GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
            
             
            30.01.2011 
              4º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A 
              __ "FELIZES OS POBRES" __ 
            Ambientação: 
            Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! O evangelho das bem-aventuranças domina a liturgia da palavra desse domingo. É a primeira parte do sermão da montanha. Jesus subindo ao monte nos aparece como o novo Moisés, promulgador da nova Lei ("mas eu vos digo...!") no novo Sinai. Proclamando bem-aventurados os pobres e os humildes, Jesus fala a linguagem que Deus já havia usado com seu povo através dos profetas, como por exemplo Sofonias que ouvimos na primeira leitura. A mesma linguagem emprega São Paulo na segunda leitura: os primeiros a serem chamados são os pequenos, os pobres, os que o mundo despreza, mas que são grandes nos reino dos céus.  Entoemos cânticos ao Senhor! 
            
               (coloque o cursor sobre os textos 
                em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) 
             
             
            PRIMEIRA LEITURA (Sf 2,3;   3,12-13):   - "Buscai o Senhor, humildes da terra, que pondes em prática seus preceitos" 
            SALMO RESPONSORIAL 145(146):    - "Felizes os pobres em espírito, * porque deles é o Reino dos Céus." 
            SEGUNDA LEITURA (1Cor 1,   26-31):    - "quem se gloria, glorie-se no Senhor." 
            EVANGELHO (Mt 5,1-12a):   - "Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus." 
             
            
             
            Homilia do Diácono José da Cruz – 4º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A 
            "AS BEM-AVENTURANÇAS" 
            O chamado “Sermão da Montanha ou das Bem Aventuranças”  sempre corre o risco de ter duas interpretações equivocadas: primeiro pensar  que se trata do anúncio de uma revolução social, Agora chegou a vez dos pobres!  Visto por esta ótica esvazia-se totalmente o seu rico conteúdo, não é e nunca  foi missão de Jesus, resolver os problemas sociais resultantes das  desigualdades e injustiças praticadas contra as classes menos favorecidas,a má  distribuição de renda, o mau uso dos Bens públicos etc. Se osse isso, pordem  ter certeza de que , usando de seus poderes Jesus já teria botado as coisas no  “eixo”, ele não pode ser reduzido a um Líder Revolucionário mesmo porque, é bom  lembrar que as pessoas que o viam dessa maneira em seu tempo, viram seus sonhos  e projetos revolucionários ir por água abaixo quando Jesus passou pela morte  vergonhosa da cruz, enterrando de vez todos os anseios de liberdade humana,  presente no coração dos Judeus. 
            A outra interpretação, também equivocadíssima,  principalmente nas Bem Aventuranças de Mateus, que escreveu o seu evangelho  para os Judeus, é vê-lo como um belo discurso moral, ensejando um modo de viver  que nos conduza a uma ascese e nesse caso, Pobre em Espírito, Mansos e Puros de  Coração,  nos remete ao meramente  espiritual, interpretação predileta de muitos, que não querem viver uma  religião comprometida com a transformação das pessoas e da sociedade, tornando  assim suas relações mais justas e fraternas. 
            Na  verdade, as Bem Aventuranças são o programa de Vida de Jesus, pois pode se ver  Nele a realização plena de cada uma delas, é Jesus esse Pobre em Espírito, é  ele esse Manso que herdará a terra, é ele esse puro de coração que tem  permanentemente a visão de Deus, é ele esse perseguido, injuriado e  incompreendido, esse aflito que foi consolado, esse que tem sede e fome de  Justiça, basta olhar atentamente os evangelhos. 
            É exatamente essa proposta de vida que é toda sua, que  Jesus nos apresenta nesse evangelho, como Dom que o Pai oferece, como um  chamado que requer uma resposta. 
            Não  é um ideal de vida compatível com o que o mundo nos propõe, onde, Ser Feliz e  Bem Aventurado é ter uma sorte melhor que a do pobre, trata-se de uma Bem  Aventurança terrena que supõe a riqueza, e tudo o mais que está atrelado nela,  Ter, Poder, prestígio, influência, e ainda a impunidade, que se consegue nos  meandros da política, das negociatas e do Poder constituído, que ainda está  muito longe de ser uma instituição a serviço do Povo. 
            Os  sequiosos por mudanças sociais irão indagar, cheios de indignação “Mas então  esse Jesus de Mateus está  “em cima do  muro”? Não se importa com a sorte dos pobres e miseráveis, dos famintos e  injustiçados, dos marginalizados e explorados? “ Claro que Jesus se importa.... 
              Mas  ele prefere ir direto a raiz do mal, que é a ausência de espiritualidade no  coração do homem, a falta de reconhecimento de que Deus é o Senhor da História,  por isso Mateus acrescentou a sábia expressão “...em espírito” depois da  palavra pobre, ficando assim muito claro que, a situação social não é o fator  determinante das Bem Aventuranças pois, um rico pode sim, fazer experiência de  Deus, e um pobre poderá não fazê-lo, depende muito de quem é Deus para o rico e  quem é Deus para o pobre. 
            Portanto,  não se trata de “Ser Pobre” mas de fazer-se pobre pelo Reino, o que é bem mais  difícil uma vez que requer humildade, desapego, esvaziamento de si mesmo,  pureza de coração, e acima de tudo o reconhecimento de que só Deus é a  Segurança, ser manso é exatamente não abusar do poder para se impor e exigir  (até nas comunidades isso acontece...) mas sim submeter-se aos outros, mesmo  sendo superior. 
            Portanto,  ser bem aventurado e feliz diante do evangelho,é  ter se tornado discípulo do Senhor, vivendo a  vida de acordo com os valores do seu reino que é a justiça e a paz,  conseqüência da igualdade, partilha e fraternidade. Quem trilha este caminho,  sem se desviar para os tentadores atalhos que o mundo nos coloca, será feliz e  bendito porque confiou e colocou toda sua esperança, não naquilo que o mundo  oferece mas sim na vida nova que vem da graça de Deus, e que se estende para  muito além dos limites da nossa vida biológica. 
            É para estes Benditos e  Benditas que o evangelho traz a boa nova, pessoas que não estarão isentas de  sofrimentos, privações e até perseguições, por terem optado pelo evangelho de  Cristo, que desafia e põe em cheque o conceito de felicidade que o mundo nos  ensina, porque mostra-nos no Senhor Ressuscitado, que esta vida terrena é  apenas caminho para se chegar na verdadeira vida, sonhada, desejada e  construída ainda nesta nossa peregrinação por este mundo. 
            Nossas comunidades cristãs nas quais participamos, já  aderiram com fidelidade a proposta que Deus nos faz em Jesus Cristo, ou pelo  contrário, acabamos trazendo para dentro da comunidade certos valores sedutores  que o mundo nos apresenta? A resposta a essa pergunta nos indicará se  pertencemos ou não ao grupo dos Bem Aventurados... 
            José da Cruz é Diácono da  
              Paróquia Nossa
              Senhora Consolata – Votorantim – SP 
              E-mail  jotacruz3051@gmail.com 
             
            Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 4º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A 
            “O consolo do perdão”
            “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5,4) 
            Santo Ambrósio, Santo Hilário, São João Crisóstomo e Santo Agostinho   entenderam que essa bem-aventurança se refere às lágrimas derramadas por causa   dos nossos pecados; a consolação é o perdão dos pecados. “Todo pecador deve   chorar. A quem se chora senão a um morto? E quem está mais morto senão o   malvado? Coisa admirável: chore por si mesmo e reviverá; chore fazendo   penitência e será consolado com o perdão” (S. Agostinho). 
            Santo Agostinho também deixou escrito que todo convertido é ferido por certa   tristeza porque, além de não alegrar-se nas antigas “alegrias” da sua vida   pecaminosa, tampouco possui ainda o amor das coisas eternas. É o Espírito Santo,   o Consolador, quem o vai enriquecendo com a eterna alegria aqueles que perderam   a alegria das coisas pecaminosas. 
            Que consolador é chorar os próprios pecados! Aquele que já teve essa   experiência bem o sabe. Que alívio! Pode ser uma boa preparação para o   Sacramento da Confissão ou até mesmo um fruto dela. Pode ser o começo da   conversão, como também pode significar uma maior união com Deus. De fato, quem   entende o que é o pecado são os santos, os pecadores o ignoram! 
            Os pecadores, sem saber ou sabendo, vão se destruindo a si mesmos. Que pena!   Não dá vontade de chorar ao ver tantos jovens afundados nas escravidões das   drogas, do sexo, da violência. Rapazes e moças que podem ter um futuro brilhante   estão se destruindo pouco a pouco, encontrando nisso um prazer que poderíamos   qualificá-lo como “quase macabro”. A imagem de Deus sendo destruída nessas   pessoas! Não é triste? 
            É bom chorar os próprios pecados e alcançar de Deus a consolação do perdão. É   meritório chorar os pecados alheios suplicando e conseguindo a misericórdia e o   perdão de Deus para eles. Isso é caridade! Quem chora os próprios pecados   alcança, por graça de Deus, a própria salvação; quem chora, ademais, os pecados   dos outros, alcança a salvação – dom de Deus – para os outros e para si. Uma   pessoa que é capaz de se com-padecer encontra-se muito próxima do Coração de   Deus. Caso alguém diga que Deus não pode sofrer, responderemos sem discordar,   mas levando em sério o quanto Deus se implica na situação das pessoas: “Deus est   impassibilis, sed non incompassibilis” (S. Bernardo de Claraval), ou seja, Deus   é impassível, mas não incompassível, ele se compadece de nós. Os nossos pecados   realmente e de uma maneira misteriosa ofendem a Deus, mas ele tem a iniciativa:   vem ao nosso auxílio, nos perdoa e nos salva. 
            É comum ler nas biografias dos santos que eles choravam pelos próprios   pecados e também pelos pecados da humanidade. Esses cristãos que tinham   intimidade com Deus sentiam delicadamente o que é uma ofensa a Deus. Pecar é   ofender a Deus. Assim como nós nos sentiríamos mal se ofendessem alguém que   consideramos o nosso melhor amigo, de maneira semelhante é-nos doloroso ver que   se ofende a Jesus, nosso melhor amigo. Os santos choravam pelos pecados porque   amavam a Deus. Eles tinham uma ideia um pouco mais clara de quem é Deus e do   quanto ele nos ama. Eles chegavam a penetrar nos abismos da miséria porque   viviam nos abismos do amor e da misericórdia de Deus. 
            Nós sempre estamos sendo convertidos e nos convertemos. Deus nos uniu a si,   mas temos que seguir crescendo nessa união. Também nós, sentimos no coração que   se ofenda tanto a Deus, bondoso e generoso para com todos, e sentimos também por   essas pessoas que vão se destruindo paulatinamente no pecado. 
            No coração de um filho de Deus há uma espécie de paradoxo irremediável, pelo   menos até que chegue a Parusia: por um lado, está sempre feliz e cheio de paz, o   sorriso está estampado no seu rosto; por outro, sente uma espécie de dor pela   situação presente. Entre a Trindade beatíssima, onde o cristão tem a cabeça e o   coração, e a miséria mundanal, onde tem a cabeça, o coração e os pés, o cristão   deve viver sempre levando a esse mundo e a todas as pessoas a esperança, a   misericórdia e a paz. 
            Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa 
 
