GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
30.09.2012
26º Domingo do Tempo Comum — ANO B
(VERDE, GLÓRIA, CREIO – II SEMANA DO SALTÉRIO)
TEMPO DE AMAR E LER A BÍBLIA - SETEMBRO: MÊS DA BÍBLIA
__ "Quem não é contra nós é a nosso favor" __
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Chegamos ao último domingo do mês de setembro. Neste dia, recordamos, de maneira toda especial, a Bíblia. Nenhum outro livro conseguiu ser traduzido para tantas línguas e chegar a tantos povos como a Bíblia, na qual encontramos a Palavra de Deus. Mesmo escrita há séculos, consegue ser sempre atual e importante para qualquer momento de nossa vida. A liturgia de hoje nos convida a celebrar o Mistério da nossa salvação, acolhendo com alegria os sinais do Espírito Santo de Deus fora da nossa comunidade religiosa. Iniciemos nossa celebração intercedendo a graça da tolerância, para que possamos conviver pacificamente na sociedade, reconhecendo a ação do Espírito divino em nosso meio.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: No Dia Nacional da Bíblia, nossa celebração dominical recorda que a Palavra de Deus está acima das nossas diferenças e se torna o critério da nossa comunhão. Rezemos, pois, para que todos sigam a Palavra de Deus, revelada nas Escrituras e vivida no testemunho cotidiano do amor e da justiça. Recordemos que a Igreja celebrará a partir de amanhã, A Semana Nacional da Família. Também unamos nossos corações a toda a Igreja, que celebrará de 07 a 28 de outubro o Sínodo dos Bispos, em busca de novos caminhos para transmitir o Evangelho de Cristo em nosso tempo.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Hoje, em todo o Brasil, comemoramos o dia da Bíblia. Ela é o livro sagrado por excelência, porque contém a Palavra de Deus. É nela que estão as mais belas orações, inspiradas por Deus. É dela que tiramos as lições para nossa vida e para transmiti-las aos nossos filhos. Ela é a fonte de nossa fé. É nela que encontramos os fundamentos de nossa Igreja. Recebemos os sacramentos porque a Bíblia nos fala deles. As leituras de hoje nos ensinam que muitos são os carismas que Deus distribuiu entre os homens e que devem ser postos a serviço, para tornar Deus conhecido de todos. Rezemos nesta Eucaristia para que o Senhor faça descer sobre nós a força do Espírito Santo, a fim de que possamos servir a Deus, aos nosso irmãos e irmãs e à Santa Igreja, segundo a vontade do Pai.
Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Números 11,25-29): - "Prouvera a Deus que todo o povo do Senhor profetizasse, e que o Senhor lhe desse o seu espírito!"
SALMO RESPONSORIAL 18(19): - "A lei do Senhor Deus é perfeita, alegria do coração!"
SEGUNDA LEITURA (Tiago 5,1-6): - "Vossas riquezas apodreceram e vossas roupas foram comidas pela traça."
EVANGELHO (Marcos 9,38-43.45.47-48): - "O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-lo-ão; e ressuscitará três dias depois de sua morte."
Homilia do Diácono José da Cruz – 26º Domingo do Tempo Comum – ANO B
"NÃO O PROIBAIS!"
Sempre tive um espírito ecumênico, desde a minha infância nos anos 60, quando os ânimos eram muito acirrados entre nós católicos e os cristãos de outras Igrejas. Meu saudoso Pai, de quem eu herdei o legado da fé e das virtudes do evangelho, era de linha tradicional e na casa de esquina em que morávamos na Vila Albertina, quando os irmãos evangélicos nas tardes de domingo vinham fazer suas reuniões com pregações e hinos, ele nos levava para os fundos do quintal para que não corrêssemos o risco de nos desviar da fé católica.
Certa ocasião, fui em um culto festivo da Igreja Presbiteriana e descobri que lá também falavam de Jesus e do seu santo evangelho, e a partir daí, na minha cabeça comecei a questionar: por que nós os chamávamos de “irmãos separados”? De 1995 a 2003, coordenei a Dimensão Ecumênica Diocesana a pedido do Bispo D. José e incentivado pelo Padre João Alfredo. Participei do grupo do falecido D. Amauri – que coordenou esta dimensão no Regional Sul 1 da CNBB. Com ele muito aprendi e em nossos encontros anuais em Itaici, que reunia trezentas pessoas de treze Denominações religiosas diferentes, vivíamos um verdadeiro céu de comunhão e alegria, amadurecendo assim o meu ideal ecumênico.
Os cristãos mais tradicionalistas, tanto católicos como evangélicos muitas vezes não vêem com bons olhos o ecumenismo. Os mais fanáticos e radicais inventam mil e um argumentos para não se “misturarem” com quem não aceita e não professa as verdades da sua igreja, preferindo ver na pessoa do outro um inimigo da fé. Quanta falta de caridade e quanta ignorância!
Fechados em suas velharias religiosas não conseguem perceber que a graça e a Salvação que Jesus nos trouxe, está acima de qualquer doutrina ou instituição humana. Anunciam um Jesus, que com sua morte e ressurreição fez do Judeu e do pagão um só homem, entretanto vivem divididos por causa da intolerância e da crença em um céu particular e exclusivo, que receberão das mãos do próprio Deus como “prêmio” pela sua virtude e fidelidade. Esbarrei e convivi com pessoas assim na minha igreja e nas demais que andei visitando, aliás, há duas coisas que fazem esses cristãos torcerem o nariz: falar sobre ecumenismo e política! Esse fanatismo religioso já vem do grupo dos discípulos, que no evangelho desse domingo demonstram indignação ao verem um homem que pregava e realizava curas em nome de Jesus e o proíbem severamente de continuar e depois, orgulhosos pelo “feito”, vão informar a Jesus que lhes censura “Quem não está contra nós, está a nosso favor!”.
Do mesmo modo, na primeira leitura, Josué demonstra-se indignado ao tomar conhecimento de que dois homens, Eldad e Medad, cujos nomes constavam na lista, mas que não foram para a reunião da tenda, estavam no acampamento profetizando porque tinham recebido o espírito que Deus havia derramado sobre os anciãos. Fez a denúncia a Moisés, que em resposta manifesta o seu desejo de que todo o povo de Israel profetizasse movido pelo Espírito de Deus, que nunca foi e jamais será monopólio de ninguém.
Qualquer gesto de aceitação da Boa Nova, ainda que seja apenas um copo de água fria, não ficará sem recompensa – afirma Jesus, mas dos seus seguidores ele exige uma atitude radical a favor do bem, da vida e da comunhão entre as pessoas. As sementes do Reino de Deus foram espalhadas por Cristo em todas as nações da terra e, portanto, em todas as culturas e línguas temos a prática do bem. Vivemos em um mundo onde as pessoas se fecham e constroem barreiras ou abismos em seu redor, para que ninguém se aproxime.
É nesse sentido que podemos escandalizar e levar ao pecado um desses pequenos, se ao invés de construir pontes, nós cavamos abismos e levantamos muros da indiferença, da rejeição e do desprezo, até mesmo em nossas comunidades. Mãos, pés e olhos são essenciais na comunicação com os irmãos, os pés podem aproximar-se ou tomar distância, as mãos podem se estender em um gesto de abertura e acolhimento ou fazer um gesto agressivo, os olhos podem olhar para o outro com um espírito de comunhão ou então de desprezo e frieza. No pecado da divisão entre os cristãos, todos têm parcela de culpa.
A tentação de olhar para a história e buscar um culpado é sempre muito forte, mas o passado não nos importa, e sim o que podemos fazer hoje para eliminar muros e levantar pequenas pontes que unem, pois de cavadores de abismos e construtores de muros, o mundo já anda infectado. Buscamos o mesmo Deus, que se manifestou em Jesus e queremos o mesmo céu, que começa a ser construído aqui, não com divisões, mas na comunhão! (26ª. Domingo do TC Marcos 9, 38-43.45.47-48)
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 26º Domingo do Tempo Comum — ANO B
“Ocasiões de pecado”
Se alguém ou alguma coisa “for para ti ocasião de queda, arranca-o” (Mc 9,47). Talvez hoje em dia se fale pouco das ocasiões de pecado e, contudo, elas não faltam nos nossos tempos. Às vezes até temos a impressão de que elas aumentaram. As circunstâncias externas, com efeito, às vezes incitam as pessoas ao pecado quer por causa das fraquezas morais quer porque elas despertam a concupiscência. As ocasiões, sem serem pecados, constituem momentos imediatos de tentações. Ao olhar para o nosso mundo, será fácil ver que as possibilidades de ser imoderado na comida e na bebida se encontram por todas as partes, a internet facilitou uma série de coisas que antes eram praticamente inacessíveis à maior parte das pessoas honestas, as roupas encurtaram-se ou apertaram-se visivelmente… Ocasiões de pecado? Sim. No entanto, dependendo da nossa educação e da nossa sensibilidade, elas poderiam ser ou ocasiões próximas de pecado ou ocasiões remotas.
O Catecismo Romano, precedente do atual Catecismo da Igreja Católica, falava o seguinte sobre tais ocasiões: é preciso ter “a precaução de evitar, para o futuro, tudo o que motivou qualquer pecado, ou que possa dar ocasião de ofender a Deus Nosso Pai” (IV, XIV,22,2). Atenção: fala-se da precaução, isto é, de cautela, de cuidado, de prudência para não aproximarmo-nos de situações que nos coloquem à beira de ofender ao nosso Pai-Deus.
Colocar-nos temerariamente, isto é, sem nenhuma causa justa, em ocasião de pecar é um pecado. Caso se tratasse de uma ocasião próxima de realizar uma ação gravemente pecaminosa, a ocasião mesma já seria gravemente imoral. Quem assim fizesse estaria demonstrando pouco amor a Deus, precário temor em ofendê-lo e certa vontade (talvez débil, porém real) de praticar aquilo do qual se aproxima arriscadamente. Jesus pede de cada um de nós uma decisão firme de estar com ele e de rejeitar tudo aquilo que dele nos separa. Nesse sentido, o Senhor fala tão fortemente de cortar a mão, cortar o pé e arrancar o olho (cf. Mc 9,43-47). Logicamente, não podemos cair no erro de interpretar essas expressões ao pé da letra. Coitado de Orígenes, famoso escritor da antiguidade, que entendeu mal essas passagens e se castrou! Mas como a mutilação é pecado, o pobre Orígenes até hoje, apesar das grandes virtudes que tinha, não pode ser canonizado. Outro motivo que veta o seu processo de canonização é o fato de que podem ser lidas muitas coisas estranhas à doutrina cristã nos textos de Orígenes. Nada de fundamentalismo bíblico! O que o Senhor Jesus quer nos dizer ao descrever essas coisas de maneira tão cruenta é que devemos evitar as ocasiões de pecado. Isto é, e de maneira positiva, que mantenhamos uma decisão firme de servir tão somente o Senhor nosso Deus.
