GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
18.08.2013
20º DTC - SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
— ANO C
( BRANCO, GLÓRIA, CREIO, PREFÁCIO PRÓPRIO – OFÍCIO DA SOLENIDADE )
__ "Maria é elevada ao céu, alegrem-se os coros dos anjos" __
AGOSTO — MÊS VOCACIONAL — Terceira Semana:
VOCAÇÃO PARA A VIDA CONSAGRADA
Religiosos(as) e Consagrados e Consagradas Seculares
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A liturgia de hoje é dedicada à Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Celebramos, também, a vocação consagrada como manifestação do amor de Deus pelo mundo, e como sinal da resposta do mundo ao amor de Deus. Todos os consagrados, já vivenciaram a experiência de um SIM definitivo a Deus, dado livremente e na totalidade de suas vidas. Em comunhão com eles, queremos celebrar a plena doação que fazem de todo seu ser a Deus através do serviço aos irmãos e irmãs. Como a Virgem Maria, também nós somos destinados à ressurreição, isto é, à participação plena e definitiva na vida de Deus. Mas, para isso, faz-se necessário que sejamos corajosos para acolhermos em nossa vida o Evangelho de Jesus, que é força e causa de salvação para todo o mundo e fonte de energia para a plena doação de nossa vida ao serviço de nossos irmãos e irmãs.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Celebramos a Eucaristia na qual se destaca a glorificação da Virgem Maria por causa do mistério de Cristo. O Dogma da Assunção de Nossa Senhora, proclamado pelo Papa Pio XII em 1950, nos mostra que Deus eleva os humildes e exalta aqueles que se colocam na posição de servos. Maria é servidora por excelência. É imagem da Igreja, povo de Deus a caminho do Reino definitivo. É mãe intercessora, que, junto do Pai, nos abençoa e protege. Dentre os temas do mês vocacional, enfocamos hoje a vida consagrada de religiosos e religiosas e de pessoas consagradas totalmente ao serviço de Deus e do próximo. Maria é modelo tanto da consagração a Deus como do serviço ao próximo.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Maria, imagem da Igreja, glorificada na Assunção, é a criatura que atingiu a plenitude da salvação, até a transfiguração do corpo. É a mulher vestida de sol e coroada de doze estrelas. É a mãe que nos espera e convida a caminhar para o Reino de Deus. A Mãe do Senhor é a imagem da Igreja: luminosa garantia de seu destino de salvação, porque o Espírito do Ressuscitado cumprirá plenamente sua missão em todos nós, como fez nela, que já é aquilo que nós seremos.
Sintamos em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo e entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Ap 11, 19a;12,1.3-6a.10ab): - "Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo."
SALMO RESPONSORIAL (Sl. 44/45): - "Cheia de graça a Rainha está à vossa direita, ó Senhor!"
SEGUNDA LEITURA (1Cor 15, 20-27): - "Deus pôs tudo debaixo de seus pés."
EVANGELHO (Lc 1, 39-56): - "A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva."
Homilia do Diácono José da Cruz — 20ºDTC - Assunção de Nossa Senhora — ANO C
O Céu de Maria
Maria foi assunta ao céu, elevada para junto de Deus em corpo e alma. Se Jesus nos abriu as portas do céu que estavam fechadas, Maria foi o primeiro ser vivente a entrar por ela. Na verdade, em Maria os Filhos degredados de Eva puderam sentir o “gostinho” da volta ao Paraíso e viver de novo na plenitude da comunhão com Deus, como era antes do pecado original. Na vida de Maria, desde o seu nascimento, até a sua “dormição” como preferem denominar o término da sua vida terrena os católicos ortodoxos, a gente vai aprendendo que o céu, dom de Deus, é também uma conquista do homem.
A partir de Jesus nos tornamos todos combatentes “Pois é preciso que ele reine, até que todos os seus inimigos estejam debaixo dos seus pés. O último inimigo a ser derrotado é a morte” afirma o apóstolo Paulo na segunda leitura desse domingo em 1Cor 15, 20-27, mostrando-nos que a conquista do céu vai acontecendo na medida em que, em nossa caminhada vamos combatendo e destruindo as forças do mal, que querem nos levar à morte, para longe de Deus e do seu Paraíso, que é o nosso destino glorioso.
É assim que a vitória de Cristo vai sendo confirmada, pois quando falamos que o céu é dom que Deus nos concede, estaríamos sendo ingênuos se imaginarmos que podemos conquistá-lo sem nenhum esforço. Mas o que mais nos surpreende nessa liturgia Mariana é a bela visão apocalíptica de João na primeira leitura, que vê no céu o sinal de uma mulher Guerreira, destemida e Vitoriosa, imagem que a Igreja atribuiu a Maria, pois para chegar vitoriosa no céu, Maria foi também vitoriosa na terra, aliás, a partir da obra que Deus realizou em Maria, o céu desceu a terra. “Uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés, e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”.
A visão do mal sempre é aterradora, mesmo em uma linguagem simbólica e figurativa como a de João “Um Dragão de sete cabeças e dez chifres, e sobre a cabeça sete coroas” Quem é que não se assusta diante de um bicho feio como este, com tanta força e poder?! Quem é que não se assusta com o mal hoje presente no mundo, marcado por tanta violência, medo, insegurança e o terror? Mas no espaço do céu, que é o lugar de Deus, esse mal tem o poder limitado. “Sua cauda varria apenas um terço das estrelas, atirando-as sobre a terra”, ou seja, a força do bem presente em Maria consegue neutralizar as forças avassaladoras do mal. Mas quem é essa mulher ousada e vitoriosa, que chamamos de Mãe?
No evangelho festivo da Festa da Assunção, na catequese de Lucas percebemos algo encantador, que faz a diferença na vida de Maria, e que faz a diferença nossa vida também: A Força do Espírito de Deus! Prestemos atenção nas expressões verbais colocadas por Lucas, e que indicam uma ação imediata: Maria partiu – dirigindo-se apressadamente – entrou na casa e cumprimentou Isabel. Maria, essa mulher Guerreira e Vitoriosa, deixa-se mover no dinamismo do Espírito de Deus. Sua vida pacata na pequena Nazaré passa por uma “sacudida”, a partir de então, ela se moverá a partir do Espírito de Deus presente nela e que irá impulsioná-la a sair de Nazaré e a sair de si mesma, abrindo-se cada vez mais para Deus e os irmãos e Maria diante da revelação do anjo descobre a sua vocação de servir “Eis aqui a serva do Senhor...”
Tudo começou quando ela se fez pequena diante de Deus, é aí que o céu já começa a acontecer em sua vida. Quando os homens descobrem nessa vida a vocação para o amor, o céu já se faz presente. A entrada de Maria no céu, na Festa da Assunção, é apenas uma referência de sua glória, esta glória do Senhor que a envolveu totalmente, fazendo-a viver para Deus, sem deixar de viver para os irmãos. E quais são as conseqüências, na vida de Maria e em nossa vida, quando nos deixamos mover pelo Espírito Santo presente em nós? Isso é fácil de perceber nessa catequese de Lucas, olhando para a reação de Isabel - “Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria em meu ventre”. Quem é de Deus e a ele pertence e se entrega, transmite a paz verdadeira, o Shalon que traz alegria.
Quando o evangelho narra que Maria saudou Isabel, não foi uma saudação costumeira de Bom Dia ou Boa Tarde, mas sim a saudação desejando a Paz. Maria é anunciadora da Paz e portadora da Salvação, pois ali, naquela região montanhosa em casa de Israel, o Espírito de Deus transbordante em Maria, preenche também a Isabel e lhe revela: Chegou o Salvador, Deus já está entre vós! João dá cambalhotas no ventre de sua mãe e com ele a humanidade inteira pode pular e cantar, dançar e extravasar sua alegria: Jesus já chegou! Chegou através dos pobres e pequenos como Maria e Isabel.
