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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com

. Evangelho de 10/10/2010 - XXVIII Domingo do Tempo Comum
. Evangelho de 26/09/2010 - XXVI Domingo do Tempo Comum


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

10.10.2010
XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

__ “A FÉ SE TORNA AÇÃO DE GRAÇAS” __

Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! O anúncio do reino de Deus é anúncio de salvação, proclamado não só com a palavra, mas também com ações. Os milagres confirmam o triunfo do Espírito sobre satanás, e é por isso que Jesus, investido do Espírito, entra em luta com satanás no deserto. O Cristo é o homem forte, que, lutando arduamente, tira o espírito do mal aquilo que ele usurpou. Jesus inaugura o reino messiânico destruindo a obra do adversário. Entoemos cânticos ao Senhor!

(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (2Rs 5, 14-17): - "Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel!"

SALMO RESPONSORIAL 97(98): - "O Senhor fez conhecer a salvação e às nações revelou sua justiça."

SEGUNDA LEITURA (2Tm 2,8-13): - "Merece fé esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos."

EVANGELHO (Lc 17,11-19): - "Levanta-te e vai! Tua fé te salvou."



Homilia do Diácono José da Cruz – XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)

A FÉ COR DE CINZA

Às vezes entre os próprios cristãos há uma anedota de que, para a pessoa ser crente, tem que ser direita, séria, a Fé nesse caso é avaliada pelas atitudes, deixou de fumar, de beber, de levar uma vida devassa, dizem que a pessoa então, virou  crente, e qualquer não participação da mesma, em algo que signifique diversão e descontração, lá vem alguém com a piadinha desrespeitosa: “ Esse aí virou crente”

Penso que ter uma nova atitude, a partir do momento em que se encontrou Jesus Salvador, e o proclama-se Senhor da nossa Vida e da nossa História, é válida e deve ser respeitada, principalmente em meio a uma sociedade marcada pelo ateísmo.

Essa Fé cor de cinza que eu quero aqui abordar, vai além dessas aparências que possam sinalizar uma vivência cristã na vida das pessoas. É exatamente a Fé daqueles nove leprosos que não voltaram, recebendo a crítica do evangelista Lucas nesse evangelho do 28º Domingo do Tempo Comum.

Provavelmente em nossas igrejas cristãs, nos sentiremos exortados por essa palavra, para que tenhamos sempre a atitude do Leproso que voltou  para dar glória a Deus, pelo dom da sua cura. Certamente muitos pregadores irão dar enfoque à virtude da gratidão, dizendo que diante de Deus devemos ser gratos, no que não estão errados, no fundo a mensagem seria mesmo essa. Mas tenho como proposta fazer uma reflexão ainda mais profunda, válida para todos os que se declaram e se sentem cristãos: qual a diferença entre os nove que não voltaram, e aquele que voltou?

Até o momento em que  encontraram Jesus, eles eram exatamente iguais, vítimas da mesma desgraça, a lepra, uma doença que acabava com a alegria de viver, porque o homem, longe do seu semelhante, isolado de seus irmãos, se transforma em um “Bicho Triste”. Banido da sociedade, da família e da comunidade.

O texto não fala que um suplicou mais do que o outro, ou que um gesticulou, ou ficou de cabeça baixa, ou que alguém entre eles, se ajoelhou, simplesmente pararam á distância e clamaram por misericórdia. Vendo-os Jesus disse “Ide mostrar-vos aos sacerdotes”. Até aqui, portanto, nenhuma diferença, tudo exatamente igual, mas  aconteceu que enquanto caminhavam ficaram purificados....aqui começa a diferença de atitudes....e a Fé começa a ter uma cor.

Os dez se deram conta de que algo de extraordinário tinha acontecido com eles, a partir daquele momento não eram mais leprosos, poderiam voltar de imediato ao convívio dos familiares, dos amigos, e da comunidade, acabou-se a confinação, o isolamento, a vidinha triste do acampamento de Leprosário, se tinham esposas ou mães e pais, irmãos e irmãs, quem sabe alguma noiva, tudo havia agora se renovado, a vida recomeçava  com um horizonte novo e promissor. A cura não era mais uma promessa, mas realidade palpável e concreta, pele limpa, mãos e rosto intacto e sem deformações monstruosas. Podiam comemorar e extravasar toda alegria presentes na alma e no coração.

Com certeza, os dez sentiram naquele momento toda essa euforia , entretanto, na comemoração, só um deles teve a ousadia de “extrapolar”, não havia como deixar fora desse clima de Festa, Aquele que realizara tal prodígio, seria impensável para ele, prosseguir o caminho sem antes festejar a cura com aquele que o havia curado, mas junto com a alegria também o sentimento de gratidão,Simplesmente  porque acaba de ser curado. Não damos glória a Deus porque somos bons cristãos, praticantes da religião, cumpridores das obrigações cristãs, mas damos Glória a Deus, porque o seu Amor é grandioso e infinito, e em Jesus o Filho de Deus, já podemos sentir esse amor extremamente misericordioso.

Imagino que no caminho de volta esse homem fez a maior festa, cantando, dançando, dando murros no ar para extravasar a sua incontida alegria. A sua Fé tinha a cor da alegria, era uma Fé contagiante, marcada antes de tudo pelo encanto que começara a sentir pela pessoa de Jesus, por isso o Senhor irá lhe dizer “Vai, a tua Fé te salvou”.  Os outros nove continuaram curados da lepra, mas este estrangeiro acabara de descobrir que comente Jesus, Salvador e Redentor consegue dar um sentido novo á nossa vida, somente ele é a razão de se viver.

Provavelmente procurou o Sacerdote, representante da Instituição, que iria apenas confirmar aquilo Jesus realizara em sua vida, o verdadeiro rito manifesta aquilo que é essencial, sinalizando o agir Divino.

Em todos os domingos, nós cristãos temos um encontro privilegiado com Jesus em nossas comunidades, sua palavra nos encanta e a Ceia Eucarística que é o seu Corpo e Sangue, passa a fazer parte do nosso Ser Existencial,  O Mistério da Força da Eucaristia nos desinstala de nós mesmos, nos leva a buscarmos a comunhão com as pessoas que nos cercam e com quem convivemos na Comunidade, na Família e na Sociedade.

Qual a cor da Fé que manifestamos em nossas celebrações? Se for a do rito formal de uma liturgia “quadrada” que sufoca em nós a alegria de manifestar o amor de Deus, se for a de um formalismo religioso vivido em uma igreja das obrigatoriedades e preceitos, ela será sempre CINZA como a dos nove Leprosos, que preocupados com o aspecto legalista da relação com Deus, esqueceram ou não quiseram comemorar com Aquele que é a causa, a razão e o sentido desta Vida Nova que nos libertou da tristeza do pecado.

Fé que se fecha em nossas igrejas, não irradia alegria de ser amado, e não contagia as pessoas com quem convivemos, será sempre cor de CINZA, e nossas celebrações serão sempre enfadonhas, monótonas, não vemos a hora de acabar, para voltar ao Leprosário do nosso egoísmo, do mundinho religioso que inventamos, onde nada mais enxergamos além do próprio umbigo. Essa Fé não salva e nem cura ninguém, nem a nós mesmos...

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)

“Justificados pela fé”

Na semana passada, refletimos sobre a fé. Gostaria de continuar com o mesmo tema, mas dessa vez desde outra perspectiva. O que acontece é que eu também, como você, escutei na passagem do Evangelho oferecido pela liturgia de hoje o seguinte: “Levanta-te a tua fé te salvou” (Lc 17,10). Ou seja, a fé salva!

Martinho Lutero foi um sacerdote agostiniano alemão que viveu no século XVI, homem de grande inteligência e de uma fina sensibilidade. Atormentado pelos seus escrúpulos de consciência e sentindo-se oprimido pelas normas da religião, passou por uma experiência que mudaria a sua vida. Leu Rm 1,17: “o justo viverá da fé”. Lutero entendeu que bastaria a fé, somente a fé, para salvar-se; as obras não contariam para nada nesse processo de salvação. A partir daquele momento, seria clássico o tripé luterano: Sola fides! Sola gratia! Sola Scriptura! A tradução é fácil: Somente a fé! Somente a graça! Somente a Bíblia! Com exclusão das obras, do esforço ascético e da Tradição da Igreja. Logicamente, a partir daquele momento, Lutero já não se sentia ligado à autoridade da Igreja Católica para interpretar a Sagrada Escritura. Curiosamente, parece que Lutero não leu muito bem o seguinte capítulo da Carta aos Romanos que, entre outras coisas, nos diz que Deus “retribuirá a cada um segundo as suas obras” (Rm 2,6), nem tampouco o que escreveu o mesmo Apóstolo aos gálatas: que a fé “opera pela caridade” (Gl 5,6).

Enfim, o Concilio de Trento teve que tratar dessa questão e fê-lo magistralmente no ano 1547. O fruto daquela Sessão VI do Concilio foi o valiosíssimo Decreto sobre a justificação. É interessante observar que, desde o começo, o Concilio não se preocupou em dar uma interpretação imediata a uma passagem concreta, como poderia ser Rm 1,17, mas primeiramente quis conhecer profundamente o que significa ser justificado, ser justo, o que quer dizer “justificação”. Depois de deixar claro até que ponto chegou o drama do ser humano – pecador, imundo, separado de Deus, com uma vontade e uma liberdade enfermas, incapaz de salvar-se a si mesmo –, nos explica que a salvação nos vem de Jesus Cristo. Ele nos salvou, mas cada de um nós tem que deixar-se lavar pelo seu sangue purificador. Finalmente, o Concilio nos diz que a justificação não é somente remissão dos pecados, mas também santificação e renovação do homem interior pela voluntária recepção da graças e dos dons. E qual é o papel da fé na justificação já que a Escritura afirma que o somos justificados pela fé (cfr. Rm 1,17; 3,28)? O Concilio interpreta essas palavras da Escritura com outras: “sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11,6). Ser justificado pela fé, ser salvado e santificado pela fé, significa que para ser justo diante de Deus é preciso antes crer que ele existe e que é a causa da nossa santificação. Com efeito, como estar inserido em Cristo se não cremos nele e se não permitimos, livremente, que ele entre nas nossas vidas? Deus é muito cortês, se nós não permitimos que ele entre na nossa casa, ele não entrará, mas continuará insistindo.

“Levanta-te a tua fé te salvou” (Lc 17,10). Abracemos cada vez mais a salvação doada por Cristo a cada um de nós, mas não nos esqueçamos de que é importante voltar para agradecer com obras e na verdade. Aquele samaritano, que antes era leproso como os outros, quis percorrer o caminho de volta para agradecer a Jesus pessoalmente prostrando-se aos seus pés. A sua fé foi acompanhada por umas quantas obras que mereceram um elogio e uma exclamação de Jesus: “Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?!” (Lc 17,18). Agradeçamos ao Senhor “opere et veritate”, com obras e na verdade, pois, salvados em Cristo Jesus, “esforçai-vos quanto possível por unir à vossa fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o amor fraterno, e ao amor fraterno a caridade. (…) Portanto, irmãos, cuidai cada vez mais em assegurar a vossa vocação e eleição” (2 Pd 1,5-10). Sim, a nossa fé nos salvou, mas é preciso continuar cuidando – por uma vida santa – essa salvação para que aumente em nós e para que um dia seja eterna e vejamos, face a face, a Deus Pai e Filho e Espírito Santo.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (2 Tm 2,8-13)

INTRODUÇÃO: Paulo exorta Timóteo a ser fiel à palavra do evangelho, que em Jesus vê o Cristo Ressuscitado. Paulo espera que seus sofrimentos por ter sido ministro dessa palavra, sejam a causa de sua glória com Cristo; pois declara que compadecer com Cristo é a base de ser glorificado com Ele. E finaliza dizendo que apesar de sermos desleais, Ele nunca pode ser igual a nós, pois não pode se negar a si mesmo. Logo sua palavra permanece imutável e nela devemos confiar.

