COM MEUS BOTÕES...
Criação e colaboração
do Diácono José da Cruz de Votorantim-SP, Contos com
diálogos do sonhador - O Dreamer - com o velho e sábio
botão - O Marechal.
Índice desta página:
. TRÊS ROSAS
. DOCEIRO
. URUBÚS
. FANTASMAS
. RIO DA MONTANHA
Nos despedimos do “Sêo” Waldomiro
Miranda, na tarde do último domingo e eu botei reparo nas
três rosas da cor rubro, muito vivas juntas a um rosário
em suas mãos. Perambulamos depois pelo amplo salão,
revendo pessoas queridas e ouvindo depoimentos comoventes das lembranças
que ficaram do querido e já saudoso amigo. Marechal ouviu
a tudo atentamente e mais tarde tocamos no assunto.
___Pois é Marechal, aquelas três
rosas me chamaram a atenção, o Professor gostava de
flores, lembro-me que cuidava com esmero das plantas ornamentais
da igreja São João “Elas são minhas amigas”
– Ele costumava dizer com orgulho, quando surpreendido cuidando
das flores.
O Velho Botão então argumentou:
___É por isso que hoje, essas três amigas do “Sêo”
Waldomiro, vieram para contarem a todos que estão aqui, a
história da sua vida.
___Ah Marechal, isso é muito romantismo,
mas sabemos que as rosas não falam, como bem o disse o imortal
Cartola.
___Pois eu atrevo-me a discordar, porque pelo menos
essas aí, em seu mudismo e na vivacidade de suas pétalas
rubras, falam sim, quem foi “Sêo” Waldomiro.
Voltamos então para a sala, onde uma legião
de amigos rodeava a urna mortuária rezando e pranteando o
falecido.
E Marechal cochichou em meu ouvido:
___Repare
na primeira rosa, ao lado do coração, é de
um vermelho muito vivo, que lembra sangue, que por sua vez simboliza
a vida, que ele generosamente entregou no sagrado Magistério,
aos alunos que ensinou, saciando-lhes o saber.
___E aquela do lado oposto, qual o significado?-
perguntei
___Ah essa é da comunidade que ele tanto
amou e que dedicou muitos dias de sua vida. Mas temos também
a rosa do meio, que está bem em cima do coração...
___E o que ela significa?
___Família! Amor partilhado na alegria
e na tristeza, na saúde e na doença, com a esposa
Ítala e o casal de filhos.
Despedi-me dos familiares e já no carro,
o Velho Botão concluiu a nossa conversa:
___As três rosas, suas amigas, irão
à frente, abrindo caminho na corte celestial, para conduzi-lo
diante do Mestre dos mestres, que irá acolhe-lo dizendo em
um sorriso: “Brilhante aula professor! O estágio terminou,
e você foi aprovado com louvor! Seja bem vindo!”
Na portaria da Fábrica, mais precisamente
no ponto de ônibus, há um personagem que já
se incorporou ao dia a dia dos trabalhadores: Narciso, o Velho doceiro,
que ali faz ponto desde o horário do almoço até
o entardecer.
___Veja Marechal! --- comentei, sentado no banco
da antiga praça de Santa Helena, enquanto observava a movimentação
---- o velho Narciso com sua simplicidade conquistou um bom número
de fregueses que lhe são muito fiéis.
O Velho Botão, que observava atentamente
o contato entre o pequeno comerciante e a sua freguesia, observou:
___Esse doceiro tem uma técnica apurada
que às vezes nem as grandes magazines têm. Disse Marechal.
Ouvindo isso não pude deixar de sorrir,
o Botão quando se encanta com alguma pessoa, acaba exagerando
ao falar dos predicados da mesma. Percebendo o meu desdém,
Marechal chamou a minha atenção:
___Veja bem, o tratamento personalizado que ele
dá a cada um dos seus fregueses, quando diz o nome e pergunta
com humildade se o mesmo “Não quer um docinho?”.Ele
conhece as pessoas e as pessoas o conhecem, as contas são
marcadas pelos próprios fregueses na cadernetinha, estabelecendo-se
assim uma relação fundamentada na mútua confiança.