Nossos sonhos e esperança de chegar a esse céu das plenitudes como Maria, já começa a se tornar feliz realidade quando descobrimos a nossa vocação para o amor e o serviço, tornando-nos também portadores dessa Paz e alegria, que vem do Espírito de Deus presente em nós. SALVE MARIA! ( Festa da Assunção –LUCAS 1, 39-5 )
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Costa — 20ºDTC - Assunção de Nossa Senhora — ANO C
“Assunção de Maria ao Céu”
No dia 15 de agosto a Igreja celebra a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, ou Nossa Senhora da Glória.
Diz o Prefácio da Solenidade que proclama maravilhosamente o mistério celebrado: “Hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante, ela é consolo e esperança do vosso povo ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou de modo inefável o vosso próprio Filho feito homem, autor de toda a vida”.
Trata-se de uma verdade de fé, um dogma, proclamada pelo Papa Pio XII, no dia 1º de novembro de 1950: “Terminando o curso da sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”. Ali a esperava o seu Filho Jesus, com o seu corpo glorioso, tal como Ela o tinha contemplado depois da Ressurreição.
As leituras contemplam esta realidade. A 1ª Leitura (Ap 11, 19; 12, 1-10) apresenta uma mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés, e do Filho que ela deu à luz, um varão, que irá reger todas as nações. Nesta imagem a Mulher e o Filho representam Jesus Cristo e a Igreja, mais a mulher confunde-se também com Maria, pois nela realizou-se plenamente a Igreja.
A 2ª Leitura (1 Cor 15, 20-27) completa a idéia da 1ª. Paulo, falando de Cristo, primícias dos ressuscitados, termina dizendo que, um dia, todos os que crêem terão parte na Sua glorificação, mas em proporção diversa: “Primeiro, Cristo, como os primeiros frutos da seara; e a seguir, os que pertencem a Cristo” (1 Cor 15, 23). Entre os cristãos, o primeiro lugar pertence, sem dúvida, a Nossa Senhora, que foi sempre de Deus, porque jamais conheceu o pecado. É a única criatura em quem o esplendor da imagem de Deus nunca se viu ofuscado; é a Imaculada Conceição, a obra prima e intacta da Santíssima Trindade em quem o Pai, o Filho e o Espírito Santo sentiram as suas complacências, encontrando nela uma resposta total ao Seu amor.
A resposta de Maria ao amor de Deus ressoa no Evangelho (Lc 1, 35-56), tanto nas palavras de Isabel que exaltam a grande fé que levou Maria a aderir, sem vacilação alguma à vontade de Deus, como nas palavras da própria Virgem, que entoa um hino de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizou nela.
Ela é a nossa grande intercessora junto do Altíssimo. Maria nunca deixa de ajudar os que recorrem ao seu amparo: “Nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção fosse por Vós desamparado”, rezava São Bernardo. Procuremos confiar mais na sua intercessão, persuadidos de que Ela é a Rainha dos céus e da terra, o refúgio dos pecadores, e peçamos-lhe com simplicidade: Mostrai-nos Jesus!
A Assunção de Maria é uma preciosa antecipação da nossa ressurreição e baseia-se na ressurreição de Cristo, que transformará o nosso corpo corruptível, fazendo-o semelhante ao seu corpo glorioso. Por isso São Paulo recorda-nos (1 Cor 15, 20-26): “Se a morte veio por um homem (pelo pecado de Adão), também por um homem, Cristo, veio a ressurreição. Por Ele, todos retornarão à vida, mas cada um a seu tempo: como primícias, Cristo; em seguida, quando Ele voltar, todos os que são de Cristo; depois , os últimos, quando Cristo devolver a Deus Pai o seu reino…Essa vinda de Cristo, de que fala o Apóstolo, disse o Papa João Paulo II, “não devia por acaso cumprir-se, neste único caso (o da Virgem), de modo excepcional, por dizê-lo assim, imediatamente, quer dizer, no momento da conclusão da sua vida terrena? Esse final da vida que para todos os homens é a morte, a Tradição, no caso de Maria, chama-o com mais propriedade dormição. Para nós, a Solenidade de hoje é como uma continuação da Páscoa, da Ressurreição e da Ascensão do Senhor. E é, ao mesmo tempo, o sinal e a fonte da esperança da vida eterna e da futura ressurreição”.
A Solenidade de hoje enche-nos de confiança nas nossas súplicas. Pois, diz São Bernardo, “subiu aos céus a nossa Advogada para, como Mãe do Juiz e Mãe de Misericórdia, tratar dos negócios da nossa esperança.” Ela alenta continuamente a nossa esperança. Ensina São Josemaria Escrivá: “Somos ainda peregrinos, mas a nossa Mãe precedeu-nos e indica-nos já o termo do caminho: repete-nos que é possível lá chegarmos, e que lá chegaremos, se formos fiéis. Porque a Santíssima Virgem não é apenas nosso exemplo: é auxílio dos cristãos. E ante a nossa súplica – mostra que és Mãe – , não sabe nem quer negar-se a cuidar dos seus filhos com solicitude maternal.
Fixemos o nosso olhar em Maria, já assunta aos céus. Ela é a certeza e a prova de que os seus filhos estarão um dia com o corpo glorificado junto de Cristo glorioso. A nossa aspiração à vida eterna ganha asas ao meditarmos que a nossa Mãe celeste está lá em cima, que nos vê e nos contempla com o seu olhar cheio de ternura, com tanto mais amor quanto mais necessitados nos vê.
No dia dedicado às Vocações Religiosas, Maria é apresentada como Modelo de pessoa consagrada e um “sinal” de Deus no mundo de hoje.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético — 20ºDTC - Assunção de Nossa Senhora — ANO C
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (1 Cor 15, 20-27)
INTRODUÇÃO: Num breve resumo, Paulo formula os planos divinos sobre os destinos da raça humana que em definitivo é a sorte final do Universo. Existe uma luta inicial em que a antiga serpente parece triunfal, mas não ganhará a guerra, embora triunfe em batalhas parciais: o pecado e a morte. Dele cantará a igreja: O felix culpa quae talem et tantum meruit redemptorem [feliz culpa que mereceu tal e tão grande redentor]. E Paulo comentará numa frase lapidária: onde abundou o pecado superabundou a misericórdia [ou a graça](Rm 5, 20). E se isto foi dito em geral, não podemos restringi-lo em cada caso em particular, de modo que o canto de todo fiel salvo deve ser um hino à misericórdia de Deus, que em forma de graça superabundou em sua vida. Paulo especificamente admite que a ressurreição de Cristo seja a base de sua argumentação de modo que nela está a vitória final sobre todos os inimigos, sendo o último a ser derrotado a morte.
CRISTO PRIMÍCIAS: Mas agora Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, feito primícias dos adormecidos (20). Nunc autem Christus resurrexit a mortuis primitiae dormientium. RESSUSCITADO [egëgertai<1453>=resurrexit] na verdade foi levantado [erguido] numa passiva cujo sujeito ativo é Deus como claramente o indica em outra passagem: Deus ressuscitou [egeiren=suscitavit] o Senhor (1 Cor 6,14). PRIMÍCIAS [aparchë <536> = primitiae] era a oferenda dos primeiros frutos, ou da primeira parte da massa, com a qual os pães da preposição eram elaborados. Daí o termo era usado para determinar as pessoas consagradas a Deus em sua totalidade. É a tradução grega do hebraico reshith<7225>, que sai como início em Gn 1, 1 (Be)reshith, [no princípio] Deus criou os céus e a terra. E como primícias dos frutos da terra em Êx 23, 19: As primícias dos frutos da sua terra [reshit bicurei admatecha=as aparchas tön prötogevëmatön tës gës] trarás à casa do Senhor, teu Deus. Como primeiro e principal temos: Balaão disse: Amaleque é o primeiro [reshith=archë] das nações (Nm 24, 20). Vemos como o hebraico reshit pode ser traduzido como aparchë [primícias] ou archë [primeiro ou principal]. Usando Paulo aparchë 6 vezes das 8 que aparece no NT [outra em Tg 1, 18 e outra em Ap 14, 4] todas elas traduzidas por first fruits [primeiros frutos] na KJV. DOS ADORMECIDOS [kekoimënön<2837>=dormientium] no grego é o particípio passado do verbo koimaö, causar o sono, pôr a dormir, com o significado metafórico de calmar, cair no sono, dormir e finalmente morrer. Lemos em Lc 22, 45: Foi ter com os discípulos e os achou dormindo. Com o último significado de morrer, temos em Mt 27,52: Abriram-se os sepulcros e muitos corpos de santos que dormiam, ressuscitaram. E em Paulo, das 8 vezes, todas têm o significado de morrer, como vemos por exemplo em 1 Cor 15, 18: Portanto também os que dormiram em Cristo, pereceram. Como Paulo está falando da ressurreição, dizer que Cristo é primícias dentre os que adormeceram é afirmar que é o primeiro a ressurgir dentre os mortos.
