O SUCESSO A QUALQUER PREÇO
Autoria de Fábio L. Violin
Você já ouviu falar em workaholic?
É uma expressão americana que teve origem na palavra "alcoholic" (alcoólatra).
Serve para denotar uma pessoa viciada, não em álcool mas em trabalho.
As pessoas viciadas em trabalho sempre existiram, no entanto, esta última década acentuou sua existência motivada pela alta competição, necessidade (talvez mais adequado seria dizer obsessão) por dinheiro, vaidade, sobrevivência ou ainda alguma necessidade pessoal de provar algo a alguém ou a si mesmo(a).
Como resultado da influência de uma pessoa viciada em trabalho pode-se perceber geralmente alguns fatos interessantes: o primeiro deles é que este tipo de pessoa geralmente não consegue se desligar do trabalho mesmo fora dele, acaba por deixar de lado seu parceiro(a), filhos, pais, amigos, aliás, os melhores amigos passam a ser aqueles que de alguma forma tem ligação com seu trabalho.
De outro lado, este tipo de pessoa sofre por trazer para si uma qualidade de vida muito ruim, pois as pressões do dia-a-dia e a auto cobrança exagerada fazem com que este tipo de profissional tenha insônia, surtos de mal humor, impotência, atitudes agressivas em situações de pressão ou desconformidade(com os resultados que ele esperava) e pode-se chegar a ter depressão, entre outros efeitos danosos.
Mas uma das mais severas conseqüências é o medo de fracassar. Este medo condiciona e impulsiona o viciado a estar tentando sempre mais e cada vez mais forte e mais concentrado na busca por resultados. A palavra fracasso causa arrepios neste profissional.
Tenho um amigo que foi viajar de férias com a família para o litoral. Sol forte, bronzeador, cadeira de praia, água de coco do lado e no colo o notebook. Foram 11 dias da mesma forma.
Não estava de férias, apenas estava trabalhando de sunga e ao ar livre. Sua esposa indignada e farta da situação, em um acesso de fúria tomou o notebook de suas mãos e atirou no mar, resultado: a separação rondou bem perto. A mulher saiu de casa com as crianças e só aceitaria voltar se ele pudesse ter mais tempo para a família.
Este meu amigo de repente se viu em uma situação cômoda, afinal poderia trabalhar até em casa, pois a esposa não estava lá para “incomodar” segundo ele. Foram mais de 40 dias nesta situação, e ele começou a achar aquela vida boa, pois agora sim tinha tempo para se dedicar “mais” ao trabalho.
No entanto aconteceu um fato que mudou a história toda, sua esposa ligou certa noite, já bastante tarde para avisa-lo de que o filho menor de 2 anos não estava bem, ele ficou preocupado, pediu a ela que o levasse ao médico, mas não foi ver o garoto.
No dia seguinte a esposa voltou a ligar pedindo a ele que passasse no hospital, pois o filho tinha ficado internado e estava fazendo uma bateria de exames. O filho não tinha nenhuma doença, apenas saudade do pai. Quando este amigo ouviu isto da boca da própria criança é que pode entender que estava trabalhando para ter uma vida melhor, mas tinha deixado de lado as pessoas mais importantes da sua vida.
Neste dia ele viu seu filho de apenas dois anos adormecer na cama de um hospital segurando com sua pequena mão um dos seus dedos, e pode perceber que aquele pequeno e indefeso ser já tinha dois anos e ele não percebeu, não tinha notado que estava deixando de lado uma das razões da sua vida, talvez a mais importante. Hoje trabalha menos, ganha menos, mas vive melhor com a família.
É preciso ter ambição, querer crescer e prosperar, mas na dose certa. A ambição na dose certa funciona como algo propulsor, mas exageradamente pode levar a um comportamento compulsivo, exagerado. Como diz o meu pai, tudo de mais faz mal, até água.