Das situações remotas de pecado é praticamente impossível afastar-nos. Isso se comprova rapidamente ao sairmos às ruas das nossas cidades. Neste caso, o importante é que tenhamos a consciência de que devemos viver neste mundo amando-o sem ser mundanos. Também é importante que essas ocasiões sejam apenas remotas e nunca se transformem numa situação próxima de pecado.
Mas poderia dar-se o caso no qual tenhamos que colocar-nos numa situação próxima de pecado. É o caso de um crítico de cinema, o qual teria que assistir aos filmes e emitir um juízo; o crítico poderia colocar em uma situação próxima de ofender a Deus no campo da moral, por exemplo. Também uma pessoa que se dedica a uma tarefa intelectual, às vezes terá que ler alguns livros que vão claramente contra os seus princípios humano-cristãos; talvez um determinado professor tenha que colocar-se em perigo contra a fé. O que fazer?
A primeira coisa que há que dizer é que não podemos colocar-nos, sem causa grave, em ocasião de ofender a Deus. Se houver causa grave, será preciso então colocar todos os meios para que a ocasião próxima se transforme numa ocasião remota. No caso do pesquisador, por exemplo, ele terá que ler, ao mesmo tempo em que lê um livro contra fé, outro de reta doutrina que lhe sirva contra antídoto.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 26º Domingo do Tempo Comum — ANO B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
Epístola - (Tiago 5, 1-6)
INTRODUÇÃO: Temos aqui uma das mais duras e violentas passagens da Bíblia contra os ricos deste mundo. A riqueza era considerada como uma bênção divina. Os bens da criação eram parte da economia do Criador e sua participação estava unida à fidelidade do povo às leis e mandatos corretamente observados (Êx 20, 6). Jesus, pelo contrário, afirma que os pobres são os abençoados e os ricos dificilmente entram no Reino. Se no AT os ricos malvados são condenados como vemos em Jr 5, 27. ou como diz o Sl 62,11: Se chegais a ser ricos não ponhais vosso coração nas riquezas. Porém, Jesus com a parábola do rico epulário, declara que as sortes serão diferentes na outra vida, no NT os ricos recebem um trato em comparação com os pobres bem inferior. Basta abrir Lucas em 6, 24 para ler: Ai de vós, ricos,porque já tendes vossa consolação. Mas Tiago, declarando que os bens temporais se tornam meio de egoísmo pessoal e instrumento de tortura para os necessitados, é o profeta dos novos tempos que, sem condenar as riquezas, denota os maus ricos que só procuram os bens terrenos. E com seus privilégios criam e condenam os pobres na sociedade.
CHORAI RICOS: Eis [age=age] agora! Os ricos chorai [klauete=plorate] lamentando [ololuzontes=ululantes] por causa das calamidades [talaipöriais=miseriis] as que vos sobreveem [eperchomenais=advenient] (1). Age nunc divites plorate ululantes in miseriis quae advenient vobis. Age grego é uma exclamação, traduzida ao latim com as mesmas sílabas fonéticas: age. É uma palavra derivada do verbo agö, que significa guiar, conduzir, como em Lc 4, 1: Jesus foi guiado pelo mesmo Espírito ao deserto. Tanto em latim como em grego, em impessoal, significa um toque de atenção, como Vamos! Ora! Eis! Eta! Vede! Em espanhol temos o Ea! Derivado do latim eia, interjeição que significa dar presa. As traduções vernáculas não são tão convincentes: Atendei!, Come![vinde] Orsù![vamos] Então, So[assim]. É, pois um chamado de atenção, não tanto para os ricos, mas para os fiéis para que vejam como terminam as riquezas.
CHORAI: O imperativo Klauete do verbo klaiö significa chorar, lamentar-se, como vemos em Mt 2, 18: Voz em Ramá, pranto, choro e grande lamento, era Raquel chorando por seus filhos.
LAMENTANDO: Na realidade, o verbo Ololuzö significa gritar, berrar, ulular, lamentar. É a única vez que aparece no NT.
CALAMIDADES: Traduzida de Talaipöria com o significado de miséria, calamidade, sofrimento, privações. Só sai uma outra vez no NT, falando dos homens como pecadores, em Rm 3, 16: Nos seus caminhos há destruição e miséria.
SOBREVEEM: é a tradução do verbo eperchomai vir, encontrar, progredir, chegar, envolver. Um exemplo é Lc 1,35: o Altíssimo te envolerá com a sua sombra. Poderíamos, pois, traduzir também sobre as calamidades que vos envolverão.
RIQUEZAS PODRES: As vossas riquezas [ploutos=divitiae] foram corrompidas [sesëpen=putrefactae sunt] e vossos vestidos [imatia=vestimenta] tornaram-se comidas de traça [sëtobröta= tineis comesta] (2). Divitiae vestrae putrefactae sunt et vestimenta vestra a tineis comesta sunt
RIQUEZAS: O grego Ploutos, embora singular, é traduzido por plural em latim e na maioria das línguas modernas, como conjunto de bens que chamamos riquezas. Poderíamos traduzir, como o inglês wealth, por fortuna, prosperidade. Porém, é melhor traduzir por riquezas.
CORROMPIDAS: Do verbo Sëpö estar corrompido, podre, arruinado; é um ápax [sai uma só vez] de Tiago.
VESTIDOS: tradução do Imatia [plural grego]. Imation, no plural, era empregado no sentido de vestidos ou roupas. Que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas? (Mt 11, 8) As roupas essenciais tanto dos homens como das mulheres eram duas: o chiton e o imation, traduzidas por túnica e capa respectivamente. O Chiton era uma espécie de blusa comprida sem mangas, que ia até os joelhos e, especialmente nas mulheres, até os pés, recolhida na cintura por meio de um cinto. Era o único vestido do Batista, só que nele o material era feito de pelos de camelo (Mc 1, 6). Algo parecido vestiam os judeus e quando faltava o chiton se consideravam nús. A tradução de chiton é túnica, e de imation, capa. Ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa (Mt 5, 40).De Pedro lemos: como ouvisse que era o Senhor cingiu-se a veste [túnica] porque estava nú (Jo, 21, 17). Este vestido era o que levava Jesus sem costuras e foi rifado entre os soldados no momento da crucifixão (Jo 19, 23). O Imationera uma larga capa formada de uma só peça de tela que se envolvia ao corpo como faziam na Espanha nos tempos anteriores a Esquilache. Era o vestido com que a multidão revestiu o jumento e cobriu o chão no dia dos ramos (Mt 21, 7 e 8). Servia de cobertor para dormir quando das peregrinações a Jerusalém. A Clâmide romana era um pouco mais curta e era o vestido superior dos soldados romanos.
COMIDAS DE TRAÇA : não existia o ácido bórico ou outros compostos para evitar a traça. Tenhamos em conta que as riquezas eram metais preciosos, ouro e prata, geralmente guardadas em buracos na terra (Mt 13, 44), em armazéns de produtos agrícolas como azeite, vinho e trigo (Lc 12, 16 ss), e em roupas dentro de arcas ou baús; pois os armários só foram inventados no tempo de Luis XIV. Especialmente os ricos eram os bem vestidos, como vemos em Mt 11, 8 e bem alimentados, como o rico da parábola (Lc 16, 19). As roupas, guardadas nos baús da época, facilmente eram comidas das traças. Por isso Jesus fala do tesouro no céu onde nem ladrão nem traça podem destruir (Mt 6, 19).
TESTEMUNHO NEGATIVO: O vosso ouro [chrusos=aurum]e a prata [argiros=argentum] têm sido enferrujadas [katiötai=eruginavit] e a sua ferrugem [ios=erugo] por testemunho para vós será; e comerá [fagetai=manducabit] vossas carnes como fogo [pur=ignis]. Acumulastes tesouros [ethësaurisate=thesaurizastis] em(os) últimos [eschatais=novissimis]dias(3). Aurum et argentum vestrum eruginavit et erugo eorum in testimonium vobis erit et manducabit carnes vestras sicut ignis thesaurizastis in novissimis diebus. Com este versículo, Tiago completa um relato-descrição das riquezas dos ricos do seu tempo. Hoje a bolsa e os bancos substituem os tesouros escondidos de antigamente.
OURO: Podiam ser moedas com um tanto por cento superior a 18 quilates [ouro puro é 24 quilates], ou diversas jóias. Moedas de ouro e prata só podiam ser cunhadas em Roma e nas províncias só eram admitidas moedas de cobre. Antigamente não havia moedas e só existiam lingotes cujo peso entre os judeus era o talento (32 Kg aproximadamente). Segundo Plínio, o velho, a primeira moeda romana foi cunhada em 217 aC. Geralmente o valor nominal era inferior ao seu valor real e por isso estavam fora de circulação. No fim da República, os generais vitoriosos traziam grandes quantidades de ouro e prata. Márcio Pôncio Caton (195 aC) voltou da Hispânia com 11mil Kilos de prata e 600 de ouro. Sila cunhou moedas com valor de 400 sextércios, Pompeu de mil e Júlio César de 100. Se de ouro, seu nome era aureus. Seu valor flutuou entre 25 denários (Augusto) com peso de 7,4g e 20 denários (Caracalla) com peso de 4,54g. Na época de Constantino, a nova moeda era o solidus com peso de 4,54g. A moeda de prata fundamental era o denário, que era o pagamento de um dia equivalente a 4,5 g de prata e dele derivava o sestertio ou ¼ de denário. O bronze: a moeda fundamental era o as(do latim aes=bronze, que era inicialmente fundido e só cunhado em tempos da república como as libral (peso de uma libra 273 g). O Estado cunhou moedas de as com um banho de prata e que deviam ser aceitas por seu valor nominal. De fato, um as valia 1/10 do denário. Com a exceção do ouro, todos os demais metais estão sujeitos à ferrugem.
ACUMULASTES: o grego Thesaurizö significa armazenar tesouros ou acumular os mesmos. Já temos visto no parágrafo anterior como isso era feito na época.