ADÃO E CRISTO: Porque, pois, por um homem veio a morte e por um homem vem a ressurreição dos mortos (21). Quoniam enim per hominem mors et per hominem resurrectio mortuorum. Paulo dirige seu olhar aos inícios da humanidade, segundo a tradição do Gênesis. E encontra a morte como efeito do pecado de Adão. E agora no último Adão (1 Cor 15, 45), temos a causa da nossa ressurreição; pois como diz Paulo, nossos corpos formam parte de seu corpo, como membros do mesmo (1 Cor 6, 15). Comumente da ressurreição, fala-se em termos gerais, mais especificamente como almas unidas num mesmo espírito; mas esta frase de Paulo é clara: o corpo material também entra dentro do pléroma corporal de Cristo. Consequentemente não pode um membro particular estar morto se o corpo está vivo após ressurgir dentre os mortos. A restauração da primitiva ordem, em que a morte não era o último destino humano, mas através da árvore da vida a morte era evitada segundo os planos divinos (Gn 2. 9 e 3, 22), forma parte do plano final da restauração de todas as coisas em Cristo (Ef 1, 10), como alfa e ômega (Ap 1, 8) porque assim como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão vivificados (1 Cor 15, 22).
A RESTAURAÇÃO: Porque assim como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão restaurados à vida (22). Et sicut in Adam omnes moriuntur ita et in Christo omnes vivificabuntur. RESTAURADOS À VIDA: estar vivo, ou reviver e em passiva vivificar, fazer retornar à vida como é nosso caso. Paulo afirma, pois, que todos morrem por serem parte do sêmen de Adão, ou, como agora diríamos, por terem o genoma dele. Mas em Cristo, assim como ele ressuscitou, todos serão devolvidos à vida, porque como corpos formam parte de seu corpo total (1 Cor 6, 15).
ORDEM DA RESSURREIÇÃO: Cada um, pois, em sua própria ordem: primícias Cristo, depois os de Cristo na sua parusia (23). Unusquisque autem in suo ordine primitiae Christus deinde hii qui sunt Christi in adventu eius. PARUSIA [parousia <3952>=adventus] isto é a presença, a vinda, a chegada, e especialmente de Cristo, a vinda gloriosa do céu, para a ressurreição final, o juízo universal e a imposição do seu reino definitivo. Tem o nome grego de parousia para distingui-lo de outra manifestação de Cristo possível na História. É o chamado segundo advento como o declara Mt 23, 27. Existem algumas dúvidas: 1º) Houve ressurreições de mortos antes de Cristo e feitas por ele? Como é que se fala de Cristo como primícias? Uma delas, a feita por intercessão de Elias, voltando à vida o filho da viúva de Sarepta (1 Rs 17, 17-24). Para não falar das feitas por Jesus, como a de Lázaro após 4 dias da morte deste último (Jo 11, 38-44). Todos eles foram ressuscitados da morte, mas nenhum deles foi realmente ressuscitado, no sentido que esta palavra tem em Paulo. Cada um deles tinha seu corpo, ainda sem estar totalmente destruído pela corrupção e foi suscitado da morte para a vida, a mesma que possuía horas ou dias antes, sem que houvesse uma transformação do corpo material em espiritual como afirma Paulo (1 Cor 15, 43-44). Jesus não foi o primeiro a ser trazido de novo da morte, mas o primeiro ressuscitado em corpo glorioso. 2º) Que dizer das palavras de Mateus 27, 52-53: os túmulos abriram-se, os corpos de muitos santos já falecidos, ressuscitaram: saindo dos túmulos, depois da ressurreição dEle. Eles entraram na cidade santa e apareceram a um grande número de pessoas. Em primeiro lugar, estas ressurreições estavam incluídas nas profecias que anunciavam o dia do juízo final em Is 26, 19: Os vossos mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão…porque teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho da vida e a terra dará à luz os seus mortos. Ez 37, 12: Portanto, profetiza e dize-lhes: Assim fala o Senhor Deus: Eis que abrirei a vossa sepultura e vos farei sair dela, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. Finalmente Dn 12, 2: Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna e outros para vergonha e horror eterno. Mateus diz duas coisas: 1º) Se abriram os sepulcros. Isso está em conformidade com o tremor da terra que abriu a tumba do Senhor, e atribuído a um anjo que removeu a pedra da entrada (Mt 28, 2). Caso confirmado pelos outros evangelistas indiretamente, ao afirmar que a pedra estava removida. 2º) As aparições dos mortos. A solução do caso, desta afirmação de Mateus, é difícil. Evidentemente os mortos ressuscitaram após a ressurreição de Cristo, como afirma o próprio evangelista. Com isto está a salvo o que diz Paulo, de Cristo como primícias da ressurreição dos mortos. Mas quem eram os ressuscitados? Antigos profetas que estavam enterrados no vale do Cedrão, como afirmam alguns? Não parece seja esta a melhor solução. Familiares dos vivos na época? É o mais provável, pois a frase de corpos de muitos santos já falecidos, que não discrimina indica que não eram antigos profetas, em cujo caso Mateus o teria dito explicitamente. E que essa nova vida foi temporária e não a eterna da última parusia parece implícita na frase eles entraram na cidade santa e apareceram a um grande número de pessoas. Ou seja, não foram vistas por todos como era de se esperar de uma verdadeira revivificação. Além disso, a ênfase está na aparição e não na ressurreição. Cremos que o fenômeno é semelhante ao que acontece na vida de muitos santos que tem experiência da vida em ultra tumba de pessoas mortas. Consequentemente não podemos anunciar que alguns santos já estão em corpo e alma no Reino dos céus, como é o caso de Nossa Senhora. A ressurreição de que Paulo fala é a do fim dos tempos para a vida eterna como diz o catecismo (988). Por isso ao falar de quando, o catecismo diz, sem dúvida, no último dia ao fim do mundo, pois a ressurreição está intimamente associada à Parusia de Cristo (1001). Em consequência, ao falar da Assunção de Nossa Senhora o mesmo catecismo afirma: Este dogma constitui uma participação singular na ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos demais cristãos (966). Diante da eternidade, o tempo de espera desde a morte até a parusia é como instantâneo de modo que poderíamos afirmar que morte e ressurreição são fenômenos quase simultâneos. Mil anos são como um dia aos olhos do Senhor, dirá o salmista (90, 4).
