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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com

. Evangelho de 24/06/2012 - 12º DTC-Solenidade do Nascimento de São João Batista
. Evangelho de 17/06/2012 - 11º Domingo do Tempo Comum


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

24.06.2012
12º DTC - Solenidade do Nascimento de São João Batista — ANO B

(BRANCO, GLÓRIA, CREIO, PREFÁCIO PRÓPRIO – OFÍCIO DA SOLENIDADE)
__ "Serás Profeta do Altíssimo, ó menino." __

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

CLIQUE AQUI E VEJA UMA APRESENTAÇÃO ESPECIAL SOBRE A LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA


(antes de clicar - desligue o som desta página clicando no player acima do menu à direita)

 

Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Nesta solenidade, a Palavra de Deus apresenta-nos a figura profética de João Batista. Escolhido por Deus para ser profeta, ainda antes de nascer, ele é um "dom de Deus" ao seu Povo. Sublinhando a importância de João na história da salvação, a liturgia não deixa, contudo, de mostrar que João não é "a salvação"; ele veio, apenas, dirigir o olhar dos homens para Cristo e preparar o coração dos homens para acolher "a salvação" que estava para chegar.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Hoje celebramos a natividade de São João Batista, precursor de Cristo e profeta que atuou na passagem entre o Antigo e o Novo Testamento. Ele anunciou o Messias e o identificou em Jesus de Nazaré. Foi ele quem batizou o Autor do batismo e testemunhou a revelação trinitária de que Jesus é o Filho de Deus. Hoje também é o Dia Nacional do Migrante, para lembrar que o nosso País vive uma situação desconfortante e injusta por causa das migrações forçadas daqueles que não conseguem estabelecer-se em um lugar que lhes dê condições de vida digna. A figura de João Batista, habitante do deserto e profeta da justiça, incentiva-nos a rezar pelos migrantes e sonhar com um Brasil onde todos tenham oportunidade de viver dignamente e criar vínculos estáveis com o lugar que é parte da sua história.

Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Isaías 49,1-6): - "Foi em vão que padeci, foi em vão que gastei minhas forças. Todavia, meu direito estava nas mãos do Senhor, e no meu Deus estava depositada a minha recompensa."

SALMO RESPONSORIAL 138(139): - "Eu vos louvo e vos dou graças, ó Senhor, porque de modo admirável me formastes!"

SEGUNDA LEITURA (Atos 13,22-26): - "Irmãos, filhos de Abraão, e os que entre vós temem a Deus: a nós é que foi dirigida a mensagem de salvação."

EVANGELHO (Lucas 1,57-66.80): - "O Reino de Deus é como um homem que lança a semente à terra.."



Homilia do Diácono José da Cruz – 12º DTC - Solenidade do Nascimento de São João BatistaANO B

"COMPLETOU-SE O TEMPO..."

Nossa vida de fé é marcada por muitas promessas, a primeira delas no Batismo, quando pais e padrinhos, falando por nós prometem e se comprometem em professar uma fé viva, capaz de um testemunho autêntico diante do filho ou do afilhado, e na unção crismal prometemos acolher em nossa vida o dom do Espírito Santo e deixarmo-nos conduzir por ele.

O “amém” ao receber a Eucaristia não deixa de ser também uma promessa, de viver sempre em comunhão com Jesus, e nos sacramentos da ordem ou do Matrimônio, prometemos viver um amor total de entrega e doação à Santa Igreja, ou um ao outro, na vida conjugal. Fazemos muitas promessas diante de Deus, antes de receber o sinal sacramental e sabemos muito bem, que por causa dos nossos pecados, muitas vezes quebramos promessas sagradas, quando acontecem as separações, o abandono da comunidade ou de uma vocação religiosa.

Não é de hoje que o homem não cumpre suas promessas diante de Deus, à Bíblia está repleta de relatos onde as pessoas, e próprio povo descumpriu algo prometido diante de Deus. Entretanto, não encontramos uma só palavra ou frase, no antigo ou no novo testamento, onde afirme que Deus deixou de cumprir alguma de suas promessas, feitas para o homem.

A natividade de João Batista, único santo que no calendário da Igreja, tem comemorado o seu nascimento, se reveste de fundamental importância na história da salvação, justamente por ser um elemento divisor entre o tempo chamado das promessas, e o tempo do cumprimento das mesmas.

Há na religiosidade do povo brasileiro uma prática que a modernidade não conseguiu matar: a de fazer promessas! Todas as promessas são feitas para Deus, mas com a intercessão dos santos. A história da Salvação teve início com uma promessa, feita pelo próprio Deus. Ele prometeu através de líderes como Moisés, dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó, dos profetas e demais homens e mulheres de Deus.

“Terminou para Isabel o tempo da gravidez e ela deu a luz um filho...”. Este não é um nascimento qualquer de um israelita, Lucas faz questão de salientar que se completou o tempo de gestação, o tempo de espera, e o útero de Isabel, antes estéril e incapaz de gerar vida, tocado por Deus torna-se fértil, simbolizando de repente o coração de todo um povo, cansado de sofrer, de andar por caminhos errados, por atalhos que só levavam à morte, guiados por falsos líderes, toda a esperança que este povo guardava no coração nas promessas de Deus, irrompe agora como um lençol d’água que fura a rocha e flui à flor da terra, para saciar os sedentos de esperança e de vida nova.

João Batista é a resposta de Deus aos anseios do povo, após um silêncio de quase três séculos! Inspirados por Deus, todos os profetas haviam falado deste tempo novo, para consolar e fortalecer um povo desiludido, desmotivado, esmorecido e sem esperança, certamente esses profetas foram tidos como loucos, sonhadores, fantasiosos, mas muitos guardaram no coração essas promessas, e souberam transmiti-las de geração em geração, sem deixar morrer a esperança, o próprio Zacarias, sacerdote do templo e pai de João Batista, faz parte deste povo que espera, seu nome significa “Deus se recordou”.

A sua súbita mudez, longe de ser um castigo, é prenúncio do tempo feliz que com ele irá se iniciar, e ao apresentar a criança no templo, para ser circuncidado como era costume, ele confirma o nome de “João” que significa “Aquele que anuncia” e recuperando a voz, glorifica a Deus que visitou o seu povo.

Que significado tem, para nós cristãos, a celebração do nascimento de João Batista neste 24 de Junho? Se ficarmos apenas na popularidade e nos festejos joaninos típicos desta data, iremos nos divertir muito, mas certamente não iremos aprender nenhuma lição.

O nosso povo, tanto quanto aquele povo de Israel, em meio aos sofrimentos físicos e morais, também têm guardado no coração essa esperança, de que um dia o bem supremo irá triunfar sobre as forças do mal, é verdade que conforme os dias vão passando, as vezes o desânimo vai tomando conta do coração de muitos que perderam a crença em Deus, no amor e na própria vida, são certas promessas mirabolantes que nunca se realizam, são líderes charlatães que iludem, enganam, roubam. São lideranças religiosas que não cumprem e nem honram seu papel de ministros de Deus, criando uma religião fantasiosa, que explora e cria tantas ilusões.

João vislumbra algo que ninguém tinha ainda vislumbrado: que o reino já estava no meio dos homens, na pessoa e na missão de Jesus de Nazaré. Anuncia a necessidade de uma mudança de mentalidade e de coração, para acolher este reino novo, que não se fundamenta em mentiras e fantasias, mas na Verdade que é Jesus Cristo, o Cordeiro que tira o pecado do mundo.