ÚLTIMOS DIAS: Eschatös último, final, prostrero, extremo, especialmente o último quando referido ao tempo. Podem ser os últimos dias da vida particular de um indivíduo, ou se referir aos novíssimos, tempos finais da vida na terra. O testemunho era sempre em contra do réu e a justiça hebraica não admitia advogados defensores ou testemunhas de defesa que era deixado ao próprio réu como vemos na paixão de Jesus em que ambos os juízes, Caifás e Pilatos, perguntam a Jesus para escutar a sua defesa (Jo 18, 19 e 23), Neste sentido, uma vez a alma, saída aos 3 dias do corpo, podia ver seus vestidos corrompidos e com eles julgar a inutilidade de suas riquezas. Acreditamos que os últimos dias eram os da vida do indivíduo em particular e não os últimos dias da História, pelo que temos escrito anteriormente.
O CLAMOR DOS POBRES: Eis o salário [misthos=merces] dos trabalhadores, dos ceifadores [amësantön=qui mesuerunt] das vossas regiões: o que foi defraudado [apesterëmenos=fraudatus] por vós, grita [krazei=clamat] e o clamor [boë=clamor] dos ceifadores nos ouvidos do Senhor dos Sabaoth [sabaôth=sabaoth] tem chegado (4). Ecce merces operariorum qui messuerunt regiones vestras qui fraudatus est a vobis clamat et clamor ipsorum in aures Domini Sabaoth introiit.
SALÁRIO: A palavra Misthos remuneração, retribuição, salário, soldo, paga. A palavra é usada por Mt 5, 46: Porque se amais aos que vos amam, que recompensa tereis? Como salário em Mateus 20:8: Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário . Primariamente, pois, o significado é de salário ou paga. Só que em se tratando de Deus essa paga deve ser traduzida por recompensa ou galardão, como vemos em Rm 4,4: Ao que trabalha o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Logicamente, aqui deve ser traduzido por salário.
CEIFADORES: Amesantön particípio de aoristo do verbo amaöque significa segar, ceifar. Ao colocar como uma aposição, os ceifadores junto aos trabalhadores, Tiago reduz seu argumento aos ricos, donos de terras que usam assalariados como ceifadores de suas colheitas. Podemos , pois, substituir regiões por campos, como Chöras por terras de cultivo, como devemos traduzir Lc 12, 16: o campo de um homem rico produziu com abundância.
DEFRAUDADO: Apesterëmenos, do verbo apostereö significa fraudar, roubar, despojar, sofrer dano, ser privado. Em Mc 10, 19, Jesus pede ao jovem que guarde os mandamentos entre eles não defraudarás ninguém. Em 1Cor 6, 8 é traduzida por fazer dano. É claro que no caso de não pagar o salário é fraudar.
GRITA : Do verbo Krazö gritar, bradar, choro, pranto. Os demônios gritaram: Que temos nós contigo! (Mt 8, 28). As multidões clamavam: Hosanna ao Filho de Davi! (Mt 21, 9).
CLAMOR: grito, clamor, súplica, que é dos ceifadores. É um apax do NT somente usado nesta passagem.
DENTRO DOS OUVIDOS: É uma metáfora antropomórfica, de modo que não podemos daí deduzir nada sobre a natureza divina. É o mesmo que dizer que Deus escutará o gemido dos ceifadores. A esse Deus chama Tiago o Deus dos Sabaoth.
SABAOTH: É o feminino plural de Sabah que significa hoste, tropa, exército, mesnada. A tradução literal seria Deus dos exércitos. Quais são esses exércitos? Há duas hipóteses: Os exércitos celestiais (estrelas, anjos) ou os exércitos de Israel. A primeira é a mais adotada pelos intérpretes. Lemos, pois em Gn 2, 1: Assim foram terminados os céus e a terra e todo o seu exército [na realidade exércitos]. Como nota curiosa a TEB traduz e todos os seus elementos. Finalmente lemos em Is 5, 9 : Aos meus ouvidos disse o Senhor dos exércitos vendo como muitos adquiriam casa após casa e campo a campo acumularam riquezas. É o lugar paralelo que parece citar Tiago em sua carta, para refutar semelhante conduta.
VIDA PRAZEROSA: Tendes vivido no prazer [trufaö=epulati] sobre a terra e tendes vivido em luxuria [espatalësate=in luxuriis]: tendes alimentado [ethrepsate=enutristis]vossos corações como em dia de matança [sfagës=occisionis]. Epulati estis super terram et in luxuriis enutristis corda vestra in die occisionis.
VIVIDO NO PRAZER: O verbo Trufaö derivado do nome trufë, com o significado de delicadeza, luxo, delicias. Logo temos essa vida de prazer, própria de um rico.
EM LUXÚRIA: O verbo Spatalaö sai mais uma segunda vez em 1Tm 5, 6: a quem se entrega aos prazeres mesmo viva está morta (fala das viúvas levianas).
ALIMENTADO: O verbo Trefö sai 8 vezes no NT com as traduções de sustentar, comer, criar, abastecer e engordar. A TEB diz fartar-se, que dá uma idéia muito boa do contexto.
CORAÇÕES: Entre os diversos sentidos da palabra Kardia está o de ser o vigor e centro da vida física ou biológica do homem. Tal o coração com o qual devemos amar a Deus (Mc 12, 30), pois os outros dois membros são a alma e o entendimento. E temos também que o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra (Mt 12, 40).
MATANÇA: Sfafë matança, ato de abater, massacre, matadouro. Das 3 vezes que encontramos esta palavra, (At 8, 32; Rm 8, 36 e esta), nas duas anteriores se trata de ovelhas ao matadouro. Alude ao dia da cólera do Senhor (Jr 12, 3): Arranca-os como as ovelhas para o matadouro e destina-os para o dia da matança.
OS CRIMES DOS RICOS: Tendes condenado [katedikasate=addixistis] tendes matado [efoneusate=occidistis] o justo [dikaion=iustum]: não vos oferece resistência [antitassetai=resistit] (6). Addixistis occidistis iustum non resistit vobis. Finalmente, em seu afã de riquezas, chegam ao extremo de condenar e até matar o homem probo, íntegro e honesto [o justo] que não pode oferecer resistência.Temos o caso de Nabot e Acab (1 Rs cap 21) que foi materialmente acusado e morto, apesar de ser homem honesto, pelo desejo do rei de ficar com sua vinha. Pode se referir também a Jesus condenado e morto injustamente. No tempo de Tiago os juízes eram venais: os presentes decidiam as sentenças. Uma outra interpretação é a de que, privando do pão aos pobres é o mesmo que matá-los de fome. O justo, neste caso, teria um significado geral e não particular, e abrangeria todos os pobres que privados de seus emolumentos pela rapacidade dos ricos, se encontravam em situação tão precária que praticamente estavam condenados à morte.
Evangelho (Mc 9, 38-43. 45. 47-48)
Ensinamentos paralelos: Lc 9, 49-50, Mt 12, 30.10, 42. / Mt 18, 6 e Lc 17,1. Mt 5, 29 e 18, 8.
UM DISSIDENTE: O episódio é narrado também por Lc 9, 49-50. No lugar de didáskale (Mestre, no sentido de professor), Lucas usa o epístate (Mestre, no sentido de quem tem o mando). Ambos os casos sucedem à lição de humildade dada por Jesus, mostrando como melhor discípulo aquele que se assemelha a uma criancinha. Agora se trata de não limitar o discipulado unicamente aos que moram diariamente com Jesus, mas a todos os que acreditam nele e operam seguindo seu modelo. Jesus é Mestre para todos os que aceitam sua doutrina e sua liderança. Se esta lição de Jesus tivesse sido levada à prática é possível que muitas guerras e mortes por motivos de dissidências religiosas não tivessem acontecido na História dos séculos posteriores de cristianismo. Fazer o bem é sempre uma bênção divina que não podemos reprimir nem ocultar.
O TEXTO: Há uma pequena diferença entre o texto grego e a tradução latina, chamada Vulgata. Esta acrescenta dois versículos, o 44 e 46 imediatamente após o escândalo da mão e do pé, que o texto grego só acrescenta como final após o versículo 37, formando o 38 que resume os 44 e 46 latinos: ubi vermis… non extinguitur, traduzidos por: onde o verme deles não morre e o fogo não se extingue, que nos leva a Isaías 66,24 com o versículo final do profeta: “Ao sair [da cidade santa], poderão ver os cadáveres daqueles que se revoltaram contra mim: seu verme não morrerá, seu fogo não se apagará [eles serão uma repugnância para toda carne]. O colchete final não está no texto de Marcos. No evangelho de hoje temos três partes diferentes: 1º) O uso do nome de Jesus para fazer o bem. 2º) Ajuda dada aos discípulos e 3º) O escândalo.
USO DO NOME DE JESUS
A PERGUNTA DE JOÃO: Respondeu-lhe então João dizendo: Mestre [didaskale=magister], vimos alguém em teu nome expulsando [ekballonta=eicientem] demônios [daimonia=daemonia], o qual não nos segue [akolouthei=sequitur] e o proibimos (38). Respondit illi Iohannes dicens magister vidimus quendam in nomine tuo eicientem daemonia qui non sequitur nos et prohibuimus eum.
DIDASKALOS é a tradução direta de Rabi ou Raboni ou seja mestre ou professor, especialmente se tratando da Lei, tanto escrita como falada. Sai 58 vezes com o significado de Mestre, ou Doutor. Ao redor dele reuniam-se e até moravam seus discípulos, como vemos que acontece nos evangelhos com Jesus.
EKBALLÖ de ballö [lançar] e ek [fora] palavra própria para designar a expulsão dos demônios.
DAIMONIA Existem em grego duas palavras equivalentes: Daimön deus ou deusa secundários, e daimonion ser intermediário entre Deus e o homem, que geralmente é perverso.
AKOLOITHEÖ seguir especialmente como discípulo. A resposta, ou melhor, a réplica de João é válida do momento em que Jesus fala dos que o recebem no versículo anterior (37). Parece que João pergunta: como devemos tratar os que não te seguem, mas usam teu nome para fazer prodígios. Nós impedimos essa utilização de teu nome. Estamos certos? Lucas em lugar paralelo, no lugar de didaskale [mestre] usa a palavra epistata, [dono, chefe]. Epistates [de efistemi, estar sobre, encima] era o condutor, diretor, chefe, tendo um sentido maior do que o simples didaskalos, este sem mais autoridade que o seu saber.
RESPOSTA DE JESUS: Então disse a ele Jesus: Não o proibais. Porque não existe ninguém que fará um poder [dunamin=virtutem] sobre meu nome, e em seguida será capaz de ter falado mal de mim (39). Iesus autem ait nolite prohibere eum nemo est enim qui faciat virtutem in nomine meo et possit cito male loqui de me.
