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O evangelho de João é pródigo em longos diálogos de Jesus. Dentre eles, um dos mais belos é este diálogo com a mulher samaritana. A admirável forma poética do diálogo está tecida com inúmeros fios de simbolismo.
A Samaria era uma região que ficava entre a Judéia, ao sul, e a Galiléia, ao norte. O povo da Samaria era desprezado e evitado pelos judeus. O povo judeu considerava-se uma raça pura enquanto os samaritanos eram uma raça miscigenada com vários povos.

Após o prólogo, o evangelho de João apresenta-nos a novidade de Jesus no âmbito de três comunidades: de João Batista e seus discípulos, com o sinal das núpcias; do judaísmo, com a purificação do Templo e a proposta do renascer, incompreendida por Nicodemos e na comunidade de raça híbrida e de religiosidade sincretista da Samaria, representada na pessoa da mulher samaritana, junto ao poço, com a oferta da água viva.

A figura da mulher samaritana é contrastante com a de Nicodemos, apresentada antes. Este é um homem, com status social, fariseu justo, encontra Jesus oculto pela noite. Aquela é uma mulher, pobre em busca d'água, discriminada, encontra Jesus à luz do meio dia.

A partir da água da fonte de Jacó, que significa as tradições religiosas dos samaritanos, Jesus oferece à mulher a novidade da água viva do Espírito. Na seqüência do diálogo, a mulher pede a Jesus esta água viva e percebe o anúncio de Jesus. Vai, por sua vez, anunciá-lo ao povo, e Jesus fica com eles por um tempo. A acolhida dos samaritanos contrasta com a incompreensão dos judeus.

Com Jesus, estão superadas as discriminações baseadas em crenças religiosas. Os verdadeiros adoradores de Deus o adoram em Espírito e Verdade.

Jesus é a revelação de que Deus está presente em todos os valores de todos os povos e culturas, conferindo uma dimensão de eternidade a todo ato de amor que promove a vida.

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Esta narrativa da Transfiguração é feita no estilo de uma teofania, recorrendo-se a imagens espantosas: rosto e roupa brilhantes, aparecimento dos mortos, voz saída das nuvens. É uma forma literária de expressão impressiva para despertar a consciência, levando-a a perceber a presença de Deus atuante em Jesus, não só neste momento, mas continuamente e sempre. Jesus, o simples e humilde homem de Nazaré, na realidade, é participante da natureza divina. Nesse sentido, temos a revelação da voz celeste: "Este é o meu Filho amado; ouvi-o".

Em nossa herança cultural, encontramos marcas profundas de culto ao poder. Somos levados a discriminar as pessoas, selecionando-as pelos critérios de boa aparência, posses, prestígio e poder. Comumente são desprezadas as pessoas de condição humilde e destituídas de poder. Subvertendo esses critérios de valores, Deus se revela como aquele que se faz presente e se identifica com os pobres e excluídos.

Este homem Jesus, simples, frágil e vulnerável, é o Filho de Deus presente no tempo, mas já inserido na eternidade, em comunhão de amor com o Pai. A glória manifestada na transfiguração é a transparência do amor e da liberdade com que Jesus sempre se relacionou com seus discípulos e com o povo, no dia-a-dia.

Cada discípulo de Jesus é chamado a participar desta glória por sua adesão ao projeto de Deus revelado em Jesus. Jesus nos convida ao desapego dos atrativos e valores de um mundo seduzido pelo poder e pelo dinheiro. Somos chamados a assumir a partilha, a solidariedade e a comunhão no amor e na misericórdia com nosso próximo, pelo que entramos em comunhão com Deus. É este o plano salvífico de Deus, ao qual se refere a segunda leitura de hoje.

O Deus de amor revelado por Jesus leva a uma revisão da imagem de Deus apresentada no Primeiro Testamento, como um deus que abençoa alguns a amaldiçoa a outros (primeira leitura). Todos, sem discriminação, somos acolhidos como filhos de Deus, em Jesus, e somos chamados a viver, com alegria, o mundo novo de fraternidade, justiça e paz.

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Nos meus tempos de garoto, em alguma briga onde queríamos resolver na “moral”, havia um termo muito usado para desafiar algum valentão desafeto “ Venha de mão limpa!” , isso significava lutar de igual para igual, sem fazer uso de algum poder ou truque que o fizesse superior ao adversário e vencer uma luta de mãos limpas, era um gesto quase heróico que fazia do vencedor um líder nato na turma.

