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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com

. Evangelho de 19/02/2012 - 7º Domingo do Tempo Comum
. Evangelho de 12/02/2012 - 6º Domingo do Tempo Comum


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! Em cada momento que nossa comunidade se reúne é uma oportunidade de sentirmos a misericórdia e o perdão. Em Jesus Cristo somos restaurados e curados. O cristão deve ter consciência de que Deus tem um projeto de salvação para a humanidade e para o mundo. Esse projeto (que em Jesus se torna vivo, palpável, realmente libertador) é um dom de Deus que o homem é chamado a acolher com fé e com compromisso. Mais que curas físicas, somos impelidos a clamar pela cura de tantos pecados que nos impedem de prosseguir em nossa caminhada cristã. Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos cânticos jubilosos ao Senhor!

(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Is 43,18-19.21-22.24b-25): - "Deus está ao lado do seu povo para conduzi-lo ao encontro da liberdade e da vida verdadeira. Sugere, no entanto, que a conversão e a renovação de atitudes seja constante.."

SALMO RESPONSORIAL 41(40): - "Curai-me, Senhor, pois pequei contra vós!"

SEGUNDA LEITURA (2Cor 1,18-22): - "Aderir à proposta é um gesto de coerência, sinceridade e gera compromisso. Desde que tudo seja feito na gratuidade."

EVANGELHO (Mc 2,1-12): - "Através de Jesus, Deus derrama sobre a humanidade sofredora e prisioneira do pecado a sua misericórdia. Ao homem resta acolher o dom de Deus, ir ao encontro de Jesus e aderir a sua proposta."



Homilia do Diácono José da Cruz – 7º Domingo do Tempo Comum

"NOSSOS PARALÍTICOS..."

Certa ocasião, quando refletíamos esse evangelho em grupo, alguém perguntou se na casa onde Jesus estava pregando, havia elevador ou coisa parecida, se olharmos o relato em si mesmo, vamos acabar fazendo outras perguntas como, "Será que eles não podiam pedir licença para passar no meio das pessoas e entrar na casa?" e mais ainda... Seria normal que as pessoas que estavam aglomeradas á entrada, quando vissem o esforço dos quatro homens, subindo na parede com o paralítico deitado em uma cama, oferecessem ajuda, buscando uma alternativa mais fácil...

O próprio Jesus, não poderia ter dado um jeito de sair para atender o paralítico, sem precisar tanto esforço de subir e ainda ter de abrir um buraco no telhado? Fazer perguntas como essas, é muito importante para a nossa reflexão, pois vamos e convenhamos, o modo que eles encontraram para colocar o paralítico á frente de Jesus, não foi o mais fácil, aliás, correu-se até o risco de um grave acidente.

Hoje em dia a gente sabe que nossos templos existentes, ou os que estão em construção, devem ter em seu projeto, a construção de rampas, para facilitar o acesso de nossos irmãos deficientes. Mas com certeza, não é este o tema do evangelista, ele está querendo dizer alguma coisa as suas comunidades e aos cristãos do nosso tempo.

Dia desses, alguém bastante estressado dizia-me que certas pessoas só atrapalham a vida da comunidade, porque são muito radicais, geniosas, incomodam a todos, e o tempo todo eles só arranjam encrencas e mais encrencas, concluindo, dão muito trabalho, são sempre do contra, enfim, chatas e duras de engolir, e que sem elas, a comunidade é uma maravilha, o conselho deveria tomar providência, ou quem sabe, o padre impor a sua autoridade.

Pessoas com essas características não caminham, e ainda dificultam a vida de quem quer caminhar: pronto, já começamos a descobrir os paralíticos e paralíticas de nossas comunidades, irmãos e irmãs que não se emendam de seus defeitos, nunca mudam o seu jeito de ser, não se convertem e precisam portanto, ser acolhidas e carregadas. Há irmãos na comunidade que a gente tem prazer de encontrar, é sempre uma alegria imensa, mas há também esses, que nos perturbam, incomodam, e a gente não fica a vontade, se estão conosco em uma reunião da pastoral ou do movimento, a troca de "farpas" será inevitável...

Há no texto duas coisas que chamam a nossa atenção, primeiro o esforço desse quarteto, subir pela parede, desfazer o telhado e descer a cama com cordas. Jesus elogia-lhes a fé, parece até que fez o milagre como retribuição a tanto esforço. Eles tinham fé em Jesus Cristo, sabiam que se o levassem diante dele, seria curado, mas por outro lado, embora o texto não cite isso, a gente percebe que o amavam muito, tiveram com ele muita paciência, sei lá quantos quilômetros tiveram que andar, carregando aquela cama que deveria ser pesada, e ainda, ao deparar com a multidão aglomerada á frente da casa, poderiam ter desistido, já tinham feito a sua parte. Mas a força do amor e da fé, fez com que não desistissem, e se preciso fosse, seriam capazes de derrubar a casa.

Os quatro são uma referência para as nossas comunidades, onde muitas vezes falta-nos o amor e a fé, para carregar nossos paralíticos e superar os obstáculos, passando por cima dos preconceitos. Nas comunidades há pessoas amorosas, pacienciosas, que aceitam conviver com todos, amando-os como eles são, sem exigências, preconceitos ou radicalismo, mas há também a turma de "nariz empinado", como aqueles doutores da lei, que não crê em um Deus que é misericórdia, e que perdoa pecados, seguem normas e preceitos, até trabalham na comunidade, mas são extremamente exigentes com os "paralíticos", acham-se perfeitos e não aceitam a convivência com os imperfeitos.

Jesus elimina o problema pela raiz, "Filho, teus pecados te são perdoados...", a cura física vem em segundo plano, e se a enfermidade impede que o paralítico se aproxime de Jesus, a comunidade os carrega, possibilitando que ele também faça a experiência do Deus que perdoa, ora, se houver na comunidade intolerância, preconceitos, e ranços ocultos, como é que essas pessoas poderão experimentar o amor, o perdão e a misericórdia? Os intolerantes têm sempre um olhar extremamente crítico e severo, para com os paralíticos, e não aceitam que outras pessoas tenham por eles amor e ternura, manifestada na paciência e tolerância.

Por isso Jesus ordena – levanta-te, toma o teu leito e vai para casa. Deus nunca faz as coisas pela metade, na obra da salvação, Jesus não fez simplesmente uma reforma no ser humano, mas o transforma em uma nova criatura, na graça santificante do Batismo, fazendo com que deixe de se relacionar com Deus na religião normativa, porque crê no Deus que é todo amor e misericórdia, que perdoa pecados e os liberta com a sua santa palavra, em Jesus de Nazaré.

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 7º Domingo do Tempo Comum

“Paralisia-raiz”

Jesus está em Cafarnaum. A multidão está pendente dos seus lábios. Cada uma das suas palavras ressoa no silêncio expectante do povo sedento da Palavra de Deus. De repente rompe-se o silêncio e se começa a ouvir um barulho estranho no teto. Incrível! Os primeiros raios de sol perpassam o pequeno buraco até que se vai fazendo maior e a casa fica totalmente iluminada, naturalmente iluminada. Mas, desde quando os tetos se abrem sozinhos? Há algo por trás.

Verdade é que algumas daquelas pessoas, acostumadas a andar com Jesus, não se assustariam tanto, pois sabiam que quando este novo Rabi fala algo acontece. Ordinária ou extraordinariamente, as suas palavras sempre se fazem críveis pelas obras. De todas as maneiras, seja para essas pessoas seja para aquelas que vieram ao encontro de Jesus pela primeira vez, é preciso dizer que nem todos os dias se vê uma cama descendo pelo telhado! É algo verdadeiramente estranho! Mas, como se não bastasse, extremamente estranhas ressoam aquelas palavras ditas com excelente dicção e força extraordinária: “Filho, perdoados te são os pecados” (Mc 2,5).

Imagino como estaria o pobre paralítico! Num momento se vê descoberto diante de Jesus de Nazaré. Bem que ele tinha dito aos seus quatro amigos que o deixassem quieto, que ele não queria ser incomodado nem queria incomodar o Rabi, que já fazia muitos anos que ele estava paralítico e que já estava conformado com a situação! A meu ver e segundo a minha fluente imaginação, foram os amigos que insistiram com ele para que fosse ao encontro de Jesus. Quando o paralítico lhes objetara que ele não podia andar, os amigos, em sua prudente teimosia, pegaram o leito do homem e, não sei se entre um querer e um não querer, o paralítico foi carregado ao encontro de Jesus.

Mas, nova dificuldade! Quando chegam à casa de Simão, onde Jesus estava, “não podiam encontrar lugar nem mesmo junto à porta” (Mc 2,2). Tal era a multidão! Mas, desistir agora? Depois de tantos esforços para convencer o paralítico e do suor para trazer-lhe no próprio leito… Desistir agora? Não. O que fazer? Simples, se não se pode entrar pela porta, vamos entrar pelo teto. É lógico! Mas não segundo a lógica humana!

Que trabalhão! Subir com uma cama contendo um enfermo pelo teto de uma casa! Ainda bem que eram quatro… mas, ainda assim! Aqueles caras eram amigos do paralítico, valiam diamantes, pois somente uma pessoa que se interessa pelos outros de verdade pode fazer tal coisa. Neste momento, cresce em mim a convicção de que devemos imitar os amigos do paralítico: não podemos deixar que os nossos amigos continuem paralíticos em seus pecados, em seus vícios e numa vida sem sentido, temos que levá-los ao encontro com Jesus. E se eles disserem que não querem e que os deixemos em paz, tenhamos uma santa teimosia e insistamos para que esse encontro se dê, pois Jesus é a verdadeira paz (cf. Ef 2,14). E se for preciso, subiremos aos telhados! É preciso que sejamos teimosamente apostólicos, evangelizadores aferrados, homens e mulheres que não desistem perante as dificuldades, pessoas dispostas a “comer o mundo” visto desde o amplo panorama do apostolado!