DUNAMIS força, poder, habilidade, finalmente milagre. Temos traduzido o grego respeitando os tempos e modos dos verbos, com um resultado pouco sintáxico, embora fará um poder sobre meu nome podemos dizê-lo com linguagem mais correta: faça um fato de poder usando meu nome, que seja de imediato capaz de falar mal de mim. O poiësei dunamin pode ser traduzido como faça uso do poder, tem uma similitude no caso em que Jesus não podia realizar nenhum milagre, senão algumas curas de enfermos em Mc 6, 5.
SOBRE MEU NOME: No versículo anterior lemos em teu nome e neste versículo Jesus fala sobre meu nome. Qual a diferença, se existe, a não ser que seja um simples recurso redacional? No primeiro caso, parece que o sujeito usa o nome de Jesus invocando o poder deste. Somente encontramos outros casos de to onomati [dativo sem preposição] em Mateus 7, 22 e 12, 21 e também referido a uma expulsão de demônios ou emitir profecias atuando como enviados de Jesus, ou seja, substituindo-o. O frequente é encontrar en to onomati, com a preposição en, como mais literariamente o usa Lucas no mesmo contexto ao dizer os 72 que até os demônios se submetiam no nome seu [de Jesus] (Lc 10, 17). Lembra o que Jesus ouviu dos fariseus quando estes afirmavam que expulsava os demônios em nome de Belzebu, príncipe dos demônios [en Beelzeboul archonti tön daimoniön] (Lc 11, 15). No segundo caso [epi to onomati], Jesus indica que este modo de proceder é uma substituição, de modo que Ele, Jesus, está sempre presente no lugar de quem o invoca com fé para usar o poder e autoridade dEle. Por exemplo: O párvulo de quem Jesus diz é recebido como se fosse Ele mesmo, em meu nome [epi to onomati mou] (Mt 18, 5 e Mc 9, 37). O caso também de quem diz ser o Cristo e vem em seu nome (Mt 24, 5; Mc 13, 6 e Lc 21, 8). Por tudo o que temos dito, creio que ambas as expressões refletem um mesmo pensamento: O exorcista, talvez ao ver como os discípulos se serviam do nome de Jesus e constatar que era válido o exorcismo, também o usava, implorando o poder desse nome. Jesus responde usando um argumento lógico que vinha dizer: Quem usa meu nome para fazer o bem, é quem acredita em meu poder e em minha verdade. É, pois, um discípulo meu embora oculto aparentemente. Lucas, 9, 50, no lugar paralelo, dirá unicamente não o proibais.
A CONCLUSÃO: Aquele, pois, que não está contra vós está por vós (40). Qui enim non est adversum vos pro vobis est. É provável que nesta ocasião Jesus esteja citando um provérbio, como conclusão do razoamento do versículo anterior; mas também está dando uma norma geral para tratar das pessoas que aparentemente não são discípulos manifestos e declarados de Jesus. Narrando o mesmo fato, Lucas (9, 50) usa exatamente as mesmas palavras de Marcos. Porém Mateus usará o mesmo provérbio provavelmente mais conforme com o original: Esse que não está contra vós, está convosco, e esse que não recolhe convosco, dispersa (Mt 12, 30) Em Nm 11, 26-29 quando Josué pediu a Moisés para calar as vozes de Eldad e Medad, porque profetizavam sem estarem no círculo de profetas que o líder tinha colocado ao redor da Tenda, ou Tabernáculo, Moisés respondeu: Oxalá todo o povo fosse profeta. Jesus concorda pois, com o AT em não rejeitar o bem, venha de quem vier.
AJUDA AOS DISCÍPULOS
CONSEQUÊNCIA POSITIVA: Quem, pois, der de beber a vós um copo [potërion=calicem] de água em meu nome porque sois de Cristo, certamente vos digo não perderá seu prêmio [misthon=mercedem]. Quisquis enim potum dederit vobis calicem aquae in nomine meo quia Christi estis amen dico vobis non perdet mercedem suam. No lugar paralelo de Mateus fala de dar de beber um destes pequeninos um único copo frio [ou de água fresca], por ser este um dos meus discípulos (Mt 10, 42). Marcos emprega também o Mikrön no versículo seguinte, relacionando-o com a fé na pessoa de Jesus. Mikros e filhos eram também os cognomes com os quais um Mestre denominava seus discípulos. Qual o verdadeiro significado deste adjetivo/substantivado no trecho de hoje? Acreditamos que na maioria dos casos significava discípulo, especialmente neste caso em que Mateus explica por ser este um dos meus discípulos.
POTËRION: O copo d’água era a mínima assistência possível, sem valor comercial algum, e até isso merecia uma recompensa, uma gratificação. A frase copo de água fria é usada como o mínimo favor emprestado a alguém, assim como o camelo era o maior animal conhecido para expressar o maior volume que pode passar pelo mínimo buraco (Mt 19, 24), confirmado com a comparação com o mosquito em Mt 23,24. Esta última afirmação de Jesus indica que existem obras meritórias, e que o conceito de que só a fé é válida sem as obras não combina com os ensinamentos de Jesus. Deste versículo também se deduz que os cristãos têm uma valoração especial e devem ser tratados como trataríamos a pessoa de Cristo, pois assim deve ser traduzido em meu nome, como sendo eu em pessoa (ver versículo anterior, acerca de em meu nome e sobre meu nome). Esta proposição nos dá uma segurança de que a caridade é uma obra própria [opus proprium] que afeta diretamente Cristo e seu evangelho. Não devemos fazer distinção entre os grandes e os pequenos. Jesus toma como termo de comparação para apreciar o bem e o mal, os pequenos dentro do reino. São eles os que, ao serem favorecidos, merecem o prêmio para os benfeitores por parte de Deus, e serão eles os que ditam a maldade através do escândalo, como veremos no seguinte parágrafo. O estilo é de contraposição entre as partes, exagerando os termos com comparações concretas, para melhor retenção na memória dos ouvintes. Para Mateus, a ação caritativa se estende aos mais insignificantes dos discípulos; isto é, quem ajuda os discípulos, nem que seja com o mínimo, como é um copo d’água, que Mateus explicará ser fria (10,42), deve ser admitido como pessoa a quem Deus recompensará.
MISTHÓS o significado primário é salário,honorário,preço, devido a um trabalho, como em Mt 20, 8, quando o dono manda o seu administrador dar o salário aos trabalhadores a começar pelos últimos. Rm 4, 4 confirma esta acepção de salário assim como Tg 5, 4. É também o castigo merecido pelos que obraram mal como em 2Pd 2,15 que fala do prêmio da injustiça. As traduções vernáculas geralmente preferem a palavra remuneração ou galardão. O latim usa merces que também é salário como na frase nulla mercede [gratuitamente]. Isso corrobora tudo o que anteriormente afirmamos sobre o mérito.
O ESCÂNDALO
ESCÂNDALO EXTERNO: Mais: Se alguém escandalizasse [skandalise=scandalizaverit] um só dos pequenos [mikrön=pusillis] dos crentes em mim, bom é a ele melhor se uma pedra de moinho [lithos=mola; mulikos=asinaria] fica pendurada ao redor de seu pescoço e é lançado ao mar (42). Et quisquis scandalizaverit unum ex his pusillis credentibus in me bonum est ei magis si circumdaretur mola asinaria collo eius et in mare mitteretur. Temos feito uma tradução, a mais literal possível, para que se perceba toda a força do grego, que sem dúvida não é muito correto na sua sintaxe. Os versículos 38-41 constituem um pequeno parêntese para retomar o exemplo do menino neste versículo, não como paradigma de insignificância, mas como massa fácil de ser enganada ou escandalizada.
O ESCÂNDALO: Skandalon etimologicamente significa tropeço, armadilha, ocasião de caída. A palavra original significa a colocação de uma pedra como obstáculo para impedir a passagem. Daí a extrapolação, feita por Jesus, de impedimento para entrar no Reino. E de novo são os pequenos [Mikrói], no sentido de mínimos, dentro do marco social da hierarquia. Esses pequenos não são necessariamente as crianças, mas os ínfimos entre os discípulos, aqueles que são dirigidos pelos mais ilustrados, que não têm liberdade de escolha, por sua incapacidade de entender e compreender, e, por isso, necessitam de um pastor-guia que os conduza (ver parágrafo anterior). O his latino falta no grego e o latim usa pusillis que pode se referir a meninos, pois é diminutivo de pusus, rapaz. Portanto pusillus significa pequeno, menino. Mikrôn [pequeno, de tamanho, estatura..] é o oposto a megas [grande, alto, forte], mais do que entre criança e adulto. Segundo Legasse mikron jamais é usado como aposto de paidion, e indica insignificância. Que tipo de escândalo? Quando Jesus fala de escândalo não é o escândalo moral de uma conduta eticamente reprovável, como hoje o entendemos, mas o impedimento de encontrar ensinamentos da parte dos doutos e letrados, que eram contrários ao Reino e apresentavam Jesus como falso profeta e contrário à lei divina. Este era o caso dos escribas na época apostólica como possuidores da chave do saber (Lc 11,52). O castigo era afogar o escandalizador culpado no profundo do abismo, ou do mar (Mt 18,6), por meio de uma pedra de moinho, a chamada pedra asnal [mola asinaria da vulgata]. Das duas pedras para moer o grão, a inferior era fixa e, como suporte do moinho, recebia o nome de pedra asnal; outros dizem que o nome era dado à pedra superior pois era a movida pelo jumento ou asno. Nos moinhos de mão, frequentes nas famílias hebréias, também a pedra que era girada por meio de uma manivela recebia o nome de pedra asnal. Qualquer uma delas, pendurada do pescoço, servia para afundar o castigado por causar escândalo. Logicamente seria uma pedra de pequeno tamanho, a do moinho de mão, pois atado de pés e mãos, como era o caso dos condenados (Mt 22, 13), bastava ela para ir ao fundo. O sujeito ia para o fundo do mar, o abismo [ou pélagos em grego], onde se encontrava o reino do mal, e seu cadáver não poderia flutuar para ser sepultado. Não era um castigo legal para os judeus, já que só eram permitidas quatro classes de morte: lapidação, queima, estrangulamento e decapitação. Era um castigo romano, que supunha também um castigo “post mortem”, pois o cadáver, sem sepultura, no fundo do mar por causa da pedra, causava horror para os judeus, devotos da lei. Era, pois, uma nova maneira de castigar com morte temporal, e até eterna, um fato novo, como era trabalhar contra a expansão do Reino, mediante a difamação do seu fundador, porque o Reino dos Céus sofre violência (ver Mt 11,12). Máxime, este castigo adquire conotações singulares se se tem em conta que os animais afogados eram verdadeira impureza segundo a lei ( At 21,25: ver Êx 15,4 dos egípcios perseguidores e Mc 5,13 dos porcos, em que Jesus permite irem ao fundo do mar).
