GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
09.05.2010
6º Domingo de Páscoa - ANO C
__ “NÃO HAVERÁ MAIS TEMPLO ALGUM” __
Comentário: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
Na Nova Jerusalém não há templo, porque o Senhor e o Cordeiro são o seu templo. Afirmação surpreendente. Fala-se do mundo novo já presente como início na Igreja terrena, mas que se realizará em plenitude na Igreja celeste. A realidade futura não terá mais necessidade daquilo que na terra é sinal e instrumento. Mas já neste mundo é preciso fazer a passagem dos sinais visíveis para os invisíveis mistérios que naqueles Deus faz conhecer e comunica. Isto implica num processo de espiritualização e de personalização que ultrapassas as perspectivas dos profetas. Entoemos cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos
em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Atos 15,1-2.22-29): - "Dessas coisas fareis bem de vos guardar conscienciosamente."
SALMO RESPONSORIAL (Sl 66/67): - "Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos glorifiquem!"
SEGUNDA LEITURA (Apocalipse 21,10-14.22-23): - "A cidade não necessita de sol nem de lua para iluminar, porque a glória de Deus a ilumina, e a sua luz é o Cordeiro."
EVANGELHO (João 14,23-29): - "Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada."
- “O ESPÍRITO QUE ENSINA!”
Reflexão do Evangelho por Diácono José da Cruz
Tive um amigo que era “fera” em ciências exatas, conhecia e sabia de cor conceitos e fórmulas de matemática, física e química, que assombrava os professores e a todos nós da sua classe, que morríamos de inveja quando o víamos tirar notas altas nessas matérias, sem nunca ser preciso fazer a prova final porque bem antes de encerrar o ano letivo, já tinha fechado todas essas matérias. Findo o segundo grau, prestou vestibular para engenharia sem fazer nenhum cursinho e de maneira brilhante obteve classificação para cursar engenharia. Em certa ocasião encontrei-o na empresa, prestando serviço como auxiliar administrativo em uma renomada empreiteira de montagens industriais e ao perguntar-lhe por que trabalhava como auxiliar se já era engenheiro formado, respondeu-me que queria especializar-se nessa área e que este aprimoramento profissional só era possível se tivesse a prática e daí sim, estaria habilitado para exercer aquela profissão “Na teoria é uma coisa, na prática é outra”, disse-me sorrindo, ao concluir a nossa conversa.
É este precisamente o ensinamento do evangelho desse Sexto domingo da Páscoa: passarmos da teoria à prática da verdadeira religião, que nada mais é do que o amor na relação com Deus e com o próximo, porque parece que as nossas comunidades cristãs, algumas um pouco mais, outras um pouco menos, são todas bem parecidas com o meu amigo dos tempos de escola, vive-se muito uma religião teórica, um amor teórico, nossos conceitos de religião e de amor, segundo o evangelho que aprendemos na catequese e que ouvimos em cada celebração, são os mais belos e verdadeiros, tanto é verdade que Jesus Cristo é conhecido e admirado por milhões e milhões de pessoas no mundo inteiro, dentro e fora das igrejas.
E essa praticidade seria impossível se não fosse à ação do Espírito Santo, que de maneira ininterrupta, 24 horas nos ensina e nos recorda as palavras de Jesus, sem essa ação do Espírito Santo, a Sagrada Escritura e particularmente o Novo Testamento, não passaria de belos conceitos e fórmulas de “Como se Viver Bem” com a gente mesmo, com os outros e com Deus, uma espécie de manual com instruções práticas sobre um eletro doméstico, desses que deixamos empoeirar, esquecido no fundo de uma gaveta. O Espírito Santo não nos ensina algo novo e diferente do que Jesus nos ensinou, mas ele atualiza a palavra em nossa vida, dando-nos a resposta que precisamos diante de certos acontecimentos ou situações, que o Jesus Histórico não viveu, pois naquele tempo não tinha TV, Celular, Internet, avião, naves espaciais, tecnologia avançada, aborto, divórcio, violência, corrupção, tráfico de drogas, globalização, essas e outras coisas são realidades do nosso tempo, diante das quais, o ensinamento de Jesus tem sempre uma resposta que é atual e verdadeira, pela ação do Espírito Santo.
Mas o Espírito Santo só age em nossa vida se já tivermos ouvido e guardado a Palavra de Jesus, que é a Palavra do Pai, mesmo porque, as três pessoas da Santíssima Trindade nunca agem isoladamente, mas sempre juntas, em perfeita comunhão. O Espírito Santo não é apenas um lado de Deus, mas é Deus por inteiro e, portanto, não faz mágica, mas sua ação está intimamente ligada ao Pai e ao Filho. E o amor a Deus e ao próximo, é o sinal de que guardamos a Palavra de Jesus, é por isso mesmo que o evangelho coloca a prática desse amor como “Carro Chefe de Tudo”, porque todo o ensinamento de Jesus, suas palavras e obras, revelam ao homem essa Verdade absoluta que é o amor de Deus, e para estar nele com ele e com o Pai, não há outro caminho que não seja o do amor.
A presença de Deus em nós não está condicionada às práticas religiosas, grandiosas liturgias e arrebatamentos celestiais, mas a vivência do amor, porque a liturgia eucarística nada mais é do que a celebração do Amor que se encarnou no meio dos homens e quem faz do cristianismo, apenas o cumprimento de preceitos e práticas religiosas, fica apenas na teoria, sabe tudo, conhece tudo, mas não vive a principal verdade revelada por Jesus, que é o amor. Isso é tão claro para o evangelista João, que ele irá dizer para sua comunidade, que “Deus é Amor”. A Paz que Jesus dá ao mundo, a partir dessa verdade, não é a paz do comodismo, da ausência dos problemas, das dificuldades e desafios. Não existe uma comunidade assim, mas a Paz significa essa presença de Deus em nossa vida por isso o nosso coração não deve se perturbar nem ter medo.
Trata-se, portanto, de uma paz inquietante, que questiona e que busca algo de belo, na plenitude que só Jesus pode nos dar, é dom, mas também conquista ao mesmo tempo, está sujeita aos conflitos na relação com o mundo porque busca algo que o mundo não pode nos dar. O mundo quer nos convencer do contrário, mas quando amamos e guardamos no coração a Palavra de Jesus, podemos contar com o melhor de todos os advogados: o Espírito Santo, que nos transforma em evangelho vivo! (VI domingo da Páscoa)
José da Cruz é
diácono permanente da Paróquia Nossa S. Consolata-Votorantim -
e-mail:jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Pe. Françoá Rodrigues – 6º DOMINGO DE PÁSCOA - (Ano C)
Paz de Cristo!
É bastante comum escutarmos essa saudação, não só na igreja, mas também nas ruas ao encontramo-nos. A versão equivalente é “a paz de Jesus!”. Entre os evangélicos se diz “a paz do Senhor!”. Nós aprendemos dos judeus, eles saudavam com shalom, com a paz. Trata-se de um dom de Deus muito desejado a nível pessoal e comunitário. A paz é uma característica de um filho de Deus nesta terra. Vemos, no entanto, que a paz não é uma simples ausência de guerra. O dom da paz é muito mais profundo!
Šalōm – explica Leon-Dufour – é uma palavra hebraica que deriva de um radical que designa o fato de encontrar-se completo, intacto. O homem que tem paz, que está em paz, é um homem completo. No Novo Testamento, a paz tem um nome: Jesus, “porque é ele a nossa paz, ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava” (Ef 2,14). Essa passagem da Escritura realça a consideração anterior, ou seja, não é possível estar completo, intacto, a não ser que seja derrubando o muro da inimizade, da separação. Esse muro que impede uma pessoa de estar em paz é aquilo que a separa da amizade com Deus, o pecado.
A harmonia que existia no paraíso, no jardim do Éden, acabou-se depois do pecado original. Houve uma ruptura que causou uma desarmonia dentro de nós mesmos e atingiu profundamente as nossas relações com Deus, com as outras pessoas e com a criação material. Essa falta de harmonia era a conseqüência do enorme muro de separação, de inimizade, que precisava ser destruído. O homem e a mulher já não tinham acesso ao lugar das delícias preparado por Deus, pois – como diz a Sagrada Escritura – “o Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, (…) e colocou ao oriente do jardim do Éden querubins armados de uma espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da vida” (Gn 3,23-24).
Com a morte de Jesus na Cruz, acabou-se a separação entre Deus e o homem. Segundo Mateus, “o véu do templo rasgou-se então de alto a baixo em duas partes” (Mt 15,38) e o autor da Epístola aos Hebreus nos anima a ter “ampla confiança de poder entrar no santuário eterno, em virtude do sangue de Jesus, pelo caminho novo e vivo que nos abriu através do véu, isto é, o caminho de seu próprio corpo” (Hb 10,19-20). Claro está que essas passagens se auto-interpretam. Quando os judeus pediram um sinal, “respondeu-lhes Jesus: “Destruí vós este templo, e eu o reerguerei em três dias.” (…) Mas ele falava do templo do seu corpo” (Jo, 2,18-21). Entre os judeus, a habitação de Deus era o lugar do templo chamado “Santo dos Santos”, diante da qual se colocava um véu que dividia o tabernáculo, o “Santo”, da habitação de Deus. No “Santo dos Santos” somente o Sumo Sacerdote entrava uma vez ao ano. Era um lugar inacessível ao resto dos mortais: era impossível aceder à habitação de Deus.
À luz dessas reflexões, podemos entender melhor essa separação entre o homem e Deus imposto pelo pecado, que se expressava – como foi dito – também no culto judeu: Deus é santo e o homem é pecador! Entre a santidade e o pecado há um abismo insuperável. Era impossível a paz, a integração, a harmonia, entre Deus e os homens. Daí a conveniência de que o Filho de Deus, o Santo dos Santos, tomasse a nossa carne de pecado e rompesse esse véu da separação. Em Jesus Cristo se uniram o Santo dos Santos e a carne de pecado que se encontrava separada de Deus. Nele se dá a paz entre os dois pólos contrários, ele é a nossa paz, nele vemos realizada a paz. Quem quiser ter a paz necessariamente terá que aceitar a salvação de Jesus para que sejam saradas as suas feridas e se estabeleça a amizade com Deus e a reintegração ao paraíso das delicias da eternidade.
