GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
            
             
            22.05.2011 
              5º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A 
              __ "JESUS RESSUSCITADO, CAMINHO, VERDADE E VIDA" __ 
            Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! A afirmação de Jesus personaliza os temas bíblicos característicos e permite a toda experiência humana confrontar-se com ele sobre o sentido fundamental da existência. Jesus Cristo, Verbo feito carne, enviado como homem aos homens, fala as palavras de Deus e consuma a obra de salvação a ele confiada pelo Pai. Eis por que ele, ao qual quem vê, vê também o Pai, pela plena presença e manifestação de si mesmo por palavras e obras, sinais e milagres, e especialmente por sua morte e gloriosa ressurreição dentre os mortos, enviado finalmente o Espírito de verdade, aperfeiçoa e completa a revelação e a confirma com o testemunho divino de que Deus está conosco para libertar-nos das trevas do pecado e da morte e para ressuscitar-nos para a vida eterna. Entoemos cânticos jubilosos ao Senhor! 
            
               (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) 
             
             
            PRIMEIRA LEITURA (At 6,1-7):   - "O número dos discípulos crescia muito em Jerusalém, e grande multidão de sacerdotes judeus aceitava a fé." 
            SALMO RESPONSORIAL (32/33):    - "Sobre nós venha Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos!" 
            SEGUNDA LEITURA (1Pd 2,4-9):    - "Aproximai-vos do Senhor, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e honrosa aos olhos de Deus." 
            EVANGELHO (Jo 14,1-12):   - "Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também." 
             
            
             
            Homilia do Diácono José da Cruz – 5º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A 
            "Senhor,  mostra-nos  o Pai..." 
            No  evangelho de João estamos diante de um Jesus que fala muito, os discursos ocupam  a maior parte, é sempre bom lembrar que os escritos Joaninos situam-se mais ou  menos nos anos 90, quase final do primeiro século, marcado por intensa  perseguição aos cristãos. 
            O  quadro que se apresenta é de insegurança e perturbação, certamente o grupo dos  discípulos também viveu essa mesma experiência nos dias que antecederam a  paixão e morte do Senhor, no coração dos pobres e simples, os ensinamentos de  Jesus eram bem acolhidos, mas nas Lideranças Religiosas, ao contrário, a  rejeição e a incredulidade eram evidentes. 
            As  comunidades do final do primeiro século também estão inseguras, todos se  perguntam que destino terá o Cristianismo iniciado pelos discípulos de Jesus,  como sobreviver em um ambiente tão hostil ao evangelho, onde os cristãos são  considerados membros de uma seita perigosa ao sistema. 
            Os  cristãos têm consciência da missão que fora confiada á igreja, pelo próprio  Senhor, mas por outro lado sentem-se impotentes e nada podem fazer para  reverter o quadro. 
            Nossas  comunidades cristãs neste terceiro milênio, embora em outro contexto vivem o  mesmo drama, o que fazer diante de um mundo cada vez mais hostil ás coisas de  Deus Pai ? Como agir em uma sociedade que ainda não conhece de fato a Jesus  Cristo, seu Reino e seu evangelho. Filipe não conhecia o Pai, e hoje em nossas  comunidades, muitos também não conhecem a Deus, fazendo dele uma imagem  distorcida. 
            Muitos  vivem em comunidade, recebem um Batismo, tem contato com Deus nos Sacramentos,  ouvem a Deus na Palavra, comungam Deus na Eucaristia, mas não sabem ao certo  quem é Deus, e essa  fé em Jesus nem  sempre os  faz ser, pensar e agir diferente.  Crêem em Jesus mas não o aceitam como Senhor de suas Vidas, aliás, nem admitem  que ele interfira em suas vidas, é a chamada Religião onde as pessoas se  “sentem bem”, sem qualquer compromisso com a moral ou ética, Filipe não  conseguia ligar Fé e Vida, sua relação com Deus se fundamentava em revelações e  manifestações grandiosas, por isso irá dizer a Jesus “Senhor, mostra-nos o Pai  e isso basta!” A queixa de Jesus procede, no caso de Filipe e para nossas  comunidades também “Há tanto tempo estou convosco e não me conhecestes!” Por  isso que as vezes há cristãos que nos surpreendem negativamente, leigos,  religiosos, membros do clero,  quando se  envolvem em escândalos que são um contra testemunho,  e dizemos cheios de espanto “Nossa ! Mas ele  não saia da igreja...” O que fez todo esse tempo ? O mesmo que Filipe, sonhando  com um Messias poderoso e celestial, que de vez em quando vem interferir em  nossas misérias.... 
            Nós  cristãos corremos dois grandes riscos nos dias de hoje, podemos, a exemplo de  Filipe, querer viver uma religião das manifestações milagrosas, vivendo então  só na Mística, Deus nos revela seu mistério, que contemplamos e adoramos, e  fica nisso. É Deus quem faz, é Deus quem age, é Deus que soluciona, Ele tudo  pode e tudo quer, quanto a nós, em nossa pequenez nada temos a contribuir, e  assim, fugimos do mundo que não aceita Deus, e nos acercamos dele, até o dia em  que formos arrebatados para o céu. 
            Esse  é um primeiro perigo, deixar tudo por conta de Deus, mas há outro perigo, e  hoje esse é muito maior: o de buscarmos soluções no homem, no racionalismo que  tem resposta para tudo, e nesse caso, a salvação vem do homem, Deus é apenas  uma entre muitas outras opções do modo de se viver. 
            Há  obras que precisam ser feitas, e Jesus garante que estas serão maiores do que  aquelas que ele realizou, mas é preciso saber ocupar o nosso lugar, que não é  em uma esfera celestial, flutuando ao encontro do céu, mas o lugar do Cristão é  na terra, com os pés firmes caminhando em Comunidade, semeando a Boa Nova e  cultivando sempre a esperança que não é vã, porque Jesus está com o Pai, mas  também caminha á nossa frente mostrando-nos o caminho a tomar, para que não nos  percamos nos atalhos que não nos levam a lugar nenhum. 
            O  caminho é bem conhecido, não podemos dar a mesma desculpa de Filipe “Senhor,  não sabemos para onde vais”! Não sabemos o que fazer, ou que estilo de vida  adotar enquanto cristãos. Essa é uma desculpa esfarrapada demais, o nosso  caminho é o mesmo de Jesus, é o caminho do serviço, percorrido sempre com amor e  entusiasmo, ainda que diante de nós, tenhamos muitas vezes as cruzes dos  fracassos, o tormento das nossas limitações. A Fé no Pai que se revelou em  Jesus, aquele a quem seguimos, sempre nos reanima as forças, nos faz olhar á  frente  e seguirmos adiante, para uma  Vida além de tudo o que hoje vemos, sentimos e somos. Esse lugar que já está  reservado ao homem de Fé, é ao lado de Deus, para isso Ele nos fez e nisso  consiste a Salvação... Ele já está a disposição, ainda nesta vida, para quem se  dispuser a Ser Discípulo Fiel de Jesus. 
            José da Cruz é Diácono da  
              Paróquia Nossa
              Senhora Consolata – Votorantim – SP 
              E-mail  jotacruz3051@gmail.com 
             
            Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 5º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A 
            “Circuminsessio”
            Que palavra é essa? É simples. É o sinônimo de “perichoresis”. O quê? Ficará mais simples se eu utilizar as palavras de Jesus que escutamos neste domingo: “Crede-me: estou no Pai, e o Pai em mim. Crede ao menos por causa destas obras” (Jo 14,11). Agora ficou claro. Não? Então vamos deixar por um momento a palavra grega e analisemos a latina: “circuminsessio”. “Circum” significa “o que está em volta”, “sessio” significa “sentar-se”. Uma variante desta expressão é “cicumincessio”; neste caso, “cessio” estaria relacionada com “incessum” que significa “avançado”. Tem, por tanto, um significado mais dinâmico. Esse dinamismo se encontra presente na palavra grega, “perichoresis”, que conserva o significado de “recirculação” entre as Pessoas divinas. 
            São Gregório Nazianzeno utilizou a palavra “perichoreo” para explicar a mútua presença da natureza divina e da natureza humana, compenetradas e sem confusão, em Cristo. São Máximo o Confessor utilizou essa mesma palavra para expressar a união das duas naturezas, mas com relação às ações do Verbo encarnado. A partir do assim chamado “Pseudo-Cirilo” começou a usar-se o vocábulo para a doutrina trinitária, desta maneira se afirma a multiplicidade das Pessoas em Deus permanecendo sempre a unidade divina. Os Doutores medievais utilizaram a palavra grega traduzindo-a por circumincessio ou circuminsessio. 
            Perichoresis ou circumisessio é a in-existência ou presença de cada uma das pessoas da Santíssima Trindade nas outras duas. A doutrina cristã afirma que há um só Deus em três Pessoas verdadeiramente distintas. O Pai não é o Filho, nem o Filho é o Pai; o Pai não é o Espírito Santo, o Filho não é o Espírito Santo; o Espírito Santo não é nem o Pai nem o Filho. Não obstante, como existe um só Deus, é importante falar desse mútuo “permanecer em” das três Pessoas divinas para evitar qualquer divisão na essência divina e, em consequência, para evitar falar de três deuses. 
            A doutrina da circuminsessio afirma que o Pai está no Filho e o Filho está no Pai, que onde está o Pai aí também está o Filho. E o mesmo se diga do Espírito Santo em relação ao Pai e ao Filho. 
            Observemos também que Jesus nos convida a descobrir essa mútua presencia entre Ele e o Pai através das suas obras. As ações de Jesus mostram que ele faz em todo momento a vontade daquele que o enviou, que ele espera sempre o tempo que o Pai determinou para realizar as coisas, que ele está –de maneira semelhante a como estava Adão antes do pecado– em total dependência do Pai. Ele, ao contrário do primeiro homem, não se rebelou contra Deus, não o desobedeceu. Jesus sempre amou o Pai e fez em tudo a sua vontade. Essa maneira de fazer e de ensinar-nos, leva à compreensão da presença do Pai nele, e à inversa. 
            A nossa maneira de atuar também mostra que em nós residem o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Que ninguém se assuste se nesse momento eu utilizo a palavra “perichoresis” ou “circuminsessio” não somente no sentido cristológico ou trinitário, mas também em perspectiva antropológica. Há uma presença de Deus no homem, e à inversa: há uma presença do homem em Deus. Esse é o “divinum comercium”, o comércio divino entre Deus e o homem, e que os Padres da Igreja gostavam de expressá-lo dessa maneira: o Filho de Deus se fez homem para que o filho do homem se fizesse filho de Deus. 
            É importante que a nossa maneira de atuar, como no caso de Jesus, manifeste que Deus encontrou uma casa no nosso coração, que as três Pessoas divinas habitam na nossa vida em graça, que nós estamos presentes em Deus e que Deus está presente em nós. Agora mesmo, nesse exato momento, a humanidade que se encontra na Pessoa de Jesus, no céu, é a nossa humanidade. A humanidade gloriosa de Cristo manifesta como deve ser o homem segundo o plano de Deus porque Deus o criou para a incorruptibilidade, para a santidade e para a imortalidade. A nossa humanidade está na intimidade de Deus e Deus está no mais íntimo do nosso ser quando vivemos em graça. 
            A vida cristã é consequência da in-habitação trinitária em nós. Assim fica mais fácil entender a Escritura quando afirma que nós somos templos do Espirito Santo. Não poderia ser diferente uma vez que Deus mora em nós. Ou seja, o que acontece nas profundezas da comunhão trinitária, acontece, a outro nível, entre Deus e nós. As relações entre o homem e Deus tem que ser a imagem das relações que há entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo. 
            Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa 
             