ESCÂNDALO INTERNO: Também: Se te escandaliza a tua mão, corta- a; bom é para ti ter entrado manco [kullos=debilem] na vida que tendo as duas mãos ter que ir embora para a Gehena ao fogo inextinguível (43). Onde o verme deles não se acaba e o fogo não se extingue (44). E se teu pé te escandaliza, amputa-o; bom é para ti ter entrado na vida coxo, que tendo dois pés, ter que ir embora para a Gehena, para o fogo inextinguível (45). E se teu olho te escandaliza, saca-o; bom é para ti ter entrado com um olho só no Reino do Deus que, tendo dois olhos, ter sido lançado na Gehena do fogo(47) . Et si scandalizaverit te manus tua abscide illam bonum est tibi debilem introire in vitam quam duas manus habentem ire in gehennam in ignem inextinguibilem. Ubi vermis eorum non moritur et ignis non extinguitur. Et si pes tuus te scandalizat amputa illum bonum est tibi claudum introire in vitam aeternam quam duos pedes habentem mitti in gehennam ignis inextinguibilis. Quod si oculus tuus scandalizat te eiece eum bonum est tibi luscum introire in regnum Dei quam duos oculos habentem mitti in gehennam ignis. O versículo 46 é uma repetição do 44 e embora trazido por alguns códices gregos e a Vulgata, é rejeitado como conclusão do versículo 43 e acrescentado como conclusão final após este último versículo que intitulamos como 45. A lectio do domingo retira o 44 e deixa como final da mesma o 48, que para o grego seria o 47, como o temos anotado.
A MÃO, O PÉ, O OLHO: Não são unicamente outras pessoas as que são causa de escândalo, mas também podem ser a mão, o pé ou o olho os que servem de escândalo. No caso do olho e da mão, temos dois lugares paralelos em Mateus 5, 29 e 30, sendo em ambos os casos, membros direitos, não canhotos, ou seja, os mais estimados pelos judeus da época. A conclusão é que é preferível perder um membro, o mais querido, do que conservá-lo e perder toda a vida. Era típico dos judeus situar as apetências nos membros do corpo: Mão por roubo e violência, pé por aliar-se com malfeitores e correr a realizar o mal, e olho por sovinice e avareza. Com isso entramos no escândalo moral e também daí deduzimos o argumento lógico e bíblico para operações biológicas, em que a mutilação se torna necessária diante da vida toda. Porém, como é costume entre os semitas, a casualidade moral substitui os princípios. Devemos, pois, nos remontar dos casos aos princípios. Qual é o princípio que Jesus quer ressaltar? Em primeiro lugar fala de entrar na vida, que significa entrar no Reino de Deus como vemos no versículo 47 que substitui entrar na vida dos versículos 43 e 45. Esse é o princípio diante do qual devemos julgar nossas apetências e ambições. Se diante desse Reino onde encontramos a verdadeira vida, temos aspirações contrárias e encontramos travas incompatíveis, devemos superá-las, pois do contrário, o nosso fim será o oposto do que buscamos. Perderemos a vida por querer poupar um membro.
A GEHENA [pronunciada gueenna]: A palavra não aparece na LXX e nem na literatura grega. É a forma grega do aramaico ge hinnam, que por sua vez remonta ao hebraico ge hinnon, expressão esta que originalmente denotava um vale ao sul de Jerusalém [hoje é Wadi er-Rabadi] e que significa o vale de Hinnon (Js 15, 8) ou do(s) filho(s) de Hinnon [ge ben hinon] (Js 18, 16). Hinnon significa lamentação. Neste vale eram oferecidos sacrifícios de crianças (2 Rs 16, 3). O piedoso rei Josías mandou profaná-lo (2 Rs 23, 10) e se fala do Tofet, um verdadeiro lixão, onde os detritos e os animais mortos eram jogados e queimados. Os vermes dos cadáveres eram vistos junto ao fogo que queimava o lixo da cidade. Tofet provavelmente significa queimadeiro. Segundo outros, deriva da palavra tof que significa tambor e tofet é o plural da palavra tof porque no momento em que eram queimadas as crianças entre as mãos do ídolo Molok, os sacerdotes mandavam rufar os tambores para impedir que os pais ouvissem os gritos de dor de seus filhos. Numa fotografia de 1900 vemos uma garganta profunda no meio do vale onde provavelmente aconteciam os fatos antes narrados. Eusébio escreve que Haceldama [hagel dema, campo de sangue] onde Judas se enforcou, estava perto do Tofet no vale de Hinnon. A apocalíptica judaica supunha que este vale se tornaria, depois do juízo final, o inferno de fogo como lemos no livro de Enoque. Assim Gehenna é o mesmo que o inferno escatológico de modo geral, mesmo que já não esteja localizado em Jerusalém. Terminou sendo o lugar de castigo que correspondia ao Hades grego. De fato os rabinos o consideravam como o Hades, um lugar de castigo temporário, como o purgatório católico, antes do juízo final. Não foi, pois, invenção de Jesus. No NT gehenna era uma fornalha de fogo (Mt 23, 42; 50), lugar do castigo escatológico depois do juízo final, castigo este de eterna duração (Mt 25, 41;46; 23, 15 e 33). Um verdadeiro símbolo do inferno, cujo fogo é inextinguível. O mesmo castigo terão Satanás, os demônios, a besta do Abismo, o falso profeta, a morte e o Hades, e os que não foram inscritos no livro da vida (Mt 25, 41; 8, 29; Ap 19, 20; 20, 10, 14-25). A palavra sai sete vezes em Mateus e em três das quais recebe o adjetivo de fogo (Gehena de fogo), sendo que uma delas é de fogo inextinguível. Em Marcos será a Gehenna de fogo (1 vez), de um fogo inextinguível (2 vezes). Lucas só fala uma vez (12,5) dizendo que a quem se deve temer é àquele que pode, depois de matar, lançar na Gehenna. Coincide com o nosso inferno a Gehena? Podemos afirmar que sim. Em Mateus 18,8 afirmará o evangelista que se tua mão ou teu pé te escandalizam, corta-os. Melhor é entrar na vida sem eles, do que com eles, seres atirado no fogo eterno. Por isso não há dúvida de que é símbolo de uma realidade eterna.
PISTAS:
1) Todo aquele que pratica o bem deve ser aplaudido e ajudado. A salvação está precisamente no triunfo do bem perante o mal que nos rodeia, inutiliza esforços e impede a luz nascente da esperança num mundo melhor.
2) Os discípulos de Cristo que estão empenhados na propagação do evangelho são olhados por Deus de modo especial. Qualquer ajuda, por pequena que seja, será recompensada.
3)O misthós, que poderemos afirmar representa o salário e que é geralmente traduzido por prêmio ou recompensa, entra nos planos divinos para pagar o bem feito, e deve entrar nos projetos humanos como motivo, se não o último, pelo menos coadjuvante do amor desinteressado dos empenhados em escolher o bem e praticar a caridade.
4) O maior pecado, mesmo nos dias de hoje, consiste em difamar ou desvirtuar a mensagem evangélica. Sua pureza, seu radicalismo, devem ser respeitados e anunciados sem interpolações errôneas ou restritivas. O Senhorio de Cristo é essencial para todos os que sinceramente buscam a verdade e pretendem que ela se transforme em caminho na sua vida (Jo 14,6).
5) Do escândalo essencial, tendo como base a fé no Cristo, podemos passar ao escândalo moral em que a Igreja é vilipendiada e silenciada, porque seus membros não respondem à conduta exigida pelo evangelho e assim sua voz se torna oca, como paródia da verdade e veículo da mentira.
6)A Gehena, o inferno é motivo de preocupação para os que optam pelo mal transmitido aos outros sem arrependimento, simbolizado pelo corte mutilante.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
23.09.2012
25º Domingo do Tempo Comum — ANO B
(VERDE, GLÓRIA, CREIO – I SEMANA DO SALTÉRIO)
TEMPO DE AMAR E LER A BÍBLIA - SETEMBRO: MÊS DA BÍBLIA
__ "Acolhimento: condição para servir" __
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Motivados pela celebração do mês da Bíblia, na qual encontramos a palavra por excelência, que se diferencia das que normalmente ouvimos, queremos orientar nosso agir tentando entender, a cada domingo, o que Deus nos fala. Neste sentido, a liturgia de hoje apresenta a palavra como luz para nossa vida e nos coloca diante de duas realidades: a "palavra do mundo" e a "palavra de Deus". Denunciando, e ao mesmo tempo pedindo para que tenhamos cuidado com as tentativas de domínio sobre os outros, Jesus nos convida a uma opção de vida que manifeste o que ele mesmo é, tendo nos deixado como testamento: um coração simples e humilde, capaz de amar e acolher a todos, em especial os excluídos, sem necessidade de retribuição e reconhecimento público. Peçamos nessa celebração a graça da fortaleza para não desanimarmos diante dos desafios e provações.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: No próximo domingo celebramos o "Dia Nacional da Bíblia". Por isso, queremos, mais uma vez, despertar a comunidade para o conhecimento e o amor à Palavra de Deus, revelada nas Sagradas Escrituras. Elas nos dão conta daquilo que Jesus fala aos discípulos: "O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará". A fé no Ressuscitado leva-nos a colocar nossas vidas a serviço dos irmãos e irmãs, sobretudo, dos mais necessitados. Cantando, iniciemos nossa celebração.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A primeira leitura trata do drama do justo odiado e cercado de morte pelos ímpios e malvados. Mas ele se considera seguro sob a proteção da mão de Deus. Seus perseguidores zombam dele e querem colocá-lo à prova. No Evangelho, Jesus revela que é ele o justo perseguido, revela também que irá morrer mas que, ao terceiro dia, irá ressuscitar. Ensina que no Reino dos Céus é fácil ocupar o primeiro lugar, basta que aqui, na terra, a gente se coloque em último lugar, servindo a todos, assim como ele mesmo fez, a ponto de dar a própria vida para salvar até quem o estava torturando.
Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Sabedoria 2,12.17-20): - "Condenemo-lo a uma morte infame. Porque, conforme ele, Deus deve intervir."
SALMO RESPONSORIAL 53(54): - "É o Senhor quem sustenta minha vida!"
SEGUNDA LEITURA (Tiago 3,16-4,3): - "Pedis e não recebeis, porque pedis mal, com o fim de satisfazerdes as vossas paixões."
EVANGELHO (Marcos 9,30-37): - "O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-lo-ão; e ressuscitará três dias depois de sua morte."
