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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com
. Evangelho de 15/08/2010 - Assunção de Nossa Senhora
. Evangelho de 08/08/2010 - XIX Domingo do Tempo Comum


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

15.08.2010
ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA – ANO C

__ “ASSUNTA AO CÉU, MARIA ESTÁ MAIS PERTO DE NÓS” __

Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! Maria, imagem da Igreja, glorificada na Assunção, é a criatura que atingiu a plenitude da salvação, até a transfiguração do corpo. É a mulher vestida de sol e coroada de doze estrelas. É a mãe que nos espera e convida a caminhar para o Reino de Deus. A Mãe do Senhor é a imagem da Igreja: luminosa garantia de seu destino de salvação, porque o Espírito do Ressuscitado cumprirá plenamente sua missão em todos nós, como fez nela, que já é aquilo que nós seremos. Entoemos cânticos ao Senhor!

(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Ap 11, 19a;12,1.3-6a.10ab): - "Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo."

SALMO RESPONSORIAL (Sl. 44/45): - "Cheia de graça a Rainha está à vossa direita, ó Senhor!"

SEGUNDA LEITURA (1Cor 15, 20-27): - "Deus pôs tudo debaixo de seus pés."

EVANGELHO (Lc 1, 39-56): - "A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva."



Homilia do Diácono José da Cruz – ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA – (Ano C)

MARIA, NOSSA REFERÊNCIA!

Lembro que na minha infância, vivida nos anos 60 na rua empoeirada da velha Vila Albertina em Votorantim, no auge da era Pelé, o nome do rei do futebol era invocado, tanto no campo de futebol como em qualquer esquina, pelos meninos que corriam atrás de uma bola e que traziam no coração o desejo e o sonho de ser bem sucedido na carreira futebolista, como o Sr. Edson Arantes do Nascimento. Olhando para alguém que é bem sucedido, que venceu e conseguiu ir além da média, o ser humano alimenta ou até faz nascer os ideais. Nos esportes, na arte, na cultura, na política, na ciência, todos os que venceram e chegaram ao cume, acabam confessando que alguém os inspirou. Pois na vida religiosa também é assim, sendo exatamente essa a razão porque temos em nossa igreja os santos e santas de Deus, não para serem adorados ou idolatrados, mas para serem uma indicação, uma referência, um sinal seguro a mostrar o caminho.

Claro que Maria de Nazaré, a mãe de Jesus é para nós a referência máxima, ela não é o fim, mas o meio, não é a meta, mas o caminho, pois nessa serva, que podemos chamar de nossa querida irmã, tudo aponta para o filho Jesus, nosso Senhor, salvador e redentor! Se em nossa história temos tantas referências humanas que nos ensinam a viver melhor e a ser mais feliz, quando se trata de buscar a verdadeira santidade que brota do coração de Deus e chega a nós em Jesus, a pessoa mais indicada para nos ensinar o caminho, é indiscutivelmente Maria de Nazaré! Não é ela que nos santifica, nos redime ou nos salva, mas ela com sabedoria e ternura maternal, nos conduz ao seu Filho, o Salvador.

Maria é, sem nenhuma sombra de dúvidas, a primeira mulher do povo da nova aliança, a professar a sua fé no Salvador, porque foi a primeira a aderir ao projeto de Deus, e se nós a chamamos e veneramos como mãe, é porque ela é de fato e de direito. Em Cristo renascemos, tivemos a vida nova, ao sermos destinados a eternidade, esta vida nova foi gerada no ventre de Maria, pois em Cristo ela gerou uma nova humanidade, não mais destinada ao fracasso como os filhos de Eva, mas a plenitude da salvação. É neste contexto que o evangelista João, anima e encoraja as suas comunidades falando-lhes do sinal que ele viu no céu, uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. A mulher confronta-se com o dragão cor de fogo, que quer devorar-lhe o Filho, mas ela sai vitoriosa. Essa revelação deu ânimo novo às comunidades que estavam quase sucumbindo diante da perseguição romana, nos primeiros séculos da igreja!

Os pequenos pobres e simples do tempo de Maria estavam também quase perdendo a esperança e, de repente, um encontro entre duas mulheres mudou totalmente o panorama. Não foi na corte palaciana, onde as celebridades em meio à riqueza e o poder tomam decisões importantes, mas em uma cidade da periferia, na região da Judéia, onde Maria entrou na casa de Isabel, que é também a primeira pessoa a manifestar a sua fé em Jesus, ao perceber a sua presença em Maria ao chamá-la de bendita!

Ao cantar as obras de Deus no “Magnificat”, Maria atribui tudo a ele e ratifica a sua posição de serva, mas muito mais do que isso, o canto é um alegre anúncio a todos os pobres e pequenos, de que um tempo novo irá começar, onde o que vai valer realmente não é mais a lógica dos homens, mas sim a de Deus, que em Jesus inverte a ordem estabelecida, fazendo aliança com gente simples do povo como Maria e Isabel, capaz de mudar a sorte de toda humanidade, os soberbos de coração foram dispersos e perderam a força, os poderosos perderam o seu lugar, agora são com os humildes que ele irá contar para fazer acontecer à obra da salvação, os que tinham fome de um Deus cheio de amor e misericórdia, saciaram-se plenamente em Jesus, mas os ricos, os que se julgavam salvos e justos diante de Deus, ficaram de mãos abanando.

Nós Cristãos cremos no que a Igreja professa e ensina que Maria foi assunta ao céu, pois nela Jesus, o Filho amado do Pai, antecipou a Salvação enchendo o seu ventre bendito com a Vida em sua plenitude tornando-a toda pura e ornada com a graça Explêndida. O amor de Deus tem poder para isso e muito mais, pois Israel, pequeno resto desprezado e humilhado pelas grandes nações, torna-se a “bola da vez”,  Deus faz valer a sua misericórdia e cumpre as promessas feitas aos antepassados, que os homens de coração duro desacreditaram.

Atravessamos o vale tenebroso desta vida, com tantos sinais de morte e aridez das discórdias, mas chegaremos na plenitude da salvação, porque nossa querida irmã e mãe Maria, já está lá, a nossa espera, para nos introduzir para sempre no templo de Deus! ( Festa da Assunção de Nossa Senhora)

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA – (Ano C)

“Assunção de Nossa Senhora”

Depois de ter sido ordenado diácono, um amigo meu foi pregar sobre Nossa Senhora e disse uma coisa muito curiosa: “A Nossa Senhora lhe chamam porta do céu e muitas outras coisas, eu vou chamá-la ‘janela’. Maria é a janela. Conta-se que certa vez São Pedro foi chamado à atenção por Nosso Senhor porque estavam entrando muitas pessoas pela porta do céu. Jesus lhe disse: ‘Pedro, é preciso ser um pouco mais rigoroso’. São Pedro respondeu: ‘Senhor, não adianta. Eu posso até ser rigoroso aqui na porta do céu, mas a tua mãe abre a janela e muitos estão passando por ela’”.

É uma grande alegria contemplar Nossa Senhora subindo ao céu. Ela, sendo porta do céu, está disposta a abri-nos também a janela do céu, contanto que lhe sejamos devotos. Imaginemos por um momento a cena: os apóstolos, ao saberem que a Santíssima Virgem morreu, ou dormiu, reúnem-se todos ao redor do seu corpo inanimado. Alguns inclusive, têm que fazer uma longa viagem até Éfeso, onde provavelmente estaria Maria, já que, ao parecer, era São João quem cuidava dela, pois segundo a tradição, Nossa Senhora foi morar nessa cidade da Ásia Menor. Outros, talvez, nem conseguiram vê-la, pois quando lá chegaram, ela já teria subido aos céus. Deve ter sido surpreendente vê-la subindo aos céus! Assim como os Apóstolos viram o Senhor subindo aos céus, parece conveniente que vissem também Nossa Senhora subir aos céus. Deve ter sido também doloroso para os mesmos saber que a Mãe de Jesus já não estaria no meio deles em carne mortal, sentiriam saudades da presença materna daquela que eles consideravam sua mãe. Como é doloroso ver a mãe morrer! Mas como é maravilhoso vê-la sendo glorificada. Hoje, temos dois sentimentos: saudade de Nossa Senhora que se foi e alegria porque ela foi para ser nossa advogada lá no céu, pertinho do seu Filho e Nosso Senhor Jesus Cristo.

De muitos santos conservamos relíquias que nós veneramos com grande devoção, de Nossa Senhora não conservamos nenhuma relíquia, nenhum pedaço do seu corpo santo. O seu corpo não sofreu a corrupção. O Santo Padre, o Papa Pio XII, na definição desse dogma, o da assunção de Nossa Senhora, expressou-se da seguinte maneira: “(…) pela autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo e nossa, proclamamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado: a imaculada Mãe de Deus, sempre virgem Maria, cumprido o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial. Por isso, se alguém, e que Deus não o permita, se atrevesse a negar ou voluntariamente colocar em dúvida o que por Nós foi definido, saiba que separou-se totalmente da fé divina e católica” (Constituição Dogmática “Munificentissimus Deus”, 01-11-1950). Aos dogmas da Maternidade divina, da Sempre Virgem, da Imaculada, juntava-se esse novo: a Assunção em corpo e alma de Nossa Senhora aos céus.

Maria subiu aos céus. Como é a nossa devoção para com ela, nossa Mãe e advogada? Muitos irmãos nossos, que demonstram pouco amor à Mãe de Jesus, não devem nunca atrapalhar a nossa fé no que diz respeito aos privilégios de Maria Santíssima. Não devem ser escutados! Como é a nossa devoção mariana? Deixamo-nos influenciar por idéias não-católicas no que se refere à Santíssima Virgem? A minha devoção a Nossa Senhora deve ser terna, ou seja, uma devoção na qual o coração tenha o seu espaço. Preciso tratá-la como mãe com aquelas práticas de devoções tão valorizadas pela tradição cristã: pelo menos uma parte do rosário, as saudações aos quadros da Santíssima Virgem, o “anjo do Senhor” ao meio-dia, as três Ave-Maria da noite pedindo a santa pureza, e tantos outros atos de devoção rijos, não adocicados, que mantêm o nosso fervor para com aquela que é a Mãe de Deus e nossa.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA – (Ano C)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (1 Cor 15, 20-27)

INTRODUÇÃO: Num breve resumo, Paulo formula os planos divinos sobre os destinos da raça humana que em definitivo é a sorte final do Universo. Existe uma luta inicial em que a antiga serpente parece triunfal, mas não ganhará a guerra, embora triunfe em batalhas parciais: o pecado e a morte. Dele cantará a igreja: O felix culpa quae talem et tantum meruit redemptorem [feliz culpa que mereceu tal e tão grande redentor]. E Paulo comentará numa frase lapidária: onde abundou o pecado superabundou a misericórdia [ou a graça](Rm 5, 20). E se isto foi dito em geral, não podemos restringi-lo em cada caso em particular, de modo que o canto de todo fiel salvo deve ser um hino à misericórdia de Deus, que em forma de graça superabundou em sua vida. Paulo especificamente admite que a ressurreição de Cristo seja a base de sua argumentação de modo que nela está a vitória final sobre todos os inimigos, sendo o último a ser derrotado a morte.