Olhando para a origem de João, seu nascimento e a missão de precursor do Messias, que Deus lhe confiou, podemos refletir sobre tais acontecimentos à luz do evangelho, e mais do que refletir, já está na hora de vivermos esse evangelho, que fala de um tempo novo, de um reino que já está entre nós e que consegue restituir ao coração humano toda essa Esperança que é Jesus de Nazaré, pois como João Batista, todos nós nascemos para ser os portadores e anunciadores dessa Boa Nova, ao homem descrente deste terceiro milênio.

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 12º DTC - Solenidade do Nascimento de São João Batista ANO B

“Valor das dificuldades”

Se fosse montada uma loja de dificuldades, creio que ninguém se aproximaria para comprar alguma dificuldade, talvez as pessoas se aproximassem tão somente para ver a curiosa existência de uma loja de dificuldades. A publicidade poderia até ser muito boa, mas mesmo assim “comprar uma dificuldade” não seria muito atraente. Mas será que as dificuldades, tentações, provações têm algum valor? Essa pergunta é importante, pois se não compreendermos o valor das dificuldades viveremos um cristianismo adocicado. No cristianismo as dificuldades têm valor já que a cruz tem valor. O Senhor nos salvou por suas dificuldades, por sua cruz.

É muito importante também entender o valor das dificuldades para que não tenhamos “mentalidade de estojo”: bem práticos. Uns servem para guardar canetas, lápis, borrachas, apontadores; outros, para guardar os CDs; as moças têm estojo para guardar a maquiagem; certos profissionais têm um para guardar as ferramentas. A vida, no entanto, não é como um estojo. Caso fosse, tudo se encaixaria perfeitamente: “quero fazer um curso de informática, curiosamente nestes dias apareceu uma equipe na minha escola oferecendo um gratuitamente”, “queria viajar para a Europa; por esses dias apareceu um sorteio na minha quadra e, curiosamente, fui sorteado”, “gostaria de almoçar fora hoje e, ainda que faz tempo que ninguém me convida, exatamente hoje três pessoas me chamaram e me deram a possibilidade de escolher o restaurante”.

“Infelizmente”, as coisas não são assim nem acontecem dessa maneira. As pessoas que tem mentalidade de estojo, geralmente ficam muito irritadas com qualquer coisa: se o marido chega tarde em casa… que drama: “ele estava com outra”; se eu durmo no mesmo quarto com o meu irmão e ele chega tarde e acende a luz… outra drama: “nesta casa já não se pode viver” (observe-se o exagero!); se alguém me dirige uma crítica… para quê? “ninguém gosta de mim, ninguém valoriza o meu trabalho, ninguém me entende”.

O Senhor está ao nosso lado, ainda que pareça que se encontra dormindo. Clamemos, portanto, para que ele nos salve e nos liberte de nossas angústias, temores, preocupações. Diante de todas essas dificuldades, especialmente diante da agitação interior, ele nos repete aquilo que disse ao mar agitado: “silêncio! Cala-te!”. As nossas preocupações não costumam resolver os nossos problemas. O que precisamos ter é uma atitude de filho, de filha de Deus. O Senhor cuida de nós, seus filhos. Não nos esqueçamos de que, depois da agitação, da tentação, da provação seguir-se-á uma grande calmaria, a bonança, a felicidade, já vivida aqui e sendo que um dia a teremos eternamente no céu: seremos felizes para sempre!

Para que queixar-se tanto? O melhor que podemos fazer é clamar o Senhor que está ao nosso lado e suplicar-lhe: “Senhor, socorre-nos!” e ter confiança esperando em seu amor e bondade. Fora a impaciência de quem considera a Deus como se fosse um robô pronto a servir a todos os caprichos e a todos os pedidos a qualquer momento! Parece que só desejamos que Deus assine em baixo dos planos que nós mesmos fizemos, e ficamos bravos se ele muda algo. Muitas vezes esquecemo-nos também que Deus quer fazer-nos crescer através do sofrimento e o verdadeiro bem para nós será esse crescimento que Deus quer promover em nós através da dor e das dificuldades da vida. Revoltamo-nos sem motivo ou pelo menos desmedidamente. Peçamos a Maria, a mulher forte, para que nos ajude em todas as circunstâncias. De fato, esses filmes que apresentam a Santíssima Virgem chorando desesperada, não retratam a verdade da calma, da serenidade e da paz que reinava na alma da Santíssima Virgem. Claro que era dolorosíssimo ver o seu querido Filho Jesus lá na Cruz, mas sabia ser este o plano de Deus. Faça-se!

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – 12º DTC - Solenidade do Nascimento de São João BatistaANO B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (At 13 e 22-25)

INTRODUÇÃO: A perícope de hoje é parte do discurso de Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia. Feitas as leituras da Lei e dos profetas, seguindo a invitação do chefe da sinagoga, Paulo pede a palavra e pronuncia um discurso, que sem dúvida é o paradigma com o qual ele se dirigia aos judeus da diáspora. Dentro do discurso, a figura do Batista, conhecida no mundo israelita, é chave para entender a missão de Jesus a quem seu arauto proclamava ser o Messias.

DAVI COMO MODELO DE SERVO DE DEUS: Suscitou-lhes o Davi como rei, do qual também disse testemunhando: Encontrei Davi, o de Isaías, homem segundo meu coração, que fará todas as minhas vontades (22). Suscitavit illis David regem cui et testimonium perhibens dixit inveni David filium Iesse virum secundum cor meum qui faciet omnes voluntates meas. A palavra da Escritura, como profecia ou palavra de Jahveh, era a base da argumentação dos doutores da Lei. E Paulo usa essa palavra neste seu discurso para acreditar o título de Messias de Jesus. Implicitamente cita 1 Sam 13, 14 no início do versículo que não é lido como epístola no dia de hoje: tendo removido Saul. Assim o declara o texto de Samuel: Agora não subsistirá o teu reino; já tem buscado o SENHOR para si um homem segundo o seu coração, e já lhe tem ordenado o SENHOR, que seja capitão sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o SENHOR te ordenou. A desobediência é a causa do pecado, pois coloca o homem na frente de Deus e orgulhosamente se atreve a pronunciar o rebelde não serviam. Por isso no Sl 89, 20 lemos: Achei a Davi, meu servo; com santo óleo o ungi. E será de Ciro de quem Isaías declarará que cumprirá todas as vontades de Jahveh e por isso o chama de meu pastor (Is 44, 28).

DE DAVI NASCEU JESUS: Deste, do sêmen, o Deus, segundo a promessa, suscitou para Israel como Salvador, Jesus (23). Huius Deus ex semine secundum promissionem eduxit Israhel salvatorem Iesum. SÊMEN [sperma <4690>=semem] com o significado de semente de um vegetal como em Mt 13, 24: O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Pode ser o esperma o DNI que é transmitido pelo varão como em 1 Jo 3, 9: Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele. Finalmente e este é o sentido que encontramos neste versículo: significa descendência como em Mt 22, 24: Se morrer alguém, não tendo filhos, casará o seu irmão com a mulher dele, e suscitará descendência a seu irmão. Ou seja, da descendência de Davi nasceria o SALVADOR [sötër<4990>=salvator] em hebraico Jeshua <03442>=Iësous [Jahveh é salvação] que a Setenta traduz por Sötër e a Vulgata por Salvator, e também Mashiah <04899> [ungido] Christos<5547> em grego e Christus em latim.