“Filho, perdoados te são os pecados!” O paralítico e seus amigos se interessavam pela cura corporal e escutam palavras que vão à raiz de todos os males, o pecado. Ainda que não exista uma conexão necessária entre paralisia e pecado, existe uma conexão necessária entre pecado e paralisia: todo pecado nos paralisa!

Diante do milagre, os que ali estavam “ficaram admirados e glorificaram a Deus” (Mc 2,12). Jesus surpreende: perdoa o pecado e manda ir para casa (cf. Mc 2,11). Somente os reconciliados podem viver em casa. Estar em casa, em família, é característica intrínseca daquelas pessoas que estão na graça de Deus, que vivem uma vida segundo Deus porque o Senhor fez delas templos sagrados.

Vamos ajudar os nossos amigos – caso alguns deles estejam fora de casa ou dela afastado pelo pecado mortal – a retornar, a morar em casa, em família, na Igreja. Aqui, sim, se é feliz! E, se algum dia nós mesmos estivermos paralisados, peçamos ao Senhor que nos conceda um amigo, uma pessoa que, carinhosa e teimosamente, nos conduza novamente ao coração de Deus, à sua casa.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – 7º Domingo do Tempo Comum - Ano B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (2 Cor 1, 18-22)

INTRODUÇÃO: Paulo foi gravemente caluniado como falso apóstolo, especialmente após o escândalo do incestuoso (1 Cor 5, 1-5) e de não cumprir suas promessas de visitar os corintianos, coisa que não realizou de imediato. Daí que o seu sim fosse também não como parece indicar no começo de hoje. Ou seja, que ele não tinha uma palavra da qual se podia confiar. Este trecho da sua carta é sua defesa como palavra sempre a ser realizada, o que constituía definitivamente um sim a ser cumprido, sem que houvesse depois um não que o desdissesse.

FIDELIDADE DE DEUS: Fiel, pois, o Deus porque nossa palavra a (prometida) a vós não se tornou sim e não (18). Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, quem (está) em vós por meio de nós anunciado, por mim e por Silvano e por Timóteo, não foi sim e não, senão sim nEle feito (19). Fidelis autem Deus quia sermo noster qui fit apud vos non est in illo est et non Dei enim Filius Iesus Christus qui in vobis per nos praedicatus est per me et Silvanum et Timotheum non fuit est et non sed est in illo fuit. Paulo apela ao exemplo de seu Senhor, Jesus Cristo, a quem ele segue fielmente. Mas antes propõe como testemunha da firmeza de sua palavra o próprio Deus. Ele, Paulo, tinha verdadeiro propósito de visitá-los. Porém, alguma circunstância contra sua vontade, o impediu. Não era culpa sua. Porque o homem propõe, mas é Deus quem dispõe, como diz o provérbio. Temos colocado entre parêntesis a palavra prometida para dar um pouco mais de compreensão à frase. Na realidade, a tradução direita seria: nossa palavra a vós não se tornou sim e não. Uma outra versão do grego tem estin  (é) no lugar de egeneto (se tornou). A diferença é mínima e não afeta o sentido da frase, que implicaria em Paulo um caráter inconstante, por não dizer mentiroso. A política de indecisão, ambiguidade e engano não era própria da índole integrista e monolítica do apóstolo. Ao propor Deus como testemunha, Paulo está indicando como está dorido por essa calúnia que o mostra como indeciso ou talvez como falso e enganoso. Sua palavra tem o valor de seu anúncio evangélico, como diz na continuação. Discípulo como era de Cristo, anunciando sua doutrina, Paulo tinha sempre na sua memória as palavras do Mestre, evitando todo juramento e dando à palavra um valor certo e autêntico: Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna (Mt 5, 37). E ainda acrescenta o exemplo do Cristo que foi sempre um sim à vontade do Pai e sim a toda súplica humana, sem mudança, como diz Hb 13, 8: Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente. E o explica no versículo seguinte.

CRISTO É O SIM DO PAI: Porque quantas as promessas de Deus nEle o sim e nEle o amém para Deus para glória por nosso meio (20). Quotquot enim promissiones Dei sunt in illo est ideo et per ipsum amen Deo ad gloriam nostram. O SIM É NELE: De fato, Jesus não quis evangelizar os gentios e mandou seus apóstolos dizendo: Mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10, 6). Assim cumpriu as promessas divinas feitas a Abraão. Por isso escreve: Qual é a vantagem de ser judeu?… É grande em muitos aspectos. E primeiramente porque Deus confiou a sua promessa aos judeus (Rm 3, 1). Dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto, e as promessas. Paulo chama a Cristo de ministro da circuncisão por causa da verdade de Deus, para que confirmasse as promessas feitas aos pais (Rm 15,18). O AMÉM: era a palavra final das orações judaicas em que se desejava se cumprisse a petição precedente. Como perfeita realização dos planos divinos e das promessas, Cristo é o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus (Ap 3, 14). Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé, nós recebamos a promessa do Espírito (Gl 3, 14). De modo que assim escreve Paulo aos romanos: Que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericórdia, como está escrito: Portanto eu te louvarei entre os gentios, e cantarei ao teu nome (Rm 15, 9). Pois a rejeição dos judeus abriu a porta aos gentios e a glória de Deus se manifestou, como escreve Paulo no fim da mesma carta: Glória seja dada para sempre a Deus todo-poderoso, único e sábio, por meio de Jesus Cristo. Amém (Rm 16, 27).

UNÇÃO, CARIMBO E DEPÓSITO: Pois quem nos confirma convosco em Cristo e nos ungiu, (é) Deus (21). O qual também nos selou e deu o depósito de Espírito em vossos corações (22). Qui autem confirmat nos vobiscum in Christum et qui unxit nos Deus. et qui signavit nos et dedit pignus Spiritus in cordibus nostris.  Neste versículo, Paulo retoma sua defesa perante os corintianos, afirmando que foi o próprio Deus quem o ungiu como profeta. Ele reclama três aspectos da obra do Espírito nele: 1) A UNÇÃO [chrisma<5545>= unctio] que aparece para todo cristão em 1 Jo 2, 20: Vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo;  e 27: E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis. A ideia é que a unção é uma preparação para um serviço especial, diretamente unido à divindade, como eram o rei, o Sumo Pontífice e o profeta. E se em especial os apóstolos eram os ungidos e enviados, também segundo Pedro, todo cristão tinha essas qualidades que mereceram no AT a unção: Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa (1 Pd 2, 5), confirmado em Ap 5, 10. Em segundo lugar o CARIMBO [sfragis<4973>=signaculum], como selados e protegidos e identificados com o Espírito após ter crido no evangelho: Fostes selados com o Espírito Santo da promessa (Ef 1, 13) ao qual não devemos entristecer, pois é o sinal com que Deus vos marcou para o dia da libertação (idem 4, 30). Selo que recebeu primeiro o Filho (Jo 6, 27). Finalmente, a doação desse Espírito como DEPÓSITO ou penhor [arrabön<728>=pignus] nos corações. A palavra arrabön significa empréstimo, entrada inicial. Temos recebido o Espírito como uma entrada inicial, um penhor do que Deus nos prepara na vida eterna. É uma garantia do futuro em que entraremos a formar parte da família de Deus. Esta paga inicial é própria de Deus que tem invertido em nós o primeiro investimento de sua casa e habitação permanente. Para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito (2 Cor 5, 5). Esse penhor é de nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória (Ef 1 14). Em nossos corações, como diz Paulo já chamamos a Deus de Pai, o Abbá (Rm 8, 15), como filhos que um dia o veremos como tal (1 Cor 13, 12).

EVANGELHO (MC 2, 1-12) - O PARALÍTICO
(lugares paralelos Mt 9, 1-8 e Lc 5, 17-26)

INTRODUÇÃO: Outros dois evangelistas narram o mesmo fato. Os detalhes não interessam a Mateus e são próprios de Marcos e Lucas com a diferença de que Lucas não conhece as casas da Palestina e fala, talvez propositadamente, de telhas [kéramoi] para se deixar entender pelos greco-romanos. Marcos, pelo contrário, nos fala do terraço [stegos] de fazer um buraco nele como escotilha, após ter subido o doente ao mesmo. Um terraço feito de pau a pique, com argila entre varas de madeira. A cura é feita após Jesus louvar a fé deles, ou seja, dos 4 homens que carregavam o leito [krabatos grego, grabatos latino, catre, padiola ou maca em português]. A cura serve para introduzir o verdadeiro ofício de Jesus: perdoar os pecados. E Jesus usa a cura para demonstrar que ele tinha como homem [filho do homem] poder para perdoá-los. Deus se serve dos homens para salvar os homens. Essa é a grande lição.

