GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
23.05.2010
Solenidade de Pentecostes - ANO C
__ “A IGREJA VIVE NO ESPÍRITO DE CRISTO” __
Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
A Solenidade de Pentecostes celebra um acontecimento capital para a Igreja: a sua apresentação ao mundo, o nascimento oficial com o batismo no Espírito. Complemento da Páscoa, a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos manifesta a riqueza da vida nova do Ressuscitado no coração e na atividade dos discípulos; início da expansão da Igreja e princípio da sua fecundidade, ela se renova misteriosamente hoje para nós, como em toda assembléia eucarística e sacramental, e, de múltiplas formas, na vida das pessoas e dos grupos até o fim dos tempos. A "plenitude" do Espírito é a característica dos tempos messiânicos, preparados pela secreta atividade do Espírito de Deus que "falou por meio dos profetas" e inspira em todos os tempos os atos de bondade, justiça e religiosidade dos homens, até que encontrem em Cristo seu sentido definitivo (cf AG 4). Entoemos cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos
em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Atos 2,1-11): - "Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem."
SALMO RESPONSORIAL (Sl 103/104): - "Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai."
SEGUNDA LEITURA (1 Coríntios 12,3-7.12-13): - "Porque, como o corpo é um todo tendo muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo."
EVANGELHO (João 20,19-23): - "A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós."
- “RENASCIDOS NO ESPÍRITO”
Reflexão do Evangelho por Diácono José da Cruz
Quando se capricha na reforma de uma casa antiga, mudando totalmente sua fachada, costuma se dizer que ela ficou como nova, a esse respeito, lembro-me também do tempo em que a compra de um sapato novo era onerosa e a gente optava por levar o velho ao sapateiro, que colocava meia sola, passava uma tinta, dava um brilho e quando ia buscar, era como se fosse um sapato novo, e um último exemplo, um dos carros que tive foi uma Brasília, que em certa ocasião, mandei fazer uma reforma caprichada e ao sair com ela da oficina, dizia orgulhoso que ficou “novinha” em folha. Nesses três casos, a palavra NOVA é apenas força de expressão, pois a casa, o sapato e a Brasília, continuaram velhos, apenas com aparência de novos.
O que o Espírito de Deus realiza em nós, não é uma reforma de fachada, não somos uma casa velha reformada, mas nele somos recriados, renascidos e renovados, passando a ser realmente novas criaturas, porque estamos em Cristo (1 Cor 5, 17-21). Quando o homem toma conhecimento dessa verdade, fica confuso como Nicodemos, que perguntou a Jesus como é que podia um homem, sendo já velho, nascer de novo, se era necessário entrar novamente no útero materno. Nas leituras da missa da vigília, e do domingo de Pentecostes descobrimos que esse renascimento e essa renovação não dependem do homem, mas é iniciativa de Deus. Quando celebramos Pentecostes estamos na verdade celebrando o renascimento de todo gênero humano, a renovação de toda humanidade, onde o homem, consciente e crente desta renovação, se une a seu Deus e aos irmãos em comunhão perfeita, na Igreja, que é o Povo da Nova Aliança, a Assembléia ou a reunião dos que crêm e vivem segundo o Espírito, vivenciando um amor que se traduz em serviço, impelido pelos carismas.
Igreja não é um grupo fechado e particular que têm exclusividade sobre o Espírito Santo, monopolizando seus dons e carismas, o Espírito é derramado sobre todos e não canalizado para alguns em particular como pensam algumas correntes religiosas. Todos os textos que ilustram essa Festa de Pentecostes, da missa da Vigília e da própria Festa, não deixam margem para dúvidas a esse respeito. “Derramarei o meu Espírito sobre todo ser humano” – (Joel 3, 1) “todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o espírito os inspirava. Moravam em Jerusalém, judeus devotos de todas as nações do mundo, quando ouviram o barulho, juntaram-se á multidão e cada um os ouvia falarem em sua própria língua” (Atos 2, 4-5) Através do seu Espírito que é único, Deus se comunica com todos os homens no pluralismo de valores, de culturas e religiões, em uma única linguagem! No espírito descobrimos que somos todos iguais embora queiramos parecer diferentes.
Se atendêssemos aos apelos do Espírito, derrubaríamos por terra todas as barreiras que nos separam e homens de todas as nações, culturas e religiões, iriam se dar às mãos e em uma única voz cantariam um único louvor, ao único e verdadeiro Deus, reunidos em uma única Igreja que já não seria mais este ou aquele templo, esta ou aquela denominação religiosa, mas sim as entranhas do homem. Eis aí algo esplendido que Pentecostes nos revela: nascemos de novo e nos renovamos porque Deus em seu Espírito Santo, entra em nós. “Nossos ossos estavam secos, nossa esperança havia acabado texto que em Ezequiel 17, mostra não só a situação de um povo, que tinha perdido a sua identidade de povo de Deus, mas da própria humanidade, que sem Deus não consegue sonhar, ou esperar nada de bom, mas só tem pesadelos, e neste mesmo texto vemos a maravilhosa profecia “Porei em vós o meu Espírito para que vivais... e os anciãos voltarão a sonhar, e os jovens profetizarão” isso significa que todos, jovens e velhos poderão esperar algo novo, uma nova e feliz realidade.
Essa possibilidade se concretizou ao anoitecer daquele dia, quando Jesus soprou sobre a comunidade dos discípulos, concedendo-lhes o dom da paz e o seu próprio Espírito. Precisamente ali surgiu a nova humanidade, em uma Igreja que na força do Espírito Santo perdeu o medo, abriu suas portas que estavam fechadas e saiu em missão para anunciar a todos os homens essa verdade, que o Espírito do Senhor nos renovou, que em todos os homens, a graça é maior e mais abundante que o pecado. E quando todo homem olhar para dentro de si e tomar consciência dessa verdade, de que é uma Igreja ambulante porque o Senhor habita nele em Espírito, então passará a produzir os frutos doces e saborosos da caridade, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, lealdade e mansidão. Você já fez essa experiência? (Festa de Pentecostes)
José da Cruz é
diácono permanente da Paróquia Nossa S. Consolata-Votorantim -
e-mail:jotacruz3051@gmail.com
CARÍSSIMOS IRMÃOS E IRMÃS,
Em virtude de problemas no servidor do site Presbíteros, não publicaremos nesta semana o Comentário Exegético da Solenidade de Pentecostes. Entretanto, estamos publicando excepcionalmente uma Homilia Especial para este domingo e a Homilia do Papa Bento XVI proferida na Solenidade de Pentecostes de 2006. Na próxima semana voltaremos com a publicação normal.
Vejam na página EVANGELHO DO DIA a liturgia completa da celebração desta Solenidade
Desejamos a todos uma boa e santa semana!
Homilia Especial – SOLENIDADE DE PENTECOSTES - (Ano C)
«Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós»! (Jo.20,21)
1. Concluímos o tempo pascal, voltando ao ponto de partida, em que o
começámos: precisamente, no mesmo lugar, onde os discípulos estavam reunidos na tarde de Páscoa! Assim, no princípio, no meio e no fim deste
tempo novo, está agora e sempre “o sopro” transformador do Espírito de
Cristo Ressuscitado, que sacode o medo dos discípulos e lhes abre as portas
da missão: “Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós”
(Jo.20,21)! Como se vê, «a missão recebemo-la sempre de Cristo, que nos deu a
conhecer o que ouviu a seu Pai, e somos nela investidos, por meio do Espírito,
na Igreja» (Bento XVI, Homilia no Porto, 14.05.2010).