O FIM: Então o fim, quando entregar o reino ao Deus e Pai, quando tiver abolido todo principado e toda autoridade e poder (24). Deinde finis cum tradiderit regnum Deo et Patri cum evacuaverit omnem principatum et potestatem et virtutem. O FIM [telos<5056>=finis] também término de uma coisa ou de uma era. Um segundo significado é o de taxas alfandegárias, como em Mt 17, 25 em que pedem a Pedro se Jesus não paga o didracma e Jesus pergunta: Simão, que te parece? De quem cobram os reis da terra impostos [telë]. É claro que aqui o significado é o fim, do qual fala Paulo em Rm 6, 22: Transformados e servos, tendes o vosso fruto para a santificação e por fim [telos] a vida eterna. ENTREGAR [paradidömi<3860>=tradidere] passar, entregar, dar, e até atraiçoar, como no caso de Judas (Mt 26, 2). O que é entregue é o Reino dos céus, formado pelos que cumprem a vontade de Deus (Mt 5, 10) como justiça [retidão de conduta]. E quem recebe esse Reino, ou melhor, Reinado, constituído pelos filhos do Reino (Mt 13, 38) é Deus como Pai. Um reino que tem como Rei o próprio Jesus (Jo 18, 47) e como sucessor Pedro a quem entrega as chaves (Mt 18 19) e cujos súditos se distinguem porque o maior dentre eles é como o menor e o que dirige é como o que serve (Lc 22, 26), que Paulo descreve como sendo escravos uns dos outros (Gl 5, 13) e que o próprio Jesus, dando exemplo na última ceia, lavou como escravo, os pés dos discípulos, declarando: Compreendeis o que vos fiz?…Dei-vos exemplo para que como eu vos fiz façais vós também… Se souberdes estas coisas, bemaventurados sois se as praticardes (Jo 13, 12-17). De modo que a frase paulina atribuída a Jesus, mais bemaventurada coisa é dar que receber (At 20, 25) pode ser traduzido em há mais felicidade em servir que em mandar. ABOLIDO [katargësë<2673>=evacuaverit] do verbo katargeö com o significado de tornar inativo, inoperante, ineficaz, acabar ou abolir. Parece que Paulo afirma que o poder não é conforme aos planos de Deus, de modo que no reino definitivo, não haverá tal modo de reinar, mas será o serviço quem ordena as relações entre os filhos do Reino. Jesus, em sua vida terrena, declarou tal método como prática e agora Paulo, ao abolir todo império, o declara como norma futura: Não mais existirá um reino, um que manda ou é superior ao outro, mas somente Deus e seus planos serão os que dirigem o mundo futuro. Eram, por outra parte, tempos em que o império ainda estava sob o Princeps Senatus, título dos Imperadores desde Augusto (ano 28 aC). A Autoridade era o poder moral de quem tem a capacidade para ditar uma norma de conduta. Estava fundamentalmente no Senado. Poder era a potestade de mandar cumprir as normas impostas. Eram os cônsules e pretores e em tempo de guerra o imperador ou general.
OS INIMIGOS: Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés (25). Oportet autem illum regnare donec ponat omnes inimicos sub pedibus eius. DEBAIXO DOS PÉS: Paulo alude ao costume da época de colocar de bruços os vencidos, para que os oficiais vencedores passassem por cima deles, como lemos no salmo 7, 5; e especialmente em Js 10, 24: Josué disse aos principais da gente de guerra que tinham vindo com ele: chegai, ponde os pés sobre o pescoço destes reis. Coisa que Jesus usa como nota do seu messiado em Mc 12, 36. É, pois sinal de absoluta derrota e total submissão. Com isso, Paulo indica uma vitória final.
A MORTE: Último inimigo a desaparecer é a morte (26). Novissima autem inimica destruetur mors. Com esta frase, Paulo afirma que todo mal, é resultado do pecado, pois com o pecado entrou a morte. O primeiro inimigo é Satanás como lemos em Ap 12, 9. Temos também o mundo, que apesar de ser feito por Ele não o conheceu (Jo 1, 10). E a carne, da qual diz Paulo que nela não habita bem nenhum (7,18), de modo que são os três inimigos clássicos do homem. Em lugar de construir, eles destroem a ordem do Senhor em geral e, em particular, em cada homem. Finalmente, Paulo enumera o último, que é a morte. O catecismo fala do mal físico e do mal moral. Como recordação temos as palavras de S. Tomás de Aquino: Por que Deus não criou um mundo tão perfeito que nele não pudesse existir nenhum mal? Deus poderia criar coisa melhor. Porém na sua sabedoria infinita Deus criou um mundo em estado de via, caminhando para sua perfeição e não perfeito (CIC 310). Por isso, tanto os homens como os animais contribuem ao melhoramento do mesmo. Aqueles por instinto, estes por razão. Assim, é importante a escolha do bem, que em Deus é perfeita, pois como diz o catecismo, Deus em sua providência toda-poderosa, pode sacar um bem das consequências do mal, incluso moral, causado por suas criaturas (312). É por isso que todo ato conforme a natureza é agradável, exceto o parto (Gn 3, 16). A base do pecado do homem é dirigir seu fim ao agradável e transformá-lo num fim quando é unicamente um meio.
SOB SEUS PÉS: Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos seus pés: (27). Omnia enim subiecit sub pedibus eius. Paulo usa a mesma linguagem dos salmos, quando fala da suprema condição do homem a respeito do Universo: Deste-lhe domínio sobre as obras de tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste (Sl 8, 6). Mas sobre o homem do AT está o novo homem do NT que é Cristo a quem tudo é submetido. Pois existindo criaturas superiores, não foi aos anjos que sujeitou o mundo que há de vir (Hb 2, 5). Para que por sua morte destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo (Hb 2, 14). De modo que o poder de Cristo está sobre o poder daquele que aparentemente tem o máximo poder como é o da morte ante a qual todos estávamos sujeitos.
EVANGELHO ( Lc 1, 39-56)
OS NOMES: Tendo, pois, se levantado Mariam, naqueles dias foi à montanha, com presteza, a uma cidade de Judá (39). Exsurgens autem Maria in diebus illis abiit in montana cum festinatione in civitatem Iuda. Mariam significa senhora e, segundo Lucas, devemos distinguir seu nome de Maria que é o nome dado à Madalena, ou o nome da irmã de Lázaro, assim como o de Maria Salomé. Lucas expressamente usa Mariam para a Mãe de Jesus. Elizabet, de origem hebraica, significa juramento de Javé. Zacaria(s) significa Javé se lembrou. Segundo o modo de pensar dos judeus, o nome tinha muito a ver com a vida e existência do sujeito nomeado. A Senhora visita a casa de quem foi lembrado por Deus, porque cumpriu seu juramento, dando origem a um bebê [Johanan] que é um dom precioso de Javé. Talvez Lucas não soubesse a metáfora que os nomes significavam. Numa época em que Fílon interpretava as Escrituras de modo simbólico e que teve como sucessores Orígenes e Cirilo de Alexandria, fundadores da escola simbólica escriturária para depois dar lugar à Cabala. Daí podemos deduzir que a possibilidade desta interpretação não é absolutamente irresponsável. A MONTANHA: Termo técnico, semelhante ao Deserto de Judeia, para designar a região entre Jericó e Bethoron, como indicamos na exegese do IV Domingo do Advento de 2007. (Ver comentários exegéticos Número 14 de presbíteros.com. br) Como a resposta de Isabel até o versículo 45 já foi devidamente estudada nesses comentários, neste evangelho de hoje vamos especialmente interpretar o canto mariano por excelência, o Magnificat.
O MAGNIFICAT: É um dos três cânticos que Lucas nos oferece em seu evangelho. Sem dúvida tomando como modelo outros cânticos como o de Moisés, em Êxodo 15, 1-18 e a pequena estrofe de Miriam no versículo 21. Assim se inaugura uma ação de graças com cântico que formam um conjunto de louvores pelos feitos maravilhosos, provindos das mãos do Senhor. Mas o cântico que está mais perto do Magnificat é o de Ana em 1 Sm 2, 1-10. Tenho o coração alegre, graças ao Senhor, e a fronte erguida, graças ao Senhor, minha boca abre-se contra os meus inimigos: eu me alegro por tua vitória. (…) O Senhor torna pobre e enriquece, rebaixa e também exalta. Ergue o fraco da poeira e retira o pobre do monturo para fazê-los sentar com os príncipes e atribuir-lhe o lugar de honra. A questão é se o canto foi um espontâneo de Maria ou foi produto de um poeta cristão posterior. O mais provável é que Maria meditou muito durante a viagem de três dias e o tivesse composto meditando o cântico de Ana e o de Judite: Deus, o nosso Deus, está conosco para manifestar seu vigor em Israel e sua força contra os inimigos (Jt 13, 11). E Louvai a Deus que não retirou sua misericórdia da casa de Israel, mas esmagou nossos inimigos por minha mão esta noite (Jt 13, 14). Se em Ana o impulso que a levou ao cântico é o nascimento do filho, em Judite está a vitória de Israel sobre os inimigos. Ambas as razões estão vivas no cântico de Maria.