A paz de Cristo nos foi adquirida de uma maneira dramática, pela Cruz, como também foi dramática a separação. A nossa inserção em Cristo se dá também de uma maneira dramática: é preciso que renunciemos a nós mesmos, que tomemos a sua cruz, que vençamos tantos impedimentos que nos separam da verdadeira paz, que só encontramos nele, em Jesus. Si vis pacem, para bellum – diziam os antigos – se queres a paz, prepara-te para a guerra. Paradoxalmente, a paz é fruto da guerra, desse combate que se trava diariamente dentro de nós mesmos contra o nosso orgulho, egoísmo, vaidade, sensualidade, respeitos humanos etc. A paz e a serenidade do cristão são frutos da graça e do combate espiritual.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 6º Domingo de Páscoa - Ano C
feito por Pe Ignácio, dos padres escolápios (extraído do site http://www.presbíteros.com.br)
EPÍSTOLA (Ap 22, 12-14.16.17-20)
INTRODUÇÃO: Como final do livro, a profecia é testemunhada pelo anjo, por Cristo e pelo próprio João quem escreve e é autor do livro. Quem fala é o mesmo anjo ou mensageiro divino que aparece a João na seção anterior em Ap 21, 9: Veio um dos sete anjos que tinham as setes taças, cheias das sete últimas pragas, e falou comigo e me disse: Aproxima-te vou mostrar-te a noiva, a esposa de Cristo. É a nova Jerusalém, figura da Igreja triunfante onde não haverá mais lágrima porque é a perfeição sem medo da morte. E esse triunfo do Cordeiro será alcançado em breve. Por isso termina com o desejo da igreja-esposa que repete o maran atha:vem, Senhor, frequente entre os membros da primitiva igreja.
EM BREVE: Eu João escutei uma voz que me dizia: E eis que venho em breve e minha retribuição comigo está, para dar a cada um segundo sua obra (12). Ecce venio cito et merces mea mecum est reddere unicuique secundum opera sua. EM BREVE [Tachy <5035>=cito] Após todas as visões, feitas mais com imagens escuras do que com ideias diretas e claras,chega o momento da conclusão final. É o epílogo em que se resume tudo. Em primeiro lugar, a promessa de Jesus de vir como prêmio e recompensa em breve [tachy]. O Apocalipse está ordenado para consolar e animar os fiéis, mostrando a especialíssima previdência de Deus com eles. No versículo 15, que não é lido na liturgia da missa, temos os que são excluídos desse salário ou mercê: fora ficam os cães, os feiticeiros, os ímpios, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira. O cão era considerado animal impuro e tal palavra, como menosprezo, era a que designava, entre os rabinos e judeus, homens entregues à prostituição e homossexualidade. É de notar que João, para quem Cristo é a verdade (Jo 14, 6), coloca entre os excluídos, os mentirosos, os que amam e praticam a mentira, que inclui, evidentemente, os hipócritas, que Jesus tanto recriminava (Mt 15, 7). O triunfo de Cristo e de sua Igreja virá como consequência da derrota da Roma pagã que, em termos bíblicos, será em breve. É uma repetição da profecia de Isaías no reino messiânico com a derrota da Assíria; assim como no Apocalipse o Ai [ouai<3759>=vae] está contra a Babilônia que é figura da Roma imperial. As profecias, desde o capítulo 2 ao 13, estavam para se cumprirem de imediato. O triunfo foi em 312 com a batalha da ponte Mílvio, quando Constantino venceu a Majêncio e a Igreja teve liberdade para exercer seu culto. Foram mais de 200 anos e não obstante a palavra é em breve, sem demora, porque o tempo é contado segundo a eternidade de Deus. RETRIBUIÇÃO [Misthos <3408>=merces] com o significado primário de paga, devida a um trabalho, ou salário, também prêmio devido a uma boa ação, que especialmente Deus reserva para os que fazem o bem. Do resto, podemos usar o artifício literário chamado de recapitulação, pelo qual o autor descreve uma sucessão de fatos que não é contínua no tempo, mas são paralelos, como se o tempo não fosse um contínuo em sucessão, mas um período cíclico, em que tudo se desenvolve ao mesmo tempo. Neste sentido de retribuição, tanto do bem como do mal, está usada aqui a palavra. Com esta palavra final indica que não é unicamente a fé que deve ser considerada como base do juízo final, mas as obras, em sua qualidade, as que servirão de motivo para prêmio, ou condenação, como no versículo 15 indica o escrito apocalíptico.
O QUE DECLARA: Eu sou tanto o Alfa como o Ômega, princípio e final, o primeiro e o último (13).Ego Alpha et Omega primus et novissimus principium et finis. Estes títulos, que correspondem às letras primeira e última do alfabeto grego, foram anteriormente atribuídos a Deus no mesmo livro, em 1, 8 e 21, 6 e que agora, como em 1, 17 e 2, 8, também são atribuídos ao Cordeiro, ou seja, a Jesus Cristo. Desta forma, o apóstolo atribui ao Cristo os mesmos rasgos com os quais descreve a superioridade e eternidade de Deus. Tudo depende, em sua origem e no seu final, de Cristo, agora que o mundo é novo na terra e nos céus (Ap 21, 1-5).
UM MACARISMO: Ditosos os que cumprem os preceitos dele, de modo que a autoridade deles estará sobre o madeiro da vida e pelos portões entrem na cidade (14). Beati qui lavant stolas suas ut sit potestas eorum in ligno vitae et portis intrent in civitatem. Uma outra leitura diz : os que lavam as suas vestes como traduz a Vulgata. A Nova Vulgata traduz: beati qui lavant stolas suas, ut sit potestas eorum super lignum vitae, et per portas intrent in civitatem. Escolhida esta última tradução como a mais adaptada ao texto original, o poiountes [<4160>=facientes, que cumprem] deve ser substituído por plunontes [<4150>=qui lavant, que lavam] e entolas [<1785>=praecepta, preceptos] por stolas [<4749> =stolas, vestidos talares]. A esta nova tradução a Vulgata Clementina acrescenta in sánguine Agni ao lavado das vestes. Vamos interpretar a frase sublinhada Os que cumprem os preceitos do Senhor 1) do modo mais original, como foi a primeira tradução: terão o poder [autoridade ou exousia] de usar o madeiro da vida [a árvore da vida do Gênesis] de modo que possam entrar pelos portões da nova cidade de Jerusalém, onde tudo será felicidade. 2) no segundo caso, substituímos a frase sublinhada em negrito por os que lavaram suas vestes [os que segundo 1, 14 eram os que vieram da grande tribulação e lavaram suas túnicas talares e as branquearam no sangue do Cordeiro]. Em ambos os casos é a fidelidade ao Senhor que é recompensada com a entrada na cidade da bemaventurança.
AUTORIDADE [Exousia <1849>=potestas] que pode ser traduzido por autoridade, direito, faculdade e neste caso seria o direito de poder entrar na cidade por causa de suas condutas (número1), ou seu martírio (Número 2) se tornaram dignos de entrarem pelos portões da nova Jerusalém. O versículo 15 em que os homossexuais e os idólatras estão fora, como cães, dessa cidade, é um argumento a favor da escolha primeira que temos proposto como original. De todos os modos, nenhuma das duas formas são contrárias ao dogma cristão ou acrescentam valores ou ideias novas, dignas de especial menção. MADEIRO DA VIDA [Xylon <3586> tës zöës <2222>=lignum vitae] que em 22, 2 aparece ao lado do rio da vida que saia do trono de Deus e do Cordeiro. É em grego [xulon tës zöës] o mesmo de Gn 2,9 da tradução da Setenta. Sem dúvida que seus frutos mensais, eram os mesmos que no Gênesis dava a árvore da vida da qual podiam comer os humanos para manter sua imortalidade e que, após o pecado, foi fruto proibido, segundo narra o livro sagrado, de modo que um querubim impelia a entrada no paraíso para guardar o caminho da árvore da vida e não pudessem os homens comer desse fruto e se tornarem imortais (Gn 3, 24). Note-se que também aqui os setenta usam o Xylon tës Zöës. Os que cumprem os preceitos, ou os que estão revestidos de estolas brancas, têm a faculdade de usar da árvore da vida e assim entrar nessa cidade, a nova Jerusalém, onde não existirá o pranto da morte.
IDENTIFICAÇÃO DO CORDEIRO COM JESUS: Eu, Jesus, enviei meu mensageiro para testemunhar-vos estas coisas acerca das igrejas. Eu sou a raiz e a prole de Davi, a estrela, a brilhante e matutina (16). Ego Iesus misi angelum meum testificari vobis haec in ecclesiis ego sum radix et genus David stella splendida et matutina. Aqui, o autor revela o verdadeiro nome do Cordeiro e quem é realmente quem abre o livro dos sete selos e é a origem das visões do apóstolo que é o mensageiro, o anjo que revela o mandato às igrejas. E diz de si mesmo que é a raiz [rixa<4491>=radix] e a prole [genos <1086>= genus] de Davi. Sem dúvida, que forma parte do AT onde Isaías fala de que do tronco de Jessé sairá um rebento e de suas raízes [riza<4491>=radix] um renovo [anthos<438>=flor] (Is 11, 1). Com estas palavras Jesus afirma que é o Messias o qual, segundo a Escritura, devia ser descendente de Davi, como disse o arcanjo Gabriel a Maria: Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai (Lc 1, 32). No mesmo texto temos a dupla natureza de Jesus: Deus como o Pai, sendo princípio e fim de tudo e homem, como Davi, do qual é descendente e prole.