AS CIRCUNSTÂNCIAS: Dias depois, entrou de novo em Cafarnaum e se escutou que está em casa (1). Et iterum intravit Capharnaum post dies. A Vulgata tem uma divisão diferente. Une a segunda parte do versículo 1 com a primeira parte do segundo. Mas vejamos a interpretação do grego tal e como o temos traduzido, como tradução literal de Marcos. Mateus nada diz além de que, de barco, chegou a sua cidade, que era Cafarnaum e não Nazaré, segundo a narração do próprio Mateus em 4, 13: deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum, à beira-mar. Lucas inicia o relato com estas palavras: E sucedeu, num certo dia, e ele estava ensinando (5,17). As traduções são as mais literais possíveis, apesar de alguma falta de sintaxe. Temos, pois, que era em Cafarnaum onde o relato tem lugar. De Marcos podemos deduzir que a casa era a de Pedro, segundo 1, 29. Pelas dificuldades do relato posterior, alguns sugerem que a cura não foi dentro da casa de Pedro, mas na sinagoga. Vejamos a argumentação: Segundo Lucas, estavam sentados fariseus e professores da lei os quais tinham vindo de todas as vilas da Galileia, e da Judeia e de Jerusalém (5, 17). A pergunta é: como podia estar sentada tanta gente dentro de uma pequena casa particular?  Não seria melhor interpretar a casa da qual fala Marcos como figura literária, no sentido de estar no lugar onde estava o domicílio? De modo semelhante um carioca diria: estou de volta em casa, após uma viagem fora da cidade do Rio. Por outra parte é improvável que Jesus tivesse escolhido uma casa particular para dentro dela falar como se fosse uma sinagoga. Inicialmente usou as sinagogas, mas quando a multidão superou a capacidade das casas de oração, como eram chamadas as sinagogas, Ele usaria a ladeira do monte (Mt 5, 1 e Jo 6, 3) ou uma planície (Lc 5, 17) para pregar o Reino. Quando curou, após o sábado em que livrou da febre a sogra de Pedro, muitos doentes, a multidão, se aglomerava diante da porta da casa. Agora Jesus está dentro do edifício. Logo deve ter sido a sinagoga num dia que não fosse sábado, como terça ou quinta feira. Nesses dias a sinagoga era casa de oração e de doutrina. Assim podemos interpretar muito bem Lucas, que indica estavam sentados os fariseus e mestres da lei que tinham na sinagoga assentos próprios. De todos os modos, esta teoria não é absolutamente provada e podemos pensar na casa de Pedro, suficientemente ampla, com um pátio central,  cheio de gente; e Jesus, desde a porta, falando a seus ouvintes.

A MULTIDÃO: E imediatamente confluíram muitos, de modo a  não haver espaço, mesmo diante da porta. E falava a eles a palavra (2). Et auditum est quod in domo esset et convenerunt multi ita ut non caperet neque ad ianuam et loquebatur eis verbum. Já temos explicado as diferenças, com o latim, na divisão dos versículos.  Esta pequena introdução é para justificar a ruptura do teto [furar o mesmo] e assim demonstrar a fé dos 4 homens que portavam a padiola.  Evidentemente, a palavra era o ofício principal de Jesus. O anúncio do evangelho, que hoje afirma o Papa como opus proprium [ofício próprio] da Igreja, junto ao serviço da caridade e a administração dos sacramentos. As casas da Palestina estavam formadas ao redor de um pátio comum, formando um quadrado para o qual se abriam as portas das mesmas. Podemos imaginar que a multidão, no início dentro do saguão da casa, se estendia fora  diante da porta até o pátio. Isto, caso a interpretação seja a tradicional; mas no caso da sinagoga, estando esta lotada, também haveria gente às portas da mesma.

A PADIOLA: E vêm a ele, levando um paralítico, tomado por quatro (3). Et venerunt ferentes ad eum paralyticum qui a quattuor portabatur.  A tradução literal indica a rudeza de linguagem de Marcos que Lucas suaviza dizendo: E eis que [alguns] homens, levando sobre um leito um homem que era paralítico e buscavam introduzi-lo e pôr diante dEle (5, 18). Segundo Marcos era um krabatos, segundo Lucas um klinê. Krabatos [grabatus latino] era um leito pobre [catre], e apropriado para descrever a padiola de um enfermo, e Klinê [lectus latino] era o leito  onde se reclinavam os comensais e a cama onde dormiam os moradores de uma casa. Ambos podiam consistir de um colchão ou divã, apoiado em varas para o transporte, como parece o caso. Em At 5, 15 aparecem ambas as palavras traduzidas ao latim por lectulus e grabatus [cama de enfermo ou pequena cama {daí o espanhol camilla}, e maca].

O FURO NO TETO: E não podendo aproximar-se dEle por causa da multidão, descobriram o teto [stegê, tectus, roof] onde estava e tendo escavado, deixam (sic) baixar o catre onde o paralítico estava deitado (4). Et cum non possent offerre eum illi prae turba nudaverunt tectum ubi erat et patefacientes submiserunt grabattum in quo paralyticus iacebat. Lucas escreve: E não havendo encontrado de que maneira o introduziriam por causa da multidão, subindo sobre o eirado [dôma, supra tectum, housetop], o desceram através das telhas, com o catre [literalmente pequeno leito: klinidion] no meio, diante de Jesus (5, 19). Como vemos, os versículos 3 e 4 de Marcos e 18 e 19 de Lucas podem se referir a uma casa ou a uma sinagoga, sendo que o versículo 17 é o único que favorece a interpretação de ser o teto [dôma<1390> grego ou super tecta latino] o terraço de uma sinagoga, como explicamos anteriormente. Embora a palavra dôma grega signifique edifício ou casa inicialmente, também significa uma parte da casa como o terraço. Os orientais usam os terraços de suas casas para passear e para meditação e oração. Este fato é confirmado pelos Atos quando Pedro teve a sua revelação do grande lençol (10, 8-11). A sinagoga era o lugar preferido por Jesus para o anúncio da palavra, até que a grande multidão o levasse à beira-mar ou lugares abertos como ladeiras de colinas. Ao terraço podia-se subir por uma escada externa de modo que os judeus diziam que a uma casa se podia entrar ou pela porta ou pelo terraço.

O PERDÃO: E tendo visto Jesus a fé deles, diz ao paralítico: Filho, foram remitidos teus pecados (5). Cum vidisset autem Iesus fidem illorum ait paralytico fili dimittuntur tibi peccata. Mateus acrescenta ao filho o imperativo Tharsei [confide latino] e que podemos traduzir por ânimo! O verbo remitir [aphiêmi<863>, dimittere, be forgiven] é mais usado para pagar uma dívida. Originalmente significa deixar de lado. Parece que imediatamente Jesus devia incluir a cura corporal pela qual todos os cinco tinham procurado com tamanho trabalho; mas existe uma outra cura que Jesus prioriza e é a cura da alma. Seguramente que o paralítico estava preocupado com sua vida anterior e pensava que a sua doença era produto de sua infidelidade para com a lei. Jesus o acalma e lhe diz que suas contas estão zeradas. Não há por que se preocupar. Um outro detalhe é que se Marcos e Mateus usam o tecnos<5043> [filius, child, filho], Lucas no mesmo versículo usa homem [anthropos, homo, man]. Não cremos que exista para a mudança  uma razão merecedora de explicação.

O AUDITÓRIO: Porém estavam sentados ali alguns escribas [grammateos, scriba, scribe ou secretary] e fariseus, arrazoantes em seus corações (6). Erant autem illic quidam de scribis sedentes et cogitantes in cordibus suis. Lucas descreve os escribas como nomodidaskaloi<4547>, que significa literalmente professores da lei, para que seus leitores entendam o termo. O mesmo evangelista diz que vieram de toda a região da Palestina: Galileia, Judeia e Jerusalém, fato que indica a fama de Jesus como já conhecida em toda a região. Seguramente que já estavam presentes, mais como raça de víboras do que como ouvintes, pois esperavam como apanhá-lo nalguma palavra (Mt 22, 15). A cura do sábado, dentro da sinagoga, de um endemoninhado, suscitava uma certa prevenção entre os amantes da Lei, fossem letrados ou simples leigos na matéria. Desta vez não era sábado e o lugar não era tampouco a sinagoga. Mas o perdão dos pecados era coisa que um homem não podia fazer em boa lógica.

A MURMURAÇÃO: Por que este, assim fala blasfêmias? Quem pode dimitir pecados senão unicamente (o) Deus? (7).Quid hic sic loquitur blasphemat quis potest dimittere peccata nisi solus Deus. O verbo usado é dialogizomai<1260> [cogitare, reason, arrazoar]. Segundo Marcos, a objeção às palavras de Jesus é interna [dentro dos seus corações] que podemos traduzir como em seu interior ou para seus botões em frase vulgar. Já que coração [leb hebraico] tinha o mesmo sentido figurado que mente para nós. Mateus é ambíguo na interpretação e Lucas parece que até o murmúrio era audível, pois declara que diziam: quem é este que fala blasfêmias? E a razão para afirmar que as palavras de Jesus eram blasfemas era porque ele atribuía a si mesmo uma autoridade que só pertencia a Deus: Quem pode perdoar pecados senão só Deus? (7). Palavras que Lucas traz quase literalmente substituindo o só por unicamente. Porque unicamente o ofendido pode perdoar a ofensa do ofensor; somente o credor pode perdoar a dívida do devedor. Estavam corretos quanto à razão, porém não podiam pensar que Deus estava presente na humanidade de Jesus, assumida pelo Verbo como natureza em que se encarnou e se tornou visível a divindade.