Fiquei em silêncio, pois o danado do Botão
tinha toda razão. Mas daí lembrei-me de algo importante
e toquei a conversa para frente:
___ O “Sêo” Narciso é
aposentado da Fábrica e vem vender seus doces para engordar
os vencimentos de aposentado, que às vezes é meio
minguado, por isso está familiarizado com os funcionários.
Agora
foi o Botão que ficou calado, mas depois, voltando ao fundo
do bolso para uma soneca, arrematou:
___Provavelmente ele nem precise desse rendimento,
mas insiste em ser o doceiro da porta da fábrica, para estar
sempre revendo os antigos companheiros, e assim manter o vínculo
de amizades que soube conquistar ao longo do tempo, com seu jeito
humilde e simples, pois para quem descobriu a arte de se relacionar
bem com as pessoas, a vida tem a doçura de um néctar.
A grande mídia vem dando destaque à
crise política que se instalou nos bastidores do governo
por conta da denúncia de corrupção, envolvendo
estatais e outras autoridades ligadas ao poder. Assistindo o noticiário,
após desligar a TV resolvi provocar o Marechal, que já
estava acomodado no fundo do bolso para o repouso noturno.
___Olha aí Marechal, mais uma crise política
por causa da corrupção, que todos pensávamos,
estivesse banida no Governo Lula.
Como Marechal nada respondesse, resolvi tocar o
assunto para frente;
___A impunidade estimula a corrupção, eu acho, se
houvesse mais rigor na investigação e na punição
aos corruptos, o País não teria essa triste fama!
Diante da minha observação, o Velho
Botão resolveu entrar no debate:
___Concordo, mas o que mais contribui para que haja corrupção,
é a facilidade que eles tem, para agirem desonestamente,
quando estão no poder.
___Mas os políticos não chegam no
poder da noite para o dia, isso requer um esforço, falam
até em carreira política!
___Você sabe que técnica usa os urubus
para alcançarem grandes alturas?
Não respondi de imediato porque nada entendo
de urubus, mas lembrei-me de quando ficava na Prainha de Santa Helena,
no intervalo do almoço sentado à sombra dos eucaliptos,
olhando do outro lado a Urubuzada à beira do barranco.
___Bom Marechal parece que ao deixar o solo eles
voam em espiral, como se não tivessem pretensão alguma,
até atingirem as correntes de ar, onde passam a flutuar s
são levados ao sabor do vento, em fazerem nenhum esforço.
O
Velho Botão, que já estava sentado à beira
do bolso, arrematou o debate com essa acertada comparação:
___Alguns políticos fazem um grande esforço
para atingirem o poder, mas sempre voam em círculo, como
os urubus, escondendo suas intenções. Uma vez no poder,
deixando-se levar pelos ventos das negociações interesseiras
e outras falcatruas, que lhes permite ganharem no “mole”,
como esses que integram a equipe do governo Federal.
Nessas férias, Marechal passou quase quinze
dias sem sair do fundo do bolso, mas nesta última semana
acabou me surpreendendo. É que passei três dias com
a família na chácara cedida por um amigo e na segunda
noite decidimos assistir o filme “Navio Fantasma” e
daí acabei perdendo o sono e bateu-me a velha angústia
trazendo-me um medo inexplicável.
___Está com medo de fantasmas, por causa
do filme? Perguntou Marechal.
___Ah o Senhor ainda fala? Pensei que tinha virado
um simples Botão! Desculpe os nervos Marechal, estou com
medo sim.Talvez dos fantasmas e do mistério da morte que
sempre ronda a gente.
___E por que não inverte o quadro?
___Olha Marechal, aqui dentro da nossa cabeça
tem algo que não depende da nossa vontade, conforme a idade
alguma coisa não funciona e a gente fica angustiado e há
o risco de uma depressão.
___Olhe o relógio, é Meia Noite
em ponto, hora dos fantasmas. Mantenha todas as luzes apagadas e
saia na varanda enrolado em um cobertor. Dê algumas voltas
ao redor da piscina bem lentamente.