VEM: E o Espírito e a Esposa dizem: Vem. E quem ouve diga: Vem. E quem tem sede venha; e quem quiser, tome a água de vida gratuitamente (17). Et Spiritus et sponsa dicunt veni et qui audit dicat veni et qui sitit veniat qui vult accipiat aquam vitae gratis.Em 22,7 e 12 Cristo diz que vem em breve e a resposta do Espírito, esse que habita no coração dos fiéis, que é também o desejo da Igreja [a esposa], é a mesma: Vem. ESPÍRITO [Pneuma <4151>=Spiritus] é o mesmo Espírito que dentro dofiel clama Abbá [Pai] em cada fiel (Rm 8, 15 e Gl 4, 6) e que intercede por nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8, 26). Um destes é vem. ESPOSA [Nymfë <3565>=sponsa]: segundo o Apocalipse é a nova Jerusalém (Ap 21, 2) que em 21, 9 mostra-se como cidade de extraordinária beleza. Sem dúvida, que é a Igreja, como conjunto dos fiéis. No AT, Jahveh usou o termo matrimônio para descrever a aliança com seu povo, sendo ele o esposo fiel (Is 54, 5-8) e Israel a esposa amada (Jer 2, 2). Com Jesus, como Cristo, se realizam novos esponsais com o novo povo (Mt 9, 15; 25, 1-13. Jo 3, 29;2 Cr 11, 2 e Ap 19, 7-9 e 21,2. 9), através da Igreja, representada pelos apóstolos e seus continuadores ou sucessores. Todos eles respondem à promessa do Cordeiro: eis que venho em breve (v 12). Evidentemente era o triunfo sobre a Roma imperial que nesse momento estava produzindo a grande tribulação e que em breve cessaria graças ao triunfo do Cordeiro. Quem ouve a profecia logicamente dirá também: Vem. ÁGUA DE VIDA [Ydör <5204> Zöës <2222>=aqua vitae]: No AT Isaías (55, 1) declarava: Todos vós que tendes sede vinde às águas. De uma necessidade material, o profeta toma o simbolismo para a verdadeira necessidade do espírito e descobre uma nova Jerusalém em que esta última estará plenamente satisfeita pela presença de Deus como pastor e governador. Já em Ap 7, 17 encontramos o Cordeiro como pastor que guiará suas ovelhas para as fontes da água da vida [Zösas pëgas]. Jesus, no dia da Dedicação do templo, exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba (Jo 7, 37). E no encontro com a samaritana: eu te daria água viva (Jo 4, 10). Que tipo de água é essa, cujas fontes e ela mesma são nomeadas como vivas? Segundo o sentir dos rabinos, as águas de poço eram mortas e as dos mananciais vivas. Estas eram abundantes e não se necessitava instrumento algum, como polias ou baldes, para a extrair e beber. Mas Jesus e, com ele a Escritura do NT, fala de uma água que é espiritual. Nas bemaventuranças, Jesus fala dos que têm sede de justiça (Mt 5, 6), que é santidade em termos modernos; ou seja. a união com Deus em vontade e estado de vida. Teologicamente é o dom da graça habitual que nos transforma em outros Cristos, onde mais do que o eu, será o Cristo que vive em mim, como diz Paulo (Gl 2, 20). GRATUITAMENTE [Döreav <1432>=grátis] é o advérbio com o qual se indica que não se deve pagar nada, pois é completamente gratuito.
SEM ACRÉSCIMOS: Testemunho juntamente, pois, a todo quem ouve as palavras da profecia deste livro: se alguém acrescentar a estas (coisas), acrescentará o Deus sobre ele as calamidades, as escritas neste livro (18). O parágrafo é uma maldição em nome de Deus para que não seja alterado o texto da profecia, ou da palavra de Deus, no livro contida.
SEMDIMINUIÇÕES: E se alguém retirar das palavras do livro desta profecia, o Deus tirará sua porção do livro da vida e da cidade a santa e dos escritos neste livro (19).Et si quis deminuerit de verbis libri prophetiae huius auferet Deus partem eius de ligno vitae et de civitate sancta et de his quae scripta sunt in libro isto. Seguindo o estilo joanino de acrescentar o oposto ao afirmativo, como em Jo 20, 23, quando Jesus confere o perdão dos pecados, aqui ao acréscimo contrapõe a retirada de qualquer palavra do livro da revelação. E agora retirará o tal do livro da vida e o lançará fora da cidade santa, ou seja, do povo eleito que constitui o povo salvo e feliz que estava escrito no livro da vida, segundo o grego, mas que a Vulgata fala do lenho da vida. Porém neste versículo, não podemos usar este termo, que não tem significado óbvio nesta situação. Já o livro da vida sai em outros três versículos (3,5; 13,8 e 20, 15) de modo que os que nele não estiverem inscritos serão lançados no lago do fogo, onde serão arrojados o diabo, a besta e o falso profeta e serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos (Ap 20, 10); e é nesse lago onde está a segunda morte (idem 20, 14).
MARAN ATHÁ: Diz quem testemunha estas coisas: sim, venho em breve. Amém. Sim, vem Senhor Jesus. Dicit qui testimonium perhibet istorum etiam venio cito amen veni Domine Iesu. TESTEMUNHA pelos versículos 12 e 16 desse capítulo podemos afirmar que a testemunha é o próprio Jesus que afirma virá em breve, sem que esse tempo seja mais determinado: Mil anos são como um dia de ontem que se foi (Sl 90, 4). Consequentemente, em breve é muito mais uma voz de esperança do que um tempo determinado. O Amém é a resposta da comunidade: que assim seja; e continua com o Maran athá traduzido ao grego: vem, Senhor Jesus. A frase é aramaica e unicamente aparece uma vez no NT em 1 Cor 16, 22 e que, devido a incerteza temporal dos verbos semitas, pode ser traduzida por Vem, Senhor ou O Senhor tem vindo. A primeira tradução [vem, Senhor] é a do Apocalipse, feita neste versículo e denota um desejo exprimido numa ardente oração de súplica. A segunda [o Senhor tem vindo] equivale a um ato de fé. Logicamente, aqui é o desejo de todos os fiéis e da Igreja perseguida que suplicam a vitória com a presença de sua segunda vinda, prometida por Jesus para celebrar o triunfo final sobre os inimigos de seu Reino.
EVANGELHO (Jo 14, 23-29)
RECOMENDAÇÕES DE ÚLTIMA HORA.
O CONSOLADOR.
INTRODUÇÃO: O trecho de hoje é parte do discurso de despedida, pronunciado por Jesus durante a sua última ceia com os discípulos. À pergunta de Judas Tadeu, não o Iscariotes, de por que Jesus se manifestava aos discípulos e não fazia o mesmo com o mundo, Jesus responde com a perícope que vamos comentar. No evangelho encontramos três pontos de referência: o amor a Jesus; a promessa do Espírito, e a paz do Senhor ressuscitado. O Espírito e a paz são dois pontos de união de Deus com os homens. O Espírito, enviado pelo Pai, é um substituto de Jesus e a paz é a nova visão das relações amistosas homens-Deus através do Espírito. Jesus, com sua morte, é o autor dessa amizade com Deus, cujo espírito de Amor permanece para sempre entre os discípulos de Jesus. Esse Espírito será a base da relação entre Deus e os homens por Ele escolhidos, que, pelo verdadeiro amor, ou seja, a fidelidade aos preceitos, formam uma unidade com Jesus e, portanto, com o Pai. Eu e o Pai somos um (Jo 10, 30) e pede também que todos sejam um (Jo 17, 21). A razão de não se manifestar a todos é porque nem todos têm a capacidade de receber o Espírito e com ele a paz. Podemos dividir o evangelho em 5 partes: 1ª) Para estar comigo [na minha ausência] deveis obedecer minhas palavras (vers 23-25). 2ª) Labor do Paráclito que tomará meu lugar (Vrs 26). 3ª) A paz como nova vivência e herança humana desse Espírito (vers 27-28). 4ª) Nada de tristeza, pois a minha ausência implica meu bem e vosso bem. 5ª) Uma advertência final.
A MANIFESTAÇÃO DE JESUS: Respondeu Jesus e disse-lhe (a Judas Tadeu): Se alguém me ama, guardará minha palavra e meu Pai o amará e a ele viremos e faremos uma mansão ao lado dele (23). Respondit Iesus et dixit ei si quis diligit me sermonem meum servabit et Pater meus diliget eum et ad eum veniemus et mansiones apud eum faciemus. SE ALGUÉM ME AMA: Com estas palavras, Jesus responde à pergunta de Judas. É inútil falar a quem não quer ouvir, que é como não querer obedecer. Pelo contrário, quem o ama, guardará as palavras como um tesouro sagrado e por isso também será amado do Pai, pois, como dirá a continuação, a palavra de Jesus não é propriamente sua, mas é a que lhe dita aquele que o envia (24). O verbo usado é agapao (em hebraico agab) que tem uma peculiar acepção com respeito a outros verbos como fileo ou erao. Este último, do qual derivam as palavras Eros e Erótico, refere-se ao amor entre esposos ou namorados. Fileo é o amor entre amigos e Agapao é o preferido para o amor de Deus para com os homens e a resposta amorosa destes últimos. Agapao é logicamente o verbo empregado no evangelho de hoje. Geralmente a tradução da segunda parte do versículo é guarda meus preceitos; mas não vemos como aqui essa interpretação seja a mais apropriada, devido sem dúvida aos versículos anteriores 16 e 21. A melhor tradução é guardará minha palavra. O sentido é que o amor acarreta que a palavra ouvida seja guardada como quem conserva, em depósito, uma fórmula sagrada. Por esse cuidado em reter as palavras de Jesus corretamente, como consequência, o Pai virá (ou far-se-á presente) e faremos residência nele (23 b). Esta é uma maneira de descrever a vida definitiva, ou bemaventurança eterna: Deus, como Trindade, tornar-se-á presente pelo amor naquele que o ama através de Jesus.