A RESPOSTA DE JESUS: E imediatamente, conhecendo Jesus em seu espírito que assim arrazoavam entre si, diz-lhes: Por que arrazoais estas coisas dentro de vossas mentes? (8). Que é mais fácil de realizar [eukopoteron]? Dizer ao paralítico, remitidos são teus pecados; ou dizer: Levanta, e toma teu catre e anda? (9). Quo statim cognito Iesus spiritu suo quia sic cogitarent intra se dicit illis quid ista cogitatis in cordibus vestris. quid est facilius dicere paralytico dimittuntur tibi peccata an dicere surge et tolle grabattum tuum et ambula. A palavra eukopoteros <2123> é usada por todos. Deriva de  Eukopos [realizável], e, como comparativo, mais fácil de efetuar. Logicamente a resposta era dizer que perdoar os pecados. Ou os oponentes ficaram sem responder ou Jesus se adiantou em sua resposta. Por isso declara: Pois, para que saibais que o Filho do Homem tem autoridade de perdoar os pecados sobre a terra, diz ao paralítico (10). As palavras de Jesus são exatamente iguais nos três evangelistas. Unicamente Lucas corrige o grego popular de Marcos ao escrever disse no lugar de diz. A frase merece uma reflexão: Nesta situação, Jesus  atua como homem [Filho do Homem] e não revela sua identidade com Deus. Ele compara o perdão dos pecados com a cura imediata de uma doença que não poderia ser atribuída a remédios ou médicos. E ambas as atividades devem ser atribuídas ao poder ou a autoridade de Deus. Se um homem cura, um homem pode perdoar. Evidentemente esse homem era aquele que pronunciou as palavras: filho, teus pecados são perdoados. Não é casual que os três sinóticos falem com as mesmas palavras sobre o Filho do Homem. Qual era o significado desta expressão? Literalmente seria o homem, mas nas circunstâncias em que Jesus disse essa frase significava eu, esse homem, que vocês estão vendo e ouvindo. Um homem tem a potestade de perdoar os pecados, coisa que parecia um paradoxo, e em momentos em que ainda o mistério cristão por excelência, a Trindade, não tinha sido revelado. Jesus vinha declarar que desde aquele momento um homem, e, portanto, todo homem escolhido pela vontade de Deus, podia perdoar os pecados. Esta afirmação deve ser mantida em toda sua integridade pelo que diz Paulo: Foi em tudo semelhante a nós (Fl 2, 7), a exceção do pecado (Hb 4, 15). Primeiramente estão as palavras de Jesus que indicam claramente sua atividade principal: perdoar os pecados, e suas credenciais: o milagre. Logo temos a realização do que é visto [a cura] para que a fé veja o que não pode ser visto [o perdão].

O MILAGRE: A ti digo: levanta, toma teu catre e vá para tua casa (11). Tibi dico surge tolle grabattum tuum et vade in domum tuam. Praticamente com uma linguagem mais polida Lucas diz o mesmo. São três ordens numa só, precedidas de uma palavra de atenção. Só a ele perdoa e a ele unicamente cura, de forma total. O paralítico não era só um enfermo, mas um inválido com a impossibilidade de tomar qualquer peso ou mesmo de andar. E ambas as coisas resultam fáceis para quem era impossível momentos antes. Tudo pela palavra de um homem, presente ali.

FINAL: E levantou-se, e imediatamente tomando seu catre saiu, à vista de todos, de modo a todos ficarem atônitos e glorificarem a Deus dizendo que nunca assim temos visto (12). Et statim ille surrexit et sublato grabatto abiit coram omnibus ita ut admirarentur omnes et honorificarent Deum dicentes quia numquam sic vidimus. Mateus nos dá uma versão particular muito interessante: Vendo isso as multidões tiveram medo e glorificaram a Deus que tinha dado tamanha autoridade aos homens (Mt 9, 8). Mateus usa o plural homens, para indicar que não só Jesus mas todo homem escolhido por Deus teria desde esse instante semelhante autoridade que mais se relacionava com o perdão do que com o carisma da cura. Lucas também fala do temor que se apoderou dos presentes dizendo: Hoje vimos umas paradoxa <3861> [coisas longe do comum, inusitadas, incríveis], que o latim traduz como mirabilia [coisas as mais admiráveis].

PISTAS:

1) Havia duas razões para perdoar os pecados: a 1a, consequente com as ideias na época, era que toda doença tinha como causa um pecado. Perdoado este, a doença não tinha razão de existir. Daí que o paralítico recebesse com as palavras de Jesus uma injeção de esperança. Sua cura estava próxima. A 2a era que Jesus queria dar uma lição aos seus ouvintes, preparando o anúncio do Reino. Este é: perdão antes de cura. Se o perdão está presente, o reino está também atuando.

2) Mais, o perdão é maior do que a cura e, não pedido, é totalmente graça divina. Perdão por parte de Deus, mas perdão anunciado por um homem, pois Jesus poderia ser ao máximo um profeta, mas era homem para todos os assistentes ao sucesso. Aliás, o perdão era sua finalidade como Cordeiro de Deus: tirar o pecado do mundo. (Jo 1, 29) Como Paulo, João, de quem é a expressão, toma o pecado em termos pessoais como se fosse uma maldade personificada, que Jesus iria destruir como Cordeiro, ou seja, com seu sacrifício.

3) Consequentemente, todo pecado pessoal pode ser remetido em nome de Jesus, e Ele usa este poder ainda antes de sua imolação porque é em seu nome que a salvação entra no mundo (Rm 10,13) assim como o pecado entrou em nome do poder do diabo, a antiga serpente.(Ap 12,9).

4) A argumentação de Jesus é contundente: O perdão só pertence a Deus. A cura desse paralítico só pertence a Deus. Logo se cura, é porque Deus age por meio dele da mesma forma que atua para perdoar. Para que saibais que o filho do Homem  tem autoridade para perdoar os pecados, dirá Jesus: levanta-te, toma tua maca e vai para casa (11). A expressão Filho do Homem era o mesmo que eu ou a gente, e assim se deve entender a não ser que em consonância com Daniel 7, 13-14 Jesus queira aqui assumir o papel do Reino de Deus em sua pessoa. O milagre feito é corretamente interpretado pela gente humilde, dando glória a Deus: Nunca vimos coisa semelhante. (12)

5) Jesus, o homem, foi e é um instrumento da divindade. Os que com Jesus se identificam pela comunhão perfeita, também podem ser instrumentos da mesma; daí a importância dos santos, os verdadeiros crentes em Jesus, que farão até maiores obras do que Ele (Jo 14,12).

6) Se nós não somos instrumentos da divindade poderemos ser de sua misericórdia. Caso isto não aconteça é porque a habitação do Espírito não é experimentada por nós. Não podemos esquecer que o maior milagre é a presença do amor num mundo indiferente ou violento com o próximo. O perdão que damos é um milagre de Deus em nós e na vida dos que considerávamos nossos inimigos. Se as misérias e infelicidades do mundo que nos rodeia não nos atingem, nem nos comovem, é porque o amor ainda não penetrou profundamente em nossas vidas, o amor cuja personificação é o Espírito Santo. Porque um grande amor tem como fonte uma profunda compaixão.

7) Se meu amor se limita à família, aos filhos de modo especial, o mundo estaria tão mais necessitado e injusto que esteve até agora. Por isso, é o necessitado, o doente, o injustiçado quem mede essencialmente a pureza de meu amor e proporciona a medida de minha entrega a Deus. Como Disse Jesus, citando o profeta Oseias, ide, pois, aprender o que significa, é a misericórdia que eu quero, não o sacrifício. (Mt 9,13).


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! Somos convidados a experimentar Deus, que é cheio de amor, de bondade e de ternura, que convida todos os homens e todas as mulheres a integrar a comunidade dos filhos amados de Deus. Ele não exclui ninguém nem aceita que, em seu nome, se inventem sistemas de discriminação ou de marginalização dos irmãos. Jesus Cristo desfaz a relação entre puro e impuro e convida nossa comunidade a fazer o mesmo. É necessário ter as mesmas atitudes de Jesus. Só assim nossas celebrações serão verdadeira comunhão com a Palavra e com a Eucaristia. Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos cânticos jubilosos ao Senhor!

(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (2Rs 5,9-14): - "Nos gestos mais simples encontramos a grandeza e poder de Deus. É necessário estar atentos para que nossas ações possam incluir os demais irmãos, principalmente os que mais sofrem."

SALMO RESPONSORIAL 32(31): - "Sois, Senhor, para mim, alegria e refúgio."

SEGUNDA LEITURA (1Cor 10, 31-11,1): - "Os cristãos devem ter como prioridade a glória de Deus e o serviço dos irmãos. O exemplo supremo deve ser o de Cristo, que viveu na obediência incondicional os projetos do Pai e fez da sua vida um dom de amor."

EVANGELHO (Mc 1,40-45): - "Deus desce ao encontro dos seus filhos, compadece-Se da sua miséria, estendelhes a mão com amor, liberta-os dos seus sofrimentos, convida-os a integrar a comunidade do Reino."



Homilia do Diácono José da Cruz – 6º Domingo do Tempo Comum

"SENTIU COMPAIXÃO..."

A nossa compreensão da palavra “compaixão”, nunca será completa, pois, na Sagrada Escritura, “sentir compaixão” é uma virtude própria de Deus e na maioria das vezes, esse sentimento pelo próximo, que o nosso coração define como “compaixão” não passa na verdade de um, gesto de piedade, que também é um atributo Divino, porém em seu sentido mais amplo, que o coração humano nunca será capaz de alcançar. O evangelho desse Domingo, nos ajuda a aprofundar o sentido dessa ação de Jesus, presente em momentos significativos, quando ele se defronta com a miséria humana, motivando-nos a rever se a estamos aplicando na relação com o próximo, em seu sentido autenticamente cristão.