PREGAÇÃO DO BATISTA: Havendo João pregado antes da presença de sua manifestação, um batismo de conversão a todo o povo de Israel (24). Praedicante Iohanne ante faciem adventus eius baptismum paenitentiae omni populo Israhel. PRESENÇA [prosöpon<4383>=facies]: o significado material é rosto, cara, como em Mt 6, 16: Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos. Mas em sentido figurado é presença, comparecimento pessoal, como em Mt 11, 10: Eis que diante da tua face envio o meu anjo, ou em Lc 2, 31: A qual [salvação] tu preparaste perante a face de todos os povos. A face é um semitismo que pode ser suprimido e dizer: perante todos os povos, e no nosso caso antes de sua MANIFESTAÇÃO [eisodos<1529>=adventus] com o significado de entrada, acesso, entrada em cena, que temos traduzido por manifestação, se deixar conhecer, se deixar ver em público; assim em 1 Ts 1, 9: Eles mesmos [os gregos] anunciam de nós qual a entrada que tivemos para convosco. A manifestação é a do Messias, o Cristo, ou ungido, que João negava ser (Jo 1, 20). João pregava um batismo de CONVERSÃO [metanoia<334>= paenitentia]. Naqueles tempos todos sabiam que João foi uma figura venerada, como foram os profetas no AT. Unicamente os chefes dos sacerdote e os senadores do povo duvidaram do batismo de João (Mt 21, 25). Era um batismo de arrependimento [methanoia], ou conversão, diferente do batismo de perdão [afesis] dos pecados  que era próprio de Jesus, quem foi elevado a Príncipe e Salvador (At 5, 31). Podemos dizer que o batismo de João era de predisposição para que Deus perdoasse o pecado (Mt 3, 11) e preparasse os corações reconduzindo os filhos de Israel, ao Senhor seu Deus, …conduzindo os rebeldes a pensar como os justos, a fim de formar para o Senhor um povo preparado (Lc 1, 16-17). Já o batismo de Jesus era o instrumento do perdão e da reconciliação, pois batizará no Espírito Santo (Mc 1, 8).

O TESTEMUNHO: Como, pois, completou João sua carreira, dizia: quem vós supondes ser não sou eu, mas eis que vêm após mim de quem não sou digno desatar as sandálias dos pés (25). Cum impleret autem Iohannes cursum suum dicebat quem me arbitramini esse non sum ego sed ecce venit post me cuius non sum dignus calciamenta pedum solvere. O Batista anuncia sua missão: ele não era o esperado (Mt 11, 3), mas quem devia preparar o caminho (Lc 3, 4), que basicamente consistia em viver a caridade e a justiça (Lc 3, 11-14). Esse, que todos pressentiam, viria após João e era tão importante que nem o posto de ínfimo escravo pretendia João como discípulo e servidor (Lc 3, 16), pois era próprio do discípulo desatar a correia do Mestre quando chegava em casa após uma caminhada pela cidade.

EVANGELHO (Lc 1, 57-66.80)

INTRODUÇÃO: A circuncisão era o sinal da Aliança de Jahveh com Israel: Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo homem entre vós será circuncidado (Gn 17, 10). Por isso, Jahveh promete: E eu vos tomarei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o SENHOR vosso Deus, que vos tiro por debaixo das cargas dos egípcios (Êx 6, 7). Eu serei teu Deus e tu serás meu povo. Israel adotou o rito que era realizado aos oito dias do nascimento (Gn 17, 11 e Lv 12, 3). Povos antigos também realizavam o rito que tinha para eles outro significado: entrada na comunidade como adulto ou preparação para o matrimônio. Em Israel o escravo ou o alienígena só formavam parte do povo através da circuncisão (Êx 12, 44 e 48). Mas parece que durante a travessia do deserto [40 anos] não houve circuncisão, de modo que unicamente em Guilgal Josué obrigou a todos a circuncidar-se. No tempo da perseguição selêucida, a circuncisão constituía o sinal distintivo do judeu fiel (1 Mc 1, 15). No tempo de Jesus, a circuncisão era obrigatória, até tal ponto que os chamados judaizantes queriam que a circuncisão fosse a porta para entrar na Nova Aliança. E foi precisamente Paulo que entendeu ser um rito caduco substituído amplamente pela fé e o batismo (Rm 3, 28-30). Jesus, nascido de mulher também nasceu sob  a Lei (Gl 4, 4) e foi circuncidado, tomando o nome  de Jesus (Lc 2, 21). O relato de hoje é o do nascimento do Batista, acompanhado de fatos milagrosos e extraordinários que indicavam a intervenção divina no nascimento do menino. A leitura deixa de lado o canto de Zacarias e nos oferece num versículo extremamente conciso uma breve história da infância do Batista.

O PARTO: A Isabel, pois, se cumpriu o tempo de dar à luz e teve um filho (57). Elisabeth autem impletum est tempus pariendi et peperit filium. O relato é normal. ISABEL, como uma mulher comum, cumpre os tempos e modos de ser mãe. Foi um parto normal, segundo as leis biológicas da espécie humana. Como os nomes são parte importante da vida no AT vejamos o significado de Isabel em grego Elisabet [<1665>= Elisabeth]. Tomado do hebraico Elisheba’ <0472>= aquele a quem Deus [El] é juramento [savah=jurar] ou em termos mais populares, servidor de Deus, porque unicamente Deus é a razão de seu compromisso. O nome aparece em Êx 6, 23: Aarão tomou por mulher a Isabel, filha de Aminadab, irmão de Naasson; e ela deu-lhe Nadab, Abiú, Eleazar e Itamar. Foi, pois, a mulher de Aarão, o primeiro Sumo Sacerdote e mãe dos primeiros sacerdotes do povo em Israel. Era uma mulher dedicada ao serviço de Deus através do serviço prestado ao marido e aos filhos.