CRISTO PRIMÍCIAS: Mas agora Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, feito primícias dos adormecidos (20). Nunc autem Christus resurrexit a mortuis primitiae dormientium. RESSUSCITADO [egëgertai<1453>=resurrexit] na verdade foi levantado [erguido] numa passiva cujo sujeito ativo é Deus como claramente o indica em outra passagem: Deus ressuscitou [egeiren=suscitavit] o Senhor (1 Cor 6,14). PRIMÍCIAS [aparchë <536> = primitiae] era a oferenda dos primeiros frutos, ou da primeira parte da massa, com a qual os pães da preposição eram elaborados. Daí o termo era usado para determinar as pessoas consagradas a Deus em sua totalidade.  É a tradução grega do hebraico reshith<7225>, que sai como início em Gn 1, 1 (Be)reshith, [no princípio] Deus criou os céus e a terra. E como primícias dos frutos da terra em Êx 23, 19: As primícias dos frutos da sua terra [reshit bicurei admatecha=as aparchas tön prötogevëmatön tës gës] trarás à casa do Senhor, teu Deus. Como primeiro e principal temos: Balaão disse: Amaleque é o primeiro [reshith=archë] das nações (Nm 24, 20). Vemos como o hebraico reshit pode ser traduzido como aparchë [primícias] ou archë [primeiro ou principal]. Usando Paulo aparchë 6 vezes das 8 que aparece no NT [outra em Tg 1, 18 e outra em Ap 14, 4] todas elas traduzidas por first fruits  [primeiros frutos] na KJV. DOS ADORMECIDOS [kekoimënön<2837>=dormientium] no grego é o particípio passado  do verbo koimaö, causar o sono, pôr a dormir, com o significado metafórico de calmar, cair no sono, dormir e finalmente morrer. Lemos em Lc 22, 45: Foi ter com os discípulos e os achou dormindo. Com o último significado de morrer, temos em Mt 27,52: Abriram-se os sepulcros e muitos corpos de santos que dormiam, ressuscitaram. E em Paulo, das 8 vezes, todas têm o significado de morrer, como vemos por exemplo em 1 Cor 15, 18: Portanto também os que dormiram em Cristo, pereceram. Como Paulo está falando da ressurreição, dizer que Cristo é primícias dentre os que adormeceram é afirmar que é o primeiro a ressurgir dentre os mortos.

ADÃO E CRISTO: Porque, pois, por um homem veio a morte e por um homem vem a ressurreição dos mortos (21). Quoniam enim per hominem mors et per hominem resurrectio mortuorum. Paulo dirige seu olhar aos inícios da humanidade, segundo a tradição do Gênesis. E encontra a morte como efeito do pecado de Adão. E agora no último Adão (1 Cor 15, 45), temos a causa da nossa ressurreição; pois como diz Paulo, nossos corpos formam parte de seu corpo, como membros do mesmo (1 Cor 6, 15). Comumente da ressurreição, fala-se em termos gerais, mais especificamente como almas unidas num mesmo espírito; mas esta frase de Paulo é clara: o corpo material também entra dentro do pléroma corporal de Cristo. Consequentemente não pode um membro particular estar morto se o corpo está vivo após ressurgir dentre os mortos. A restauração da primitiva ordem, em que a morte não era o último destino humano, mas através da árvore da vida a morte era evitada segundo os planos divinos (Gn 2. 9 e 3, 22), forma parte do plano final da restauração de todas as coisas em Cristo (Ef 1, 10), como alfa e ômega (Ap 1, 8) porque assim como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão vivificados (1 Cor 15, 22).

A RESTAURAÇÃO: Porque assim como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão restaurados à vida (22). Et sicut in Adam omnes moriuntur ita et in Christo omnes vivificabuntur. RESTAURADOS À VIDA: estar vivo, ou reviver e em passiva vivificar, fazer retornar à vida como é nosso caso. Paulo afirma, pois, que todos morrem por serem parte do sêmen de Adão, ou, como agora diríamos, por terem o genoma dele. Mas em Cristo, assim como ele ressuscitou, todos serão devolvidos à vida, porque como corpos formam parte de seu corpo total (1 Cor 6, 15).

ORDEM DA RESSURREIÇÃO: Cada um, pois, em sua própria ordem: primícias Cristo, depois os de Cristo na sua parusia (23). Unusquisque autem in suo ordine primitiae Christus deinde hii qui sunt Christi in adventu eius. PARUSIA [parousia <3952>=adventus] isto é a presença, a vinda,  a chegada, e especialmente de Cristo, a vinda gloriosa do céu, para a ressurreição final, o juízo universal e a imposição do seu reino definitivo. Tem o nome grego de parousia para distingui-lo de outra manifestação de Cristo possível na História. É o chamado segundo advento como o declara Mt 23, 27. Existem algumas dúvidas: 1º) Houve ressurreições de mortos antes de Cristo e feitas por ele? Como é que se fala de Cristo como primícias? Uma delas, a feita por intercessão de Elias, voltando à vida o filho da viúva de Sarepta  (1 Rs 17, 17-24). Para não falar das feitas por Jesus, como a de Lázaro após 4 dias da  morte deste último (Jo 11, 38-44). Todos eles foram ressuscitados da morte, mas nenhum deles foi realmente ressuscitado, no sentido que esta palavra tem em Paulo. Cada um deles tinha seu corpo, ainda sem estar totalmente destruído pela corrupção e foi suscitado da morte para a vida, a mesma que possuía horas ou dias antes, sem que houvesse uma transformação do corpo material em espiritual como afirma Paulo (1 Cor 15, 43-44). Jesus não foi o primeiro a ser trazido de novo da morte, mas o primeiro ressuscitado em corpo glorioso. 2º) Que dizer das palavras de Mateus 27, 52-53: os túmulos abriram-se, os corpos de muitos santos já falecidos, ressuscitaram: saindo dos túmulos, depois da ressurreição dEle. Eles entraram na cidade santa e apareceram a um grande número de pessoas. Em primeiro lugar, estas ressurreições estavam incluídas nas profecias que anunciavam o dia do juízo final em Is 26, 19: Os vossos mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão…porque teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho da vida e a terra dará à luz os seus mortos. Ez 37, 12: Portanto, profetiza e dize-lhes: Assim fala o Senhor Deus: Eis que abrirei a vossa sepultura e vos farei sair dela, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. Finalmente Dn 12, 2: Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna e outros para vergonha e horror eterno. Mateus diz duas coisas: 1º) Se abriram os sepulcros. Isso está em conformidade com o tremor da terra que abriu a tumba do Senhor, e atribuído a um anjo que removeu a pedra da entrada (Mt 28, 2). Caso confirmado pelos outros evangelistas indiretamente, ao afirmar que a pedra estava removida. 2º) As aparições dos mortos. A solução do caso, desta afirmação de Mateus, é difícil. Evidentemente os mortos ressuscitaram após a ressurreição de Cristo, como afirma o próprio evangelista. Com isto está a salvo o que diz Paulo, de Cristo como primícias da ressurreição dos mortos. Mas quem eram os ressuscitados? Antigos profetas que estavam enterrados no vale do Cedrão, como afirmam alguns? Não parece seja esta a melhor solução. Familiares dos vivos na época? É o mais provável, pois  a frase de corpos de muitos santos já falecidos, que não discrimina indica que não eram antigos profetas, em cujo caso Mateus o teria dito explicitamente. E que essa nova vida foi temporária e não a eterna da última parusia parece implícita na frase eles entraram na cidade santa e apareceram a um grande número de pessoas. Ou seja, não foram vistas por todos como era de se esperar de uma verdadeira revivificação. Além disso, a ênfase está na aparição e não na ressurreição. Cremos que o fenômeno é semelhante ao que acontece na vida de muitos santos que tem experiência da vida em ultra tumba de pessoas mortas. Consequentemente não podemos anunciar que alguns santos já estão em corpo e alma no Reino dos céus, como é o caso de Nossa Senhora. A  ressurreição de que Paulo fala é a do fim dos tempos para a vida eterna como diz o catecismo (988). Por isso ao falar de quando, o catecismo diz, sem dúvida, no último dia ao fim do mundo, pois a ressurreição está intimamente associada à Parusia de Cristo (1001). Em consequência, ao falar da Assunção de Nossa Senhora o mesmo catecismo afirma: Este dogma constitui uma participação singular na ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos demais cristãos (966). Diante da eternidade, o tempo de espera desde a morte até a parusia é como instantâneo de modo que poderíamos afirmar que morte e ressurreição são fenômenos quase simultâneos. Mil anos são como um dia aos olhos do Senhor, dirá o salmista (90, 4).