            Comentário Exegético — 5º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A 
              (Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios) 
            EPÍSTOLA (1Pd 2, 4-9) 
            CRISTO, PEDRA VIVA: Junto ao qual aproximando-nos, pedra viva,  por homens certamente rejeitada, mas por Deus escolhida, preciosa(4).  Ad quem accedentes lapidem vivum ab hominibus quidem reprobatum a Deo  autem electum honorificatum. Pedro se refere a Cristo a quem chama PEDRA VIVA [lithos <3037> sön <2198>=lapis vivus]. Lithos é uma pedra, podendo ser uma pedra pequena, como em Mt 3, 9: Os afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. Uma pedra lavrada das usadas em construção, como em Mt 21, 42: Nunca lestes nas escrituras: a pedra que os construtores rejeitaram…que Jesus aplica a si mesmo.Também é a pedra que serve de tropeço [lithos proskommatos], como em Rm 9,33: Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, aquele que nela crê não será confundido. Pedras vivas [os homens] para o edifício do novo templo de Deus [a Igreja], como diz Paulo em Ef 2, 20: Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus a pedra angular. E dentro destas pedras vivas podemos dizer que algumas são preciosas [timioi]  como em 1 Cor 3, 12, enquanto outras podem ser até palha. Como vemos no  versículo seguinte, os fieis são essas pedras vivas que constituem a  casa [templo] espiritual em que se oferece o sacrifício por meio de  Cristo. Mas neste versículo o apóstolo fala de Cristo como a pedra viva  rejeitada pelos homens. Refere-se Pedro à passagem que lemos em Mc 12,  10: Não lestes esta Escritura: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra angular [kefalë gonias]. (ver também Mt 21, 42 e Lc 20, 17). Essa Escritura é Is 28, 16 que diz: Eis que assentei em Sião uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa, angular, solidamente assentada; aquele que crer não foge. Veremos que significa pedra angular, como diz At 4, 11, citando Sl 118, 22: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra angular [kefalë gonias]. Era a pedra inicial  de um canto do edifício que regulava toda a obra como fundamento da  mesma. Por isso, Cristo é o fundamento desse edifício como diz Paulo em  Ef 2, 20, que temos citado supra. 
PEDRAS VIVAS: E vós, como pedras  vivas, sois edificados (como) casa espiritual, para um sacerdócio  sagrado, para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por  meio de Jesus Cristo (5). Et ipsi tamquam lapides vivi superaedificamini  domus spiritalis sacerdotium sanctum offerre spiritales hostias  acceptabiles Deo per Iesum Christum. Pedro continua sua metáfora de uma construção [templo melhor, pois é a casa de Deus] em que as PEDRAS  de seus muros e interior são vivas, de homens dedicados ao seu serviço.  E quem podia entrar no templo eram os sacerdotes que aqui recebem o  nome de CONSAGRADOS [agioi]  para o serviço do templo que é oferecer sacrifícios, no caso  espirituais [não de animais ou de óleo, vinho e pão], mas da vida  própria do corpo como dirá Paulo: Rogo-vos que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, sagrado e agradável a Deus, que é vosso culto racional. Assim, na semelhança de Cristo que a si mesmo se ofereceu (Hb 7, 37) e como diz Paulo vos amou e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave (Rm 6, 19). É claro que unicamente unidos a Cristo com nossos corpos como formando parte de seu corpo, pois somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros (Rm 12, 5), coisa que repete em 1 Cor 6,2. Modernamente podemos comparar as pedras vivas com as células do corpo de modo que a frase paulina poderia ser traduzida por nossos corpos são as células que formam o seu corpo. 
            PEDRA ANGULAR: Por isso também está contido na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra no ângulo principal, escolhida, preciosa e quem crer nele nunca será iludido  (6). Propter quod continet in scriptura ecce pono in Sion lapidem  summum angularem electum pretiosum et qui crediderit in eo non  confundetur. A Escritura é do grande profeta de Israel, Isaías 28, 16, que diz: Assim diz o Senhor Deus: Eis que assentei em Sião uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada, aquele que crer não se apresse. A tradução grega dos Setenta fala de embalö eis ta themélia [literalmente ponho nos fundamentos]. O Latim mittam in fundamentis (Vulgata) fundamentum ponam (Nova Vulgata) que é traduzida pela TEB como firmo uma pedra e pela espanhola pongo de cimiento, [sem dúvida melhor tradução] junto com  kJV lay for a fundation.  Ou seja, é uma pedra que forma parte dos alicerces do edifício. O  problema é que tipo de pedra é essa que em hebraico original é pinnah<06438> que é traduzido ao grego por akrogöniaios <204> e ao latim angularis. Veja Jó 28, 6. A palavra pinnah significa esquina, canto, ângulo, extremidade.  Junto com eben <068> formando a frase eben pinnatah significa pedra angular, lithos goniaios grego e lapis angularis  na Vulgata. De onde deduzimos que a pedra angular é uma pedra colocada  como alicerce no ângulo do edifício e que com sua posição estabelecia o  desenho de todo o edifício. A tal pedra sai nestes versículos bíblicos:  Gn 49, 24 em que José é o pastor e pedra [eben] de Israel. Salmo 118,22: A pedra [eben] rejeitada pelos construtores. Isaías 28, 16: fala de eben pinnat que é traduzido como lithos akrogöniaos [pedra de extremidade angular]. Mateus 21, 42 Diz-lhes Jesus: Nunca lestes, nas Escrituras, A pedra, que os edificadores rejeitaram, Essa foi posta por cabeça do ângulo [eis kefalën gönias]. Mc 12, 10; Lc 20, 17 e At 4, 11: Também falam de eis kefalën gönias, que temos traduzido por na cabeça do ângulo.  Falando de uma pedra de alicerce não pode ser outra que a colocada  primeiro como marcando o ângulo entre a fachada e o lateral do edifício  que determinava todo o curso do mesmo, sendo, pois, fundamental ou  cabeça do mesmo. Isso também pode ser interpretado em Ef 2, 29 em que se  o alicerce são os apóstolos e profetas a pedra akrogöniaios [do ângulo extremo] é Cristo. Também nesta carta Pedro usa o akrogöniaios que é traduzido por simples piedra angular no espanhol; na TEB por pedra angular; e por chief corner stone  em inglês da KJV. É a pedra do alicerce e como principal do mesmo é a  que estava no ângulo entre a fachada e a parede lateral, que por sua  posição determinava a estrutura do edifício. ILUDIDO [kataischynthë <2617>=confundetur] o verbo kataischynö  tem o significado de desonrar, causar descrédito, ignomínia, vergonha.  Especialmente quando alguém sofre uma repulsa ou fica desapontado. Assim  a fé não ilude ou falha, de modo a cair na frustração por causa do  engano. 
            FIEIS E INCRÉDULOS: Para  vós, pois, a honra, aos que creem; mas aos incrédulos a pedra que  rejeitaram os edificadores essa tornou-se em cabeça do ângulo (7), e  pedra obstáculo e rocha de escândalo. Os que tropeçam com a palavra,  incrédulos, na qual também foram postos  (8). Vobis igitur honor credentibus non credentibus autem lapis quem  reprobaverunt aedificantes hic factus est in caput anguli et lapis  offensionis et petra scandali qui offendunt verbo nec credunt in quod et  positi sunt. Isaías, no livro de Emmanuel, anunciava que Jahveh seria pedra de escândalo e tropeço para as duas casa de Israel e de Judá: Ao  senhor dos exércitos, a Ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja  ele o vosso assombro. Ele vos servirá de santuário, mas será pedra de  tropeço e rocha de escândalo às duas casas de Israel; por armadilha e  laço aos moradores de Jerusalém (Is 8,13-14). Essas casas eram as duas dinastias de Israel e de Judá. Pedro aplica  diretamente a Cristo este texto que em Isaías olhava diretamente a  Jahveh, o Senhor dos exércitos que destruiria ambos os reinos. Cristo,  rejeitado especialmente por causa de sua cruz, como escândalo [rocha de  escândalo] para os judeus e loucura [pedra obstáculo] para os gregos,  mas honra para os que creem (1Cor 1,23). Pedro é consciente das cartas  paulinas que julga têm  lugares difíceis de entender, que os incultos e inconstantes torcem e  igualmente as outras Escrituras para sua própria perdição.  (2Pd 3, 16). É por isso que este trecho parece uma glosa do versículo  citado de Paulo aos Coríntios. Os que tropeçam na palavra são incrédulos  que com ela se encontram. O etethësan <5087> é imperfeito de tithëmi e em conformidade com a Vulgata [in quo poisiti sunt], que se refere ao neutro Verbum e parece que deve ser traduzido por: com ela tropeçam ou se encontram. A tradução espanhola é, pois, também a que estavam destinados, a esse funesto tropeço. O comentário é que o texto grego diz simplesmente a eso foram destinados.   A TEB e a isto estavam destinados, com uma nota indicando não serem os  incrédulos destinados por Deus à incredulidade mas à queda, caso se  recusassem a crer. A KJV traduz whereunto also they were appoinnted [no qual também estavam designados]. A tradução latina é literal, mas deficiente; deveria dizer: in quo positi erant. Isto confirma minha tradução, com ela [a palavra] se encontravam. O significado é que a palavra [o evangelho] seria a pedra de tropeço para os incrédulos que com ela se encontram. 
            RAÇA: Vós, porém, raça escolhida, real sacerdócio, nação sagrada, povo reservado de modo a proclamardes as excelências de quem desde a escuridão vos chamou para sua maravilhosa luz (9). Vos  autem genus electum regale sacerdotium gens sancta populus  adquisitionis ut virtutes adnuntietis eius qui de tenebris vos vocavit  in admirabile lumen suum.  Pedro agora se dirige aos crentes gregos que, segundo ele, como eleitos  (1Pd 1,2), santificados  em Cristo (1 Cor 1,2) formam uma raça  escolhida, como escolheu Israel de todos os povos (Dt 10, 15), um  sacerdócio de reis (Êx 19,5-6) [igual no grego da setenta:[basileion ieratreuma] que traduzem como reino sacerdotal e que a TEB traduz como comunidade sacerdotal do rei ou também comunidade sacerdotal. A KJV fala de royal priesthood  [sacerdócio real]. Como têm existido sobre este assunto interpretações  errôneas, vejamos a sua origem, tradução grega e latina. O Êx 19,5 diz  em hebraico: Vocês serão para mim um reino de sacerdotes [mamleket<04467> kohanim<03548>]. Mamlakah =reino, domínio, soberania, de onde o constrito mamleket [do reino] usado tanto da dignidade real como do reino sujeito ao mesmo. Kohanim plural de kohen  cujo significado é sacerdote e até levita. A tradução do hebraico é  pois: reino de sacerdotes, com o ênfase no reino. A Setenta traduz baslileion <933> ierateuma <2406>. Basileion é o palácio real como substantivo e como adjetivo é régio, majestoso, esplêndido. E ierateuma é o ministério de um sacerdote e também a classe ou corpo sacerdotal. O grego, pois, fala de uma classe sacerdotal régia. A tradução da Vulgata é  sereis para mim in regnum sacerdotalis [reino sacerdotal], que a nova Vulgata traduz como regnum sacerdotum [reino de sacerdotes]. E continua: ethnos <1484> agion <40> que podemos traduzir como nação consagrada. Finalmente laos <2992> eis peripoiësin  <4047> povo em propriedade, ou pertencente de modo especial.  Todas as conotações pertencem ao antigo Israel no seu conjunto, sem que  cada um dos elementos ou indivíduos sejam tudo, mas tenham como  finalidade a proclamação das excelências e maravilhas de Deus, já que  das trevas como cegos encontraram a luz. 
            EXCURSUS 
            O SACERDÓCIO GERAL: Como muitos afirmam o sacerdócio universal  dos fieis está apoiado neste trecho de Pedro e noutros do NT. Vamos  explicar a diferença entre o sacerdócio universal e o específico e  ministerial dos homens a este fim ordenados. Vejamos os textos: Êx 19,  5-6: Vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel. Ap 1, 6: E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo e sempre. Amém. Ap 5, 10: E para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra. Dos  textos deduzimos que a fala é  geral, não podendo ser todo o povo, ou  melhor, seus indivíduos todos reis e sacerdotes, mas que neles haveriam  umas classes como tais, por Deus aprovadas e dirigidas. Vejamos a  interpretação do texto de Pedro. É um texto metafórico em que os homens,  ou melhor, os fieis se comportam como pedras vivas de um templo  espiritual. O nosso texto está tomado do Êx 19, 6 em que se afirma que  os israelitas são o reino de Deus, um reino teocrático em que Deus  (Jahveh) é o rei de Israel e os israelitas são sacerdotes, como súditos  desse reino, separados dos pagãos, por oferecerem a Deus um culto que  não pode ser oferecido pelos demais povos. Trata-se de uma metáfora para  significar que os israelitas são pessoas consagradas ao serviço de  Deus, em modo análogo, mas diferente dos sacerdotes propriamente ditos por intermédio de Jesus Cristo (5). Como diz Paulo em Rm 12, 1, o maior sacrifício é a oferenda dos vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é vosso culto racional.  Um outro sacrifício aprazível e agradável a Deus é a esmola, como  escreve Paulo em Fp 4, 18. Com isto creio que a dúvida está  suficientemente resolvida. 