JESUS CRISTO: Lembra-te de Jesus Cristo, tendo sido levantado dentre os mortos, da semente de Davi, segundo o meu evangelho (8). Memor esto Iesum Christum resurrexisse a mortuis ex semine David secundum evangelium meum. LEMBRA-TE: O judaísmo era uma religião de lembranças, que tinha suas festas como recordação dos fatos, em que a mão de Jahveh foi vista claramente em favor de seu povo eleito. Tal é a Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos. Era também uma religião de testemunhas, pois os profetas recebiam as visões e palavras de Jahveh como declarações e atestados em que o povo devia acreditar para a sua salvação. Assim mesmo o cristianismo é uma religião de memórias, a começar pela Eucaristia [fazei isto em minha memória], de fatos em que o amor divino se manifestou de modo insuperável em contra do ódio satânico como na cruz; e sua onipotência triunfou sobre o poder supremo da morte com a ressurreição. Também é uma religião de testemunhos em que visões e revelações têm existido em todos os tempos, inclusive nos mais próximos, como Paray le Monial, Lourdes e Fátima para citar os últimos, aceitos pela Igreja universal. Deus não é um Deus longínquo, mas próximo do homem, que se revela e se apresenta em formas que o homem pode ver e das quais ser testemunha a outros homens. A memória, pois, da revelação e dos fatos experimentados constitui a base da fé e Paulo acentua de modo especial a da Ressurreição como alvo derradeiro da vida: Se Cristo ressuscitou, nós também poderemos ressuscitar com Ele, pois se a morte entrou por um homem, também por um homem a ressurreição dos mortos (1 Cor 15, 21). E como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo (1 Cor 15, 22). LEVANTADO: Assim o fato principal, do qual a memória tem sido a base testemunhal fundamental, é a Ressurreição de Cristo. De maneira que se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé e ainda permanecemos em nossos pecados (1 Cor 15,17). Nada de estranho que Paulo lembrasse a Timóteo desse fato essencial. Ao traduzir em passiva o verbo egeirö [<1453>=surgere], a tradução seria ser levantado o que implica a ação divina na ressurreição de Jesus. SEMENTE: [sperma <4690>=semen] é a semente de uma planta; também o sêmen viril que, segundo o pensar antigo, era como uma semente que continha o novo ser, semeado no ventre materno que fazia ocasião de terra fértil até o nascimento. Daí que seja também prole ou descendência, como é no caso atual. É a palavra usada por Lucas em 1, 55: como falou a nossos pais, para  Abraão e sua posteridade [spermati] para sempre.

ACORRENTADO: No qual estou padecendo até correntes como um malfeitor; mas a palavra de (o) Deus não está acorrentada (9). In quo laboro usque ad vincula quasi male operans sed verbum Dei non est alligatum. CORRENTES [desmoi<1199>=vincula] Uma das testemunhas fundamentais da ressurreição de Cristo era Paulo. Sua autenticidade e veracidade tinham uma base facilmente verificável: as correntes que todo preso especial carregava como testemunho de sua culpabilidade. De Pedro lemos em At 12, 6-7 que estava preso com duas cadeias, que à vista do anjo cairam-lhe das mãos. O latim vincula como o grego desmoi significa ligações, e em particular, em plural, significa prisão ou cárcere, pois nestes casos as ligações eram cadeias ou correntes de ferro [em grego alusis<254>=catena] que nas mãos se traduz por algemas e nos pés no plural por grilhões e em grego pedë [<3976>=compedes]. Temos o exemplo de At 16, 24: Paulo estava sujeito aos pés por um cepo de madeira [seguros os pés no madeiro é a tradução literal]. Num mundo em que o preso era encerrado com duas correntes que amarravam as mãos à parede e por vezes com um cepo nos pés numa cela sem luz, tudo por pensar que o detento era culpado até que se provasse sua inocência, o carcereiro tomava todas as precauções para que o preso não pudesse se soltar; pois a falha condenava o carcereiro a uma morte extremamente dolorosa e humilhante. Foi por isso que, o carcereiro de Paulo em Filipos tentou se matar ao ver as portas do xadrez abertas e pensar que os presos tinham escapado  (At 16, 27). Que Paulo estava encadeado o sabemos por 2 Tm 1, 16 : O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes me recreou e não se envergonhou das minhas cadeias [alusin]. A PALAVRA [o logos<3056>=verbum] com artigo, pode significar a segunda pessoa da Trindade, segundo João 1, 1; mas no NT em geral, é a palavra de Deus, testemunhada pelos apóstolos e escrita nos evangelhos. Essa palavra é agora também lida nos evangelhos e interpretada e testemunhada pelos novos sucessores dos apóstolos, Papa,  bispos em comunhão e fiéis em observância. Essa palavra não está acorrentada, e por isso, hoje a Igreja tem o direito e dever de iluminar com a verdade revelada, o Cristo (Jo 14, 6), o destino final do homem e a felicidade e modo de viver para obter a mesma na terra. Existem na Igreja duas maneiras de evangelizar: ministerial e carismática. A tradição se complementa com a ação do Espírito que age com poder [sobrenatural] como afirma Paulo. Porém a pergunta essencial de todo homem é não tanto o para que, mas o para quem. Daí que Paulo explica o porquê de sua prisão: a palavra não pode estar acorrentada, embora seus propagadores o sejam.

A SALVAÇÃO: Por isso, todas as coisas suporto, por causa dos escolhidos, a fim de que também eles obtenham a salvação, a de em Cristo Jesus com glória sem fim (10). Ideo omnia sustineo propter electos ut et ipsi salutem consequantur quae est in Christo Iesu cum gloria caelesti. SUPORTO [ypomenö<5278>=sustineo] do grego significa permanecer, continuar, tolerar, suportar, aguentar. É neste sentido de tolerar, padecer e sofrer sem se render, que Paulo usa o verbo. E a razão é a SALVAÇÃO [söteria<4991>=salus]. A tradução de söteria é libertação, resgate, salvação, especialmente do inimigo, por uma ação de terceira pessoa. O inimigo é o pecado e o seu instigador o diabo. A Escritura descreve quatro diferentes modos de salvação do pecado: da pena, do poder, da presença e do prazer. A moderna Teologia toma a libertação como um ato de salvação de condições materiais escravizantes. A Teologia tradicional coloca o inimigo no pecado. É verdade que temos em Lucas, capítulo 1, no cântico de Zacarias ambas as interpretações: 1) A salvação dos inimigos materiais no versículo 69: levantou uma força [corno no original] de salvação [söterias] na casa de e Davi, seu servo, inimigos que declara no versículo 71: salvação [söterian] de todos os nossos inimigos e da mão e todos os que nos odeiam. 2) E a salvação espiritual do pecado no versículo 77: Para dar ao seu povo conhecimento da salvação [söterias], na remissão dos seus pecados. Em todos os casos, a tradução latina de söteria é salus,tis, de onde se origina a palavra salvação. Já em Paulo unicamente encontramos a palavra söteria com o significado de remissão dos pecados através da redenção [lytron<3083> ou apolytrösis<629>] (1 Tm 2, 6) que é o preço do sangue de Jesus em resgate nas palavras de Jesus: o filho do homem não veio para ser servido mas para servir e dar sua vida em resgate [lytron] de muitos (Mt 20, 28). A única diferença é que Paulo emprega apolutrösis no lugar de lytron. E a mais clara citação sobre a redenção [apolytrösis] é Ef 1, 7: Em quem [Jesus] temos a redenção [apolytrösin] pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo a riqueza da sua graça. Ideia que repete em Cl 1, 14, de modo que não podemos afirmar seja um apax casualmente encontrado em Efésios. Sem, pois, rejeitar a ideia do AT de uma salvação de inimigos materiais, a verdadeira redenção é a salvação dos pecados mediante o sangue de Jesus na cruz, fato confirmado por Lucas o escrevente do seu evangelho em 22, 20: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós, que Mateus afirmará para remissão dos pecados (26, 23). GLÓRIA SEM FIM [doxës<1391> aiöviou<166>=gloria coelesti]. Doxa é o esplendor, magnificência e majestade divinas, das quais seremos partícipes, os salvados pelo sangue de Jesus. Essa glória será sem fim, palavra que tem a mesma raiz que aei [sempre] de modo que a tradução seja glória sempiterna, ou seja, definitiva, sem fim.

UM CÂNTICO: Fiel a palavra: Se, pois, morremos com ele também viveremos com ele (11). Fidelis sermo nam si conmortui sumus et convivemus. Parece que Paulo cita um velho hino cristão que se inicia com a frase seguinte, que acompanha a palavra. MORREMOS é o primeiro versículo. A palavra morrer com Cristo tem dois significados; 1º) Comum a todos os cristãos como é ilustrado em Rm 6, 3-5: todos  quantos fomos batizados em Cristo fomos batizados na sua morte, de sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte…porque se fomos plantados juntamente com ele na semelhança de sua morte, também o seremos na da sua ressurreição. 2º) O martírio que é provavelmente o significado com o qual Paulo apresenta o hino, pois ele estava numa situação em que seu testemunho era vital e que ele afirmaria mais tarde com a sua própria morte.

SEGUNDO VERSÍCULO: Se suportamos, também reinaremos com ele; se negamos, também ele nos negará (12). Si sustinemus et conregnabimus si negabimus et ille negabit nos. SUPORTAR [ypomenö  <5278>= sustinere] permanecer, ficar, tolerar, suportar, aguentar, esperar, resistir, manter-se firme, padecer, aguentar, sofrer com perseverança. Este último significado é o que melhor se acomoda às circunstâncias em que Paulo escreve a sua carta. O sofrimento de uma prisão romana era particularmente grave: sem luz, sem movimento, acorrentado às paredes da minúscula cela, malcheirosa e fria, como dá a entender ao pedir a capa (4, 13). O sofrimento é causa de mérito, pois o Reino é a resposta dEle, como indicou nas bemaventuranças (Mt 5, 10-12). NEGAR [arneomai<720>=negare] negar, abjurar, rechaçar, recusar, renegar. Também Jesus o afirmava: Qualquer que me negar diante dos homens eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus (Mt 10, 33).