O FALSO AMOR: Quem não me ama, não guarda minhas palavras; e a palavra que escutais não é minha, mas de quem me enviou, (o) Pai (24). Qui non diligit me sermones meos non servat et sermonem quem audistis non est meus sed eius qui misit me Patris. Como paralelismo, Jesus dirá que quem não o ama não guarda suas palavras (24, a). E acrescenta uma razão para que suas palavras sejam ouvidas e guardadas: Pois a palavra que escutais não é minha, mas do Pai que me enviou (24 b). Jesus proclama uma identidade entre sua mensagem e a expressão da vontade divina de quem Ele chama de Pai. Esta expressão –palavra ou logos- é um mandato que deve ser cumprido como forma de amor. Jesus propõe uma fé que é cumprimento de um mandato de Jesus, não uma confiança [fé fiducial] em que o Salvador é Jesus, que atua como opus Dei in nobis sine nobis [obra de Deus em nós sem nossa cooperação], como queria Lutero. ENVIADO: Jesus não fala nem atua por si mesmo, mas como enviado do Pai. Esta união de vontade e palavra entre Jesus, o homem, e o Pai, o Deus, é total; de modo que Jesus pode afirmar que ambos usam uma mesma palavra (Jo 10, 30). A palavra oculta de Deus (Jo 5, 37) se torna audível e clara na voz do Filho, que por isso recebe em João o nome de Logos.
INÍCIO DA DESPEDIDA: Estas coisas vos tenho falado, permanecendo entre vós (25). Haec locutus sum vobis apud vos manens. Parece o início de uma despedida. De agora em diante, Jesus fala de sua ausência. E promete uma ajuda especial no Espírito que vai sucedê-lo como Defensor ante os inimigos e as ciladas do mal. E a paz, como complemento de vida feliz dentro do possível, mesmo no meio das perseguições (Mc 10, 30).
O PARÁCLITO: Porém o Paráclito, o Espírito, o divino, que enviará o Pai em meu nome Ele vos ensinará todas as coisas e vos recordará todas as coisas que disse a vocês (26). Paracletus autem Spiritus Sanctus quem mittet Pater in nomine meo ille vos docebit omnia et suggeret vobis omnia quaecumque dixero vobis. Para resolver o problema de sua ausência, Jesus propõe um novo mestre a quem dá o nome de Parakletos. A primeira vez que aparece a voz Parakletos é em 14, 16: Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito para que convosco permaneça para sempre. Qual é o significado desta voz? Em termos jurídicos o Paráclito era o advogado defensor. A Vulgata não traduz o grego e conserva o termo grego parácletos. As bíblias evangélicas, seguindo a tradução de Lutero, usam o termo Consolador. A Bíblia Oficial católica italiana também aceita o Consolador; mas a usual na Itália conserva o Paráclito; a espanhola, Defensor; e a KJ, ou do rei James, Confortador, que pode ser traduzido por quem Alivia ou Consola. Provavelmente o papel principal do Espírito Santo é ser Mestre da verdade (26), que a revelará plenamente, anunciando as coisas vindouras (16, 13); Confortador em momentos de tristeza e solidão dos discípulos (16); e finalmente, Defensor de Jesus, pelo seu testemunho da verdade (15, 26 e 16, 7-11). Segundo nos diz a História, nos julgamentos judaicos, não existia o papel de advogado defensor que era substituído pelas testemunhas favoráveis ao réu. E este era precisamente o papel do Espírito Santo: testemunhar em favor de Jesus, como diz 16, 8, estabelecendo a culpabilidade dos três grandes causadores da morte de Jesus: o mundo (inimigo do reino); o pecado como se fosse um ser pessoal, e finalmente o Príncipe do mundo que é Satanás. E atuando positivamente como testemunha da santidade ou sacralidade (justiça) de Jesus como Filho do Pai, pois agora está à direita dEle. Esse Espírito não será visível, mas atuará internamente. No parágrafo atual, Ele é o Mestre interior que ensina intimamente, ou as coisas íntimas, como diz S. Agostinho [magister interior qui intima docet]. Ele recordará os ensinamentos de Jesus, não dando novos ensinamentos, com o qual Jesus praticamente afirma que toda a revelação possível e necessária terminou com suas palavras. Assim, a Igreja, admitindo as revelações particulares, não as considera como fonte ou base da fé, mas como matéria de devoção dos fiéis que delas se beneficiam.
A PAZ: Entrego-vos a paz, minha paz vos dou, não como o cosmos dá eu vos dou; não se perturbe o vosso coração nem se torne tímido (27). Pacem relinquo vobis pacem meam do vobis non quomodo mundus dat ego do vobis non turbetur cor vestrum neque formidet. A EIRENE de João parece ser diferente da saudação Shalom hebraica. Esta saudação era dada, tanto ao se encontrar como ao se despedir. Jesus dará agora a paz como despedida para renová-la quando, pela primeira vez, apareceu aos onze após sua ressurreição. A palavra sai cinco vezes nos últimos capítulos de seu evangelho. Duas antes da paixão, como preparação às dificuldades ante os sucessos contrários que abalariam a confiança dos discípulos no Mestre; e três outras vezes após o triunfo da ressurreição, como reafirmação de perdão e amizade. Jesus distingue entre sua paz e a paz do mundo. A paz do mundo tem como base o poder, o domínio, a força do mais poderoso sobre o mais débil. A paz de Cristo é um dom, um presente, uma espécie de herança, derivada de sua partida. É a paz conquistada com um sacrifício, uma oblação em favor dos inimigos que assim obtêm o perdão. E para os fiéis discípulos, o objetivo dessa paz é evitar a perturbação da mente (coração) que invadirá os mesmos diante do dilema aberto por sua morte, e a timidez e o medo ao se apresentar, como seguidores de um Mestre executado, ante as autoridades que o condenaram (Mc 13, 11). Jesus quer evitar a tristeza, o desânimo e a falta de confiança e fé dos discípulos, tal como sentiram os dois caminhantes de Emaús. Por isso, o Espírito que Jesus promete enviar, recebe o título de Consolador ou Confortador.
VOLTAREI: Ouvistes que eu vos disse: vou e venho a vós. Se me tivésseis amado, teríeis vos alegrado já que disse: Vou ao Pai, porque o meu Pai é maior do que eu (28). Audistis quia ego dixi vobis vado et venio ad vos si diligeretis me gauderetis utique quia vado ad Patrem quia Pater maior me est. Os doze ficarão órfãos por um pequeno tempo, o mais difícil, porque estarão ausentes os dois Paráclitos. Mas logo me vereis. Um pouco de tempo e já não me vereis, mas um pouco ainda, e me vereis (Jo 16, 19). São os três dias em que Jesus permanecerá no sepulcro e os 40 dias em que se tornou visível, não a todo o povo, mas às testemunhas anteriormente designadas por Deus, isto é, a nós que comemos e bebemos com Ele após sua ressurreição dentre os mortos (At 10, 40-41). Mas se realmente me amásseis, vos alegraríeis, porque vou ao Pai, já que o Pai é maior do que eu. Jesus, sem dúvida, se refere ao seu triunfo após sua ressurreição, a esse estar à direita de Deus (Mc 14, 62). O triunfo de Jesus era o início do Reino que os apóstolos tanto esperavam. Isso devia constituir uma base para sua alegria. A segunda parte do versículo (o Pai é maior) foi usada pelos arianos para negar a divindade da pessoa de Cristo. Mas realmente o que Jesus quis dizer é que ele, como Filho do Homem, ou seja, enquanto homem, como era visto em Jesus de Nazaré, estava submetido à vontade de Deus. O Pai recebê-lo-á em triunfo e como prêmio estará sentado à sua direita, que, em termos não simbólicos, significa dar ao Filho do Homem o poder e a majestade da divindade.
PARA QUE CREIAIS: Por isso agora vos tenho falado antes de que tenham acontecido, para que quando se tenham realizado, acrediteis (29). Et nunc dixi vobis priusquam fiat ut cum factum fuerit credatis. Jesus se antecipa às dúvidas, desânimos e incertezas dos doze. Ele declara o que estava a acontecer para que os discípulos tivessem uma noção exata dos fatos vindouros e não perdessem a fé e a confiança nele, já que ele os perdoava e os acontecimentos estavam previstos nos planos de Deus, que eram, antes de tudo, de perdão e paz; especialmente para os que acreditavam em Jesus como enviado de Deus.
PISTAS: 1o) São quatro os pontos principais de que trata o evangelho.1- Deveis escutar e guardar minhas palavras como norma e guia de conduta, porque assim faria quem realmente me ama. Máxime que estas minhas palavras provém de Deus do qual sou o seu enviado. 2- Os enviarei um Paráclito que vos confortará e acompanhará nas horas difíceis em que vos sentireis como órfãos sem mim. 3- Por isso a paz, essa tranquilidade de ânimo para hoje e esperança do amanhã, estará sempre convosco. Não duvideis do presente, nem temais o futuro. 4- Destas minhas palavras, tendes uma certeza e segurança: eu predisse esses acontecimentos. Eles são circunstanciais, mas o triunfo será eterno. Tende fé em mim.
2o) A preocupação de Jesus com seus discípulos, quando ele sabia das horas tão funestas como lhes esperavam, indica um profundo amor pelos seus que não quer abandonar: por minha parte não perderei um só dos que me confiastes, exceto o filho da perdição.(Jo 17,12). Judas também tinha fé nas palavras de Jesus, mas faltava o amor: preferiu as trinta moedas.
3o) A paz não é uma palavra vã, mas um dom recebido do Pai por meio da entrega da vida de Jesus como grão que morre para surgir uma nova vida (Jo 12, 24).