ADMIRAÇÃO DOS VIZINHOS: E ouviram os vizinhos e os seus parentes porque magnificou (o) Senhor sua misericórdia com ela; e se regozijavam com ela (58). Et audierunt vicini et cognati eius quia magnificavit Dominus misericordiam suam cum illa et congratulabantur ei. O parto foi normal, mas não a gravidez e gestação; pois, como disse Lucas, não era idade para ter um filho porque minha mulher é avançada em idade (Lc 1, 18). VIZINHOS [periokoi<4040>=vicini] é um ápax, facilmente entendido, pois tem como componentes peri [ao redor] e oikos [casa]. PARENTES [syggeneis <4773>=cognati] a palavra sai 13 vezes no NT, a maioria das vezes (5) em Lucas e unicamente em Marcos uma vez (6, 4); em João uma vez (18, 26); uma nos Atos (10, 24) e 4 em Romanos. Especialmente, Maria era parenta de Isabel como diz Lucas em 1, 36. Contrariamente às línguas semitas, o grego, admite além de irmãos [adelfos <80>=frater] outros vocábulos para os diversos parentes. Do fato de que Lucas  usa syggenës dizem os evangélicos que em 8, 20: Estão lá fora tua mãe e teus irmãos, que querem ver-te, mãe e irmãos devem ser tomados no sentido grego e consequentemente Maria teve mais filhos ou eles eram filhos de José, que casou com Maria uma vez viúvo. Mas, segundo Marcos (15, 40), estavam ao pé de cruz Maria [irmã  de sua mãe segundo João (19, 25)] que era a mãe de Tiago e José, os dois irmãos de Jesus  em Mt 13, 55 e Mc 6,3. Esse Tiago é chamado o menor para distingui-lo do maior o filho do Zebedeu e irmão de João (Mc 1, 19). Duas questões para poder aclarar este mistério dos irmãos de Jesus: 1) Como na mesma família de irmãos pode haver duas mulheres com o mesmo nome de Maria? (Mc 6, 3 e Mc 15, 40 que João chama de mulher de Clopas). 2) Os filhos de Maria de Clopas, irmã de Maria, a mãe de Jesus, são os mesmos Tiago e José de (Mt 13, 55 e Mc 6, 3) que os filhos de sua irmã, também chamada Maria em Mt 27, 56 e Mc 15, 49? Ou são filhos de José e Maria? Uma reflexão final: Nos primeiros capítulos, Lucas não depende de nenhum outro evangelho e escreve livremente. Logo no resto do evangelho, ele escreve tendo em vista tradições e até escritos que não se atreve a mudar. Por isso usa syggenës nos primeiros capítulos e usará adelfos nos capítulos comuns com os outros sinóticos. MAGNIFICOU [emegalynen<3170>=magnificavit] do verbo megalunö, magnificar ou fazer grande como costumavam fazer os fariseus com as filactérias de seus mantos: alargam as franjas das suas vestes (Mt 12, 5). E em sentido figurado exaltar, glorificar, louvar e elogiar. Como vemos é o sentido material de engrandecer ou alargar a MISERICÓRDIA [eleos<1656>=misericordia]: o grego é mercê, clemência, compaixão, piedade. De fato, segundo o pensar de Maria, a relação de Deus com o povo de Israel é um ato contínuo de misericórdia: Para manifestar misericórdia a nossos pais, e lembrar-se da sua santa aliança (Lc 1, 72). Misericórdia que é também a base da relação de Deus com os homens, segundo Paulo: Para que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericórdia, como está escrito: Portanto eu te louvarei entre os gentios (Rm 15, 9). Um ato de misericórdia divina é um ato de amor de um ser superior [Deus]  que se inclina ante a debilidade e impotência da criatura e ajuda e conforta com bens não devidos por causa da deficiência humana. No caso de Isabel a impotência de conceber foi amplamente remediada pela potência divina. REGOZIJAVAM-SE [synechairon<4795>=congrutalabantur] O nascimento de um menino sempre tem sido motivo de alegria, a não ser nos tempos modernos em que tantas mães se livram por meio do aborto dos futuros bebês. Já em 1, 14 Lucas escreve que o anjo disse a Zacarias: Terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento. O anúncio foi cumprido amplamente entre vizinhos e familiares do velho casal. Isabel já o tinha percebido quando afirmava: Deus foi bom para mim, dizia ela para consigo. Agora já não tenho de que me envergonhar diante de ninguém (Lc 1, 25). Pois a infecundidade era uma espécie de maldição divina para a mulher que estava destinada a dar filhos ao varão como parte imprescindível de seu serviço ao marido.

A CIRCUNCISÃO: E sucedeu no oitavo dia vieram circuncidar o menino e chamavam-lhe pelo nome do pai dele, Zacarias (59). Et factum est in die octavo venerunt circumcidere puerum et vocabant eum nomine patris eius Zacchariam. No oitavo dia era o dia que a Lei marcava para a circuncisão [perytome <4061>=circuncisio, em hebraico mulah<04130> de Êx 4, 26] do varão recém-nascido: No dia oitavo se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio (Lv 12, 3). Respeitados os 7 dias que formavam um número sagrado, era o primeiro dia após esse número, que o menino era consagrado ao povo de Deus. Por isso, o numero sete [sheva’ <07651>] se confunde com a palavra jurar [Shaba<07650>] já que juramento era confirmado com sete vítimas (Gn 21, 28) ou sete testemunhas (Ez 21, 18). ZACARIAS [Zacharias<2197>=Zaccharia] que em hebraico é Zekariah<02148> nome composto de Zekar<0214>= recordar e Yah <03050>=yahveh em forma abreviada. No AT, principalmente entre muitos outros nomes (38 vezes), o de um rei de Israel filho de Jeroboão II (2 Rs 14, 29), um dos príncipes de Judá nos tempos de Josafá (2 Cr 17, e o profeta Zacarias (Zc 1, 1 e Esd 5, 1); e no NT aparece Zacarias como filho de  Baraquias morto entre o templo e o altar (Mt 23, 35). E a compra do campo do oleiro no vale do Hinom atribuído a Jeremias (32, 6-15) por Mateus (27, 9), mas que na realidade foi anunciada por Zacarias (11, 12-13). Segundo o pensar da maioria o nome do menino seria, pois, Zacarias ben Zacarias.

RESPOSTA DA MÃE: E tendo respondido a sua mãe disse: de modo nenhum; mas será chamado João (60). E diziam a ela que ninguém há em tua parentela que é chamado com esse nome (61). Et respondens mater eius dixit nequaquam sed vocabitur Iohannes. Et dixerunt ad illam quia nemo est in cognatione tua qui vocetur hoc nomine Elisabet. A mãe se opôs dizendo que devia ser chamado JOÃO [Iöannës<2491>= Ioannes] do hebraico Yohanan [<03110> = Yahveh há favorecido] sem dúvida como ação de graças pelo benefício recebido ao ser mãe em idade tão avançada. Mesmo assim, os parentes e vizinhos arguiam com o fato de que o nome João era inusitado na família, PARENTELA [syggeneia<4772 >=cognatio] palavra que aparece somente 3 vezes no NT: esta e em At 7, 3 e 7, 14. Conservar o nome era como atualmente conservar o nome familiar. Era a continuação do indivíduo como se fosse uma espécie de vida imortal em momentos em que a ressurreição corporal não estava definida.

O PAI: Faziam  sinais ao pai dele de que queria ser ele  chamado (62). Innuebant autem patri eius quem vellet vocari eum. O Pai estava mudo segundo o anúncio do anjo: Eis que ficarás mudo, e não poderás falar até o dia em que estas coisas aconteçam (Lc 1, 20). Consequência de uma intervenção no momento da aparição do anjo? É provável, porque a Escritura fala em termos de causa primeira quando na realidade as causas segundas são as que operam como em 2 Rs 19, 35, em que devemos provavelmente buscar na contaminação de águas o que o cronista atribui ao anjo do Senhor. Na ciência e na história os autores sagrados falam segundo o sentir comum da época, sem critério científico nem histórico. Por isso, embora Zacarias entendesse as palavras, não poderia se explicar a não ser por sinais.

O NOME: E tendo pedido uma tabuinha escreveu dizendo: João é o nome dele (63). Et postulans pugillarem scripsit dicens Iohannes est nomen eius et mirati sunt universi. TABUINHA [pinakidion<4093>=pugillaris] é o diminutivo de pinax <4094>, de pinheiro, árvore da qual se extraia a madeira para formar a tábua das mesas. O diminutivo aponta às tabuinhas com capa de cera que serviam para tomar notas e para escrever nas escolas as notas dos  escolares por meio de um estilete.  Que dentro do geral analfabetismo da época, Zacarias soubesse escrever e não só ler, como aprendiam os meninos israelitas da época, é lógico, pois Zacarias estava entre as classes privilegiadas, como sacerdote. O nome que escreveu e que era praticamente o oficial, pois ao pai de família se dava o privilégio de escolher e impor o nome do bebê, já que neste ato recebia o mesmo como descendente dele e admitia sua paternidade, em concordância com o que o anjo disse a José sobre o menino Jesus: (Maria) dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Zacarias escreveu o nome: João. E  nada mais tinha a suceder.