2. Se na tarde daquele dia, o primeiro da semana, “o sopro” do Ressuscitado
transformava já a tímida massa humana dos discípulos, em audazes
anunciadores da ressurreição, agora, no mesmo lugar, «quando chegou o dia
de Pentecostes», “um rumor, semelhante a forte rajada de vento, enche toda
a casa onde se encontravam” e extravasa para uma multidão, que “os ouve
proclamar na sua própria língua as maravilhas do Senhor”! E todos ficam“repletos” do Espírito Santo, capazes de comunicar, sem barreiras, nem
fronteiras, a alegria do evangelho! Como uma espécie de “primeira
assembleia das nações unidas”, a Igreja nasce ali, no Pentecostes, como casa
e escola de comunhão, onde povos e línguas diferentes aprendem a falar a
linguagem essencial do Amor! O protagonista silencioso deste milagre de
comunhão e de comunicação, de proclamação e de missão, é o Espírito Santo!
Impelida por Ele, toda a Igreja, doravante, é chamada a anunciar a todos os
povos as maravilhas do Senhor! O Pentecostes é assim como um fogo ardente
e um vento impetuoso, para a vida cristã, e para a missão de toda a Igreja!
3. Do maravilhoso relato do Pentecostes, que ouvimos todos os anos, gostaria
de destacar três aspectos, para este ano de missão:
Primeiro aspecto: «Os apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar» (Act.2,1). «Permanecer juntos» foi a condição exigida por Jesus, para receber o
dom do Espírito Santo! Pressuposto da sua concórdia, foi uma oração
prolongada! Por vezes, pensamos que a eficiência missionária dependa principalmente de uma programação atenta e da sua inteligente realização,
mediante um empenho concreto. Sem dúvida, o Senhor pede a nossa colaboração, mas antes de qualquer resposta nossa é necessária a sua
iniciativa: é o seu Espírito o verdadeiro protagonista da Igreja. As raízes do nosso ser e do nosso agir estão no silêncio sábio e providente de Deus (Bento
XVI, Homilia no Pentecostes, 4.06.2006). Diríamos então, com o Papa: “quanto tempo
perdido, quanto trabalho adiado, por inadvertência deste ponto” (Bento XVI,
Homilia no Porto, 14.05.2010)!
Segundo aspecto: O Espírito Santo vence o medo! Depois da ressurreição de
Jesus, o medo dos discípulos não desapareceu repentinamente. Mas eis que
no Pentecostes, quando o Espírito Santo pairou sobre eles, eles saíram sem
temor e começaram a anunciar a todos a boa nova! Vede, então, queridos
irmãos e irmãs: onde entra, o Espírito de Deus afasta o medo; faz-nos
conhecer e sentir que estamos nas mãos de uma Omnipotência de amor:
aconteça o que acontecer, o seu amor infinito não nos abandona! Demonstram-no a coragem dos mártires e a audácia dos missionários. Demonstra-o a história da Igreja: não obstante os limites e pecados dos
homens, a Igreja continua a atravessar o oceano da história, impelida pelo sopro do Espírito e animada pelo seu fogo purificador! Não tenhais medo!
Terceiro e último aspecto: Há, de facto, uma espantosa desproporção, entre
o pequeno grupo dos Doze e a multidão do vasto mundo, a quem são
enviados! Esta “desproporção de forças em campo é semelhante àquela que
podiam admirar todos aqueles que viam e ouviam Cristo, só, ou quase só, os
momentos decisivos! Apenas Ele em união com o Pai, Ele na força do Espírito! E todavia, aconteceu que, por fim, pelo mesmo Amor que criou o mundo, a
novidade do Reino surgiu como pequena semente que germina na terra, como
centelha de luz que irrompe nas trevas, como aurora de um dia sem ocaso!”
(Bento XVI, Homilia no Porto, 14.05.2010). Não tenhamos, por isso medo nem
vergonha, de ser Igreja e de estar, como sal e fermento, neste mundo, sem o
apoio de qualquer espécie de poder, sem o aplauso da cultura dominante!
Contemos, sobretudo, com esta força pessoal do Espírito de Deus, capaz de
nos renovar e de fazer de nós uma «minoria criadora e criativa», para recriar
a face da Terra, a partir de Deus, sempre e só de Deus, pela luz e alegria do
Espírito Santo!
Por isso, e para isso mesmo, invoquemos, agora e sempre, e de novo, como o
salmista: “Mandai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a terra” (Sal.103,30).
Homilia de Bento XVI na Missa de Pentecostes - 04/Junho/2006
CIDADE DO VATICANO, domingo, 4 de junho de 2006 (ZENIT.org).
– Publicamos a homilia pronunciada por Bento XVI na missa de Pentecostes, que o pontífice celebrou naquele domingo pela manhã na Praça de São Pedro, no Vaticano.
* * *
Queridos irmãos e irmãs!
No dia de Pentecostes, o Espírito Santo desceu com poder sobre os apóstolos; deste modo começou a missão da Igreja no mundo. O próprio Jesus havia preparado os onze para esta missão ao aparecer-lhes em várias ocasiões depois da ressurreição (cf. Atos 1, 3). Antes da ascensão ao Céu, «ele mandou que não se ausentassem de Jerusalém, mas que aguardassem a Promessa do Pai» (cf. Atos 1, 4-5); ou seja, ele lhes pediu que ficassem juntos para se preparar para receber o dom do Espírito Santo. E eles se reuniram na ocasião com Maria no Cenáculo, à espera deste acontecimento prometido (Cf. Atos 1, 14).
Permanecer juntos foi a condição que pôs Jesus para acolher o dom do Espírito Santo; o pressuposto de sua concórdia foi a oração prolongada. Deste modo, é oferecida a nós uma formidável lição para cada comunidade cristã. Às vezes se pensa que a eficácia missionária depende principalmente de uma programação atenta e de sua sucessiva aplicação inteligente através de um compromisso concreto. Certamente o Senhor pede nossa colaboração, mas antes de qualquer outra resposta é necessária sua iniciativa: seu Espírito é o verdadeiro protagonista da Igreja. As raízes de nosso ser e de nosso atuar estão no silêncio sábio e providente de Deus.
As imagens que São Lucas utiliza para indicar a irrupção do Espírito Santo ? o vento e o fogo ? recordam o Sinai, onde Deus havia se revelado ao povo de Israel e havia concedido sua aliança (cf. Êxodos 19, 3ss). A festa do Sinai, que Israel celebrava cinqüenta dias depois da Páscoa, era a festa do Pacto. Ao falar das línguas de fogo (cf. Atos 2, 3), São Lucas quer representar Pentecostes como um novo Sinai, como a festa do novo Pacto, no qual a Aliança com Israel se estende a todo os povos da terra. A Igreja é católica e missionária desde o seu nascimento. A universalidade da salvação se manifesta com a lista das numerosas etnias às quais pertence quem escuta o primeiro anúncio dos apóstolos (cf. Atos 2, 9-11).
O Povo de Deus, que havia encontrado no Sinai sua primeira configuração, amplia-se hoje até superar toda fronteira de raça, cultura, espaço e tempo. De forma diferente de como aconteceu com a torre de Babel, quando os homens que queriam construir com suas mãos um caminho para o céu haviam terminado destruindo sua própria capacidade de compreender-se reciprocamente, o Pentecostes do Espírito, com o dom das línguas, mostra que sua presença une e transforma a confusão em comunhão. O orgulho e o egoísmo do homem sempre criam divisões, levantam muros de indiferença, de ódio e de violência. O Espírito Santo, pelo contrário, faz que os corações sejam capazes de compreender as línguas de todos, pois restabelece a ponte da autêntica comunicação entre a Terra e o Céu. O Espírito Santo é o Amor.