Pelo conteúdo normativo de Levíticos, primeira leitura, Jesus tinha mil e uma razões para nem sequer se aproximar de um leproso, que pertencia a classe dos “irrecuperáveis” daquele tempo, na ótica religiosa. A lepra era incurável e vista como conseqüência do pecado e assim, o leproso era considerado um maldito, que além da dor física, sofria também a dor moral da exclusão, sendo esta bem mais dolorosa porque o colocava à margem da salvação, banindo-o do convívio social e da comunidade, além de saber que a sua condenação no pós morte, era tida como certa e definitiva.

Em uma sociedade marcada pelo ateísmo moderno, onde a fé é subjetiva e Deus é perfeitamente dispensável, esse quadro não é tão tenebroso, mas no contexto histórico e religioso daquele tempo, esse desprezo tinha um peso muito maior, o leproso era tido como um lixo, escória da sociedade, confinado em acampamentos fora da cidade, tendo que mostrar a sua desgraça e miséria, mantendo uma aparência monstruosa, e quem se aproximasse dele e o tocasse, estaria violando os preceitos da lei, tornando-se também um impuro e tendo de isolar-se, até que pudesse oferecer um sacrifício de expiação, como prescrevia a lei de Moisés, para só então ser reconhecido como “purificado”

Podemos então compreender a compaixão Divina, como uma ação coordenada não por normas legalistas, mas por uma lei nova, ensinada por Jesus: a Lei do amor, que não revoga a Lei antiga, mas lhe dá plenitude resgatando o seu sentido verdadeiro, que é a defesa e a preservação da vida humana. O evangelista Marcos faz questão de mostrar, da parte de Jesus essa “quebra de protocolo”, quando permite que o leproso se aproxime, é verdade que este o faz movido pelo desespero, infligindo também as normas do Levítico, e aqui percebe-se que o leproso é um homem diferente, uma vez que crê muito mais na misericórdia de Jesus, do que no cumprimento da Lei, determinada por uma instituição que não tem o poder da cura, mas apenas declara que ele está “impuro”, ao contrário de Jesus, que permite a aproximação, derrubando assim o preconceito.

Muito mais do que um simples encontro de Jesus com um leproso, este versículo sintetiza de forma brilhante o amor e a ternura de Deus pelo ser humano, permitindo uma reaproximação, após a queda do pecado, é o Deus que se deixa tocar, que se encarna e assume a natureza humana, com toda sua miserabilidade, o leproso se prostra diante dele, por uma razão muito simples: primeiro porque reconhece a sua insignificância, e em segundo porque não vê outra saída para sua dor, senão a de recorrer àquele que é diferente da instituição religiosa que o havia condenado, no fundo crê que Jesus de Nazaré é o seu Salvador e libertador, no sentido de ter o poder de resgatar a sua dignidade perdida, aquele leproso considerado um maldito, é na verdade alguém que consegue vislumbrar o verdadeiro messianismo de Jesus, em contradição com o Poder religioso, que o rejeita, mostrando uma fé madura, pois não pede simplesmente a cura física, mas a “purificação”.

Diante de uma fé assim, tão fiel e humilde, note-se que o leproso não impõe e nada exige e nem coloca a sua vontade como fator determinante, mas abandona-se à vontade de Deus: “Senhor, se queres...”. Que comovedora profissão de fé, para o homem arrogante e presunçoso de nossos tempos! Homem que a exemplo dos nossos primeiros pais, ousa ocupar o lugar que é de Deus, marginalizando e excluindo certas categorias sociais consideradas malditas, abandonadas em presídios de sistemas carcerários, que em quase nada contribuem para a recuperação de quem errou, de idosos, jovens, adolescentes e crianças, amontoados em asilos e instituições de caridade, gente que não tem mais esperança de nada, e que há muito tempo nem é mais contada na “aldeia global”, que só considera quem produz e consome.

Podemos encontrar com esse leproso no seio de nossas famílias e comunidades, onde isolamos certas pessoas em “acampamentos”, consideradas pervertidas, geniosas, temperamentais, desequilibradas, poderíamos incluir os aidéticos, efeminados, casais em segunda união, dependentes químicos, prostitutas, mães solteiras, pessoas que, como naquele tempo, sempre temos uma certa reserva, mantendo a necessária distância por medo de sermos “contaminados”, e a sua presença em nosso meio, causa asco e mal estar.

Como cristãos, temos que ter essa consciência do grave pecado da exclusão, e o evangelho nos mostra por onde devemos começar, é bem verdade que Jesus afrontou as instituições do seu tempo, mas em primeiro lugar, em sua relação com as pessoas, usou sempre da lei do amor, deixando de lado normas de conduta e formalismos religiosos, ao tocar no leproso. Poderíamos começar no nosso dia a dia, acolhendo com gestos cordiais, amizade e carinho, os “leprosos” que muitas vezes excluímos, por conta de preconceitos e até intolerância.

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 6º Domingo do Tempo Comum

“Queres?”

Queres? Quero. Com essas palavrinhas foram resolvidos os problemas do leproso (cf. Mc 1,40-41). Também nós podemos perguntar a Jesus: queres? Procuremos escutar a resposta. Mas será que pode ser que ele não queira o que eu estou pedindo e que me parece tão importante? É possível. Aquilo que julgamos bom para nós e pedimos insistentemente, Deus, na sua omnisciência, poderia não estar de acordo. Desta maneira, não nos concederá determinada coisa ou talvez atrase a concessão da mesma.

E nem adianta viver na ilusão. Não faz muito tempo escutei a história daquela senhora, diabética quase ao extremo, que acreditava tanto nas curas de Deus que afirmou a outra pessoa o seguinte: – “Jesus me curou, já não sou diabética?” A sua amiga respondeu-lhe: – “puxa vida, pena que ele se esqueceu de dar-lhe um pouco de cor, pois você está muito pálida; vejamos se realmente está curada: vá tomar um café com muito açúcar.” A diabética afirmou: – “não, eu ainda não posso”.

Estou a afirmar que Deus não cura? Não. Claro que o Senhor cura, liberta e faz milagres. E não obstante, pode ser que em determinados momentos ele não o queira e permita que padeçamos porque ele sabe que tal sofrimento será para o nosso bem e para a glória de Deus: “Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus” (Jo 11,4). Infelizmente, alguns grupos cristãos têm satanizado toda e qualquer enfermidade, as doenças viriam do diabo e por isso seria preciso curar-se de qualquer jeito. Um dos grandes perigos dessa maneira de ver o sofrimento é a vinda do ateísmo. Explico-me: as pessoas que frequentam esses tipos de seitas, quando abrem os olhos e percebem que há anos vêm pedindo cura e, paradoxalmente, não recuperam a saúde desejada, podem vir a perder a fé em Deus. Mas, deixemo-lo claro: essas pessoas acreditam num Deus que não parece ser exatamente o Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo. Tenho medo de que, com o passar do tempo, essa grande onda de curas e de milagres venha a desembocar num ateísmo cada vez maior e num secularismo que já não conhece a mensagem cristã, cujo centro é justamente o mistério da cruz que eclode no domingo da ressurreição.

Mas o fato é que no caso do leproso de hoje, Jesus quis a sua cura. Por quê? Ora, naquele homem enfermo, Jesus Cristo viu um “projeto de apóstolo”. E assim foi! “Este homem, porém, logo que se foi, começou a propagar e divulgar o acontecido, de modo que Jesus não podia entrar publicamente numa cidade. Conservava-se fora, nos lugares despovoados; e de toda parte vinham ter com ele” (Mc 1,45). O ex-leproso converteu-se então num mensageiro do Evangelho. Neste caso, a cura dele também foi para a glória de Deus!

Em suma, tanto a nossa enfermidade quanto a nossa cura podem ser para o nosso bem e para a glória de Deus. Ele, que tem a visão de todas as coisas e conhece o mais íntimo de nós mais que nós mesmos, sabe o que será melhor no nosso caso concreto. Daí que devemos abandonar-nos confiadamente nas mãos do Bom Deus.

Jesus também poderia perguntar a você: Queres? Queres seguir-me de verdade? Queres buscar-me de verdade ou será que queres tão somente aquilo que eu posso te oferecer? As perguntas entram numa clara lógica de conversão. A cura do leproso não foi apenas uma cura do corpo, mas principalmente da alma: ele tornou-se uma testemunha do Senhor. Jesus quis curá-lo, mas ele – o leproso – também quis seguir o Senhor de verdade.

Conta-se que certa vez a irmã de Santo Tomás de Aquino perguntou-lhe qual era o segredo da santidade. O santo respondeu sem hesitar: – querer! Caso nós percebemos que não vamos para frente na extirpação de tal ou qual vício ou no progresso em determinada virtude, perguntemo-nos a nós mesmos: será que eu quero? A graça de Deus não nos falta, o problema não pode está aí; o problema está na debilidade da nossa resposta aos apelos de Deus. Lembro-me daquele espanhol, professor renomado, que confessou aos seus alunos: – “Eu parei de fumar. O que eu fiz? Lutei para nem sequer pensar no cigarro”. Esse homem QUERIA de fato deixar de fumar!

Queres, meu filho? Queres, minha filha?