02.05.2010
5º Domingo de Páscoa - ANO C
__ “A NOVA JERUSALÉM” __
Comentário: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
Deus amou uma cidade, Jerusalém. Este amor conheceu vicissitudes, viveu uma história. A cidade de Jerusalém está intimamente ligada à história das relações entre Deus e os homens. A Igreja é cidade nova e está ligada à páscoa de Cristo, êxodo definitivo, com o qual Ele venceu o mal, e esta cidade purificada pelo sofrimento, encontra uma felicidade sem sombras na perfeita comunhão com Deus. A glória de Cristo, ligada à sua obediência ao Pai é partilhada por aqueles que obedecem ao mesmo mandamento de amar a Deus e ao próximo até o sacrifício de si. Céus novos e terra nova são hoje a aspiração que faz bater o coração de toda a humanidade empenhada em superar a atual ordem social tão cheia de injustiças. "Eis que faço novas todas as coisas" é a grande esperança cristã: um mundo novo. Entoemos cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos
em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (At 14,21b-27): - "É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus"
SALMO RESPONSORIAL (Sl 144): - "Bendirei o vosso nome, ó meu Deus,/ meu Senhor e meu Rei para sempre."
SEGUNDA LEITURA (Ap 21,1-5a): - "Esta é a morada de Deus entre os homens. Deus vai morar no meio deles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus estará com eles."
EVANGELHO (Jo 13,31-33a.34-35): - "Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros."
- “A Glória e o Amor”
Reflexão do Evangelho por Diácono José da Cruz
Podemos trocar neste evangelho, a palavra Glória por Sucesso, que significa ser bem sucedido em algum empreendimento humano, obtendo o reconhecimento de todos, recebendo as honras e os elogios, por ter sido o melhor, por ter sido um vencedor. É assim em uma carreira profissional ou política, é assim no mundo das artes, da ciência ou do esporte, onde o mais hágil, o mais forte, o mais bem dotado, sempre vence. Uma vitória traz algo muito buscado por todos que é o poder, e quem o alcança tem as pessoas á sua disposição, que irão manifestar sempre o apoio, em uma clara submissão ao seu ídolo. É a glória! Como exclamam feliz, os que a alcançaram. O ídolo se torna uma referência, uma marca, um estilo de vida que irá servir de modelo a todos.
Alimenta-se assim uma verdadeira veneração do Ego do vencedor, que pensa sempre em si mesmo, em seus interesses, em suas conveniências, que planeja e arquiteta sempre o que lhe favorece e lhe faz bem, ou em outras palavras; que tem um “mundo” girando ao seu redor. Em um sistema egoísta que favorece um só ou alguns felizardos, basta olharmos o modelo econômico corrompido pelo neoliberalismo, e que mantém na ponta da pirâmide quem chegou lá, por merecimento ou por mecanismos escusos porque sendo assim, cada irmão ou irmã torna-se um concorrente que deve e precisa ser eliminado, quando se busca o sucesso e a fama. O sistema nos faz pensar e agir desta forma e assim, simples adversários são transformados em inimigos!
Entretanto, a glória para Deus é o oposto do que é para os homens, porque não tem como fundamento o egoísmo, mas sim a solidariedade e um modo de amar que o homem nunca tinha visto ou experimentado antes. Um amor verdadeiro quer construir, renovar, ajudar o outro a crescer, quer a vida e o bem do próximo, quer vê-lo livre para tomar decisões sábias, para conquistar seus ideais, construir sua própria vida e fazer a própria história. Mas tudo isso poderá ter um preço muito alto, que nem sempre estamos dispostos a pagar, pois o sistema nos convence de que, qualquer investimento deverá sempre ser feito para nós mesmos e não para os outros, pois é perigoso ajudar as pessoas a crescerem em dignidade, amanhã elas poderão ser mais um concorrente.
Esse modo de pensar e de viver é sempre perigoso, pois pode representar a perda até da própria vida, é melhor pensar e viver como todos os outros, pois somos condicionados a vencer, ninguém quer perder, ninguém quer a derrota, ninguém deseja o fracasso. Não vale a pena dar a vida pelos outros, ninguém irá reconhecer!
Pois essa é a glória para Deus, quando pensamos e agimos diferente do mundo, por causa do evangelho, Deus é glorificado, porque pensamos e agimos exatamente como o Filho Jesus. Por essa razão que neste evangelho, exatamente quando começa a delinear-se um aparente fracasso do ideal do reino, proposto por Jesus, com a traição de Judas, o Mestre anuncia que o Filho do Homem foi glorificado e que Deus foi glorificado nele. Ao ser glorificado pelo Filho, que não pensa e não age conforme o sistema marcado pelo pecado do egoísmo, mas sim pelos valores do Reino, o Pai o glorificará quando chegar a sua hora, a hora da cruz, que será aparente fracasso para os homens, mas a gloria para Jesus, provavelmente é este o sentido do ensinamento que ele faz aos seus discípulos na citação “quem perder a sua vida por causa de mim, irá ganhá-la”.
Mas como percorrer um itinerário tão desafiador, que vai na contra mão do sistema opressor e explorador? Onde poderá o discípulo encontrar força para seguir o Mestre e trilhar esse mesmo caminho? Na segunda parte deste evangelho Jesus deixa\aos discípulos o seu legado e o seu testamento, que é dado na forma de um mandamento novo “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. Esse amor é muito mais que um sentimento, muito mais que uma virtude, esse amor é o próprio Deus, que tem a força renovadora, única capaz de transformar a tudo e a todos, dando-nos um novo céu e uma nova terra, levando o homem a seu destino glorioso junto a ele. Quem ama como Cristo nos amou, e não tem medo de perder, já antecipa em sua vida um pouco deste novo céu e desta nova terra! Que nossas comunidades sejam assim! Amém. ( V Domingo da Páscoa Evangelho João 13,31 -33.. 34-35)
José da Cruz é
diácono permanente da Paróquia Nossa S. Consolata-Votorantim -
e-mail:jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Pe. Françoá Rodrigues – 5º DOMINGO DE PÁSCOA - (Ano C)
Caridade fraterna
“Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,34-35). Talvez um dos propósitos do dia de hoje seja mandar fazer um quadro com essas belas palavras e colocá-lo na nossa sala de estar e, dessa maneira, lê-las frequentemente pedindo a Deus a graça de que a caridade fraterna seja uma realidade na nossa vida. É muito bonito falar do amor ao próximo. Que difícil, porém, é vivê-lo!
É muito importante que não sejamos teóricos no que se refere ao amor ao próximo. O famoso romance de Fiodor Dostoievski, Os irmãos Karamázov, também relata como uma pessoa proclamava o seu amor pela humanidade em geral: “Eu amo a humanidade, mas fico admirado comigo mesmo porque quanto mais amo a humanidade em geral diminui o meu amor às pessoas em particular, ou seja, singularmente, como simples pessoas. Sonhando, com freqüência, fiz propósitos apaixonados de servir à humanidade e, talvez, teria caminhado rumo à cruz pelas pessoas, caso fosse necessário, em algum momento. Não obstante, sou incapaz de viver com outras pessoas durante dois dias seguidos compartindo o mesmo quarto, e sei-o por experiência. Quanto me vejo perto de alguém, percebo que a sua personalidade oprime o meu amor próprio e tira a minha liberdade. Em apenas 24 horas posso chegar a odiar, inclusive a melhor pessoa do mundo: às vezes porque fica muito tempo à mesa, outras porque está gripado e tosse sem cessar”. Ainda que o texto não seja literal, é possível perceber que não é verdadeira caridade a mera possibilidade de amar a humanidade em geral e desprezar o ser humano em particular.
Estamos fartos de discursos humanitários retóricos! Gostaríamos de ver solucionada a situação das pessoas com as quais convivemos: “esse vive num barracão, aquele passa fome, fulano não tem trabalho, o outro está com depressão, os grupos estão divididos na minha paróquia, no meu grupo há uma pessoa que sempre quer destacar-se mais que os outros, há críticas… um desastre!”
Será que os não-católicos conhecem os católicos pelo amor mútuo, pela atenção caridosa, pelo carinho, pela boa educação, pela generosidade e pela disponibilidade? Para saber como se vive a caridade é preciso olhar, em primeiro lugar, para Jesus. A regra, a medida da caridade, é ele: “como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”. Como Cristo amou-nos? Rebaixando-se a si mesmo, sofrendo na cruz e derramando todo o seu Sangue por nós, preocupando-se verdadeiramente com os nossos pequenos e grandes problemas etc. Assim deve ser o nosso amor aos irmãos: será preciso dedicar-lhes tempo, escutá-los, dispor-se para ajudá-los quando for preciso, ser agradecidos para com as pessoas, corrigir com fortaleza e gentileza quando necessário, viver as normas da educação e da prudência, ser discretos, compreender-lhes, sorrir também quando não se tem vontade, sacrificar-se discretamente para que os outros passem bons momentos.
E nas paróquias? Quantas rivalidades! Quantos ciúmes! Quanta inveja! Disse alguém que “Cristo mandou que nos amássemos, não que nos amassemos”. Há muitas reuniões, e pouca união! Os problemas na comunidade cristã não são novos, São Paulo escreveu aos Gálatas: “se vos mordeis e vos devorais, vede que não acabeis por vos destruirdes uns aos outros” (Gl 5,15). Porque será que os cristãos às vezes se mordem devorando-se uns aos outros? Pelo mesmo motivo que São Paulo identificou entre os gálatas: eram carnais. O que é necessário para viver a caridade? Deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e fazer as obras do Espírito: “caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gl 5,22-23). Hoje é o dia para que renovemos os bons propósitos de viver opere et veritate, com obras e na verdade, a virtude da caridade, não em geral e em abstrato, mas em particular e concretamente: na família, com o pai, com a mãe, com os irmãos, com os amigos, com o patrão, com o empregado, com o meu irmão de comunidade. Não é fácil porque as pessoas têm problemas, dificuldades, às vezes exalam mau olor, falam demasiado (e às vezes com a boca cheia) ou não falam quase nada, faz calor. Poderíamos enumerar mil e uma razões para não viver a caridade, nenhuma delas é conseqüente. Neste mês de maio, Maria Santíssima nos ensinará a viver amor a Deus e ao próximo, de verdade!