FINAL: Se não somos fiéis, ele permanece fiel: não pode negar-se a si mesmo (13). Si sustinemus et conregnabimus si negabimus et ille negabit nos. INFIEL [apisteö<569>=não credere] com o significado de trair a confiança, infiel, não acreditar. Não é o mesmo negar que ser infiel. Pedro negou e os outros apóstolos foram infiéis.  A negação está no testemunho de boca; a infidelidade, na conduta imprópria e na covardia de quem cala ante a maldade, que é contrária à bondade para a qual fomos escolhidos. É o pecado de todo aquele que for contrário à máxima que diz ama o próximo e tenta fazer agradável a vida do mesmo. A vida verdadeira –cuja consequência é a vida eterna- só se logra lutando por fazer profunda e limpamente o bem aos outros. NEGAR-SE [arnësasthai<720>=negare se], Deus não pode negar-se a si mesmo: Ele é puro amor, entrega, sem ódios nem rejeições. Isso implica que Deus sempre será fiel como vemos em (Rm 3, 3): Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade aniquilará a fidelidade de Deus? Estas palavras nos lembram a parábola do filho pródigo. O pai abandonado não deixa de esperar a volta do pródigo e o recebe em triunfo, como se nada tivesse acontecido. Essa fidelidade divina é a essência de sua natureza. Deus é sempre fiel. Deus é sempre Amor. Porém é o homem que voluntariamente se separa de Deus. É o homem que quer controlar Deus e ter assim o poder de frear sua justiça quando se separa da ordem estabelecida. O homem que pensa que Deus é só Pai e, portanto não existe o castigo, esquece que o maior castigo é o da consciência, juiz que obriga o culpado a não aceitar o amor do pai e rejeitar a misericórdia do ofendido, como vemos em Judas, após sua traição. Pelo contrário, nunca melhor vivemos, mais felizes, que quando a consciência está tranquila. O Inferno existe e é escolhido voluntariamente pelos que não querem admitir o amor como supremo dirigente de suas vidas. Seremos julgados [nos julgaremos a nós mesmos] pelo que temos sido capazes de amar, não pelo que nos tenham amado os outros e especialmente o Outro que é Deus, cujo amor [e perdão] é definitivamente rejeitado. Realmente a condenação, segundo esta norma substancial, não depende de Deus, mas de nossa conduta errada e consciência culpável. Um exemplo: Pode ser perdoado um ladrão que se nega a devolver o roubado? A quem ajudará a justiça divina: ao ladrão, por ser pai, ou ao espoliado, por ser justo? Poderá amar mais o ladrão que o injustamente privado dos seus bens? Nossa conduta não é indiferente à sua justiça; porque o amor não pode se opor ao injustamente ofendido. Sempre a conduta humana tem consequências que implicam a justiça pelo mal feito ao próximo.

EVANGELHO (Lc 17, 11-19)
OS DEZ LEPROSOS

INTRODUÇÃO: Os milagres de Jesus são sinais da presença salvadora do Reino de Deus e parte integrante da boa nova que o Cristo anunciou com suas palavras e confirmou com suas obras. A limpeza dos leprosos, além do fato em si, tem um simbolismo extra: Jesus não cura unicamente os corpos, mas limpa de impurezas as almas, fato que no caso nosso aponta o sacramento da reconciliação por intermédio do sacerdote. Ao mesmo tempo que Jesus cumpre a lei do Levítico, exige a fé dos doentes, que devem abandonar sua aldeia, para se dirigir a Jerusalém. Jesus sente o agradecimento do samaritano, ao mesmo tempo que nota, com certa amargura, a falta de reconhecimento por parte dos outros nove que eram galileus. Jesus expressa, como homem, um sentimento que poderíamos encontrar em Deus, ao contemplar muitas condutas humanas que vivem esquecendo os muitos e grandes benefícios recebidos do alto.

DE CAMINHO: Então sucedeu ao caminhar ele para Jerusalém que também ele passava pelo meio da Samaria e da Galileia(11). Et factum est dum iret in Hierusalem transiebat per mediam Samariam et Galilaeam. AO CAMINHAR: É a terceira vez que, nesta parte do seu evangelho, Lucas cita, como circunstância temporal e geográfica, Jerusalém (9, 51; 13, 22 e esta de hoje). É o ambiente de viagem para seu último destino que dirige os atos e as palavras do grande Mestre, segundo a forma de relato escolhido pelo evangelista. Parece, como se quisesse pintar a vida humana de Deus, dependendo do seu último destino, que é um sacrifício final, não sem antes fazer o bem e se mostrar como mestre único da verdade e da solidariedade. TAMBÉM ELE: A frase é um pouco misteriosa. Provavelmente se refere à rota comum que os peregrinos usavam para se trasladar do Norte até Jerusalém, no Sul. PELO MEIO DA SAMARIA E DA GALILEIA: Como alguns autores declaram, a frase é um caso típico da inaptidão geográfica de Lucas. A tradução da vulgata per médium Samariam et Galilaeam é a escolhida pela VA evangélica. A não ser que o grego seja usado de forma irregular e pudéssemos traduzir através da Galileia e da Samaria (nessa ordem) ou atravessando a Samaria e a Galileia, e não pelo meio delas na ordem em que as encontramos no texto grego, como se a Samaria estivesse mais afastada de Jerusalém do que a Galileia. A geografia não é tema dominado por Lucas. O texto português moderno traduz: passava entre a Samaria e a Galileia. Das diferentes bíblias somente três: a latino-americana, a francesa e a inglesa  traduzem pelos confins [frontieres [Fr] ou border [Ing]} entre, a Samaria e a Galileia. Supostamente, a menção imprecisa entre as duas regiões só serve para justificar a presença do personagem principal entre os leprosos, ou seja, a daquele que era samaritano, cuja presença só poderia ser possível por estar Jesus passando entre os limites de ambos os territórios.

OS DEZ LEPROSOS: E,  entrando Ele numa vila, saíram ao seu encontro dez homens leprosos os quais plantaram-se de longe(12). Et cum ingrederetur quoddam castellum occurrerunt ei decem viri leprosi qui steterunt a longe. A LEPRA: Não podemos logicamente obter da escritura e dos evangelhos uma definição, nem mesmo uma descrição, tão acurada como as atuais, da doença de pele, que tanto discriminava os enfermos nas sociedades antigas. A doença era um castigo tanto social como religioso. Ela é descrita nos capítulos 13 e 14 do livro do Levítico. Seu nome hebraico   tsaraat<06883>[3014 lepra] serve para designar afecções impuras. Este termo foi traduzido por lepra, ou seu equivalente, nos diferentes idiomas, apesar de não ser possível afirmar, com certeza, o seu significado preciso no texto original. Naturalmente, em virtude da falta de meios para um diagnóstico exato, eram provavelmente chamados leprosos, não apenas os portadores da hanseníase, mas também portadores de outras doenças crônicas de pele, muitas das quais, com certeza, não seriam menos contagiosas para o que hoje chamamos de leucodermia [pele branca]. Também existia a palavra      parah <06509>que podemos traduzir por surgir uma erupção. Outrossim, encontramos a palavra negah <05061> significando surto, erupção ou praga (Lv 13, 12). Pois não existia uma clara ideia do que era a lepra. A sua descrição, a impureza a ela subsequente e o rito de sua cura com os sacrifícios correspondentes, estão descritos no Levítico nos capítulos 13 e 14. Quem distinguia entre lepra e outra dermatose mais ou menos grave, como herpes e até a tinha, era o sacerdote. Era um exame experimental. Se se formar na pele um dartro [tipo de herpes] ou uma mancha e, no lugar enfermo, o pelo se tornar branco e a enfermidade se tornar mais profunda na pele, o sacerdote declarará a doença como lepra (Lv 13, 3). Em caso de dúvida, o doente deveria permanecer em quarentena de sete a quatorze dias, que podia ser repetido até ter certeza da natureza da doença.  Mas se o sacerdote declarasse que a doença era lepra, o doente era declarado impuro. Deveria, portanto, morar fora do acampamento ou da aldeia, rasgar suas vestes, soltar seus cabelos, ou seja, sem os cobrir e, no entanto, cobrir o bigode e gritar impuro cada vez que alguém se aproximasse. A impureza era devida principalmente às úlceras que se formavam. O rito de purificação, caso fosse declarado puro o sujeito, antes leproso, exigia duas aves, madeira de cedro, púrpura carmesim  e hissopo. (Lv 14, 4). Temos visto no domingo do pobre Lázaro, como existiam duas classes de púrpura: a violácea, a mais cara, e a carmesim ou escarlata. O hissopo era uma planta ou arbusto de até 60 cm de altura de folhas aromáticas. Vários pequenos galhos juntos serviam para aspergir sangue ou água nos ritos religiosos. Atualmente usa-se com o mesmo nome um instrumento de metal com buracos na parte oposta do mango que serve para sugar água benta e aspergir com ela objetos e pessoas. O rito da purificação do leproso era espetacular e parece que estava em vigor no tempo de Jesus desde a época da construção do tabernáculo no deserto. LEPROSOS CÉLEBRES: O primeiro foi Moisés a quem Javé mandou por a mão no peito e ao retirá-la apareceu como coberta de neve, para depois reintroduzi-la e ficar normal de novo (Ex 4, 6-7). Outro caso memorável foi o de Miriam, irmã de Moisés, que, como castigo por sua murmuração, teve que se isolar por sete dias até conseguir a cura por intercessão de seu irmão (Nm 12, 10). Leproso era Naamã o sírio que foi curado por Eliseu (2 Rs 5) e Giezi,  tornado leproso por sua avareza (2 Rs 5); e leproso era Simeão, hospedeiro de Jesus (Mt 26, 6). Mateus no cap 8 e Marcos no cap 1, narram a cura de um leproso. Já o relato de hoje, em número e circunstâncias, é próprio de Lucas. A LEPRA HOJE:  O nome científico é Hanseníase. A doença era própria da Índia e da África. Os gregos a chamavam de Elefantíase e o termo lepra foi introduzido por Hipócrates como doença com lesões escamosas entre as quais podem estar a psoríase e os eczemas crônicos. Durante a idade Média  a hanseníase prevalecia na Europa e no Oriente Médio. No Concílio de Lião (1245) estabeleceram-se regras para lidar com a profilaxia [medidas de prevenção] da doença: Isolar o doente da população sadia. Na França, o isolamento era precedido de um ofício religioso semelhante ao ofício dos mortos, após o qual o leproso era excluído da comunidade. O doente era obrigado a usar vestimentas características que o identificavam como portador da doença e fazer soar uma sineta ou matraca para avisar a gente sadia de sua doença. Data também da idade Média (Séc XIII) a criação das primeiras associações religiosas, dedicadas a prestar cuidados aos doentes de hanseníase. Essas associações foram responsáveis pela criação de centenas de asilos para abrigar os acometidos pela doença. Nesse século cerca de 19 mil leprosários existiam no continente. A partir do século XVII foram desativados muitos desses asilos de modo que por volta de 1870 a hanseníase já havia praticamente desaparecido em quase todos os países com a exceção da Noruega onde ainda podia ser considerada endêmica [permanente]. Mantinha-se, porém inalterada na Ásia e na África e tornou-se gradativamente endêmica na América Latina. No Brasil foi em 1600 que se notificaram os primeiros casos no Rio de Janeiro, onde anos mais tarde seria criado o primeiro Lazareto. Sem tratamento eficiente e sendo uma enfermidade contagiosa, o doente era considerado como uma cultura ambulante da doença e, portanto, uma ameaça à sociedade. Assim como não se deixam cadáveres insepultos, não se devem deixar leprosos desamparados. Era-lhes, pois, permitido viver em asilos e até serem recolhidos em cadeias públicas. Pensemos na ilha de Molokai em que só entravam os leprosos e dos quais foi apóstolo o Pe. Damião. Na década de 40 do século XX, com a descoberta da Sulfona, mudou o tratamento, e o isolamento passou a ser seletivo. Outros dois remédios, Clofazimina, nos anos 60, e Rifampicina,  nos anos 70, trouxeram a cura, muito embora o tratamento demorasse 5 anos. Hoje em dia, o tratamento com PQT [poliquimioterapia] demora apenas um dia, seis meses, ou doze meses e o diagnóstico precoce permite que mais de 90% dos pacientes não apresentem nenhuma sequela. Atualmente, na primeira dose de tratamento, 99% dos bacilos são eliminados e não há mais chance de contaminação. O microbacilo de Hansen ataca normalmente a pele, os olhos e os nervos. A doença é também conhecida como moreia, mal-de-Lázaro ou mal-do-sangue. Não é uma doença hereditária. As vias de transmissão são pelas vias aéreas. Porém a infecção dificilmente acontece depois de um simples encontro social. O contato deve ser íntimo e frequente. A maioria das pessoas é resistente ao bacilo e de 7 doentes apenas um oferece risco de contaminação. De 8 pessoas em contato com o paciente, apenas 2 contraem a doença e desses 2, um torna-se infetante. Ela se apresenta sob duas formas. O tratamento do tipo paucibalar [poucos bacilos] é mais rápido: basta uma dose mensal [um coquetel], além da ingestão de um comprimido diário durante 6 meses. Do tipo multibacilar [muitos bacilos] o tempo para o tratamento é mais longo: são 12 doses uma por mês e a ingestão de dois remédios diários durante 2 anos. A maioria da população adulta é resistente à hanseníase, mas as crianças são mais susceptíveis, geralmente adquirindo a doença quando há um paciente contaminante na família. O período de incubação varia de 2 a 7 anos, e entre os fatores predisponentes estão o baixo nível econômico, a desnutrição e a superpopulação doméstica. Por isso ainda tem grande incidência nos países subdesenvolvidos. A hanseníase tem 4 formas de se apresentar: Indeterminada, como forma inicial que evolui espontaneamente para a cura na maioria dos casos e para outras formas da doença em 25% dos mesmos. Geralmente encontra-se apenas uma lesão de cor mais clara que a pele normal, com diminuição da sensibilidade. Mais comum em crianças. Tuberculoide: Forma mais benigna e localizada, ocorre em pessoas com alta resistência ao bacilo. As lesões são poucas [ou única] de limites bem definidos e um pouco elevados e com ausência de sensibilidade [dormência]. Ocorrem alterações nos nervos próximos à lesão, podendo causar dor, fraqueza e atrofia muscular. Dimorfa: forma intermediária que é resultado de uma imunidade também intermediária. O número de lesões é maior, formando manchas que podem atingir grandes áreas da pele, envolvendo parte da pele sadia. O acometimento dos nervos é mais extenso. Lepromatose: Nestes casos, a imunidade é nula e o bacilo se multiplica muito, levando a um quadro mais grave, com anestesia dos pés e mãos que favorecem os traumatismos e feridas que podem causar deformidades, atrofia muscular, inchaço das pernas e surgimento de lesões elevadas na pele [nódulos]. Órgãos internos também são acometidos pela doença. A IMPUREZA: A lepra não era tão temida como doença, mas por ser causa de marginalidade total na sociedade antiga. Na realidade, a impureza que a acompanhava por causa das chagas purulentas era absoluta. Segundo o modo de pensar do AT, o sangue derramado era uma das fontes de impureza. O sangue não podia ser derramado porque era considerado como base da vida, que pertencia diretamente a Deus; daí que o contato com o sangue tinha um sentido religioso como se fosse um  relacionamento íntimo com a divindade, dona da vida. A perda do sangue era considerada como perda de vitalidade, a qual deve ser restabelecida através de certos ritos alcançando sua integridade para se unir com o Deus, fonte da vida. As leis da impureza estão no Levítico entre os capítulos 11 a 15. Existem animais impuros no capítulo 11; há uma impureza de nascimento no capítulo 12; fala-se da impureza da lepra nos capítulos 13 e 14 e a menstruação merece um capítulo à parte como é o 15. A impureza de um leproso durava toda a vida e o leproso deveria ser mandado fora do acampamento pois no meio do povo só habitava o Senhor (Lv 15, 31). A razão para essa lei era a santidade divina que podia ser maculada por certas ações entre as quais as principais eram a idolatria e o derramamento de sangue, especialmente de inocentes como eram as crianças oferecidas aos deuses ou Baals (Sl 106, 38). A impureza legal, especialmente se ligada com o exercício sacerdotal, tomou conta da impureza interior ou pecado, de modo que este último não fosse mais considerado na sua intencionalidade interna, sendo que toda a lei e seu cumprimento estavam em evitar a impureza externa da qual os fariseus fugiam como essencialmente contagiante. O pecado estava também unido à miséria física e econômica (Jo 9, 2). Não somente o leproso era considerado impuro, de modo que deveria ser afastado e morar à parte; mas também os vestidos cobertos de mofo eram considerados como tendo lepra e deveriam ser considerados impuros. Também o mofo ou bolor das casas as tornava impuras e sujeitas à inspeção do sacerdote como eram as pessoas (Lv 14, 33 ss).