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – 6º Domingo do Tempo Comum - Ano B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (1 Cor 10, 31- 11,1)

PARA GLÓRIA DE DEUS: Porque quer comais, quer bebais,ou façais alguma coisa, tudo para glória no de Deus fazei (31). Sive ergo manducatis sive bibitis vel aliud quid facitis omnia in gloriam Dei facite. Este versículo é parte da conclusão do problema dos idolotitos; ou seja, de carnes de consumo  nos açougues que procedia dos santuários pagãos. Tudo que não se utilizava no templo com fins cultuais era vendido no mercado. Por isso, a questão de: se ao comer essa carne, o cristão não participaria da idolatria. S. Paulo, na sua resposta, distingue cuidadosamente o plano doutrinal do plano da praxis. Em teoria é evidente que um cristão não pode se comprometer com deuses falsos. Por isso, seguindo o critério de Jesus que afirmou não se contaminar o homem pelo que entra pela boca, Paulo afirma que o cristão é livre: Tudo é permitido, porém nem tudo convém. E ainda: “Tudo é permitido”, mas nem tudo edifica (v 23). Um exemplo clássico era quando se come em casa de outro como invitado: tem um cristão direito a comer carnes que antes foram oferecidas aos ídolos pagãos [idolotitos]? A resposta do apóstolo consta de dois princípios fundamentais: 1º) liberdade total no que diz respeito a essas carnes. 2º) respeito à consciência dos outros. O primeiro princípio é logicamente defendido por um razoamento simples, que corresponde a tudo é permitido. Porque o ídolo nada é, e a carne a ele oferecida nada recebe, nem de mal nem de bem. É simplesmente carne de um animal. O fato de ser oferecido a uma estátua de bronze ou pedra e ter recebido incenso nada pode acrescentar a um pedaço de carne. O mundo pagão é profano e nada tem de sagrado, que deve estar limitado ao verdadeiro Deus e seu culto. O segundo princípio é devido a que nem todos têm essa liberdade de consciência e pensam que a carne chamada idolotito está contaminada. Sua consciência é fraca, e quando alguém acredita que comete pecado, embora não exista matéria para o mesmo, realmente peca. Por consequência, se um alimento pode causar escândalo e incitar ao pecado a um cristão, devo me abster da carne que o incita ao pecado. A caridade deve ser o último critério nesta questão, e assim se cumpre o segundo princípio: nem tudo edifica. Esta posição de Paulo ele a descreve dizendo: fiz-me fraco com os fracos (1 Cor 9, 22). Dos três casos possíveis: compra no mercado, comida em casa de um amigo e comida num santuário pagão, os dois primeiros não devem preocupar um cristão. Mas dificilmente a última prática poderia estar livre de pecado, pois estaria unida a um culto explicitamente proibido, não por comer uma carne, mas por participar de um culto pagão. Não foi a toa que inumeráveis mártires morreram por esta causa na história do cristianismo contra o culto ao Imperador como deus do Império. Daí a conclusão do versículo anterior a este: Se eu agradeço a Deus pela comida que como, por que é que hei de ser criticado por aquilo que eu agradeço a Deus? (30). Ou seja, a verdadeira intenção da comida não está na carne, mas na ação de graças que precede intencionalmente a comida da mesma. E assim Paulo recomenda a ação de graças antes da comida e da bebida, que estende a toda obra realizada: Portanto, quer comam, quer bebam, quer façam quaisquer outras coisas devem fazer tudo para dar glória a Deus (31). Da questão dos idolotitos, Paulo passa agora a uma mais ampla visão, como é a intenção que deve predominar em toda conduta cristã: é a glória de Deus, como dirá séculos mais tarde S. Ignácio de Loyola: Ad maiorem Dei Gloriam.  Este é o motivo principal e causa final de todas as nossas ações, sem o qual se converteriam em promover nossa própria vontade e exaltar o nosso natural egoísmo. Perfeita e totalmente, unicamente alcançaremos esta finalidade na feliz bemaventurança em que o Reino terá sua completa realização como diz Jesus na oração que nos ensinou: seja feita a tua vontade, assim na Terra como no Céu (Mt 6, 10).

NÃO ESCANDALIZAR: Sem ofensa sede, tanto para judeus como helenos assim como para a Igreja de(o) Deus (32). Sine offensione estote Iudaeis et gentilibus et ecclesiae Dei. OFENSA[aproskopoi<877>=sine offensione] como em At 24, 16 significa ter uma conduta limpa, irrepreensível de modo a não ter escandalizado nem a judeus nem a gregos. Como diz em Fp 1,10 de modo a estar sem escândalo algum até ao dia de Cristo. A conduta de Paulo neste ponto é dirigida pelo bem do irmão: Por isso, se a comida escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se escandalize (1 Cor 8, 13). E da comida passamos a uma regra mais geral no âmbito da caridade: Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão (Rm 14, 13); de modo a não dando nós escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado (2 Cor 6,3). E será com essa regra de conduta que Paulo se dirige aos ministros de Cristo como chefes do rebanho: Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a Igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue (At 20, 28). Tudo  o que constitui seu testamento aos presbíteros de Éfeso na sua despedida em viagem a Jerusalém.

AGRADANDO A TODOS: Como também eu me esforço em agradar em tudo a todos, não buscando o que é vantajoso para mim, mas aos muitos para que sejam salvos (33). Sicut et ego per omnia omnibus placeo non quaerens quod mihi utile est sed quod multis ut salvi fiant. ESFORÇO-ME[areskö<700>=placeo] com o significado de esforçar-se por comprazer ou simplesmenteCOMPRAZER [symferon<4851>=utile] como em Mc 6, 22: a filha da mesma Herodíades, dançou, e agradou a Herodes e aos que estavam com ele à mesa. Com o mesmo significado do versículo atual: Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação (Rm 15, 2). E é com este propósito que Paulo nos confia sua impecável conduta: Agora satisfaço aos homens ou a Deus? Ou procuro agradar aos homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria  servo de Cristo (Gl 1, 10). Assim, ele procura cumprir a regra de ouro do ministério apostólico:sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais (1 Cor 9, 19). Que em termos de um verdadeiro cristão ele designa nesta frase lapidária: Que ninguém procure o seu próprio bem, mas sim o dos outros (1 Cor 10, 24).

O SEU EXEMPLO: Sede meus imitadores como também eu de Cristo (11, 1). Imitatores mei estote sicut et ego Christi. Com toda razão pode, pois, Paulo, terminar seu escrito com uma frase que tem sido declarada como símbolo da vida de um apóstolo: Sede meus IMITADORES[mimëtai<3402>=imitatores]. Na realidade, este versículo tem o limite da conduta sobre os idolotitos; mas Paulo exorta os corintianos a uma mais ampla imitação, copiando em suas vidas o seu exemplo, que era de sofrimento e trabalho pelo anúncio do evangelho, como escreve na mesma carta em 4, 16: Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores. Esta imitação está na linha do que é a conduta divina, como declara Paulo aos de Tessalanônica: E vós fostes feitos nossos imitadores, e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito Santo.Tudo o que remata com esta consideração: Porque vós, irmãos, haveis sido feitos imitadores das igrejas de Deus que na Judeia estão em Jesus Cristo; porquanto também padecestes de vossos próprios concidadãos o mesmo que os judeus lhes fizeram a ele (Fp 2,14). Porque mais do que com a palavra, a pregação paulina foi um exemplo de serviço e dedicação: Não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes (Ts 3, 9). O exemplo de Paulo só vale, enquanto ele é uma cópia da conduta de Cristo, que não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos (Mt 20, 28). Este é o ideal de todo ministro do evangelho, e que, segundo Paulo, deve ser também de toda alma cristã.

EVANGELHO (Mc 1, 40-45) - CURA DE UM LEPROSO
(lugares paralelos Mt 8, 1-4 e Lc 5, 12-16)