O FIM: Então o fim, quando entregar o reino ao  Deus e Pai, quando tiver abolido todo principado e toda autoridade e poder (24). Deinde finis cum tradiderit regnum Deo et Patri cum evacuaverit omnem principatum et potestatem et virtutem. O FIM [telos<5056>=finis] também término de uma coisa ou de uma era. Um segundo significado é o de taxas alfandegárias, como em Mt 17, 25 em que pedem a Pedro se Jesus não paga o didracma e Jesus pergunta: Simão, que te parece? De quem cobram os reis da terra impostos [telë]. É claro que aqui o significado é o fim, do qual fala Paulo em Rm 6, 22: Transformados e servos, tendes o vosso fruto para a santificação e por fim [telos] a vida eterna.  ENTREGAR [paradidömi<3860>=tradidere] passar, entregar, dar, e até atraiçoar, como no caso de Judas (Mt 26, 2). O que é entregue é o Reino dos céus, formado pelos que cumprem a vontade de Deus (Mt 5, 10) como justiça [retidão de conduta]. E quem recebe esse Reino, ou melhor, Reinado, constituído pelos filhos do Reino (Mt 13, 38) é Deus como Pai. Um reino que tem como Rei o próprio Jesus (Jo 18, 47) e como sucessor Pedro a quem entrega as chaves (Mt 18 19) e cujos súditos se distinguem porque o maior dentre eles é como o menor e o que dirige é como o que serve (Lc 22, 26), que Paulo descreve como sendo escravos uns dos outros (Gl 5, 13) e que o próprio Jesus, dando exemplo na última ceia, lavou como escravo, os pés dos discípulos, declarando: Compreendeis o que vos fiz?…Dei-vos exemplo para que como eu vos fiz façais vós também… Se souberdes estas coisas, bemaventurados sois se as praticardes (Jo 13, 12-17). De modo que a frase paulina atribuída a Jesus, mais bemaventurada coisa é dar que receber (At 20, 25) pode ser traduzido em há mais felicidade em servir que em mandar. ABOLIDO [katargësë<2673>=evacuaverit] do verbo katargeö com o significado de tornar inativo, inoperante, ineficaz, acabar ou abolir. Parece que Paulo afirma que o poder não é conforme aos planos de Deus, de modo que no reino definitivo, não haverá tal modo de reinar, mas será o serviço quem ordena as relações entre os filhos do Reino. Jesus, em sua vida terrena, declarou tal método como prática e agora Paulo, ao abolir todo império, o declara como norma futura: Não mais existirá um reino, um que manda ou é superior ao outro, mas somente Deus e seus planos serão os que dirigem o mundo futuro. Eram, por outra parte, tempos em que o império ainda estava sob o Princeps Senatus, título dos Imperadores desde Augusto (ano 28 aC). A Autoridade era o poder moral de quem tem a capacidade para ditar uma norma de conduta. Estava fundamentalmente no Senado. Poder era a potestade de mandar cumprir as normas impostas. Eram os cônsules e pretores e em tempo de guerra o  imperador ou general.

OS INIMIGOS: Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés (25). Oportet autem illum regnare donec ponat omnes inimicos sub pedibus eius. DEBAIXO DOS PÉS: Paulo alude ao costume da época de colocar de bruços os vencidos, para que os oficiais vencedores passassem por cima deles, como lemos no salmo 7, 5; e especialmente em Js 10, 24: Josué disse aos principais da gente de guerra que tinham vindo com ele: chegai, ponde os pés sobre o pescoço destes reis. Coisa que Jesus usa como nota do seu messiado em Mc 12, 36. É, pois sinal de absoluta derrota e total submissão. Com isso, Paulo indica uma vitória final.

A MORTE: Último inimigo a desaparecer é a morte (26). Novissima autem inimica destruetur mors. Com esta frase, Paulo afirma que todo mal, é resultado do pecado, pois com o pecado entrou a morte. O primeiro inimigo é Satanás como lemos em Ap 12, 9. Temos também o mundo, que apesar de ser feito por Ele não o conheceu (Jo 1, 10). E a carne, da qual diz Paulo que nela não habita bem nenhum (7,18), de modo que são os três inimigos clássicos do homem. Em lugar de construir, eles destroem a ordem do Senhor em geral e, em particular, em cada homem. Finalmente, Paulo enumera o último, que é a morte. O catecismo fala do mal físico e do mal moral. Como recordação temos as palavras de S. Tomás de Aquino: Por que Deus não criou um mundo tão perfeito que nele não pudesse existir nenhum mal? Deus poderia criar coisa melhor. Porém na sua sabedoria infinita Deus criou um mundo em estado de via, caminhando para sua perfeição e não perfeito (CIC 310). Por isso, tanto os homens como os animais contribuem ao melhoramento do mesmo. Aqueles por instinto, estes por razão. Assim, é importante a escolha do bem, que em Deus é perfeita, pois como diz o catecismo, Deus em sua providência toda-poderosa,  pode sacar um bem das consequências do mal, incluso moral, causado por suas criaturas (312). É por isso que todo ato conforme a natureza é agradável, exceto o parto (Gn 3, 16). A base do pecado do homem é dirigir seu fim ao agradável e transformá-lo num fim quando é unicamente um meio.

SOB SEUS PÉS: Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos seus pés: (27). Omnia enim subiecit sub pedibus eius. Paulo usa a mesma linguagem dos salmos, quando fala da suprema condição do homem a respeito do Universo: Deste-lhe domínio sobre as obras de tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste (Sl 8, 6). Mas sobre o homem do AT está o novo homem do NT que é Cristo a quem tudo é submetido. Pois existindo criaturas superiores, não foi aos anjos que sujeitou o mundo que há de vir (Hb 2, 5). Para que por sua morte destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo (Hb 2, 14). De modo que o poder de Cristo está sobre o poder daquele que aparentemente tem o máximo poder como é o da morte ante a qual todos estávamos sujeitos.

EVANGELHO ( Lc 1, 39-56)

OS NOMES: Tendo, pois, se levantado Mariam, naqueles dias foi à montanha, com presteza, a uma cidade de Judá (39). Exsurgens autem Maria in diebus illis abiit in montana cum festinatione in civitatem Iuda. Mariam significa senhora e, segundo Lucas, devemos distinguir seu nome de Maria que é o nome dado à Madalena, ou o nome da irmã de Lázaro, assim como o de Maria Salomé. Lucas expressamente usa Mariam para a Mãe de Jesus. Elizabet, de origem hebraica, significa juramento de Javé. Zacaria(s) significa Javé se lembrou. Segundo o modo de pensar dos judeus, o nome tinha muito a ver com a vida e existência do sujeito nomeado. A Senhora visita a casa de quem foi lembrado por Deus, porque cumpriu seu juramento, dando origem a um bebê [Johanan] que é um dom precioso de Javé. Talvez Lucas não soubesse a metáfora que os nomes significavam. Numa época em que Fílon interpretava as Escrituras de modo simbólico e que teve como sucessores Orígenes e Cirilo de Alexandria, fundadores da escola simbólica escriturária para depois dar lugar à Cabala. Daí podemos deduzir que a possibilidade desta interpretação não é absolutamente irresponsável. A MONTANHA: Termo técnico, semelhante ao Deserto de Judeia, para designar a região entre Jericó e Bethoron, como indicamos na exegese do IV Domingo do Advento de 2007. (Ver comentários exegéticos Número 14 de presbíteros.com. br) Como a resposta de Isabel até o versículo 45 já foi devidamente estudada nesses comentários, neste evangelho de hoje vamos especialmente interpretar o canto mariano por excelência, o Magnificat.

O MAGNIFICAT: É um dos três cânticos que Lucas nos oferece em seu evangelho. Sem dúvida tomando como modelo outros cânticos como o de Moisés, em Êxodo 15, 1-18 e a pequena estrofe de Miriam no versículo 21. Assim se inaugura uma ação de graças com cântico que formam um conjunto de louvores pelos feitos maravilhosos, provindos das mãos do Senhor. Mas o cântico que está mais perto do Magnificat é o de Ana em 1 Sm 2, 1-10. Tenho o coração alegre, graças ao Senhor, e a fronte erguida, graças ao Senhor, minha boca abre-se contra os meus inimigos: eu me alegro por tua vitória. (…) O Senhor torna pobre e enriquece, rebaixa e também exalta. Ergue o fraco da poeira e retira o pobre do monturo para fazê-los sentar com os príncipes e atribuir-lhe o lugar de honra. A questão é se o canto foi um espontâneo de Maria ou foi produto de um poeta cristão posterior. O mais provável é que Maria meditou muito durante a viagem de três dias e o tivesse composto meditando o cântico de Ana e o de Judite: Deus, o nosso Deus, está conosco para manifestar seu vigor em Israel e sua força contra os inimigos (Jt 13, 11). E Louvai a Deus que não retirou sua misericórdia da casa de Israel, mas esmagou nossos inimigos por minha mão esta noite (Jt 13, 14). Se em Ana o impulso que a levou ao cântico é o nascimento do filho, em Judite está a vitória de Israel sobre os inimigos. Ambas as razões estão vivas no cântico de Maria.

ESTRUTURA: Dividiremos o Magnificat em três partes diferentes: 1a) Introdução (47). 2a) razão do louvor (48-53). 3a) A especial providência para com Israel, figura da misericórdia para com ele (54-55). Vamos tentar explicar cada uma das partes, dando no final uma tradução livre do cântico.

INTRODUÇÃO: E disse Mariam: Engrandece a minha alma o Senhor (46). Et ait Maria magnificat anima mea Dominum. E encheu-se de gozo meu espírito no Deus, meu salvador (47). Et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo. É um louvor de agradecimento a Deus que é Senhor [Kyrios] e ao Deus, o seu Salvador [o theós, o soter]. É um beraká ou louvor em alta voz. O grego usa o verbo megalenö, que significa engrandecer tal e qual as traduções portuguesa e italiana. Também a Vulgata usa a palavra magnificat que é uma tradução literal do grego. Porém podemos traduzir livre, mas mais ajustado ao sentido próprio, por exaltar ou glorificar. De fato, esta última é a preferida pela tradução espanhola: Exalta minha alma o Senhor. É, pois um grito de louvor, ou melhor, de ação-de-graças por um benefício recebido. Não podemos esquecer que na língua semita não existe a palavra agradecer que é substituída por louvar ou exaltar. A segunda parte da introdução é o gozo existente por ter visto de perto a ação salvífica divina: E meu espírito encheu-se de gozo no Deus, o meu salvador. Tanto Deus, como Salvador, estão com artigo, indicando uma realidade definida e próxima de Maria.