O GRITO: Então eles elevaram a voz dizendo: Jesus, senhor, tende piedade de nós (13). Et levaverunt vocem dicentes Iesu praeceptor miserere nostri. Segundo a lei, o leproso não podia ter contato com as pessoas sãs, e devia chamar a atenção das mesmas gritando: impuro, impuro. O grito indica que estavam longe e deviam elevar a voz para serem escutados. SENHOR: A palavra é   epistatës [<1988>=praeceptor], que significa presidente, ou seja, superior, amo, dono, chefe, comandante, e que temos traduzido por senhor. O inglês tem máster [dono, amo] que é a tradução mais apropriada da palavra grega. Na linguagem atual seria Doutor, vocábulo com o qual é reconhecida a superioridade do interlocutor. Eles sabem que Jesus tem o poder de cura. Por isso eles pedem que olhe para eles com compaixão.

A RESPOSTA DE JESUS: E tendo visto, disse-lhes: marchando, apresentai-vos aos sacerdotes, e sucedeu ao irem eles, foram curados. A CURA: Não foi imediata como quando disse ao leproso: quero, fica limpo (Mt 8,3), mas respeitando as regras da lei, mandou que fossem aos sacerdotes para que estes os declarassem curados. A reação dos leprosos foi diferente da de Naamã, que resistiu em obedecer; os nossos doentes seguiram a ordem de Jesus e, no caminho, é que eles se sentiram curados. O SACERDOTE: Como temos visto a impureza, que tem como razão o derramamento do sangue, liga a lepra ao sentido religioso e por isso era o sacerdote quem deveria declarar sua existência, da qual dependia a vida social do indivíduo. Por isso a reintegração do leproso deveria ser feita com um sacrifício semelhante ao sacrifício pelo pecado (Lv 14, 1-31. 49-53), pois era um atentado à virtude vivificante do Deus de Israel. O rito de purificação abrangia detalhes que hoje parecem ridículos, mas que, sem dúvida, tinham seu significado nos costumes da época. Um detalhe importante é que assim como na purificação do dia do Yom Kippur um dos dois bodes do sacrifício era deixado no deserto para o demônio Azazel que com esse bode recebia as impurezas do povo, também havia dois pássaros na purificação do leproso e um deles era solto após receber a infusão do sangue do pássaro sacrificado. Assim ele levaria a impureza longe do povo e do doente. Uma questão à parte é por que Jesus, neste caso, não cura de imediato, mas manda respeitar a lei que nos outros casos não impõe. Talvez seja pelo número dos enfermos que se curados de imediato, seria um fato tão notável que poderia meter em uma enrascada o messiado de Jesus. Assim, longe das turbas e de toda comoção social, os leprosos são curados enquanto se dirigiam a Jerusalém.

O AGRADECIDO: Um, pois, dentre eles, tendo visto que fora curado, voltou com grande voz louvando a(o) Deus(15). Unus autem ex illis ut vidit quia mundatus est regressus est cum magna voce magnificans Deum. Um samaritano [único ou havia mais da mesma etnia?] foi  o único que voltou dando graças a Deus, como veremos no parágrafo seguinte. O nome de Deus era El, muitas vezes usado no plural Elohim, e que receberá segundo situações determinadas diversos atributos como El-Elyon= Deus Altíssimo (Gn 14, 22). El-Roi=Deus da visão (Gn 16, 13), El Shadai= Deus da montanha (Gn 17, 1), El-Olam= Deus eterno (Gn 31, 33), El- Betel=Deus de Betel (Gn 35, 7); mas, sem dúvida, o NOME [Hashem ou Hashem Yitbarah, nome oculto] era o de JAVÉ [YHWH] (Êx 3, 13) que na língua hebraica é traduzido por o Eterno e que alguns modernos traduzem por o que existe, o vivente e daí o verdadeiro, o único. Os setenta traduziram por Ego eimi ho on= eu sou o é [o que existe]. O apocalipse dirá: Aquele que é, aquele que era Aquele que vem, o Todo-poderoso (Ap 1,8). Este Deus era a quem o samaritano dava glória com grandes vozes. Sabia muito bem que um homem não podia realizar semelhante cura e que, se ela se fazia através da ordem de um homem, era porque o tal falava em nome de Deus, era sua voz, seu profeta.

O SAMARITANO: E caiu sobre o rosto aos pés dEle dando-lhe  graças. E o tal era samaritano(16). Et cecidit in faciem ante pedes eius gratias agens et hic erat Samaritanus. Ao chegar a Jesus, prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus. É a proskynesis, forma de submissão ao rei oriental. O Grande, Rei dos persas, que Alexandre o Grande quis exigir depois de seu regresso da Índia em 324 aC para ser reconhecido como deus. Jesus é, pois homenageado como Rei, no mínimo (Mt 2,2) e talvez como representante de Deus (Jo 4, 20) e intermediário da ação divina. Deu-lhe graças. É a única passagem dos evangelhos em que a ação-de-graças (eucharisteuo) é dada a Jesus e não a Deus. O estrangeiro, como Jesus o chama para evitar o sobrenome de samaritano que era um insulto porque era sinônimo de herege, louva a Deus por sua cura e agradece a Jesus, causa próxima da mesma, venerando-o como um profeta do Altíssimo, e representante do poder deste último na terra.

A QUEIXA: Tendo respondido Jesus disse: não foram limpos os dez? Os nove, pois, onde (estão)?(17). Não foram encontrados (sic) os que regressaram para dar glória a(o ) Deus senão este estrangeiro?(18). Respondens autem Iesus dixit nonne decem mundati sunt et novem ubi sunt. Non est inventus qui rediret et daret gloriam Deo nisi hic alienígena. A queixa de Jesus é causada pela repercussão de unicamente contemplar, como curado, um dos dez. Implicitamente Ele afirma que também os ausentes foram limpos da lepra. E logo claramente afirma que dar glória a Deus é agradecer sua pessoa. Esta parte é a nossa função principal como cristãos ou discípulos de Jesus. Adorá-lo no verdadeiro sentido de ver nEle a divindade, é a maior glória que uma criatura humana pode dar ao Deus único. O versículo 18 é um tanto incorreto em grego e temos deixado assim mesmo a tradução literal. Ao Deus: sempre que se referem a YHVH os evangelistas usam o grego Theos <2316>  com artigo determinado, para distingui-lo dos outros deuses pagãos.

A FÉ: E disse-lhe: Levanta, vai embora: tua fé te salvou (19). Et ait illi surge vade quia fides tua te salvum fecit. O grego muito propriamente usa o levanta em aoristo e o vai em presente para indicar uma ação passada pontual e a outra atual contínua. A fé: É importante observar como todos os evangelistas apresentam a fé como um requisito antes da cura. Mutatis mutandis podemos dizer que é também o requisito para a salvação da alma. O maior e talvez único obséquio que o homem pode oferecer ao Deus que deseja salvá-lo é a fé, a entrega, com plena confiança, nas mãos que o podem ajudar como confia um filho na bondade do pai. Nada temos a oferecer a um Deus absolutamente pleno que nada necessita; mas deixamos que Ele atue livremente em nós: é aí onde estão coincidindo as duas liberdades: a do homem que confia plenamente e se entrega, e a de Deus que atua com total permissão. A obediência dos leprosos à palavra de Jesus consegue a cura; mas aparentemente, sua falta de agradecimento os desvia de quem foi seu salvador. Em Jesus, o samaritano, infiel e herege segundo os judeus, encontrou o Deus verdadeiro e o seu representante na terra. Daí a proskynesis como fez o cego a quem Jesus pediu fé em sua pessoa: Crês no Filho do Homem? (Jo 9, 38). Por isso dirá Jesus ao samaritano: Tua fé te salvou (19). Há, pois um contraste entre cura e salvação que o mundo atual não percebe, porque os bens imediatos, embora não sejam tudo, são os únicos que interessam e preocupam a maioria.  E uma vez obtidos estes, não nos preocupamos com a salvação, que é a posse de Jesus como fim de nossas vidas.