Mas como é possível entrar no mistério do Espírito Santo? Como se pode compreender o segredo do Amor? A passagem evangélica nos leva hoje ao Cenáculo, onde, terminada a última Ceia, uma experiência de desconcerto entristece os apóstolos. O motivo é que as palavras de Jesus suscitam interrogantes inquietantes: fala do ódio do mundo para com Ele e para com os seus, fala de uma misteriosa partida sua e fica ainda muito por dizer, mas no momento os apóstolos não são capazes de carregar o peso (cf. João 16, 12). Para consolá-los, explica-lhes o significado de sua partida: irá, mas voltará, e enquanto isso não abandonará, não os deixará órfãos. Enviará o Consolador, o Espírito do Pai, e será o Espírito quem lhes permitirá conhecer que a obra de Cristo é obra de amor: amor dEle que se entregou, amor do Pai que o deu.
Este é o mistério de Pentecostes: o Espírito Santo ilumina o espírito humano e, ao revelar Cristo crucificado e ressuscitado, indica o caminho para fazer-se mais semelhante a Ele, ou seja, ser «expressão e instrumento do amor que provém dEle» («Deus caritas est», 33). Reunida junto a Maria, como em seu nascimento, a Igreja hoje implora: «Veni Sancte Spiritus!» – «Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor!». Amém.
[Traduzido por Zenit © Copyright 2006 - Libreria Editrice Vaticana]
16.05.2010
Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo - ANO C
__ “O DESTINO DO HOMEM NOVO” __
Comentário: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
Interpretando teologicamente a Ascensão de Jesus, recomendam os anjos que não se fique a olhar para o céu, mas que se espere e prepare a volta gloriosa do Senhor. Esta é, até o fim dos tempos, a missão da Igreja, em tensão entre o visível e o invisível, entre a realidade presente e a futura cidade para a qual caminhamos (cf SC 2). Entoemos cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos
em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Atos 1,1-11): - "Homens da Galiléia, por que ficais aí a olhar para o céu? Esse Jesus que acaba de vos ser arrebatado para o céu voltará do mesmo modo que o vistes subir para o céu."
SALMO RESPONSORIAL (Sl 46/47): - "Por entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta!"
SEGUNDA LEITURA (Efésios 1,176-23): - "Rogo ao Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê um espírito de sabedoria que vos revele o conhecimento dele."
EVANGELHO (Lucas 24,46-53): - "Eu vos mandarei o Prometido de meu Pai; entretanto, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto."
- “DE VOLTA PARA O CÉU...”
Reflexão do Evangelho por Diácono José da Cruz
Um leitor que acompanha as nossas reflexões, e que costumeiramente sempre lê o evangelho antes do domingo, me fez uma observação muito interessante, e que na verdade serviu de “gancho” para esta reflexão. “Olha, achei que o evangelho desse domingo, fosse aquele tão bonito, quando Jesus vai subindo ao céu, de volta para o Pai, de onde saiu para realizar a Salvação, mas parece que o autor Lucas, não deu muita atenção para esse detalhe cinematográfico, de Jesus flutuando entre as nuvens”
Em parte o leitor tem razão, pois Ascensão significa a volta de Jesus para o Pai. Entretanto, precisamos entender uma coisa importante: enquanto Verbo Divino, Jesus nunca saiu do lado do Pai, mas como Verbo encarnado, ele esteve em meio a humanidade, e no dia da sua paixão e morte, ressuscitou e voltou para o Pai, isso significa dizer que, um homem subiu ao céu e assentou-se á direita de Deus Pai.
O Evangelista Lucas gosta de nos mostrar em seu evangelho, que Jesus é o Salvador, e nesta narrativa da Ascensão do Senhor, resume em praticamente uma linha, no que consiste esse ato de salvação que Jesus realizou a favor do gênero humano. “Assim está escrito, o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no seu nome, serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém”.Eis aí a Salvação que Deus havia prometido nas Escrituras antigas, e que agora se cumpre plenamente na missão de Jesus: o perdão dos pecados...!
A comunhão de vida que o homem havia perdido por causa do pecado, agora é resgatada, poderíamos dizer em uma linguagem mais simples, que a ascensão significa: o Céu desceu á terra, e esta subiu ao céu! Os anjos Querubins que em Gênesis, após a queda do homem, guardavam a entrada do Paraíso com espadas de fogo, agora saem de cena, o paraíso é destino de toda humanidade, Deus quer e deseja intensamente, que toda a humanidade volte um dia aquele estado de vida de comunhão plena, com ele, no paraíso.
É precisamente essa “Esperança Escatológica”, Dom que Jesus concede, que alimenta a vida de um cristão, dando um sentido totalmente novo á sua vida. Nesse sentido, a vida terrena não é um “Esperar para ver o que vai acontecer no pós-morte”, esperar para ver no que vai dar tudo isso, esperar para ver qual a sorte que está nos reservada, ou pior ainda, esperar, como se a Salvação fosse um jogo de loteria, se dermos sorte, chegaremos na Casa de Deus que fica em algum lugar, longe daqui.
Se Esperança Cristã fosse isso, não teríamos o que celebrar, e nem valeria a pena ter Fé, a Igreja já teria ido à falência nos primeiros séculos do seu nascimento, e Jesus Cristo seria apenas mais um, entre aos homens célebres, que marcaram a História da Humanidade.
Esse “Céu” já está no coração de quem crê não como uma utopia, como um “faz de conta”, como uma imagem alegórica do mundo das idéias, como imaginava Platão, mas como algo real, que reflete o “Pensar Cristão” nas atitudes e nas relações com o próximo, na Vida Verdadeira e na Esperança que se celebra em comunidade, no Louvor e no Bendizer a Deus, pela possibilidade da Salvação que ele nos deu em Cristo, e acima de tudo, nesse amor infinito que permite ao homem tomar decisões no se dia a dia, capaz de refletir o paraíso que já está no meio de nós, mas que ainda não chegou.
Ascensão de Jesus é o reencontro da Humanidade com Deus, e não há e nem haverá por certo, expressão mais acertada do que aquela que escreveu o apóstolo, na carta aos Hebreus, 9,20 “Ele nos abriu um caminho novo e vivo, através da cortina, quer dizer, através da sua humanidade”.
Que em nossa vida de cristãos, não haja lugar para o desânimo, devemos saber que a conquista do céu não depende de nós, mas é dom que em Cristo, Deus Pai nos concedeu, e se a aceitarmos, viveremos como aqueles apóstolos, em nossas comunidades, louvando, agradecendo e testemunhando essa obra, que mudou definitivamente a sorte de toda humanidade, porque a Fé nos leva a crer, que esta realidade invisível e sobrenatural, se tornou visível na Igreja, assembléia dos que crêem e louvam o Senhor Jesus, como o único Deus e Salvador de todos.,. (Festa da Ascensão do Senhor)
José da Cruz é
diácono permanente da Paróquia Nossa S. Consolata-Votorantim -
e-mail:jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Pe. Françoá Rodrigues – ASCENSÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO - (Ano C)
O mistério da Ascensão
Hoje é um dia no qual se mesclam a alegria pela consumação da glorificação do Senhor Jesus, a tristeza ao vê-lo partir e a melancolia de uma espécie de sonho quase real. Ao celebrar a Ascensão do Senhor, celebramos também – como dizia São Leão Magno num sermão – a exaltação da nossa pobre natureza humana em Cristo: ele sobe aos céus com a nossa carne, com um coração de carne, com sentimentos humanos, em fim, ele nos leva aos céus. Santo Agostinho exortava: “hoje o Senhor nosso, Jesus Cristo, subiu aos céus, suba também o nosso coração com ele”.