RAZÃO: Porque fixou seu olhar na insignificância de sua escrava: Eis, pois, desde agora me chamarão ditosa todas as gerações (48). Quia respexit humilitatem ancillae suae ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes. O verbo epiblepö, que mais do que um simples olhar significa observar, prestar atenção [respexit latino] por isso temos traduzido fixou seu olhar. Uma outra palavra mal traduzida é tapeinosis  porque o latim traduz por humilitas [humildade] que pode ser uma virtude ativa contrária à soberba e assim foi traduzido às línguas vernáculas. Por isso a tradução espanhola moderna diz se há fijado em la humilde condición de su esclava. Já a italiana diz há considerato l’umiltà della sua serva. As duas portuguesas dirão olhou para a humilhação de sua serva (Bíblia de Jerusalém) e contemplou na (sic) humildade da sua serva (RA evangélica) que é uma construção um tanto irregular. Tapeinosis pode ser também uma condição nativa de impotência e insignificância, ou seja, ser pequeno demais. Daí que o olhar deve ser meticuloso, um observar, como indica o latim [respicio= considerar, olhar com atenção, com piedade].  Doulë=serva que o espanhol traduz como escrava e o latim como ancilla [escrava doméstica], muito melhor que as traduções de serva, pois o doulë grego significa escrava propriamente dita. A primeira razão da ação-de-graças é pois a natureza transcendental ou divina de quem provê a eleição traduzida em benevolência: Deus. A segunda é a pequenez da qual ele se deixou conquistar: escolheu um ser insignificante como é uma escrava. É por isso que todas as gerações a chamarão bendita (de Deus). O grego diz propriamente me abençoarão [chamar bendita] que muitos traduzem por bemaventurada, ou feliz. O que não é realmente uma tradução feliz. Melhor seria, considerarão que sou privilegiada de Deus.

O PRIVILÉGIO(49): Já que fez para mim magníficas (coisas) [megaleios] o Poderoso. Porque Santo é o seu nome (49). Quia fecit mihi magna qui potens est et sanctum nomen eius. Na realidade, megaleios é um adjetivo que significa excelente, magnífico.  O PODEROSO era um dos títulos com os quais os judeus substituíam o nome santo Hashem ou HASHEM YITBARAH [o nome recôndito]. É com este nome de PODEROSO que Jesus responde à conjura de Caifás( Mt 26, 64) só que aqui é adjetivo e no momento do julgamento usa-se o substantivo Poder [dynamis]. Por isso, como era costume entre os judeus, termina Maria com um louvor ao nome santo: pois sagrado é seu nome. Ou se queremos calibrar melhor diríamos: pois seu nome é único, divino. Traduzimos o Kai grego, como correspondência ao wau hebraico que tem o significado de conjunção causal ou explicativa, tanto como conjuntiva. Será, pois, porque.

A PROVIDÊNCIA DIVINA (50): Porque sua misericórdia é para geração de gerações, aos que o temem (50). Et misericordia eius in progenies et progenies timentibus eum. Maria agora eleva seu olhar, e da intimidade de seu ser, parte para a lei geral da providência divina para com todos os povos: Visto que sua misericórdia se estende de geração em geração para com os que o temem. Maria nos dá uma definição da atuação divina que merece a pena considerar: Deus é misericórdia para os que o respeitam, pois é a maneira que devemos traduzir o fobeo [temer] grego quando referido a Deus. Respeito e reverência, que se traduzem em obedecer suas leis de modo escrupuloso. A misericórdia é um ato de amor correspondente a quem se inclina ao mais fraco para ajuda e consolação. Esta é a linha geral que Maria descobre em Deus através da escolha particular de sua insignificante pessoa.

O BRAÇO (51): Seu braço se mostrou poderoso ao dispersar os arrogantes de pensamento dentro de seu coração (51). fecit potentiam in brachio suo dispersit superbos mente cordis sui. Podemos contemplar dois sentidos na frase: A) O particular de uma batalha em que são derrotados os inimigos de Israel como aconteceu no caso de Judite 9, 4 e 13, 14 e o verbo pode ser empregado com toda a literalidade do mesmo, como dispersar ou desbaratar, do qual fala o salmo 89, 11 esmagaste Raab, como um cadáver, dispersaste teus inimigos com teu braço poderoso, como modelo da canção Mariana. É esse braço cuja destra esplendorosa de poder esmaga o inimigo (Êx 15, 6). B) Ou o sentido geral de todos os que têm orgulho de serem melhores e mais poderosos que os humildes e então o modelo é o canto de Ana:  O arco dos poderosos é quebrado, os debilitados são cingidos de força (1 Sm 2,4). Neste último caso optaremos por uma tradução menos literal e no lugar do dispersou usaremos, peneirou como palha, descartando-os, como a palha é descartada do trigo.

OS PODEROSOS (52): Derribou os poderosos dos tronos e elevou os pequenos (52). deposuit potentes de sede et exaltavit humiles. Aos famintos cumulou de bens e aos ricos despediu vazios (53). Esurientes implevit bonis et divites dimisit inanes. PODEROSOS são chamados de dynastes que podemos traduzir por príncipes ou poderosos. A tradução será, pois, destronou os homens de poder de seus tronos e ergueu os de humilde condição (52). Aos necessitados cumulou de bens e aos ricos despediu vazios (53). Neste ponto Maria segue o modelo de Sl 107, 9 e o canto de Ana: Os que viviam na fartura se empregam por comida. Os que tinham fome não precisam trabalhar (1 Sm 2,4-5). Maria segue assim a política de Jesus das bemaventuranças, de modo especial a redação que nós temos hoje de Lucas: Benditos os famintos… Ai de vós os saciados agora.( Lc 6).

ISRAEL O SERVO (54): Protegeu Israel seu servo, para recordar misericórdia (54), como falou aos nossos pais, Abraão e sua descendência para os séculos (55). Suscepit Israhel puerum suum memorari misericordiae sicut locutus est ad patres nostros Abraham et semini eius in saecula.  Em Is 41, 8-9 Javé chama a Israel meu servo. A palavra usada é pais que tanto pode significar filho como escravo. Por isso a atuação de Javé com o nascimento de Jesus significa um efeito peculiar de Deus em favor de seu povo. E fez isso lembrado da misericórdia. Um momento peculiar dessa benevolência divina foi o cumprimento de sua promessa dada como palavra divina a  Abraão e sua semente [sua descendência] para sempre (55). É uma recordação de Gn 17,7. Esta aliança perene fará de mim teu Deus e o de tua descendência depois de ti.

TRÊS MESES (56): Permaneceu, pois, Mariam com ela uns três meses e voltou para sua casa (56). Mansit autem Maria cum illa quasi mensibus tribus et reversa est in domum suam. Era o tempo que faltava para que Isabel desse à luz seu filho e Maria, sem dúvida, ficou com a anciã parente até o momento do nascimento de João. Assim se explicam os detalhes do mesmo, dos quais Lucas é narrador e Maria, sem dúvida, testemunha.

A TRADUÇÃO: Exulta minha alma ao Senhor e meu espírito encheu-se de gozo no Deus, o meu salvador; porque fixou seu olhar na insignificância de sua escrava. Por isso, pois, desde agora aclamar-me-ão como bendita todas as gerações; já que realizou em mim fatos extraordinários, porque seu nome é divinamente sagrado, visto que sua misericórdia se manifesta de geração em geração em favor dos que o respeitam. Seu braço mostrou-se poderoso ao desbaratar os arrogantes de pensamento no íntimo de seus corações. De modo que obrigou os homens de poder a descer de seus tronos e ergueu os de condição humilde. Aos necessitados cumulou de bens e aos ricos despediu vazios. Protegeu Israel, seu servo, guiado da sua misericórdia, como prometeu a nossos pais, a Abraão e sua descendência para sempre.

PISTAS:

1) O Magnificat de Maria é o canto da maioria dos fiéis humildes, isto é, pequenos e sem ambições, que constituem a maioria dos seguidores de Jesus. Diante das ambições das doutoras do sexo feminino que  pretendem o sacerdócio é bom que recitem o cântico com a mesma sinceridade e humildade com que o fez Maria, todas as tardes nas vésperas para aprender que não é com direitos que vamos nos apresentar ao Deus dos pequenos, mas com a sinceridade que a humildade nos dá, ao saber que dele dependemos e que unicamente os que se humilham serão exaltados (Mt 23, 12).

2) Não é pela pessoa em si mesma, que a Igreja exalta e venera Maria, simples criatura, mas pelos grandes favores que recebeu de Deus e que por isso anima os mais desprestigiados a esperar favores desse mesmo Deus que exalta os humildes. Em Maria vemos as maravilhas que Deus pode realizar com as almas que reconhecem sua bondade; o que outros chamariam de méritos.

3) Maria é a única que louva o Senhor  de modo a ser exemplo para todas as mulheres. Ela não o disse no Magnificat, mas será Isabel que em termos de santa inveja a declara modelo de todas as mulheres.

4) Maria indica o verdadeiro caminho de salvação do seu Filho: Deus escolhe desde agora os mais imprestáveis segundo o mundo, como diz Paulo (1 Cor 1, 17 –31) e que com clareza óbvia Maria expressa em seu cântico, para que ninguém se glorie em si mesmo.


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08.08.2010
XIX DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

__ “POBREZA VOLUNTÁRIA, SINAL DO REINO” __

Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! Em sua reflexão moral, o homem sempre considerou a riqueza, o possuir, um perigo de alienação. Em toda a história do pensamento e das religiões há um apelo ao desapego dos bens materiais, visando à libertação e à realização da pessoa. A pobreza evangélica não está nessa linha: não a nega, mas a transcende. A pobreza evangélica é consequência da fé em Jesus e no advento do reino de Deus. Jesus quis ser pobre e pregou a pobreza não só como libertação espiritual ou moral, mas como condição da encarnação redentora, passagem necessária para a ressurreição e preparação para a sua volta. Entoemos cânticos ao Senhor!

(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)

PRIMEIRA LEITURA (Sb 18, 6-9): - "Esta mesma noite tinha sido conhecida de antemão por nossos pais."

SALMO RESPONSORIAL (Sl. 32/33): - "Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!"

SEGUNDA LEITURA (Hb 11,1-2.8-19): - "A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê."

EVANGELHO (Lc 12,32-48): - "Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino."



Homilia do Diácono José da Cruz – XIX DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)

Estejais preparados!