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 5º Domingo de Páscoa - Ano C
feito por Pe Ignácio, dos padres escolápios (extraído do site http://www.presbíteros.com.br)
EPÍSTOLA (Ap 21, 1-5ª)
A NOVA JERUSALÉM: Depois de ter descrito a ruína de seus inimigos e a desaparição do mundo do pecado, o vidente de Patmos passa a descrever o triunfo da Igreja, numa visão que contrasta com a destruição e humilhação da Babilônia, ou seja, a Roma imperial. A Igreja é a nova Jerusalém que desce do céu, vestida como noiva para esposar o Cordeiro. Terminou a fase terrestre e se inicia o tempo da eternidade. A esperança agora deixa seu turno à realidade eterna e triunfante dos planos divinos. A Jerusalém do AT, material, com seu templo de pedras mortas é substituída pela nova Jerusalém em que os fiéis são as pedras vivas que formam o santuário de Deus na terra. Daí que tenhamos um novo universo: novos céus e nova terra.
NOVOS CÉUS E TERRA: Então vi céu novo e nova terra; pois o primeiro céu e a primeira terra passaram e o mar já não existe (1). Et vidi caelum novum et terram novam primum enim caelum et prima terra abiit et mare iam non est. Após o juízo final, em que a morte e o lugar dos mortos [o inferno] foram relegados ao lago de fogo, onde os que não estão escritos no livro da vida foram também lançados, a terra e os céus estão purificados e obedecem ao Senhor do trono completamente. É necessária uma renovação em que o mar, essas águas que eram a base do abismo [o poder das trevas] seja suprimido. Para entender isso, é necessário saber como era o conceito do Universo nos tempos do apóstolo. Na tríplice contextura do mesmo e no primeiro andar, estavam as águas inferiores, das quais, como abismo, era príncipe o senhor do mal, Satanás. No segundo altar está a terra, com os infernos como habitação dos mortos. No andar terceiro ou superior, temos os céus em que também se encontram as águas superiores. O mar, que não só ocupava a parte inferior da terra, mas também era visto na sua superfície e dele brotaram os reinos do mal como animais monstruosos (Dn 7, 3), será suprimido com seu monstro o Leviatã [=enrolado, como serpente], visão do príncipe do mal, Satanás. Era esta a besta marinha criada por Deus no Gn 1, 21, formando parte dos Taninim [=mostros marinhos] em hebraico. De acordo com a lenda, Deus criou o Leviatã como macho e fêmea e logo matou a fêmea, pois do contrário a sorte dos homens seria fatal, já que a geração dos monstros multiplicaria o mal indefinidamente. A forma externa do Leviatã era como de uma enorme serpente. Em Is 27, 1 lemos: Naquele dia Jahveh castigará com sua espada grande e pesada a serpente Leviatã , que sempre sai fugindo e que é uma serpente astuta, e matará o dragão do mar. Na nova terra não pode existir nada de maldade, tanto espiritual como material. Suprimido o mar, acabará com a serpente do mal.
A JERUSALÉM CELESTE: E eu, João vi a cidade a sagrada Jerusalém nova descendendo da parte de Deus desde o céu, maquiada como noiva adornada para seu homem (2). Et civitatem sanctam Hierusalem novam vidi descendentem de caelo a Deo paratam sicut sponsam ornatam viro suo. Agora, já pode substituir a Babilônia, luxuriosa [idólatra em termos alegóricos] a mãe das meretrizes (Ap 17, 5) com a cidade de Jerusalém que sempre teve como Deus, o único. Por isso, a chama de SAGRADA [‘aguia<40>=sancta] pertencente à divindade, ou divina, muito mais do que santa, como hoje entendemos o sentido desta última palavra. Digna de veneração como era Jerusalém, porque dentro dela está o templo, como diz Mt 4, 5: o diabo o levou para a Cidade Veneranda [eis tën ágian polin]. Mas agora era NOVA [kainë<2537>=nova],porque a antiga já não existia, o que indica que escreve após a destruição da mesma em tempos de Tito. Não era uma cidade formada por arquitetos e operários humanos, mas DESCENDENDO [katabainousan<2597>=descendentem] particípio de presente do verbo Katabainö que significa descer e sua origem, onde foi construída, é o céu, lugar da perfeição, onde não existe ser algum com mancha ou imperfeição. Por isso acrescenta da parte de Deus; e a compara, pela sua beleza, com uma noiva MAQUIADA [ëtoimasmenë< 2090>=paratam] do verbo etoimazö, que significa preparar e que aponta ao antigo costume de aplainar e reparar os caminhos por onde o rei deveria passar (Mt 4, 3). No caso, a compara com uma noiva adornada para receber seu futuro esposo. Em português, essa preparação é descrita com o verbo maquiar. O texto fala de HOMEM [anër <435>=vir] que, se originalmente é homem másculo, é o vocábulo para designar também o esposo ou o noivo, como neste caso.
UM DEUS DE TODOS OS HOMENS: E ouvi grande voz do céu dizendo: Eis a tenda do Deus entre os homens e porá sua tenda entre eles e eles, seus povos, serão; e Ele, o Deus, será entre eles seu Deus (3). Et audivi vocem magnam de throno dicentem ecce tabernaculum Dei cum hominibus et habitabit cum eis et ipsi populus eius erunt et ipse Deus cum eis erit eorum Deus. A voz do céu significa a voz de Deus, ou simplesmente um oráculo, como o recebido pelos antigos profetas. A voz explica o significado da visão: Já não é a tenda, ou tabernáculo [mishkan], que no deserto era o símbolo que representava a realidade de Jahveh com seu povo de Israel. Em tempos de Salomão, essa tenda foi modificada pelo novo templo, construído em Jerusalém, donde a glória do Senhor também tomou conta do mesmo, de modo que a nuvem [shekinah] encheu a casa do Senhor de forma que os sacerdotes não puderam permanecer ali, para ministrar, por causa da nuvem; porque a glória do Senhor encheu a casa do Senhor (1 Rs 8, 11). SEUS POVOS está em plural indicando que agora não há um único povo escolhido, mas em geral, são todosos povos os que formam parte do reino de Deus. A tradução segue a ordem das palavras do grego, e talvez fosse melhor dizer: e eles serão seus povos, que o autor, como se fosse um verso paralelo, completa dizendo que ele, Deus, será seu Deus. Ou seja, haverá uma correspondência mútua entre os novos povos e Deus, como súditos de um rei que os defende, os cuida e principalmente os ama.
A FELICIDADE UNIVERSAL: E enxugará o Deus toda lágrima dos olhos deles e a morte na existirá mais; nem luto, nem pranto, nem pena haverá mais, porque as primeiras (coisas) passaram (4). Et absterget Deus omnem lacrimam ab oculis eorum et mors ultra non erit neque luctus neque clamor neque dolor erit ultra quae prima abierunt. LÁGRIMA: [dakry<1144>=lacrima] num sentido metafórico o apóstolo diz que tudo será felicidade e bem-estar. Por isso, retira dessa nova vida, uma nova criação, todo elemento que pudesse escurecer a felicidade dos súditos do eterno rei: lágrimas, em primeiro lugar. A morte, que causa o luto e o pranto, não será causa de lágrimas. Tampouco haverá pena [ponos<4192>=dolor] angústia, sofrimento, penalidade, tudo dependendo da morte. Essa morte que pende como espada de Dâmocles de todo ser humano e que leva consigo as penalidades da vida e os sofrimentos que causa nos seres queridos a desaparição do amado e consanguíneo. Os habitantes da nova Jerusalém nunca mais verão a morte dentro dos domínios do novo e eterno reino.
NOVO UNIVERSO: Então disse o sentado no trono: Eis que faço novas todas (as coisas). Et dixit qui sedebat in throno ecce nova facio omnia. São palavras de Deus, que é o sentado no trono. É o Jahveh [o Eterno, segundo a tradução dos Rabis de hoje] que de novo usa seu poder criador para fazer ou refazer de novo todas as coisas: um mundo novo, completamente diferente do antigo: sem fim, sem morte e sem dor, nem sofrimento. Hoje, em que novas ideologias querem criar um mundo novo, também de bem-estar universal, vemos que apenas podemos criar esse mundo dentro de nós mesmos e tão imperfeito que, nem corporalmente, nem espiritualmente, podemos falar de verdadeira felicidade, mas de resignação e/ou impotência. O marxismo quer formar um homem novo num mundo totalmente igualitário, mas decepcionante em fraternidade e liberdade. É a utopia da felicidade que promete um mundo feliz sem Deus. Também Jesus promete essa felicidade, aparentemente inalcançável na terra e por isso adianta a formação dum mundo novo: O homem nascido do batismo e da cruz é novo, se vive segundo a sua fé, da liberdade, ou seja, se serve no lugar de mandar; e Jesus promete que, se isso é feito, a felicidade entrará a formar parte de sua vida (Jo 13, 17). E será no mundo novo quando esse conselho será a prática total de todos, e o egoísmo humano deixará sua vez ao serviço e liturgia da koinonia celeste [=ministério sacerdotal no céu]. A felicidade será o fruto por Jesus prometido, uma vez que a morte, o último inimigo, seja destruído (1 Cor 15, 26).