Jesus, o Filho de Deus, assumiu a natureza humana sem deixar a Divina, em nenhum momento de sua existência humana, ele deixou de ser Deus, isso significa afirmar que Jesus de Nazaré, cem por cento homem e cem por cento Deus, tinha os poderes divinos da Onipotência, Onipresença e Onisciência, mas o evangelho desse primeiro domingo da quaresma, nos apresenta um Jesus que seria o grande herói da minha turma de meninos, pois vai para um confronto com as mãos limpas, isto é, apenas como um simples homem ele vence e supera as tentações, para desespero do Diabo que desde o início da Humanidade, estava levando vantagem.

A gente fica imaginando o que Jesus faria se usasse de seus poderes divinos, transformaria as pedras em pães, carne, doce, enfim no que ele quisesse; saltaria da parte mais alta do templo sem usar Jump, pára-quedas ou asa delta, e desafiando a lei da gravidade, poderia quem sabe sobrevoar Jerusalém e ainda tirar uma “fininha” do “tinhoso”: e depois, para fechar com chave de ouro a sua exibição, se ajoelharia aos pés do “talzinho” e aplicar-lhe-ia um belo golpe de alguma luta marcial, colocando-o a nocaute.

O Diabo jogou sujo, tentou convencer Jesus a usar os seus poderes divinos “Se és o Filho de Deus...”, e isso desmantelaria todo o plano da salvação, caso Jesus cedesse. Duas conseqüências resultariam desse exibicionismo do Filho de Deus, primeiro que para o povo de Israel, tal vitória significaria a reconquista do poder, pois todo o povo e ainda as lideranças religiosas, estariam com Jesus porque, o seu messianismo havia sido confirmado com essa vitória. Mas para todas as demais nações isso seria a condenação definitiva.

Temos que olhar nessa ótica muito humana, para compreendermos toda a grandeza da salvação dada por Jesus, não de maneira prodigiosa, mas de um jeito humano, possível de ser imitado, pois, ser tentado significa ter a possibilidade de decidir, fazer escolhas e opções nesta vida, mesmo que contrariem o projeto de Jesus, porque o homem tem esse livre arbítrio justamente porque Jesus manteve-se livre, não caindo na sedutora proposta do diabo, mostrando-nos assim, que a nossa natureza humana, apesar de fragilizada e vulnerável, tem condições de manter-se livre para tomar decisões, não permitindo que as forças do mal decidam por nós. É isso que o diabo tentou fazer com Jesus, pois ele já tinha tomado a decisão de fazer em sua vida a Vontade daquele que o tinha enviado, o diabo quer convencê-lo a voltar atrás, em sua decisão pelo reino.

No Batismo somos consagrados a Deus, que nos confia a sua graça a nos configura a Jesus Cristo, o Homem novo, que quebrando o tabu do paraíso, o pecado de Adão e Eva, e a infidelidade do povo na travessia do deserto, vai agora no tempo da plenitude, no tempo favorável a salvação, também em um deserto, resistir a investida do diabo, botando-o para correr “Vai-te daqui diabo...”

Após o Batismo, no decorrer da nossa vida, o diabo tudo fará para convencer-nos a voltar atrás em nossa decisão de viver na fidelidade da Fé e na graça divina, que nos coloca em comunhão com Deus. Mas se a nossa opção for firme, a favor de Jesus e seu reino, teremos sempre a nosso favor e em nossa defesa, algo que tem em si o poder libertador: a Palavra de Deus! Prestemos atenção pois é a ela que Jesus recorre após cada investida do diabo, ao dizer “Está escrito...”.

Está escrito em nossas entranhas que somos de Deus, que Jesus é o Nosso Senhor e que só a ele devemos adorar e prestar culto e servir. Pois a Palavra nos revela quem é Deus e quem somos nós, nossa origem e nosso destino e diante dela temos que fazer a nossa opção.

Como Igreja, formada por cristãos batizados, que formam com Cristo Cabeça o Corpo místico, como povo da nova aliança, urge fazermos, como nos propõe o tema da CF, essa escolha a favor da vida. Em cada esquina, ambiente ou situação, o diabo tentará nos convencer do contrário, iludindo-nos e levando-nos a enveredarmos por caminhos que nos levarão ao vazio da morte.