No meu grupo de jovens tínhamos um amigo super estudioso que era chamado de “Caxias”, como se dizia por aquele tempo. Todos nós estudávamos mas ninguém se dedicava de corpo e alma como fazia nosso amigo, era raro ele sair com a turma durante o lazer, nem namorada tinha. Um belo dia, com vinte e poucos anos, após o vestibular passou na Faculdade de Medicina e pouco depois prestou concurso público Federal, sendo aprovado em primeiro lugar em uma lista de 300 nomes. Fez depois uma bela carreira casando-se com uma Médica e por fim, acabou dedicando-se a pesquisa científica indo trabalhar em uma empresa da Alemanha, com altíssimo salário. Em qualquer competição ou empreendimento, sempre vence quem está melhor preparado, quem se dedicou mais, suou a camisa, abriu mão de coisas e valores, renunciou seus próprios desejos, tudo para concentrar-se em um único objetivo: ser o melhor e vencer a competição, ser bem sucedido, como no caso do meu amigo.

O evangelho desse domingo está exatamente nesse contexto, porém, devido a uma compreensão errada daquilo que Jesus nos ensina, muitas vezes esse alerta “Estar preparado”, em vez de nos motivar dando-nos esperança e alegria como ocorre com um atleta, enche-nos de medo porque imaginamos que o texto fala de uma prestação de contas no final da vida, diante de um Deus terrível que irá nos julgar e condenar porque não atendemos suas exigências e deixamos de atingir a nossa meta. Primeiramente o evangelho apresenta-nos a palavra animadora de Jesus: “Não tenhais medo pequeno rebanho, porque foi do agrado do Pai dar a vós o reino”. Diferente dos empreendimentos humanos, Deus se agrada e se alegra em entregar o seu reino a um grupo pequeno e frágil, foi assim com o pequeno resto de Israel, foi assim com os discípulos e com as primeiras comunidades cristãs, que sentiam medo diante das perseguições e do desafio de evangelizar, e desse mesmo modo à igreja caminha hoje, onde os cristãos que crêem de fato e querem viver o evangelho até as últimas conseqüências, são realmente uma minoria, pois uma coisa é IR a igreja, outra coisa é SER Igreja e dar o melhor de si, na relação com Deus e com os irmãos, pois há aqueles cristãos que, semelhantes aos atletas medíocres, apenas competem, nunca tendo o objetivo de vencer e por isso já entram na competição na condição de perdedores.

Estar preparado não é alienar-se das coisas deste mundo, antes é usá-las com sabedoria, partilhando com os pobres tudo o que tem, não só bens materiais, mas também os carismas próprios de cada um, dando o seu tempo para servir as pessoas, esse tempo que é tão precioso, a ponto das pessoas responderem sempre, quando convidadas a assumirem alguma boa causa, “que não têm tempo...” O cristão que está preparado tem sempre as “mangas arregaçadas" , como antigamente se prendia a túnica á cintura, vindo daí a expressão “ter os rins cingidos”, para por mãos à obra, servindo a todos com amor, entusiasmo e alegria, estar, portanto vigilante e preparado, não significa ficar de braços cruzados a espera daquele Jesus que virá nas nuvens ao nosso encontro, tem muita gente iludida em nossas igrejas, que sem fazer nada, está à espera desse dia, esses devem esperar sentados, pois em pé irão cansar-se. O senhor que virá até nós em uma hora incerta e inesperada, é o Cristo faminto, triste, sofredor, marginalizado e empobrecido, com os quais cruzamos tantas vezes em nosso quotidiano e passamos “batido”.

“Onde estiver um irmão necessitado, estarei nele”, nos garante Jesus no evangelho de Mateus, nos famintos, nos que tem sede, nos que não tem roupa, nos doentes e encarcerados, é nesses que o Senhor vem ao nosso encontro sempre de imprevisto e em uma hora imprópria, como me narrou uma ministra das exéquias, que dia desses, tendo acabado de chegar em casa após ter feito uma encomenda em um velório, e preparando-se para descansar, alguém bateu à sua porta para pedir que fosse fazer mais uma encomenda, de um falecido que seria sepultado dali a uma hora, e onde outro Ministro não pode comparecer, e então essa ministra, que estava de mangas arregaçadas, pegou o seu jaleco e deixando seu descanso de lado foi ao encontro do Senhor para servi-lo mais uma vez. Foi de imprevisto e ainda por cima bem na hora do seu descanso, onde estaria em seu direito indicar outro ministro ou alegar que estava exausta, pelas tarefas já executadas.

O evangelho fala que todos os que exercem algum ministério de serviço na comunidade, tem uma responsabilidade maior, porque conhecem a vontade do seu Senhor e por isso mesmo serão cobrados com maior rigor. Essa cobrança mais rigorosa é naturalmente por causa das necessidades das pessoas que procuram os servidores do reino, na hora em que estes menos esperam. Diferente de um profissional de qualquer área, que pode organizar seu serviço e planejar as horas de atendimento aos seus clientes, um servidor do reino de Deus deverá estar sempre de prontidão, totalmente disponível a qualquer dia ou hora, para acolher e ajudar em nome de Cristo, a quem dele precisar, pois como optou pelo tesouro do céu, onde está o seu coração, ele sabe que no necessitado está presente o seu Senhor, que um dia o acolherá definitivamente em sua casa, servindo ele próprio à mesa, aquele que nessa vida traduziu todo o seu amor no serviço, imitando assim o seu Mestre e Senhor.

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – XIX DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)

“Preocupações”

“Não temais, pequeno rebanho” (Lc 12,32). É entranhável a maneira como o Senhor Jesus nos trata! Diante das dificuldades, das provas e de todo tipo de tribulação, Deus quer que confiemos nele. Que não nos “pré-ocupemos”, ou seja, que não nos ocupemos dos problemas antes mesmo que eles apareçam. Isso seria perder demasiada energia. Sempre teremos dificuldades, mas é preciso afrontá-las com sentido cristão: confiando totalmente em Deus e colocando todos os meios que estão à nossa disposição para vencê-las.

Também à hora de esforçar-nos por vencer as dificuldades, não podemos fazer como aquele senhor, um pai de família, que fumava muito e que, ao chegar a casa contou a seguinte noticia: “acabo de ler numa revista um artigo terrível sobre os males que causa o fumo, tanto é assim que eu já fiz um propósito”. A filha, animada com a notícia, interveio: “Que bom, pai, puxa vida, que alegria o senhor nos dá! E qual é a sua resolução? Parar de fumar?”. Resposta do pai: “Não. Vou parar de ler!” Não dá a impressão que também nós, muitas vezes, em lugar de querermos vencer um problema na vida espiritual, o promovemos? Isso talvez seja devido a algum apego oculto ao pecado.

O equilíbrio entre ter sanas ocupações e não preocupar-se é como estar numa corda bamba. É verdade: um pai de família tem que se “preocupar” em que não falte nada à sua família, mas não preocupar-se caso falte em algum momento; o jovem estudante tem que fazer de tudo para não reprovar determinada matéria, mas… caso reprove… Fazer o quê? Não preocupar-se e estudar mais. Um empresário sempre terá que verificar como vão as finanças, se pode fazer novos investimentos, se pode contratar novos funcionários, mas, ao mesmo tempo, saber entregar tudo nas mãos de Deus que cuida de todos.

Uma pessoa que confia em Deus sabe que todos os acontecimentos obedecem a uns desígnios aprovados ou pelo menos permitidos por parte do seu Pai do céu e que, por tanto, tudo acabará bem. Nós já encontramos o nosso tesouro, já vendemos tudo o que possuímos por esse tesouro e não necessitamos tesouros de poder, de glórias humanas, de faustos vazios, de dinheiros amontoados, o nosso é “um tesouro inesgotável nos céus, aonde não chega o ladrão e a traça não o destrói” (Lc 12,33). Aí está o nosso coração!

“Não andeis preocupados com a vossa vida, pelo que haveis de comer; nem com o vosso corpo, pelo que haveis de vestir. A vida vale mais do que o sustento e o corpo mais do que as vestes” (Lc 12,22-23). Com essas palavras, Jesus nos ensina a ter uma escala de valores: a vida vale mais! E em primeiro lugar, a vida da graça, da oração, dos sacramentos. Quantas preocupações por trabalhar mais, ganhar mais dinheiro e, ao mesmo tempo, quantos esquecimentos da Missa dominical, da oração, da família, dos filhos, dos amigos, do lazer! Poder-se-ia acabar rico e infeliz. Diante das diferentes facetas da existência, ocupar-se somente de uma – a de alimentar o próprio corpo e ganhar mais e mais dinheiro – nos faz profundamente empobrecidos. Preocupar-se tanto e ocupar-se de tão pouco? Qual é a ordem dos nossos valores? Quem ocupa o primeiro lugar na nossa vida? Deus, o dinheiro, os problemas?

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – XIX DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

Epístola (Hb 11, 1-2. 8-19)

INTRODUÇÃO: Escrita entre os anos 64-66 sendo os designatários os cristãos da Palestina, deslumbrados pelo culto mosaico no templo. É uma carta de exortação para que não abandonem a fé, porque aparentemente o culto cristão era inferior ao cerimonioso das grandes festividades que apareciam em todo se esplendor, diante das multidões que enchiam os pátios do templo. O autor, antigamente atribuído a Paulo, é praticamente desconhecido. O fundo é paulino, mas a forma é de um autor com melhor domínio do grego clássico, de origem africana. Talvez Apolo, o culto alexandrino, companheiro e colaborador de Paulo (At 18, 24).

O ALICERCE: Porque a fé é o alicerce dos fatos que se esperam, a prova das [coisas] que não são vistas (11). Est autem fides sperandorum substantia rerum argumentum non parentum. ALICERCE [ypostasis<5287>=substantia], segundo o dicionário é o fundamento ou infraestrutura que serve de base a um edifício. Em sentido não material é a realidade, o fato que garante uma ideia ou opinião, dando a esta uma firmeza e segurança. A tradução latina de substantia indica essência, natureza, bens ou patrimônio e matéria de que está feita uma coisa. Ou seja, indica uma realidade como oposta a uma imagem, visão, ou utopia. Vejamos as diversas traduções: garantia (Nácar Colunga), certeza (RA), fundamento (CEI), modo de possuir desde agora (TEB), substance (KJV), substantiation [=comprovação] (Green literal). É uma definição empírica e em função das coisas que se esperam, não uma definição estritamente teológica. É a resposta de por que esperamos e  de que coisas esperamos. Porque existem bens ainda não possuídos que excitam nossos desejos e quem agora os propõe é a fé, em cujo crédito colocamos nossa esperança. Em lugar paralelo da mesma epístola, a tradução é confiança, ou firmeza, ou estabilidade (Hb 2, 14). PROVA [elegchos<1650>=argumentum] é a prova, evidência, que se transforma em convicção fora de toda dúvida. Também tem o sentido de refutação em 2 Tm 3, 16: toda a Escritura é inspirada e útil para o ensino, para a refutação. Aqui logicamente é prova como indica o argumentum latino, que até pode ser traduzido por evidência, ou indício sólido. A fé é a prova de realidades que não podemos ver. Evidentemente que são as realidades de ultra tumba, ou celestes como as chama Paulo. E não só a prova, mas a garantia de que serão nossas, se nessa fé perseveramos.