            EVANGELHO (Jo 14, 1-12) 
            O CAMINHO É CRISTO 
            INTRODUÇÃO:  O evangelho de hoje forma parte do discurso de despedida de Jesus, que  inclui o final do capítulo 13 e todo o capítulo 14. Jesus vai preparar  as moradas na casa do Pai. Jesus declara que, no entanto, poderão ser  atendidos quando pedirem em seu nome. Jesus vai embora, mas, ao mesmo  tempo, estará junto  deles  e não se sentirão órfãos. Como toda lógica  semítica, ao contrário da ocidental que coloca uma tese inicial a ser  provada posteriormente, o discurso de Jesus se inicia com as provas,  para terminar com a conclusão final: Eu estou no Pai e o Pai está em  mim. Com isso, declara que toda a sua obra foi um estrito cumprimento,  em obediência, da vontade do Pai, Deus em última instância. E  precisamente por essa obediência até a morte e morte de cruz, como diz  Paulo, obteve um nome sobre todo nome ante o qual todos no mundo  ver-se-ão obrigados a aceitar. Os bons com amor e agradecimento, como  amigos e vencedores; e os maus com rebeldia e aversão, como inimigos e  vencidos. 
A DESPEDIDA: Não se perturbe o vosso coração: acreditais em (o)  Deus, também acreditai em mim (1). Na casa de meu Pai há muitas  moradias. Se não, vos teria dito. Parto para preparar um lugar para vós  (2). Non turbetur cor vestrum creditis in Deum et in me credite. In domo  Patris mei mansiones multae sunt si quo minus dixissem vobis quia vado  parare vobis locum. NÃO FIQUEIS AGITADOS: O semitismo usa o singular distributivo: não se altere vosso coração. Tarassö  [remover, agitar, revolver, alvorotar e excitar] é o verbo usado quando  Jesus se alterou na morte de Lázaro. É a perturbação que os discípulos  deviam experimentar, dada a morte inglória de Jesus na cruz. Sua fé e  sua esperança seriam perturbadas pela terrível morte, em certo modo,  sacrílega ou maldita, do mestre. Essa perturbação tem como base o  coração, que em termos modernos, seria a mente, onde os pensamentos e  decisões têm sua sede em sentido figurado. Nas línguas semíticas o  coração substituía a mente, como o alicerce dos pensamentos, do mesmo  modo que os rins eram a base dos sentimentos do homem. CONFIAI: O pisteuö grego  significa acreditar, ter confiança, não duvidar. Jesus se identifica  pela primeira vez com o Pai, com Deus. Este é o tema de todo este  discurso de Jesus. Ele tem o poder do Pai para que seus discípulos  tenham completa confiança em suas palavras. Como acreditam em Deus,  devem também acreditar em seu Mestre, Jesus. Este lhes fala sobre um  futuro que proximamente está cheio de dificuldades, mas que finalmente  terá uma base de eterna felicidade na casa do Pai. MONAI: É o plural de momë, palavra que provém do verbo ménö que significa permanecer e que, tantas vezes, repete João no discurso da última ceia. Jesus compara o céu com uma morada [oikia] em que existem inúmeras habitações [monai] ou estâncias, de modo a não faltar lugar para os hóspedes. De fato, a palavra mone [monai  em plural] só aparece uma outra vez em Jo 14, 23 em que Jesus diz que o  Pai e Ele [Jesus] farão de quem guarda seus mandamentos a sua morada. A  palavra indica uma dependência habitada dentro da casa, um aposento,  uma habitação dentro de uma casa, que, no nosso caso, é a casa do Pai.  Se o substantivo não tem muito lugar no NT o verbo menö  é, pelo contrário, um dos mais usados no quarto evangelho. Nos  capítulos 14 e 15 do discurso da última ceia, aparece 13 vezes. A ideia é  muito mais complexa do que um simples habitar numa casa comum. Implica  uma comunhão de vida com Jesus e com o Pai: o permanecer em mim. SE NÃO, VOS DIRIA: Há uma tradução que o grego admite e que a vulgata traduz confusamente. É esta: Se não, vos teria dito que vou preparar-vos um lugar?  Como temos visto, o grego termina em interrogação e deixa a pergunta  como uma questão de crédito pessoal: por acaso pensais que eu poderia  ter-vos dito que vou preparar-vos um lugar, se tais aposentos não  existissem? A tradução italiana concorda com o que temos dito, que,  aliás, é a conclusão mais natural do versículo. O latim traduz de modo  confuso: Se quo minus dixissem vobis; quia vado parare vobis locum. E podemos traduzir: Nada menos vos diria senão isso [que há muitos aposentos] e que vou prepará-los. O quo minus latino pode ser traduzido por de não ser assim. A Nova Vulgata traduz: si quo minus, dixissem vobis, quia vado parare vobis locum? Que podemos traduzir: se não fosse assim, vos teria dito, já que vou preparar-vos um lugar? 
            SE EU PARTIR: E  se eu partir e vos preparar um lugar, de novo venho e vos receberei  junto a mim para que onde estou eu, também vós estejais (3). Et si  abiero et praeparavero vobis locum iterum venio et accipiam vos ad me  ipsum ut ubi sum ego et vos sitis. Jesus declara, na continuação, que o insinuado no parágrafo anterior é verdadeiro. E, portanto, continua: Mas [mesmo] se for e preparar o lugar para vós, de novo virei e vos tomarei para que onde eu estou também estejais vós.  Com isto, Jesus dá continuidade a sua presença com os discípulos. Ele e  eles terão o mesmo fim: a casa do Pai. Jesus não declara a autoridade  que ele tem para semelhante preparação que foi, sem dúvida, a sua morte  vicária; mas explica que ele estará primeiro lá para preparar essa  moradia, dependência ou cômodo que agora Jesus chama de lugar [topos].  Ele prepara, como um hospedeiro, o lugar de descanso, após uma jornada  dura de caminho. Com ele devemos nos encontrar no fim de nossa jornada,  certos de que, como os apóstolos, encontraremos o Jesus que preparou  nosso descanso. Em Henoc tardio temos um interessante paralelo: No mundo futuro  existem muitos aposentos preparados para os homens, bons para os bons e maus para os maus. Como  Javé com seu povo, Jesus se mostra amigo até o fim, de seus amigos (Jo  13, 1). E apesar da separação temporária, ele voltará e não os deixará a  sós. 
            O CAMINHO: E, para onde eu vou, sabeis o caminho (4). Et quo ego vado scitis et viam scitis. O grego tem uma afirmação um tanto diferente de alguns códices e da Vulgata. Se o grego afirma que sabeis o caminho para onde eu vou, o latim oferece uma tradução algo diferente: Conheceis aonde vou e conheceis o caminho. A que se refere Jesus? Em primeiro lugar qual é o destino de Jesus? Em 13, 33 Jesus dirá: para onde vou, vós não podeis ir.  Essa mesma palavra ouviram os fariseus no capítulo 8, 21. A questão é,  só a morte como dizem os comentaristas, ou além da morte acessível a  todo mortal independente de qualidades pessoais, existe uma outra  finalidade ou meta que determine o caminho? Como pouco antes tinha  falado da casa do Pai, com toda certeza, era essa a meta almejada por  Jesus. Mas qual era o caminho? Hoje, através da história, iluminada pela  fé, sabemos que a morte era a meta almejada e que o caminho para a  mesma era a cruz. Mas qual dos discípulos de Jesus poderia saber, na  última ceia, uma e outra verdade? Nenhum deles seria capaz. A  interpretação dos fariseus foi pensar num suicídio [por acaso irá ele matar-se?]. A resposta de Jesus esclarece sua afirmação e com certeza, seria a mesma que poderia dar a seus discípulos: Sou  do alto. Vós daqui de baixo… Na morte ficareis em vossos pecados e,  portanto, vosso fim não pode ser  o mesmo que o meu a não ser que  creiais em mim, especialmente na hora em que eu for levantado, pois é  então que devereis acreditar que EU SOU.  Ou seja: sou Javé para vocês. E se na hora da morte não acreditais em  mim, não podereis ter o mesmo final que é a casa do Pai. Jesus, por  outra parte, tinha predito, segundo os sinóticos, sua morte e agora  declara que ia para o Pai. Consequentemente, Jesus podia perfeitamente  afirmar que sabeis não unicamente a meta, mas o caminho. Esse caminho  era só o de Jesus, ou era o caminho, especialmente o da obediência, de  seus discípulos também? O primeiro é evidente; o segundo é uma conclusão  lógica de que todo discípulo não pode ser maior do que o Mestre (Lc 6,  40). 
            TOMÉ: Diz-lhe Tomé: Senhor, não temos sabido aonde vais e como podemos conhecer o caminho? (5). Dicit ei Thomas Domine nescimus quo vadis et quomodo possumus viam scire? Tomé era nome hebraico que foi traduzido por Dídimo em grego, e que podemos traduzir  por Gêmeo  como vemos em Jo 13, 16. De quem era gêmeo Tomás? Não sabemos com  certeza. Tudo que depois foi arquitetado como sendo gêmeo do próprio  Jesus (?) é mais fantasioso que fantástico e seria anular, não  unicamente a fé, mas todos os evangelhos e toda a tradição. Somente em  tempos muito modernos tal hipótese teve cabida devido à descoberta do  chamado evangelho de Tomé entre os papiros de Nag Hammedi em 1947. O  evangelho é posterior a Ireneu (+202) e citado pela primeira vez por  Hipólito (+225). Era o evangelho dos Naasenos, ou Ofitas, gnósticos do  grupo dos ascetas que já foram condenados por Cirilo de Jerusalém que  fala de Tomé, o autor, como sendo um dos três discípulos de Manes. [Para  mais informação ver no site WWW. Presbíteros.com.br em Artigos número 57 Código da Vinci e no mesmo site em História da Igreja número 14 Os apócrifos].  O Tomé verdadeiro  é, sem dúvida, um dos doze que teve uma iluminação  especial da parte de Jesus ressuscitado para que não fosse incrédulo,  mas fiel e de cuja fé imediata são as palavras de reconhecimento, meu Senhor e meu Deus  (Jo 20, 28), até esse momento, nunca explicitadas pelos outros  discípulos em forma tão clara. O evangelho de João derruba totalmente o  evangelho gnóstico e filosófico de Tomé. Talvez, nesta ocasião, foi Tomé  o escolhido para a pergunta, porque, no segundo domingo após a  ressurreição, ele deu a resposta mais apropriada. Sem dúvida, que a  pergunta de Tomé era a  pergunta de cada um dos doze. 
