que dança e lampeja no vazio...
Por horas a fio...
volto novamente a meditar...
a pensar...
a olhar...
com carinho, na mão segurando a vida e vendo a vida iluminar...
a manhã clareia...
o sol se acende...
a consciência renasce...
porque minha mente docemente...
já não mais mente ao meu coração...
Dermeval Pereira Neves
São Paulo, 06 de maio de 2.000 – 02:02h