COM MEUS BOTÕES...
Criação e
colaboração do Diácono José da Cruz
de Votorantim-SP, Contos com diálogos do sonhador - O Dreamer
- com o velho e sábio botão - O Marechal.
Índice desta página:
. CHUVA E LÁGRIMAS
. MUDANÇAS
. BIG BROTHER BRASIL
. CACHORRINHOS
. AZEDUME
Na tarde de terça feira de
carnaval, descia do Rio Acima quando despencou um aguaceiro e resolvi,
por precaução parar no Posto da Mangueira perto da
Via Férrea, e para passar o tempo coloquei um CD de hinos
patrióticos dos quais gosto muito.
Naquele momento avistamos um cotejo
fúnebre que saia da Ossel, acompanhado por uma fileira de
viaturas policiais com a sirene aberta pedindo passagem.
___Veja Marechal, deve ser o enterro
daquele policial da Vila Nova que foi mais uma vítima da
violência.
Coloquei o Velho Botão no
painel do carro para ele ver melhor e reparei que ele estava com
uma vistosa farda azul e um quepe na cabeça, que tirou respeitosamente
quando o féretro passou por nós, fazendo a continência
no momento em que, por coincidência tocava o hino do soldado
com seu refrão “A paz queremos com fervor/ A guerra
só nos causa dor/ Mas porém se a pátria amada
for um dia ultrajada/ lutaremos sem temor”
A chuva marcava o compasso da tristeza
no pranto dos familiares e amigos da PM e as lágrimas se
misturavam com a água que vinha do céu. Olhando para
o velho Botão ainda em continência, e com este refrão
servindo como um trilha sonora para aquele momento, tive de me conter
para não cair em prantos, ao lembrar-me de que estávamos
justamente no local onde o PM foi atacado de maneira traiçoeira
e inesperada.
Quando passou o último carro,
Marechal voltou a última forma e sentou-se na beira do bolso
da minha camisa.
___Meu amigo, até parece
que este hino fala desse moço, um fiel soldado na luta pelo
bem ... - comentei.
Marechal estava emocionado, e enxugando
algumas lágrimas que caíram de seus pequeninos olhos,
concluiu:
___A pátria sempre é
ultrajada quando a força do mal domina o coração
de um jovem, para quem a vida do próximo de nada vale, mas
esse ultraje é desagravado quando policiais valiosos tombam
de maneira heróica na luta contra a marginalidade, ensinando-nos
que vale a pela acreditar no bem.
___Mas Marechal, não dá
a impressão de que o mal saiu-se vitorioso nesse caso? Veja
quanta tristeza...
___Não
devemos nunca pensar assim, porque ao dar a sua vida pelo Bem que
sempre sonhou e alimentou em seu coração, esse policial
conseguiu enfim alcançá-lo e realizá-lo de
maneira plena.
___Mas então ele realizou
todos os seus sonhos e a sua esperança, aonde? – indaguei.
Então o Velho Botão
concluiu, apontando as alturas do infinito,onde um pedaço
azul de céu aparecia timidamente entre as nuvens carregadas:
___Lá... onde os justos encontram
abrigo seguro NAQUELE que é o Bem Supremo!
___Tenho novidades meu caro Marechal,
finalmente estão acontecendo reformas importantes na câmara
dos deputados lá em Brasília!
O velho Botão, que estava
de pijama porque acabara de se levantar, interessou-se pelo assunto
e comentou:
___Reformas na câmara dos
deputados são muito importantes, já faz tempo que
os deputados não fazem nada sério, do que se trata?
Por instantes fiquei com receio
de que o Velho Botão não fosse apreciar a minha “brincadeira”,
mas como tenho certa liberdade com ele, decidi prosseguir e falei:
___Olha Marechal, entre os reformadores
tem um que eu critiquei e que acabou me surpreendendo...
O velho botão sorriu e perguntou:
___Não me diga que é o tal de Clodovil? Que reforma
ele fez?
___Bom, ele e alguns deputados fizeram
uma grande reforma... em seus gabinetes com decorações
luxuosas, inclusive o Clodovil colocou uma enorme cobra de bronze.
Marechal sentou-se desanimado na
caixa de fósforos e indagou:
___Isso é sério?
___Claro que sim! Veja aqui neste
jornal ...
O Velho Botão devorou em
instantes o noticiário e logo demonstrando desapontamento
comentou:
___Então são essas
as tais reformas que os ilustres deputados estão fazendo...
Que bela arroba!