            EU SOU O CAMINHO: Diz-lhe  Jesus: Eu sou o caminho e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão  através de  mim (6). Dicit ei Iesus ego sum via et veritas et vita nemo  venit ad Patrem nisi per me. O CAMINHO: Jesus  não responde à primeira parte da pergunta [não sabemos para onde vais] e  se contenta em apontar a solução da segunda parte: Eu sou o caminho. Um  caminho, não tanto exemplar como podíamos pensar de sua cruz, que deve  ser tomada por todo discípulo verdadeiro em seu seguimento (Mt 16, 24),  mas o caminho essencial se quisermos subir  onde ele vai e morar com o  Pai. Porque  ninguém poderá chegar ao Pai a não ser por ele [Jesus] que  seria melhor traduzido através dele [dia  grego], por meio dele. Jesus é o caminho para o Pai. Esta é a acepção  mais imediata e literal.  Fora deste trecho unicamente a palavra caminho  [odos] só sai em 1,23 em que é citado Isaías: endireitai o caminho do Senhor.  A verdade e a vida parecem ser pleonasmos ou redundâncias em que as  novas expressões clarificam a primeira delas, que no caso é o caminho.  Porém têm suas acepções particulares que não devemos esquecer. ALETHEIA:  Traduzida por Verdade em geral. No evangelho de João a palavra aparece  17 vezes nem sempre com um mesmo significado. Unida a graça [charis]  significa fidelidade como em 1, 14 em que a verdade, em seu sentido  primário, designa a realidade divina enquanto se manifesta e pode ser  conhecida pelo homem. Por isso, o Verbo Encarnado [Jesus] se manifesta  como graça e verdade de Deus. Em 8. 40 Jesus afirma que fala a verdade  que ouviu de Deus como Filho, e coloca no polo oposto o diabo que é  mestre da mentira (8, 44) do qual os judeus [jerosolimitanos] eram  filhos. Em 17, 17 Jesus expressa o desejo de que sejam seus discípulos  consagrados na verdade porque esta é unicamente a palavra de Deus. E,  finalmente, dentro desta seleção de textos temos em 18, 37 a afirmação  categórica de que ele veio ao mundo para dar testemunho da verdade e que  todo aquele que a busca ouve sua voz. Consequentemente, Jesus se  identifica com a Verdade divina e assim pode muito bem assinalar o  caminho que leva ao Pai. ZOÉ:  Vida é uma das palavras que constituem a base da teologia de João, o  evangelista. No seu evangelho sai em 31 versículos. Para o que nos  interessa, unida à verdade ou a Jesus, são estas: A vida estava nele e a vida era a luz dos homens (1, 4). De modo que, todo que nele crer, tenha a vida eterna (1, 15 e 17), Ele se identifica com a Escritura já que, assim como esta era a vida eterna para os judeus  (5, 39), agora será substituída pela palavra de Jesus (5, 24). Ele  próprio é o Logos de Deus. A si mesmo ele declara ser como pão do céu,  em oposição ao maná do deserto que dava só a vida temporal (6, 48 e 51).  Dele dirá Pedro: Só tu tens palavras de vida eterna (6, 68). Relacionado com o caminho temos suas palavras: quem me segue terá a luz da vida (8, 12). A vida eterna está unida ao conhecimento do Pai, como único Deus verdadeiro e ao de Jesus, como o Ungido a quem enviaste (17, 3) e este foi o fim pelo qual foi escrito este evangelho de modo que creiamos que Jesus foi o Ungido, o Filho de Deus, e crendo tenhamos a vida em seu nome [pessoa].  Destas citações podemos deduzir que, realmente, Jesus era a vida e que  por meio dele essa vida se transmitia a todos nós, como luz e como  verdade, e ao mesmo tempo, como caminho. Embora todos os códices tenham  as três palavras ligadas pelo Kai esta conjunção pode implicar uma explicação da primeira palavra, que é o caminho, e poderíamos traduzir: Sou o caminho porque verdade para a vida.  [Ou porque conduz a verdadeira vida]. Esta última é a verdadeira vida  que é a própria de Deus. A explicação do seguinte versículo indica por  que Jesus afirma ser a verdade: Se me tivésseis conhecido também teríeis conhecido o Pai. É desde agora que o conheceis e o tendes visto.  Na primeira parte, Jesus parece recriminar seus discípulos por uma  falta de fé ou excesso de cegueira, apesar de ter vivido juntos tanto  tempo, como dirá depois a Filipe. 
            UM PARÊNTESE: Se  tivésseis me  conhecido, talvez tivésseis, também, conhecido meu Pai; e  desde agora o conheceis e o tendes visto (7). Si cognovissetis me et  Patrem meum utique cognovissetis et amodo cognoscitis eum et vidistis  eum. Este é o texto a, preferido por certos manuscritos gregos e a Vulgata latina. Mas  a interpretação deste versículo é difícil. Devido,  pois, à falta de precisão temporal dos modos do verbo em hebraico, que  seria o original, alguns traduzem de forma diferente, admitida por  alguns textos gregos que chamaremos de b alternativo: Se me conhecesseis, conhecereis  também o meu Pai. Ou como diz a Nova Vulgata: Si cognovistis me, et Patrem meum utique cognoscetis.  Esta última tradução das bíblias modernas, incluindo a Nova Vulgata,  indica que Jesus afirma, com certeza, que os seus apóstolos estavam em  condições de saber num futuro próximo, quais eram os atributos do Pai.  De todos os modos, é de agora em diante que o conhecimento do Pai está à  vista. A morte de Jesus e sua ressurreição e ascensão indicam como Ele  era um espelho do Pai, um Deus praticamente desconhecido como Deus-Pai,  pelos discípulos. Esta última tradução nos leva a um futuro próximo em  que o Pai será revelado e estará com os discípulos como Jesus esteve com  eles. O Espírito, o segundo parácletos, revelaria perfeitamente o Pai e não estariam órfãos de Jesus (Jo 14, 18). 
            A PERGUNTA DE FILIPE: Diz-lhe Filipe: Senhor. mostra-nos o Pai e é suficiente para nós (8). Dicit ei Philippus Domine ostende nobis Patrem et sufficit nobis. Filipe  [amante de cavalos] era oriundo de Betsaida, um dos primeiros  discípulos do Senhor, conterrâneo e, provavelmente, amigo de Pedro, e  de  André.  Ele tinha por colega Bartolomeu ou Natanael, a quem falou de  Jesus; mas este não acreditava que de Nazaré poderia sair um profeta.  Assistiu ao primeiro milagre nas bodas de Caná. Na multiplicação dos  pães e peixes, foi a Filipe a quem Jesus dirigiu a pergunta onde  compraremos pão, porque Filipe era da região. E Filipe respondeu que nem  duzentos denários eram suficientes (Jo 6, 5-7). Devia saber bem o  grego, para ser ele o intermediário entre os de fala grega, para que  lhes mostrasse Jesus (Jo 12, 20- 21). A tradição diz que ele morreu  crucificado numa cruz invertida, aos 87 anos de idade, no tempo de  Diocleciano, na Frígia. A pergunta é: mostra-nos o Pai e isso nos contentará.  Mostrar o Pai significava experimentar o sobrenatural?  Porque os  discípulos estavam acostumados a ver um homem [Jesus] que nada  demonstrava de extraordinário a não ser, de vez em quando, as obras que  realizava  em nome [com o poder ou mandato] de meu Pai (Jo 10, 25). Essa  era a visão que tinham os discípulos de Jesus. Mas parece que os  discípulos queriam mais: ver Deus, como Moisés (Êx 23, 19-23), ou como  (1 Rs 9, 9-15). Talvez um milagre extraordinário em que Deus se  manifestasse como fez no Sinai. 
            QUEM ME VÊ, VÊ O PAI: Disse-lhe  Jesus: Tanto tempo estou convosco e não me tens conhecido, Filipe? Quem  me tem visto, tem visto o Pai. E como tu dizes mostra-nos o Pai? (9).   Dicit ei Iesus tanto tempore vobiscum sum et non cognovistis me Philippe  qui vidit me vidit et Patrem quomodo tu dicis ostende nobis Patrem. Jesus,  em primeiro lugar, parece que censura a pergunta de Filipe recordando a  vida em comum, própria dos discípulos da época com o mestre  correspondente, e que parece que não foi suficiente para que os  apóstolos conhecessem Jesus e a sua doutrina. E finalmente, Jesus  oferece a grande revelação: Quem me viu, viu o Pai. Como podes pedir, mostra-nos o Pai?  (9) Com esta resposta, o conhecimento do Pai depende do conhecimento  que temos do Filho. A resposta, referida aos apóstolos diretamente,  também atinge todos os que conhecem Jesus através dos evangelhos e da  tradição apostólica. O Pai é para nós o que a figura de Cristo nos  manifesta e representa. É o Deus revelado na figura humana de Jesus.  Logicamente não podemos supor que Deus tenha um corpo humano, mas como  ele é Espírito, será o estudo do espírito de Jesus que nos leva a  descobrir a verdadeira natureza de Deus, como nosso Pai, ou como o Pai,  de quem Jesus disse que ele é meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus  (Jo 20, 17). A resposta irônica de Jesus pode ser também dirigida a  todos nós: tanto tempo estamos com ele, escutando suas palavras e  recebendo seu corpo e ainda desconhecemos essencialmente o Pai, esse  Deus que quer ser chamado de Pai. 
            EU NO PAI E O PAI EM MIM: Não  acreditais que eu no Pai e o Pai está em mim? Os ditos que eu vos falo  não os falo por minha conta. O Pai, porém, quem em mim habita, ele  próprio faz as obras (10). Tende confiança em mim. Porque eu no Pai e o  Pai (está)  em mim. Senão, ao menos por causa das próprias obras, tende confiança  em mim (11). Non credis quia ego in Patre et Pater in me es? verba quae  ego loquor vobis a me ipso non loquor Pater autem in me manens ipse  facit opera. Non creditis quia ego in Patre et Pater in me est? But if  not, believe Me because of the works themselves. A  Velha vulgata tem um versículo diferente. Seguimos o grego original e a  Nova Vulgata, pelo que diz respeito aos versículos. Também a N V  não  coloca a interrogação no versículo 11,  como a antiga versão latina, que  o inicia com um não. Essas são as principais diferenças entre os textos  recebidos. Pelo que diz respeito às palavras e seu uso, podemos afirmar  que, a falta do verbo ser, indica uma tradução de um original semita. Por isso, o temos colocado entre parênteses como está. A palavra grega rëmata é diferente do logoi. O logos é a palavra enquanto som, que tem um significado. Porém o significado de Rema é de discurso, sentença e por isso preferimos a tradução de ditos em plural. Na sua disputa com os jerosolimitanos, Jesus afirmará que ele e o Pai eram um (Jo 10, 10) e mais adiante dirá que se faço as obras de meu Pai, crede nas obras, para que conheçais sempre mais, que o Pai está em mim e eu no Pai (Jo 10, 38). Era  uma união de poder que implicava união de expressão em palavras  proféticas, como ditas pelo mesmo Deus, a quem Jesus chamava de Pai. Mas  essa união pode se estender a uma vida trinitária em que a natureza une  as pessoas. Filipe era, sem dúvida, testemunha dessa situação, e, por  isso, Jesus se queixa de que ele não tivesse compreendido anteriormente  essa unidade entre Jesus e o Pai. De alguma maneira, Jesus explica essa  unidade por ser ele mesmo a mansão do Pai. Daí que as palavras de Jesus  sejam as mesmas que as do Pai; pois a palavra, se verdadeira, é a  expressão autêntica do ser que a emite. Essa palavra, como caminho e  verdade, é a vida que o Pai realiza em Jesus, como parte principal de  sua obra humana e para os homens. 
            CONCLUSÃO: Amém,  amém vos digo: Quem acredita em mim, as obras que eu faço ele também  fará e maiores que elas, porque eu parto para o meu Pai (12). Amen amen  dico vobis qui credit in me opera quae ego facio et ipse faciet et  maiora horum faciet quia ego ad Patrem vado. É  uma afirmação tão vigorosa que pode dar lugar a uma base teológica  sobre as que chamamos mediações, além da essencial de Cristo. Nesta  conclusão de Jesus, podemos fundar toda a mediação dos santos da Igreja.  A obra ou obras de Jesus continuarão em seus discípulos. E a História  da Igreja confirma esta palavra profética do seu fundador. 
            PISTAS: 
            1) Na ausência do Mestre, este se preocupa de antemão com a situação da  orfandade dos discípulos. E explica a razão dessa ausência: preparar a  morada no céu, na casa do Pai comum. Como ele entrou, eles entrarão  também. Como Ele ressuscitou, eles também ressuscitarão. Por isso, não  devem se sentir atribulados, já que a questão se resolve na esperança  fundada na fidelidade de Cristo à sua palavra. 
            2)  Jesus aponta a si mesmo como o verdadeiro e único caminho para alcançar  o Pai. Um caminho do qual depende a vida do discípulo. Caminho nada  fácil e que não podemos abandonar uma vez encontrado, ou que possamos  escolher arbitrariamente, como sendo um caminho particular de cada um e  não o determinado pela verdade externa e eterna de Jesus. Pois Jesus  conhece bem esse caminho que é de ascensão [anábase] porque ele tinha  antes descido [katábase] para descrevê-lo. O caminho de Jesus passava  pela cruz que era o motivo básico no qual, a fé em sua divindade era  questionada. Em nós, esse caminho é o percorrido pelo mal do mundo que  se tornará sofrimento para o discípulo. 
            3)  A verdade e a vida se encontram como se encontram base e termo, caminho  e meta. Sem a verdade que Jesus representa, a vida do homem não tem  sentido, porque ele viverá na mentira, da mentira e para a mentira. A  procura da verdade está como dever primário entre os problemas que todo  homem deve resolver. E na procura encontramos Jesus como questão  fundamental, porque ele disse ser o único que sabe e pode dar testemunho  da verdade, já que veio do alto, do lugar em que ela existe como  princípio e fim, como o Alfa e Ômega de todas as coisas. 
            4)  Jesus viveu plenamente a vida humana como nenhum outro homem pode  vivê-la. Como Filho, respeitando um Pai que, nos seus planos, lhe impôs  uma tarefa extremamente difícil; como irmão, porque foi uma vida  entregue para a salvação do homem. Mas a vida de Jesus é parte essencial  de toda vida humana que deseja unir a verdade da mesma, oculta no  mistério da fé, à luz da esperança na mansão do Pai. Seria viver a vida  com amor e por amor a Deus e aos homens, como tarefa primária de todo  homem neste mundo. 
            5) Jesus apela ao milagre [obras, ou semeia=signos]  para que os discípulos acreditem em suas palavras e promessas. O  milagre autêntico é a assinatura divina para confirmar palavras [remata]  humanas. Como é possível que modernos exegetas recortem, mais ou menos  arbitrariamente, semelhantes obras de Cristo, tudo o qual terminaria em  transformar um Homem-Deus num homem-sábio? 
             