            Comentário Exegético – 4º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A 
               (Pe. Ignácio, dos padres escolápios) 
            EPÍSTOLA (1 Cor 1, 26-31) 
            POBREZA DOS CORINTIANOS: Olhai, portanto, vossa vocação, irmãos; porque não   muitos sábios segundo a carne; não muitos poderosos, não miitos bemnascidos (26)   Videte enim vocationem vestram fratres quia non multi sapientes secundum carnem   non multi potentes non multi nobiles. Paulo está descrevendo a sabedoria da   cruz. Ou seja, esse instrumento de humilhação e sofrimento, de modo especial   escolhido para salvar o mundo pela sabedoria divina. A cruz explica os planos   ocultos de Deus e desvela sua economia ou política de salvação. Segundo essa   economia divina, são os mais necessitados os que são preferidos para receber os   favores de Deus [a graça, segundo o termo usado por Paulo]. Jesus ora comprazido   e agradecido dizendo: Te louvo ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste   estas coisas aos sábios e letrados e as revelaste aos pequeninos (Mt 11, 25). É   por isso que Paulo nota com ironia, como esta predição de Jesus se cumpria   perfeitamente em Corinto: Nem SÁBIOS [sofoi], nem PODEROSOS [dynatai] nem NOBRES   DE NASCIMENTO [eugenei], ou seja, os que o mundo inveja como brilhantes e   poderosos, os que formam o modo de pensar do povo. De fato, tanto no tempo de   Jesus como nos tempos apostólicos, sabemos que, os que receberam a nova doutrina   foram gente humilde, a começar pelos pastores e os pescadores, escolhidos como   apóstolos, aqueles pelo pai e estes pelo Filho. Tenhamos en conta que os   pescadores eram considerados uma classe desprezível entre os judeus, um pouco   superior à dos pastores; porque em seu ofício, a pesca de peixes sem escamas que   eram impuros segundo a lei para logo destripar os peixes bons, o que era também   um trabalho de impureza já que lidavam com animais mortos e suas vísceras os   tornava impuros. Por isso eram evitados pelos verdadeiros israelitas. Sabemos   como grande número dos primitivos cristãos eram da classe dos escravos e   libertos. Atualmente encontramos mais fé e verdadeira entre a gente humilde do   que entre os doutores escolastizados. 
A ESCOLHA DIVINA: Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para   envergonhar os sábios e as débeis do mundo escolheu o Deus para envergonhar as   fortes (27). Sed quae stulta sunt mundi elegit Deus ut confundat sapientes et   infirma mundi elegit Deus ut confundat fortia. Paulo agora resume num parágrafo   único toda a sabedoria divina em oposição à humana: As loucuras do mundo foram   escolhidas para CONFUNDIR OS SÁBIOS. Essa regra e normas divinas as encontramos   nos dias de hoje. Zola será o escritor que trama uma maquinação fantástica para   a cura de Madame Marie Ferrand Bayllie. Ela não se cura e morre. Prefere a   mentira a ter que aceitar o milagre. Era o pensar dos sábios da época e também o   de Alexis Carrel. Mas o médico ateu viu diante de seus olhos como a moribunda se   restabelece em poucos minutos. Carrel foi a Lourdes para demonstrar a patranha   do que em Lourdes acontecia e de que tudo era uma mentira e uma fraude; mas com   ânimo de que se ela curava então ele acreditava. E Deus lhe tomou pela palavra.   Pois ante os olhos atônitos de Carrel, a mulher se curou da peritonitis   tuberculosa que a tinha em estado de coma. Carrel deu testemunho diante de seus   colegas e a reação dessa intelectualidade foi furiosa. Todo o âmbito acadêmico   se transformou numa borrasca hostil que o obrigou a se trasladar para o Canadá e   abandonar o exercício de sua profissão para dedicar-se à criação de gado.   Somente uma necessidade do hospital local o obrigou a exercer sua profissão de   médico, onde seus trabalhos e novas descobertas mereceram o Nobel em 1912.  AS   FRAQUEZAS DO MUNDO: Se cumpre a promessa de Jesus a Santa Gertrudis: como os   doutos não me compreendem, fabricando um Deus conforme seus intelectos, por isso   prefiro me mostrar às mulheres. E se estudamos as grandes aparições de Maria,   Juan Diego em Guadalupe, Bernardette em Lourdes e os três pastores em Fátima,   vemos que do ponto de vista humano, são gente insignificante, como era a virgem   de Nazaret, que exclamou: Ele teve consideração da insignificância de sua   escrava (Lc 1, 48). 
            DEUS ESCOLHE O QUE O HOMEM DESPREZA: E as ignóbeis do mundo e as desprezíveis   escolheu (o) Deus e as que não são para que as que são destruir (28). Et   ignobilia mundi et contemptibilia elegit Deus et quae non sunt ut ea quae sunt   destrueret. IGNÓBEIS [afenë<36>=ignobilia] literalmente sem família, que   pode ser traduzido por nascido de baixa posição, ignóbel, pária, como são os   intocáveis ou dalits entre as castas da Índia. Em alguns lugares da Índia   existem os invisíveis, que só podem sair às ruas à noite. DESPREZIVEIS   [exouthenëmena <1848>=contemptibilia] do verbo exoutheneö que significa   não ter em conta, desprezar totalmente, como em Lc 18, 9 que fazia o fariseu com   os outros homens que ele não considerava honestos [justos]. NÃO SÃO: Em Rm 4,   17, o apóstolo fala de que Deus vivifica os mortos e chama à existência as   coisas que não existem, palavras provavelmente referidas à criação. Mas parece   que Paulo está pensando nos gentios, que, segundo os judeus, nada eram como   vemos no apócrifo de 2 Esdras 6, 56-57: Enquanto os outros povos que nasceram de   Adão, tu tens dito que eles são nada…Olha,  Senhor, que esses pagãos que foram   reputados como nada começaram a ser nossos senhores e  a devorar-nos. Este dito   farisaico parece concordar com o que Paulo afirma neste versículo, e que será   uma espécie de profecia do futuro cristianismo: os gentios – que não são, ou   contam no momento- serão os que substituirão os judeus –os que são- destruindo o   antigo pacto que visava unicamente os filhos de Israel. 
            FINALIDADE: De modo que não se glorie toda carne em sua presença (29). Ut non   glorietur omnis caro in conspectu eius. Nem os ministros [evangelistas] nem os   ministrados [gentios de baixa estirpe] têm grande sabedoria, riqueza ou poder,   de modo que o êxito não pode ser atribuído à eficiência pessoal. Ninguém pode   dizer: Senhor, tu me escolheste porque era o melhor; mas todo o contrário:   escolheu o lixo do mundo e  a escória de todos (1Cor 4, 13), de modo que Tácito   declara em seus Anales que os cristãos do fim do primeiro século eram de baixa   condição. TODA CARNE: é uma expressão semítica para todo homem de modo que   ninguém possa se vangloriar diante de Deus; porque, como diz Paulo, quem dá o   crescimento é Deus (1 Cor 3, 6). 
            CRISTO SABEDORIA DE DEUS: Pois dEle sois em Cristo Jesus, o qual foi feito   para nós sabedoria da parte de Deus, também justiça e santificação e redenção   (30). Ex ipso autem vos estis in Christo Iesu qui factus est sapientia nobis a   Deo et iustitia et sanctificatio et redemptio. São duas afirmações que têm suas   consequências: a primeira é que pertencemos como sagrados a Deus por causa de   Cristo. A segunda é que esse Cristo é causa das qualidades com as que devemos   nos revestir do novo homem, considerado digno da presença do espírito de Deus em   seu interior. Essas faculdades são sabedoria de Deus, que consiste   essencialmente na cruz. Justiça que para o Deus do NT é misericórdia que em nós   pede como filhos, segundo Lc 6, 36: sede misericordiosos como vosso pai é   misericordioso.  E finalmente, é por ele que estamos livres da escravidão do   pecado e da morte, pois pagou o preço dessa liberdade com seu sangue, com sua   vida, morrendo inocente, como culpado, para que vivessem os que culpáveis, nele   encontraram a inocência. SABEDORIA [sofia<4678>=sapientia] Qual é a   sabedoria da cruz? Quando, como destino na terra, Juan de Yepes pediu ao Senhor   como prêmio sofrer e não morrer, ele entendeu perfeitamente a sabedoria da cruz   e por isso pode trocar seu nome de Juan de S. Matias por Juan da Cruz. JUSTIÇA   [dikaiosynë<1343>=iustitia] que, segundo Paulo, representa a limpeza de   todo pecado, merecida pela cruz de Cristo e oferecida no santo batismo em seu   Espírito [ele vos batizará em Espírito (Mt 3, 11)]. SANTIFICAÇÃO   [agiasmos<38>=sanctificatio] agiasmos propriamente é consagração,  para a   qual era necessária uma purificação que tornava imaculada a vítima ou o objeto a   Deus reservado. Dai que se tornou sinônimo de Holiness em inglês, o adjetivo com   o qual o Papa é designado, mas que em espanhol dizemos Santidade, sem que por   isso declaremos que o Papa não peca ou não possa pecar. É, pois a consagração   radical de todo batizado ao serviço divino, que conleva por parte do homem a   séria intenção de cumprir os preceitos divinos. REDENÇÃO   [apolytrösis<629>=redemptio] é a liberdade pelo pago do preço do resgate   devido. Éramos escravo do pecado e da morte e fomos resgatados pelo preço do   sangue de Cristo (Ef 1, 7). 
            A VERDADEIRA GLÓRIA: Para que, como está escrito, quem se gloria, glorie-se   no Senhor (31). Ut quemadmodum scriptum est qui gloriatur in Domino glorietur.   Com estas palavras, Paulo afirma duas coisas: a primeira, que o livro de   Jeremias, citado aqui, pertence ao conjunto de livros inspirados, chamados   Escritos ou Escritura.A segunda, é que o verdadeiro prestígio e reputação que   provém  de fatos ilustres não é produto de esforços humanos mas uma dádiva   divina que como dirá Paulo em Rom 4, 2-4 no caso de Abraão, tem como base, não   as obras, mas a fé e por isso não pode se vangloriar, pois a jstificação   recebida não foi resultado de méritos, mas imputada; ou seja, obra da graça e   favor divinos. E em Rom 8, 29 desde o início predestinou, chamou, justificou   para finalmente glorificar a quem de antemão foram chamados segundo o seu   propósito.  Dizia santa Terezinha que nossos passos estão determinados pela   amorosa vontade de Deus, de modo que praticamente andamos como uma criança a   quem a mãe segura em seus braços a sua criança enquanto a ensina a andar. E   Teresa de Jesus propõe como base da humildade esta proposição: Todo bem procede   de Deus e todo mal é nosso. Se acaso deveríamos gloriar-nos em nossas   debilidades como diz Paulo em 2 Cor 12, 9, pois Deus mostra seu poder e amor   preferentemente nas fraquezas humanas. É o bom pastor que busca a ovelha   perdida, abandonando as outras que estão no redil. 
            EVANGELHO (Mt 5, 1-12) 
            (Lugar paralelo Lc 8, 20-23) 
AS BEM-AVENTURANÇAS 
            INTRODUÇÃO: Dois evangelistas narram o que se tem chamado as   bem-aventuranças. Mateus como parte do sermão da montanha, pois foi desta   cátedra que Jesus falou (5,1) e Lucas que coloca o pequeno discurso paralelo   numa planície (6, 17). Isso indica que a circunstância é redacional,   independente das palavras e idéias a expressar. Também há uma grande diferença   entre as oito ou nove bem-aventuranças de Mateus e as quatro de Lucas. Ambos,   porém, usam a mesma palavra makarioi para designar os contemplados como   prediletos do reino. Que significado tinha nos lábios de Jesus essa palavra e de   que idéias hebraicas era tradução, de modo que os ouvintes a pudessem entender ?   O grego makários significa tanto ditoso ou feliz como bendito do verbo makarizo   que significa declarar afortunado.  No primeiro caso, indicaria uma situação   determinista da vida mesma, sem ligação com ulteriores fins ou propósitos. No   segundo caso, a palavra tem um conteúdo teológico de modo que implica uma   providência divina que, pelo contraste com o sentir comum dos dirigentes   religiosos, apontava uma nova era completamente revolucionária em perspectivas   religiosas. Esse é nosso caso. No final do capítulo IV, em que Jesus percorre a   Galileia pregando nas sinagogas a metânoia e a fé na Boa Nova. Agora, pela   primeira vez, ele enfrenta as multidões. Não são unicamente os judeus, mas   também acodem os gentios de Transjordânia, dos arredores de Tiro e de Sidônia, e   da Idumeia (Mc 3, 8). Reunia-os especialmente a fama de curandeiro de Jesus e   escutavam sua voz como a de um homem enviado por Deus. Na primeira parte do   discurso, Jesus anuncia a esperança dos desvalidos [pobres]: São as   bem-aventuranças. Logo apresenta a metânoia, conversão, com uma nova moral   iniciada com a frase se vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus (5,   20). Por isso retifica a mesma dizendo: ouvistes que foi dito; eu, porém vos   digo (5, 21). Logicamente era necessária uma conversão ou metânoia para esta   nova ética que Jesus apresenta. E são os capítulos 5, 6 e 7 os que narram a   chamada radicalidade cirstã. A fé racional da crítica não pode substituir a fé   razoável eclesiástica, como afirma o Papa atual, pois seria a nossa razão o   princípio de nossa vida religiosa e não a fé. A fé racional seria o mesmo que   acreditar na ciência, como afirma Bacon, e não a fé transmitida pela boca dos   apóstolos e profetas como fundamento da mesma (Ef 2, 20). Hoje, em que damos   máxima importância à crítica [científica] devemos ler esta página das   bem-aventuranças com a fé simples de quem ouve a verdade da boca do Filho de   Deus, com fé religiosa [razoável=acreditável pelo testemunho; mas não   racional=como imposta pela evidência crítica da razão]. 