INTRODUÇÃO: A LEPRA. Sobre este nome, seguramente que estão incluídas várias doenças, que antigamente eram desconhecidas em origem e que tinham sintomas parecidos. Como se nos tempos modernos declarássemos gripe a toda doença que tem sintomas como febre, dores musculares, ou dificuldades respiratórias. Há muitas doenças de pele que poderiam ser confundidas, a simples vista, com a verdadeira doença de Hansen, a vulgarmente chamada lepra. Como enfermidades da pele, podemos ver 35 diferentes, desde acne até urticária física. No AT a lepra tem dois capítulos 13 e 14, a ela dedicados no livro do Levítico. Como viam os vestidos cobertos de mofo branco assim como as paredes, também o Levítico trata desta “lepra”. Dos primeiros, trata em 13, 47-52 e das segundas, em 14, 34-53. Tanto os vestidos como as paredes deverão ser examinados pelos sacerdotes e declarados impuros durante sete dias. Como vemos,  não podemos confiar na descrição da enfermidade nos textos bíblicos, pois declara como tal o mildew, mofo ou bolor. Modernamente não temos dúvidas sobre a verdadeira doença, dividida entre lepra tuberculoide e lepra lepromatosa. Esta última é a mais severa e a que produz grandes nódulos desfigurantes. Todas as formas desta enfermidade causam finalmente dano neurológico periférico ou das extremidades nervosas, manifestado em perda sensorial cutânea e debilidade muscular. SINTOMAS: Lesões cutâneas hipopigmentadas [mais claras do normal] com diminuição nelas da sensibilidade ao tato, ao calor e à dor. Lesões cutâneas, que não são aliviadas em semanas ou messes. Ausência de sensibilidade nas mãos, braços e pés. Debilidade muscular que ocasiona a presença de sinais como o pé caído [a ponta do pé se arrasta ao levantá-la para dar um passo]. CONTÁGIO: sempre é direto, de pessoa enferma a pessoa sã. Por via respiratória, digestiva ou cutânea, por secreções bacterianas. Como os bacilos não atravessam a placenta, de pais leprosos nascem filhos sãos. A lepra tuberculosa é de prognóstico benigno, aparecendo manchas vermelhas que não emitem bacilos e, portanto, não é contagiosa. EXPANSÃO: É encontrada, com maior frequência, nos países tropicais. A OMS calcula o número de infectados em 286.000 pessoas. No início de 2005, os casos declarados na América são 38.877 sendo o Brasil o país com maior número de enfermos.CASTIGO: Era considerada como um castigo divino, especialmente após a lepra de Maria, a irmã de Moisés, que, por falar mal de seu irmão, apareceu coberta de lepra branca como a neve (Nm 12, 10). E como tal, os que a padeciam eram considerados impuros. JULGAMENTO: A observação da enfermidade, a declaração da mesma e de sua cura, pertenciam aos sacerdotes (Lv cap 13), que recebiam os curados e faziam o sacrifício de purificação, uma vez declarado curado o enfermo, como narrado no livro do Levítico, no capítulo 14. Realmente, o leproso tinha que se afastar da vida social. Deviam morar fora das aldeias e cidades, e se dar a conhecer de longe, pois tinham que vestir vestidos desgarrados, como de mendigos, a cabeça nua, sem turbante, a barba coberta com um véu e advertir de sua proximidade aos viajantes gritandoTamé, tamé [impuro, impuro]. Deviam falar a 4 côvados de distância no mínimo [pouco mais de dois metros]. Reduzidos ao estado de mendigos, acostumavam morar nas covas e sepulcros, em pequenos grupos para repartir a comida e as penalidades. Não eram propriamente excomungados, pois podiam assistir aos ofícios da sinagoga desde que fossem os primeiros a entrar e os últimos a sair e nelas estivessem em lugar separado. A conduta dos rabinos era bem diferente da de Jesus como narrada nos evangelhos. Alguns fugiam deles só ao vê-los, outros até chegavam a jogar pedras para afastá-los do caminho e não se contaminar. O nosso leproso era dos considerados como tais pela lei, e como diz Lucas, estava cheio de lepra, o qual indica uma lepramatose profunda. Lucas diz que estando numa cidade foi quando o leproso se prostrou por terra.

O PEDIDO: Então, vem a ele um leproso, implorando de joelhos e dizendo-lhe que se queres podes me limpar (40). Et venit ad eum leprosus deprecans eum et genu flexo dixit si vis potes me mundare. Esta tradução literal que indica a pobreza sintática de Marcos, recebe nos outros sinóticos umas pequenas diferenças de redação. Mateus (8, 2) dirá que o adorava [prosekynei,adorabat latino], termo que no oriente significava admitir o senhorio de uma personagem como suprema na vida do súdito. A tradução em vernáculo é prostrou-se. Lucas (5, 12) traduzirá em seu verdadeiro valor material o proskyneô, ao escrever caindo com o rosto por terra. A frase inicial é escrita com as mesmas palavras por Mateus e Lucas com a única diferença de que estes dois últimos têm no início a palavra Kyrie [Senhor]. Logicamente esta palavra não significa que ele admitisse em Jesus a divindade, mas um poder do qual ele desejava se aproveitar para a cura de sua doença. O leproso tinha uma fé absoluta no poder de Jesus. Faltava ganhar a sua vontade, a de Jesus, para que a cura fosse imediata.

A RESPOSTA: Jesus, pois, movido de compaixão, havendo estendido sua mão, o tocou e lhe diz: Quero, sê limpo (41). Iesus autem misertus eius extendit manum suam et tangens eum ait illi volo mundare. Uma tradução literal que, uma vez mais, indica a falta de sintaxe de Marcos, como para dizer: a inspiração não destroi as virtudes ou defeitos do escritor. Mateus e Marcos coincidem nas palavras de Jesus e corrigem a rude sintaxe de Marcos, escrevendo: Havendo estendido a mão o tocou dizendo. Com essa resposta, Jesus indica que a cura depende unicamente de sua vontade e que esta está em fazer o bem a quem tão confiadamente o pede. Marcos, muito mais expressivo que seus sucessores, fala de um verbo que acostuma empregar-se para indicar o amor de Deus para com seu povo. É o verbo compadecer-se [splagchnizomai] que tem como raiz a palavra grega splagchnon, que significa entranhas, vísceras, e que é traduzido por mover-se a compaixão. Aparece unicamente nos sinóticos: 4 vezes em Marcos, 5 em Mateus e 3 em Lucas. Um exemplo é o do samaritano que viu o ferido e se moveu a compaixão (Lc 10, 33) e outro é o pai do filho pródigo em 15, 20. É o que no AT se descreve com a palavra cheçed <02617> [ch pronunciado como j em espanhol] que unido a´emeth <0571>[fidelidade] define os atributos divinos com respeito a sua conduta com os seres humanos. O significado de ambas as palavras juntas, cheçed we ´emeth, acostuma variar no texto grego dos Setenta. Em Gn 24, 27 as duas palavras são traduzidas comodikaiousynê kaì alêtheia [justiça e verdade], embora a tradução inglesa diga Kindness and Faithfulness [bondade e fidelidade]. Em  24, 49 a tradução é eleos kai dykaiousyne [misericórdia e justiça]. Em 32,10 será dykaiousyne kai alêtheia [justiça e verdade]. Em 47, 29 eleêmosynê kai alêtheia [compaixão, (beneficência) e verdade]. Em Êx 34, 6 lemos polyéleos kai alêthinós[supermisericordioso e fiel]. Estes exemplos bastam para ver que a palavra cheçed é traduzida de diversas maneiras.  Nos salmos aparecem também ambas as palavras unidas, e traduzidas já, como graça e verdade (25, 10) na versão portuguesa AV, que na vulgata é traduzida pormisericórdia et veritas. No salmo 86, 15 podemos ler que o Senhor é poliéleos kai alethinós[multae misericodiae et verus, cheio de amor e fidelidde, abounding in love et faithfulness]. Finalmente no salmo 88, 14-15 temos: te precedem éleos kai alêtheia [misericórdia et veritas, graça e verdade, love and faithfulness]. Vemos como a vulgata e a New Intenational Version são bastante mais confiáveis que a versão revisada portuguesa, que traduz cheçed por graça. Já no NT, João no prólogo usa os dois termos em grego, dizendo do Logos como estando cheio decharitos kai alêtheias [gratiae et veritatis, de graça e verdade]. Os modernos preferem amor e fidelidade, como comenta em nota a Bíblia de Jerusalém, para corresponder à definição de Deus no Êx 34, 6 +. Evidentemente que essa graça é a grande misericórdia da qual Deus é rico como declara João Paulo II na sua encíclica Dives in misericórdia citando Ef 2,4. E a verdade se transforma em fidelidade ou lealdade às suas promessas. Um outro vocábulo usado pela Escritura para definir a compaixão divina é rehem<7359> [misericórdia ou piedade] como vemos em Dn 2, 18 para que pedissem misericórdia [timôria, auxílio] ao Deus do céu ourachmanîy <7362> [oiktirmôn, compassivo] em Lm 4,10: As mãos das mulheres, outrora compassivas. São os únicos casos em que ambas as palavras aparecem no AT e qualificam condutas humanas. Como conclusão, podemos afirmar que a conduta divina é de cheçed, ou amor benévolo por parte de Deus, quando olha o homem que Ele escolheu como seu amado.ESTENDENDO A MÃO: Jesus o tocou. Jesus rompe com o esquema usual que, com base na legalidade vigente, tornava impuro quem tocasse ou se aproximasse, menos de dois metros do leproso. Em Lc 17 12-13, vemos como os leprosos, à entrada da cidade, clamam à distância. A ação de Jesus indica uma compaixão profunda com o doente, que, nesse momento, o identifica como amigo, pois é seu médico. E Jesus declarou: quero, sê limpo. A reposta de Jesus ao pedido do leproso foi exatamente a esperada pelo doente. Jesus une a cura com a sua vontade, que é movida simplesmente pela compaixão. É assim que Deus foi movido e é movido, no conjunto da História humana, e especialmente na particular história de seu povo. Se o leproso desobedece à lei ao se aproximar de Jesus, este último ainda a despreza mais, pois toca com sua mão um homem impuro, o que seria o mesmo que se tornar ele também impuro, segundo Lv 5, 3 e Nm  5, 2. Jesus se tornava impuro consciente e voluntariamente, indicando que a lei da impureza não servia quando da cura de um homem ou quando o fato de fazer o bem era posto na balança. Exatamente como quando viola, aparentemente, o sábado para fazer o bem a uma mulher encurvada (Lc 13, 10+). Mais do que evitarmos o mal, estamos obrigados a fazer o bem que é a razão do verdadeiro amor ao próximo. É o mesmo Jesus que se tornou pecado para salvar o pecador como diz Paulo (2 Cor 5, 21). Também podemos deduzir da conduta de Jesus, que uma lei, que não cumpre a finalidade de contribuir para o bem do homem, não tem sentido e não é um mandato que deve ser necessariamente obedecido. É por isso que Jesus pronunciou as palavras que limparam a lepra: Quero, sê limpo.