Achei a proposta sem nexo e totalmente absurda,
mas encarei como um desafio e topei a parada. Para provar minha
coragem equilibrei-me sobre o muro que divide o terreno da parte
mais baixa, e comecei a andar abrindo os braços.
De repente Marechal disse a meia voz:
___Olha lá em baixo o seu amigo, no muro
de entrada ..
Dei um grito e quase cai do muro, o luar projetava
minha sombra no muro, junto a sombra dos galhos do limoeiro, e por
causa do cobertor dava a nítida impressão de um ser
fantasmagórico me espreitando lá de baixo.
___Ali está o seu fantasma ! – disse
eufórico Marechal.
Após o medo senti um grande alívio, comecei a brincar
de fantasma como fazia na minha infância e dei boas risadas
com o resto da família que vieram me ver porque pensaram
que eu havia ficado doido. Tomei uns bons goles de vinho para esquentar
e depois ficamos olhando as estrelas coisa que na cidade é
impossível. Percebi que havia acabado a angústia,
os meus fantasmas fugiram porque não agüentaram a concorrência.
Deitei na rede enrolado em um bom cobertor e quase dormindo ouvi
Marechal dar o arremate:
___O melhor remédio para espantar os fantasmas
da mente é juntar-se a eles, fazendo algo que os surpreenda.
Tendo acabado de ler o livreto editado pela municipalidade,
intitulado “Histórias da nossa História”,
fui de carro até o início da rodovia Votorantim-Piedade
e olhando para a histórica cachoeira, que deu nome ao município,
puxei prosa com o Marechal:
___ Olha Marechal, gostei muito do novo significado
sobre a grafia da cidade, que este livreto traz; “Rio da Montanha”,
que deriva do termo indígena “Ybytyra ty” da
antiga linguagem tupi, segundo o mesmo.
O Velho Botão olhou para o trecho encachoeirado,
entre o morro do Macuco margeando com a Velha Ferrovia, e o morro
da cachoeira, que margeia a Rodovia, e comentou:
___De fato este nome é bem mais plausível
e coerente com a história da cidade.
Tentando entrar no raciocínio filosófico
do Velho Botão, emendei o assunto:
___Sem dúvida Marechal, Rio da Montanha
é mais bonito do que Cascata Branca, porque podemos então
comparar essa impetuosidade das águas com o vigor de nossa
gente. Seria isso? --- indaguei, quando chegávamos na Vila
Amorim e parávamos na rotatória que serve também
de mirante no final da rua.
O Velho Botão olhou ao longe por sobre
a cidade o traçado do leito do rio e perguntou-me:
___Você se lembra alguma coisa da história
do Desmembramento?
___O processo de desmembramento exigiu luta e garra
de alguns homens ilustres que a cidade reverencia. Surgiram obstáculos,
barreiras e toda sorte de dificuldades, mas um dia, aquilo que era
um sonho tornou-se realidade. --- comentei, respondendo a pergunta
do Marechal.
___Pois é ----- completou o Botão
---- As águas do rio que desce da montanha tem uma meta:
chegar ao infinito do Oceano. Para tanto ele contorna pedras, faz
curvas fechadas, precipita-se para baixo, vara planalto e florestas,
pontes e ilhas, se junta a outro grande rio, até que chega
na imensidão do mar, misturando suas águas com as
do oceano.
E quando já retornávamos da Vila Amorim, o Velho Botão
concluiu seu pensamento inicial:
___A história do rio e da cidade é
uma só, por isso, o nome de “Rio da Montanha”
é realmente mais poético e original, a imensidão
do infinito já se descortina ao longe, mas até lá
outros obstáculos e desafios terão de ser superados,
como faz a água do rio. Pontuou o Botão filósofo.
ESTA PÁGINA
É DEDICADA A CRIAÇÃO DO DIÁCONO JOSÉ
DA CRUZ.
QUE DEUS ABENÇOE
A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos,
livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores
se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje!
Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!
Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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