Nós fomos feitos por Deus e para Deus, levamos dentro de nós essa marca de eternidade que nos faz desejar a felicidade. Cada ser humano tem dentro de si uma espécie de saudade do paraíso, um desejo de ser feliz para sempre, uma ânsia de eternidade que faz sentir certa náusea de viver para sempre numa situação incompleta e cheia de perigos. Aquela frase de Santo Agostinho, “Fizeste-nos, Senhor, para ti e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em ti”, continua atual. A pessoa humana, por mais que queira fugir de Deus, não descansará enquanto não se deixar seduzir pelo Senhor, já que em cada efêmera felicidade está buscando a Deus, ainda que não saiba.
Você já desejou, de verdade, ver Deus? Nós falamos de Deus, cremos nele, o adoramos, é preciso também desejar vê-lo. Como é o rosto do Pai? Como é a humanidade glorificada de Cristo? Como é a personalidade do Espírito Santo? O que é Deus? Quem é Deus? “Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou” (Jo 1,18). Ambas as afirmações estão perfeitamente combinadas na nossa vida cristã: nós não vimos a Deus, mas nós o conhecemos em Cristo. E, no entanto, desejamos ver como é Deus, como é cada uma das três Pessoas da Santíssima Trindade; também queremos dar um abraço em Nossa Senhora e agradecer pessoalmente ao nosso anjo da guarda por tudo, enfim, nós desejamos o céu.
Hoje é um dia para desejar a vida eterna. Pode-se ler num delicioso livro publicado pela Editora Quadrante, Reflexões espirituais, de Salvador Canals, a conversa de duas pessoas, umas das quais procurava convencer a outra de que a vida cristã é muito importante. O outro, contudo, se resistia. Depois, num momento de sinceridade, disse algo surpreendente: “Não posso viver como você diz por que sou muito ambicioso”. O seu interlocutor teve uma dessas respostas inteligentes e francas: “Olha, você tem diante um homem que é muito mais ambicioso que você (…) um homem que quer ser santo. A minha ambição é tão grande que não ambiciono nenhuma coisa dessa terra (…) Ambiciono a Jesus Cristo, o Paraíso, e a vida eterna”. Isso sim que é ambição! Todo cristão é um ambicioso, santamente ambicioso.
Precisamos que a nossa ambição santa aumente e que desejemos o céu não somente para nós, mas também para todos os nossos amigos. Um cristão sem zelo apostólico é um cristão estéril. Assim como não se pode entender que um peixe não possa nadar, a não ser que esteja morto, assim também não se pode entender que um cristão não seja apostólico, proselitista (no bom sentido da palavra), a não ser que esteja morto. Não podemos perder a audácia, o desejo de ganhar a todos para Cristo. No mesmo sermão citado anteriormente, São Leão Magno dizia que “a fé, aumentada pela ascensão do Senhor e fortalecida com o dom do Espírito Santo, não pode temer diante das cadeias, da prisão, do desterro, da fome, do fogo, das feras nem das torturas dos cruéis perseguidores. Homens e mulheres, crianças e frágeis donzelas lutaram em todo o mundo por essa fé até o derramamento do sangue. Esta fé afugenta os demônios, afasta as enfermidades, ressuscita os mortos”.
Peçamos a Deus que aumente a nossa fé e, consequentemente, a nossa audácia apostólica, que irá ao encontro não somente daquelas pessoas que ainda não são católicas, mas também dos mesmos católicos. Há muitos que estão afastados da Igreja, com uma fé raquítica, sem vigor apostólico. É preciso ajudá-los! Nessa Semana de Oração pela Unidade dos cristãos peçamos a Deus que se acabem as divisões, que todos tenhamos um único desejo: amar a Deus e estender o seu reino por todo o mundo, cada um no ambiente em que se encontra. É vergonhoso que tantas pessoas levem o sublime nome de “cristão” e estejam divididos por placas de igrejas e comunidade eclesiais. Que Deus nos conceda que todos sejamos um sob o cajado do Sucessor de Pedro, pois essa é a vontade de Deus para a sua Igreja.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – Ascensão de nosso Senhor Jesus Cristo - Ano C
feito por Pe Ignácio, dos padres escolápios (extraído do site http://www.presbíteros.com.br)
EPÍSTOLA (Ef 1, 17-23)
INTRODUÇÃO: Paulo descreve, neste trecho da carta aos efésios, a glória atual de Cristo, como triunfo por sua obediência até a morte e morte de cruz, como dirá o mesmo apóstolo em filipenses 2,8. Agora nesta carta, é questão de ver sua exaltação sobre toda criatura, pelo poder dado a Ele [Cristo] pelo Pai, que resulta em nossa última felicidade. Por isso, nEle temos colocado nossa esperança, fundada principalmente na sua ressurreição e ascensão. Assim, hoje Ele é cabeça da Igreja, submetida a seu poder e por ele dirigida com a efusão do Espírito, enviado de modo visível em Pentecostes.
PETIÇÃO: Que o Deus do nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação em conhecimento dEle (17). Ut Deus Domini nostri Iesu Christi Pater gloriae det vobis spiritum sapientiae et revelationis in agnitione eius. Nesta oração, Paulo invoca o poder de Deus que distingue dos outros deuses pagãos como sendo o Deus revelado por Jesus Cristo, que é precisamente o Pai da glória, que podemos dizer representa a suma majestade do Universo, ou, em termos mais concretos, o supremo Senhor do mesmo. Paulo pede para os efésios o espírito de sabedoria e revelação, para conhecer a verdadeira natureza de Cristo. SABEDORIA [Sofia<4678>=sapientia] é o conhecimento profundo da realidade, a visão interior sintética do que vemos e sentimos como universo externo. Seria o conhecimento pelas causas últimas das coisas, como dizem ser a Filosofia.
REVELAÇÃO [Apokalypsis<602>=revelatio] Não é unicamente a sabedoria que nos ilumina, mas a revelação, ou seja, a palavra de Deus que deve ser entendida pelos filhos da luz, pois os homens das trevas não a receberam (Jo 3, 17). Desta forma terão os efésios um conhecimento completo de Deus e de seus planos com respeito ao ministério de Cristo e à finalidade proposta por Deus de todos os seres criados por ele. Se a Filosofia socrática tem como finalidade conhece-te a ti mesmo, a Teologia tem como meta conhece teu Deus. E este conhecimento é conhecer a bondade de Deus como Pai que ama e deseja a felicidade de seus filhos, os que se comportam como tais e os que voltam como pródigos.
ESPERANÇA: Iluminados os olhos de vossa mente para que saibais qual é a esperança de seu chamado e qual a riqueza da glória de sua herança para com os santos (18). Inluminatos oculos cordis vestri ut sciatis quae sit spes vocationis eius quae divitiae gloriae hereditatis eius in sanctis. OLHOS DA VOSSSA MENTE: Uma vez conhecida a última verdade [a de Deus Pai], saberemos qual o nosso destino que não é outro que a esperança de que somos chamados a uma suma riqueza: a de ser parte da glória divina como herança prometida a seus filhos que por isso Paulo chama consagrados, ou santos, como são os que pertencem a sua Igreja, parte do Reino definitivo. Segundo Paulo existe uma linha ininterrupta entre os que amam a Deus, e os ultimamente glorificados, porque os que são chamados segundo seu propósito, porquanto aos que predestinou a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou (Rm 8, 28-30). De modo que se alguém se perder é por falta de fidelidade a esse chamado, que é, por parte de Deus, fiel e absoluto.