A CURA: E, tendo falado, imediatamente retirou-se dele a lepra e foi limpo (42). Et cum dixisset statim discessit ab eo lepra et mundatus est. No mesmo instante em que Jesus pronunciou as palavras, a lepra se afastou e ficou limpo. As palavras de Marcos indicam uma cura instantânea: afastou-se imediatamente [eythys], como se fosse uma pessoa que abandona a sua casa por ordem superior. E ficou limpo. A instantaneidade da cura é também nota característica de Mateus e Lucas. O leproso estava limpo. Que devia agora fazer?

OS MANDATOS: E tendo-o seriamente advertido, imediatamente o despediu (43). E diz-lhe: Vê, não digas nada a ninguém, mas vai pessoalmente, mostra-te ao sacerdote e oferece, por tua purificação, as coisas que mandou Moisés para testemunho deles (44). Et comminatus ei statim eiecit illum. Et dicit ei vide nemini dixeris sed vade ostende te principi sacerdotum et offer pro emundatione tua quae praecepit Moses in testimonium illis. São duas as advertências sérias – espécie de mandatos- de Jesus, uma vez obtida a cura: a 1a a de guardar silêncio sobre o acontecido. Tendo-lhe seriamente advertido, dirá Marcos. Lucas rebaixa até um simples aviso de não espalhar a notícia e Mateus refere como: cuidado! Não o digas a ninguém (8,4). Podemos nos perguntar a razão desta advertência. Jesus realmente foge da fama de curandeiro e não mostra desejo algum de que suas obras extraordinárias sejam conhecidas. Em Mateus, vemos a mesma conduta perante a cura dos dois cegos: vede, que ninguém conheça (9, 30). Se no caso do demônio, como vimos no domingo anterior, a causa do silêncio exigido era pela deformação do messiado, agora existe o perigo de falsificar a figura de Jesus tornando-a médico prioritariamente, antes que Salvador. Seria o homem das curas que tomaria o lugar do verdadeiro Salvador, o Servo de Jahvé, a tirar o pecado do mundo (Jo 1, 29), esse Messias que corretamente anuncia o anjo a José, que salvará o seu povo de seus pecados (Mt 1, 21). Por isso, como no caso do surdo-mudo, quanto mais proibia, tanto mais proclamavam seus fatos extraordinários (Mc 7, 36). A prática de Jesus é totalmente diferente dos muitos curandeiros modernos que convidam os seus seguidores para verem milagres como produtos de oração. Desta forma a religião se transforma em curandeirismo, ou em egolatria do pregador. A 2a é a recomendação de se apresentar aos sacerdotes. Parece uma bagatela insignificante. Porém, na realidade, não era assim. Não exigir essa apresentação era como desprezar a Lei, que não deixava nas mãos do médico [e para o caso, Jesus era o tal] a cura da lepra, mas dava a última palavra ao sacerdote. Além disso, existia uma outra razão: a cura foi feita por um enviado de Jahvé-Deus e como tal se exigia a ação de graças pela mesma, com o sacrifício correspondente. Jesus tinha, pois, motivos reais suficientes para exigir, tanto neste caso como no dos dez leprosos, a presença última do sacerdote para a declaração final da ausência da impureza. Quando cura os dez leprosos, a lei é cumprida de forma terminante. É de longe  que eles pedem a cura e Jesus manda que vão para serem declarados limpos pelo sacerdote, sem se aproximar deles ou tocar nos seus corpos feridos. E na ida, eles encontram a sua cura (Lc 17, 14). A OFERENDA: A cura da lepra não era uma cura normal. Era um verdadeiro dom de Deus, poder se tornar limpo e participar da vida social, como um membro do povo escolhido. Por isso, o retorno à vida da comunidade devia ser feito com um sacrifício de ação de graças. O Levítico, após narrar os sintomas da verdadeira lepra no capítulo 13, regula, no 14, a inserção do leproso na comunidade. Para a tal oferenda serão necessárias duas aves, madeira de cedro, lã escarlate e hissopo. Não vamos entrar nos detalhes, que se seguirão com os dois cordeiros um deles imolado pelos pecados e o outro como holocausto. Interessa a frase final de Jesus: coisas mandadas por Moisés como prova para eles. A que se refere prova para eles? Hoje traduzem provacontra eles. Em Dt 31, 26, após Moisés escrever o livro da lei, manda que este seja colocado ao lado da Arca da Aliança como um testemunho contra ti [o povo], porque conheço a tua rebeldia e a tua dura cerviz. É possível que este texto do AT esteja na mente de Jesus para indicar que ele, tem um poder que é diretamente vindo de Deus e por isso quer que seja reconhecido como tal pelo sacerdote, o único que podia dar testemunho da cura da lepra. A cura do leproso é uma prova de que Jesus era profeta de Deus, pois agia como tal em seu nome. E a apresentação diante do sacerdote indicava que Jesus exigia a testemunha oficial para ver no curado o poder divino do médico. Comentaristas católicos usam este texto para demonstrar que a cura do pecado só é verificada testemunhalmente pelo sacerdote que absolve o pecador. No Sacramento da Reconciliação, o penitente recebe um cheque em branco para a anulação de suas dívidas. Os pecados eram opheilemata [dívidas] como afirma Mateus no Pai-Nosso (6, 12) porque deviam ser pagos para serem perdoados. As disposições do penitente preencherão a cifra correspondente por meio de sua humilde confissão, seu arrependimento e seu propósito sincero. E o sacerdote, um juiz num ato de reconciliação, que não age somente  com Deus, mas também com a Igreja, avaliará e testemunhará com o eu te absolvo, a certeza do perdão e a segurança da reconciliação.

DIFUSÃO DO MILAGRE: Ele [o leproso], porém, tendo saídocomeçou a pregar muitas coisas e a espalhar a palavra de modo   ele [Jesus] não poder, de maneira alguma, abertamente entrar numa cidade, mas estava  fora em lugares inabitados e de toda parte vinham a ele (45). At ille egressus coepit praedicare et diffamare sermonem ita ut iam non posset manifeste in civitatem introire sed foris in desertis locis esse et conveniebant ad eum undique. Ele [o leproso], porém, saindo [dali]começou a pregar muitas coisas e a espalhar a palavra. Evidentemente, o leproso, agora curado, não cumpriu a séria advertência de Jesus e falava abertamente do sucedido e a difundir a palavra sobre Jesus e o reino.O antigo excluído socialmente, se transforma agora em verdadeiro apóstolo da palavra, ou seja, dessa realidade que chamamos evangelho. Praticamente é o que aconteceu com Paulo que de perseguidor se transformou em firme defensor de Jesus. Em Paulo foi curado o espírito, no leproso o corpo, para conhecer a verdade em suas vidas e manifestá-la claramente a todos os homens. O leproso canta a glória do Senhor com o espírito de Maria que declarava no seu canto de louvor: porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor (Lc 1. 49). Se Maria teve como ouvinte Isabel, o nosso leproso teve como auditório as aldeias e vilas da Galileia. RESULTADO: De modo que ele [Jesus] não podia entrar em cidade alguma e devia habitar em lugares desabitados. Mesmo assim vinham a ele de todas as partes. Parece um pequeno inciso, mas na realidade mostra a verdadeira vida de Jesus que, indiretamente, os evangelhos narram, pois sua palavra será dirigida e escutada no monte, no lugar descampado em que teve que multiplicar os pães, à beira mar e até deverá enviar os doze para pregar, em seu nome, nas aldeias e cidades da região. Talvez estes pequenos comentários nos obriguem a ver Jesus de modo um tanto diferente como temos acostumado a observá-lo nos filmes de produção para espetáculo. No início, e durante a vida de Jesus, a semente era mesmo de mostarda.

PISTAS:

1) Os rabinos consideravam o leproso como se estivesse morto e pensavam que sua cura era uma verdadeira ressurreição. Por isso, a lepra tornou-se o símbolo do homem em pecado mortal e a sua cura, avaliada pelo sacerdote, foi a imagem do sacramento da penitência e reconciliação.

2) Jesus toca o leproso, contra toda a prática jurídica e em oposição aos costumes da época. Jesus demonstra com sua atitude, que o homem está por cima de toda lei social que o discrimina e condena a um ostracismo absurdo que é como considerá-lo morto em vida. Até o homem mais repugnante tem o direito de ser tratado como um ser humano e de ser considerado entre os quais devemos amar e ajudar.

3) Devido a deformação da lepra chamada lepromatosa, que forma nódulos, foi considerada como um castigo divino para as pessoas pecaminosas, afastadas dos princípios religiosos. Hoje sabemos que é uma bactéria e que a doença nada tem a ver com a religião. Devemos ter em conta que a interpretação das escrituras deve ser feita com o critério da cultura antiga,  contemporânea do tempo de Jesus, sem pretender, como alguns fazem, uma leitura científica e literal. A cura foi feita. A doença no tempo era lepra e como não temos nenhuma descrição da mesma, poderia ser qualquer doença que na época recebia esse nome. O que indica o poder de Jesus é a sua instantaneidade na cura, impossível, mesmo com os remédios modernos.

4) Pelo que toca a nós, a lepra verdadeira é o pecado. Ele nos afasta de Deus e ao mesmo tempo implica com nosso descomprometimento social, de modo a modificar a verdadeira relação que, devendo ser de justiça [no sentido de santidade] se transforma em inimizade e aversão.


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!

Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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