Homilia do Diácono José da Cruz – 25º Domingo do Tempo Comum – ANO B
"SERVIR E ACOLHER"
No mundo de hoje são servidas e acolhidas apenas as pessoas muito importantes, que detêm algum poder no âmbito social, econômico – político, e até religioso. Jesus inverte este quadro quando coloca no meio dos seus discípulos uma criança que é por ele acolhida e abraçada, para exemplificar o ensinamento de que “quem quiser ser o primeiro, que seja o último e o servo de todos”.
Essa lição, precedida de um exemplo, foi necessária porque os discípulos não compreendem o ensinamento da lógica do Reino, que se fundamenta em uma relação diferente das demais e pelo caminho se questionam quem será entre eles o maior, pensando em uma relação a partir do poder e domínio sobre o grupo.
Podemos nos relacionar com as pessoas segundo a lei, as normas ou o formalismo, tratando-as como cada uma merece ser tratada, mas não é este o modo do justo se relacionar, porque ele pauta suas relações a partir da justiça de Deus, que nunca nos tratou segundo nossas faltas, pois a sua misericórdia e o seu amor são sempre sem medida.
Essa relação justa que sempre compreende e aceita o outro em suas necessidades, desmascara o amor da mediocridade, que não é gratuito e nem incondicional, põe em evidência a frieza das relações formais, marcadas pela aparência e farisaísmo. É um modo de viver que acaba pondo a descoberto toda a maldade que o ímpio traz escondido dentro de si “Eis que este menino foi posto para se revelar os pensamentos íntimos de muitos corações” – dirá o velho Simeão aos pais de Jesus, na apresentação no templo.
Por isso vemos, na primeira leitura, que a presença do justo incomoda porque o seu modo de viver e de se relacionar com as pessoas não segue os padrões normais estabelecidos pelo interesse e conveniência, mas sim segundo a Justiça de Deus. O justo não precisa de nenhuma garantia prévia para agir assim, ele confia totalmente em Deus, que o libertará das mãos dos seus inimigos. Enquanto os homens constroem seus projetos a partir da firmeza das relações com os outros, o justo só precisa e tem necessidade de uma coisa: Deus!
O tema do sofrimento, no segundo anúncio da paixão nos introduz no evangelho desse domingo onde os discípulos não compreendem e têm medo de perguntar.
Jesus, o Mestre de Israel, só fez o bem a todos que o buscaram. Os discípulos esperam talvez por um reconhecimento público o que poderia então dar início a uma “virada” na história. Mas as palavras de Jesus causam um certo desconforto e mal estar entre eles.
A Fé coerente com o evangelho, diante da qual precisamos mudar nossa mentalidade e nosso agir, não é de fácil compreensão. Temos medo de pensar no sofrimento e no transtorno que isso nos irá trazer. Podemos ser alvo de perseguições e incompreensões. A conversão não é um bom negócio para quem colocou sua expectativa de felicidade nos valores do mundo, na fama, no prestígio e no poder.
No tempo de Jesus crianças e mulheres nem eram contados no censo, e ao abraçar uma criança, Jesus está mostrando que os pequenos e sem valor, sem vez e nem voz, são os mais importantes diante de Deus, invertendo a ordem estabelecida, pois estes que nunca são lembrados, que nunca são servidos e acolhidos, são sempre os primeiros no Reino de Deus e quem quiser ser discípulo fiel do Senhor deverá adotar a linha do serviço aos pequenos, para que o seu seguimento seja autêntico.
Para isso temos de contar com a sabedoria que vem de cima que é pura, pacífica, condescendente, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade ou fingimento, como nos ensina Tiago na segunda leitura. Que a nossa Igreja – Assembléia dos que crêem – seja para toda essa massa de excluídos de nossa sociedade, uma porta aberta para acolher e os servir. Assim seja!
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 25º Domingo do Tempo Comum — ANO B
“Virtude básica: a humildade”
Jesus, sabendo que os discípulos “haviam discutido entre si qual deles seria o maior” (Mc 9,34), lhes dá uma lição de humildade: “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9,35).
A humildade encontra-se nos fundamentos da vida interior, ou seja, ela está na raiz de outras virtudes. A humildade remove os obstáculos para que a pessoa receba as graças de Deus, já que “Deus resiste aos soberbos e dá a sua graça aos humildes” (Tg 4,6). A humildade e a fé formam um par maravilhoso: a primeira remove os obstáculos à graça, entre os quais o orgulho; a segunda estabelece o primeiro contato com Deus.
A humildade se funda na verdade e na justiça. Santa Teresa dizia que a humildade é andar em verdade. A humildade nos dá o conhecimento, cada vez mais profundo, sobre nós mesmos. Também se funda na justiça porque exige que o ser humano dê a Deus toda a honra e toda a glória.
Na prática, humildade não é dizer que não se tem qualidades, quando na verdade se tem (isso seria hipocrisia); tampouco se trata de inventar qualidades que não possuímos (isso seria mentira e soberba). Não podemos buscar uma espécie de “humildade de jogadores de futebol” em entrevistas, mais ou menos assim e com os clássicos erros de português: “É, nós estamos de parabéns, apesar de nós não ter feito todos os gol que queria, agente seguimos as orientações do técnico e joguemo com humildade, e, provamos que com nós ninguém pode…”. Além de evitar este tipo de humildade, o cristão não pode ser uma pessoa encolhida: sem ideias próprias, meio covarde, com cara de coitado, um “Jeca Tatu”.
A humildade autoriza o filho de Deus a admirar todos os dons, naturais e sobrenaturais, que recebeu, mas sem atribuir-se a si mesmo o magnífico lenço pintado que vê em si, pois sabe que o divino Artista é Deus, para quem deve ir encaminhada toda a glória. Esta virtude também nos ajuda a ver a nossa pequenez e o quanto somos fracos. Em suma, a humildade é uma disposição da alma que nos inclina a moderar o apetite da própria excelência, levando-nos a evitar tanto a hipocrisia quanto a soberba.
A hipocrisia é ridícula! Andar cabisbaixo, com a cabeça meio torta e negar virtudes que se tem são, no fundo, características de uma falsa humildade. O curioso é que tais pessoas poderiam dizer de si mesmas: “eu sou um pobre pecador, não valho nada, sou um orgulhoso. Que Deus tenha pena de mim!”. Mas, se alguém lhe diz: “você é um orgulhoso e um pobre pecador”, então elas se irritam ao extremo. Ou seja: outros não podem dizer aquilo que elas dizem sem acreditar. É preciso lutar também contra a sensibilidade doentia: “o que pensarão de mim?”, “o que dirão de mim?”, “será que eles gostaram?”, “magoaram-me!” Nós não precisamos desprezar-nos diante dos outros para mostrar que somos humildes, mas também não precisamos supervalorizar-nos internamente. É suficiente mostrar-nos como somos, isto é, com autenticidade e moderando a própria desordem interior. Quando se é inteligente, por exemplo, e alguém elogia isso em nós, podemos dizer simplesmente um “obrigado”. Também é importante que, aceitado o elogio, dirijamos, no silêncio do nosso coração, esse louvor ao Senhor: “para Deus toda a glória!”
Por outro lado, não vamos andar por aí divulgando as nossas virtudes, os nossos cargos e as nossas responsabilidades; poderiam ser manifestações de soberba. Outra coisa seria a necessidade de utilizar alguma vez uma coisa meritória que tenhamos feito para reclamar um direito que por justiça nos pertence. Um exemplo: o aluno que estudou muito e fez uma boa prova tem o direito de que lhe deem uma boa nota; se fez uma ótima prova, a nota também deverá ser ótima. Não é soberba ir reclamar com o professor no caso de que a nota tenha sido baixa ou menor do que aquela que ele julgava justa. Em nome da verdade e sem falsa humildade, o tal aluno pode – e até deveria – reclamar e lutar pelos seus direitos.
Como se pode ver: a humildade nos ajuda a andar em verdade!
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 25º Domingo do Tempo Comum — ANO B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (TIAGO 3, 16-4, 3)
INTRODUÇÃO: Tanto para a convivência fraterna, dentro da comunidade cristã, como para a relação desta com o mundo externo, devemos optar entre dois estilos: rivalidade invejosa e litigante, ou a paz que gera justiça; ou seja, entre ambição de poder ou diaconia fraterna. Santiago assinala a origem das discórdias comunitárias: a ganância e a ambição, que nascem do egoísmo e da satisfação das paixões próprias. A Sabedoria verdadeira, que depende da infusão da ciência divina, impele o homem para a paz e a concórdia. A sabedoria humana nasce das paixões do homem caído e contribui à desordem que hoje impera no mundo. Qual deve ser a nossa escolha?
ORIGEM DOS CONFLITOS: Onde, pois, inveja [zelos<2205>=zelus] e contenda [erzitheia<2052> = contentio], lá confusão e toda obra iníqua (16). Ubi enim zelus et contentio ibi inconstantia et omne opus pravum. INVEJA: Definiríamos zelos<2205> como uma rivalidade invejosa e ciumenta. A CONTENDA: Epitheia<2052> é o desejo de ocupar os primeiros lugares de promoção e consequentemente de luta inglória para tal fim, como vemos em Fp 2, 3. Em 1 Cor 3, 3 temos quase os mesmos termos: inveja entre os fiéis. Que acabam em contenda: Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem? CONFUSÃO: Akatastasia <181>, cujo significado é desordem, distúrbio, confusão. No evangelho de Lucas temos o único lugar em que aparece com a tradução de revoluções: Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam estas coisas, mas o fim não será logo. OBRA INÍQUA: Faulos<5337>com o significado de fácil, ordinário, vil, mesquinho e, do ponto de vista moral, mau, baixo, iníquo. Com o significado de mal, como substantivo, temos Jo 3, 20: Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem arguidas as suas obras.