ZACARIAS RECUPERA A FALA: Abriu-se então a boca dele imediatamente e a língua dele e falava abençoando a Deus (64). Apertum est autem ilico os eius et lingua eius et loquebatur benedicens Deum. Efetivamente, é agora que se cumpre o anunciado pelo anjo: Não poderás falar até o dia em que estas coisas aconteçam (Lc 1, 20). Porém, como aconteceu no naós do santuário que Zacarias ficou sem voz, agora volta a voz e  a fala neste instante em que escolhe o nome de seu filho. E o velho Zacarias que era um homem justo, cumpridor da  Lei (Lc 1, 6), usou sua língua para agradecer a obra de Deus em sua vida. O hino que Lucas logo porá em boca dele indica o louvor e agradecimento não só dele, o pai,  mas de todo o povo de Israel, porque veio socorrer e salvar o seu povo (1, 68).

A FAMA: E aconteceu temor sobre todos os seus vizinhos; e em toda a região da Judeia se discutiam todos estes fatos (65). Et factus est timor super omnes vicinos eorum et super omnia montana Iudaeae divulgabantur omnia verba haec. Contrariamente ao critério dos modernos estudiosos que intentam desmitificar os evangelhos e recorrem a toda classe de razões e subterfúgios para evitar o transcendente e sobrenatural, os conterrâneos de Zacarias viram nestes fatos a mão miraculosa de Deus e celebravam com TEMOR [fobos<5401>=timor]. É esse temor reverencial que a presença de Deus como autor imediato de um fato suscita em todo crente, como lemos que aconteceu a Zacarias quando viu o anjo à direta do altar do incenso: Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele (Lc 1, 12). FATOS [remata<44 87>=verba] propriamente seriam narrações, e daí sucessos comentados ou preservados na memória do povo.

O PORTENTO: E todos os ouvintes as guardavam em seu coração dizendo: que será este menino porque a mão do Senhor estava com ele (66).  Et posuerunt omnes qui audierant in corde suo dicentes quid putas puer iste erit etenim manus Domini erat cum illo. CORAÇÃO [kardia<2588>=cor] era o órgão que hoje chamaríamos de mente. Neste versículo guardar no coração equivale a guardar na memória, como vulgarmente dizemos. Vistos os fatos extraordinários, bem podia o  povo dizer que o braço ou poder de Deus se tinha manifestado no nascimento e, portanto, aquele menino estava destinado a grandes eventos na sua vida.

RESUMO DA INFÂNCIA: O menino, pois, crescia e se fortalecia em espírito e estava nos lugares desabitados até o dia de se mostrar diante de Israel (80). Puer autem crescebat et confortabatur spiritu et erat in deserto usque in diem ostensionis suae ad Israhel. Os versículos seguintes (67-79) não formam parte do evangelho de hoje e constituem o cântico de Zacarias, ou Benedictus. Finalmente temos este último versículo em que a vida do Batista é resumida como um crescimento corporal e um fortalecimento espiritual para o qual o afastamento dos homens foi a presença divina em sua vida. Lucas repetirá a mesma descrição da vida infantil de Jesus (Lc 2, 40) com exceção de sua parte eremítica. A frase de Lucas é tão universal que dificilmente podemos afirmar que João fosse um eremita desde sua infância. Seria na sua vida adulta quando esse retiro fosse realmente factível e real, de modo que Mateus pudesse afirmar: Naqueles dias, apareceu João o Batista pregando no deserto da Judeia (Mt 3, 1).


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Fazemos memória de Jesus que, como pequeno grão, aceitou ser lançado na terra pelo Pai e, na força amorosa do Espírito, rompeu-se e desabrochou vitorioso no mistério de sua Páscoa. Confessamos confiantes e humildes nossa fragilidade e pequenez e suplicamos que o Senhor multiplique o pouco que somos segundo a medida de seu amor. Damos graças unindo-nos a todos que se fizeram sementes do reino e oferecemos nossa vida a serviço da VIDA.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Neste Domingo somos convidados a meditar sobre a força do amor de Deus, que, quando envolve a nossa realidade, faz a pequena árvore tornar-se tão majestosa como o cedro do Líbano. O amor é também como o grão de mostarda, que, embora sendo uma pequenina semente, quando germina e cresce, torna-se a maior das hortaliças. É assim que a força do Amor, dia após dia, se implanta na história.

Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Ezequiel 17,22-24): - "Então todas as árvores dos campos saberão que sou eu, o Senhor, que abate a árvore soberba, e exalta o humilde arbusto."

SALMO RESPONSORIAL 91(92): - "Como é bom agradecermos ao Senhor."

SEGUNDA LEITURA (2 Coríntios 5,6-10): - "Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo."

EVANGELHO (Marcos 4,26-34): - "O Reino de Deus é como um homem que lança a semente à terra.."



Homilia do Diácono José da Cruz – 11º Domingo do Tempo ComumANO B

"O REINO É OBRA DE DEUS!"

Nos meus tempos de criança na Vila Albertina, lembro-me que quando a antiga casa da família Develis foi demolida, para dar lugar a uma construção mais ampla e arrojada, costumávamos conversar com um servente de pedreiro que trabalhava na obra, e a pergunta era sempre a mesma “O que vão construir nesse lugar?”. Ele respondia que era uma casa bem maior do que a que fora demolida, e quando perguntávamos quando ela ficaria pronta, se seria bonita e luxuosa, como a gente pensava, o servente desconversava “olha, sei que é uma casa, mas sou apenas um servente, só o mestre de obras que conhece o projeto, saberia dizer. A gente apenas obedece e vai executando o serviço do jeito que ele pede, e só no final, quando tudo estiver pronto e acabado, é que teremos idéia, daquilo que ajudamos a construir”.

O evangelho desse Décimo Primeiro Domingo do Tempo Comum ajuda a desfazer esse equívoco presente até nos dias de hoje, que é o da gente querer ser Mestre de Obras no Reino de Deus. Na minha caminhada de igreja já vi um pouco de tudo, conheci pessoas que se apresentavam como Engenheiros do Reino de Deus, com planos mirabolantes de ideologias humanas, belíssimas por sinal, mas achando que isso era o reino , grupos que desenvolveram uma espiritualidade muito forte e rigorosa, pensando que isso era o reino. E não faltam também os que inventam Doutrinas religiosas afirmando que se as mesmas não forem seguidas, o reino não acontecerá, e vem uma linha mais tradicional de ser igreja, outro mais clássico e institucional, outro mais liberal e até ensinamentos totalmente contrários ao cristianismo, onde o pregador “jura de pé junto” que está anunciando a Verdade, porque fala em nome de Jesus.

Vi questionamentos até cômicos: será que Deus é Socialista, Marxista, ou tende mais para o Neoliberalismo? Provavelmente não faltou quem pensasse em filiar Jesus Cristo ao seu partido político, aliás, pregação política em nome dele é o que não falta. Confesso que nos anos 80 eu passei por um drama de consciência muito grande ,quando diziam que a gente não podia ficar em cima do muro, tinha que se definir ou pela direita ou pela esquerda. Surgiram novas igrejas e religiões que parecem mesmo ter procuração do Senhor, para falar do reino e do seu evangelho. Essa é uma realidade que não se pode ignorar, Jesus mesmo falou “muitos virão em meu nome dizendo: o Messias está aqui, o Reino está aqui, O Senhor já está voltando!” Nunca vi tanta bobagem junta! As igrejas cristãs anunciam o reino e são um sinal dele, entretanto o Dono do Projeto é Jesus Cristo, que vai fazendo o reino acontecer, independente de qualquer ideologia humana, política, social ou religiosa.