OS ANTEPASSADOS: Nela foram testemunhas os anciãos (2).. In hac enim testimonium consecuti sunt senes. O autor agora traz uma série de experiências, consignadas pelos escritos sagrados, de como a fé foi parte essencial da vida dos antigos patriarcas, que, por isso, receberam as bênçãos do céu. Essas vidas acrescentam testemunhalmente o valor da fé, em comparação com os sacrifícios do templo, aos quais tão devotos se mostravam os primitivos cristãos provindos dos judeus. Os antigos, desde Abel, [que não sai neste trecho epistolar] todos eles viveram da fé e pela fé na palavra de Deus. Essa fé foi a que fez grandes ante Deus e ante a verdadeira história, os homens do AT. Vejamos os diversos exemplos.

ABRAÃO: Pela fé chamado, Abraão obedeceu, para sair ao lugar que devia receber como herança e saiu sem saber onde ir (8). Fide qui vocatur Abraham oboedivit in locum exire quem accepturus erat in hereditatem et exiit nesciens quo iret. Nos versículos 4-7 o autor fala dos dois exemplos mais conhecidos: Abel e Noé. Eram fatos que não entravam dentro da história propriamente dita. Mas com Abraão já podemos falar de fatos históricos, da voz de Deus e da obediência básica do homem que é acreditar na palavra divina, como verdade acima de sua verdade  e viver assim sua fé, na mesma. Abraão é por excelência o homem da fé: Em três momentos de sua vida a fé mudou seu modo de existência: ao abandonar sua terra; ao receber o anúncio de que em sua velhice teria um filho; e ao obedecer o terrível mandato de sacrificar esse mesmo filho. O resumo de hoje se inicia no capítulo 12 do Gênesis. Neste versículo temos o início da vida de fé de Abraão. Sua saída da terra dos ancestrais em forma de obediência ao chamado de Deus, feita como resposta fiel, que era a emunah<0530>, fidelidade mais do que fé.

FRUTOS DA FÉ: Pela fé se estabeleceu na terra da promissão como estrangeiro, em tendas habitando junto com Isaac e Jacó os co-herdeiros dessa mesma promessa (9). Fide moratus est in terra repromissionis tamquam in aliena in casulis habitando cum Isaac et Iacob coheredibus repromissionis eiusdem.[pistis<4102>=fides] pistis é a tradução de emunah [=fidelidade] e às vezes de emeth <0571>[=verdade] ou amanah <0548> [=certo, como adjetivo e pacto como substantivo]. A fé [pistis] grega é fidelidade; e, em sentido religioso, a convicção de uma verdade religiosa [belief inglês, ou crença em português]. Para Paulo a fé toma características próprias, ao ser uma confissão no messiado de Cristo e principalmente, na crença em sua ressurreição e consequentemente, na sua primazia sobre todo poder e sabedoria, de modo a ser o Salvador a quem devemos a honra, que no AT era atribuída à Jahveh. É o Messias e o Senhor, ou se queremos como Tomé, nosso Deus e nosso Senhor (Jo 20, 28). PROMISSÃO [epaggelia <1860>=repromissio] anúncio, proclamação, declaração e promessa. Com este último significado temos a única vez que sai nos evangelhos, das 53 do NT, em Lc 24, 49: Eis que envio sobre vós a promessa [epaggelian, promissum] de meu Pai. A promessa constitui o fio condutor de toda a história da salvação que se desenvolve até ver cumprida a mesma em Jesus, o Cristo. No AT a promessa tem o nome de bênção, aliança, juramento. Inicia-se em Gn 3,15 para continuar em Abraão e seus descendentes (Gn 13, 15-17), de modo especial ao afirmar Jahveh: Tu serás uma bênção. Promessa que tem nome apropriado nos evangelhos, especialmente em Lc 1,54-55: Amparou a Israel seu servo… a favor de Abraão e de sua descendência para sempre como prometera aos nossos pais.

A CIDADE: Pois aguardava a cidade que tem fundamentos da que é artífice e fundador Deus (10). Expectabat enim fundamenta habentem civitatem cuius artifex et conditor Deus. Em oposição às tendas que eram habitáculos facilmente desmontáveis, os antigos patriarcas esperavam pela Jerusalém celeste, a cidade que tem alicerces firmes e da qual Deus é o edificador e fundador como lemos em Ap 21, 14. É precisamente a casa do Meu Pai como dirá Jesus (Jo 14, 2) onde há suficientes moradas que Jesus preparou para seus fiéis.

SARA: Também por esa fé, Sara recebeu vigor para conceber sêmen e, fora do tempo da idade, deu à luz, após confiante, acreditar ao prometido (11). Fide et ipsa Sarra sterilis virtutem in conceptionem seminis accepit e. tiam praeter tempus aetatis quoniam fidelem credidit esse qui promiserat. O texto refere-se ao trecho do Gênesis 18, 9-15, quando o Senhor prometeu um filho a Sara, mulher já velha de Abraão. De fato, o texto do Gênesis não é tão claro enquanto a fé de Sara, que inicialmente riu no seu interior, como incrédula, ao ouvir a profecia. Mas que, ao ser repreendida, mudou de opinião como diz Gn 21, 6 e aprendeu de novo a rir, ou seja, a alegrar-se com a esperança de um filho.

A DESCENDÊNCIA: Por isso, também por um nasceram -e esses dum morto- como os astros do céu em multidão e como areia junto da praia do mar, inumerável (12). Propter quod et ab uno orti sunt et haec e mortuo tamquam sidera caeli in multitudinem et sicut harena quae est ad oram maris innumerabilis. Neste versículo temos um comentário do que aconteceu com Sara e Abraão. Este é considerado como morto devido à sua idade, de modo que o sêmen, o homúnculo como se dizia na época, já não existia para a procriação. Daí a expressão de um morto. A descendência de Abraão foi como os grãos de areia do mar: inumerável.

COMO PEREGRINOS: Em conformidade com a fé, morreram todos eles, não recebendo as promessas; pelo contrário, vendo-as de longe  e confiantes e abraçando e confessando, porque eram peregrinos e estrangeiros sobre a terra (13). Iuxta fidem defuncti sunt omnes isti non acceptis repromissionibus sed a longe eas aspicientes et salutantes et confitentes quia peregrini et hospites sunt supra terram. O autor comenta, em favor da fé, fatos do AT. Como peregrinos, no sentido romano da palavra, ou seja, como estrangeiros em terra estranha, não receberam as promessas que apontam a uma pátria definitiva que seria a terra prometida [a tua descendência darei eu esta terra (Gn 12, 7)]. Pois Abraão morreu muitos anos antes de que a terra de Canaã fosse a pátria dos seus descendentes. Uma outra opinião é a que opõe a terra onde moraram os hebreus a uma outra, não terrestre, mas celestial, e que unicamente é atingida em esperança, como vista de longe.

A PÁTRIA: Porque os que tais dizem manifestam que buscam a pátria (14). Qui enim haec dicunt significant se patriam inquirere. A pátria é o céu, quer seja porque do céu procede a alma e ao céu volta, ou porque consideram que a terra é lugar de passagem e a definitiva é a morada que Jesus preparou para seus seguidores (Jo 14, 2). Outros pensam em que essa pátria está perto do paraíso do início do Gênesis, de onde foram expulsos os primeiros pais, devido ao pecado original. Era Ur dos caldeus. Coisa que é confirmada ao parecer no versículo seguinte.

LEMBRANÇAS: Pois já que se dela se lembrassem após dela ter saído, teriam oportunidade de voltar (15). Et si quidem illius meminissent de qua exierunt habebant utique tempus revertendi.A que se refere esse versículo? Há quem diz que essa pátria era a antiga Ur na Caldeia de onde saiu Abraão (Gn 11, 31). Esta conclusão parece ser a apropriada, considerando o versículo seguinte, em que pela fé se procura a pátria celeste em oposição à terrena, que no caso deveria ser Ur. Há uma outra possibilidade de que a pátria terrena seja o antigo paraíso e assim poderemos continuar com nossa alegoria da verdadeira pátria que não conseguimos ver a não ser pela esperança que a fé nos dá.

DEUS PREPAROU UMA CIDADE: Mas agora melhor desejam, isto é celeste, portanto não se envergonha deles o Deus, de ser chamado Deus deles; pois preparou-lhes uma cidade (16). Nunc autem meliorem appetunt id est caelestem ideo non confunditur Deus vocari Deus eorum paravit enim illis civitatem. Continuando com Abraão e sua fé, o autor passa da pátria terrena à celeste. Também podemos ver nestas palavras a terra da Palestina, que foi dada aos hebreus e dentro da mesma o único lugar em que Jahveh Deus foi adorado: a cidade de Jerusalém. Caso seja isto verdade, a carta deveria estar escrita antes da ruína de Jerusalém no ano 70. Porém, parece que a palavra celeste, sobre o céu [epouranios<2032>=caelestis], o mesmo adjetivo que distingue o Pai, segundo Mt 18, 35, está indicando uma pátria superior à da terrestre, pois esta seria epigeos[<1919>= terrestris] como distingue Paulo em 1 Cor 15, 40. Aqui termina esta reflexão e começa de novo uma outra sobre um ato de fé, daquele que acreditou contra toda esperança (Rm 4, 18), ou seja, Abraão.