GRANDEZA DIVINA: E qual a superabundante grandeza de poderio para conosco, os crentes segundo a obra da força do seu poder (19). Et quae sit supereminens magnitudo virtutis eius in nos qui credidimus secundum operationem potentiae virtutis eius. Deus não é unicamente fiel, mas é fortaleza de inigualável grandeza de modo que pode manifestar a mesma quando se trata de nossa debilidade, essa dos que nEle confiam porque conhecem perfeitamente as obras que Ele fez como manifestação sublime de seu poderio e força.
EM CRISTO MANIFESTADA: A que operou em Cristo levantando-o dos mortos e sentou à sua direita nos altos céus (20). Quam operatus est in Christo suscitans illum a mortuis et constituens ad dexteram suam in caelestibus. Esse poderio Deus o exerceu de modo especial em Cristo, reerguendo-o dentre os mortos.O verbo é egeirö [<1453> =surgere] erguer-se (36 vezes), levantar-se (28 vezes).Não é o mesmo que anastëmi [<450> =surrexere]. 1) EGEIRÖ tem o significado primário de acordar, despertar do sono, levantar-se, como no caso da sogra de Pedro quando Jesus debelou a febre e esta a deixou e levantou-se e os servia (Lc 4, 39), ou como os discípulos que acordaram Jesus quando as ondas pareciam submergir a barca e Ele se levantou e ordenou as ondas e o vento a se acalmarem (Mt 8, 25). Mas também é usado como verbo de ressurreição; um exemplo Mt 10, 8: os leprosos são limpos, os mortos ressuscitam. Finalmente,e o anjo disse às mulheres: Não está aqui, está ressuscitado; vede o lugar onde estava deitado (Mt 28, 6). Especialmente de Lázaro dirá várias vezes João que foi o que se levantou dentre os mortos (Jo 12, 1. 9. 17). 2) ANASTAMI que pode ser usado como levantar-se (Mt 9, 9). Exemplo: quando Levi deixou tudo e levantando-se seguiu Jesus, ou na profecia de Jesus que disse ele ressuscitaria de novo (Mt 20, 19). Porém é a palavra que dá origem a anastasis [<386>= resurrectio] que é empregada como ressurreição 39 vezes no NT, a começar pelos saduceus que diziam não existir ressurreição(Mt 22, 23). É a palavra que Paulo emprega na sua primeira carta aos de Corinto no capitulo 15, falando expressamente da ressurreição dos mortos. Também fala de erguer-se dentre os mortos como se fosse uma revificação que foi seu estado durante os 40 dias (At 1, 3) que ainda permaneceu na terra, tempo em que lhes mostra seu corpo e diz que não é um espírito, porque este não tem carne nem ossos como vedes que eu tenho e lhe deram um peixe assado e comeu diante deles (Lc 24, 39-42), sendo visto comendo com seus discípulos (Jo 21, 15).
À DIREITA DO PAI: É uma linguagem simbólica que expressa uma verdade real, inalcançável pelos sentidos, mas que indica o poder absoluto de Cristo após sua ascensão, como ministro e dispensador dos planos divinos em ordem à salvação dos homens.
SUPREMACIA DE CRISTO: Acima de todo principado e autoridade e poder e senhorio e de todo nome, nomeado não só nesta época, mas na vindoura (21). Supra omnem principatum et potestatem et virtutem et dominationem et omne nomen quod nominatur non solum in hoc saeculo sed et in futuro. PRINCIPADO [Archë <746> principatus] embora archë seja princípio, quando usado de pessoas, significa o principal, o líder, como no caso de Pedro em Mt 10, 2 em que este ocupa o posto de líder. Em abstrato, Paulo divide as potências que dominam o mundo em diversas categorias, das quais o principado é a mais importante. O diabo é o príncipe [archön] das trevas (Jo 12, 31) e Miguel o príncipe [archön] do céu (Dn 12, 1). E dentro do domínio humano, serão os magistrados os mais poderosos (Lc 12, 11). AUTORIDADE [Exousia<1849>=potestas] quando vemos alguém com exousia é com o poder que tem toda autoridade de governar e, portanto de submeter sob seu comando os súditos para que estes lhe obedeçam. Toda autoridade [exousia] me foi dada no céu e na terra ,dirá Jesus em Mt 28, 18. PODER [Dynamis <1411>= virtus] poder, força, especialmente a que provém da força das armas, ou como no caso de Cristo, a potestade de realizar milagres, ou os mesmos milagres como em Lc 19, 27, que Mt declara em 10, 8. SENHORIO [Kyriotes<2963>=dominatio] que é traduzido por domínio ao verter Kyrios como Dominus, que os modernos preferem traduzir como senhorio. E para terminar, Paulo fala do NOME de Jesus que está por cima de todo nome e que pode representar a pessoa, como a mais influente dentro do mundo dos seres humanos. Em seu nome até os demônios se submetiam a seus discípulos (Lc 10, 17). E Pedro usou o nome de Jesus para o primeiro milagre após Pentecostes: Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta e anda (At 3, 6).
CABEÇA DA IGREJA: E todas as coisas sujeitou sob seus pés e a Ele deu a cabeça sobre toda a Igreja (22). Et omnia subiecit sub pedibus eius et ipsum dedit caput supra omnia ecclesiae. SUJEITOU SOB SEUS PÉS: Paulo está usando uma metáfora comum no seu tempo: os vencidos prostravam-se de bruços no chão e o vencedor punha seu pé sobre o corpo do derrotado.CABEÇA é a metáfora que indica ser o diretor da comunidade. Paulo, em seu simbolismo das realidades místicas, compara a Igreja com um corpo cuja cabeça é Cristo. DEle provém o Espírito que dirige e governa a Igreja que é um só corpo em Cristo conquanto muitos são como membros (Rm 12, 5). O membro principal é a cabeça e a ela compara Paulo o atual Cristo que está sentado à direita do Pai (Ef 1, 20).