Engana-se quem pensa que o diabo é aquele bicho feio, chifrudo, com rabo longo e orelhas desproporcionais, o diabo da modernidade é bem mais requintado e atraente, sendo inteligente como é, o anjo decaído que se opõe ao reino de Deus, tem hoje suas artimanhas modernas, sendo bastante atraente e convincente e os seus adeptos estão por toda parte, em meio a uma sociedade que perdeu a noção do pecado, vítima do relativismo, que sufoca em nós todo e qualquer valor do evangelho. E diante dele, não adianta pedir socorro do céu, somos nós que escolhemos e decidimos o nosso caminho:

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Li e reli atentamente as leituras do 4º. Domingo do Tempo Comum, principalmente o evangelho das Bem Aventuranças, e me antecipando a quaresma, dentro da nossa liturgia, dei um “pulinho” no futuro, exatos sete dias após esta quarta feira em que escrevo, chegando assim na quarta feira de cinzas, que abre a quaresma, tempo mais que propício à conversão, tempo em que o Senhor facilita as coisas para nós e se deixa encontrar, segundo o profeta Ezequiel.

Na minha infância tinha certo medo da quaresma, porque falavam que nos quarenta dias o “Bicho” estava solto, mas na liturgia a Palavra me ensinou que é justamente o contrário, é o tempo forte da nossa espiritualidade cristã, em que Deus vem ao nosso encontro, em tantos momentos e situações, basta apenas querer fazer essa experiência e abrir-lhe o coração.

No evangelho do 4º. Domingo, Jesus abre o Sermão da Montanha com esta afirmativa revolucionária “Bem Aventurados os que têm um coração de pobre... porque deles é o reino dos céus”. Com esta primeira Bem Aventurança na cabeça, li o evangelho da quarta feira de cinzas, onde o mesmo Mateus, ensina e orienta que deve-se evitar fazer boas obras diante dos homens, e a esmola deve ser dada sem fazer alardes, a oração deve ser uma “conversa ao pé de orelha”, na intimidade com o Pai, e quando jejuar, não se deve fazer cara triste, de quem está com fome, pois o verdadeiro jejum nos dá alegria, e não tristeza.

Tudo isso me fez pensar na importância do marketing nos dias de hoje, onde, se a propaganda for bem elaborada, a gente vai procurar o produto e até acaba comprando “gato por lebre”, tudo porque acreditamos no que dizia a propaganda, a qualidade do produto, sua eficácia e resultado positivo que ele anunciava.

Parece que o ensinamento é muito claro: Deus não aceita e não quer que façamos propaganda enganosa. A nossa relação com Deus, que reflete na relação com o próximo, tem que ser coerente e sincera, sem muito muita fachada ou maquiagem. Por isso que o Sermão das Bem Aventuranças, começa falando sobre os que têm um coração de pobre. O coração era para o povo judeu, o centro da vida, pois nele se faziam as escolhas e opções.

Para nós, o coração é manifestação de sinceridade, quando dizemos que fazemos algo de coração, estamos querendo mostrar que somos autênticos, e que não estamos fazendo com uma segunda intenção. É exatamente isso que as leituras nos pedem, a mansidão, a sede e fome de justiça, a pureza, os que desejam a paz, não são meros sentimentos, mas valores do evangelho que a Palavra de Deus plantou em nosso coração, e que procuramos cultivar.

Evidentemente esse modo de se viver uma relação íntima com Deus irá confrontar-se com o modo de vida da modernidade, onde muitas vezes o supérfluo, o aparente, tem mais valor do que aquilo que é verdadeiro. Isso trará incompreensões, perseguições, pois sinceridade de intenções é algo que não se vê muito por aí, desde o ambiente familiar até o social, político e econômico, onde se exalta a mentira, como se ela fosse uma verdade.

Por isso a religião de fachada, das aparências, dos testemunhos enganosos, jamais será bem vista por Deus, os cristãos da comunidade de Mateus, vindos do judaísmo, valorizavam muito essa religião “EXTERIORIZADA”, que o evangelista condena com este convite a mudar essa atitude, buscando a conversão sincera. Trata-se sem dúvida de um apelo muito atual, para toda uma sociedade que se rotula de Cristã, mas cuja prática é desastrosa, porque fica longe dos ideais do Reino de Deus, proposto por Jesus.

E para nós cristãos, o reconhecimento de que, se a sociedade é assim, uma grande “Farsa Religiosa”, a culpa é toda nossa, que como Igreja, muitas vezes fazemos muito alarde sobre Jesus, mas não nos comprometemos em ser SANTOS de coração, vivendo, como diz o apóstolo, na sinceridade de nossas intenções, de maneira fraterna na defesa da VIDA, que deve ser a nossa primeira e única escolha, como nos propõe o tema da CF deste ano. Resta-nos portanto, a prece humilde do salto 50 (51):