Todos querem ter uma história de sucesso, mas muitos dedicam mais de 12 horas por dia a este intento, e acabam não aproveitando o fruto do seu trabalho, os resultados que aparecem servem de degrau para se querer ir além, sem ao menos desfrutar do que já se conseguiu.
É uma bola de neve, quem é viciado em trabalho acaba perdendo os amigos que já não o procuram porque sabem que não tem tempo. A família acaba criando um outro ritmo de vida alheio ao mundo do viciado, brigas, discussões acabam ocorrendo. O pior é que a tendência como em qualquer vício e dilatar as doses do veneno é como alguém que começa a fumar, no começo fuma um, dois, cinco, depois de algum tempo já esta fumando uma carteira, em casos extremo pode chegar a três carteiras por dia ou mais.
Segundo estudos a felicidade, o bem estar é que são geradores de produtividade, os viciados em trabalho perdem ao não conseguirem tempo para abstrair, pensar na própria vida, conseguir olhar de lado, corrigir os erros e os caminhos, afinal se o caminho tomado foi o errado, por mais que se corra, só se estará indo mais longe só que para a direção errada.
Sempre é possível administrar as nossas “outras vidas” fora do trabalho.
Pode parecer lugar comum, mas quantidade não significa necessariamente qualidade, e a maioria dos viciados não consegue perceber ou distinguir esta diferença que apesar de óbvia não é seguida. O equilíbrio ainda é o melhor caminho, afinal existe tempo para se viver e tempo para se morrer, aqueles que estão envolvidos de forma tão contundente em seu trabalho que não perceber mais nada a sua volta, de certa forma são mortos vivos.
Tem uma estória que recebi por e-mail e que creio ser muito interessante:
Certo dia o pai chega em casa cansado de mais um dia de trabalho. Seu filho de 6 anos o esperava na sala. Assim que o homem entrou pela porta já ouviu a voz do garoto perguntando:
“Pai quanto o senhor ganha por hora?”
Por que quer saber – perguntou o pai.
Por que sim oras!
Eu ganho 8 reais por hora.
Hummm, então me dá dois reais? – pediu o filho
O pai ficou furioso e atacou:
“Ah então é por isto, seu pequeno interesseiro, que saber quanto eu ganho para me pedir dinheiro, vá já para sua cama”
Após algum tempo o pai se acalmou e percebeu que tinha sido duro demais com o filho. Foi até o quarto do garoto e o acordou e disse: “Me desculpe fui muito severo com você, tome aqui os dois reais”
O menino pulou radiante da cama, pegou os dois reais e correu para abrir a gaveta de sua cômoda e tirar de lá um punhado de moedas e algumas notas de dinheiro bem amassadas. Correu ao encontro do pai e disse – Pega!
O pai sem entender nada quando ia perguntar o motivo de tal atitude o filho emendou: Aqui tem oito reais e 13 centavos, você pode me vender uma hora do seu tempo para nós brincarmos.
Saiba entender os motivos que o levam a trabalhar. Aprenda a desfrutar daquilo que já conquistou.
Sempre é possível ter tempo para as coisas importantes da vida, mas geralmente gastamos 70, 80% do nosso tempo em coisas menos significativas.
Trabalhar só tem um sentido: ter uma vida melhor hoje, e não amanhã. O amanhã pode não chegar, por isto aproveite hoje. Não podemos trabalhar ao ponto de perdermos de vista nossos desejos, anseios e necessidades. Não podemos ser escravos do trabalho ou do tempo, eles servem como meios de nos proporcionar uma vida melhor.
“O que tiver que fazer faça bem feito, afinal, você estará trocando um dia de sua vida por isso”.
Professor Fábio L. Violin
Mestre em Estratégias e Organizações _ UFPR
Especialista em Planejamento e Gerenciamento Estratégico – PUC-PR
Professor universitário, palestrante e consultor de empresas.
E:mail: flviolin@hotmail.com ou flviolin@terra.com.br