PISTAS:

1) Os marginalizados se aproximam de Jesus. Apesar de sua total culpabilidade perante Deus e os homens, eles têm esperança. Sua cura dependia daquele Mestre [epistates= chefe, ou líder], de quem tinham ouvido falar como grande médico e curandeiro. O seu grito pode ser também o nosso, quando a esperança só tem como base a bondade divina: eleeson ymas, compadece-te de nós. Como pensamos que Deus vê nossas vidas? Limpos e puros ou tão terrivelmente marcados pelo mal que parecemos monstruosos leprosos cheios de imundície? Somos diante de Deus malditos e assim se tornou seu Filho, não unicamente maldito, mas maldição para nos salvar (Gl 3, 13).

2) O ponto de partida para a ação divina é a súplica. Jesus não os busca. São eles que o buscam, que sabem que Jesus tem poder para curar. O resto é um mandato: conformem-se com a lei se é que querem viver em sociedade de novo. Naamã foi mandado a se lavar no Jordão. Os dez leprosos foram enviados para o sacerdote. Nada há de anormal ou extraordinário em ambas as ocasiões. É a obediência que atrai a ação de Deus e transforma o homem em seu filho amado no qual encontra satisfação (Mt , 17).

3) O agradecimento é essencial nas relações com Deus. Todos nós somos semelhantes aos nove leprosos curados. Incapazes de uma súplica que não seja uma petição de ajuda. Uma vez obtida a mesma, esquecemos o louvor, o elogio, a ação-de-graças. Nossa religiosidade tem muito de magia, de oportunismo, de interesse, de ingratidão. Conformamo-nos com o nosso bem-estar e esquecemos o muito que temos recebido como dom e como presente. O pouco mal que nos atinge não nos permite enxergar o muito de bem que nos rodeia. Por isso, a queixa é mais abundante do que o louvor.

4) Por esse egoísmo próprio de quem só olha seu próprio bem, esquecemos que os bens são fruto de uma dádiva divina. Nos servimos de Deus, não servimos a Deus. E a melhor maneira de servi-lo é agradecê-lo e obedecê-lo. Esquecemos que os bens, agora possuídos, são uma simples amostra do que nos espera se a gratidão tomar conta de nossas vidas. O canto às misericórdias de Deus nesta vida é só o começo do canto sem fim que será o modus vivendi na eternidade. Desde já devemos aprender a recitá-lo, caso queiramos vivê-lo como experiência existencial.

5) Não temos lepra que nos separa socialmente, mas a Aids, etnia, e pobreza, marginalizam muita gente neste mundo, que se gloria de sua globalização. Quem não tem ouvido falar dos ciganos, dos negros, dos indígenas? E eles não são contagiosos, o contágio, pelo contrário, é a ideia de que existem classes e diferenças.


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26.09.2010
XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

__ “A RIQUEZA QUE ALIENA DOS BENS DO REINO” __

Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! Pobreza e riqueza são tão antigas como o mundo. Mas sempre constituíram problemas. As interpretações e soluções são várias. Há os que ligam pobreza e riqueza à "sorte" e ao acaso. Os que vêem na pobreza o sinal de incapacidade e da desordem moral, e na riqueza o sinal e o prêmio da inteligência e da virtude. Para outros é precisamente o contrário: os honestos não enriquecem, porque para enriquecer é preciso ser um tanto inescrupuloso. Riqueza coincide com exploração do homem pelo homem; o rico é ladrão, pronto para tudo a fim de defender sues privilégios. Surge a desordem, a sociedade violenta. E surge o problema: como fazer justiça? Como dividir com justiça os bens da terra e o fruto do trabalho do homem? Como mudar a ordem das coisas?

Aceitar a pobreza como consolação alienante para os pobres deste mundo ou tentar construir uma teologia de revolução a partir do evangelho é iludir-se e não captar o essencial que Cristo nos passa. No plano dos objetivos e dos meios, todos devem procurar soluções eficazes, ainda que os comportamentos possam divergir, e, os cristãos conquistados pela aventura do amor e que aceitam vivê-la verdadeiramente com Cristo e em seu seguimento estarão mais atentos em fazer com que a riqueza não degenere em novas opressões e novo legalismo. Entoemos cânticos ao Senhor!

(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Am 6,1a.4-7): - "Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que se sentem seguros nas alturas de Samaria!"

SALMO RESPONSORIAL 145(146): - "Bendize, minh'alma, e louva o Senhor, e louva o Senhor!"

SEGUNDA LEITURA (1 Tm 6,11-16): - "Tu que és um homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão."

EVANGELHO (Lc 16,19-31): - "Se não escutam a Moisés, nem aos profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos"



Homilia do Diácono José da Cruz – XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)

A CEGUEIRA DO RICO

É interessante ver como o evangelista Lucas projeta esses dois personagens no evangelho desse 26º  Domingo do Tempo Comum,   os homens mais ricos do planeta, os empresários bem sucedidos, os astros da política, da economia, dos esportes, das artes, os bem sucedidos que fizeram nome e fortuna, além de ricos, são também famosos, pois  a projeção social é impulsionada pelo poder econômico. Mas ninguém conhece e nem sequer sabe o nome de indigentes e andarilhos, mendigos e pedintes, que batem á porta da mansão dos nossos  “ídolos milionários”, ou daquele pobre que recebeu uma generosa ajuda de algum deles. Alguém sabe o nome daquele indigente que dorme na calçada, na praça ou em baixo da ponte? Daquele grupinho que pernoita nas marquises das grandes cidades? E o nome daquele “tiozinho” ou garoto guardador de carros n os locais públicos, quem sabe?

 Aliás, pobre só se torna conhecido em duas situações: ou quando fica milionário da noite para o dia, ou quando é vítima de alguma  desgraça. Daí sim, seu nome  estará na grande mídia e ficará conhecido e “famoso” da noite para o dia.  Lucas  inverte esse quadro, Lázaro é o destaque desse evangelho, mesmo sem nada fazer ou abrir a boca,  faz o papel principal, tem um nome, é conhecido e tem uma relação íntima com Abraão, aquele que é simplesmente o Patriarca da Fé para as três maiores  religiões do mundo: Judaísmo,, Cristianismo e Islamismo. O coitado do ricaço, que em sua vida devia ser  certamente muito conhecido, influente e super relacionado, na outra Vida nem um nome tem, quem é ele?  Vou mais longe, dá-se a impressão de que o grande Patriarca Abraão é apenas o assessor do pobre Lázaro, que sendo tão importante, não pode ser perturbado por assuntos irrelevantes, como é irrelevante para o rico o drama vivido pelo pobre em seu dia a dia.

A inversão desse quadro começa já na morte: o pobre Lázaro, aquele que levava uma vida miserável, se alimentava de migalhas que caia da mesa do rico, e cujo único consolo era ter suas feridas lambidas por um cão, foi carregado ao céu em um cortejo angelical e pomposo, somente Maria, a Mãe do Senhor teve glória semelhante. Quanto ao coitado do Rico, simplesmente foi “enterrado” em uma cova provavelmente, como tantos indigentes desconhecidos, nada de mausoléu e campa faraônica.

O rico nessa vida também é o intermediário entre o pobre e um outro rico poderoso, ou entre o pobre e as instituições, o pobre para conseguir certos favores, tem de ter “cunha”, indicação, indicação de alguém que é rico, poderoso e influente. Muitos dos nossos políticos entram nessa linha do clientelismo por culpa dos eternos necessitados que batem á sua porta.

Pois não é que até isso, o danado do evangelista São Lucas resolveu mudar... Simplesmente colocou o Ricaço poderoso e influente nas mãos do pobre Lázaro, e ainda mais, o próprio Rico reconhece o prestígio, o poder e a dignidade do pobre, junto as esferas celestiais: “ Pai Abraão, tenha piedade de mim, manda Lázaro molhar a ponta do dedo, para me refrescar a língua, pois sofro muito nessas chamas”. Olha que revolução social! Agora é o pobre que vai “dar as cartas”, é ele o intermediário, o mediador, entre o Rico sem nome, e a Corte Celestial, ( esse tal de Lucas é terrível, um rico pedindo por piedade, para ser ajudado por um pobre, que  absurdo !) E agora vem o mais incrível, tanta súplica e choramingo, por tão pouco: uma minúscula gotinha de água, prá refrescar a língua....Os socialistas e marxistas vibrarão “O camarada Lucas  “detonou” nesse evangelho, é isso aí, precisamos de uma revolução para que os ricos tenham de vir comer na “mão do pobre”. Seria esse o tão falado Reino de Deus, anunciado e vivido por Jesus?

Mas as surpresas não param por aí, e no  versículo vinte e sete, Lucas “´pega pesado” de novo,e promove Lázaro a embaixador das  Cortes Celestiais, “manda  ele na casa do meu pai, alertar meus irmãos....” Que hilariante ! Um indigente e pedinte miserável, ir à mansão de uma família riquíssima, alertar sobre o perigo que correm! Que perigo seria este? Que situação ou risco pode haver na vida de um  rico, comparando com o pobre? Quem deles, por exemplo, poderá morrer de fome, ou de uma doença contagiosa, ser subnutrido, não ter a oportunidade de estudar nas melhores universidades, morrer no tiroteio de uma favela, ir preso e apodrecer na cadeia ou ser executado, morar em área de risco e um belo dia perder tudo da noite para o dia, e todas essas desgraças que em geral, só caem na cabeça do pobre? Eis aqui o terrível e verdadeiro perigo que ronda quem é rico e poderoso: fechar-se no seu poder e riqueza, permanecendo indiferente á dor, angústia e necessidade do outro, colocando toda sua expectativa de realização e felicidade nos bens materiais que o mundo terreno possa lhe oferecer, infeliz e desgraçado do homem que pensa assim... Lucas não está exagerando, ele é até complacente com esse homem rico. A descoberta de Deus e uma Vida nova, de uma realidade sobrenatural e invisível, só perceptível á luz da Fé, por parte desse homem, infelizmente só aconteceu quando as cortinas da sua existência já tinham se fechado e o “apito final” já tinha se ouvido.  A ficha caiu muito tarde....

Lucas não faz do pobre Lázaro um super homem, um santo perfeito, um crente sincero e fiel á palavra de Deus, membro da comunidade, eu arriscaria até dizer, e que me perdoem os Teólogos Exegetas, que o pobre Lázaro é apenas âncora na parábola, o foco da exortação evangélica é o Rico e poderoso, que não vive na comunhão com Deus porque, sendo rico, basta-se a si mesmo, e nessa linha de pensamento consumista e materialista, em relação ao “outro”, miserável e carente, como dizia aquele deputado, personagem do Humorista Chico Anísio “quer que o pobre se exploda”.  É esse o abismo intransponível, nessa outra vida, entre o Homem que conheceu e experimentou a Deus , e o outro, que preferiu endeusar-se a si próprio, na riqueza e no poder terreno. Uma situação que pode ser revertida ainda nesta vida, já que Deus ama e quer que todos os homens se salvem... Independente da sua situação social ou econômica, pois para Deus não há ricos e pobres, todas as divisões, inclusive as sociais, são conseqüências do pecado.