___Pois é Marechal, tem um
que até colocou quadros valiosos e um tapete persa, mas pelo
menos isso não saiu do bolso do contribuinte, pois eles tiveram
o bom senso de pagarem do próprio bolso.
O
Velho Botão balançou a cabeça e voltando para
a caixa de fósforos, de onde tinha saído para ler
o jornal, encerrou o assunto:
___Não sei iluda com isso,
pois o que vão desembolsar agora com tais futilidades, irão
ganhar o quíntuplo com o gordo salário, demais vencimentos
e todas as regalias a que tem direito um deputado federal. Instalados
confortavelmente em seus gabinetes de luxo, jamais irão se
lembrar do pobre povo, que como sempre continuarão, em sua
maioria, a comer o pão que o diabo amassou!
Domingo á noite, assim que
terminou o Fantástico, fiquei olhando um pouco do tal de
Big Brother Brasil, deitado nas almofadas do banco de madeira do
quartinho da edícula. O Velho Botão, que se preparava
para deitar, comentou:
___Esse programa me embrulha o
estômago. Quanta bobagem... Vou dormir que ganho mais.
“___E atenção,
sua participação é muito importante, ligue
aqui no BBB de Brasília ao vivo e faça a lista dos
deputados e senadores que você quer mandar para o paredão...”.
___ Oba, que novidade é essa?
BBB em Brasília? Deixa-me ver melhor...
“___É isso mesmo caro
telespectador, é você que decide quais os políticos
que vão para o paredão. Os indicados pela maioria
dos brasileiros, serão exonerados de suas funções
e nos próximos 30 anos não mais poderão participar
da política neste país, cada ligação
você poderá indicar 10 nomes”.
Sai correndo como louco, peguei
o telefone na sala e voltei para o quartinho.
“Ah agora esses infelizes
vão ver o que é bom, vou me vingar mandando para o
paredão todos os corruptos que têm culpa no cartório,
vou mesmo fazer uma limpeza”.
Fiz umas dez ligações
e ajudei a acabar com a carreira política de 100 deputados.
Decidi então consultar Marechal para saber quais outros nomes
eu deveria indicar nas próximas ligações, pois
uma chance como esta a gente não pode perder.
Foi quando fiquei apavorado ao notar
que o velho botão tinha sumido da estante, chamei-o várias
vezes inutilmente. Procurei em outros lugares em meio aos livros,
remexi cada canto da estante de metal e nada do Marechal.
Notei então
em baixo do banco a cachorrinha Rubi, lambendo os beiços
e senti um calafrio da cabeça aos pés.
___Meu Santo Deus, não pode
ser! Será que o Marechal caiu aqui no chão e a cachorrinha
o enguliu? ----- exclamei apavorado tomando Rubi ao colo, que me
olhava com a carinha travessa. A minha suspeita fazia sentido, ela
andara comendo porcarias porque estava com vermes, tinha ouvido
a mulher dizer.
Fiquei
em pé, um vento gelado entrava pela janela sem vidro e aquela
idéia de ter perdido para sempre meu querido amigo Filósofo,
acabou desencadeando-me um pranto inconsolável, e foi aí
que ouvi o Velho Botão me chamando:
___Acorda! Acorda que já
é tarde, e dormindo nesse banco duro vai acordar com a coluna
travada...
Aliviado apaguei a luz, fechei
a porta e enquanto atravessava o quintal para ir dormir no meu quarto,
falei sozinho:
___Caramba, pelo menos a primeira
parte do meu sonho, bem que poderia ser verdade!
Em uma dessas madrugadas nossa casa
foi tomada pelo maior agito. É que a cachorrinha Rubi entrou
em trabalho de parto e decidimos levá-la ao quartinho dos
fundos onde ela se sentisse mais segura, longe dos outros cães
que temos.
O velho Botão, que estava
“ferrado” no sono dentro da caixa de fósforos
na estante, acordou assustado com a movimentação e
vestido com seu pijama listrado, meio tonto de sono, indagou:
___O mundo está acabando? O que aconteceu? Que correria é
essa?
___Os cachorrinhos da Rubi estão
para nascer e a gente não sabe o que fazer! – respondi.
___Mas está ocorrendo alguma
complicação? --- perguntou Marechal, ajeitando os
óculos na ponta do nariz.
___Sei lá, meu amigo, não
entendo dessas coisas! Veja, uma parte da “bolsa” está
para fora e ela parece nos pedir ajuda com o olhar desesperado.