O MONTE: Tendo, pois, visto as multidões, subiu ao monte e tendo-se ele   assentado, se aproximaram a ele seus discípulos (1). Então, tendo aberto sua   boca, os ensinava dizendo (2). Videns autem turbas ascendit in montem et cum   sedisset accesserunt ad eum discipuli eius. Et aperiens os suum docebat eos   dicens. Os comentaristas unem o sermão da montanha com a entrega da Lei por   Javé-Deus no monte Sinai no A T. MONTE: Oros em grego, é usado por Mateus como   um ambiente paralelo ao lugar em que Moisés recebeu a lei no Sinai, sendo que o   cumprimento do primeiro mandamento receberia uma gratificação especial para os   que fielmente o guardavam (Ex 20, 6). Jesus também, do monte, ensina a nova lei   a seus discípulos. Porém, antes deve escolher o novo Israel, e daí as chamadas   bem-aventuranças. Os que por elas são alcançados serão o novo Israel e,   portanto, podem ser designados como verdadeiramente felizes. Jesus começa, pois,   por essa distinção em que derruba o velho conceito de etnia e descendência como   parte para formar a elite de Jahvé, e contrariamente, suscita um novo modelo de   povo de Deus, cuja base é precisamente o infortúnio material. A eles Jesus abre   um novo mundo de esperanças e felicidade. A lei, para os judeus, não era   unicamente o nomos [preceito], mas também abrangia declarações, propostas e   fatos de Deus em relação com seu povo escolhido. Neste sentido total e amplo,   Jesus determina primeiro o âmbito de seus verdadeiros escolhidos. Logo propõe   seus nomoi [preceitos], precedidos de uma retificação aperfeiçoada da antiga   lei: ouvistes que foi proclamado, eu, porém vos digo (Mt 5, 21). Como mestre da   nova Lei, Jesus adota uma postura frequente entre os rabinos ou mestres em   Israel. Ele fica sentado, tendo seus discípulos e ouvintes ao seu redor,   geralmente de pé, pendentes de suas palavras. Os rabinos explicavam a lei   segundo as tradições [ouvistes que foi dito], mas Jesus explica a nova Lei como   quem tem autoridade para propô-la e anunciá-la como novidade feliz a um público   geralmente esquecido e desprezado. Constituía a esperança messiânica, já atuando   como realidade nova e definitiva. Finalmente, uma palavra sobre o monte:   Realmente, segundo Lucas, Jesus subiu ao monte para orar durante a noite (Lc 6,   12). Na manhã, escolheu seus doze discípulos e logo ao descer do monte, se   deteve num lugar plano onde a multidão o esperava para ser curada de suas   doenças.  Lucas, pois, circunscreve as bem-aventuranças a uma planície, embora   tivesse como fundo o monte do qual acabava de descer. Também Lucas diz que   elevando os olhos aos discípulos dizia (Lc 2, 20). 
            AFORTUNADOS: Ditosos os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus   (3). Beati pauperes spiritu quoniam ipsorum est regnum caelorum. A palavra,   usada tanto por Mateus como por Lucas, no início de cada versículo é MAKARIOI,   em grego, plural de Makarios <3107>. Logicamente Mateus e Lucas usam a   palavra como tradução de um original aramaico usado por Jesus. Qual é essa   palavra e que significado se encerra na raiz da mesma?  
            1º) No AT: . Existem no   hebraico bíblico dois verbos com o sentido de abençoar. Um deles é Barak   <01288> que é só empregado por Deus no Piel [intensivo ativo] indicando   uma ação contínua, como em Gn 1, 22 : E Deus os abençoou [yebarek] dizendo: sede   fecundos. Usando a mesma raiz, Deus abençoou também o dia sétimo. A setenta   traduz por eulogesen louvar ou falar bem, que no inglês é traduzido por blessed.   De barak temos baruk [bendito] e a palavra beraká [ bênção], cujo plural é   berakoth. Todas as berakoth começam com Baruk Ata Adonai que pode ser traduzido   por louvado seja meu Senhor [=Deus]. Os setenta traduzem baruk [bendito] por   eulogetos ou eulogemenos (Dt 28, 3 +). O outro é Ashar <0833> cujo   significado primitivo é avançar; também no piel significa pronunciar feliz; e   pela primeira vez o encontramos em Gn 30, 13 em boca de Lia: Feliz, eu   [beasheri], porque chamar-me-ão ditosa [asheruni] todas as mulheres. Nos   setenta, os termos em colchetes são  traduzidos por makaria e makarizousin, a   mesma raiz empregada nas bem-aventuranças. Não entramos em maiores detalhes. Só   com o dito podemos dizer que barak [eulogeo<2127>,] é a palavra reservada   para a ação divina, quando declara bendita uma pessoa; e asher   [makarios<3107>] é a ação do povo que vê uma circunstância que torna feliz   uma vida. Logicamente essa circunstância provém de Deus como causa principal.   (Os números correspondem aos de Sprong). Os evangelistas têm muito cuidado nas   palavras com que escolhem as ipsissima verba Christi e, portanto acreditamos que   se ambos os evangelistas escolheram makarios como tradução das palavras de   Jesus, este não quis dizer que eram abençoados por Deus, mas declarados felizes   pelos homens. Jesus quer mudar o modo de pensar dos discípulos para que estes   pudessem ver nos pobres, nos aflitos, nos humildes, nos famintos, uma classe de   predileção divina que os tornava desejáveis e invejáveis. Jesus, praticamente,   na sua primeira lição pública define a conduta humana diante da pobreza tanto   material como espiritual do mundo que o rodeia. 
            2º) No grego clássico, a palavra   makarios inicialmente significava livre dos cuidados e preocupações de todos os   dias. O significado é afortunado. Assim, a ilha de Chipre é chamada de ‘e   makaria [a afortunada] por ser uma ilha verde e próspera. Homero chama os deuses   de ‘oi makarioi [os felizardos]  em comparação com os humanos que devem   trabalhar para poder viver. Na linguagem poética, descreve a condição dos deuses   e daqueles que compartilham da existência feliz deles. Aos poucos, perdeu seu   significado original para se tornar num equivalente de nosso Feliz. Quando   acompanhada de tu ou vós, se transforma em bem-aventurado, ou bem-aventurados,   indicando um elogio por parte dos conhecedores do caso. Como tais, são   parabenizados os pais por causa dos seus filhos, os ricos por causa de suas   riquezas, os sãos pela sua saúde, os sábios por causa de seu conhecimento, os   piedosos por causa de seu bem-estar interior, os mortos por terem escapado à   vaidade das coisas. Indica, pois, como motivo, uma circunstância especial que   acompanha uma certa classe de homens e que por esse requisito podem ser   considerados afortunados. 
            3º) No grego bíblico makarios traduz o hebraico esher   [felicidade], ashar [declarar bem-aventurado], ou asheré [bem-estar]. Vemos o   asheré traduzido por makarios no salmo 2,12: Bem-aventurados todos os que nele   se refugiam; ou o salmo 32,1 e 2: Bem-aventurado aquele…e bem-aventurado o homem   a quem o Senhor não atribui iniquidade. Em ambos os casos makarios é usado como   tradução de asheré. O homem é bendito, e especialmente esta bênção, provém de   Deus. No NT  é claro que substituímos o asheré hebraico por Makarios. Makarios   aparece 13 vezes em Mateus e 15 em Lucas e apenas duas em João: Bem-aventurados,   pois, se praticares estas coisas(13, 17) e Bem-aventurados os que não viram e   creram (20, 29). No caso de Mateus, os bem-aventurados não são os discípulos;   mas, estando a frase em terceira pessoa é qualquer um que se encontra em   semelhantes circunstâncias. A estimativa predominante do Reino de Deus leva   consigo uma inversão de todas as avaliações costumeiras. E todos os que   compartilham dessa experiência da chegada do Reino, nas circunstâncias reveladas   na frase inicial, serão benditos por esse dom recebido de Deus de modo gratuito. 
            4º)  Mas vejamos as traduções: Dichosos ou Felices em espanhol, Beati em latim e   italiano, Fortunate em inglês, embora a KJ traduzirá Blessed, Felizes em   português e Hereux em francês. É uma palavra que indica completa satisfação ou   felicidade. Todas elas cumprem as palavras de Dt 33, 29 em que o hebraico asherê   é traduzido por makários  e por ditoso : Ditoso [makários] tu Israel. Quem como   tu povo vencedor? Deus é o escudo que te protege, a espada em marcha que te   conduz ao triunfo. Ou o salmo 144, 15: Ditoso [makarios] o povo que tem tudo   isso; ditoso [makários] o povo cujo Deus é o Senhor. Em Baruc 4,4 temos: Felizes   [makarioi] somos Israel, pois podemos descobrir o que agrada o Senhor.  
              5º) Como   Conclusão podemos afirmar que a palavra grega makários tem o significado de   homem, cuja vida é invejada por ser um privilegiado por Deus nos seus planos   beneficentes. Em definitivo, podemos facilmente traduzi-la por BENDITO ou   ABENÇOADO. Deus está no meio, por ser a causa de todos e verdadeiros bens. O   Makarioi de Jesus entra, pois, nos planos divinos, como causa principal ao ser   Deus o observador que escolhe seus eleitos, como declara Maria em seu canto:   Exultou meu espírito em Deus meu Salvador porque ele fixou seus olhos na   insignificância de sua escrava (Lc 1, 47-48). Até agora no mundo católico, quase   de forma geral, as bem-aventuranças eram vistas como prêmio oferecido às   virtudes dos que mereciam semelhante elogio. Hoje não são consideradas como   recompensa de virtudes, mas como escolha divina, que em sua misericórdia quer   favorecer os mais desamparados. Não é a virtude interior alcançada, que obtém um   prêmio, mas são as circunstâncias que favorecem a ação divina em sua   misericórdia. Deste ponto de vista, podemos enxergar todo o contexto como sendo   uma política divina que dá uma reviravolta na totalidade do pensar e atuar   humanos. Jesus, em nome de Deus, como seu profeta, declara quais deveriam ser   chamados de ditosos ou afortunados. Assim começa a nova economia que inicia uma   nova visão do mundo dos sofridos e despossuídos. Esta situação, no lugar de ser   uma situação de infortúnio, ou um estado aparente de desdita, é, pelo contrário,   uma condição de sorte, porque as riquezas divinas estão à disposição dos que se   supõem ter herdado o azar como condição de suas vidas. Como diria Paulo, na   fraqueza é que se manifesta (mais) o poder [de Deus] (2 Cor 12, 9). Por isso,   todas as bem-aventuranças terminam com um porque em que Deus entra como causa   ativa, subentendido na passiva do verbo correspondente, passiva que era   praticamente usada só para atuações divinas. Talvez a melhor tradução seria:   Sois abençoados por Deus vós os…  