EVANGELHO (Lc 24, 46-53)
( Lugares paralelos: Mc 16, 19-20 At 1, 9-11)
INTRODUÇÃO: A Ascensão do Senhor é uma síntese teológica da fé cristã e, ao mesmo tempo, a culminação do mistério pascal. Jesus de Nazaré, após a terrível prova de sua humilhação e morte na cruz, é constituído Cristo-Senhor, subindo por seu próprio poder às alturas, onde unicamente reinava o Deus supremo. É o início de sua glorificação, como aquele que está sentado à direita de Deus. Do mesmo modo que subiu, será visto descer dessa sua morada eterna e gloriosa (At 1, 11). Era o milagre, o sinal, que os judeus pediam de Jesus para aclamá-lo como vindo do céu e Messias do povo ( Mt 16, 1). Além do triunfo, foi uma despedida com as últimas recomendações ou preceitos: Batizai em meu nome e ensinai a todas as gentes os preceitos que vos tenho mandado (Mt 28, 21-22). Mas vejamos os fatos do ponto de vista histórico. O único evangelista que narra em detalhe a Ascensão do Senhor é Lucas, tanto no evangelho como nos Atos. Marcos tem no trecho 16, 9-20 uma breve alusão: Foi arrebatado ao céu e sentou-se à direita de Deus (19). João não diz uma só palavra sobre a Ascensão. Mas os três evangelistas citados trazem uma série de aparições de Jesus em Jerusalém. Já Mateus, fiel às palavras do anjo - ele vos precede na Galileia, ali o vereis (28, 7)– não narra uma única aparição em Jerusalém. Isso indica que Mateus resume todas no monte da Galileia e sua narração é mais um compêndio de catecismo do que uma exposição histórica. Isso, porém, é o que o evangelista pretendia. Esta reflexão deve servir ao comentário desse fim do evangelho de Mateus para entender algumas aparentes contradições em comparação com os outros evangelistas. Marcos emoldura a cena dentro de uma única aparição em Jerusalém aos onze (16, 15). Das quatro diferentes versões de Marcos, a mais usada é a que foi aparentemente tomada de Lucas como um pequeno resumo, posterior ao próprio evangelho de Marcos. Mesmo não declarando nada novo, esse resumo constitui o extrato feito pela primeira Igreja, ou seja, um testemunho vivo da tradição, comunitariamente admitida; e, portanto, dirigida pelo Espírito Santo, Espírito de Jesus que estará com os discípulos até a consumação dos séculos (Mt 28, 20). Somente os dois evangelhos mais tardios falarão das aparições em Jerusalém e nada dizem sobre a missão apostólica que parece ser o motivo da narração de Mateus. Lucas aparentemente parece contradizer Mateus, porque ele escreve que Jesus ordena aos discípulos não se afastarem de Jerusalém até serem revestidos da força do Alto (24, 49). Mas não podemos esquecer que sua frase inicial – eipen de pros autois [portanto lhes disse] – é mais um enlace literário que temporal. Já para João as aparições terminam na Galileia com uma missão especial para Pedro. De todos os finais dos quatro evangelhos podemos afirmar que Jesus se despede transmitindo sua obra e missão aos apóstolos que, pela força do Espírito, serão sucessivamente testemunhas de Jesus até os confins dos tempos e das nações. Essa é a grande obra da Igreja: Mostrar o Jesus vivo, continuando sua obra em todos os tempos.
O MISTÉRIO PASCAL: Então lhes disse que assim está escrito e assim devia padecer o Cristo e ressurgir dos mortos ao terceiro dia (46). Et dixit eis quoniam sic scriptum est et sic oportebat Christum pati et resurgere a mortuis die tertia. ASSIM [outôs]: O evangelista repete duas vezes o advérbio para indicar que tanto num caso como noutro o cumprimento foi total e absoluto. A paixão e a Ressurreição, que constituem o mistério pascal, foram atos realizados em conformidade com os planos previstos e anunciados como palavra de Deus. Estava escrito, dirá Jesus e também anuncia que seria o terceiro dia, o previsto, como tempo de sua ressurreição. Por isso, Jesus dirá que tudo isso era necessário. Ele emprega a palavra edei um imperfeito do verbo deo [estar em falta]. EDEI: A palavra pode ser traduzida por era necessário. Existem em grego três palavras para expressar certa necessidade de fato. Dei implica uma necessidade imposta pelos planos divinos de conservação do mundo ou de salvação do mesmo. Khrei como necessidade física, dependendo das circunstâncias e dos tempos em que a atuação se produz; e finalmente efeilei com o significado de ser a opção mais própria e conveniente. Aqui o texto usa o dei em tempo imperfeito que poderíamos traduzir por era necessário porque estava escrito. A Vulgata diz oporterbat (= era conveniente) com isso rebaixa um pouco a força do original grego. Como a Escritura era considerada a voz de Javé, podemos nos perguntar: onde está escrito no AT que o Cristo, o Ungido, ou Messias, devia passar por estas três coisas: padecer, erguer-se dentre os mortos, sendo que, este último fato, deveria ser feito no terceiro dia? No trecho paralelo de Lc 24, 26-27, usa-se o mesmo verbo dei para padecer e entrar na sua glória. E a começar por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expôs a seu respeito o que constava em todas as Escrituras. Vamos tentar explicar esta difícil passagem, vendo o anunciado pelos PROFETAS: Temos as seguintes passagens: Salmo 22, 1-31. Dele citaremos: Meu Deus, meu Deus por que me abandonastes? (2) Sou um verme e não um homem, vergonha dos homens, escárnio da plebe (7). Todos os que me vêem zombam de mim; caçoam e meneiam a cabeça [Mc 15, 29] (8). Que Javé o liberte; que o liberte já que o ama [Mt 27, 43] (9). Secou-se o meu vigor como um caco de barro e a língua se me apega ao céu da boca [Jo 19, 28] (15). Uma súcia de malfeitores me rodeia. Furam minhas mãos e meus pés (16). Repartem minha roupa e sorteiam minha túnica [Mc 15, 23] (19). Ou o Salmo 69, 22: Quando tenho sede dão-me vinagre a beber [Jo 19, 29]. O Salmo 34, 20: Nenhum dos seus ossos será quebrado [Jo 19, 36]. Temos também o testemunho de Isaías em 53, 1-12: Como raiz de uma terra seca, não tinha aparência nem formosura, olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse (2). Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens [Mt 27,21 e 27-31], homem das dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado e dele não fizemos caso [Mt 27, 23] (3). Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido [Mt 27, 39-44] (4). Mas ele foi traspassado [Mt 27, 35 e Jo 19, 34] pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras (=chagas) fomos sarados [Mt 27,26] (5)…O Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós (6). Ele foi oprimido e humilhado [Mt 27, 27-31], mas não abriu a boca, como cordeiro foi levado ao matadouro, e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores ele não abriu a boca [Mt 27, 12-14] (7). Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem quem dele cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes, por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido (8). Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte [Mt27, 60], posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca (9)….quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará seus dias [Mt 28,6] (10). Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito o meu Servo, o Justo; com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si (11). Temos também o testemunho de Daniel no capítulo 9,26: e depois de sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará. E o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário e seu fim a tribulação e após o final da guerra, a desolação. Quanto a sua ressurreição encontramos estas duas passagens da Escritura. Salmo 16:10 Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção, que segundo os critérios da época começava ao terceiro dia. Daí que Paulo possa afirmar que ressuscitou ao terceiro dia segundo as Escrituras (1 Cor 15, 4). Isto é também conforme ao que diz Oséias em 6, 2: Depois de dois dias nos revigorará e ao terceiro dia nos levantará e viveremos diante dele. O texto hebraico tem uma outra versão de 16, 10: Não me entregarás à morte, nem deixarás que teu amigo fiel desça à tumba. Talvez algumas das citações não sejam nos tempos atuais suficientes para determinar uma profecia estritamente dita em sentido histórico ou verdadeiro; mas a ideologia da época, como vemos nas citações dos evangelhos, permitia, como profecia, qualquer relação com os fatos, sejam de palavras, sejam de idéias. Como exemplo podemos ver Mateus 27, 9-10 sobre a morte de Judas. Para provar como os evangelhos são palavras medidas e responsáveis, podemos comparar estas palavras de Jesus com as quais dirigiu aos dois de Emaús. Neste caso (Lc 27, 26-27), Jesus diz: Não era necessário que o Cristo padecesse tudo isso e entrasse na sua glória? E começando por Moisés e por todos os profetas interpretou-lhes em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito. No caso atual (Lc 24, 46) dirá: Pois assim está escrito que o Cristo padecerá e se erguerá dos mortos ao terceiro dia. Como vemos nesta segunda intervenção, a ressurreição, que, por motivos óbvios não entrava na primeira, tem lugar preferente.