            
             
             
             
            15.05.2011 
              4º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A 
              __ "JESUS RESSUSCITADO MANIFESTA-SE NOS PASTORES DA IGREJA" __ 
            Ambientação: 
            Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! A figura do pastor que guia suas ovelhas era familiar a Israel, povo nômade; alimentou em tempos sucessivos a meditação religiosa das relações pessoais com Deus. Seus chefes deviam ser servos do único pastor; mas, com muita freqüência, seguindo interesses egoístas e perspectivas políticas errôneas, trairam, desviaram, depredaram o rebanho de Deus. Jesus se apresenta como o pastor segundo o coração de Deus, aquele que foi anunciado pelos profetas. Conhece intimamente o Pai e transmite esse conhecimento aos seus (evangelho). Por isto, ele é a "porta", o mediador. Conhece intimamente também a nossa condição, porque como "cordeiro" carregou os pecados de todos nós (2ª leitura). Conduz os seus com a autoridade de quem ama e deu sua vida: e eles, na fé, escutam a sua voz e seguem suas pegadas. Seu sacrifício "pela multidão" exclui qualquer privilégio e abre a salvação a todos os homens. Entoemos cânticos jubilosos ao Senhor! 
            
               (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) 
             
             
            PRIMEIRA LEITURA (At 2,14.36-41):   - "E vós recebereis o dom do Espírito Santo." 
            SALMO RESPONSORIAL (22/23):    - "O Senhor é o pastor que me conduz; Para as águas repousantes me encaminha." 
            SEGUNDA LEITURA (1Pd 2,20b-25):    - "Se suportais com paciência aquilo que sofreis por ter feito o bem, isto vos torna agradáveis diante de Deus." 
            EVANGELHO (Jo 10,1-10):   - "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância!" 
             
            
             
            Homilia do Diácono José da Cruz – 4º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A 
            "UM ESTRANHO NO REDIL" 
            Eu  achava estranho esse evangelho do Bom Pastor no tempo pascal, parece que  interrompem-se bruscamente  as narrativas  das famosas aparições de Jesus Ressuscitado ao discípulos , tão cheias de mistério  e encanto, para falar de um assunto que não tem nada a ver, mencionando  palavras repetitivas como redil, porta, pastor, ovelhas....E alguns adjetivos  como, estranho, ladrão, assaltante, que nos faz imediatamente pensar nos  outros, naqueles que são de fora do rebanho, nos que hostilizam a Igreja e o  Reino de Deus, são esses que devemos ter cuidado, mas não ! Jesus fala com os  de “dentro”, ou seja, com a comunidade, e aqui precisamos tomar muito cuidado,  para não nos julgarmos como membros exclusivos de um Rebanho de qualidade  superior a todos os demais, os “queridinhos e prediletos” de Deus. 
            E  uma boa chave de leitura aparece logo no início do evangelho: Jesus é a  Porta!Para entrar no Redil, para fazer parte da comunidade da Igreja, só há uma  porta: Jesus Cristo, é ele que no dia do nosso Batismo nos introduz na  comunidade. Não posso ser  Cristão por  razões ideológicas, ou para sentir-me bem com a minha consciência, vivendo em  paz, sem preocupações nesta vida. Não posso tão pouco participar da comunidade  e das celebrações apenas por preceito, pois existe aí o perigo dos nossos  interesses falarem mais alto, conheci dois casos diferentes, em um deles,  porque mudaram as músicas que vinham sendo cantadas, um instrumentista enfiou o  violão no saco e saiu pisando duro, dizendo que nunca mais botaria os pés na  igreja, e conheci um acordeonista, que ao contrário, começando a tocar em  celebrações sertanejas, tornou-se um membro ativo da comunidade e tomou gosto  pela vida em comunhão, ai está a grande diferença entre, ser freqüentador da  comunidade, e ser um Seguidor de Jesus de Nazaré. Quem tornou-se cristão por  causa de Jesus, após ter feito com ele uma experiência profunda de Vida em  comunhão,  passou pela Porta, mas aqueles  que são meros freqüentadores, e não fizeram ainda essa experiência querigmática  com o Senhor, são os que pularam a janela, entraram as escondidas pelos fundos,  e quando chega a crise, esses mercenários  são os primeiros a darem no pé, porque sentem  que vão perder algo. 
            Mudam  de igreja, de comunidade, de paróquia, de grupo, e nunca se encontram, há os  que mudam até de família, passam a vida procurando a perfeição do cristianismo,  e não encontrando acabam caindo no desânimo e frustração descobrindo mais  tarde,  que quem tinha de mudar eram eles,  e não as pessoas. 
            Quando  nossos interesses falam mais alto que as coisas do Reino de Deus, nos tornamos  estranhos no ninho, ladrões e assaltantes, porque roubamos o espaço e o tempo  da assembléia, das pastorais e movimentos, só para vender nossa imagem fazendo  o nosso marketing pessoal. Tornamo-nos estranhos ao rebanho porque a nossa  conduta e procedimento, e o  jeito de  pensar, não reflete de forma alguma o santo evangelho, a vida de comunhão ou a  koinonia como diz o termo grego. 
            Ao  contrário, quem passa pela Porta que é Jesus Cristo, torna-se também um pastor,  aquele que cuida, mostra o caminho, socorre os fracos e feridos, que na  comunidade são tantos, e se for preciso, carregam no colo as ovelhinhas que não  podem caminhar, exatamente como faz esse Bom Pastor que é Jesus Cristo. As  ovelhas o seguem, porque ouvem e conhecem sua voz, ou seja, a relação com ele é  marcada por uma grande intimidade, de quem conhece a voz, isso é, a Palavra de  Deus, e que por isso se torna um discípulo. 
            Claro  que o evangelho desse 4º Domingo da Páscoa, fala forte no coração dos jovens  despertando uma possível vocação, projetando esse pastoreio na Vocação  Sacerdotal, mas é preciso essa compreensão mais ampla de que somos todos  ovelhas e pastores, somos cuidados mas também somos cuidadores, em um amor co  responsável, que vai ao encontro do outro porque  o aceita como irmão no Senhor Jesus. 
            E  há na segunda leitura dessa liturgia, uma afirmação do apóstolo Pedro, que  reforça essa comunhão de vida: Carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o  madeiro, para que , mortos aos nossos pecados vivamos para a Justiça. 
            Ser comunidade é carregar o outro em nossa vida, com  todos os seus pecados e defeitos, fazer isso por puro amor, amor que aceita,  que compreende, que perdoa sempre e é misericordioso, pois carregar o outro com  seus carismas e perfeições, não requer nenhum sacrifício e é até agradável.A  exemplo de Jesus, Nosso Deus e Senhor, sejamos todos pastores e que aprendamos  a amar a todos, mesmo os “estranhos” do Redil, pois o amor poderá salvá-los,  levando-os a uma experiência sincera com Jesus.  
            José da Cruz é Diácono da  
              Paróquia Nossa
              Senhora Consolata – Votorantim – SP 
              E-mail  jotacruz3051@gmail.com 
             
            Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 4º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A 
            “Amor de predileção pelos sacerdotes”
            Estamos no mês mariano. Durante este mês é importante que não nos esqueçamos de pedir à Mãe de Jesus que cuide dos sacerdotes. Cada padre, desde que João foi confiado a Maria, é seu filho predileto. Ela os ama de maneira muito especial. 
            O amor é necessariamente desigual. Não se pode pedir a uma mãe que ame com a mesa intensidade tanto os filhos que saíram das suas entranhas quanto aos estrangeiros que ela apenas teria saudado alguma vez. Não se pode pedir a um marido que a todas as mulheres por igual. Tampouco se pode exigir ao cristão amar a todos os seres humanos por igual. A caridade é ordenada e, por isso mesmo, justamente desigual. É lógico que amemos mais intensamente os nossos irmãos na fé, especialmente aqueles que convivem conosco; é totalmente normal que amemos mais fortemente os nossos familiares, especialmente os nossos pais; não há nada de estranho que amemos mais os nossos amigos que os nossos inimigos, ainda que devamos amar também aos inimigos. 
            Maria ama com predileção os sacerdotes do seu filho porque Jesus os confiou a ela enquanto sofria na cruz para a nossa salvação. Nossa Senhora não pôde esquecer jamais aquela cena. As últimas vontades de um moribundo, especialmente quando esse moribundo é o Filho de Deus, ficam gravadas na mente de uma maneira indelével. As últimas coisas que um filho pede a uma mãe ficam presentes para sempre na memória materna. Com Nossa Senhora não foi diferente: o desejo de Jesus permaneceu sempre presente no seu coração e ela tem cuidado dos sacerdotes com amor de predileção até hoje. 
            Gosto de pensar na figura de João. É o típico rapaz valioso e de pouca idade que decide entregar-se de corpo e alma a uma causa maior. João entregou tudo o que era seu aos cuidados de Jesus. João era jovem, tinha um coração puro, era um rapaz vigoroso, um jovenzinho de caráter forte, um coração grande e generoso. Eu não estou de acordo quando se escuta por aí que o vocacionado ao sacerdócio tem que fazer primeiro uma experiência de namoro antes de entrar no seminário. Aqueles que tiveram uma experiência desse tipo não são melhores nem piores do que aqueles que não a tiveram. No entanto, não posso deixar de elogiar a entrega total daqueles que, sem dividir o coração em nenhum momento, se entregaram totalmente a Cristo. Isso é maravilhoso! 
            Por outro lado, Jesus tem direito de escolher os seus ministros tanto entre os que mantiveram uma vida irrepreensível como o apóstolo João e o discípulo amado de Paulo, Timóteo; como entre aqueles que foram grandes pecadores, como Pedro, Paulo, Agostinho, etc. A todos esses o Senhor confiou a missão de ser pastores da sua grei. 
            No trecho do Evangelho de hoje, a palavra “porta” aparece quatro vezes. Jesus é a porta! Ou seja, o acesso a Deus, à felicidade, a uma vida verdadeiramente humana, é possível somente através de Cristo. Outras vozes, outras portas, outros pastores não conduzem à vida em abundância que só Jesus tem para dar-nos. Assim como Jesus é a porta das ovelhas, o sacerdote –agindo na Pessoa de Cristo cabeça e em nome da Igreja– também é porta. 
            Esse é um critério importante para pastores e ovelhas. O sacerdote tem que ser pastor no Pastor. Ele não pode pregar uma doutrina diferente da de Jesus. Se o padre pregasse algo diferente do Evangelho, ele estaria fazendo ressoar uma voz que as ovelhas não seguiriam porque elas não reconhecem nesse tipo de pregação a voz de Cristo, Pastor das suas almas. Nós, os sacerdotes, somos instrumentos do único Pastor. Chamam-nos pastores, e o somos, porque participamos no pastoreio de Jesus. Quando anunciamos a Palavra e quando celebramos os Sacramentos não somos nós, é Cristo em nós. Somos o mesmo Cristo, estamos identificados com ele. Que absurdo, portanto, pregar algo diferente do Evangelho! Que contrassenso pregar uma doutrina que não seja a doutrina católica, tanto em questões de fé quanto em questões de moral. 
            Os fiéis de Cristo têm direito a escutar a voz de Cristo através dos seus sacerdotes. Os ministros do Senhor foram ordenados para isso. Os fiéis podem e devem exigir deles o Cristo. Os demais cristãos não podem tolerar uma doutrina que não seja a do Divino Pastor e a da sua Esposa, a Igreja, vinda da boca de um sacerdote. Se tal coisa se desse, os fiéis deveriam, justamente, manifestar-se –mas com cuidado para não faltar à caridade– e pedir o que eles desejam: Jesus Cristo, sua palavra santa, os seus sacramentos. 
            Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa 
             