            O ESQUEMA: temos em cada bem-aventurança uma   prótasis [primeira parte de uma poema teatral] e uma apódosis [explicação]. A   prótasis ou primeira parte de cada oração é uma circunstância da vida,   independente da vontade da pessoa respectiva. A apódosis é a explicação do   porquê e como a sorte lhes favorece. Como caso curioso podemos ver que as quatro   primeiras começam com a letra pi em grego: Ptochoi [mendigos], penthountes   [chorantes], praeis [mansos] e peinountes[famintos]. Quando se sabe que a kabala   era característica da interpretação das Escrituras, há uma pequena razão para   pensar que Mateus, legista e intérprete da lei, tivesse alguma razão, por nós   hoje desconhecida, de seguir seus ocultos princípios. PTÔCHOI: No AT ptochos   aparece perto de 100 vezes e são a tradução de 7 palavras hebraicas: 1º) `anav    <06035> é sinônimo de humilde, especialmente quando em forma adjetivada   acompanhado de Jahvé. Com seu número de Sprong <06035>  aparece 24 vezes,   especialmente nos salmos e em Isaías, a começar por Moisés que é declarado o   mais humilde, ou mais manso dos homens como traduz a vulgata. O anav desse   número é geralmente traduzido por prays [manso](12), penes [pobre] (11) e   tapeinós [baixo] (1). Na vulgata temos mites (6) mansuetus (6) e pauper (12).   Existem duas frases em que anav  acompanha terra anave heretz. E que em ambos   são traduzidos por prays ou mansos. 2º) ‘ani [37 vezes] <06041> que tem o   significado de pobre, humilde, modesto, oprimido. A primeira vez que aparece é   em Ex 22, 24: Se emprestares prata ao meu povo, ao pobre [ani e ptochós] que   está contigo. Quando não se menciona o opressor, a palavra significa realmente   pobre material, os que não têm terra. A Setenta traduz, indistintamente, ani por   pobre ou humilde. 3º) `anah <06033>. A única vez que anah sai é em Daniel   4, 27: redime tua iniquidade para com os pobres <06033>  em grego penetön   [=dos pobres].  4º) dal [22 vezes] <01800> baixo, fraco, pobre, magro.   Fisicamente dal significa fraco e passa a ser empregado para as classes sociais   mais baixas como camponeses, pobres, necessitados, sem importância. 5º) ebyon   [11 vezes] <034> significa pedinte de esmolas, mendigo; ou seja, os muito   pobres e sem lar. 6º)   rush [11 vezes] <07326> necessitado, pobre, é uma   palavra que se emprega como contraste de rico. 7º) Misken.<04542>. Nos   tempos mais modernos usa-se misken, um termo que os mendigos orientais empregam   para definir a si mesmos. Que deduzimos então? Se o mendigo é precisamente o   ebyon e equivale ao endeês [menesteroso em grego] o ptochós de nossa   bem-aventurança pode ser pobre no sentido de desvalido, sem recursos, cujo único   goel [defensor] era Jahvé,  em oposição aos ricos que dependiam de suas riquezas   como base fundamental de suas vidas. Os textos mais modernos descartam o pobre   material e traduzem o Ptochós como humilde, ou humilde de espírito (AV), ou os   que têm o coração de pobre (francesa). A melhor exegese será, sem dúvida, a   feita por Maria: Depôs poderosos de seus tronos e aos humildes [de baixa   condição] exaltou. Cumulou de bens os famintos e despediu ricos de mãos vazias.   Parece que Jesus aprendeu bem de sua mãe esta política divina que tão bem se   realizou na sua família. Os rabinos louvavam a simplicidade e a humildade, mas   nunca a pobreza porque, segundo eles,  nenhum dos males podia se equiparar ao   mal da pobreza; daí que Mateus, legista e conhecedor das tradições judaicas,   teve que acrescentar uma explicação ao simples fato de pobreza. Pois para esses   mestres da Lei a riqueza era o prêmio justo da virtude e a pobreza era   considerada como legítimo castigo. Porém, a pobreza entra nos planos de Deus e a   sua aceitação coloca os pobres como escolhidos às portas do Reino do qual Jesus   era o arauto ao proclamar as condições que o limitavam, segundo Is 61,1: Ele me   enviou a anunciar a boa nova aos pobres [ptochoi em grego e humildes nas versões   mais modernas como a italiana]. Na Historia do Israel antigo, após a economia   inicial de troca, uma vez consolidada a monarquia, o dinheiro tomou conta da   economia e muitos dos agricultores passaram a depender dos homens das cidades.   Este empobrecimento não só se tornou um problema social, mas religioso como   fruto da quebra da Lei, tornando-se uma injustiça, atacada pelos profetas do   século VIII aC. que ameaçavam com o juízo divino os ricos que eram culpados. E é   nesta situação histórica que podemos entender o significado de pobre e   necessitado. O pobre que sofre injustiça porque outros se tornaram gananciosos,   volta-se indefeso e humilde a Deus em oração, pensando que a ajuda divina em   suas necessidades é a base da glória a Deus. Pobres, são os que se voltam a Deus   em suas necessidades pois é um Deus-protetor dos pobres (Sl 72, 2): Com justiça   ele [o rei] julgue o teu povo, salve os filhos dos indigentes [anawim e ptochoi]   e esmague seus opressores. No salmo 132, 15 diz: De pão fartarei seus pobres   [anawim e ptochoi]. A desgraça do exílio levou temporariamente ao emprego das   palavras pobre e necessitado como termos coletivos para o povo. No judaísmo   tardio, tanto a pobreza material como o aspecto da sua espiritualização têm   características novas: Todos os grupos religiosos tinham suas formas especiais   de obras de caridade. Nas sinagogas havia uma organização para ajuda dos pobres,   existindo esmolas públicas semanais. Cada sexta feira, aqueles que viviam na   localidade, recebiam dinheiro suficiente da cesta dos pobres [quppah] para 14   refeições ; os estrangeiros recebiam comida diariamente da comida dos pobres   [tamhuy]; esta comida tinha sido coletada antes, de casa em casa, pelos oficiais   dos pobres. Na diáspora, as sinagogas frequentemente estabeleciam uma comissão   de sete para esse serviço, como fizeram os apóstolos em Atos 6, 1-6. A   distribuição das esmolas era considerada particularmente meritória, se feita na   cidade santa. A semelhança entre hoje e antigamente é tão grande –escreve J.   Jeremias- que há algumas dezenas de anos encontravam-se leprosos, pedindo   esmolas nos seus lugares habituais, no caminho de Getsêmani, fora dos muros da   cidade. Em Jerusalém a mendicância concentrava-se em torno do Templo, como vemos   em At 3, 1-8. Como temos visto, os setenta traduzem anawim por ptochoi.   Portanto, esta palavra perdeu o significado de mendigo para denotar o homem   indefeso, que só tem como avaliador Jahweh e que nele depositou sua inteira   confiança. A palavra pobre não significava a mesma coisa para um grego que para   um judeu. Para o grego era um mendigo; para o judeu era aquele que não possuía   terras (Ex 22, 24). Naturalmente, neste último caso, os pobres eram também   gentes desprovidas de influência social, frequentemente exploradas e humilhadas.   Em grego, temos a palavra Ptochós [mendigo] com necessidade de pedir esmola para   subsistir e a palavra Penes, o pobre que não é rico, mas tem necessidade de   trabalhar para poder viver. Como temos visto, ao explicar as diversas palavras   usadas no hebraico, pobres podem ocupar o lugar da palavra anawin, que tem um   significado contrário ao de rico, com conotações religiosas de confiança em   Deus.  
            TO PNEUMATI: que pode ser traduzido em espírito ou de espírito.   Evidentemente, o espírito é o espírito humano. Portanto, temos: Ou pobres de   espírito, que significaria acanhados; ou pobres por espírito, por eleição,   pessoas estas que aceitavam a pobreza como natural ou como voluntária.  O texto   grego presta-se, pois, a duas interpretações: 1) pobres quanto ao espírito 2)   pobres pelo espírito. A primeira pode ter um sentido pejorativo como homem de   qualidades diminuídas. Ou um positivo como aqueles desapegados do dinheiro,   embora o possuam em abundância, sentido este excluído pelo próprio Jesus em Mt   6, 19-24 e pela condição imposta ao jovem rico. Na tradição judaica, os termos   anawim/aniyim designavam os pobres sociológicos, que punham sua esperança em   Deus  por não achar apoio, nem justiça na sociedade. Jesus recolhe este sentido   e convida a escolher a condição de pobres [opção contra o dinheiro e a posição   social] entregando-se nas mãos de Deus. O termo “espírito” na concepção semita,   conota sempre força e atividade vital. Neste texto, denota o espírito do homem.   Na antropologia do AT o homem possui “espírito” e “coração”. Ambos os termos   designam sua interioridade; o primeiro, enquanto dinâmica, sua atividade em ato;   o segundo, enquanto estática, os estados interiores ou disposições habituais que   orientam e matizam sua atividade. A interioridade do homem passa à atividade   enquanto inteligência, decisão e sentimento. Dado o que Jesus propõe, é uma   opção pela pobreza, e o ato que a realiza é a decisão da vontade. O sentido da   bem-aventurança é, portanto “os pobres por decisão”, opondo-se aos “pobres por   necessidade”. Transpondo o nome decisão pela forma verbal, tem-se “os que   decidem escolher ser pobres”.  A vulgata usa pauperes spiritu do grego ptochoi   to pneuma. A tradução da bíblia protestante na sua VA [versão autorizada] é:   Bem-aventurados, os humildes em espírito. As bíblias católicas conservam a   palavra pobres e traduzem pobres de espírito ou em espírito e algumas pobres de   coração. Duas traduções fazem uma exegese particular: A versão AL [América   latina] os que têm o espírito de pobres e a francesa: ceux qui ont um coeur de   pauvre [que têm um coração de pobre]. A bíblia de King James traduz poor in   spirit e comenta que ptochós é uma pessoa que não pode se ajudar, ao contrário   de pénes, que,  sendo pobre, pode se virar, como dizem. E comenta: o primeiro   passo para ser abençoado é a admissão da própria inutilidade espiritual.   Enquanto Mateus dá uma explicação sobre o significado de Ptochoi [pobres], Lucas   nada diz sobre a natureza da pobreza, aludida por Jesus na primeira   bem-aventurança. Segundo Lucas, é a pobreza material a que abre as portas do   Reino. Segundo Mateus, essa pobreza tem um matiz necessário: é a pobreza   fomentada no espírito, no desejo, no interior ou pensamento, ou tomada como   objetivo na vida, que implica não considerar as riquezas materiais como   finalidade da vida. Na realidade, ambos os termos podem ser vistos com uma   convergência: a pobreza material é um pré-requisito para a pobreza espiritual,   muito mais difícil de se conseguir quando a riqueza é o berço em que fomos   aninhados. Uma interpretação moderna é de que os homens só podem ser abençoados   por Deus quando diante dele se comportarem como mendigos às portas de sua   misericórdia. Vejamos duas interpretações:  
            1ª) Do ponto de vista católico e   fundamentada em Mateus: a) a primeira Bem-aventurança seria a bênção divina para   os que escolhem ser pobres, porque no lugar da riqueza, estes terão a Deus por   seu único Rei, que por sua parte escolhe os válidos e preferidos entre os pobres   e oprimidos. No texto de Mateus podemos interpretar pobres no espírito como   aqueles que não têm ambições de riqueza, que não se deixam levar pela avareza.   b) Finalmente, pobres no espírito podem significar aqueles que carecem de   qualidades humanas. c) Qual delas é a mais correta na interpretação das palavras   de Jesus? Segundo a maioria dos autores,  Ptochoi traduz o hebraico Anawim  que   Jesus  explicará em Mateus 6, 19-21; 24 em que Jesus rejeita o desejo das   riquezas e as antepõe ao serviço devido a Deus, já que não podemos servir a dois   senhores. Quando da recusa do jovem a abandonar suas riquezas, Jesus comentará   que é difícil para um rico entrar no Reino, pois na realidade ele está dominado   pelo senhor contrário ao verdadeiro Senhor: Deus (Mt 19, 16+). E é nesta última   situação que as palavras de Lucas adquirem o verdadeiro valor como   Bem-aventurança. d) Um último comentário: Pelo que Mateus nos dá a conhecer   sobre o sermão da montanha parece que as bem-aventuranças foram redigidas sobre   a frase tão repetida neste capítulo V: Ouvistes que foi dito aos antigos; eu,   porém vos digo. Isto é: nas sinagogas vos foi ensinado; porém, a verdade é outra   diferente que eu vos declaro agora. Por isso a melhor tradução, sob o ponto de   vista exegético, seria: Ouvistes que vos foi ensinado que os ricos eram benditos   de Deus; eu porém, vos digo que são os mais pobres os escolhidos e os que   verdadeiramente são os benditos de Deus, que na terra vão constituir seu Reino.   De fato, Paulo dirá aos de Corinto: Não há entre vós muitos sábios segundo a   carne, nem muitos poderosos, nem muitos de família prestigiosa… Deus escolheu o   que no mundo é vil e desprezado… a fim de que aquele que se gloria, glorie no   Senhor. (1 Cor 1, 26-31). A bênção era tão inusitada para a época em que a   pobreza era considerava pior que a lepra como castigo divino, que Mateus ou o   seu copiador, se sentiu obrigado a introduzir um pequeno parêntese explicativo   para restringir a pobreza a limites aceitáveis pelos seus leitores e assim fala   dos pobres de coração que hoje chamaríamos pobres sem ambição, e que os   evangélicos traduzem por humildes de espírito. Porém, devemos manter o original   de Lucas que fala dos simplesmente pobres, indigentes, porque a bênção divina é   tanto mais completa quanto mais miserável aparecer a condição humana. Assim se   cumpre o dito de Jesus que afirma ter vindo salvar o aparentemente perdido. Como   consequência, não devemos desprezar esses mendigos que tratamos de vagabundos,   porque eles merecem um lugar de destaque no reino, e nosso amor para com eles só   será um espelho do amor de Deus exemplificado nesta bênção. Em termos gerais,   podemos considerar que se Lucas é o taquígrafo das palavras de Cristo, Mateus é   seu intérprete e catequista. Daí as diferenças. Segundo as palavras de Jesus,   citando, em Lucas, Isaías 61, 1: Ele me enviou a anunciar a boa nova aos pobres   [anawim e ptochoi, o latim mansueti,  que traduz o italiano umili e a VA   quebrantados] os pobres poderiam ser os aflitos por suas necessidades materiais.   De fato, as classes inferiores, escravos e necessitados se beneficiaram do   evangelho em forma tal, que Jesus teve que afirmar que dificilmente um rico   entraria dentro do esquema do mesmo. Serão, pois, os pobres materiais os   sujeitos da bem-aventurança embora devam ser excluídos da mesma, os que se   rebelam contra sua pobreza e não a aceitando, rejeitam os planos de Deus que   prefere os deserdados aos ricos e opulentos.  