ISAAC: Pela fé ofereceu Abrão a Isaac sendo tentado, e oferecia o primogênito, o recebido pelas promessas (17). Fide obtulit Abraham Isaac cum temptaretur et unigenitum offerebat qui susceperat repromissiones. A quem foi dito que em Isaac será chamado teu sêmen (18). Ad quem dictum est quia in Isaac vocabitur tibi semen. TENTADO [peirazomenos<3985>=cum temptaretur] melhor se traduzimos como provado, assim como foi Jesus pelo diabo no deserto (Mt 4, 1) verbo usado também na mesma situação por Mc 1, 13 e Lc 4, 2. Esse filho, que era o das promessas, foi oferecido como sacrifício por Abraão no monte da terra de Moriá, e no momento em que a faca estava a degolar Isaac o anjo deteve o braço (Gn cap 22). Essa fé em Deus foi tanto mais forte quanto a esperança de Abraão estava toda ela baseada em Isaac, na sua descendência.

FÉ NA RESURREIÇÃO: Estimando que também dentre os mortos suscitar poderoso era (o) Deus, por isso o recebeu em parábola (19). Arbitrans quia et a mortuis suscitare potens est Deus unde eum et in parabola accepit. Porém a fé do patriarca tinha um fundamento sólido: Deus poderia ressuscitar dentre os mortos o filho sacrificado, pois era poderoso para o fazer. Por isso o recebeu em PARÁBOLA: Esta frase merece uma explicação. PARÁBOLA [parabolë <3850> =parabola] materialmente, significa colocar uma coisa ao lado de outra, como quando dois barcos lutam na abordagem. Metaforicamente, é comparação, exemplo, narrativa fictícia e até um provérbio usado como termo de comparação. Vejamos primeiro as diversas traduções: Por isso, o recuperou também em figura (Nácar Colunga). Por isso, numa espécie de prefiguração, ele recuperou o filho (TEB). De onde também figuradamente o recobrou (RA). Isso é um símbolo para nós (Esp). Por isso o recebes também tu como um símbolo (It). Seria o mesmo caso que em 9, 9 em que a construção do templo antigo e a conduta do sumo sacerdote era um exemplo [parabolë] para a época presente. Logo a recuperação de Isaac da morte, por intervenção divina, era um modelo do que aconteceria com Cristo, primogênito também, salvo da morte por desígnio e intervenção do Pai, após o sacrifício da cruz.

Evangelho ( Lc 12, 32-48)

ADVERTÊNCIAS DO SENHOR

INTRODUÇÃO: O evangelho deste domingo tem três exortações  diferentes, precedidas de um estímulo inicial: Não temas, (tu) ó pequeno rebanho! (sic) Vamos explicar, ponto por ponto, as diversas partes do mesmo.

1A PARTE: ESTÍMULO INICIAL

NÃO  TEMAS: Não temas, ó pequeno rebanho! Porque vosso Pai se agradou em dar-vos o Reino (32). Nolite timere pusillus grex quia conplacuit Patri vestro dare vobis regnum. Com as mesmas palavras [não temas] dirige-se Gabriel, o arcanjo, a Zacarias (Lc 1, 13) e a Maria (1, 30) ao anunciar uma boa-nova, tanto a um como a outra; ou seja, anuncia o evangelho particular de ambos. Sem dúvida, que aqui, Jesus se dirige a seus doze discípulos (12, 22), com uma notícia que é de esperança para eles: porque foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino (32). Que significam estas palavras? Teremos que compará-las com Lc 22, 28-30: porque permanecestes constantemente comigo em minhas tentações; também eu disponho para vós o Reino, como meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e bebais à minha mesa em meu Reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel. O ambiente em que Jesus pronuncia as primeiras palavras é de preocupação, porque o mesmo Jesus viu-se obrigado a ir furtivamente a Jerusalém; já que, como diz Marcos, nessa subida, os discípulos estavam assustados e acompanhavam-no com medo (10,32); ou como narra João, Jesus percorria a Galileia, não podendo circular pela Judeia, porque os judeus o queriam matar. E por isso subiu para a festa, não publicamente, mas às ocultas (ver Jo 7,1-14). Que tipo de reino era esse que o Pai complacentemente iria entregar? Era um convite da mais alta confiança: seriam os convivas no banquete, ou seja, nas delícias da nova escolha do povo, que tinha origem em Jesus, como seu rebanho do qual ele era pastor e rei. Mas dentro das estruturas do Reino, eles deveriam ser os juízes para julgar os que não quiseram entrar e impediram outros de entrarem dentro de sua organização. Jesus promete uma distinção especial que é como entregar os mais cobiçados cargos àqueles que tinham compartilhado das tribulações de Jesus durante sua vida. Outros identificam o julgar com o reinar como foi o caso do livro dos Juízes e assim se compreende melhor o porquê dos doze tronos, próprios dos que reinam e não das cadeiras judiciais. Podemos supor que ambas as opiniões podem entrar: os apóstolos reinarão e julgarão os seus conterrâneos acompanhando o soberano principal a quem o Pai deu o Reino, o poder, e que ele quer compartilhar com seus discípulos, assim como estes compartiram com ele suas adversidades e tribulações. O poder real e o domínio sobre todos os reinos debaixo do céu serão entregues ao povo dos santos do Altíssimo (Dn 7, 27). O pior é que os apóstolos entendem estas palavras de um modo material e estrito que não é precisamente o que Jesus queria deles.

VENDEI VOSSAS PROPRIEDADES: Vendei as vossas possessões e dai esmola; fazei para vós bolsas que não envelhecem um tesouro inextinguível será vosso nos céus onde ladrão não chega nem traça corrompe (33). Vendite quae possidetis et date elemosynam facite vobis sacculos qui non veterescunt thesaurum non deficientem in caelis quo fur non adpropiat neque tinea corrumpit POSSESSÕES: O grego diz literalmente as coisas sobre as quais tendes propriedade. Forma parte do primeiro conselho-mandato de Jesus nesta ocasião. Sem dúvida que uma das preocupações dos discípulos era como manter suas famílias e até a si mesmos sem ter uma base material. Jesus, de novo, dá uma lição de confiança na providência divina que cuidará de modo especial daqueles que dedicaram suas posses à ajuda dos mais necessitados. Quando Pedro pergunta que receberiam eles que tinham deixado seus bens para segui-lo, Jesus responde que receberão muito mais no tempo da vida presente e, além disso, a vida eterna (Lc 18,28-30). Marcos dirá que esse muito mais será cem vezes mais; Mateus, contrariamente ao que Lucas e Marcos narram, restringe a resposta de Jesus aos doze e, portanto afirmará que assentar-se-ão em doze tronos para governar as doze tribos de Israel. Feita esta digressão, observamos como Lucas, no trecho de hoje, aproveita uma lição, aparentemente particular, para estender o ensino à generalidade dos discípulos de Cristo. O melhor que podem fazer é segui-lo, deixando toda propriedade; porque dando seus bens aos pobres terão bolsas que não envelhecem, um tesouro que não falha nos céus, onde ladrão não se aproxima nem traça corrompe (23). Evidentemente que se trata de tesouros em forma de grãos ou mercadorias perecíveis. É a mesma advertência que Mateus recolhe no sermão da montanha: Não ajuntar tesouros [no sentido explicado de depósito ou armazém] onde a traça e a ferrugem os corroem. E os ladrões arrombam e roubam (Mt 6, 19-20). O que era uma exigência para os doze, se transforma agora numa séria advertência para os que querem ser verdadeiros discípulos.

ONDE ESTÁ TEU TESOURO: Porque onde está vosso tesouro aí também estará vosso coração (34). Ubi enim thesaurus vester est ibi et cor vestrum erit. Entendemos por tesouro um amontoado tanto de metais ou coisas preciosas como de mercancias, como trigo, frutos, salgados etc. Parece que Jesus cita um provérbio que não é precisamente religioso, nem muito menos evangélico, e que seria patrimônio de todas as culturas. Um único comentário: podemos substituir o coração por mente ou desejo. O coração do homem, ou seja, a imagem que representa a soma de suas energias e desejos, está sempre concentrado nas coisas que ele pensa serem  primárias em sua vida.

2A PARTE: A VIGILÂNCIA

A VINDA DO FILHO DO HOMEM: Estejam vossos lombos cingidos e as candeias acesas (35). Sint lumbi vestri praecincti et lucernae ardentes. Também vós semelhantes a homens que esperam pelo seu senhor quando voltar da festa, para que vindo e bater, imediatamente lhe abram (36). Et vos similes hominibus expectantibus dominum suum quando revertatur a nuptiis ut cum venerit et pulsaverit confestim aperiant ei. Sob este título da vinda do Filho do homem, podemos interpretar os parágrafos seguintes que constituem a segunda parte do discurso de Jesus. Com imagens aparentemente de extrema urgência, Jesus descreve a preparação para o fim escatológico que narra como iminente.  Podemos pensar que a escatologia não é uma vinda estrondosa ou espetacular, porque o Reino já está no meio de vós (Lc 17, 21). Alguns comentaristas falam da crise que viria no momento de paixão e morte de Jesus. É por isso que ele pede no horto das oliveiras: Orai para não entrardes em tentação (Lc 22, 40), que em Mateus e Marcos se completa com vigiai e orai para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26,41 e Mc 14, 38). Toda tribulação exige preparação que Jesus descreve com as imagens de cingir os quadris  e ter as lamparinas [luzes] acessas. Jesus emprega duas imagens para descrever, não tanto a incerteza do evento como a preparação em termos de vigília dos servidores. Como as túnicas dos orientais eram longas, como se fossem vestidos talares [até os calcanhares] eles as recolhiam, dobrando-as no cinto que cingia seus lombos (1 Rs 18, 46). Devemos distinguir também entre lampas [tocha] que usavam as virgens acompanhantes do esposo e lyxnoi [candeias ou lamparinas] que iluminavam as casas. Estas últimas são as que devem permanecer acesas, esperando a volta do dono de uma festa, pois gamoi em plural, não designa casamento, mas festa em geral; para que ao bater o dono, a porta lhe seja aberta de imediato.

BEMAVENTURADOS: Ditosos os escravos, aqueles os quais vindo o Senhor, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo que se cingirá e os reclinará e, passando entre eles, os servirá (37). Na realidade os servos não fizeram nada mais, além de cumprir seu dever; mas o dono os recompensa de um modo completamente insólito. Ele se torna escravo e os serve à mesa. É o tipo de exageração que ressalta o bem conseguido pela conduta impecável dos servos ao esperar, vigilantes, o seu dono. O caso se torna mais compreensível, caso seja Deus o dono.