ESTRUTURA: Dividiremos o Magnificat em três partes diferentes: 1a) Introdução (47). 2a) razão do louvor (48-53). 3a) A especial providência para com Israel, figura da misericórdia para com ele (54-55). Vamos tentar explicar cada uma das partes, dando no final uma tradução livre do cântico.
INTRODUÇÃO: E disse Mariam: Engrandece a minha alma o Senhor (46). Et ait Maria magnificat anima mea Dominum. E encheu-se de gozo meu espírito no Deus, meu salvador (47). Et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo. É um louvor de agradecimento a Deus que é Senhor [Kyrios] e ao Deus, o seu Salvador [o theós, o soter]. É um beraká ou louvor em alta voz. O grego usa o verbo megalenö, que significa engrandecer tal e qual as traduções portuguesa e italiana. Também a Vulgata usa a palavra magnificat que é uma tradução literal do grego. Porém podemos traduzir livre, mas mais ajustado ao sentido próprio, por exaltar ou glorificar. De fato, esta última é a preferida pela tradução espanhola: Exalta minha alma o Senhor. É, pois um grito de louvor, ou melhor, de ação-de-graças por um benefício recebido. Não podemos esquecer que na língua semita não existe a palavra agradecer que é substituída por louvar ou exaltar. A segunda parte da introdução é o gozo existente por ter visto de perto a ação salvífica divina: E meu espírito encheu-se de gozo no Deus, o meu salvador. Tanto Deus, como Salvador, estão com artigo, indicando uma realidade definida e próxima de Maria.
RAZÃO: Porque fixou seu olhar na insignificância de sua escrava: Eis, pois, desde agora me chamarão ditosa todas as gerações (48). Quia respexit humilitatem ancillae suae ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes. O verbo epiblepö, que mais do que um simples olhar significa observar, prestar atenção [respexit latino] por isso temos traduzido fixou seu olhar. Uma outra palavra mal traduzida é tapeinosis porque o latim traduz por humilitas [humildade] que pode ser uma virtude ativa contrária à soberba e assim foi traduzido às línguas vernáculas. Por isso a tradução espanhola moderna diz se há fijado em la humilde condición de su esclava. Já a italiana diz há considerato l’umiltà della sua serva. As duas portuguesas dirão olhou para a humilhação de sua serva (Bíblia de Jerusalém) e contemplou na (sic) humildade da sua serva (RA evangélica) que é uma construção um tanto irregular. Tapeinosis pode ser também uma condição nativa de impotência e insignificância, ou seja, ser pequeno demais. Daí que o olhar deve ser meticuloso, um observar, como indica o latim [respicio= considerar, olhar com atenção, com piedade]. Doulë=serva que o espanhol traduz como escrava e o latim como ancilla [escrava doméstica], muito melhor que as traduções de serva, pois o doulë grego significa escrava propriamente dita. A primeira razão da ação-de-graças é pois a natureza transcendental ou divina de quem provê a eleição traduzida em benevolência: Deus. A segunda é a pequenez da qual ele se deixou conquistar: escolheu um ser insignificante como é uma escrava. É por isso que todas as gerações a chamarão bendita (de Deus). O grego diz propriamente me abençoarão [chamar bendita] que muitos traduzem por bemaventurada, ou feliz. O que não é realmente uma tradução feliz. Melhor seria, considerarão que sou privilegiada de Deus.
O PRIVILÉGIO(49): Já que fez para mim magníficas (coisas) [megaleios] o Poderoso. Porque Santo é o seu nome (49). Quia fecit mihi magna qui potens est et sanctum nomen eius. Na realidade, megaleios é um adjetivo que significa excelente, magnífico. O PODEROSO era um dos títulos com os quais os judeus substituíam o nome santo Hashem ou HASHEM YITBARAH [o nome recôndito]. É com este nome de PODEROSO que Jesus responde à conjura de Caifás( Mt 26, 64) só que aqui é adjetivo e no momento do julgamento usa-se o substantivo Poder [dynamis]. Por isso, como era costume entre os judeus, termina Maria com um louvor ao nome santo: pois sagrado é seu nome. Ou se queremos calibrar melhor diríamos: pois seu nome é único, divino. Traduzimos o Kai grego, como correspondência ao wau hebraico que tem o significado de conjunção causal ou explicativa, tanto como conjuntiva. Será, pois, porque.
A PROVIDÊNCIA DIVINA (50): Porque sua misericórdia é para geração de gerações, aos que o temem (50). Et misericordia eius in progenies et progenies timentibus eum. Maria agora eleva seu olhar, e da intimidade de seu ser, parte para a lei geral da providência divina para com todos os povos: Visto que sua misericórdia se estende de geração em geração para com os que o temem. Maria nos dá uma definição da atuação divina que merece a pena considerar: Deus é misericórdia para os que o respeitam, pois é a maneira que devemos traduzir o fobeo [temer] grego quando referido a Deus. Respeito e reverência, que se traduzem em obedecer suas leis de modo escrupuloso. A misericórdia é um ato de amor correspondente a quem se inclina ao mais fraco para ajuda e consolação. Esta é a linha geral que Maria descobre em Deus através da escolha particular de sua insignificante pessoa.
O BRAÇO (51): Seu braço se mostrou poderoso ao dispersar os arrogantes de pensamento dentro de seu coração (51). fecit potentiam in brachio suo dispersit superbos mente cordis sui. Podemos contemplar dois sentidos na frase: A) O particular de uma batalha em que são derrotados os inimigos de Israel como aconteceu no caso de Judite 9, 4 e 13, 14 e o verbo pode ser empregado com toda a literalidade do mesmo, como dispersar ou desbaratar, do qual fala o salmo 89, 11 esmagaste Raab, como um cadáver, dispersaste teus inimigos com teu braço poderoso, como modelo da canção Mariana. É esse braço cuja destra esplendorosa de poder esmaga o inimigo (Êx 15, 6). B) Ou o sentido geral de todos os que têm orgulho de serem melhores e mais poderosos que os humildes e então o modelo é o canto de Ana: O arco dos poderosos é quebrado, os debilitados são cingidos de força (1 Sm 2,4). Neste último caso optaremos por uma tradução menos literal e no lugar do dispersou usaremos, peneirou como palha, descartando-os, como a palha é descartada do trigo.
OS PODEROSOS (52): Derribou os poderosos dos tronos e elevou os pequenos (52). deposuit potentes de sede et exaltavit humiles. Aos famintos cumulou de bens e aos ricos despediu vazios (53). Esurientes implevit bonis et divites dimisit inanes. PODEROSOS são chamados de dynastes que podemos traduzir por príncipes ou poderosos. A tradução será, pois, destronou os homens de poder de seus tronos e ergueu os de humilde condição (52). Aos necessitados cumulou de bens e aos ricos despediu vazios (53). Neste ponto Maria segue o modelo de Sl 107, 9 e o canto de Ana: Os que viviam na fartura se empregam por comida. Os que tinham fome não precisam trabalhar (1 Sm 2,4-5). Maria segue assim a política de Jesus das bemaventuranças, de modo especial a redação que nós temos hoje de Lucas: Benditos os famintos… Ai de vós os saciados agora.( Lc 6).