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)

Moderação

Tendo em conta o Evangelho de hoje, poderíamos meditar sobre o desprendimento, sobre a importância de viver a solidariedade, sobre a outra vida, sobre a conversão etc. No entanto, o primeiro versículo me atraiu fortemente, “havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho finíssimo, e que todos os dias se banqueteava e se regalava” (Lc 16,19), e fico com ele. Vamos chamar esse tipo de leitura da Sagrada Escritura uma “leitura de impacto”: deixar-se impressionar pelo versículo bíblico que mais chamou a sua atenção num determinado momento.

Os espanhóis deram até um nome ao homem rico, Epulón; vem de epula, ae do latim, que significa banquete. Epulón significaria o mesmo que comilão. Penso que esse nome faz jus ao que nos diz o relato evangélico: “se banqueteava e se regalava”. Imagino-o sentado à mesa, servido por várias pessoas e comendo somente aquilo que ele gostava, preparado da melhor maneira possível e com um requinte quase inimaginável. Ademais, sempre vestido segundo a última moda da época, “de púrpura e linho finíssimo”. Epulón devia ser tão cuidadoso para arrumar-se que poderíamos classificá-lo entre esses homens que, segundo dizem por aí, passam horas nos salões de beleza, sempre se vestem segundo a moda – inclusive criando modas – e adoram exibir a própria beleza por todas as partes. Na verdade, Epulón parece até um pouco amaneirado.

Será que a conclusão é que não se pode nem comer bem nem vestir-se bem para ser um bom cristão? Não! De fato, a roupa de Jesus devia ser de qualidade, pois os soldados “tomaram as suas vestes e fizeram delas quatro partes, uma para cada soldado. A túnica, porém, toda tecida de alto a baixo, não tinha costura” (Jo 19,23); em Betânia, ele aceitou que aquela mulher derramasse sobre a sua cabeça “um vaso de alabastro cheio de um perfume de nardo puro, de grande preço” (Mc 14,3); num dos banquetes que Jesus participou, reclamou a etiqueta requerida: “Entrei em tua asa e não me deste água para lavar os pés (…). Não me deste o ósculo (…). Não me ungiste a cabeça com óleo (…)” (Lc 7,44-46). Lembremo-nos que Jesus foi educado pela Santíssima Virgem Maria e, por tanto, estava bem educado.

Todas as coisas criadas por Deus são boas. É preciso que nós amemos essa bondade natural e demos graças a Deus por ela. Não podemos ver as coisas do mundo (no sentido de “criação de Deus”) como uma ameaça à nossa santidade. Pois, “Deus contemplou a sua obra, e viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Mais ainda, o Senhor deu inteligência ao ser humano para que fosse criativo. O importante é que nós saibamos utilizar as coisas boas do nosso Pai do céu com a moderação requerida: “quer comais quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Cor 10,31). Ao utilizar as coisas desse mundo, o cristão deve ter como regra de conduta a glória de Deus e o bem dos demais. Uma mulher que se veste bem e se maquia pensando no seu esposo, além de estar alinhada, dá glória a Deus e faz uma obra de caridade. Como eu gostaria que surgissem estilistas com mente cristã que fizessem roupas elegantes e decentes ao mesmo tempo para que as mulheres andassem bem vestidas, também com a virtude do pudor! Um homem também tem que ter bom gosto, sem exagerações e sem afeminar-se. Pertence à natureza das coisas que a mulher se preocupe mais com a aparência externa que o homem. Isso é normal! Não tem nenhum problema. Porém, em tudo é louvável a moderação.

Conheço uma pessoa que costuma dizer que não gosta de café sem cafeína, nem de Coca-Cola light, nem de cerveja sem álcool, defendendo que as coisas devem permanecer na sua essência. Dizia também essa pessoa que nessa sem-essência de muitas coisas atuais via uma figura do que pode ser uma vida sem essência: pensamento vazio, vontade debilitada, prazer sem compromisso, religião sem levar Deus em sério. O leitor verá se essa pessoa tem ou não razão na sua comparação, mas o fato é que esse indivíduo sempre toma cerveja com álcool, Coca-Cola normal e café – como diz ele – de verdade. E continuará fazendo isso até que os médicos lhe digam o contrário! Pelo menos numa coisa temos que estar de acordo: corremos o risco de levar uma vida sem essência.

“Setenta anos é o total de nossa vida, os mais fortes chegam aos oitenta. A maior parte deles, sofrimento e vaidade, porque o tempo passa depressa e desaparecemos” (Sl 89,10). Pelo menos aproveitemos esses poucos anos, quantos Deus nos conceda, para dar-lhe glória e ajudar os irmãos através de uma vida honesta, sóbria, moderada, bem modelada pelo único modelo de todos os santos, Jesus Cristo.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (1 Tm 6, 11-16)

ADVERTÊNCIA: Tu, porém, ó homem de Deus, estas coisas foge; mas segue a probidade, religiosidade, fé, amor, constância, mansidão (11). Tu autem o homo Dei haec fuge sectare vero iustitiam pietatem fidem caritatem patientiam mansuetudinem. Naquele tempo existiam os falsos doutores cujos frutos eram disputas e vaidades, de onde nascem invejas, provocações, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim…dos que supõem que a piedade é fonte de lucro (1Tm 6,3-5). Parece que temos uma monição do que hoje estamos vivendo em alguns lugares. Diante, pois, destes parágrafos que precedem nosso texto, Paulo exorta Timóteo a fugir desses desvios e seguir a norma da verdadeira religiosidade que não olha o lucro, mas se contenta com o necessário para viver. E esta religiosidade verdadeira é honesta, pois pretende a PROBIDADE [dikaiosynë <1343> =iustitia] que é a conduta irrepreensível, embora traduzida geralmente por justiça, mas sem muita precisão. Uma outra virtude é a PIEDADE,[RELIGIOSIDADE] eusebeia [<2150>=pietas], que é a reverência devida a Deus e que podemos traduzir, em termos cristãos, pelo amor a Deus que inspira fundamentalmente os atos religiosos e impregna a vida inteira dos seus devotos fiéis. FÉ [pistis <4102>=fides] que aqui pode tomar sua acepção primitiva  de fidelidade, como vemos em Mt 23, 23 em que está unida aos principais preceitos da Lei, como justiça, misericórdia e fidelidade. Ou em Tito 2, 10: não furtem, mas deem prova de toda fidelidade (pisteos). O adjetivo pistos [<4153>= fidelis] é traduzido por fiel, inclusive falando de Deus que é fiel [digno de confiança] de modo que não permitirá que sejamos tentados além das forças (1 Cor 10, 13), o que é confirmado em 2 Ts 3,3. AMOR [agapë<26>=caritas] é propriamente o amor, que traduz o hebraico ahabah [<0158>=caritas] usado como o amor de Deus com seu povo,  que o latim traduz por caritas; é o amor mais sublime e altruísta. Podemos dizer que é o amor de Deus que no homem tem um eco responsável de gratidão e afeição. CONSTÂNCIA [ypomonë <5281> = patientia] constância, firmeza, persistência, paciência, perseverança, é a virtude pela qual um homem permanece fiel a Deus, apesar das tribulações e contradições. Jesus disse que o Reino era tomado por esforço e os que se esforçam se apoderam dele (Mt 11, 12)  MANSIDÃO [praotës <4236>=mansuetudo] o praotës grego significa bondade, doçura, humildade, mansidão. Sai 9 vezes no NT e todas nas cartas paulinas, sendo em todas traduzido por mansidão, a condição benigna e suave, apacível, sossegada e tranquila de uma pessoa. Jesus a si mesmo se tornou modelo desta virtude quando afirmou: Aprendei de mim porque sou manso [praos<4235>=mitis] e humilde de coração (Mt 11,29). É, pois, a bondade unida à humildade que torna um homem bom e benigno para com os outros.

A VOCAÇÃO: Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna para a qual foste chamado e confessaste a boa confissão diante de muitas testemunhas (12). Certa bonum certamen fidei adprehende vitam aeternam in qua vocatus es et confessus bonam confessionem coram multis testibus. COMBATE DA FÉ: em parte, em oposição ao combate ou guerra da Lei dos judeus. Chama este combate de bom, pois permanecer na fé encontrava muitos inimigos, tanto fora, como eram os judeus que diretamente combateram Paulo e seus auxiliares, como os costumes dos gentios que não favoreciam a fé por serem contrários à crença cristã e que precisavam de uma verdadeira conversão para aceitar as novas práticas que constituíam o caminho da salvação. Esse combate é para se obter a vida eterna que corresponde naturalmente à divindade e da qual somos herdeiros por meio de Cristo (Gl 4, 7), com Ele feitos filhos mediante a fé em Cristo Jesus (Gl 3, 26). FOSTE CHAMADO [eklëthës<2564>=vocatus es] como vemos por 1 Tm 4, 14 e 2 Tm 1,6, Timóteo foi chamado ao apostolado por meio da profecia e pela imposição das mãos, de modo a receber o dom de Deus como presbítero (no caso, como bispo) da igreja de Éfeso. CONFESSASTE [ömologësas <3670> = confessus] concordar, aceder, aprovar, expressar conformidade, admitir, confessar. Sem dúvida, Paulo rememora os fatos acontecidos em Listra, onde os cristãos davam bom testemunho de Timóteo (At 16,2) e por isso, quis Paulo que ele fosse em sua companhia (At 16, 3), de modo que  as igrejas eram fortalecidas na fé (idem 5). Esta presença foi, sem dúvida, um testemunho que Paulo afirma ser uma boa confissão diante dos muitos irmãos que foram confirmados na fé.

UMA ORDEM: Ordeno-te perante Deus que dá a vida a todas as coisas e de Cristo Jesus que testemunhou diante de Pôncio Pilatos a boa confissão (13), a guardar tu o mandato imaculado, irrepreensível até a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (14). Praecipio tibi coram Deo qui vivificat omnia et Christo Iesu qui testimonium reddidit sub Pontio Pilato bonam confessionem, ut serves mandatum sine macula inreprehensibile usque in adventum Domini nostri Iesu Christi. ORDENO-TE [paraggellö <3853> = praecipio] transmitir uma mensagem, declarar, anunciar e também comandar, declarar, ordenar. É neste último sentido que devemos traduzir como em Mt 10, 5 quando o Senhor ordenou a seus discípulos não entrarem na região dos gentios. DIANTE DE PILATOS Jesus deu seu testemunho da verdade como diz o evangelho de João: Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade (Jo 18, 37). A fé agora se torna verdade opondo a mentira do politeísmo à verdade revelada em Jesus como filho único de Deus por nossa salvação crucificado e morto como vítima pela redenção dos pecados. Essa foi a confissão de Jesus diante de Pilatos, que este não quis escutar. Que é a verdade? (Jo 18, 38). O MANDATO [entolë<1785>=mandatum] o grego indica uma ordem, preceito, mandato, prescrição, mandamento. Em Mt 5, 19 Jesus fala daquele que viola um destes menores mandamentos [entolön] será chamado mínimo no reino dos céus. Qual é o mandato? Provavelmente o de ser testemunha da fé em Jesus Cristo, como quem dá testemunho de um Deus cujo poder estava acima do poder de Roma, pois Jesus afirmou nenhuma autoridade terias sobre mim se de cima não te fosse dada (Jo 19, 11). Num mundo em que a autoridade era o supremo valor da vida, conservar uma relação com a mesma, íntima e confiante, era escolher o caminho certo para a felicidade. MANIFESTAÇÃO: é a segunda vinda do Senhor, quando sua atuação será de Juiz e não de Redentor. Diante desta situação, o mandato é a matéria sobre a qual Timóteo deve ser julgado. Por isso, o mandato deve ser cumprido de forma irrepreensível e impoluta. Provavelmente Paulo confunde o juízo final com a destruição do templo e ruína de Jerusalém, preditas por Jesus em Lc cap 21, em que a perseguição dos discípulos precederá a ruína da cidade. Neste evangelho, próximo ao anúncio evangélico de Paulo, não vemos o fim do mundo, mas o fim do templo e de Jerusalém em termos apocalípticos e escatológicos, difíceis de interpretar, que Paulo traduz como manifestação clara do triunfo de Cristo.