AS VIGÍLIAS: E se vier na segunda vigília e na terceira vigília vier e encontrar dessa forma, ditosos são os escravos aqueles (38). Et si venerit in secunda vigilia et si in tertia vigilia venerit et ita invenerit beati sunt servi illi. No cômputo judeu, a noite estava dividida em três vigílias de quatro horas cada uma.  A parábola ou exemplo diz, pois, que devemos estar vigilantes como se fosse dia a noite inteira, pois a primeira vigília, é lógico que não sirva para dormir, mas com a terceira completamos a noite como se fosse um dia de trabalho, neste caso de espera. Não importa a hora, o que é preciso é estar despertos para que o dono não encontre os servos dormidos.

O LADRÃO: Isto, pois, sabei, que se o dono da casa conhecesse qual a hora, em que o ladrão havia de vir, vigiaria e não deixaria furar a sua casa (39). hoc autem scitote quia si sciret pater familias qua hora fur veniret vigilaret utique et non sineret perfodiri domum suam. Um outro exemplo para recalcar a necessidade de estar vigilantes e preparados: se o dono da casa soubesse o momento exato em que o ladrão escolhesse para entrar furtivamente, ele vigiaria e não deixaria que sua casa fosse furada. Alude Lucas ao modo de construir as casas, de adobe, de modo que era mais fácil penetrar nelas através de um buraco nas paredes que arrombando a porta das mesmas.

O FILHO DO HOMEM: Também pois vós ficai preparados porque na hora em que não pensais o Filho do Homem vem (40). Et vos estote parati quia qua hora non putatis Filius hominis venit. Parece um acréscimo sem sentido esta alusão. É talvez uma redação reflexiva de Lucas, preocupado com o problema escatológico da vinda do Senhor. Ele traz a observação como um parêntese surgido ao narrar os fatos do evangelho. É curioso que o problema do Reino, que enche grande parte das parábolas e ditos de Jesus nos sinóticos, só aparece em duas ocasiões em João: como explicação a Nicodemos sobre o nascer de novo para entrar no reino e como resposta a Pilatos que pergunta se ele é rei. O problema da vinda triunfante do Senhor era crucial nos primeiros tempos do cristianismo, como vemos na carta primeira aos Tessalonicenses, escrita no verão do ano 50. Essa expectativa está presente em todo este trecho de Lucas em que o Senhor Jesus chama a si mesmo Filho do Homem que aparece em Lucas 24 vezes e sempre com artigo: o Filho do Homem. Precisamente é o artigo  que o distingue de um ser humano comum para entrar na escatologia; pois é o Jesus que representa o reino divino como chefe e soberano do mesmo, segundo Daniel 7,13-14. É o Jesus da resposta ao Sumo Sacerdote Kaifás: O Filho do Homem sentado à  direita do poder de Deus (Lc 22, 69) e vindo sobre as nuvens do céu (Mt 26, 64). Deste modo, este segundo trecho está relacionado com a expectativa escatológica dos primeiros cristãos. A questão da vigilância é comum com o discurso escatológico da ruína de Jerusalém (Lc 21, 34-36). Esta passagem tem seus duplicados em Mc 13, 33-37 e Mateus 24, 37-44.

3A PARTE: O ADMINISTRADOR FIEL

A PERGUNTA DE PEDRO: Então lhe disse Pedro: Senhor, dizes esta parábola para nós ou também para todos? (41). Ait autem ei Petrus Domine ad nos dicis hanc parabolam an et ad omnes? A parábola é para nós ou para todos? Pedro era o porta-voz dos doze e, por isso, ele pergunta se o ensinado por Jesus em forma de exemplo, é só para eles, os doze, ou para toda a multidão dos quais se consideravam como discípulos. Jesus não responde diretamente à pergunta, mas indiretamente dá uma lição de conduta para todos os que têm na comunidade um cargo de autoridade, de mandato, que deve se transformar em serviço. Todos são administradores com responsabilidade e é sobre como deve ser dirigida e exercitada essa responsabilidade que Jesus narra a seguinte parábola com três tipos diferentes de escravos em postos de responsabilidade.

PRIMEIRO TIPO DE ESCRAVOS: Disse-lhe, pois, o Senhor: Quem, portanto é o fiel mordomo e prudente o qual constituirá o Senhor sobre seu serviço para dar no tempo oportuno a porção de trigo? (42). dixit autem Dominus quis putas est fidelis dispensator et prudens quem constituet dominus super familiam suam ut det illis in tempore tritici mensuram. Ditoso o escravo aquele que vindo o Senhor encontrar fazendo isso (43). Beatus ille servus quem cum venerit dominus invenerit ita facientem. Em verdade vos digo que o constituirá sobre todas as suas posses (44). vere dico vobis quia supra omnia quae possidet constituet illum. MORDOMO [oikonomos<3623>=dispensator] É o mordomo responsável de modo que não exista roubo nem dolo e ao mesmo tempo sábio, inteligente, de forma que saiba distinguir entre o necessário e o puramente acidental, entre o que deve ser feito para gastar e guardar o patrimônio, para o serviço da casa [therapeia<2322>=familia] como diz Lucas, pois o principal era o cuidado de dar no tempo a refeição de pão necessária [ração de trigo no original]. A VOLTA DO DONO: Parece que Jesus está pensando numa ausência e que satisfatoriamente o dono encontra tudo como tinha planejado. Por isso o abençoa e o recompensa como administrador total de suas posses.

SEGUNDO TIPO: Mas se disser o escravo esse consigo mesmo: Demora meu dono em vir. E começa a bater nos criados e criadas, a comer e beber e se inebriar (45). Quod si dixerit servus ille in corde suo moram facit dominus meus venire et coeperit percutere pueros et ancillas et edere et bibere et inebriari. Virá o dono desse escravo no dia em que não espera e na hora que não conhece. E o cortará em dois e a sorte dele porá com os infiéis (46). Veniet dominus servi illius in die qua non sperat et hora qua nescit et dividet eum partemque eius cum infidelibus ponet. O servo irresponsável. Agora Lucas emprega a palavra certa: doulos, escravo, pois, no tempo de Jesus, eram os escravos domésticos os que se encarregavam da administração das casas ricas. Agora o escravo do modelo tem uma conduta que podemos chamar de irresponsável, pois primeiro pensa que seu dono demorará na volta e logo começa a atuar como dono real, batendo nos escravos e escravas e desfrutando da vida, comendo, bebendo e embriagando-se. Parece uma descrição do que era, na época, a vida dos ricos. O resultado de semelhante conduta não pode ser mais desastroso. Virá o dono desse escravo no dia não esperado e na hora que é desconhecida e o partirá em dois (sic) e o colocará entre os que não merecem confiança. Logicamente partir em dois deve ter um significado metafórico, não real, porque logo está vivo como para poder ser colocado entre os servos que não merecem confiança. Ou seja, o tratará como um escravo fugitivo.

TERCEIRO TIPO: Porém, aquele escravo que conhecendo a vontade do seu dono e não se preparou nem fez conforme a vontade dele, será espancado muitas vezes (47). Ille autem servus qui cognovit voluntatem domini sui et non praeparavit et non fecit secundum voluntatem eius vapulabit multas. Jesus descreve a conduta daqueles que conhecem a vontade do dono, mas nem se preparam [para recebê-lo] nem a cumprem, receberão como castigo uma boa surra de paus. Era o castigo comum na época para os escravos cuja conduta desagradava o dono.

ÚLTIMO TIPO DE CONDUTA REPROVÁVEL: Aquele, pois, que não conhece a vontade do dono, mas faz coisas que merecem  golpes,  será golpeado poucas (vezes). A todo, pois, que muito foi dado muito será exigido dele; e ao que muito lhe foi oferecido [apresentado] mais se pedirá dele (48). Qui autem non cognovit et fecit digna plagis vapulabit paucis omni autem cui multum datum est multum quaeretur ab eo et cui commendaverunt multum plus petent ab eo. O grego termina com o adjetivo poucas ao qual devemos logicamente acrescentar o nome que aqui parece mais apropriado, vezes ou golpes.  MORAL DA HISTÓRIA: Deus dá de graça seus dons [o foi dado tem como sujeito ativo Deus, sendo, pois, uma passiva impessoal]; mas não quer que estejamos preguiçosos sem nada fazer. Por isso, termina dizendo que a exigência depende da abundância do dom recebido.

PISTAS:

1) É de destacar a insistência de Lucas e de sua comunidade na esmola como meio de vida cristã. Existem duas maneiras de viver em radicalidade, por não dizer totalidade, o evangelho: renunciar aos bens terrenos, ou repartir com os necessitados as riquezas de que somos administradores e não donos absolutos. A segunda parte pode ser tomada como uma adaptação do evangelho aos dirigentes das comunidades em que devia existir uma administração de bens comuns, como narram os Atos 4, 34-35. Porém, se pensamos que Deus está presente como dono de tudo, também a segunda parte está intimamente unida à primeira, de modo que o dinheiro será o teste para saber quem é melhor administrador e como ele será considerado pelo dono absoluto que é Deus. O dinheiro é apontado como teste de nossa honradez e fiabilidade para com Deus.

2) O nosso tesouro é o amor em nossos corações, que é o maior fruto do Espírito (Gl 5, 22). No caso das riquezas materiais, o amor nos impele a seguir o exemplo de Zaqueu: Dar a metade aos pobres. Isso pelo menos deve ser feito com o chamado supérfluo de nossos bens. Melhor: todo o supérfluo como diz Tobias (4, 16) pertence aos pobres. Por isso uma norma que pode ser exigida na atualidade é que gastemos tanto em esmola como gastamos em diversões. Isso não nos torna mais pobres e torna mais ricos os pobres.

3) A exortação à vigilância é hoje uma exortação a uma vida austera e simples. Não temos uma ameaça de destruição como era a de Jerusalém; porém temos uma ameaça que está num futuro próximo: a do meio-ambiente. Se não sabemos ser austeros em nossas vidas e dilapidamos o que temos, que poderão herdar os futuros habitantes da terra?

4) A última parte do evangelho é, segundo muitos, uma referência ao purgatório. Não é a fé que determina o prêmio ou o castigo; mas a fidelidade à vontade do Senhor. Especialmente se consideramos que o dono é uma figura representativa do próprio Deus.


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"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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