DEVER APOSTÓLICO: E anunciar sobre seu nome conversão e remissão de pecados a todos os povos, tendo começado por Jerusalém (47). Et praedicari in nomine eius paenitentiam et remissionem peccatorum in omnes gentes incipientibus ab Hierosolyma. A METHANOIA: Na despedida, Jesus ordena aos apóstolos qual deve ser o objetivo principal de sua pregação: a metánoia e o perdão dos pecados. A palavra metánoia traduzida por arrependimento, significa em verdade uma mudança de mentalidade, própria de quem tem visto uma nova maneira de viver completamente oposta àquela que até o presente foi experimentada. É a conversão que experimenta todo aquele que, como um impacto vital, encontra Jesus como o evangelho, a boa nova, a ele de modo especial anunciada. Conversão que tem o amor como base da motivação da vida nova (Jo 15, 9). Conversão para abandonar o culto ao dinheiro para servir ao único Deus (Lc 16, 13); e aprender que é servindo aos outros que alcançaremos a verdadeira grandeza (Mc 9, 35). O PERDÃO DOS PECADOS é a outra parte essencial do Kërigma (= anúncio) apostólico. Hoje, em que 30% da população moderna sofre de ansiedade e depressão, o anúncio do perdão, que é proclamação de paz interior, é mais necessário do que nunca. O perdão não é unicamente perdão dado por outros, os ofendidos, mas perdão interior dado a si mesmo, que origina a paz. A dependência de um Deus que me ama, evita qualquer derrota que possa causar desânimo e frustração, para finalizar na inutilidade da desesperação. Um dado determinante é que na Suécia, onde a vida é a de mais alta qualidade material possível, o número de suicídios é dos mais altos da Europa. Estamos feitos para o triunfo e para a felicidade, só que não sabemos qual é o verdadeiro triunfo e em que consiste a verdadeira felicidade. Mas para todo cristão verdadeiro, foram escritas estas palavras de Paulo: Sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam ( Rm 8, 28). E Glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem (Rm 2, 10). O KËRIGMA: A palavra em si significa proclama, pregão, anúncio público de uma coisa importante para a comunidade mediante um pregoeiro ou apregoador. Publicamente deviam anunciar os apóstolos, como testemunhas, o nome de Jesus porque nele se encontrava o perdão dos pecados. Havia uma condição que devia ser cumprir: a vontade de escutar para mudar, ou seja, a metánoia, cujo significado primário é mudança de opinião, que é traduzido por arrependimento ou conversão. No AT a setenta usa epistrepho [tradução do 07725 bwv, shub hebraico] em Amós e Oseias (4, 6 e 6,10) que propriamente significa virar, voltar desviar-se, que em sentido teológico (Mc 4, 12 e Lc 1, 16-17 e 22, 32) é traduzido por converter-se como se pede a Pedro após suas negações. No NT a Metánoia é uma volta da vontade humana, de seu egoísmo para Deus, da cegueira e erro para a luz do Salvador. Em correspondência oposta, ametanoetós em Rm 2,5 significa impenitente. É claro que a volta não é material ou simplesmente intelectual de quem reconhece o erro anterior, mas essa mudança que João Batista prega como dar frutos de arrependimento (Mt 3, 2). O motivo dos antigos profetas para a metánoia [mudança de conduta], era a injustiça com os irmãos e a apostasia para com Javé. O motivo de João era a proximidade do Reino que não seria possível receber sem uma disposição de conformidade com as novas realidades do mesmo: a fé em Jesus como Messias e a aceitação de seus ensinamentos, como anunciava inicialmente Jesus: arrependei-vos e crede no evangelho (Mc 1, 15). A Metánoia é, pois uma disposição essencial e preliminar para receber a fé. Nem tudo é obra de Deus [Opus Dei luterano], mas como explica Jesus, exige boa terra para a semente dar seu fruto (Mt 13, 23). TODOS OS POVOS: È a universalidade do reino que exige também a totalidade da humanidade, sem distinção de raça ou posição geográfica. Mas este anúncio tem uma condição prévia: deve começar por Jerusalém. Não é uma circunstância eventual, mas propositada: Jesus mantém ainda a promessa do Pai de preferir como povo escolhido o antigo Israel, para que a sua apostasia diante do Novo Reino, não fosse devida a uma rejeição divina, mas a uma obstinação humana. É para tornar discípulos [de Jesus] a todas as gentes [panta te ethne]. A missão de Jesus era para o povo de Israel e por isso ele enviou os doze somente à casa de Israel (Mt 10, 5-6). Agora a nova missão é para toda a terra, como confirma o lugar paralelo de Marcos 16, 15: a toda criatura. É uma missão ad homines que devem ter a obrigação de escutar porque os discípulos têm a missão de proclamar e receber como discípulos os mesmos. A casa de Israel, o antigo povo de Deus, é substituído pela universalidade do gênero humano. Era o primeiro triunfo da cruz. Seus braços abrangiam todos os homens.
TESTEMUNHAS: Vós, pois, sois testemunhas destas coisas (48). And you are witnesses of these things. MÁRTIRES: A palavra significa testemunha. Os apóstolos eram testemunhas da vida pública e pregação do Mestre e especialmente testemunhas da ressurreição de Jesus como Cristo-Senhor. Por isso, Matias foi eleito; já que além de ser testemunha da vida de Jesus, acompanhando-o, era testemunha da sua ressurreição (At 1, 21-22), porque a mensagem cristã tem como base acreditável a Ressurreição de Cristo (At 17, 31). Todos os mártires testemunharam com sua vida que Jesus vive e é Senhor, como era o grito de aclamação dos primitivos cristãos. Não como os ídolos, deuses mortos, nem como o imperador, que não era senhor da vida, porque ele mesmo era mortal.
PROMESSA E RECOMENDAÇÃO: E eis que eu envio a promessa do Pai sobre vós. Vós, portanto, assentai na cidade de Jerusalém até que revistais o poder (provindo) do alto (49). Et ego mitto promissum Patris mei in vos vos autem sedete in civitate quoadusque induamini virtutem ex alto. O ENVIO: Jesus é o autor da vinda do Espírito daí que, dada a communicatio idiomatum [comunicação de idiomas], podemos afirmar, como diz a Igreja Romana, o Filioque [e do Filho] do Credo. Jesus, não diferente do Verbo quando atua, é a causa da vinda do Espírito, que ele envia, assim como o Pai enviou-lhe ao mundo. Por isso dirá: Recebei (o) Espírito Santo para perdoar os pecados, e deste modo também os discípulos foram enviados por Jesus assim como o Pai o enviou ao mundo (Jo 20, 21-22). A PROMESSA: A tradução é a mais direta possível, embora não totalmente correta do ponto de vista literário. A promessa é o Espírito segundo Is 44, 3: Derramarei o meu Espírito sobre tua raça e melhor em Joel 3,1: derramarei o meu Espírito sobre toda carne, Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, que Pedro cita no discurso de Pentecostes em At 2, 17. JERUSALÉM: Era a cidade donde deviam permanecer até serem revestidos do poder do alto, poder que pertencia ao reino propriamente de Deus. Isto era uma referência ao Espírito Divino com que estariam dotados para o ministério. O verbo usado é se assentar nela, de modo a não sair mesmo da casa onde se reuniram, esperando serem revestidos do alto. O verbo enduö é usado na voz média e, portanto, tem o significado de vestir-se, não de vestir, este tendo como complemento outra pessoa. A tradução passiva [sejais revestidos] não é a melhor, embora seja a preferida pela vulgata [induemini] e as vernáculas respectivas. PODER DO ALTO: O poder, [ 1411 dunamiv dynamis que a vulgata traduz por virtus, poder, e não por vis [esta propriamente força]. Qual é esse poder que provém do alto, ou seja, do céu e, portanto de Deus? O mesmo que Jesus tinha para fazer milagres e falar em nome do Pai. É como um vestido que cobrirá os discípulos, uma pele nova sob a qual o poder de Deus se manifestará nas obras dos seguidores escolhidos de Jesus. Até que vos revistais com o poder vindo do alto seria a melhor tradução.