JESUS O BENDITO: A qual em tempos próprios mostrará o Bendito e único Poderoso, o Rei dos reis e Senhor dos Senhores (15). Quem suis temporibus ostendet beatus et solus potens rex regum et Dominus dominantium. Essa manifestação será a revelação clara e pública daquele que é o BENDITO [makarios <3107> =beatus] era um título próprio de Deus para não pronunciar o Nome Santo, [=haShem] como fez Caifás quando interrogou Jesus se ele era o Cristo, o Filho do Bendito (Mc 14, 61).  ÚNICO PODEROSO [monos<3441>dynastës<1413>=solus potens], nome que é usado por Jesus no lugar de Jahveh ao responder a Caifás quando responde: Vereis o filho do Homem assentado à direita do Poder [dynamis]. Tanto num caso [bendito] como no outro [poder], é Deus o assim nomeado. Logo, Paulo iguala Jesus com o Deus dos judeus, ou seja, com o Deus único dos cristãos. E também o compara com os poderosos da terra dando a Ele o título supremo de Rei dos reis e Senhor dos senhores, título que os judeus davam a Jahveh, igualando assim o Filho com o Pai. Assim temos o versículo do Apocalipse (19, 16):  que tem no seu manto e na sua coxa o título: Rei dos reis e Senhor dos senhores. Como os judeus tinham dado a Jahveh o mesmo título, daí a correspondência exata entre a carta paulina e o Apocalipse de João.

JESUS O ÚNICO: O único tendo imortalidade, luz habitando inacessível ao qual não viu homem algum nem pode ver, ao qual honra e poder eterno. Amém (16). Qui solus habet inmortalitatem lucem habitans inaccessibilem quem vidit nullus hominum sed nec videre potest cui honor et imperium sempiternum amen. IMORTALIDADE [athanasia <110> = inmortalitas] Uma vez ressuscitado, a imortalidade era atributo de Cristo. Em corpo e alma sua eternidade estava segura como era a vida atribuída a Deus. Além da vida, da qual Jesus tinha dito que ele era dono [sou o caminho, a verdade e a vida] ele era também LUZ [phos<5457>=lux] oposta às trevas como afirma João, que também une vida e luz no prólogo: e a vida era luz dos homens (1, 4). Só que desta vez era luz INACESSÍVEL [aprositos<676>=inaccessibilis] derivado do verbo prosiemi (ir a) com o a negativo e contrário de não poder ser alcançado. Deus identificava-se com a luz como lemos em Is 60, 19: o Senhor será a tua luz perpétua e no Salmo 104, 2, fala de Deus como coberto de luz como de um manto. Como vemos, Paulo e o Apocalipse usam termos que, na tradição judaica, eram representativos da divindade. Precisamente nas revelações místicas essa luz aparece como manifestação da divindade. Essa luz não foi vista por homem algum e é, sem dúvida, uma experiência paulina como ele descreve sua incursão no terceiro céu onde ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir (2 Cor 12, 4) em consonância com o que o mesmo Paulo diz em 1 Cor 2, 9: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. HONRA e PODER ETERNO, é a doxologia final que se refere ao Cristo já divinizado  no céu, ou seja, mostrando seu poderio final, em que a majestade corresponde à honra com que deve ser adorado. AMÉM é o final de toda oração que implicava o desejo de ser ouvida complacentemente por Deus.

EVANGELHO (Lc 16, 19-31)
O RICO EPULÁRIO

INTRODUÇÃO: A parábola é própria de Lucas. Junto com a chamada do filho pródigo constitui uma das bases da teologia de Lucas ou de Paulo como própria da misericórdia divina com a qual Deus olha o mundo e define sua atitude perante os problemas definitivos do homem. A quem Deus escolhe definitivamente como membros do novo Reino e como convivas do banquete eterno? A resposta está nesta parábola porque a declaração de Abraão é propriamente a moral da história: Recebeste boas (sic) na vida e Lázaro as más. Agora ele é consolado, e tu atormentado (25). Se a parábola do filho pródigo era a parábola da misericórdia, esta é a parábola da justiça, derivada dessa misericórdia. Todos têm sua chance de experimentar os bens: ou nesta vida ou na outra. A outra conclusão é que a eternidade depende da conduta presente dos vivos. Como nota importante está a conclusão de que a fé forma parte de uma tradição e não de uma vivência ou experiência particular. Quem não está disposto a escutar as palavras proféticas não escutará as que um ressuscitado possa testemunhar. A primeira parte da parábola -inversão dos bens devido à morte- tem paralelos na literatura universal. A segunda parte -a dificuldade de conversão de um rico- é própria de Jesus e narrada especialmente por Lucas.

O RICO EPULÁRIO: Havia, pois, certo homem rico, e se vestia de púrpura e de bisso, banqueteava-se todo dia esplendidamente (19). Homo quidam erat dives et induebatur purpura et bysso et epulabatur cotidie splendide. RICO [plousios<4145>=dives]. A tradição o chama de epulário, do latim epulari. O nome epulário significa conviva ou comensal; provavelmente deduzido do castelhano que é epulón, homem que come e bebe muito, derivado por sua vez do latim épulo quem da um convite ou também convidado, comilão. O latim o usa mais frequentemente no plural e eram assim designados os três varões romanos [triumviri epulones] que cuidavam dos convites oferecidos aos deuses. Como nota curiosa vamos aportar alguns dados sobre o sacerdócio romano e seus colégios, entre os quais podemos incluir o dos epulones. Da história romana sabemos que o último rei Tarquínio foi deposto para dar passo à república em 509 aC após seu filho violar Lucrécia, dama romana que para defender sua honra se suicidou. Ao se proclamar a república, esta teve que dividir o poder entre rex romanorum [rei dos romanos] cujo papel foi dado aos cônsules e rex sacrorum [rei das coisas sacras]. Assim o mantenedor deste título recebeu o nome de Pontifex maximus  e era o chefe do Colégio dos pontífices ou flâmines. Três eram os flâmines maiores: Dialis de Júpiter, Martialis de Marte e Quirinalis de Quirino [antigo deus da guerra]; e 12 menores, entre eles por exemplo flamen Cerialis de Ceres, deusa da terra e das colheitas. Existia também o colégio dos augures, que se distinguiam por predizer o futuro pelo voo dos pássaros ou como nos pullaius pela conduta dos frangos na comida. Temos os duoviri sacris facundis, que foi aumentado até 15, encarregados dos livros da Sibila, consultados quando os raios ou outros portentos aconteciam. Temos o colégio dos Fetiales, de 20 em número, que eram os que declaravam a guerra que só era justa [bellum pium] se declarada pelos fetiales. Outro grupo era o dos arúspices em número de 60, mas sem formar collegium, que adivinhavam através das entranhas dos animais sacrificados. Temos os triunviri Epulones inicialmente três, mas depois unidos num colégio cujo número foi incrementado a sete. Sua função era supervisar os ritos sacros no opulum Jovis, ou festa de Júpiter que era celebrava junto com os Ludi Romani e os plebeus, onde exerciam funções que anteriormente eram próprias dos pontífices. Os ediles organizavam os jogos, mas os epulones visavam os ritos sacros dos mesmos. Todos estes eram os chamados maiores pontífices, pois também existiam os menores, chamados sodales. Como vemos o nome epulón dado ao rico é um tanto impróprio e traduzi-lo por epulário [conviva] é ainda mais inadequado. Qual era o nome do rico já que epulón ou epulário não é correto? Alguns manuscritos antigos falam de Níneve que lembra a grande cidade que percorreu Jonas anunciando a destruição. Na realidade as escavações de Nínive deram como resultado palácios em que Senaquerib e Assurbanipal tinham as maiores riquezas de todos os seus saques nas guerras, como vemos em Baltazar em que os vasos sagrados do templo de Jerusalém eram os recipientes do banquete (Dn 5, 2). Portanto chamar de Nínive ou Níneve o rico é uma conveniência dos leitores que veem o nome do pobre e não encontram o nome do rico. PÚRPURA E BISSO: A púrpura era uma cor vermelha forte que se parece com a cor violeta ou roxa. Historicamente, pelo seu preço e raridade era a cor purpúrea utilizada pelos reis e imperadores. Na antiguidade a cor era extraída das pequenas quantidades existentes em alguns moluscos das costas orientais do mediterrâneo. O molusco, de grande tamanho, segrega uma substância amarela que ao contato com o ar se transforma em cor vermelha violácea. A terra hoje do Líbano era chamada Fenícia que em grego significa vermelho [foinós], pois na época sua indústria de cor púrpura era famosa. O líquido do molusco, espécie de concha, era misturado com sal e cozido de modo a obter duas cores diferentes: uma de azul violeta ou púrpura e outra de cor vermelha. Dada a grande quantidade de moluscos necessários para tingir uma túnica compreende-se que a púrpura fosse a veste do Sumo sacerdote e o ornato luxuoso do templo e o distintivo de reis e pessoas muito ricas ( Jz 8, 26 e Jr 10, 9). Os romanos da república não a vestiam na sua tradicional sobriedade, mas era considerada, junto com o ouro e a prata, botim precioso de guerra. Daí a raridade e o preço que a acompanhavam. O Byssus ou bisso era uma tela de linho finíssima, quase transparente, de cor branca ou bege, que junto com a púrpura violeta ou escarlate foi oferecida para fabricar a tenda do tabernáculo no deserto (Ex 25, 4). O bisso seria o que os romanos chamavam de linum candidissimum [lino branquíssimo]. Se a púrpura era um produto de exportação, especialmente produzido em Tiro, o bisso era importado do Egito. Ou seja, em questão de vestidos o nosso rico era singular e extraordinário, da creme e nata dos melhores. BANQUETEAVA-SE: O verbo eufrainizo [<2165>=epulari] significa regozijar-se, recrear-se, ter momentos alegres, gozar da vida. O advérbio LAMPRÖS [<2988>=splendide] [esplendidamente] indica que não havia prazer que ele não degustasse, tanto na comida como nas festas lascivas que acompanhavam os banquetes. Como banquete esplêndido temos o dado pelo imperador Vitélio: antes de ser destronado esteve comendo um menu de vinte pratos, entre eles miolos de cotovias com mel. Marco Aurélio Antonino [Heliogábalo]  mandou servir 1500 línguas de flamingo a seus convidados. Maximino Trácio que numa só jornada chegou a ingerir 16 quilos de carne e 32 litros de vinho. O banquete mais numeroso foi  dado por Júlio César a 200 mil pessoas em 22 mil mesas, durante várias jornadas.

O MENDIGO: Porém havia certo mendigo de nome Lázaro, o qual jazia à sua porta coberto de chagas (20), e desejando se satisfazer das migalhas que caiam da mesa do rico; mas até os cães, chegando, lambiam as suas chagas (21).Et erat quidam mendicus nomine Lazarus qui iacebat ad ianuam eius ulceribus plenus. cupiens saturari de micis quae cadebant de mensa divitis sed et canes veniebant et lingebant ulcera eius. Seu nome era LÁZARO[=Eleazar, Deus ajudou]. A descrição da vida do infortunado mendigo era totalmente realista. O esquecimento dos homens, a doença de suas chagas, a sua morte inglória tudo está conforme ao que inclusive atualmente conhecemos desses pobres seres humanos. Se, na atualidade, uma percentagem dos mesmos é parte dos eufemisticamente chamados débeis mentais, na época de Jesus eram cegos, mancos e outros aleijados. A sorte do nosso pobre era ainda mais infortunada ao ouvir os cantos, os risos e o regozijo e barulho dos convivas dentro da casa. É uma descrição para opor a sorte de um e o infortúnio do outro. Um detalhe que depois ver-se-á repetido, mas de forma contrária, é que nem mesmo as migalhas do banquete lhe eram fornecidas. Os cães da rua eram os únicos que aliviavam suas chagas.