O
velho Botão pediu-me para colocá-lo bem próximo
a Rubi, no seu improvisado ninho de panos velhos em baixo da escrivaninha
e olhando fixamente para os olhos da parturiente ofegante, comentou
momentos depois:
___De fato, ela está pedindo
algo a vocês...------- acabou de me dizer....
___Puxa vida, não sabia do
seu poder para se comunicar com os animais, e daí? O que
ela quer? Diga logo!
___ Que apaguem a luz e a deixem
em paz, ela sabe muito bem o que fazer – comentou Marechal
cruzando os braços.
Argumentei que a cachorra era inexperiente,
mas Marechal nada respondeu e retirou-se para um lado de onde ficou
assistindo a tudo de braços cruzados, bocejante e com um
leve sorriso por ver a nossa preocupação.
Quando enfim chegou a hora, a valente
cachorrinha estourou a “bolsa” com os dentes e assim
que a cria foi parida, devorou a placenta deixando-nos apreensivos,
porque pensamos que estava devorando a própria cria, mas
o Velho botão tranqüilizou-me, acenando que aquela atitude
era normal.
Logo depois voltaram as contrações
e nasceu mais um filhote, desta vez um lindo machinho, cor de chocolate.
No
amanhecer, enquanto que as crias dormiam tranqüilamente ao
lado da mãe, após a primeira mamada, o Velho Botão,
preparando-se para retomar o sono interrompido, concluiu seu comentário:
___A mãe natureza é
muito sábia e o instinto materno, movido pela ternura e preservação
da vida, coordena as ações que você viu, garantindo
assim o nascimento dos filhotes com toda segurança.
Nos animais esse instinto de preservação da vida é
muito forte e as fêmeas não se opõe a ele, diferente
do ser humano, que embora superior aos animais, muitas vezes se
julga no direito de “matar”, ainda no útero materno,
a preciosa vida que está para nascer.
NOTA DO EDITOR:
Prá quem gosta de bichinhos, a foto acima é da cachorrinha
Rubi e seus filhotes, que inspiraram esse conto.
___Marechal, sabe aquela minha vizinha
da casa da vila industrial? --- perguntei ao velho botão,
que olhava um mapa mundi na estante.
___Aquela que você vivia falando
que era uma pessoa insuportável? Sei sim, o que foi que houve?
Perguntou-me, virando-se para o meu lado e
sentando-se na caixa de fósforos disposto a levar a conversa
adiante.
___Imagine você que aquela
infeliz quis arrumar “encrenca” um pouco antes de sairmos
com a mudança, gritando da porta que iria chamar a polícia
caso eu não levasse os dois cachorros que estavam na garagem
e que a perturbava com seus latidos.
___E como foi que você reagiu?
Pagou na mesma moeda ou respondeu com calma a insinuação
maldosa que ela fez? – indagou-me o velho botão.
___Ah, o quê? Responder com
calma aquela “mocréia” cara de mangava beronhenta?
Aquela gralha cacarejante? Eu heim?
___Pelos adjetivos que empregou,
parece que se zangou e perdeu a estribeira naquele momento, não
é?
___Ah Marechal, um amigo que me
ajudava disse-me que nunca havia me visto papo tão brabo,
eu fiquei cuspindo fogo e vomitei tudo o que estava entalado na
minha garganta, pelos desaforos que agüentei ao longo de todos
esses anos. Coloquei aquela tarzinha no seu lugar e daí,
a “coisa ruim” enrolou o rabão, abaixou o chifre
e voou casa adentro. Ô diaba ruim da peste!
___Ela é doente, está
possuída pelo mal que a torna assim tão amarga e azeda
para com as pessoas. Você é que errou ao revidar a
ofensa!
___Eu
????? Olha Marechal, acho que eu explodiria se não tivesse
descarregado a minha raiva naquela criatura cruel e venenosa. Sou
de carne e osso e tem coisa que não agüento...
Seguiu-se um breve silêncio
como é a tática do Velho Botão, e pouco depois,
quando eu fechava a porta do quartinho, Marechal concluiu:
___Pois é, ao revidar a ofensa
recebida você igualou-se a ela em amargor e azedume e perdeu
uma excelente oportunidade de mostrar que tem equilíbrio
emocional e paz interior. O coração de quem está
na paz nunca se perturba, nem mesmo diante de uma ofensa recebida.
ESTA
PÁGINA É DEDICADA A CRIAÇÃO DO DIÁCONO
JOSÉ DA CRUZ.
QUE DEUS ABENÇOE
A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos,
livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores
se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje!
Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!
Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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