            Comentário Exegético — 4º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A 
              (Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios) 
            EPÍSTOLA (1Pd 2, 20-25) 
            VERDADEIRO MÉRITO: Qual pois mérito (há) se pecando e esbofeteados, aguentais? Mas, se fazendo o bem e padecendo,  aguentais, isto (é) agradável  para Deus (20). Quae enim gloria est si peccantes et colaphizati  suffertis sed si benefacientes et patientes sustinetis haec est gratia  apud Deum. MÉRITO [kleos<2811>=glória]  rumor, fama, glória, louvor, aplauso que temos traduzido por mérito  como mais inteligível e até mais apropriado. Este vocábulo sai  unicamente. Ele é um apax neste versículo. ESBOFETEADOS [kolafizomenoi<2852>=colaphizati]  é o particípio passivo do presente do verbo kolafizö que significa  esbofetear, receber um tapa, bater com o punho, golpear. Também  maltratar, tratar com violência e desprezo. É o que aconteceu com Jesus  segundo Mt 26, 67 e Mc 14, 65 na casa de Caifás, onde foi esbofeteado e  cuspido pelos escudeiros do Sumo Pontífice. AGUENTAIS [ypomeneite<5278>=sustinetis]  do verbo ypomenö, com o significado de permanecer, perseverar, não  retroceder, aguentar, resistir, suportar e tolerar, especialmente se são  tratamentos e condutas impróprias e vexames. AGRADÁVEL [charis<3844>=gratia]  com o significado de ser coisa agradável a Deus é uma das traduções, a  mais seguida; mas também e talvez com maior propriedade podemos traduzir  por é uma mercê de Deus. A natureza humana se revolta contra toda a  injustiça; porém fazer todo o contrário, suportar as injúrias injustas é  um dom de Deus, como sugere o para [<3844>=apud] preposição de procedência, com genitivo, ou seja que procede de Deus. Ou seja, traduziremos isto é um dom que de Deus procede. 
            EXEMPLO DE CRISTO: Pois para isso fostes chamados, porque também Cristo padeceu por vós, a vós deixando um exemplo para que sigais nos seus passos (21). In hoc enim vocati estis quia et Christus passus est pro vobis vobis relinquens exemplum ut sequamini vestigia eius. FOSTES CHAMADOS [eklëthëte<2564>=vocatiestis]  aoristo do verbo kaleö com o significado de chamar, convidar, que é uma  vocação divina para imitar o exemplo de Cristo como afirmará mais  tarde. Do versículo anterior, sabemos que são os planos divinos os que  acompanham os sofrimentos injustos e que dentro deles agora o apóstolo  toma como exemplar a conduta de Cristo. PADECEU [epathen<3958>=passus est]  aoristo de paschö, é o verbo usado por Jesus para indicar os  padecimentos a que seria submetido pelos juízes do Sinédrio (Mt 16, 21 e  Mc 8, 31). O por vós é em grego yper ëmön [por nós] segundo o grego da Nestlé. A Vulgata e o grego católico de Mark usam o nós, como se Pedro se incluísse dentro dos remidos por Cristo. Do ponto de vista lógico da frase o vós é o mais correto. Com esta afirmação Pedro supõe a morte vicária de Cristo, pois o yper  grego significa em favor de, por amor de, pelo benefício de, no lugar  de, em vez de como genitivo [no caso].Um exemplo: em 1 Cor 15, 19 Paulo  fala do caso em que os novos cristãos se batizavam yper nekrön  [= no lugar dos mortos]. Com isto Pedro reforça o dogma da morte  vicária de Cristo, que hoje alguns teólogos criticam como sendo  metáfora, pois negam a justiça divina ao exaltar em demasia a bondade de  um Pai demasiado indulgente. Citam a parábola do filho pródigo, mas  esquecem outras passagens do evangelho em que o fogo eterno é claramente  afirmado para os que praticam a iniquidade, com a mesma rejeição de  quem separa os que estão à sua esquerda para o fogo eterno preparado  para o diabo e seus anjos  (Mt 7, 23 e 25, 41). EXEMPLO [ypogrammon <5261> =exemplum] com o significado de uma cópia escrita e logicamente um exemplo. SIGAIS [epalolouthësëte<1872>=sequamini] o verbo é usado por Marcos quando diz que o Senhor cooperava com os pregadores do evangelho confirmando a palavra com os sinais que se seguiram (Mc 16, 20). PASSOS [ichnos<2487>=vestigia]  pegada, pisada, passo geralmente em plural, como vemos no latim.  Evidentemente o apóstolo refere-se aos sofrimentos dos primeiros  cristãos, na época, perseguidos e caluniados em cujas vicissitudes ele  observa que estão seguindo os passos do seu senhor como este já tinha  profetizado (Lc 21, 12) de modo que o discípulo não seja diferente de seu Mestre (Mt 10, 34-25). 
            INOCÊNCIA DE CRISTO: O qual pecado não fez, nem se encontrou engano  na sua boca (22). Qui peccatum non fecit nec inventus est dolus in ore  ipsius. O qual insultado, não revidava o insulto, sofrendo não ameaçava,  mas entregava-se ao que julga justamente (23). Qui cum malediceretur  non maledicebat cum pateretur non comminabatur tradebat autem iudicanti  se iniuste. Pedro  expõe agora a inocência de Jesus com duas ideias: não cometeu pecado em  obras e não houve mentira em sua boca. Consequentemente foi um  inocente, injustamente castigado com atrozes tormentos e morte de cruz.  Este é o exemplo que devem imitar seus discípulos e seguidores. ENGANO [dolos<1388>=dolus] propriamente isca, tentação, engodo e daí astúcia, engano, falsidade, fraude, dolo. Pedro  coincide com Tiago que afirma: se alguém entre vós cuida ser religioso e  não refreia sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é  vã (1 Pd 2, 22). Pedro apela ao exemplo de Cristo, especialmente durante o tempo de sua paixão. Jesus  não revidou aos insultos como vemos em Mt 26, 62-63, durante o  julgamento na casa de Caifás ou no pátio de Pilatos em Mt 27, 28-30 e no  momento da crucifixão os insultos narrados por Mateus em 27, 39-44. Por  isso, Jesus entregou sua causa a Deus, o verdadeiro juiz que julga  corretamente. 
            CRISTO NOS SALVOU POR SUAS CHAGAS: O qual nossos pecados ele carregou no seu corpo sobre o madeiro para que mortos aos pecados vivamos  na justiça, o qual pela chaga  fostes curados (24). Qui peccata nostra ipse pertulit in corpore suo  super lignum ut peccatis mortui iustitiae viveremus cuius livore sanati  estis. CARREGOU [anëneyken<399>=pertulit]  é o aoristo do verbo anaferö com o significado de oferecer no altar,  liderar, carregar, suster. Com esta frase Pedro confirma o dito pela  carta aos Hebreus 7, 27: Não  necessitou diariamente, como os sumos sacerdotes, de oferecer  <399> cada dia por seus próprios pecados, e depois pelos do povo;  porque isto fez uma vez, oferecendo-se <399>a si mesmo. E em Hebreus 9, 28: Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar [<339>] os pecados de muitos. Porque como diz Paulo: Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus (2Cor 5, 21). Disso tudo, podemos deduzir que a morte de Cristo na cruz foi um sacrifício expiatório, como também Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave (Ef 5, 2). PELA CHAGA [mölöps<3468>=livor]  o grego indica mancha roxa, contusão, vergão, vinco e pancada. Sem  dúvida que aqui Pedro une a flagelação ao suplício da cruz, podendo ser  traduzida a passagem: pelas suas feridas fomos curados. De modo que a  maldição da cruz, como diz Paulo, serviu para a bênção dos que outrora  eram malditos; a morte para a vida e as feridas para a saúde. Assim se  cumpriu o que Paulo afirma: Deus escolheu a loucura do mundo para a mais  sábia solução de salvação e vida do pecador (ver 1Cor 1, 25). 
            O NOVO PASTOR: Éreis,  pois, como ovelhas desgarradas, mas agora vos mudastes para o pastor e  supervisor de vossas almas (25). Eratis enim sicut oves errantes sed  conversi estis nunc ad pastorem et episcopum animarum vestrarum. De  uma vida como sem esperança nem futuro, agora remidos por Cristo  pertencem os novos cristãos a um pastor que é ao mesmo tempo supervisor [episcopos]  que cuida amorosamente dessas almas ou vidas que ele conseguiu por sua  cruz e por seus sofrimentos. Pois demonstrou que era o bom pastor que dá  sua vida por suas ovelhas. 
            EVANGELHO (Jo 10, 1-10) 
              JESUS, A PORTA DO APRISCO 
            INTRODUÇÃO: Este  é o domingo chamado do Bom Pastor, festa que é comemorada em todos os  três anos litúrgicos. Além de ser o autêntico  [melhor tradução do Kalos  grego] pastor, Jesus também se declara como a porta pela qual entra  todo pastor legítimo e, através da qual, o acompanhando, saem suas  ovelhas. Porta, pastor e ovelhas constituem termos de uma alegoria em  que a voz do pastor é ouvida pelas suas ovelhas e encontram os prados de  modo que tenham vida abundante. Esta alegoria do Bom Pastor é única do  quarto evangelho que não encontra lugar paralelo entre os sinóticos.  Jesus falará em Mateus e Marcos, como viu as multidões que eram como ovelhas sem pastor (Mt 9, 36 ) e afirmará que, ferido o pastor, as ovelhas serão dispersadas (Mt 26, 31).  São estas duas passagens as que indiretamente declaram Jesus como  pastor de Israel. Mas, é na perícope atual, de uma beleza  extraordinária, a que nos mostra, primeiro, Jesus como a porta  para  indicar que qualquer outra maneira de entrar no aprisco é sub-reptícia.  Logo, na segunda parte, falará que ele é também o verdadeiro pastor.  Nesta primeira parte, vamos falar de Jesus como porta. Antes de entrar  na exegese do evangelho é oportuno e até necessário, observar as  circunstâncias nas quais essa alegoria foi proclamada por Jesus. Jesus  estava em Jerusalém, no templo, rodeado por fariseus que eram os mestres  de Israel. Após a cura do cego de nascença, Jesus disse uma frase que  incomodou os fariseus: vim para os que não veem vejam, e os que veem tornem-se cegos (9,  39). Jesus então está a afirmar uma coisa inaudita: Ele é a porta por  onde deve entrar quem se considera pastor de Israel. Esta é a base do  evangelho de hoje. 