            2ª) A evangélica de Robert H   Mounce; em resumo será: Jesus exclama que não são os ricos e poderosos, mas os   pobres e humildes de quem se pode dizer, na verdade, que são bem-aventurados. A   apreciação de Jesus das coisas que constituem a vida, como deve ser vivida,   ressalta em forte contraste com a sabedoria convencional… Na linguagem hebraica,   pobre não era apenas a pessoa em desvantagem econômica, mas todos quantos, em   sua necessidade, apelam a Deus em busca de ajuda ( Sl 69, 32 e Is 81, 11). Estes   são os anawim, “os humildes pobres que confiam na ajuda de Deus”. Pobre de   espírito significa depender totalmente de Deus para ajuda segundo o Salmo 34, 6:   Clamou este pobre e o Senhor o ouviu; salvou-o de todas as suas angústias.  
            REINO   DOS CÉUS: A promessa mais explícita, como esperança de cada Bem-aventurança, é a   entrada no Reino, que Mateus chama dos céus, especialmente explicitada na   primeira e na última, oitava e final, da lista por ele apresentada. Mateus é   praticamente o único evangelista que chama reino dos céus [15 vezes] enquanto os   outros dois denominam Reino do (sic) Deus. Em que consiste esse Reino que parece   ser a base da pregação de Jesus? Nas suas parábolas Jesus o descreve como um   banquete nupcial (Mt 22,1+), como um precioso tesouro (Mt 13, 44). Mas, em que   consiste? No AT só encontramos uma vez e em grego a frase Reino de Deus   [basiléia theou] no livro da Sabedoria que não é admitido como canônico pelos   evangélicos: Ela [a sabedoria] guiou por sendas retas o justo [Jacó], que fugia   da ira de seu irmão [Esaú], lhe mostrou o reino de Deus e deu-lhe o   conhecimento  das coisas santas [significando o governo do mundo por meio de   seus anjos e em particular a bondade de Deus para com o patriarca] (Sb 10, 10).    Por Daniel, especialmente no capítulo 7, sabemos que os quatro reinos   procedentes do mar [do abismo, símbolo do mal] foram substituídos pelo reino que   procedia das nuvens do céu [de Deus]. Era o Reino dos céus segundo Mateus ou   Reino de Deus do qual Jesus se diz representante, assumindo a figura de Filho do   Homem (Dn 7, 13). Das palavras de Jesus dificilmente saberemos a resposta   positiva; sabemos quais são as pessoas que entram facilmente [pobres, crianças]   (Mt 5,3 e 19, 14) e quais as que têm dificuldade [ricos, autoridades religiosas]   (Mt 19, 23 e 21, 31) . Sabemos que o Reino exige uma honestidade própria [mais   estrita que a dos escribas e fariseus] ( Mt 5, 20). Que para um escriba era   necessária uma espécie de renovação como novo nascimento, que é da água e do   espírito ( Jo 3,5). Um reino que implica uma nova relação com Deus, não em forma   aparente e externa, mas interior (Lc 17, 21). Um reino que consiste   essencialmente em que a vontade divina seja a norma indispensável da vida (Mt 6,   10). Um reino que se mostrará patente após a morte de Cristo porque muitos dos   ouvintes de Jesus estarão presentes a seu início visível (Lc 9, 27) para o qual   haverá sinais prévios (Lc 21, 31). Reino que terá Pedro como supremo supervisor   (Mt 16, 19). Os apóstolos, seguindo esta linha de Jesus, nos dizem que o Reino   consiste em honestidade, paz e alegria no E. Santo (Rm 14, 17), não em palavras,   mas em poder (1 Cor 4, 20). Não em comilanças e bebedeiras, mas em honestidade,   paz e gozo no Espírito Santo; que nem luxuriosos, nem idólatras, nem adúlteros,   nem depravados, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem   bêbados, nem injuriosos herdarão o mesmo (1 Cor 6, 9-10); coisa que repetirá   Paulo em Gl 5, 21. Trabalham pelo reino os apóstolos e com eles os que os ajudam   (Cl 4, 11). Deste reino, que podemos chamar na sua face terrena, chegamos ao   definitivo ao eschaton do qual temos a palavra de Jesus que beberá do fruto da   vide quando chegar o Reino de Deus (Lc 22, 18). Este é o reino que Jesus admite   como próprio e do qual, como gozo definitivo, promete participar aos que nele   confiam (Lc 23, 42-43). Podemos, pois, responder à pergunta qual é esse reino   que a eles é prometido? Sem dúvida, que eles serão a maior e melhor parte desse   novo povo de Deus que constitui o Reino por Cristo fundado e do qual ele era   Senhor. Não é sem uma idéia proposta e preconcebida que Mateus escolhe no monte   onde pronuncia a novidade do reino: os doze que deveriam ser os novos pais das   novas tribos do novo Israel, não como genitores materiais mas como pais   espirituais, dos quais todos nós recebemos a nova vida no Espírito.  
            TÊM A DEUS   POR REI: Esta é a tradução preferida pelos modernos intérpretes. Assim, o grego   Basileia não significa aqui reino mas ‘reinado’. “Seu é o reinado de Deus” quer   dizer que esse reinado se exerce sobre eles, que somente sobre eles age Deus   como rei. A pobreza a que Jesus convida é a renúncia a acumular e reter bens, a   considerar algo como exclusivamente próprio; esses pobres estarão sempre   dispostos a compartilhar o que têm. A opção final que Jesus propõe, realiza o   prescrito pelo primeiro mandamento de Moisés: Não terás outros deuses diante de   mim (Dt 5, 7). A idolatria concretizava-se na posse da riqueza (6, 24); por isso   o enunciado desta bem-aventurança é porque estes  e não outros, têm a Deus por   Rei. A opção proposta pela primeira bem-aventurança leva à sua perfeição a   metânoia  ou emenda, pois quem escolhe ser pobre, renunciando a monopolizar   riquezas, e com isso, à posição social e ao domínio, exclui de sua vida a   possibilidade de injustiça. É a visão da teologia da libertação.  
                        CONCLUSÃO: As   palavras de Jesus são um convite a refletir de forma nova sobre fatos que   consideramos desafortunados, mas que o evangelho torna afortunados. Entre eles a   pobreza, considerada como um castigo divino, mas que agora devemos ver como uma   circunstância providencial, uma verdadeira bênção do céu, porque facilitará a   entrada no reino dos que a sofrem. 
            OS QUE CHORAM: Ditosos os que pranteiam. Eles serão consolados(4). Beati qui   lugent quoniam ipsi consolabuntur. O latim e a maioria das traduções modernas   modificam a ordem desta bem-aventurança colocando-a em terceiro lugar. Mas que   significa o verbo grego penthountes<3996>? Ele significa propriamente   lamentar os mortos ou seja prantear, derramar lágrimas por alguém, estar de   luto. Precisamente a palavra luto deriva do latim lugere de onde luctus.O grego   pentheö [lugere latino] sai 4 vezes nos evangelhos: Duas em Mateus e uma em   Marcos e Lucas. É traduzido por lugere, enquanto o pranto ou choro como o de um   menino é klaiö. Pedro chorou [eklausen, ploravit]  amargamente após suas   negações (Mt 26, 75). As carpideiras, ou pranteadeiras, choravam [klaiontas,   flentes] na casa de Jairo por causa da morte da filha (Mc 5, 38). Lucas, neste   lugar paralelo, usa klaiö em vez de pentheö de Mateus (Lc 5, 21). Sobre pentheö   temos  Mt 9, 15 que diz que os amigos do noivo não podem estar de luto no dia da   boda do mesmo. Marcos diz que a Madalena anunciou a Ressurreição aos que estavam   lamentando [penthosin, lugentibis] e chorando [klaiousin, flentibus]. Os mesmos   dois verbos sucessivos usa Lucas em 6, 25.  Também o grego admite como tradução   os que se lamentam ou estão afligidos, como aceitam traduções modernas.   Poderíamos traduzir por os que sofrem. A razão que motiva esta bem-aventurança é   a de que encontrarão consolação a sua dor. Logicamente o pranto não é devido a   uma dor física mas a uma perda de uma pessoa amada ou de bens estimados   necessários para a vida: um infortúnio, uma desgraça. Alguns traduzem: os que   sabem o que significa a tristeza. É o próprio Deus que será seu consolo, segundo   Is 61, 2: A consolar todos os que choram. Lucas, como a vulgata de Mateus, traz   esta bem-aventurança em terceiro lugar e a palavra usada é Klaiontes [o latim   flentes, derramando lágrimas] que como sempre traduz muito literalmente o grego.   O texto não diz as razões que motivaram as lágrimas. Mas no texto de Isaías,   citado por Jesus quando do início de sua missão, encontramos: que foi enviado a   consolar [parakalesai] os que estão tristes [penthountas]. Usa, pois, Mateus os   dois verbos que a setenta, a bíblia-guia dos primitivos cristãos, emprega.   Poderíamos afirmar que o consolador é o próprio Jesus na sua função de Messias   Salvador, ou Cristo. Ele toma as funções divinas atribuídas a Deus na passiva do   verbo correspondente. Recorda a passagem: Vinde a mim todos vós que estais   cansados…e eu vos aliviarei(Mt 11, 28). 
            OS MANSOS: Ditosos os mansos porque eles herdarão a terra (5). Beati mites   quoniam ipsi possidebunt terram. PRAEYS <4239>: é palavra própria dos   mansos, benignos, não violentos, o mites ou mansuetus latino, que aceitam sua   fragilidade e sua situação social sem revolta, mas com a confiança em Deus que   será o último fautor da História. É uma imagem tomada do Salmo 37, 11: Pois os   mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância da paz. É notável como as   palavras prays e klëronomeö são também as usadas pelo salmista. O sentido claro   é que definitivamente o Reino é um reino de paz e que os não violentos são os   herdeiros desse reino que substitui o antigo Israel, a verdadeira terra bíblica.   Por isso, Jesus afirma que os contrários do Reino são os violentos que estão a   destruí-lo (Mt 11, 12). No tempo de Jesus os Zelotas pensavam fosse a terra   [nome dado à Palestina pelos israelitas] matéria de conquista e guerra. Jesus,   porém, toma a palavra do profeta no salmo 37, 8-9 para indicar que não é a   violência que conquista a terra. Deixa a violência, abandona o furor, não te   inflames: só farias o mal; porque os maus vão ser extirpados e os que aguardam o   Senhor possuirão a terra. De Si mesmo dirá que devemos aprender porque é manso   [prays] e humilde [tapeinos] de coração (Mt 11, 29). De novo temos a presença de   Jesus nesta bem-aventurança, agora como modelo humano e não como Deus que cumpre   uma promessa. Esta bem-aventurança é uma antecipação da número 7: os fazedores   da paz. Só que neste último caso a situação é ativa e na nossa 3a   bem-aventurança o sujeito é passivo: pacífico. Terra [gë] era o termo com o qual   declaravam os judeus a porção geográfica que Jahweh tinha dado a eles por   herança (Dt 1, 36 e Nm 26, 53) que Dt 9, 29 identifica com o povo de Israel, de   modo que podemos afirmar que unicamente os pacíficos ocuparão o espaço dos que   pertencem ao Reino. 