É a primeira parábola do evangelho, onde tanto faz o homem dormir ou ficar acordado, a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. Podemos dizer que Jesus, não só é o semeador, como também a própria semente. O seu projeto, que se consolidou na cruz do calvário, parece ter sido um grande fracasso, até para os seus seguidores fiéis, foi muito difícil acreditar que o Reino que ele tanto falava, fosse vingar e dar certo, pois humanamente falando, o sistema religioso o havia desmascarado, o Nazareno parecia tão perigoso, pela liderança que exercia, pelos ensinamentos revolucionários que pregava, entretanto, a morte infame, vergonhosa e humilhante o havia calado para sempre. Ninguém diria que aquela pequenina semente, esmagada no calvário e depois escondida no sepulcro, fosse brotar e viria a se transformar na maior de todas as árvores.

As palavras de Jesus nesse evangelho querem nos transmitir confiança na sua ação Divina, e isso parece algo difícil e desafiador para todos nós, é difícil acreditar no Reino, quando olhamos ao redor e só vemos o caos do pecado dominando o ser humano, é verdade que há pessoas que acreditam em um futuro melhor e o ajudam a construir no presente, mas a grande maioria não crê em mais nada, “não há igreja que seja boa, todas são pecadoras e eu não vou em nenhuma delas”, “não quero saber de política, pois não existe político honesto, eu não acredito em mais ninguém e não voto em ninguém, pode ser até da comunidade”, e assim, há os que não acreditam mais no casamento, na família, nas instituições, está tudo irremediavelmente perdido.

Qualquer pessoa pode pensar, falar e até agir desta forma, mas nós cristãos não! Pois estaríamos negando o reino que Jesus plantou no coração do homem, estaríamos duvidando do seu poder de fazer germinar essa semente, estaríamos desconfiando que a sua graça não serve para nada, e o que é pior, estaríamos achando que o poder das forças do mal, presente na sociedade, é muito maior do que a Salvação, a graça e a redenção que Jesus realizou a nosso favor e nesse caso, participar da Santa Missa seria fazer memória desse grande fracasso que é o Cristianismo, impotente para transformar o coração humano. De quem somos discípulos e testemunhas afinal? De Jesus de Nazaré e do seu Reino, que está acontecendo misteriosamente e irá levar os homens de Boa Vontade á sua plenitude, ou dos projetos megalomaníacos do homem da modernidade, que insiste em construir um reino Antropocêntrico, deixando Deus em um segundo plano?

E aqui retomo aquele hino que me provocava calafrios nos anos 80 : Hei você, de que lado está você? ( XI Domingo do Tempo Comum Mc 4, 26-34)

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 11º Domingo do Tempo Comum ANO B

“Apostolado de filhos de Deus”

Você sabe como é um grande jogo de futebol. Antes do jogo, há uma concentração para os atletas e uma preparação psicológica para os torcedores. A televisão dá notícias da situação histórica das duas equipes: pontos ganhos e pontos perdidos, titulares que vão começar jogando e reservas que vão para o banco.

De repente, as equipes entram em campo. Muitas palmas, rojões, bandeiras se agitam e a emoção toma conta de todos. Começa a partida. Bola na trave, a torcida vibra, grita, pula. Alguém aproveita o rebote, enche o pé… é gooool! Um mar humano se levanta e delira, agitando as mãos e gritando em coro. O artilheiro dá cambalhotas, cai de joelhos, jogadores se abraçam. É festa! Uma grande “celebração”, num rito solene de alegria expressado por todos os gestos. Caso seja o fim de campeonato, pode haver alguém atravessando o estádio de joelhos com as mãos erguidas para o céu, o povão invadindo o gramado e carregando os heróis.

Quanta emoção! Tudo aqui é esplendor, é festa. Parece bastante diferente do que acontece com a semente lançada à terra, comparada ao Reino de Deus, que o Senhor nos conta hoje. No entanto, apesar de a semente não crescer com um espetáculo comparado a um jogo de futebol, nós, apóstolos do Reino de Deus precisamos ter um entusiasmo semelhante para anunciá-Lo. Fá-lo-emos com grande alegria, com todo o entusiasmo, pois sabemos que essa semente vai crescer e produzir muitos frutos, frutos abundantes, frutos de vida eterna.

São Jerônimo explicava a parábola do grão que germina dizendo que a semente simboliza o Verbo da vida, Jesus Cristo; a terra, os corações dos homens. A semente cai na terra. O dormir do semeador é comparado à morte de Jesus Cristo, pois depois da morte de Cristo o número de fiéis cresce cada vez mais entre adversidades e bonanças.

A semente de mostarda, que tem um diâmetro aproximado de 1,6 milímetros, resultava numa árvore que às margens do lago da Galileia media entre 2 a 4 metros. Os primeiros cristãos começaram a lançar a semente do Reino de Deus. Curioso! Enquanto mais perseguidos, mais aumentava o número de cristãos. Tanto é assim que Tertuliano, um advogado que se converteu ao cristianismo no ano 197 e que depois passou a ser catequista na Igreja, dizia que “o sangue dos mártires é a semente de novos cristãos”. Hoje como outrora, não somos a maioria da população, mas continuamos chamados a conquistar o mundo para Cristo.

Olhemos mais uma vez para os nossos irmãos da aurora do cristianismo, agora através da epístola a Diogneto, um dos primeiros escritos cristãos: “Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em casas gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. Pelos judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, a aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio”.

Talvez o que impede sermos apóstolos entusiasmados da Boa-Nova seja o nosso comodismo: já têm muitas pessoas falando de Jesus, eu… para quê? Minha mãe já reza bastante, desse jeito todo o mundo se converterá, inclusive eu. Meu irmão já vai à Missa todos os domingos, para que irei eu?

Também a falta de fé impede a evangelização que devemos, como cristãos, realizar. Muitos católicos vivem aburguesados, estão tranquilos por falta de fé. Se a fé fosse viva, se a caridade ardesse em seus corações quereriam conquistar todos para Deus, fazendo apostolado com a sua vida e com a sua palavra de fogo em todos os ambientes dessa nossa sociedade.

A falta de estratégia as vezes nos deixa na inatividade: conversas vulgares, sempre as mesmas (além das piadas malsonantes, vocabulário baixo). É preciso saber elevar o nível, fazer-nos amigos de nossos conhecidos, atrai-los através da mansidão. Mãe, um segredo: não se consegue a conversão dos filhos aos gritos. Jovem, você não conseguirá a conversão daquele seu amigo sem rezar e sem se sacrificar por ele. É preciso viver a caridade através dos serviços que prestamos; fazer com que eles, através da nossa amizade, abram o coração; enfim, precisamos fazer um apostolado de amizade, esse dá certo em qualquer ambiente: no trabalho, na escola, na faculdade, nas fábricas, nos laboratórios etc. Como apóstolos dos tempos modernos, o que precisamos é ter uma grande confiança no Senhor. Com fé, esperança e caridade, seguiremos avante, por Cristo e com Cristo.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – 11º Domingo do Tempo ComumANO B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (2 Cor 5, 6-10)