            UMA AFIRMAÇÃO INUSITADA: Amém,  amém, vos digo: quem não entra pela porta ao aprisco das ovelhas, mas  pula por outra parte , esse é ladrão e bandido (1). Amen amen dico vobis  qui non intrat per ostium in ovile ovium sed ascendit aliunde ille fur  est et latro. AMÉM, AMÉM: A palavra é de origem hebraica, traduzida por verdadeiramente na totalidade dos casos, ou deixada no original em outros. O Amém hebraico está relacionado com o verbo amam  [crer ou ser fiel], e significa certamente, ou verdadeiramente. A  tradução literal é: firmemente, fielmente, certamente, seguramente. Por  isso, Deus mesmo é chamado AMÉM por ser fiel e veraz (Is 66, 16). 1) No princípio de um discurso, seria traduzido por com certeza. 2) No fim do mesmo, por assim será.  Entre os judeus: Era costume entre os judeus, retomado pelos cristãos,  que no fim de maldições solenes (Nm 5, 22), ou após orações e hinos de  bênção e louvor (1Cr 16, 36 e Sl 41, 14), ou, terminado um discurso ou  juramento (Jr 11,5), os assistentes respondessem Amém, como aceitando a substância do mesmo. Em Jesus, testemunha fidedigna e veraz  e Amém de Deus (2 Cor 1, 19-20), o termo equivale a uma afirmação solene e inquestionável.  Ele emprega o amém na frase Amen lego Ymin  antes de uma afirmação solene e dogmática. Desta forma é usado 30 vezes  em Mateus, 12 em Marcos e 7 em Lucas. Unicamente encontramos em Mateus o  amém no fim, quando após o Pai Nosso diz: Teu o reino, o Poder e a glória pelos séculos. Amém (6, 13). O seu uso ao início de uma afirmação é duplo em João: Amém , amém  e aparece 24 vezes. Uma delas é esta de hoje. O Amém final repetido  somente aparece duas vezes nos salmos: 41, 14 e 72, 19. Fora disso  aparece repetido em Nm 5, 22., com o significado de genoito, genoito  [seja, seja] grego nos três casos. Em todos os casos, significa  verdadeiramente, de fato, como um assentimento ao afirmado  anteriormente. Unicamente em Is 65, 16 o amém significa verdadeiro, pois  se fala do Deus do Amém, ou seja, o Deus da Verdade, que cumpre sua  palavra como traduz a vulgata: abençoar e jurar in Dio Amen. Na Nova Vulgata o texto será: Quicumque benedicit sibi in terra, benedicet sibi in Deo Amem, et quicumque iurat in Deo in terra iurabit in Deo Amem.  Daí que o Amém tenha o sentido de verdade, de compromisso com a palavra  própria e que em João, ao ser repetitiva, indica um superlativo, à  semelhança de como aclamamos Santo, Santo, Santo é o Senhor (Is  6, 3).  No NT, entre os escritos apostólicos, o Amém tem o significado  de termo de oração ou de bênção, acrescentado para proclamar a adesão ao  mesmo com o sentido de assim seja ou desejamos, como no caso de Rm 1,  25 Criador que é bendito pelos séculos. Amém.  No nosso caso, parece um superlativo de verdadeiramente, ou o  equivalente de com toda segurança e garantia, eu posso afirmar. É, pois,  uma asseveração solene de Jesus na qual ele aposta, na verdade de que  Ele é a Palavra de Deus. O PORTÃO: Thyra é a palavra usada pelo evangelista. A palavra pode indicar a porta da habitação de uma casa, como em Mt  6, 6: Fecha a porta de tua habitação;  a porta de um sepulcro em Mt 27, 60; a porta de uma casa Mc 2, 2 onde  Jesus morava; o portão da cidade Mc 1, 33, assim como o portão de um  aprisco Jo 10 1. OVELHAS: A palavra probaton  [probaton] no seu sentido mais lato denotava todos os animais de quatro  patas [especialmente os domesticados] em oposição aos que nadavam ou  rastejavam. Derivada a palavra de pro-baino  = ir adiante, nos rebanhos mistos, era o gado miúdo [ovelhas e cabras]  que por serem mais fracos que os outros animais iam à frente, marcando o  passo. Originariamente, a palavra se empregava no plural, com o  significado de rebanho ou manada. Mas depois, apareceu o emprego no  singular, com o significado de um membro da manada, uma ovellha. No AT,  com o plural probata significa-se metaforicamente o povo  que está sob o domínio do pastor [poimen].  O essencial era a necessidade de proteção, que, sem o pastor, fica  disperso (Ez 34,5). Javé providenciará para que seu rebanho não seja  disperso, nomeando pastores, tal como o rei messiânico (Jr 23, 1) ou  sendo ele mesmo o pastor de seu povo (Sl 78, 52 e Is 40, 11). No NT,  probaton é mais frequente em Mateus (11 vezes) e em João (17 vezes).  Fica claro que os contemporâneos de Jesus sabiam como a ovelha  necessitava da proteção amorosa e abnegada do pastor, e que, sem ele,  fica indefesa (Mt 9, 36) e perdida (Mt 10, 6). Jesus, como autêntico  pastor é enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 15, 24). Em  João probaton  denota o povo eleito de Cristo, os seus, os que conhecem sua voz, como  vemos no evangelho de hoje, formando um só rebanho e um só pastor (Jo  10, 16), quando finalmente judeus e cristãos fiquem reunidos numa só  Igreja com um só Senhor. (Jo 17, 20-23). Com respeito a este último  versículo, creio que é mais apropriado esta nossa interpretação que a de  apelar aos gentios como ovelhas separadas. APRISCO: A palavra aulê  significava nos tempos clássicos um espaço aberto, sem teto, mas  cercado com um muro do qual formavam parte os currais; daí que, entre os  orientais, significasse especialmente o redil, isto é o curral onde  estava recolhido o gado de origem lanígero ou caprino [probata]. Em que  consistia um redil? Como temos dito, era um espaço fechado por um muro  de pedra sobre o qual existia uma sebe ou tapume de galhos espinhosos,  que também podia ser uma cerca viva, para que as feras como lobos e cães  selvagens não pudessem pular dentro do curral. É o bardal  espanhol, do qual eu tive perfeito conhecimento durante a guerra civil,  quando fui obrigado a morar na roça. Parece que existia o costume do  pastor dormir junto ao portão para ser despertado caso o ladrão quisesse  entrar pelo portão. Dentro do mesmo havia gado de diferentes donos e  unicamente os pastores, donos da porção correspondente de ovelhas,  conhecidos pelo guardião de turno, podiam entrar pelo portão. QUEM NÃO ENTRA:  O portão está sempre à disposição dos donos das ovelhas, mas é lógico  que os que não são pastores das mesmas não têm permissão para entrar.  Por isso entram pulando o muro. São os que João chama de Kleptes e Lestes. As duas palavras têm significados diferentes: Um Kléptes é um ladrão vulgar, um fraudador, que não usa da violência, mas do engano e da astúcia; é o fur latino [daí a palavra furto]. Já um Lestes é um arrombador que usa a violência e que podemos traduzir por malfeitor, salteador, bandido, ou facínora. A vulgata traduz Lestes por latro [dela provém o ladrão]. Inicialmente latro  era a palavra usada para denominar o soldado que se apoderava dos bens  inimigos, como saqueador dos mesmos. E foi a palavra usada para  descrever Barrabás segundo João. Lestes  era também o pirata. Os outros evangelistas falam de Barrabás, como se  fosse de um revoltoso. O importante da afirmação é que quem entra  pulando a cerca é um malfeitor que não busca o bem das ovelhas, mas pelo  contrário, o proveito próprio que delas pode obter. 
            O PASTOR: Mas  aquele que entra através da porta é pastor das ovelhas (2). A este, o  porteiro abre e as ovelhas ouve (m)  sua voz e as ovelhas próprias chama  por nome e as saca (2). Qui autem intrat per ostium pastor est ovium.  huic ostiarius aperit et oves vocem eius audiunt et proprias oves vocat  nominatim et educit eas. Contrariamente  à conduta imprópria dos ladrões e assaltantes, o pastor do rebanho,  neste caso das ovelhas, sempre entra pela porta. Na realidade, o probata  grego é usado principalmente para designar o gado menor,  composto, na  Palestina da época, de ovelhas e cabras (Mt 25, 32). Como vemos, no  grego usa-se o singular para o verbo ouvir, talvez dando o significado  de rebanho, no caso, e poderíamos traduzir: o rebanho ouve a sua voz e chama pelo nome as ovelhas próprias e as conduz para fora. 
            A CONDUTA DAS OVELHAS: E  quando fizer sair as próprias ovelhas, caminha diante delas e o rebanho  o segue, porque tem conhecido a sua voz (4). Mas a um estranho não  seguiriam, mas fugiriam dele porque não têm conhecido a voz de estranhos  (5). Et cum proprias oves emiserit ante eas vadit et oves illum  sequuntur quia sciunt vocem eius. Alienum autem non sequuntur sed  fugient ab eo quia non noverunt vocem alienorum. O  dono das ovelhas ou o pastor das mesmas é conhecido do porteiro e entra  pelo portão. Nos versículos seguintes (3, 4, e 5 ) que podem ser um  acréscimo do próprio evangelista como explicação, Jesus fala da relação  ovelha-pastor: as ovelhas conhecem sua voz; ele as chama pelo seu nome e  as conduz fora do aprisco. Logicamente, tudo isto é o oposto da maneira  de agir dos assaltantes: as ovelhas são forçadas ou mortas e assim  estas são as únicas maneiras de apoderarem-se delas. A um estranho não acompanhariam, mas antes fugirão dele porque não reconheceram sua voz (5). 
            CONCLUSÃO: Esta  narrativa figurada disse-lhes Jesus. Mas eles não conheceram que  realidades eram das que  lhes falava (6). Hoc proverbium dixit eis Iesus  illi autem non cognoverunt quid loqueretur eis. A  tradução, querendo ser a mais literal possível, resulta às vezes um  pouco forçada. Narrativa figurada é uma tradução do grego original [paroimia]  que melhor  poderíamos traduzir por metáfora e que a Vulgata traduz por  provérbio. De novo, paroimia  é usada por João como metáfora prolongada  ou uma fala figurada: Estas coisas vos tenho dito falando em palavras figuradas (16, 25). Somente em 2 Pd 2, 22, fala-se de adágio ou provérbio: aconteceu com eles o que diz o provérbio [paroimia]: O cão voltou ao próprio vômito. Porém  os ouvintes, que eram os fariseus, não entenderam o significado desta  comparação metafórica. Assim este versículo é uma conclusão lógica do  evangelista, dadas as circunstâncias em que ele viveu o momento  histórico que relata. Era este um lance de tensão entre Jesus e os  fariseus a quem, por não ver na cura do cego de Siloé, além do fato  material, a realidade transcendente do autor, Jesus terá que chamar de  cegos, apesar de se declararem videntes. Por que não admitiam Jesus como  o enviado do Pai? E Jesus responde com esta alegoria. Eles, porém, não  entenderam a realidade, oculta sob as palavras da comparação.  Daí a  explicação estrita, dada pelo próprio autor da alegoria, como veremos  nos versículos seguintes. 
            DE NOVO A AFIRMAÇÃO: Disse-lhes,  então, de novo, Jesus: Amém, Amém vos digo que eu sou a porta das  ovelhas (7). Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e bandidos;  não os escutaram as ovelhas (8). Dixit ergo eis iterum Iesus amen amen  dico vobis quia ego sum ostium ovium.  Omnes quotquot venerunt fures sunt et latrones sed non audierunt eos oves. É  uma primeira declaração que explica o porquê o povo de Israel, que  era  chamado de rebanho que Javé de modo particular pastoreava [dá  ouvidos, ó pastor de Israel, tu que conduzes a José como um rebanho; tu  que estás entronizado acima dos querubins, mostra o teu esplendor (Sl  80, 1)], tinha uma porta no redil e essa porta de entrada e saída era Ele, Jesus. Pastor, em hebraico é  ra’ah<07462> que é traduzido por poimën ao grego e por pastor ao latim. Tanto no grego clássico quanto na bíblia, emprega-se  em sentido metafórico para indicar um líder, um governante, um  comandante. Platão fala dos chefes de uma polis como sendo cópias do  divino pastor [eschema tou theiou nomeus].  No Oriente antigo, pastor era o título de honra que se aplicava de  igual modo a soberanos e deuses. No verão seco, em terra sem água, não  era fácil achar novas pastagens e o pastor devia cuidar de modo  incansável dos seus animais indefesos. No AT Javé é o único Pastor do  seu Povo. Esta ideia se destaca nos salmos 23; 28, 29 etc. E o povo é o  único rebanho de Javé. Assim se fala de que o rebanho de Israel é conduzido para o exílio (Jr 13, 17). Também, entre outras passagens, podemos citar Isaías 40, 11 onde lemos: o Senhor Javé, vosso Deus…. como um pastor apascenta ele o seu rebanho … No NT poimen  aparece 9 vezes nos sinóticos e 6 vezes em João. Os contemporâneos de  Jesus desprezavam o pastor, mas foi esta, a metáfora que Jesus empregou  para expressar o amor de Deus para com os pecadores e para revelar a sua  oposição à condenação destes por parte dos fariseus (Lc 15, 4-6). E,  nesta alegoria, Jesus se apresenta como porta das ovelhas e como o  autêntico pastor das mesmas. Estas podem ser descritas como poimnh (Jo  10, 16) ou como a soma total das mesmas com a palavra probata. Em ambos os casos, probata  é a representação dos seus discípulos, os que ouvem em obediência as  suas palavras. Veremos o motivo por que Jesus se identifica com a porta  do aprisco já que o Pastor era Javé. A CONCLUSÃO:  Todos os que vieram antes de Jesus, não eram os verdadeiros pastores.  