            FOME E SEDE DE JUSTIÇA: Ditosos os famintos e sedentos de justiça, porque   serão saciados (6).Beati qui esuriunt et sitiunt iustitiam quoniam ipsi   saturabuntur. Esta bem-aventurança está refletida, mas de modo material, na   segunda de Lucas: Os famintos [peinontes] agora, pois serão saciados. Esta   oposição à materialidade de Lucas nos descobre uma interpretação espiritualista   de Mateus das palavras de Jesus. Ao mesmo tempo, Mateus conecta com o AT segundo   sua proposição de que Jesus veio não para revogar a Lei mas para completá-la (Mt   5, 17). São duas as passagens de Isaías que falam sobre sede e fome: 55, 1 e 65,   13. Especialmente nesta última Jahweh se refere a seus servos que terão comida e   bebida em abundância. Mas que significa a justiça que é a fonte ou motivo de   sede e fome? Em grego dikaiosyne significa: 1) Justiça divina que premia o bem e   castiga o mal. 2) Justiça humana equivalente a santidade moral. Homem justo é um   homem virtuoso. 3) Fidelidade divina que cumpre sempre suas promessas, que vem   ser sinônimo de salvação. 4) Justiça distributiva humana que respeita o direito   e defende em nome de Deus os mais necessitados. Qual delas é a justiça de nosso   versículo? Provavelmente, a terceira. A justiça bíblica é sinônimo de santidade   ou correção de vida em conformidade com a vontade divina. Não é a justiça   comutativa mas a essencial da qual nos fala Paulo e que em certo modo se   identifica com salvação e santidade. O lugar paralelo é Mt 6, 33 no qual a   justiça está unida ao Reino. Justos eram aqueles cujo sangue foi derramado desde   Abel até o último profeta (Mt 23, 33). Uma salvação que inclui também o primeiro   significado. Era o desejo manifestado por Simeão: Meus olhos viram a tua   salvação (Lc 2, 30) porque essa salvação foi comparada a um banquete no qual   todos podiam entrar, ricos e pobres, sãos e aleijados, bons e maus. A entrada é   livre, pois a justiça divina se transformou em misericórdia. Unicamente os   convivas deveriam ter uma veste limpa: não buscar a própria exaltação como os   fariseus, mas revestidos de Cristo (Rm 13, 14) de sentimentos de compaixão,   benevolência, humildade, doçura, paciência (Cl 3, 12). 
            OS MISERICORDIOSOS: Ditosos os misericordiosos porque serão tratados com   misericórdia (7). Beati misericordes quia ipsi misericordiam consequentur.   Eleëmones<1655> é o termo grego significando que tem compaixão. Eles   alcançarão essa mesma compaixão que têm com os homens, mas da parte de Deus.   Eleemones só sai esta vez nos evangelhos. A palavra que é usada da mesma raiz é   eleeö, <1653>[miserere, ter compaixão]. É o verbo usado pelos pedintes   para uma cura de Jesus, como os cegos, a mulher cananéia, o pai do filho   epiléptico, etc. É o verbo usado por Jesus na parábola do servo devedor, a   palavra que usa o rico para pedir de Abraão uma gota d’água. É a compaixão para   com aquele que está necessitado ou pede perdão de uma dívida impagável. O   próprio Lucas traduz a perfeição cristã por misericórdia: sede misericordiosos   como vosso Pai (Lc 6, 36). A palavra usada por Lucas   oiktirmon <3629>   [misericors, que tem pena de] é mais próxima de compaixão que de misericórdia.   Precisamente a  eleëmosunë <1654> eleemosina latina [esmola portuguesa]   provém dessa raiz grega. Daí o grande motivo para dar esmolas entre os   cristãos. 
            LIMPOS DE CORAÇÃO: Ditosos os limpos no coração porque eles verão a Deus(8).   Beati mundo corde quoniam ipsi Deum videbunt.  KATHAROI <2513> [mundi,   limpos]. Na verdade, o latim com mundo corde diria: ditosos (aqueles) com   coração limpo. O coração limpo, por outros traduzido por os puros de coração   nada tem a ver com a castidade, mas visa os de intenções limpas, os não   malvados, nem torcidos em seu íntimo entre pensamento, palavra e ação por terem   o pensamento diverso de sua palavra mentirosa. Ou seja, os não hipócritas, os   que só pensam em fazer o bem, sem outras intenções espúrias ou indignas por   segundos interesses.  Limpos de coração é tomado do Salmo 24, 4: Quem é limpo de   mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura   dolosamente.  O salmo 15, 2 fala de quem vive com integridade e pratica a   justiça, e, de coração, fala a verdade, o que não difama com sua língua, não faz   mal ao próximo nem lança injúria contra seu vizinho. Esta é a limpeza do   coração, mente, ou intenção diríamos hoje. O prêmio desta vez é que verão   [opsontai] a Deus. Quando? Evidentemente na figura de Jesus. Como exemplo: os   fariseus viram o demônio expulsando seu colega, quando a gente simples via o   dedo de Deus na expulsão do  demônio feita por Jesus (Mt 12, 22-24).  Por outro   lado, eles, os limpos de coração, são os que buscam a verdade e a encontrarão e   por isso verão a Deus em suas vidas porque Deus é a única verdade. Na epístola   aos Hebreus se afirma que sem a santificação é impossível ver a Deus (Hb 12,   14). Não se trata unicamente do além, mas do tempo presente em que a premissa   básica para encontrar o verdadeiro Deus é a pureza de intenção. Precisamente   Jesus dirá que é no coração onde se prepara e cozinha a maldade (Mt 16, 19). A   presença de Deus era o Templo, onde Deus estava assentado sobre os querubins da   arca (1 Sm 4, 4). Agora o verdadeiro templo é o crente (1 Cor 3, 16), e só se   Deus é adorado em verdade (Jo 4, 24) é que estará ali como estava sobre os   querubins no antigo Templo (1 Sm 4, 4). E nesse templo interior, Ele se   manifestará. 
            OS QUE TRABALHAM  PELA PAZ: Ditosos os que trabalham pela paz porque eles   serão chamados filhos de Deus(9). Beati pacifici quoniam filii Dei vocabuntur.   Os EIRËNOPOIOI <1518> grego [ pacifici latino], têm como tradução direta   os que fabricam a paz, que infelizmente o latim traduz impropriamente por   pacifici e que a maioria das bíblias adotou como pacífico; mas pacífico   corresponde a 3a bem-aventurança com o nome de praeis. Uma coisa é ser pacífico   ou afável, e outra é trabalhar pela paz. Um comentarista diz que um trabalhador   pela paz é um homem que experimentou a paz de Deus e pretende levar a mesma aos   que com ele convivem. De fato, esta é a única vez que é empregada no NT. SERÃO   CHAMADOS FILHOS, está no lugar de serão verdadeiros filhos de Deus.   Precisamente, segundo Isaías, o filho que nos foi dado, terá como nome Emanuel   [Deus conosco] e será chamado Príncipe da paz (9,5). Esse Jesus que, como rei da   paz, entra em Jerusalém montado num jumento e não num cavalo, montaria de   guerra, para anunciar a paz às nações (Zc 9, 9-10). Os pacificadores são os   verdadeiros continuadores do labor feito por Jesus, levam a paz entre os homens   e a paz para com Deus. Trabalham como Jesus trabalhou, com o mesmo objetivo e o   mesmo motivo: reconciliação e amor. 
            OS PERSEGUIDOS: Ditosos os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o   reino dos céus (10).  Beati qui persecutionem patiuntur propter iustitiam   quoniam ipsorum est regnum caelorum. PERSEGUIDOS [dediögmenoi <1377>   =persecutionem patiuntur], perseguidos é o particípio passado passivo do verbo   Diökö <1377> buscar ou acossar alguém de modo a ter que fugir por causa do   acossamento.  Esta deveria ser a oitava e última bem-aventurança, mas nos   encontramos com um makarismo a mais, o nono. A justiça é, como temos explicado   no parágrafo de sede e fome de justiça, a correção de vida que se ajusta aos   planos divinos, e que no AT consistia no cumprimento exato dos preceitos da Lei,   como era o caso de José, esposo de Maria, que devia por lei denunciar Maria   publicamente, mas pensava em repudiá-la ao modo antigo, ou seja secretamente (Mt   1, 19). Jesus claramente abona a idéia de que a moral entra dentro dos planos   divinos. 
            A JUSTIÇA DO REINO: Ditosos sois quando vos tenham reprovado e perseguido e   dito palavra má contra vós, mentindo por minha causa (11). Beati estis cum   maledixerint vobis et persecuti vos fuerint et dixerint omne malum adversum vos   mentientes propter me. Parece que este é o nono macarismo, porém os autores   afirmam que ele é a explicação do oitavo, indicando qual é a justiça e a   perseguição dos justos. De fato, neste último macarismo Jesus passa da terceira   pessoa, em termos gerais, para a segunda pessoa dirigindo-se a seus ouvintes:   vós. A justiça é a que está representada na pessoa de Jesus [por causa de mim].   A perseguição ou os perseguidos, do verbo diökö, são os buscados ou acossados   pelos inimigos de Jesus, porque  atrás deles está o Mestre, como Ele disse a   Saulo, perseguidor dos seus discípulos (At 9, 4): Saulo, Saulo, por que me   persegues? O grego usa neste versículo o mesmo verbo diökö. Dentro da   explicação, vemos que a perseguição implica a injúria, o acossamento e a   mentira. Todos eles, os perseguidos,  pertencerão ao Reino e são os verdadeiros   membros do mesmo, o constituem. A última bem-aventurança promete a mesma   recompensa do que a primeira: o Reino. 
            A RECOMPENSA: Ficai alegres e exultai porque vossa recompensa (é) grande nos   céus. Assim também perseguiram os profetas, os anteriores vossos (12). Gaudete   et exultate quoniam merces vestra copiosa est in caelis sic enim persecuti sunt   prophetas qui fuerunt ante vos. A recompensa, ou melhor, o salário     [misthós<3408>] é uma remuneração que só Deus pode dar e que ninguém   poderá diminuir ou anular, como é o tesouro que as riquezas bem repartidas   adquirem para os que delas se desprendem. Assim podeis comparar-vos com os   profetas que me precederam. A ação profética é precisamente o testemunho de suas   vidas, aparentemente desperdiçadas inutilmente, maltratadas e vilipendiadas   pelos que tinham a obrigação de ouvir e respeitar seus testemunhos. É uma   profecia do que aconteceria após a morte e ressurreição de Jesus, do qual eles   se tornariam testemunhas e profetas. 
            PISTAS: 
            1) Jesus [ou a Igreja primitiva] coloca as bem-aventuranças no início   da sua atuação pública, imediatamente após a escolha dos doze. Pelos detalhes de   Mateus elas ocupam o lugar dos mandamentos recebidos por Moisés no Sinai; ou   seja, Jesus prega uma Boa Nova em oposição a Moisés que proclama uma lei de   servidão. 
            2) É um evangelho positivo no qual Deus quer mostrar a sua face de bondade e   salvação. E são precisamente esses homens passivos da ação divina que o mundo   pensaria serem os de pior sorte, os que são beneficiados [makarioi, ditosos]   pela riqueza e misericórdia de Deus. 
            3) Não se trata de uma moral nova a ser cumprida –à parte o capítulo V- mas   de umas circunstâncias nas quais Deus quer se mostrar magnânimo e divinamente   generoso. Por isso as Bem-aventuranças estão sendo proclamadas a todos os que de   alguma maneira encontram em Jesus o seu Mestre e Salvador. 
            4) As bem-aventuranças resumem o espírito evangélico, ou apresentam um modo   novo de olhar para a realidade crua, dos discípulos de Jesus? Antes parece um   juízo feito pela sabedoria divina dos momentos e das pessoas que nós   consideramos desafortunados. Nessas situações tão indesejáveis, a esperança   provém do olhar para a verdadeira essência das coisas: ver a realidade como Deus   a vê. 
            5) As primeiras constituem a bênção de circunstâncias que podemos chamar de   infortúnio. Estar nas mesmas não é um azar, mas uma sorte do ponto de vista da   providência divina. As segundas implicam uma recompensa para determinadas   virtudes que são essencialmente cristãs. Todas constituem a Boa Nova para   necessitados ou almas de boa vontade. A Boa Vontade divina agora inclui a boa   vontade humana. 
            EXEMPLO: Um mestre oriental contava de si mesmo: Na juventude, eu era um   verdadeiro chefe revolucionário e rezava assim: dá-me energia, ó Deus, para   mudar o mundo! Mas notei, ao chegar à meia-idade, que metade da vida já havia   passado sem que eu tivesse mudado homem algum. Então mudei a minha oração,   dizendo a Deus: Dá-me a graça, Senhor, de transformar os que vivem comigo, dia a   dia, como os meus familiares e os meus amigos. Com isto eu já fico satisfeito!   Agora que sou velho e com os dias contados, percebo bem o quanto fui tolo   rezando assim. A minha oração agora é apenas esta: Dá-me a graça, Senhor, de   mudar a mim mesmo! Se eu tivesse rezado assim desde o princípio, não teria   esbanjado a minha vida e o mundo seria bem melhor. 
            FRASE: Dos modernos, que tanto confiam na ciência como verdade absoluta,   podemos afirmar com o Papa: apesar de terem deuses, estão sem Deus e, com muitas   esperanças, falta-lhes a suprema e última esperança. 
             