ISRAEL O SERVO (54): Protegeu Israel seu servo, para recordar misericórdia (54), como falou aos nossos pais, Abraão e sua descendência para os séculos (55). Suscepit Israhel puerum suum memorari misericordiae sicut locutus est ad patres nostros Abraham et semini eius in saecula. Em Is 41, 8-9 Javé chama a Israel meu servo. A palavra usada é pais que tanto pode significar filho como escravo. Por isso a atuação de Javé com o nascimento de Jesus significa um efeito peculiar de Deus em favor de seu povo. E fez isso lembrado da misericórdia. Um momento peculiar dessa benevolência divina foi o cumprimento de sua promessa dada como palavra divina a Abraão e sua semente [sua descendência] para sempre (55). É uma recordação de Gn 17,7. Esta aliança perene fará de mim teu Deus e o de tua descendência depois de ti.
TRÊS MESES (56): Permaneceu, pois, Mariam com ela uns três meses e voltou para sua casa (56). Mansit autem Maria cum illa quasi mensibus tribus et reversa est in domum suam. Era o tempo que faltava para que Isabel desse à luz seu filho e Maria, sem dúvida, ficou com a anciã parente até o momento do nascimento de João. Assim se explicam os detalhes do mesmo, dos quais Lucas é narrador e Maria, sem dúvida, testemunha.
A TRADUÇÃO: Exulta minha alma ao Senhor e meu espírito encheu-se de gozo no Deus, o meu salvador; porque fixou seu olhar na insignificância de sua escrava. Por isso, pois, desde agora aclamar-me-ão como bendita todas as gerações; já que realizou em mim fatos extraordinários, porque seu nome é divinamente sagrado, visto que sua misericórdia se manifesta de geração em geração em favor dos que o respeitam. Seu braço mostrou-se poderoso ao desbaratar os arrogantes de pensamento no íntimo de seus corações. De modo que obrigou os homens de poder a descer de seus tronos e ergueu os de condição humilde. Aos necessitados cumulou de bens e aos ricos despediu vazios. Protegeu Israel, seu servo, guiado da sua misericórdia, como prometeu a nossos pais, a Abraão e sua descendência para sempre.
PISTAS:
1) O Magnificat de Maria é o canto da maioria dos fiéis humildes, isto é, pequenos e sem ambições, que constituem a maioria dos seguidores de Jesus. Diante das ambições das doutoras do sexo feminino que pretendem o sacerdócio é bom que recitem o cântico com a mesma sinceridade e humildade com que o fez Maria, todas as tardes nas vésperas para aprender que não é com direitos que vamos nos apresentar ao Deus dos pequenos, mas com a sinceridade que a humildade nos dá, ao saber que dele dependemos e que unicamente os que se humilham serão exaltados (Mt 23, 12).
2) Não é pela pessoa em si mesma, que a Igreja exalta e venera Maria, simples criatura, mas pelos grandes favores que recebeu de Deus e que por isso anima os mais desprestigiados a esperar favores desse mesmo Deus que exalta os humildes. Em Maria vemos as maravilhas que Deus pode realizar com as almas que reconhecem sua bondade; o que outros chamariam de méritos.
3) Maria é a única que louva o Senhor de modo a ser exemplo para todas as mulheres. Ela não o disse no Magnificat, mas será Isabel que em termos de santa inveja a declara modelo de todas as mulheres.
4) Maria indica o verdadeiro caminho de salvação do seu Filho: Deus escolhe desde agora os mais imprestáveis segundo o mundo, como diz Paulo (1 Cor 1, 17 –31) e que com clareza óbvia Maria expressa em seu cântico, para que ninguém se glorie em si mesmo.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
11.08.2013
19º Domingo do Tempo Comum
— ANO C
( VERDE, GLÓRIA, CREIO – III SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Não durmam! Fiquem vigilantes!" __
AGOSTO — MÊS VOCACIONAL - Segunda Semana:
VOCAÇÃO PARA A VIDA EM FAMÍLIA
ATENÇÃO ESPECIAL AOS PAIS: ABERTURA DA SEMANA NACIONAL DA FAMÍLIA
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Estamos iniciando a Semana Nacional da Família, com o objetivo de mobilizar toda a sociedade a refletir, redescobrir e promover os verdadeiros valores humanos e cristãos da família. Neste ano, com o tema "Transmissão e Educação da Fé Cristã na Família", a Igreja nos convida a olhar para a família como um lugar privilegiado para vivencia do amor, da esperança e da fé, valorizando este grande tesouro que é a nossa família. Celebrando, hoje, o dia dos pais, queremos trazer a presença de São José como pai terreno de Jesus e, por conseguinte, como modelo de vocação; pois foi fiel a Deus, cumprindo sua missão de pai amoroso e educador. Nesta Eucaristia, queremos render graças a Deus pela nossa família, e pedir que afaste de nós o perigo da busca exagerada de bens materiais que nos impede de buscar o Reino e de viver o Evangelho de forma vigilante.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Celebremos o Dia do Senhor rezando por todas as famílias, cuja vocação é ressaltada no segundo domingo do mês vocacional. Neste sentido, estamos celebrando a Semana da Família na Arquidiocese de São Paulo, para valorizar a importância da vocação à vida familiar como um serviço a Deus e ao mundo.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Em sua reflexão moral, o homem sempre considerou a riqueza, o possuir, um perigo de alienação. Em toda a história do pensamento e das religiões há um apelo ao desapego dos bens materiais, visando à libertação e à realização da pessoa. A pobreza evangélica não está nessa linha: não a nega, mas a transcende. A pobreza evangélica é consequência da fé em Jesus e no advento do reino de Deus. Jesus quis ser pobre e pregou a pobreza não só como libertação espiritual ou moral, mas como condição da encarnação redentora, passagem necessária para a ressurreição e preparação para a sua volta.
Sintamos em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo e entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Sb 18, 6-9): - "Esta mesma noite tinha sido conhecida de antemão por nossos pais."
SALMO RESPONSORIAL (Sl. 32/33): - "Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!"
SEGUNDA LEITURA (Hb 11,1-2.8-19): - "A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê."
EVANGELHO (Lc 12,32-48): - "Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino."
Homilia do Diácono José da Cruz — 19º Domingo do Tempo Comum — ANO C
Estejam Preparados
Todos sabemos que em uma competição sempre vence a equipe melhor preparada, a que treinou mais, se dedicou mais aos exercícios, aprimorou o condicionamento físico, consumiu alimentação balanceada, não fez extravagâncias, dormiu cedo e acordou cedo. Em uma equipe profissional os atletas são submetidos a uma disciplina rígida e que por isso mesmo, requer deles desapegos e renúncias. De vez em quando aparece no grupo um mau atleta que sai de noite para ir para a “Gandaia”, esses não tem futuro e logo a sua má fama será do conhecimento de todas as equipes.
Participar do Reino de Deus não é muito diferente da vida de um atleta dedicado e que leva a sério sua missão e seu trabalho. A primeira condição é não ter medo. Imaginem um atleta ter medo de entrar em campo porque o adversário é muito forte. O Cristão deve ser destemido, principalmente no confronto com as forças do mal, pois o projeto é de Deus e o Reino a ele pertence.
Em segundo lugar fala do tesouro no Céu, para alertar que, o Cristão nunca pode perder o Foco da sua missão e do seu objetivo. Ele não luta por coisas efêmeras que passam, não são essas coisas ilusórias que devem nortear a sua caminhada, seu modo de pensar e de agir, mas sim as coisas do alto, valores que são uma fortuna e um tesouro incalculável, perto das “quinquilharias” que muitas vezes em nossa jornada corremos atrás, desviando nossa atenção do foco principal que é o Reino.