PELA FÉ: Estando, pois, confiantes e sabendo que residentes no corpo vivemos ausentes do Senhor (6), porque por fé estamos andando, não por visão (7). Audentes igitur semper  et scientes quoniam dum sumus in corpore peregrinamur a Domino per fidem enim ambulamus et non per speciem. CONFIANTES [tharrountes<2292> =audentes] é o particípio presente do verbo tharreö com o significado de ter confiança, se atrever como no versículo 8 e com o significado de confiança ou ter confiança em alguma pessoa como em 2 Cor 7, 16: Regozijo-me de em tudo poder confiar em vós. Também falar audazmente como em Hb 13, 6: E assim ousemos [tharrountes] dizer: O SENHOR é o meu ajudador. Finalmente, vemos em 2 Cor 10, 1: Quando presente entre vós, sou humilde, mas ausente, ousado [tharrö]/ para convosco. Temos, pois, optado pela confiança. RESIDENTES [endëmountes<1736>=sumus]. Do verbo endëmeö temos endëmos, como pessoa que habita entre os de sua terra e que não viajou ao exterior. Daí  estar em casa, e logicamente viver no corpo [en tö sömati] que será o oposto a pros ton Kyrion [unir-se e ao Senhor no céu (2 Cor 6, 9).  VIVEMOS AUSENTES [ekdëmoumen<1553>= peregrinamur] É o presente do indicativo do verbo ekdëmeö, de significado emigrar, ir ao estrangeiro, viver em terra estranha, estar exilado, que  aparece nos escritos paulinos junto com ek tou sömatos [fora do corpo] (2 Cor 5, 8), como se o corpo fosse o natural habitáculo do Espírito;  ou apo tou Kyriou [fora do Senhor] (que vemos neste versículo). Ambos os termos são opostos: um com o prefixo en [dentro] e outro com ek [fora] e a palavra demos [povo]. A maioria traduz as duas palavras por presentes e ausentes. Na TEB a tradução é: habitar no corpo e fora de nossa morada. A razão é que vivemos [estamos andando] ou caminhamos pela fé e não temos ainda a visão própria da bem-aventurança.

É PREFERÍVEL MORRER: Estamos confiantes, portanto, e nos alegramos mais, estando ausentes do corpo e presentes diante do Senhor (8). Audemus autem et bonam volunotatem habemus magis peregrinari a corpore et praesentes esse ad Deum. NOS ALEGRAMOS [eudokoumen<2106>=habemus bonam voluntatem]. O verbo eudokeö tem como significado primordial considerar bom, agradar, como em Lc 12, 32: Não temais, ó pequeno rebanho, porque o vosso Pai agradou dar-vos o reino. Mas também um segundo significado é comprazer-se, estar satisfeito, como em Mt 3, 17: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. É neste sentido que podemos traduzir que nos alegramos mais, se ausentes do corpo [abandonado o corpo] estivéssemos presentes diante do Senhor. De um modo mais explícito, vemos este mesmo sentimento paulino em Fp 1, 23: De ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Podemos dizer que Teresa de Jesus magnificamente dá estribilho a estas palavras de Paulo em sua letrinha : “Vivo sin vivir en mí,y tan alta vida espero, que muero porque no muero”.

AGRADÁVEIS A DEUS: Por isso também aspiramos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis (9). Et ideo contendimus sive absentes sive praesentes placere illi. A tradução menos literal e mais inteligível é dada por SBP: Contudo, quer estejamos na presença do Senhor, quer vivamos exilados dele, o que nos interessa é agradar a Deus. ASPIRAMOS [filotimeomai <5389>=contendere]: o verbo grego em voz média indica considerar uma honra, ambicionar, aspirar como em Rm 15, 20: Desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo foi nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio. Com o significado de procurar em 1 Ts 4, 11: Procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios. É, pois, um esforço que aspira a um objetivo considerado como bem apetecível. E esse objetivo é o fim de toda vida cristã: agradar a Deus. AGRADÁVEL [euarestos<2101>=placere]: o latim traduz por um infinitivo o que no texto grego é um adjetivo de forma que ser aceitável é traduzido por agradar. É o conselho que Paulo dá aos efésios: Procurem sempre aquilo que mais agrada ao Senhor (Ef 5, 10). E por isso, na sua opção de viver ou encontrar-se com o Senhor, Paulo escolhe a vontade divina como a melhor opção de sua vida. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que devo escolher (Fp 1, 21-22)

O TRIBUNAL: Porque  a todos nós é necessário apresentarmos perante o tribunal do Cristo, para receber cada um as merecidas [consequências] do corpo segundo as que praticou, quer de bom quer de mal (10). Omnes enim nos manifestari oportet ante tribunal Christi ut referat unusquisque propria corporis prout gessit sive bonum sive malum. TRIBUNAL [bëma<968>=tribunal]: degrau, um passo, extensão de um pé, como em At 7, 5: E não lhe deu nela herança, nem ainda o espaço de um pé [bëma]. Mas especialmente Bëma é a cadeira do juiz  ou tribunal de justiça: Estando ele [Pilatos] assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo. É o significado que Paulo usa em Rm 14, 10: Todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo. É o mesmo tribunal que Paulo apresenta neste versículo. Cristo é o primeiro juiz de nossa existência do qual nós temos sido durante a vida do corpo, que Paulo diz como coisas MERECIDAS não tanto dos merecimentos, mas das deficiências também. Destas atuações devemos dar conta, tanto do bem feito como do mal causado. O juízo particular no fim da vida determinará o nosso eterno destino. Assim o cremos e o aclamamos no Credo no qual o juízo é universal no  fim do mundo, que ratificará a sentença dada pessoalmente no fim de cada vida.

EVANGELHO (Mc 4, 26-34)

1ª parte: A SEMENTE COM VIDA PRÓPRIA

Começa de novo o tempo comum. Marcos mostra Jesus como Mestre do Reino ensinando às multidões desde a barca de Pedro (4, 1). Seu ensino é na base das parábolas ou exemplos. A parábola é uma narração que, sob o aspecto de uma comparação,  está destinada a ilustrar o sentido de um ensino religioso. Quando todos os detalhes têm um sentido e significado real, a parábola se transforma em alegoria. Como em Jo 10, 1-16, no caso do bom pastor. No AT as parábolas são escassas [um exemplo é 2 Sm 12, 1-4 em que Natã dá a conhecer seu crime a Davi] Porém no NT Jesus usa frequentemente as parábolas especialmente como parte de seu ensino do Reino dos Céus, para iluminar certos aspectos do mesmo. No dia de hoje temos duas pequenas parábolas, a primeira própria  de Marcos e a segunda compartida por Mateus (13, 21+) e Lucas (13, 18). Na parábola da semente, Jesus indica que o Reino tem uma força intrínseca que independe dos trabalhadores. Na segunda que o Reino, minúsculo nos tempos de Jesus, expandir-se-á de modo a se estender pelo mundo inteiro. Vejamos versículo por versículo as palavras de Jesus.