            
             
             
             
            23.01.2011 
              3º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A 
              __ "JESUS, LUZ DO MUNDO" __ 
            Ambientação: 
            Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! A luz é uma das necessidades primordiais do home. Não é apenas um elemento necessário à vida, mas como que a imagem da própria vida. Isso influi profundamente na linguagem, para aqual "ver a luz", "vir à luz" significa nascer; "ver a luz do sol" é sinônimo de viver... Ao contrário, quando um homem morre, diz-se que "apagou", que "fechou os olhos à luz"... A Bíblia usa esta palavra como símbolo da salvação. O salmo responsorial põe a luz em estreita ralação com a salvação. "O Senhor ´eminha luz e minha salvação". "Deus é luz e nele não há trevas" (1Jo 1,5) "Habita uma luz inacessível" (1Tm 6,16). Em Jesus, a luz de Deus vem brilhar sobre a terra: "Veio ao mundo a luz verdadeira que ilumina todo homem" (Jo 1,9). "Eu como luz vim ao mundo, para que todo o que crê não permaneça nas trevas" (Jo 12,46). Com Jesus passamos das trevas para a luz. Evangelização é luz. Conversão é luz.  Entoemos cânticos ao Senhor! 
            
               (coloque o cursor sobre os textos 
                em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) 
             