Depois o evangelho fala dos imprevistos que podem ocorrer na missão onde ninguém pode fazer “corpo mole”. Imaginem um atleta que só “enrola”, não treina, não faz exercícios físicos, não se prepara, achando que basta entrar em campo e fazer o trivial. Os treinamentos são justamente para que o atleta supere qualquer marca e exceda as expectativas. Há cristãos que não vigiam, isso é, se acomodam em uma Vida de Fé que não exige muito esforço. Time que entra em campo na condição de Favorito, muitas vezes “pipoca” e acaba surpreendido pelo adversário, por excesso de confiança. Assim também os Cristãos que se julgam já salvos, justos, perfeitos, não precisam fazer muita coisa pois afirmam que têm o Galhardão garantido. Quanto engano!
E finalmente uma palavra chave que aparece no final do evangelho, diante da pergunta de São Pedro, se o assunto era só com eles ou para todos. É a Palavra Administrar, estar á frente, ser o responsável diante das pessoas. Pode ser uma comunidade ou uma Família, uma equipe, uma pastoral. Não importa. O Cristão que descobriu a sua missão de evangelizar e ser testemunho no mundo recebe a Graça de Deus e deve administrá-la com toda responsabilidade, empenho e eficácia, dando sempre o melhor de si para beneficiar aos outros.
A Graça se expande, motiva, alimenta, renova as pessoas com quem o cristão interage e se relaciona. Produzo essa reflexão nos dias em que está ocorrendo a JMJ em nosso País e fico pensando em nosso Administrador Sábio e Fiel que é o Papa Francisco, que poderia ficar acomodado no Vaticano sem expor-se á riscos na visita as Nações, no confronto com os poderosos deste mundo, que muitas vezes são contrários aos ensinamentos do Evangelho.
Fazer-se pequeno para poder melhor servir, parece ser este o lema do Papa Francisco, é esse o perfil do Rebanho que Jesus envia no evangelho de hoje. Aos pequenos ele confia o seu tesouro. Tal qual o atleta que citamos ao início, quanto mais fizermos e irmos fundo nessa experiência com Jesus, mais agraciados seremos.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Costa — 19º Domingo do Tempo Comum — ANO C
“Preocupações”
“Não temais, pequeno rebanho” (Lc 12,32). É estranhável a maneira como o Senhor Jesus nos trata! Diante das dificuldades, das provas e de todo tipo de tribulação, Deus quer que confiemos nele. Que não nos “pré-ocupemos”, ou seja, que não nos ocupemos dos problemas antes mesmo que eles apareçam. Isso seria perder demasiada energia. Sempre teremos dificuldades, mas é preciso afrontá-las com sentido cristão: confiando totalmente em Deus e colocando todos os meios que estão à nossa disposição para vencê-las.
Também à hora de esforçar-nos por vencer as dificuldades, não podemos fazer como aquele senhor, um pai de família, que fumava muito e que, ao chegar a casa contou a seguinte noticia: “acabo de ler numa revista um artigo terrível sobre os males que causa o fumo, tanto é assim que eu já fiz um propósito”. A filha, animada com a notícia, interveio: “Que bom, pai, puxa vida, que alegria o senhor nos dá! E qual é a sua resolução? Parar de fumar?”. Resposta do pai: “Não. Vou parar de ler!” Não dá a impressão que também nós, muitas vezes, em lugar de querermos vencer um problema na vida espiritual, o promovemos? Isso talvez seja devido a algum apego oculto ao pecado.
O equilíbrio entre ter sanas ocupações e não preocupar-se é como estar numa corda bamba. É verdade: um pai de família tem que se “preocupar” em que não falte nada à sua família, mas não preocupar-se caso falte em algum momento; o jovem estudante tem que fazer de tudo para não reprovar determinada matéria, mas… caso reprove… Fazer o quê? Não preocupar-se e estudar mais. Um empresário sempre terá que verificar como vão as finanças, se pode fazer novos investimentos, se pode contratar novos funcionários, mas, ao mesmo tempo, saber entregar tudo nas mãos de Deus que cuida de todos.
Uma pessoa que confia em Deus sabe que todos os acontecimentos obedecem a uns desígnios aprovados ou pelo menos permitidos por parte do seu Pai do céu e que, por tanto, tudo acabará bem. Nós já encontramos o nosso tesouro, já vendemos tudo o que possuímos por esse tesouro e não necessitamos tesouros de poder, de glórias humanas, de faustos vazios, de dinheiros amontoados, o nosso é “um tesouro inesgotável nos céus, aonde não chega o ladrão e a traça não o destrói” (Lc 12,33). Aí está o nosso coração!
“Não andeis preocupados com a vossa vida, pelo que haveis de comer; nem com o vosso corpo, pelo que haveis de vestir. A vida vale mais do que o sustento e o corpo mais do que as vestes” (Lc 12,22-23). Com essas palavras, Jesus nos ensina a ter uma escala de valores: a vida vale mais! E em primeiro lugar, a vida da graça, da oração, dos sacramentos. Quantas preocupações por trabalhar mais, ganhar mais dinheiro e, ao mesmo tempo, quantos esquecimentos da Missa dominical, da oração, da família, dos filhos, dos amigos, do lazer! Poder-se-ia acabar rico e infeliz. Diante das diferentes facetas da existência, ocupar-se somente de uma – a de alimentar o próprio corpo e ganhar mais e mais dinheiro – nos faz profundamente empobrecidos. Preocupar-se tanto e ocupar-se de tão pouco? Qual é a ordem dos nossos valores? Quem ocupa o primeiro lugar na nossa vida? Deus, o dinheiro, os problemas?
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético — 19º Domingo do Tempo Comum — ANO C
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
Epístola (Hb 11, 1-2. 8-19)
INTRODUÇÃO: Escrita entre os anos 64-66 sendo os designatários os cristãos da Palestina, deslumbrados pelo culto mosaico no templo. É uma carta de exortação para que não abandonem a fé, porque aparentemente o culto cristão era inferior ao cerimonioso das grandes festividades que apareciam em todo se esplendor, diante das multidões que enchiam os pátios do templo. O autor, antigamente atribuído a Paulo, é praticamente desconhecido. O fundo é paulino, mas a forma é de um autor com melhor domínio do grego clássico, de origem africana. Talvez Apolo, o culto alexandrino, companheiro e colaborador de Paulo (At 18, 24).
O ALICERCE: Porque a fé é o alicerce dos fatos que se esperam, a prova das [coisas] que não são vistas (11). Est autem fides sperandorum substantia rerum argumentum non parentum. ALICERCE [ypostasis<5287>=substantia], segundo o dicionário é o fundamento ou infraestrutura que serve de base a um edifício. Em sentido não material é a realidade, o fato que garante uma ideia ou opinião, dando a esta uma firmeza e segurança. A tradução latina de substantia indica essência, natureza, bens ou patrimônio e matéria de que está feita uma coisa. Ou seja, indica uma realidade como oposta a uma imagem, visão, ou utopia. Vejamos as diversas traduções: garantia (Nácar Colunga), certeza (RA), fundamento (CEI), modo de possuir desde agora (TEB), substance (KJV), substantiation [=comprovação] (Green literal). É uma definição empírica e em função das coisas que se esperam, não uma definição estritamente teológica. É a resposta de por que esperamos e de que coisas esperamos. Porque existem bens ainda não possuídos que excitam nossos desejos e quem agora os propõe é a fé, em cujo crédito colocamos nossa esperança. Em lugar paralelo da mesma epístola, a tradução é confiança, ou firmeza, ou estabilidade (Hb 2, 14). PROVA [elegchos<1650>=argumentum] é a prova, evidência, que se transforma em convicção fora de toda dúvida. Também tem o sentido de refutação em 2 Tm 3, 16: toda a Escritura é inspirada e útil para o ensino, para a refutação. Aqui logicamente é prova como indica o argumentum latino, que até pode ser traduzido por evidência, ou indício sólido. A fé é a prova de realidades que não podemos ver. Evidentemente que são as realidades de ultra tumba, ou celestes como as chama Paulo. E não só a prova, mas a garantia de que serão nossas, se nessa fé perseveramos.