Evangelho (Jo 13, 31-35)
UM NOVO MANDAMENTO
INTRODUÇÃO: O discurso de hoje forma parte do extensíssimo sermão da ceia final de Jesus com os doze, dividido em duas partes pelo final do capítulo 14: Levantai-vos! Partamos daqui! Na primeira seção, da qual forma parte o evangelho de hoje, Jesus se despede, deixando um outro acompanhante, o Paráclito, para que não se sintam órfãos. Jesus afirma que a hora final de sua vida, a sua partida, será de grande glória para Deus, coincidindo com sua própria glorificação, e por isso, ele também será o grande glorificado. Jesus relembra a seus discípulos o maior problema de sua vida: o amor; e por isso, dá a eles um novo mandamento na maneira de traduzir o mesmo: como eu vos tenho amado. Essa maneira nova de amar será o sinal distintivo de seus verdadeiros discípulos e, ao mesmo tempo, também a marca de sua presença invisível, mas real, entre os mesmos. Esse é o verdadeiro espírito que receberiam os que nEle acreditassem (Jo 7, 39). O amor a Deus não é diferente do amor que Ele tem por nós, especialmente demonstrado pelo seu Filho como homem. Este amor divino é a marca e modelo de nosso amor humano, amor que devemos uns para com os outros. Realmente é uma novidade que une, pelo amor, Deus e os homens e estes entre si. Esse amor constitui, pois, a base da vida eterna e o fundamento da mesma, nesta vida terrena.
QUANDO JUDAS SAIU: Quando saiu, diz Jesus: Agora foi glorificado o Filho do homem e o (sic) Deus foi glorificado nEle (31). Cum ergo exisset dicit Iesus nunc clarificatus est Filius hominis et Deus clarificatus est in eo. QUANDO SAIU:O sujeito era, sem dúvida, Judas, o traidor. A traição é um baldão que mancha, como nenhum outro motivo, a relação de amizade e estima entre duas pessoas. Judas impedia essa convivência e intimidade que de gozo e alegria se tornava tensamente dificultosa. Jesus esperou que o traidor saísse para falar abertamente sobre os instantes finais de sua vida. Com isto, Jesus se dirige àqueles a quem pode transmitir, sem travas, suas palavras. Caso não as entendessem na ocasião, elas ficariam gravadas, de modo que constituíssem o testamento de Jesus. Por isso, era interessante que o evangelista falasse da saída: O discurso era para os verdadeiros discípulos. A saída de Judas abria o coração de Jesus de modo que Ele bem podia afirmar que era nessa mesma hora na qual começava seu momento de glória. Glória que se identificava com o amor que recebia de seus discípulos. Amor que era repassado ao Pai. AGORA [nun <3568>em grego]: Jesus estava esperando sua hora que chegaria nestes últimos momentos. Por isso, se despede dos doze. A hora de Jesus era a hora do Filho do Homem. Esta expressão, que basicamente significava uma pessoa humana, era usada na época indicando também o eu pessoal, à semelhança como se diz a gente em português, ou o uno em espanhol. Porém, em Jesus, tem um significado particular: É a expressão usada por Jesus para indicar a parte humana de sua personalidade; ou dito de outra maneira, o homem que formava parte dEle. Ao mesmo tempo é um título messiânico velado, não incluído na tradição judaica. Está tomado de Daniel 7, 13-14, em que o novo reino, permanente, está representado pela figura de um homem que procede do céu, de Deus, em oposição aos reinos que brotam do abismo, lugar do maligno. Representa o triunfo do monoteísmo, vinculado a um homem, Jesus, tornado o Cristo, contra o poder politeísta dos reinos dominantes na época, representados pelos reinos pagãos. A HORA tem um significado peculiar. É a hora da prisão, como vemos em Jo 7, 30 e 8, 30. É também a hora de seu sofrimento em Jo 12, 27, previsto como solitário, ao ser abandonado por todos, à exceção do Pai. Em Jo 16, 32, é o cálice que Jesus degustará em total abandono, segundo Mt 27, 56. Mas também é a hora em que isso tudo servirá para dar glória ao Pai, tal como está no evangelho de hoje (31) que constitui uma repetição do 12, 23. E por buscar unicamente a glória do Pai, também o Filho será, por sua vez, glorificado com a máxima glória, de modo que, perante sua pessoa, se dobre todo joelho [a proskinese como rei dos reis e senhor dos senhores] dos seres celestes, dos terrestres e dos que vivem sob a terra (Fp 2, 10). Assim ele é O Senhor (idem 11). Por isso ele foi constituído Filho de Deus, com poder, pela ressurreição dentre os mortos (Rm 1, 4). Ressurreição que estava prevista após a morte, segundo Rm 14,9 para se tornar Senhor dos vivos e dos mortos. Em Ef 1,20-21 Deus o fez sentar à sua direita muito acima de qualquer Principado (arkhés) e Autoridade (exousia) e Poder (dynamis) e Senhorio (Kyriostes). Palavras que se entendem melhor tendo como explicação as filosofias do tempo nas quais, entre Deus e os homens, existiam uma série de eons dominadores das esferas celestes. Como conclusão, podemos afirmar que Jesus deu mais glória a Deus com sua paixão e morte do que com os milagres que realizou. Estes serviram para sinais de sua divindade, mas a paixão e morte eram sinais de sua obediência ao Pai, de ser o verdadeiro Servo de Javé e era precisamente com elas que obteria o senhorio sobre todas as criaturas. GLORIFICADO: A palavra doxazö [<1392>] é traduzida ao latim por clarificatus, que propriamente significa ser manifestado. As traduções vernáculas usam glorificar, magnificar ou exaltar. No ANTIGO TESTAMENTO existem três palavras que podem significar glória no sentido de superioridade, de majestade. A) Se se trata de Javé o significado é de transcendência. A primeira é éder no sentido de superioridade. Javé é poderoso por libertar o povo do Egito e, portanto, glorificado em santidade ou magnificus in sanctitate (Vulgata) em Êx 15, 10. Por isso, sua majestade é conhecida pelos filisteus que falam das mãos destes grandiosos deuses (1 Sm 4,8), já que eles eram politeístas. O nome de Javé é glorioso em poder e majestade: quão magnífico é teu nome (= tua pessoa), pois expuseste nos céus a tua majestade ( Sl 8,1-2). Dessa palavra temos a derivada addir que significa poderoso, nobre, principal, grandioso. O messias era addir (=príncipe) que procedia do povo em Jr 30, 21. Existe uma frase muito interessante, derivada da raiz comum adr. Ela é hadret qadish traduzida por beleza de santidade ou como doxa tou onomatis autou (majestade de seu nome) em grego e na vulgata décor sanctus (Sl 29,2). A terceira palavra com conotações mais diretas com a divindade é kabod, usada como nome (glória) e como adjetivo (glorioso), que pode ser traduzida por reputação, admiração, reconhecimento. Esta é propriamente a palavra que é traduzida ao grego por doxa, palavra grega que nos clássicos significava boa fama, opinião favorável com respeito a uma pessoa. Logicamente, ao se referir a Javé, a palavra tem o significado de uma manifestação visível, relacionada principalmente com o Tabernáculo: a doxa do Senhor apareceu na nuvem (Êx 16, 10). É a auto-revelação divina que manifesta seu desejo de realizar sua obra ou estar presente (habitar) entre os homens por Ele escolhidos. Temos exemplos desta manifestação no fogo que consumiu o sacrifício de Abraão (Gn 15, 17); na sarça ardente de Moisés (Êx 3,3-5), porque o lugar sendo santo, os pés deveriam estar descalços como correspondia a um escravo. Glória que rodeou o templo de Salomão na sua inauguração (1 Rs 8, 10-11). O fogo que consumiu o sacrifício de Elias no monte Carmelo onde pede ao Senhor que manifeste ser Ele o condutor do povo (1 Rs 18, 37-38). A doxa-kabod está, pois relacionada com a santidade (= unicidade e transcendência) de Javé. Em resumo: Doxa identifica-se com a pessoa. B) Ao nível humano, a glória acompanha à pessoa do rei (Mt 6, 29). Também a glória era buscada como honra e distinção pelos grandes mestres de Israel (Jo 12, 43). A glória humana é o reconhecimento da superioridade de uma pessoa com respeito a outras de nível inferior. No NOVO TESTAMENTO a doxa do Pai é vista no seu Filho (Jo 1, 14): vimos sua glória, glória como do unigênito que (consistia) na plenitude de misericórdia e de fidelidade. Pois assim parece que deve ser traduzida a frase grega pleres kharitos kai aletheias [cheio de graça e de verdade]. Pois reflete o hesed (bondade, misericórdia, amor), we emet (firmeza, verdade, fidelidade, veracidade) dos textos hebraicos referidos a Javé-Deus. E em 17, 1-5: Pai, é chegada a hora; glorifica teu Filho(…) como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que conceda a vida eterna a todos os que lhe deste (…) Eu te glorifiquei na terra consumando a obra que me confiaste. E agora glorifica-me ó Pai contigo mesmo com a glória que eu tive junto de ti antes que houvesse mundo. A Vulgata usa o verbo clarificare que em voz -ativa significa clarificar, tornar célebre. Quando se refere a Deus, a glória divina se manifesta nos seus atributos especiais: poder, sabedoria, fidelidade e misericórdia de modo especial, porque neles se manifesta a unívoca e peculiar unicidade da divindade. Esta glória de Deus se manifesta de modo especial em Jesus (Jo 1, 14), como unigênito do Pai. Glória que pela primeira vez manifestou a seus discípulos em Caná da Galileia, quando transformou a água em vinho (Jo 2, 11), porque assim revelou, com seu poder, quem realmente ele era. A glória do Filho foi vista de modo especial na transfiguração, quando apareceram envoltos em glória as três figuras, e que a Vulgata traduz in majestate. Mas a glória máxima é o seu triunfo sobre a morte como consequência da sua vitória contra o pecado, por meio de sua obediência até a morte e morte de cruz (Pela qual Deus o sobre-exaltou grandemente) (Fp 2, 9). Em resumo: Sem recorrer às palavras de Paulo, e somente usando expressões de João, a glória que Jesus pede nessa hora é a autoridade sobre a morte, pois o sarx (carne) representa a parte mortal do homem. Essa autoridade lhe dá o poder de dar a vida eterna aos que lhe seguem, vida que ele mesmo tinha, unido ao Pai, como glória antes que o mundo existisse. Chega, pois, o momento em que a obra do Deus único será reconhecida em seu Filho porque este, através de sua humilhante e dolorosa morte, se tornará Triunfador da mesma e Senhor da vida. A sua Ressurreição é a firma do Pai para esta nova etapa, totalmente gloriosa, do Filho. Nota:Temos traduzido um tanto livremente os parágrafos, visando antes as ide.ias do que a literalidade do texto.