SORTE POSTERIOR DO MENDIGO: Sucedeu, pois, morrer o mendigo e ser ele levado pelos anjos ao seio de Abraão. Porém morreu também o rico e foi sepultado (22). Factum est autem ut moreretur mendicus et portaretur ab angelis in sinum Abrahae mortuus est autem et dives et sepultus est (in inferno). Sem que houvesse intervenção humana, o mendigo é levado por anjos ao seio de Abraão. É a primeira vez que os anjos aparecem como mensageiros divinos após a morte. O saduceu, seguindo o AT, diria que tudo acabava com a morte. Jesus, pelo contrário, afirma que tudo começa quando tudo acaba. Só que as sortes estão trocadas.

SORTE DO RICO: Seu corpo foi sepultado como convinha a sua riqueza, sem dúvida, mas sua alma entrou no profundo dos infernos, o Hades, que vamos descrever no que é possível segundo as poucas e parciais referências de que dispomos. Na realidade, só a Vulgata fala do inferno; o grego termina com o sepulcro do rico. Mas, evidentemente, a sorte do rico foi o inferno como veremos depois, pois a Vulgata traz neste versículo o que o grego acrescenta ao seguinte.

O SHEOL OU HADES: E no Hades, levantando seus olhos, estando em tormentos, vê Abraão de longe e Lázaro em seus seios (23). [in inferno] Elevans oculos suos cum esset in tormentis videbat Abraham a longe et Lazarum in sinu eius. HADES [<66>=infernus], que em latim é infernus e em hebraico Sheol. O significado de sheol se distribui entre a tumba, o mundo de ultra tumba e o estado depois da morte. A ideia de que os mortos existiam num mundo que os babilônios chamavam de Aralu, e os ugaríticos de Oeres era comum aos povos antigos. O sheol era um lugar abaixo da terra (Ez 31, 15) um espaço de pó (Jó 17, 16), de trevas (Jó 10, 21), de silêncio (Sl 94, 17) e esquecimento (Sl 88, 13). Algumas vezes as distinções existentes na vida terrena são descritas como continuando no sheol; mas sempre este é um lugar de fraqueza e tristeza. Nalgumas passagens do AT o sheol tem um aspecto punitivo (Sl 49, 13-14) e, portanto uma morte prematura é uma forma de penalidade. O AT considera a vida terrena como a arena para demonstrar o serviço devido a Deus. Portanto, estar no sheol é estar fora do âmbito divino. Sheol dizem que significa destruição, poço, cova, ou corrupção. Na literatura perto do NT encontramos no Sheol divisões que distinguem os malvados dos justos nos quais eles desfrutam de seus últimos destinos como vemos na parábola de hoje. O Hades representa o mundo de ultra tumba ou dos mortos nos clássicos gregos. A setenta traduz Sheol por Hades. Logo podemos dizer que Hades equivale ao Sheol como vemos em At 2, 27. Jesus fala das portas do Hades que não prevalecerão (Mt 16, 18). A defesa das portas de uma cidade era essencial para não ser conquistada; eram, pois, figura do poder da mesma. A frase descer ao Sheol (Mt 11, 23) é metaforicamente entendida como cair na profundeza da degradação.

GEHENA: Uma outra palavra que descreve o destino de ultra tumba é gehena (Mt 5, 22 Mc 9, 43 e Lc 12, 5). A palavra deriva de ge-bene-hinoum. Ou seja, Vale dos filhos de Hinnom. Era um vale perto de Jerusalém onde crianças foram sacrificadas e queimadas ao Baal ou deuses gentílicos. Era o lugar de punição para pecadores, descrito como espaço de fogo incombustível, fogo que é a medida do castigo divino (Dt 32, 22). Os rabinos da época distinguiam entre um fogo temporal e purgativo, um fogo totalmente destrutivo e um fogo eterno. Esta eternidade está claramente indicada em Mateus (9,43; 18, 8; 25, 46). Eternidade que é confirmada no Apocalipse para a besta e o profeta, para a morte e o inferno, para o Diabo e os agentes da maldade (Ap 20,10. 14-15  e 21,8), lançados ao lago de fogo que constitui a segunda morte. Esta Gehena que é lugar de suplício é traduzida por 2 Pd 2, 4 como Tártaros. Na mitologia grega o Tártaro representa a região mais profunda, situada no fundo dos infernos, onde Urano primeiro e Cronos depois,  lançavam, finalmente, para Zeus, os que o tinham ofendido. Segundo Homero, era a prisão dos deuses vencidos e dos heróis que tinham agravado a Zeus. No século VI aC se transformou no lugar onde os homens culpáveis deviam cumprir seu castigo. Na Eneida, Virgílio o descreve como uma grande prisão onde moravam as Fúrias. Situavam-no principalmente perto do Averno, nome poético do Inferno. Devemos distinguir entre Inferno e infernos. Este último termo indica o mesmo que Sheol, ou seja, os lugares inferiores dentro da terra, enquanto moradas dos mortos. O Inferno propriamente dito é a sorte [não falamos hoje de lugar] do ser humano que voluntariamente se separa de Deus, como fonte de vida, por opção definitiva. O NT o define com diversas imagens com a ajuda de diversas metáforas ou mitologias: Abismo, trevas exteriores, fogo inextinguível, lago de fogo, etc. Com tudo isso define-se a sorte do pecado e do ser humano que com ele quer se identificar.

SEIO DE ABRAÃO: é esta passagem a única, em que se descreve o que em outras passagens é chamado o Édem. Uma outra vez em Jo 13, 23-25 temos a descrição de alguém se reclinar no seio de outra pessoa: é o discípulo amado reclinado no peito de Jesus. Precisamente por esta circunstância e a de que o Reino é comparado com um banquete, podemos deduzir que agora o banquete era aquele em que participava Lázaro, apoiado no regaço do pai comum de todos os israelitas. É um paraíso ao estilo alcoranista que Jesus deve descrever para ser melhor entendido por seus ouvintes. O Paraíso é uma palavra que aqui não é usada. A distinção está entre seio de Abraão e o sheol não entrando o paraíso como termo comparativo. De fato, a palavra paraíso significa jardim ou parque. Desde o Gênese, em que o homem foi colocado nele e tinha a árvore da vida para ser expulso, uma vez cometida a desobediência, a palavra paraíso [paradeisos grego] não sai, a não ser três vezes, no NT. No AT temos o jardim do Édem que é traduzido ao grego por paraíso de delícias e em outras passagens por Paraíso de Deus. O seio de Abraão formava parte do Hades [infernos] no interior da terra e o paraíso era no terceiro céu segundo o que diz Paulo (2 Cor 12, 2), pois o identifica a continuação com o paraíso (idem 4). Foi esse paraíso que Jesus prometeu ao malfeitor arrependido (Lc 23, 4) e que no Apocalipse descreve-se como contendo ainda a árvore da vida (2, 7). Consequentemente a descrição de Jesus pertence ainda ao AT e não podemos deduzir dela verdades absolutas. Só que antes do ato redentor já existiam no outro mundo, no sheol, duas esferas: uma superior [levantou os olhos (23)] de relativa felicidade, semelhante ao que na terra podemos chamar de bemaventurança; e outra de tormentos, com um fogo que aumentava a sede.

PETIÇÃO DO RICO: E ele clamando disse: Pai Abraão, tem compaixão de mim e envia Lázaro para que mergulhe a ponta do seu dedo em água e refresque minha língua porque estou sofrendo nesta chama (24). Porém disse Abraão: Filho, relembra que tu recebeste as tuas boas (coisas) em tua vida e Lázaro de modo semelhante as más; agora, pois, aqui  é consolado tu porém és atormentado (25). E além de tudo entre nós e vós um grande abismo está presente de modo que os que desejam passar daqui para vós não podem, nem os dali para nós passar (26). Et ipse clamans dixit pater Abraham miserere mei et mitte Lazarum ut intinguat extremum digiti sui in aqua ut refrigeret linguam meam quia crucior in hac flamma. Et dixit illi Abraham fili recordare quia recepisti bona in vita tua et Lazarus similiter mala nunc autem hic consolatur tu vero cruciaris   Et in his omnibus inter nos et vos chasma magnum firmatum est ut hii qui volunt hinc transire ad vos non possint neque inde huc transmeare. Era uma migalha de água à semelhança da que ele tinha negado como comida a Lázaro. Mas era impossível porque o que separava ambos os grupos não eram umas portas de uma casa, mas um abismo [chasma em latim, com o significado de apertura na terra ou entre nuvens] ou fenda, que impedia o intercâmbio entre as duas esferas: a dos que sofrem e a dos que estão sendo consolados. Abraão apela também à justiça que no novo mundo estabelece uma mudança de papeis para que não sempre os desafortunados tenham os mesmos destinos. Não são os mais venturosos os que determinam a justiça, mas os mais desfavorecidos são os que pautam a justiça que busca a igualdade de oportunidades. Essa foi a resposta de Abraão que o rico não pode refutar.

SEGUNDA PARTE: Então disse: então te rogo pai, para que envies  a ele à casa de meu pai (27). Pois tenho cinco irmãos para que testemunhe a eles de modo que eles  não venham também a este lugar de tormento (28). Diz-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas: Os escutem (29). Porém ele lhe disse: Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for ter com eles converter-se-ão (30). Então lhe disse: Se a Moisés e aos profetas não ouvem, nem se um dentre os mortos ressuscitar, acreditarão (31). Et ait rogo ergo te pater ut mittas eum in domum patris mei. Et ait illi Abraham habent Mosen et prophetas audiant illos. At ille dixit non pater Abraham sed si quis ex mortuis ierit ad eos paenitentiam agent. Ait autem illi si Mosen et prophetas non audiunt neque si quis ex mortuis resurrexerit credent. O anúncio aos vivos. Nesta circunstância o rico se torna altruísta e pede que seus irmãos sejam oportunamente avisados para evitarem o lugar de tormentos, onde ele agora se encontra submergido. A resposta de Abraão é terminante: Se não ouvem Moisés e os profetas, isto é, as palavras da Escritura, a palavra de Deus, nem se um morto ressuscitar, escutarão seu testemunho.

PISTAS:

1) A distinção entre ricos e pobres parece uma injustiça que clama ao céu como última causa. Por isso a parábola é uma resposta sapiencial de Jesus: a justiça será corrigida quando as sortes forem trocadas na outra vida, que por ser eterna merece o título de verdadeira.

2) Embora de modo imperfeito a distinção entre os dois lugares, o de tormentos e o de consolação, demonstra que existem prêmios e castigos na vida além túmulo. E que essa distinção não pode ser mudada pelo querer do homem. É definitiva, mas pode ser prevista pela conduta humana neste mundo.

3)O milagre não convence. Porém firma a fé dos que já estão convencidos. A palavra da Escritura salva unicamente quando ela é escutada e obedecida.

4) Para que a palavra seja eficaz devemos estar preparados para escutá-la, retirando obstáculos, de modo que quem não deseja ouvir a voz de Deus na palavra revelada não encontrará outra palavra eficaz ou fato suficiente para convidá-lo à reflexão e arrependimento.

5) A conduta do rico é escandalosa e modelo de muitas condutas atuais pelo seu esbanjamento e falta de consideração com seus semelhantes.


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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!

Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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