BETÂNIA: Então, pois, os conduziu fora para Betânia e levantadas suas mãos os abençoou (50). Eduxit autem eos foras in Bethaniam et elevatis manibus suis benedixit eis. BETÂNIA: Temos falado noutras ocasiões sobre a localização desta vila, perto de Jerusalém. Em direção da mesma saiu Jesus, acompanhando os discípulos. Estamos na vertente ocidental do monte das oliveiras. A tradição coloca o lugar da Ascensão no cume do monte das Oliveiras, no qual Constantino construiu a Eleona, basílica próxima da mais alta das três cristas do monte. A basílica foi substituída em 375 pelo Imbomon [sobre as alturas], uma igreja octogonal em que se conservam umas impressões que dizem ser as dos pés de Jesus. Hoje são ruínas as que se veneram em ambos os lugares. LEVANTANDO SUAS MÃOS: Era o gesto que Aarão fez ao benzer o povo segundo Lv 9, 27; bênção que foi depois encomendada aos sacerdotes segundo a fórmula de Nm 8, 23: O Eterno te abençoe e te guarde, etc. Também nesta situação Jesus abençoou os apóstolos. A BÊNÇÃO: O verbo usado em grego eulogeo é traduzido por louvar ou benzer, pedir a Deus que abençoe uma coisa ou uma pessoa, consagrando-a. É o mesmo verbo usado quando Jesus abençoou os pães antes de multiplicá-los, (Mt 14, 19) ou no momento da transubstanciação do pão (Mt 26,26) que, no caso do vinho, será de ação de graças [eukharistesas] porque provavelmente era o cálice da benção (1Cor 10, 16) ou de ação de graças, o terceiro dos quatro cálices que eram bebidos como ritual, durante a ceia pascal e com o qual terminava o Halel ou conjunto dos salmos 115-228. E terminado o banquete, se recitava a bênção do quarto cálice chamado cálice do Halel (Mt 14, 25).
A ASCENSÃO: Sucedeu, pois, no momento dele abençoá-los, afastou-se deles e era elevado ao céu (51). Et factum est dum benediceret illis recessit ab eis et ferebatur in caelum. SEPAROU-SE: Enquanto os abençoava, separou-se deles e era elevado ao céu. Era a Ascensão. Atos 1, 9-11 dará outros detalhes como a nuvem e a visão dos dois anjos com a mensagem de que ele descerá do mesmo modo que subiu. Como compaginar os relatos breves de João e Paulo que afirmam aparentemente que Jesus subiu aos céus imediatamente após sua Ressurreição, com este de Lucas em que, de fato, a Ascensão aconteceu 40 dias após a Ressurreição? Desta forma visível cumpria-se o que Jesus afirmou a Natanael que vereis o céu aberto e os anjos do céu subindo e descendo sobre o Filho do Homem (Jo 1, 51), que, nos Atos, Lucas esclarece com mais detalhes. Os biblistas distinguem entre uma exaltação invisível, mas real, na qual Cristo ressuscitado subiu junto ao Pai no mesmo dia da ressurreição, e uma manifestação visível em que Ele se despede como presença visível dos apóstolos e de modo sensível apresenta sua definitiva moradia como sendo o céu supremo, junto ao Pai. Daí que tenhamos intitulado este parágrafo como separação. ELEVADO: Era elevado, em passiva, indica uma ação divina, exatamente como foi ressuscitado dentre os mortos. Era um poder divino quer tanto se atribui ao Pai como ao próprio Filho. ]açrof , simanud .
A PROSKINESE: Eles então, tendo o adorado, voltaram para Jerusalém com grande júbilo (52). Et ipsi adorantes regressi sunt in Hierusalem cum gaudio magno. ADORANDO-O: O proskineo inicialmente significava beijar as mãos como um cachorro faz com as do dono. Mas entre os orientais, seguindo o exemplo persa, significava cair de joelhos e tocar com a fronte o chão como sinal de um profundo respeito. Era usado no NT como homenagem ao Sumo sacerdote, a Deus, ou a Cristo, ou a um ser de procedência divina. A VOLTA: Como lhes tinha ordenado Jesus, eles voltaram para a cidade santa à espera de receber o espírito. O seu ânimo foi de grande gozo e contentamento, muito diferente da tristeza que os invadiu no momento da morte na cruz, tão humilhante e decepcionante. Agora sabiam que esse Jesus era verdadeiramente o Filho que voltava ao Pai, de quem tinha descido, pois ninguém subiu ao céu a não ser aquele que desceu, o Filho do Homem (Jo 3, 14), que mais parece um parêntese do evangelista à posteriori, do que uma frase de Jesus na circunstância histórica de seu encontro com Nicodemos. A Ascensão era a culminação do triunfo, iniciado no dia da Ressurreição. Era a meta que os seguidores teriam, pois sabiam que Ele ia preparar as moradas no Reino definitivo do Pai (Jo 14, 2).
NO TEMPLO: E estavam continuamente no templo louvando e abençoando a Deus. Amém (53). Et erant semper in templo laudantes et benedicentes Deum amen. E voltando a Jerusalém com grande alegria, continuamente estavam no templo louvando e bendizendo a Deus. Assim com o Amém termina o evangelho de Lucas que tem uma continuação em Atos. Precisamente em Atos dirá que estavam reunidos na sala superior da casa onde acostumavam ficar, perseverando na oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus e com os irmãos (= parentes) dele. Ambas as coisas não se contradizem. Os Apóstolos comiam, dormiam e se reuniam na casa, mas acudiam ao templo especialmente para as orações da manhã (At 3,1).
PISTAS:
1) Nas palavras de Jesus temos uma clara previsão dos planos divinos de Salvação, reduzida ao sofrimento de um por todos, cujo símbolo é a cruz. A cruz era uma realidade humilhante para a alma e dolorosa para o corpo do justiçado. Jesus se transformou num condenado que teve ambos os sofrimentos em grau extremo.
2) É realmente admirável comprovar como os profetas do AT previram os sofrimentos e o triunfo de Jesus de modo que Paulo podia afirmar: Cristo morreu por nossos pecados, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia tudo segundo as Escrituras (1 Cor 15, 4). Muitos modernos que estão de ânimo decaído, deveriam ler com espírito de esperança estas palavras para aprenderem que o triunfo só se consegue depois de um grande sacrifício e tribulação.
3) A Metánoia, essa mudança de atitude, é necessária para que o evangelho tenha toda a.força de sua verdade e impulsione uma nova forma de vida, mais em conformidade com as palavras do Senhor.
4) A ascensão à vista de todos é um fato histórico que avalia a sua ressurreição, que não foi vista. Ele estará à direita de Deus como mediador e intercessor. Já não o veremos mais na terra e somente o encontraremos no reino das realidades eternas que não são sensíveis.
CAMPANHA
DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA
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agradecimento a Nossa Senhora Aparecida pela sagrada intercessão
em nossas vidas!
QUE DEUS ABENÇOE
A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos,
livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores
se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!
Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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