A GLÓRIA DIVINA: Se Deus foi glorificado nEle, também (o) Deus O Glorificará em si mesmo e imediatamente [euthys] O glorificará (32). Si Deus clarificatus est in eo et Deus clarificabit eum in semet ipso et continuo clarificabit eum. A glorificação divina feita por meio de Jesusnão consistia precisamente, sem descartá-los, nos milagres de Jesus (os semeiai, sinais), mas também e principalmente, na sua paixão e morte em obediência. Jesus não atribuía a si mesmo sua vida e sua obra, mas as declarava oferecidas como obediência ao Pai, como deve ser toda obra e vida cristã. Como resultado desse serviço ao Pai que o constituía Servo de Javé, este se obrigava a glorificar por sua vez o Filho, como diretamente unido ao poder e glória da divindade [em si mesmo], poder de dar vida e ser Senhor da morte e isso seria conhecido de imediato [euthys, ou continuo latino]. A exemplo do Senhor Jesus, nós temos a obrigação de glorificar o Pai. Paulo dirá selados pelo Espírito Santo para o seu louvor e glória (Ef 1, 14). S. Ignácio coloca como objetivo de sua obra Ad majorem Dei gloriam, que S José de Calasanz completará com et pietatis incrementum [aumento do amor filial como tradução direta]. E quando damos maior glória a Deus e demonstramos maior amor filial ao mesmo? S. Camilo de Lellis consolava seus moribundos, declarando que a aceitação das dores e da morte era a maior contrição pelos pecados, que serviria para o perdão dos mesmos. É uma visão que se funda tanto nas palavras de um santo como nas verdades evangélicas que acabamos de explicar. Se terminamos a vida oferecendo-a a Deus como e quando Ele quiser, em obediência e submissão, temos a certeza de que Ele nos receberá como Pai e não como Juiz. Assim, entendemos melhor a postura da Igreja que impede encurtar propositadamente a vida [eutanásia ativa] mesmo que essa vida seja aparentemente vegetativa.
NÃO PODEIS ME ACOMPANHAR: Filhinhos! Até pouco convosco estou. Buscar-me-eis e, como disse aos judeus, que onde vou eu vós não podeis vir; por isso vos digo agora(33). Filioli adhuc modicum vobiscum sum quaeretis me et sicut dixi Iudaeis quo ego vado vos non potestis venire et vobis dico modo. FILHINHOS: Existem em grego três palavras para filho: Teknon (de tikto gerar) é o filho gerado pelos pais. Uios, com um significado mais geral, pois pode se referir até aos filhotes de animais, e Pais que em geral significa criança e, por amplitude, filho ou escravo. A palavra que agora estudamos, um diminutivo de teknon, seria traduzida por filhinhos, com um significado de ternura muito peculiar. Filhos muito amados talvez. Provavelmente era a palavra com a qual os Rabis, considerados verdadeiros pais, se dirigiam àqueles que eram seus discípulos. Jesus usa o teknon [filho] para se dirigir ao paralítico, afirmando que seus pecados estavam perdoados (Mt 9, 2). Usa o teknoi em plural, referido aos discípulos, para afirmar a dificuldade de um rico entrar no Reino (Mc 10, 24). Mas é a única vez que desta forma, em diminutivo e carinhosamente, aparece nos evangelhos, pronunciada por Jesus pouco antes de sua morte. UM POUCO: O versículo, um tanto escuro, pode ser completado com 14, 19. Um pouco e o mundo não me verá, mas vós me vereis porque eu vivo e vós me vereis. Quer dizer que ele promete se tornar visível após a morte e que a morte dos discípulos não será obstáculo para estar na companhia de Jesus porque também eles estarão vivos após a morte dos mesmos. É a despedida da morte, que para os discípulos não será total e final, como seria para os judeus, seus inimigos, pois promete que os verá [aos apóstolos] após um pouco de tempo. Essa impossibilidade de acompanhar Jesus, este a declara desde o momento atual.
NOVO MANDATO: Mandato novo vos dou: Que vos ameis mutuamente como eu vos amei, para que também vós reciprocamente vos ameis (34). Mandatum novum do vobis ut diligatis invicem sicut dilexi vos ut et vos diligatis invicem. Distinguimos em grego Nomos (=lei, como a mosaica), Dogma (=decreto como os civis) e Entolê (=preceito). João usa aqui entolê indicando que não é uma lei completa, mas um preceito particular, embora seja distintivo para seus discípulos. O velho mandato de amar o próximo como a nós mesmos (Lv 19, 18) é substituído por amar como Jesus amou. Qual a diferença? No amor, estilo AT do levítico, entre o próximo e meu ego posso optar por mim. Mas com o exemplo do que Jesus fez por todos, especialmente por seus discípulos, o próximo ocupa o lugar preeminente: primeiro ele, logo eu; de modo que a vida deve ser dada por ele, pelo outro. Nisto conhecerão que sois meus discípulos. A identidade do discípulo é a de saber amar como Cristo nos amou. O amor de Jesus se manifesta em duas vertentes: 1) Com respeito a seus amigos: ninguém tem maior amor que o que dá sua vida por seus amigos (Jo 15, 13). 2) E por parte dos inimigos: Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores (Rm 5, 8). Por isso, não existe pecado maior do que a falta de amor entre os discípulos de Cristo.
OS VERDADEIROS DISCÍPULOS: Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: Se tiverdes amor mútuo(35). In hoc cognoscent omnes quia mei discipuli estis si dilectionem habueritis ad invicem. Geralmente distinguimos os cristãos, discípulos de Jesus, pela sua profissão de fé: pelo dogma da Encarnação que se apoia na Trindade. Mas isso só basta? Aparentemente, segundo alguns, é suficiente. Nós, os católicos, pensamos com este versículo: os verdadeiros cristãos são os que vivem sua crença centrada no amor, que para ser verdadeiro amor a Deus deve ter como sinal visível o amor ao próximo. Assim o expressa João em sua primeira carta 4, 20: Quem não ama seu irmão a quem vê, a Deus, a quem não vê, não pode amar. Paulo mesmo, esse que muitos apresentam como modelo da fé salvífica, afirma que o que vale em Cristo Jesus é a fé atuante através do amor[pistis dia ágape energoumene] (Gl 5, 6) e que Tiago declara que a fé sem obras está morta em seu isolamento (Tg 2, 17). Porque a verdadeira fé se demonstra pelas obras, como dirá o mesmo apóstolo. E essas obras, que todos podem ver, derivam do mandato novo de Jesus, que implica um amor verdadeiro ao próximo. Na Igreja atual, a única forma de sermos reconhecidos como realidade positiva humana e cristã é a caridade, que se manifesta nas inúmeras obras mantidas pelos membros da mesma. Isso nos diferencia das outras religiões que centram sua fé na salvação individual como parte de um imanentismo egocêntrico.
PISTAS:
1) Partimos da palavra glorificar. Que significa nos lábios de Jesus? Não é certamente um louvor externo, devido a uma fama adquirida por fatos meritórios, reconhecidos por todos. A glorificação tem, como meta final, a exaltação sobre toda a obra da criação. Esta é como a base material sobre a qual opera a obra redentora de Jesus, dando-lhe uma vida nova que se prolongará na eternidade para assim ser uma matéria diferente da inerte e mortal que conhecemos. A redenção ou salvação, é entendida como uma nova orientação de toda a natureza (Rm 8, 21) para ter como mestre e chefe o Filho do Homem, Jesus de Nazaré, que passa a ter, como Cristo, a mesma categoria e majestade que a do Javé, Deus de Israel.
2) Porém, antes da glorificação final, como ressurreição e vida nova do Universo, Jesus glorificará o Pai pela obediência estrita, dolorosa e solitária. Como pela desobediência de um, o pecado entrou no mundo, e os muitos (todos) se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só (até a morte e morte de cruz) os muitos (todos) se tornarão justificados (Rm 5, 17-19). Sua paixão e morte como pecado, mas não como pecador, trouxe sobre si a culpa e a pena do pecado em forma substancial, justificando os verdadeiros pecadores (2 Cor 5, 21). Nesse se tornar pecado está a sua máxima humilhação. Por isso, ele será levantado (glorificado). Primeiro na cruz, que só através da fé o contemplamos como verdadeiramente exaltado, como o contempla o Pai, tornando-se a cruz símbolo de sua exaltação. E logo, na sua ressurreição feito primícias e obra suprema da nova Natureza por ele renovada e revitalizada.
3) O preceito novo: A novidade do mandamento é o novo conceito de amor, não reservado unicamente aos amigos, mas ampliado aos inimigos. Eu, porém vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem (Mt 5,44). Novidade, por estar na linha do mandato recebido do Pai por Jesus de dar a vida como mandato do Pai (Jo 10, 18 e 14, 31). Dar a vida não somente no momento da cruz, mas desde sua conceição e nascimento, de modo que a vida de Jesus é um ato de obediência ao Pai. Novidade, porque o amor provém da relação com Jesus como modelo da relação com o Pai. Novidade, porque introduz um elemento comparativo e lógico para exigir semelhante amor: Deus nos ama assim, e nós devemos corresponder, porque Paulo afirma: Deus demonstrou seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando ainda éramos pecadores (Rm 5, 8). Novidade, porque é esse amor que revela se realmente somos discípulos do mestre e não outra forma de adesão e seguimento.
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( Salmos )
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