A SABEDORIA: Porém, a sabedoria [sofia<467>=sapientia] do alto [anöthen<509>=desursum] principalmente é pura [agnë<53>=pudica], depois pacífica [eirënikës<1933>=pacifica], indulgente [ epieikës<1933>=modesta] tratável [eupeithës <2138> = suadibilis], cheia [mestë <3324> = plena] de misericórdia [eleous <1656>=misericórdia] e de bons frutos e imparcial [adiakritos<87>=non judicans] e sem hipocrisia [anupokritos<505>=sine simulatione](17). Quae autem sursum est sapientia primum quidem pudica est deinde pacifica modesta suadibilis plena misericordia et fructibus bonis non iudicans sine simulatione. O apóstolo Tiago aqui revela uma série de qualidades inerentes à sabedoria divina que é participada pelos homens santos. SABEDORIA: Sofia<4678> No seu significado profano é ciência prática das coisas necessárias para a vida, bom senso, juízo, siso, critério, sensatez. Especificamente, em se tratando de coisas divinas seria o conhecimento do Deus único e de seus desígnios na economia humana. Aparece pela primeira vez em Mt 11, 19: Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! Mas a sabedoria é justificada por suas obras. Jesus queria dizer que os juízos dos homens estavam fora da verdadeira ciência de Deus e que suas obras (de Jesus) tão extraordinárias justificavam sua verdade de ser o representante de Deus. Esse era o saber no qual cresciam tanto João como Jesus desde a mais tenra infância (Lc 2, 40 e 2, 52). DO ALTO: Anothen<509> com o significado de um lugar superior, especificamente do céu ou de Deus. Também pode ter o significado de, desde o início ou de novo. Mas aqui, logicamente significa da parte de Deus. PURA: Agnë<53> que excita reverência, venerável, sagrado. Também puro, casto, modesto, imaculado, sem mancha. Em 2 Cor 11, 2: Vos desposei como uma virgem pura a Cristo. O latim pudicus significa recatado, honesto, casto, virtuoso. PACÍFICA: Eirënikës <1516> pacífico, amante da paz. INDULGENTE: Epieikës<1933> apropriado, conveniente, justo, razoável, moderado. TRATÁVEL: Eupeithës <2138> dócil ou fiável e persuasivo; o latim traduz como dócil. CHEIA: Mestos <3324> com o significado de cheio, transbordante ou farto, como vemos em Mt 23, 28: pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e iniquidade. Traduziremos, pois, a sabedoria esta cheia de misericórdia e de bons frutos. MISERIÓRDIA: Eleos <1656> é a virtude pela qual temos compaixão dos necessitados de modo a socorrê-los. IMPARCIAL: Adiakritos <87> sem ambiguidade, sem dúvidas. É a única vez que a palavra é encontrada no NT. SEM HIPOCRISIA: Anupokritos<505> sem fingimento, sem hipocrisia, sem disfarce, sincero. Como vemos a sabedoria, procede de Deus e tem como atributos o amor à verdade e a compaixão para com os homens. O Papa atual dirá, certamente inspirado, a frase de Caritas in Veritate: O amor manifestado na verdade. Ou o amor que unicamente é sincero tem sua base na verdade.
A CONDUTA: Pois o fruto da boa conduta [dikaiosuvës<1343>=iustitiae] é semeado em paz aos que promovem a paz (18). Fructus autem iustitiae in pace seminatur facientibus Deus pacem. BOA CONDUTA: Dikaiosunë <1343> é integridade de conduta, virtude, retidão no pensar, sentir e obrar. Paulo, assim como usou pistis (fidelidade) no sentido de fé, usou dikaiosunë no sentido de ser purificado e aceito por Deus, como um homem sobre o qual o sangue de Cristo limpou as impurezas do pecado. Assim, em Rm 3, 22: a justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os crentes, sem distinção alguma. A PAZ: Eirënë <1515> é a palavra paz em grego clássico, significando ausência de conflitos, mas que, na literatura bíblica, tem um sentido muito mais amplo. Se em termos clássicos denota ausência de conflitos, a paz, segundo a promessa de Deus, era o perdão e, com ele, conseguida a amizade divina, a obtenção dos bens materiais e espirituais correspondentes às promessas feitas por Deus a seu povo. OS PACÍFICOS: assim traduzem os evangelistas os que, em termos gregos literalmente, devem ser traduzidos por: os que constroem a paz, e que temos traduzido por promovedores ou trabalhadores em favor da paz. Essa paz que os discípulos deviam oferecer a seus hóspedes que bem os recebessem segundo Mt 19, 13: Se, com efeito, a casa for digna, venha sobre ela a vossa paz; se, porém, não o for, torne para vós outros a vossa paz.
ORIGEM DAS CONTENDAS: De onde lutas [polemoi<4171>=bella] e contendas [machai <3163=lites] entre vós? Não disso: dos vossos prazeres [ëdonôn<2237>=concupiscentiis], os que labutam [strateoumenôn<4754>=militant] em vossos membros [melesin<3196>=membris] (4, 1). Unde bella et lites in vobis nonne hinc ex concupiscentiis vestris quae militant in membris vestris. Falar de guerras e rumores de guerras. CONTENDAS: O grego Machê <3163> significa batalha, contenda, combate e, em termos de relações humanas, disputas, rixas, brigas. DISSO: Enteuthen<1782> daí, daqui, ou por outro lado. Mt 17, 2: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Ou Jo 19, 18: Crucificaram-no e com ele outros dois, um de cada lado. PRAZERES: Ëdonë grega significa prazer ou desejo libidinoso. Lemos em Lc 8, 14: A semente que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida. LABUTAM: Strateuomai<4754> guerrear ou fazer uma expedição, uma razzia guerreira, lutar. O melhor exemplo é 1 Cor 9, 7: Quem jamais vai à guerra, à sua própria custa? MEMBROS: Melos <3196> um membro, especialmente do corpo humano. É clássica a citação paulina em Romanos 6, 13: Nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. E de modo especial em Rm 7, 23: Mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Como Paulo, Tiago opõe a natureza [o psiquikos paulino] à alma dirigida pelos impulsos do Espírito [o pneumatikos]. Aquela entra na sabedoria humana com todas as consequências de divisão e contendas e esta, dominada e dirigida pela sabedoria que provém de Deus, é pacífica e misericordiosa. É questão de ver em nossas consciências se realmente pertencemos a uma ou a outra classe de humanidade.
OS FRUTOS DA AMBIÇÃO: Ambicionais [epithumeite<1937>=concupiscitis] e não temeis, matais, invejais [zëloute<2206>=zelatis] e não podeis obter [epituchein<2013>=adipisci]. Pelejais [machesthe <3164> =litigais] e guerreais [polemeite <4170>=belligeratis]. Porém não tendes, pois o não pedis [aitesthai <5733>=postulatis] (2). Concupiscitis et non habetis occiditis et zelatis et non potestis adipisci litigatis et belligeratis non habetis propter quod non postulatis. AMBICONAIS: Epithumeö<1937>: literalmente, despejar-se sobre uma coisa: daí cobiçar, pretender loucamente. INVEJAIS: Zëloö <2206>: invejar, cobiçar, presenciar com desgosto o bem alheio. Um exemplo, At 7, 9: Os patriarcas, invejosos de José, venderam-no para o Egito. OBTER: Epitugchanö <2013>: obter, alcançar, conseguir, lograr, adquirir. Das cinco vezes que a palavra sai, temos este exemplo em Romanos 11, 7 Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou. PELEJAIS: do verbo Machomai<3164>, lutar, combater, pelejar, e em sentido não material, disputar, brigar, como em Jo 6, 52: Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne? CONTENDEIS: Polemeö <4170> fazer a guerra, lutar como vemos em Ap 2, 16: Contra eles pelejarei com a espada da minha boca. PEDIS: Aiteö<154> pedir, implorar, suplicar. Sai 71 vezes e como exemplo temos Mt 5, 42: Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes. Neste versículo, Tiago, ao mesmo tempo em que critica condutas erradas, dá a razão pela qual os pedidos são inúteis: são pedidos de coisas iníquas como ambição, cobiça, disputas, triunfos sobre inimigos reais ou imaginários. É impossível que Deus conceda semelhantes rogos que estão fora de seus planos de amor e concórdia, como temos visto que era sua sabedoria no início do texto.
POR QUE NÂO SOMOS OUVIDOS: Pedis e não recebeis porque pedis de modo errado com o fim de esbanjar [dapanësëte<1159>=insumatis] nos vossos desejos [ëdonais<2237>=concupiscentiis] (3). Petitis et non accipitis eo quod male petatis ut in concupiscentiis vestris insumatis. ESBANJAR: Dapanaö<1159> gastar, desperdiçar, esbanjar. CONCUPISCÊNCIA: Ëdonë <2237> prazer, lascívia, concupiscência. A petição, segundo o Senhor, deve ser feita em conformidade com os planos de Deus. Lemos em Mt 6, 8: Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o que tendes necessidade, antes que lho peçais. Simplesmente quer dizer que devemos pedir as coisas necessárias e não as que formam parte de nossos caprichos. Jesus, na oração do horto insistia: Meu Pai, se esta taça não pode passar sem que eu a beba, faça-se a tua vontade (Mt 26, 46). E o que nos pede o Senhor a todos nós como verdadeiros discípulos que pedem como orar é: Seja feita tua vontade tanto no céu, como também na terra (Mt 6, 10).
EVANGELHO (Mc 9, 30-37) - O VERDADEIRO MESSIADO
AS DUAS PARTES: No evangelho de hoje podemos distinguir duas partes diferentes; porém, ambas com uma base comum. A primeira é a segunda predição de Jesus sobre sua sorte definitiva em Jerusalém, cuja viagem acabava de se iniciar. A segunda é a lição sobre quem é o melhor dos seus discípulos. Na realidade, podemos unir ambas sob o conceito de que é preciso perder a vida para ganhá-la definitivamente (Mc 8, 35). Jesus dá com sua própria vida o exemplo paradigmal do que acabava de afirmar como Mestre. Jesus morre como um escravo, o servidor mais humilde, para servir de sacrifício pelos pecados de toda a humanidade, sem distinção. Na sua morte, como aconteceu no seu nascimento, Jesus se coloca no último lugar como serviço à humanidade. Falando de sua morte, um autor dizia que Jesus morreu duas vezes: materialmente como consequência dos sofrimentos da cruz, que era uma morte lenta e a mais cruel de todas como castigo (Cícero), e espiritualmente como homem honrado, pois foi rebaixado até o último lugar: como um maldito, segundo a lei, para os judeus (Dt 21, 23 e Gl 3, 13), e como um proscrito e malfeitor para os greco-romanos (Lc 22, 37). De ambas as mortes Ele se livrou por meio de duas ressurreições: a física e a moral; de modo que a cruz que era símbolo de maldição e estupidez se tornou símbolo da árvore da vida para todo crente que olha Jesus, reinando desde a mesma como Senhor.