O REINO DE DEUS: E dizia: assim é o Reino de Deus, como se um homem lançasse a semente sobre a terra (26). Et dicebat sic est regnum Dei quemadmodum si homo iaciat sementem. Que significa Reino de Deus? No AT Jahvé, o Deus de Israel, era o verdadeiro rei e seu reino abrangia todo o Universo. Os juízes eram praticamente os seus representantes. Por isso, o seu profeta Samuel, último juiz, escutou estas palavras: Não é a ti que te rejeitam, mas a mim, porque não querem mais que eu reine sobre eles (I Sam 8, 7). A partir de Davi o reino de Deus tem como representante um rei humano, mas a experiência terminou em fracasso, e o reino de Deus acabou por ser um reino futuro escatológico como final dos tempos e transcendente, como sendo Deus mesmo o que seria ou escolheria o novo rei. Esse reino está chegando e tem seu representante na pessoa de Jesus e dos apóstolos. Nada tem de material ou geográfico, e é formado pelos que aceitam Jesus como Senhor, caminho, verdade e vida. Por isso dirá Jesus que o reino está dentro de vocês. A Igreja fundada por Jesus é a parte visível desse reino, que não é como os do mundo, mas tem sua base em servir e não em ser servido (Lc 22, 27). O oposto do amor, que é serviço no reino, é o amor ao dinheiro ou mammona (Mt 6, 24), de modo que podemos afirmar que o dinheiro é o verdadeiro deus deste mundo. A primeira comparação que revela como atua o Reino é esta parábola de Jesus, facilmente entendida como tipo, e que finalmente veremos como protótipo nas observações.

O CRESCIMENTO: E durma e se levante noite e dia; e a semente germine e cresça de um modo que ele não tem conhecido (27). Et dormiat et exsurgat nocte ac die et semen germinet et increscat dum nescit ille. É importante unir este versículo ao anterior para obter o sentido completo da parábola. O agricultor faz sua vida independente e a semente nasce e cresce sem ter nada que ver com o agricultor fora o fato de ser semeada por ele no início. Deste modo Paulo pode afirmar: Eu plantei, Apolo regou; mas era Deus quem fazia crescer. Aquele que planta nada é; aquele que rega nada é; mas importa somente Deus, que dá o crescimento (1 Cor 3, 6-7). Assim, na continuação dirá Jesus: Pois por si mesma a terra frutifica primeiramente a erva, depois a espiga, depois o trigo pleno na espiga (28). Ultro enim terra fructificat primum herbam deinde spicam deinde plenum frumentum in spica. O latim ultro expressa a boa vontade, sem coação; o trigo é chamado de pleno e o latim traduz com bom critério como sendo o fruto total ou final.

A COLHEITA: Quando, porém, tiver aparecido o fruto, rapidamente ele [o agricultor] envia a foice porque tem aparecido a ceifa (29). Et cum se produxerit fructus statim mittit falcem quoniam adest messis. Não há nada a comentar a não ser o trabalho do agricultor, que como vemos se reduz a semear e ceifar. A terra e a semente fazem o resto.

SEGUNDA PARÁBOLA: A MOSTARDA.
(Lugares paralelos: Mt 13, 31-32; Lc 13, 18-19)

A OUTRA COMPARAÇÃO: E dizia: a que compararíamos o Reino de Deus, ou em que parábola o assemelharíamos?(30). Et dicebat cui adsimilabimus regnum Dei aut cui parabolae conparabimus illud. Parece que Jesus medita antes de afirmar ou escolher uma comparação apropriada. Seu estilo é de chamar a atenção dos ouvintes, um simples recurso oratório que indica por outra parte uma memória viva dos ouvintes e não uma posterior reconstrução. É possível que estas palavras formem parte do método de ensino de Jesus.

A MOSTARDA: Assim como a semente da mostarda, a qual quando sendo semeada na  terra é a menor de todas as sementes sobre a terra (31).  Sicut granum sinapis quod cum seminatum fuerit in terra minus est omnibus seminibus quae sunt in terra. A mostarda é uma planta da família da couve ou repolho, de grandes folhas, flores amarelas e pequenas sementes, que tem duas espécies principais: branca e preta. A branca chega até atingir 1,2 m de altura e a preta pode chegar até 3m e 4 m de altura. A negra é comum nas margens do lago de Tiberíades e seu tronco se torna lenhoso. Por isso os árabes falam de árvores de mostarda. Esta variedade só cresce ao longo do lago e nas margens do Jordão. Os pintassilgos, gulosos de suas sementes chegam em bandos para pousar nos seus galhos e comer os grãos. As sementes não são as menores entre as conhecidas, mas parece que eram modelo, na época, de coisas insignificantes. O nome grego é sinapis e passou às línguas vernáculas porque a semente era usada junto com o mosto de uva para formar o mustum ardens [mosto ardente]. A mais comum é a branca não tão ardente como a preta, precisamente por sua maior facilidade em recolher os frutos. E quando está semeada surge e se torna maior do que todas as hortaliças e produz galhos grandes de modo que podem, sob sua sombra, as aves do céu habitar (32). Et cum seminatum fuerit ascendit et fit maius omnibus holeribus et facit ramos magnos ita ut possint sub umbra eius aves caeli habitare. Temos visto como chegam até 3 ou 4 m de altura, suficientes para aninhar os pássaros em seus galhos. O verbo  kataskenoô<2681> significa descansar, estabelecer-se, como temos visto anteriormente.

A RAZÃO DAS PARÁBOLAS: E com muitas parábolas semelhantes falava a eles a palavra do modo que podiam ouvir (33). Et talibus multis parabolis loquebatur eis verbum prout poterant audire. Vamos traduzir o último versículo que completa este para depois intentar a interpretação. Pois fora de comparação [parábola] não falava a eles; em particular, porém, aos discípulos explicava todas as coisas (34). Sine parabola autem non loquebatur eis seorsum autem discipulis suis disserebat omnia. Temos aqui uma discriminação feita sem saber a razão do por que foi escolhida por Jesus. Os discípulos tinham ocasião de saber o significado verdadeiro das comparações, por vezes não muito claras para o ouvinte geral. O caso mais evidente é o do semeador e os diversos terrenos em que a semente cai. O público em geral podia ficar com a ideia de que a semente da palavra era recebida de formas mui diversas pelos ouvintes, mas a razão destas diferenças só era explicada aos que, interessados, perguntaram junto aos doze pela explicação da mesma (Mc 4, 13-20). O encontro com a palavra é um dom de Deus, mas a resposta à mesma depende da vontade e do interesse de cada um. A explicação correspondente sempre a receberá quem esteja interessado em saber a verdade.

PISTAS:

1) Nas parábolas, Jesus geralmente não define o Reino, mas só alguns atributos do mesmo. Na primeira destas parábolas do dia de hoje temos a exposição de como o Reino se expande com uma força que não depende dos homens, mas do próprio Deus. Poderíamos dizer que descreve a força interna do Reino.

2) Na segunda parábola encontramos a visão externa do Reino. Seu crescimento seria espetacular desde um pequeno grupo insignificante como é a semente da mostarda que se parece com a cabeça de um alfinete, até uma árvore que nada tem a invejar os carrascais da Palestina.

3) Uma certeza é evidente: o Reino é uma realidade que não se pode ignorar. Em que consiste? Jesus não revela sua essência, mas devido ao nome estamos inclinados a afirmar que o Reino como nova instituição é uma irrupção da presença de Deus na História humana, que seria uma revolução e uma conquista, não violenta, mas interior do homem, e que deveria mudar a religião em primeiro lugar e as relações sociais em segundo termo. Numa época em que revoluções externas e lutas pelo poder estavam unidas a uma teocracia religiosa era perigoso anunciar a natureza verdadeira do Reino. Daí que só as externas qualidades do Reino tenham sido descritas e de modo a não levantar reações violentas. O reino sofrerá violências, mas não será o violentador (Mt 11, 12).

4) Se quisermos apurar as coisas, poderíamos atribuir ao Reino uma universalidade que não tinha a Antiga Aliança. Mas isto é esticar as coisas além do estado natural das coisas e da narração de hoje no evangelho de Marcos.


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!

Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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