Porque não entraram pela porta das ovelhas, já que Ele e só Ele era a  porta. Isto quer dizer que não existiu verdadeiro Messias antes de  Jesus. Quem teve a audácia de se declarar Messias antes de Jesus? No seu  tempo houve revoltas contra os romanos, anteriores a Cristo, como  falsos profetas. Eram os que não entraram pela porta que é Ele, Jesus, o  Filho Encarnado. Ou seja, com esta frase não suprime nem Moisés nem os  profetas até João o Batista, pois dEle todos eles falaram, mas todos os  que rejeitaram seu nome [pessoa] como os fariseus ou, em seu lugar,  tomaram o ministério de serem os Ungidos e Messias, ou salvadores da  humanidade, como no caso dos Césares, de título Augusti, ou como  Apolônio de Triana, Mitra e Simão o mago, para não falarmos dos falsos  messias judeus como o caso de Herodes, o Magno (39 a 4 aC ), a quem os  herodianos consideravam como Messias, Judas Galileu (4 a 6 aC) sucessor  de seu pai Ezequias morto este por Herodes. Simão da Pereia (4 aC),  Atronges, o pastor (4 aC), que foi morto por Arquelau e finalmente  Judas, o Galileu (6 aC). Podemos falar inclusive do Batista, cujos  discípulos, com o nome de mandeos ou mandeanos, ainda sobrevivem em  número de cem mil no norte do Iraque. Se não entraram através da porta,  que é Jesus, são falsos pastores. E definitivamente foram causa de  revoltas e matanças tanto pelo poder romano como pelos poderes fáticos  da Palestina da época. Cita-se Zc 11, 8: Eu destruirei os três pastores em um só mês  para indicar os líderes das três seitas religiosas no tempo de Jesus:  Fariseus, Saduceus e Essênios que foram suprimidas na guerra, de modo  que já não mais tiveram influência dentro do mundo judeu. Faltando na  Vulgata o antes de mim  e em vários códices gregos, podemos incluir outros movimentos  messiânicos como os do profeta samaritano (36 dC) morto por Pilatos, o  rei Antipas (44 dC), Teudas, o Egípcio (45 dC), o profeta egípcio (58  dC) o profeta anônimo (59 dC), Menahem filho de Judas o Galileu (66 dC),  João de Giscala (66-70 dC), Simão bar Giora (67-70 dC),  Tito  Vespasiano (67-81), Jonatan o tecedor(73dC). Lukuas (115 dC),  e  principalmente, de Bar Kokhba (135 dC), o último dos messias nos tempos  posteriores a Jesus. O rebanho que não os escutou, significa que não o  seguiram indefinidamente, de modo que seus movimentos hoje estão  completamente esquecidos. Todos eles levaram à morte seus partidários.  Só Jesus morreu pelos seus e disse ao ser preso: deixai que estes se retirem (Jo  18, 8). Então de novo disse Jesus: Absolutamente vos digo: Eu sou a porta das ovelhas  (7). Que significa isto? Dos parágrafos anteriores, a porta era  principalmente a entrada por onde o verdadeiro pastor entra e recolhe as  ovelhas para levá-las ao pasto. Mas se Jesus era a verdadeira porta,  quem eram os outros que a si mesmos se intitularam como tais, até o  momento em que ele veio e se mostrou aos conterrâneos?  Eram ladrões e  facínoras. Por isso, não foram escutados pelas ovelhas. Quem eram estes  anteriores a Jesus? Sem dúvida, os fariseus e os líderes do povo antes  de Jesus. S. Ignácio, o bispo mártir de Antioquia afirma que Jesus é a porta [Thyra como em João] do Pai por onde entram Abraão, Isaac e Jacó, os profetas, os apóstolos e a Igreja (aos de Filadélfia 9, 1). 
            NOTA: Por serem pouco conhecidos, vamos falar de  Simão de Pereia (4 aC):  Após a morte de Herodes, o Grande, um escravo de seu séquito, de nome  Simão, um gigante em estatura, colocou o diadema real sobre sua cabeça e  foi seguido por um número considerável de adeptos. Pôs fogo no palácio  de Jericó e em outras casas reais deixando que fossem saqueados. Gratus,  o comandante da infantaria de Herodes, uniu-se a alguns soldados  romanos e, após derrotá-lo, cortou-lhe a cabeça. Atronges, o pastor (4 aC):  Após a morte de Herodes, rebelou-se contra Arquelau.  Atronges, um  pastor, mas de força e estatura superior, com seus 4 irmãos também de  grande porte físico, comandou um grupo numeroso e colocou um diadema  sobre sua cabeça. E foi chamado de rei. Matou um gande número de romanos  e soldados leais a Arquelau. Atacou uma companhia de romanos em Emaús,  que traziam grãos e armas para o exército. Matou 40 deles, entre eles  Arius o centurião. Gratus, nosso conhecido, veio em auxílio dos  vencidos. Após dois anos de luta, mortos por luta e doença os 4 irmãos,  Atronges se entregou sob a promessa de Arquelau de respeitar sua vida. Judas filho de Ezequias (4 aC): Também após a morte de Herodes, e  com  um número considerável de partidários, atacou Séforis, a capital do  norte e tomou as armas e pilhou a cidade. Provavelmente foi capturado  pelo governador de Síria, Varo, famoso pela perda das legiões na  Germânia anos mais tarde, que semeou de cruzes o caminho até Jerusalém. Judas, o Galileu (6 Dc): Não  confundi-lo com o anterior, pois se passaram 10 anos entre os dois e as  circunstâncias foram totalmente diferentes. Sendo Arquelau deposto  pelos romanos o seu reino foi tomado, como província da Judeia, pelo  governador Copônio, que intentou novos impostos. Assim se formou uma  rebelião sob a liderança de Judas o Galileu, e quando o sumo sacerdote  Joazar foi incapaz de resolver a sublevação, interveio o governador  adjacente da Síria, Públio Sulpício Quirino, conhecido por Lucas  em  2,2. Nosso Judas, da cidade de Gamala, apoiou-se no critério do fariseu  Zadok, para iniciar uma revolta que lutava contra a escravidão, à qual  conduziam os impostos, e afirmando que unicamente seu Senhor era o Deus  de Israel (ver o tributo ao César dos fariseus). Assim se originou a  quarta seita judaica, a dos zelotes. Nos Atos, Judas foi morto e todos os que o seguiam foram dispersos (At  5,37). Como vemos é certíssima a afirmação de Jesus de que todos eles  eram ladrões e bandidos. Só serviram para a morte de seus seguidores. No  mundo moderno, aqueles que com a escusa da injustiça se levantaram como  líderes de uma nova ordem mundial levaram seus seguidores à morte. Os  nazistas foram responsáveis por 25 milhões de mortes, ao passo que os  mortos, nos vários Estados do socialismo real,  não ficaram aquém de 100 milhões, dentre os quais 20 milhões na Rússia e  65 milhões na China (tomado de Carlos I. S. Azambuja, historiador).  Pelo que diz respeito aos anos posteriores de Jesus,  temos o caso de Teudas, discutível  quanto a data, entre o relato dos Atos e o relato de F. Josefo. Segundo  Josefo entre o ano de 44 e o 46 dC causou certos distúrbios ao se  proclamar Messias e reuniu um grande número do povo à beira do Jordão,  dizendo que dividiria as águas do rio. Cuspius Fadus, o procurador, não  permitiu mais alterações e enviou uma força de cavaleiros que matou  muitos e cortou a cabeça de Teudas, que foi carregada até Jerusalém. O  interessante do caso é que esse Teudas é citado por Gamaliel em At 5,  36, mas que a data de sua atuação deve ser retraída ao ano 33, quando  Gamaliel fala diante do Sinédrio, no ano  em que os apóstolos começavam a  pregar o evangelho e foram impedidos pelo supremo tribunal. Fado,  efetivamente foi procurador entre 44-66. Houve um erro de Lucas, ou o  erro foi de F. Josefo, tantas vezes inseguro pelas datas de sua História  das Antiguidades Judaicas? Cremos nesta última hipótese, já que o  escrito de Lucas é muito mais próximo dos fatos. 
            EU SOU A PORTA: Eu  sou a porta. Através de mim, se alguém entrar, será salvo e entrará e  sairá e encontrará pastagem (9). O ladrão não vem senão para que roube e  mate e perca; eu vim para que tenham vida e sem medida tenham (10). Ego  sum ostium per me si quis introierit salvabitur et ingredietur et  egredietur et pascua inveniet.  Fur non venit nisi ut furetur et mactet  et perdat ego veni ut vitam habeant et abundantius habeant. Jesus  indica claramente que ele é único, como porta, por onde devem entrar  todos os pastores de Israel. Ou seja, os reis ou dirigentes messiânicos  de Israel, devem se ajustar ao único verdadeiro que é ele, Jesus. Quem  não entra, como os apóstolos, pela sua porta não pode ser verdadeiro  pastor. Porque os outros que não entram pela porta só se servem das  ovelhas para roubar, matar e assim se perdem. Na nota temos visto como a  realidade se conforma com as palavras de Jesus. Ele, pelo contrário,  veio para que as ovelhas possam viver e até melhor do que viviam dentro  dos limites dos antigos pastores de Israel.  Por isso, na continuação,  Jesus explica seu papel de supremo e verdadeiro pastor. Mas isso  ultrapassa os limites do evangelho de hoje. 
            PISTAS: 
              1) A afirmação de Jesus de ser a porta do aprisco é de tal modo  absoluta, que nos obriga a mantê-la como uma verdade dogmática. Todo  aquele, que não se compromete com Jesus e seus ensinamentos, não pode  ser verdadeiro pastor das ovelhas que constituem os súditos do reino. 
            2)  Essa porta é única, de modo que qualquer outra porta moral ou dogmática  será o mesmo que entrar no aprisco por cima da cerca. E isso constitui  os tais ladrões e facínoras, que servem melhor aos seus interesses do  que ao bem das ovelhas a eles encomendadas. 
            3)  Quem são os tais? Evidentemente aqueles que buscam o dinheiro como  proveito de seus serviços, ou a fama para serem louvados como tais  líderes (Mc 12, 38-39), quando Jesus afirma que seu serviço é  dar a  vida e para isso ele escolheu a própria morte para que elas tenham vida  (Jo 10, 15). Jesus aclarará como os chefes da terra subjugam e dominam,  mas aquele que quiser ser grande entre seus discípulos deve servir a  todos como fez ele mesmo (Mt 20, 25-28). 
            4)  Não podemos esquecer que os primeiros pastores são os próprios pais.  Neste mundo em que o bem-estar e o prazer substituem o amor e o serviço,  é bom recordar as palavras de Jesus sobre como apascentar as ovelhas,  que no caso são os filhos. Por isso, o problema deste Papa será o  problema da família e da conservação da vida em todos os aspectos. 
             
            
             
             
             
              
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              QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!  
             
            Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, 
              levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente 
              as que mais precisarem! 
            Graças e louvores se dê a todo momento: 
              ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento! 
              
            
              
                
                    Mensagem: 
                      "O Senhor é meu pastor, nada me faltará!" 
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!". 
                    ( Salmos ) 
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