             
            PRIMEIRA LEITURA (Is 8,   23b-9,3):   - "O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz!" 
            SALMO RESPONSORIAL 26(27):    - "O Senhor é minha luz e salvação. * O senhor é a proteção da minha vida." 
            SEGUNDA LEITURA (1Cor   1,10-13.17):    - "Sede bem unidos e concordes no pensar e no falar." 
            EVANGELHO (Mt 4,12-23):   - "Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens." 
             
            
             
            Homilia do Diácono José da Cruz – 3º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A 
            "JESUS, NOSSA LUZ!" 
            No meu grupo de reflexão, a Dona Rosa que ajuda na  limpeza da igreja, fez uma observação interessante sobre esse evangelho do  terceiro domingo do Tempo Comum. 
            Segundo  ela, ao ver que o primo João fora preso, Jesus parece ter desistido de tudo e  voltou para o interior, lá  no fim do mundo,  na terra de Zabulon e Neftali”. Não vou discordar da Dona Rosa, pois a  narrativa nos dá de fato essa impressão. Mas esse encerramento de um ciclo em forma  de fracasso, parece ser uma constante na História da Salvação, dando-se a  impressão que tudo acabou e está na hora de jogar a toalha. Basta que  recapitulemos a história, o pecado de Adão e Eva, por exemplo, que truncou o  Projeto de Deus, tornou-se ponto marcante da Salvação que  Deus realiza, a favor do homem, chegando a se  cantar no” Exultis” da Vigília Pascal “Oh   culpa tão feliz que há merecido, a graça de um tão Grande Redentor!..”O  Povo de Israel, a raça escolhida e Nação Santa, em inúmeras ocasiões de sua  história, experimentou essa sensação de ter chegado ao final do caminho,  basta-nos lembrar que Deus reconstrói a Nação a partir de um pequeno “resto” no  pós exílio. 
            E depois, em Jesus Cristo, que cumpriu todas as  promessas de Deus e era o grande esperado, viria o maior de todos os fracassos:  a terrível morte na cruz, o desânimo dos discípulos de Emaús é um retrato fiel  das primeiras comunidades,, e aparece Pedro, em um dos evangelhos do  Pós-pascal, dizendo aos companheiros “Eu vou pescar....”, essas são evidências  muito claras de um gesto de “jogar a toalha” para qualquer leitor menos  esclarecido. Parece estranho, mas esse é o jeito de Deus agir. 
            Quando  tudo parece que vai se acabar, e o fracasso é iminente, o Reino renasce em meio  as cinzas, Jesus foi para o interiorzão fim de mundo, em lugarejos onde o povo  vivia na escuridão, isso é, não conheciam a Verdade, era uma terra de  pecadores, de gente perdida e sem recuperação, uma gente sem esperança,  entregue ao desânimo. Para certas categorias de pessoas, incluindo-se os  pobres, não há muito o que esperar.Qual ideologia ou projeto humano conseguirá  mudar os destinos da humanidade e a vida de cada pessoa? 
            Mas  é,  ali, naquele fim de mundo, que o  Reino sonhado por Deus, vai começar prá valer, João Batista, sua pregação e o  Batismo penitencial, fora apenas um “aperitivo”, uma fase preliminar, agora é  que as coisas iriam começar a acontecer do jeito de Deus, precisamente em Jesus  de Nazaré. 
            Muitas  luzes brilhavam em Jerusalém, a pomposidade e o Poderio do Império Romano, a  suntuosidade do templo onde a luz dos homens ofuscava a Verdadeira Luz que é  Deus, a sabedoria e a eloqüência dos Doutores da Lei, a pureza dos Fariseus,  mas foi na distante Zabulon e Neftali, além da Galiléia, que os homens viram brilhar  a autêntica e única luz, previsto nas profecias, quanto maior a escuridão maior  será o brilho da luz! Longe da suntuosidade dos palácios e da grandeza do  templo, os excluídos, marginalizados e esquecidos, recebem por primeiro a  notícia de que o Reino havia chegado e exigia uma conversão, a metanóia que  muda o pensar e o agir do homem, que desmonta e desmascara toda e qualquer  falsa segurança para buscar o Reino em primeiro lugar. Olha a estratégia e a  pedagogia de Jesus! Os desesperançosos e excluídos do sistema  político-econômico e religioso, ouviam o ensinamento de Jesus e começavam a  sonhar e ter esperança, com algo novo, que não viria doa poderes constituídos....  As vezes alimentamos muitos sonhos bonitos, mas todos passam pelos poderes  instituídos, mudança para melhor sempre depende dos que mandam....Jesus quebra  essa falsa premissa.... 
            Nenhuma segurança terrena pode garantir a Vida em sua  plenitude ao Ser humano, nenhuma segurança material pode tornar o homem feliz e  realizado! Á beira do mar da Galiléia, quatro pescadores aceitaram essa  proposta nova e inédita, deixar aquilo que se têm, para se tornar discípulo de  Jesus. Em uma perspectiva vocacional, os nomes de Simão Pedro e seu irmão  André, Tiago e João, são mencionados como os primeiros chamados, mas eles são  também os primeiros a acreditarem no Reino anunciado por Jesus. Os dois  primeiros jogavam a rede ao mar, e os dois últimos consertavam as redes. Eram  tarefas comuns na vida de um profissional da pesca por aqueles tempos. Os  quatro não conheciam outra segurança senão a da sobrevivência, com a atividade  pesqueira. Sem dúvida que o trabalho é uma bênção, mas ele nos dá apenas a  garantia de uma sobrevivência humana, alimentos, roupa, moradia, bens de  consumo. O homem dos nossos tempos, não consegue mais perceber o transcendente,  pois o imediatismo da vida moderna, e o consumismo desenfreado o leva a pensar  que o propalado “Paraíso” é por aqui mesmo, em uma vida marcada pelo sucesso,  por uma carreira bem sucedida, pelo enriquecimento rápido e fácil, pelas  mudanças meteóricas que o poder econômico oferece, enfim, pela administração  dos bens materiais, investimentos e aplicações, não pensar assim, é expor-se ao  ridículo. Fala-se muito em criar oportunidades para as pessoas, mas tais  oportunidades limitam-se ao material. E nesse horizonte, a religião,  principalmente a cristã, só atrapalha... 
            Jesus é a Luz do mundo, a única e verdadeira  referência para toda a humanidade, não segui-lo, e dar ouvidos as propostas de  vida que o mundo de hoje oferece, é arriscar-se a perambular nas trevas, e  depois permanecer nelas para sempre. A Luz de Cristo está no coração dos que  crêem, e não nas estruturas ou instituições, mesmo as religiosas, passíveis do  erro das divisões e das intrigas, como a Comunidade de Coríntios. 
            A Comunidade Cristã tem que refletir em seu viver e em  seu “celebrar”, essa luz que brilha no interior de cada crente, caso contrário  corremos o risco de nos iludirmos com as “Luzes da Ribalta” que iluminam o  homem como centro de tudo, mas  que um  dia, no final do “espetáculo” irão se apagar para sempre, deixando atrás de si  a mais terrível de toda escuridão. Mas quando se crê sinceramente que a  Salvação vem de Deus e não dos empreendimentos humanos, então pode se rezar com  a boca e o coração como o salmista  ”O  Senhor é minha Luz e Salvação”. 
            José da Cruz é Diácono da  
              Paróquia Nossa
              Senhora Consolata – Votorantim – SP 
              E-mail  jotacruz3051@gmail.com 
             
            Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 3º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A 
            “Todos têm vocação”
            Muito tempo há, dois irmãos foram pescar. Era a profissão deles e, portanto,   um dia e outro também saiam ao mar, lançavam as suas redes e, dependendo de   alguns fatores que eu não sei explicar bem, pescavam uma quantidade razoável de   peixes. É verdade, segundo li nalgum lugar, que não eram infrequentes os dias de   má pesca. No entanto, todos os dias tinham que estar lá, pescar era o ganha-pão   da família deles. 
            O dia ao qual me refiro, era uma jornada costumeira, ordinária; um dia normal   como todos os outros. Lá estavam os dois irmãos exercendo a sua profissão   quando, inesperadamente, escutaram as seguintes palavras: “Vinde após de mim e   vos farei pescadores de homens” (Mt 4,19). Pedro e André, os irmãos pescadores,   “abandonaram as suas redes e o seguiram” (Mt 4,20). 
            Quem os chamou? Jesus de Nazaré. Eles o conheciam há muito tempo ou era a   primeira vez que viam aquele personagem que os convenceu sobremaneira?  Seja   como for, impressiona a docilidade de Pedro e de André à vocação. Pescadores de   quê? Não, de peixes não, de homens. De homens? Sim. E como se pescam os homens?   Os dois irmãos passariam mais ou menos três anos na escola de Jesus para   aprender a pescá-los. Pescar peixes não parece ser fácil, pescar homens parece   mais difícil. No entanto, acompanhando a Jesus, se aprende constantemente. 
            Faz algum tempo, Deus também nos chamou, a cada um pelo nosso nome. Você se   lembra daquele momento tão entranhável no qual você percebeu que Deus o chamava   a segui-lo buscando de verdade a santidade e o bem de todas as pessoas? Graças a   Deus: respondemos positivamente ao Senhor! Talvez tenha sido na infância, talvez   na adolescência, talvez ainda na juventude… Sempre é tempo de vocação (=   chamada), Deus continua chamando-nos nas circunstâncias mais normais e   cotidianas da nossa vida: no nosso trabalho, na nossa família, entre os nossos   amigos. 
            Nós não vimos uma sarça ardente como Moisés; nem escutamos vozes como Samuel;   tampouco fomos ungidos solenemente por um profeta como no caso de Davi; não nos   visitou um anjo como a tantos no curso da história; nem tivemos visões nem   revelações. Nada disso! E, não obstante, nós vimos a nossa vocação, nós   percebemos que Deus nos chamava. A nossa vocação foi uma luz que deu sentido à   nossa vida e essa luz interior permanece até hoje e, com a graça de Deus, não se   apagará jamais. O que é a vocação senão essa percepção da realidade que Deus   quer para nós, isto é, que sejamos discípulos para evangelizar. Duas palavrinhas   resumem a nossa vocação: santidade, apostolado. Desde toda a eternidade, Deus   pensou em nós, chamou-nos e capacitou-nos para que sejamos santos, para que   sejamos apóstolos. 
            Todo cristão tem a vocação que lhe foi concedida por graça no momento do   batismo: todos nós fomos chamados à santidade e ao apostolado. Com o passar do   tempo, na escola de Jesus, essa vocação poderia receber uma nova especificação,   por exemplo, no caso daqueles que são chamados ao sacerdócio ministerial. No   entanto, a vocação à santidade e ao apostolado é igual para padres, para leigos   e para religiosos. Todos devem ser santos, todos devem evangelizar. Por quê?   Porque foram batizados. Além do mais, não existe uma santidade maior para os   padres e uma santidade menor para os leigos, mas todos estão chamados à   plenitude da vida cristã, à santidade. Com outras palavras: o padre não é mais   santo porque é padre, nem o leigo é menos santo pelo fato de ser leigo. Não! A   santidade é medida pela caridade e todos podem chegar ao auge do amor. 
            Pedro e André, os futuros São Pedro e Santo André, compreenderam isso. Eles   seguiram ao Senhor Jesus, andaram com ele, permaneceram sempre perto de Jesus,   atenderam os seus apelos de evangelização, fizeram a vontade do seu Mestre e…   são santos. Aprenderam a estar com Jesus e a pescar homens. Aprenderam a ser   apóstolos. 
            Todos nós somos chamados a “pescar homens e mulheres”, ou seja, conseguir que   todas as pessoas que entrem em contato conosco ou que nós entremos em contato   com elas, saiam desse grande mar do pecado e entrem na barca da Igreja quais   peixes para Jesus. Não obstante, sair do mar, sair desse habitat de agua   abundante que é o mar e passar à barca pressupõe morrer. Qual é o peixe que ao   sair da água e ir para uma barca não morre, em primeiro lugar pela ausência da   água? Essa morte para o mundo é, paradoxalmente, o começo de vida eterna. Os   peixes que entram na barca não precisam se preocupar, pois essa barca tem água   fresca, limpa e sempre nova que jorrou do lado aberto de Jesus na cruz para a   nossa salvação. 
            Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa 
             
            
             
             
             
              
              CAMPANHA 
              DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA 
               
              CLIQUE AQUI, acenda uma vela virtual, faça seu pedido e 
              agradecimento a Nossa Senhora Aparecida pela sagrada intercessão 
              em nossas vidas! 
             
             
            
             
            
              QUE DEUS ABENÇOE 
                A TODOS NÓS!  
             
            Oh! meu Jesus, perdoai-nos, 
              livrai-nos do fogo do inferno, 
              levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente 
              as que mais precisarem! 
            Graças e louvores 
              se dê a todo momento: 
              ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento! 
              
            
              
                
                    Mensagem: 
                      "O Senhor é meu pastor, nada me faltará!" 
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  
                      Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!". 
                    ( Salmos ) 
                    | 
               
             
            
	   | 
           
            
       |