A SEGUNDA PREDIÇÃO: E tendo partido dali passavam por meio da Galileia e não queria que alguém o conhecesse (30). Porque ensinava os seus discípulos e lhes dizia: O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens e o matarão; mas três dias depois da morte, ressuscitará (31). Et inde profecti praetergrediebantur Galilaeam nec volebat quemquam scire. Docebat autem discipulos suos et dicebat illis quoniam Filius hominis tradetur in manus hominum et occident eum et occisus tertia die resurget. DALI: Era o monte Tabor, que, segundo a tradição, está no sul da Galileia perto da Samaria, dominando o vale de Jezreel, sobre o qual se eleva com 400 m, solitário. Jesus está a caminho de Cafarnaum. O ensino agora era real e sem parábolas. Mesmo assim, os discípulos, os que sempre o acompanhavam, cujo número não estava limitado aos doze, não entendiam a nova linguagem do mestre e Jesus repetiu até três vezes a nova doutrina. Era essencial que entendessem sua missão em termos reais e verdadeiros; pois, do contrário, era inútil seu ensinamento, por não compreenderem a realidade de sua verdadeira missão como Messias, o Ungido, o Cristo de Deus. Em Jerusalém, tanto ele como os doze esperam o triunfo, a exaltação como Messias. Os discípulos tinham recebido duas lições sobre o tema: uma imediata à resposta de Pedro sobre o messiado de Jesus (Mc 8,31) e a outra no monte da transfiguração, quando, entre duas testemunhas proféticas, se falava de sua morte (Lc 9, 31), se bem que nesta última, só três deles estavam presentes. SERÁ ENTREGUE: Comparando as três predições (Mc 8, 31; 9, 31 e 10, 33) vemos que esta segunda é a menos detalhada. No lugar dos membros do Sinédrio ou Grande Conselho (anciões, chefes sacerdotais e escribas de 8, 31; ou chefes sacerdotais e escribas para ser condenado à morte de 10, 33), temos unicamente que será entregue nas mãos dos homens. FILHO DO HOMEM: Há uma clara distinção entre o Filho do Homem, representante do verdadeiro homem, por Deus querido e criado e os outros homens que seguem critérios contrários ao da divindade. Aquele é rejeitado pelas autoridades religiosas e políticas de Israel e entregue aos homens que eram considerados inimigos de Deus, os gentios de 10, 33. Tanto os judeus que o condenam, como os gentios que o matam, eram os homens que agem fora dos mandatos divinos, mas não fora dos seus desígnios, porque a morte de Jesus era um fato necessário (o dei grego, que pode ser traduzido por estava escrito, decretado). RESSUSCITARÁ: O triunfo final só se alcança com a derrota prévia; a vida eterna só se consegue com a morte da temporal. É a grande lição não só proveniente de Jesus como exemplo, mas de todos os que desejam alguma coisa permanente e duradoura. É o que o Mestre afirma continuamente: quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa, vai salvá-la (Mt 16, 25).
IGNORÂNCIA DOS DISCÍPULOS: Porém, eles não entendiam [ëgnousin<50>=ignorabant] a mensagem [rëma<4487>=verbum] e temiam interrogá-lo (32). At illi ignorabant verbum et timebant eum interrogare. O verbo Agnoeö <50> embora admita a acepção de ignorar, é melhor traduzido por não entender. A palavra Rëma<4487> distingue-se do logos comum, porque esta é uma palavra que não leva incluída uma profecia ou mensagem. Já rëma é a palavra de Deus, aquela que inclui uma mensagem divina, uma proposta de Deus. Não de pão unicamente vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus (Mt 4, 4). O TEMOR: É o mesmo temor que se apoderou dos discípulos quando viram Jesus comandar o mar e o vento (Mc 4, 41).
EM CASA: E vieram em Cafarnaum e chegados em casa, perguntou-lhes: Que, no caminho, entre vós discutíeis?(33). Eles, porém, calaram entre eles; porque discutiram no caminho quem seria (o) maior (34). Et venerunt Capharnaum qui cum domi esset interrogabat eos quid in via tractabatis. At illi tacebant siquidem inter se in via disputaverant quis esset illorum maior. O SILÊNCIO: O evangelista, que descreve a ruindade dos discípulos, para poder apresentar a grande lição de Jesus, diz que a vergonha tomou conta dos mesmos porque não era uma razão suficientemente honrosa a causa de sua decisão. E, como verdadeiros culpados, ao serem interrogados pelo juiz de todos os homens, calaram. Não existiam razões nem desculpas.
A LIÇÃO: Então, tendo-se assentado, chamou os doze e diz-lhes: Se alguém quiser ser primeiro será último de todos e diácono de todos(35). Et residens vocavit duodecim et ait illis si quis vult primus esse erit omnium novissimus et omnium minister. SENTANDO-SE chamou os doze. Era a clássica postura dos mestre de Israel. Assentavam-se sobre um coxim ou almofada, enquanto os discípulos rodeavam o mestre sentados em círculo no chão cruzando as pernas. Jesus dá, pois, aqui uma lição magistral: Se alguém quer ser primeiro, será último de todos e servidor (diakonos) de todos. A tradução é o mais literal possível, pois pretende respeitar a força do original grego, dificilmente traduzida em traduções livres. Também a palavra diakonos indica um serviço voluntário bem diferente de doulos que era o escravo propriamente dito. Diaconia era principalmente o serviço da mesa.
O PAIDION: E tomando uma criança [paidion <3813>=puerum], colocou-a de pé no meio deles e tendo-a abraçado [enagkalisamenov <1723>=complexus], lhes disse (36): Se alguém um das tais crianças receber no meu nome, a mim recebe; e quem a mim receber não a mim recebe mas a quem me enviou (37). Et accipiens puerum statuit eum in medio eorum quem cum conplexus esset ait illis Quisquis unum ex huiusmodi pueris receperit in nomine meo me recipit et quicumque me susceperit non me suscipit sed eum qui me misit. PAIDION: A palavra grega não tem um significado único e esclarecedor. Geralmente é traduzida por menino nos seus primeiros anos, um brotinho em português. Como pode ser uma criatura tão frágil e pequena, paradigma do verdadeiro discípulo de Cristo? Veremos os dois significados, maiormente admitidos pelos exegetas desta palavra: 1o) O menino que Jesus tomou em seus braços era um brotinho de dois ou três anos. 2o) Alguns modernos, ao parecer sem muita lógica, traduzem o Paidion por criado, melhor servo. Porém para este último significado temos o Pais grego para o masculino (ver Mt 8, 2 e Lc 7, 2) e Paidiske para o feminino (Mc 14, 66). Optamos, pois, pelo 1o significado: um broto de poucos anos. Marcos emprega o Paidion para a filha de Jairo em 5, 39-41. A tradução escolhida pelas bíblias portuguesas é criança e a Talita de Marcos, no mesmo contexto, com certeza a palavra original, indica que era uma adolescente: damsel como traduz a bíblia de K James, muchacha em espanhol, fanciulla em italiano, puella em latim e karasion em grego. De tudo isso deduzimos que o Paidion é um vocábulo geral que dificilmente nos dará a chave para saber de que idade era o menino. Porém, o verbo grego seguinte enagkalisomai (tomar nos braços, o complexus latino) indica que a criança era, como dizem os italianos, um bambino, um menino de dois a três anos. Essa criancinha, totalmente dependente e impotente por si mesma, é o motivo da lição maravilhosa de Jesus: Quem recebe a uma criança semelhante a esta é a mim que recebe. Mas Mateus (18, 1-5), o grande catequista, parece que estende a lição de Jesus, tomando como miniparábola a criancinha: Se não vos converterdes e não vos tornardes como as criancinhas, não entrareis no reino dos céus. DE QUE É PARADIGMA UMA CRIANCINHA? De todo aquele que quer entrar no reino. Para isso devemos nos tornar como criancinhas. Qual é a qualidade da mesma que nos transforma no modelo apontado por Jesus? Evidentemente Ele nos dá a solução em Mt 18, 4: Se tornar pequeno (ínfimo podemos dizer), (humiliaverit se, humilhar-se do latim), esse é o maior no reino. Paulo explicará a vida humana do Logos dizendo que se esvaziou a si mesmo da divindade… para se tornar pequeno (ínfimo) e obediente até a morte e morte de cruz (Fl 2, 7-8). Em ambos os casos, usa-se o verbo tapeinoö que significa rebaixar, se tornar insignificante e talvez o último. Nos tempos de Jesus, a criança ocupava o último lugar na escala social, praticamente sem valor, detrás dos escravos e das mulheres. Este é, pois, o ponto de comparação e não a candidez ou falta de maldade de pensamento da criança. Por isso dirá Jesus que se não recebemos o reino como um Dom, algo indevido, como um presente de Deus, como recebe o menino a vida e a comida dos pais, não podemos entrar no reino. O homem nem pode dizer que está melhor preparado, nem afirmar que ele deve ser escolhido sendo melhor que um outro. A graça divina precede, acompanha e termina a vida humana segundo seus planos inescrutáveis, porque olhou com bondade a insignificância de sua escrava, como afirma Nossa Senhora (Lc 1, 48).
PISTAS:
1ª) Os discípulos pensavam que o Reino de Cristo, à diferença do Reino de Deus, este final e definitivo, era terrestre, como o de Davi e devia se manifestar imediatamente em Jerusalém para onde estavam se dirigindo. Porém, nos planos divinos, estava a morte de Jesus como início do seu Reino. Era a exaltação, como João denomina a crucifixão, contra a maldição vista pela lei, ou a vergonha contemplada pelos gentios. Daí que existisse entre eles a disputa de quem devia ser o preferido na escala do Reino.
2ª) Os planos de Deus, um Deus justo, encontram a justificação do pecador no fato de que o Filho, inocente, pague um preço mais do que satisfatório para que o perdão seja mais do que generoso. O sofrimento e o sangue de quem era Filho único, paga pelo perdão de quem era inimigo e quer ser reconhecido como filho.
3ª) O orgulho é um dos pecados mais comuns entre os homens: É querer ser mais, ter mais, sobressair mais do que os outros. Merecemos –pensam – algo melhor do que nos tocou em sorte e atualmente possuímos. Foi o pecado do anjo rebelde. Foi a tentação da liberdade e superioridade proposta pela serpente no paraíso.
4ª) Porém, o evangelho apresenta uma outra solução: A autêntica grandeza está em servir, porque escolhemos o último lugar e assim entregamos a vida, perdendo-a aparentemente. A grandeza está em dar, não em receber; em obedecer e não em mandar e dominar. Há algum serviço que possamos emprestar, alguma gentileza com a qual possamos ajudar o próximo, alguma contribuição que devamos dar para fazer o próximo mais feliz?
5ª) A criancinha representa o impotente, o que não pode retribuir, o verdadeiramente necessitado. Tem sido ela -a criança- a figura de Cristo que guia nossos interesses, domina nossas preferências ou ilumina nossos passos? As palavras de hoje são dignas de serem ouvidas, merecem ser meditadas e principalmente devem ser imitadas.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
CAMPANHA DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA
CLIQUE AQUI, acenda uma vela virtual, faça seu pedido e agradecimento a Nossa Senhora Aparecida pela sagrada intercessão em nossas vidas!
QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus! Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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