OS ANTEPASSADOS: Nela foram testemunhas os anciãos (2).. In hac enim testimonium consecuti sunt senes. O autor agora traz uma série de experiências, consignadas pelos escritos sagrados, de como a fé foi parte essencial da vida dos antigos patriarcas, que, por isso, receberam as bênçãos do céu. Essas vidas acrescentam testemunhalmente o valor da fé, em comparação com os sacrifícios do templo, aos quais tão devotos se mostravam os primitivos cristãos provindos dos judeus. Os antigos, desde Abel, [que não sai neste trecho epistolar] todos eles viveram da fé e pela fé na palavra de Deus. Essa fé foi a que fez grandes ante Deus e ante a verdadeira história, os homens do AT. Vejamos os diversos exemplos.
ABRAÃO: Pela fé chamado, Abraão obedeceu, para sair ao lugar que devia receber como herança e saiu sem saber onde ir (8). Fide qui vocatur Abraham oboedivit in locum exire quem accepturus erat in hereditatem et exiit nesciens quo iret. Nos versículos 4-7 o autor fala dos dois exemplos mais conhecidos: Abel e Noé. Eram fatos que não entravam dentro da história propriamente dita. Mas com Abraão já podemos falar de fatos históricos, da voz de Deus e da obediência básica do homem que é acreditar na palavra divina, como verdade acima de sua verdade e viver assim sua fé, na mesma. Abraão é por excelência o homem da fé: Em três momentos de sua vida a fé mudou seu modo de existência: ao abandonar sua terra; ao receber o anúncio de que em sua velhice teria um filho; e ao obedecer o terrível mandato de sacrificar esse mesmo filho. O resumo de hoje se inicia no capítulo 12 do Gênesis. Neste versículo temos o início da vida de fé de Abraão. Sua saída da terra dos ancestrais em forma de obediência ao chamado de Deus, feita como resposta fiel, que era a emunah<0530>, fidelidade mais do que fé.
FRUTOS DA FÉ: Pela fé se estabeleceu na terra da promissão como estrangeiro, em tendas habitando junto com Isaac e Jacó os co-herdeiros dessa mesma promessa (9). Fide moratus est in terra repromissionis tamquam in aliena in casulis habitando cum Isaac et Iacob coheredibus repromissionis eiusdem.FÉ [pistis<4102>=fides] pistis é a tradução de emunah [=fidelidade] e às vezes de emeth <0571>[=verdade] ou amanah <0548> [=certo, como adjetivo e pacto como substantivo]. A fé [pistis] grega é fidelidade; e, em sentido religioso, a convicção de uma verdade religiosa [belief inglês, ou crença em português]. Para Paulo a fé toma características próprias, ao ser uma confissão no messiado de Cristo e principalmente, na crença em sua ressurreição e consequentemente, na sua primazia sobre todo poder e sabedoria, de modo a ser o Salvador a quem devemos a honra, que no AT era atribuída à Jahveh. É o Messias e o Senhor, ou se queremos como Tomé, nosso Deus e nosso Senhor (Jo 20, 28). PROMISSÃO [epaggelia <1860>=repromissio] anúncio, proclamação, declaração e promessa. Com este último significado temos a única vez que sai nos evangelhos, das 53 do NT, em Lc 24, 49: Eis que envio sobre vós a promessa [epaggelian, promissum] de meu Pai. A promessa constitui o fio condutor de toda a história da salvação que se desenvolve até ver cumprida a mesma em Jesus, o Cristo. No AT a promessa tem o nome de bênção, aliança, juramento. Inicia-se em Gn 3,15 para continuar em Abraão e seus descendentes (Gn 13, 15-17), de modo especial ao afirmar Jahveh: Tu serás uma bênção. Promessa que tem nome apropriado nos evangelhos, especialmente em Lc 1,54-55: Amparou a Israel seu servo… a favor de Abraão e de sua descendência para sempre como prometera aos nossos pais.
A CIDADE: Pois aguardava a cidade que tem fundamentos da que é artífice e fundador Deus (10). Expectabat enim fundamenta habentem civitatem cuius artifex et conditor Deus. Em oposição às tendas que eram habitáculos facilmente desmontáveis, os antigos patriarcas esperavam pela Jerusalém celeste, a cidade que tem alicerces firmes e da qual Deus é o edificador e fundador como lemos em Ap 21, 14. É precisamente a casa do Meu Pai como dirá Jesus (Jo 14, 2) onde há suficientes moradas que Jesus preparou para seus fiéis.
SARA: Também por esa fé, Sara recebeu vigor para conceber sêmen e, fora do tempo da idade, deu à luz, após confiante, acreditar ao prometido (11). Fide et ipsa Sarra sterilis virtutem in conceptionem seminis accepit e. tiam praeter tempus aetatis quoniam fidelem credidit esse qui promiserat. O texto refere-se ao trecho do Gênesis 18, 9-15, quando o Senhor prometeu um filho a Sara, mulher já velha de Abraão. De fato, o texto do Gênesis não é tão claro enquanto a fé de Sara, que inicialmente riu no seu interior, como incrédula, ao ouvir a profecia. Mas que, ao ser repreendida, mudou de opinião como diz Gn 21, 6 e aprendeu de novo a rir, ou seja, a alegrar-se com a esperança de um filho.
A DESCENDÊNCIA: Por isso, também por um nasceram -e esses dum morto- como os astros do céu em multidão e como areia junto da praia do mar, inumerável (12). Propter quod et ab uno orti sunt et haec e mortuo tamquam sidera caeli in multitudinem et sicut harena quae est ad oram maris innumerabilis. Neste versículo temos um comentário do que aconteceu com Sara e Abraão. Este é considerado como morto devido à sua idade, de modo que o sêmen, o homúnculo como se dizia na época, já não existia para a procriação. Daí a expressão de um morto. A descendência de Abraão foi como os grãos de areia do mar: inumerável.
COMO PEREGRINOS: Em conformidade com a fé, morreram todos eles, não recebendo as promessas; pelo contrário, vendo-as de longe e confiantes e abraçando e confessando, porque eram peregrinos e estrangeiros sobre a terra (13). Iuxta fidem defuncti sunt omnes isti non acceptis repromissionibus sed a longe eas aspicientes et salutantes et confitentes quia peregrini et hospites sunt supra terram. O autor comenta, em favor da fé, fatos do AT. Como peregrinos, no sentido romano da palavra, ou seja, como estrangeiros em terra estranha, não receberam as promessas que apontam a uma pátria definitiva que seria a terra prometida [a tua descendência darei eu esta terra (Gn 12, 7)]. Pois Abraão morreu muitos anos antes de que a terra de Canaã fosse a pátria dos seus descendentes. Uma outra opinião é a que opõe a terra onde moraram os hebreus a uma outra, não terrestre, mas celestial, e que unicamente é atingida em esperança, como vista de longe.
A PÁTRIA: Porque os que tais dizem manifestam que buscam a pátria (14). Qui enim haec dicunt significant se patriam inquirere. A pátria é o céu, quer seja porque do céu procede a alma e ao céu volta, ou porque consideram que a terra é lugar de passagem e a definitiva é a morada que Jesus preparou para seus seguidores (Jo 14, 2). Outros pensam em que essa pátria está perto do paraíso do início do Gênesis, de onde foram expulsos os primeiros pais, devido ao pecado original. Era Ur dos caldeus. Coisa que é confirmada ao parecer no versículo seguinte.
LEMBRANÇAS: Pois já que se dela se lembrassem após dela ter saído, teriam oportunidade de voltar (15). Et si quidem illius meminissent de qua exierunt habebant utique tempus revertendi.A que se refere esse versículo? Há quem diz que essa pátria era a antiga Ur na Caldeia de onde saiu Abraão (Gn 11, 31). Esta conclusão parece ser a apropriada, considerando o versículo seguinte, em que pela fé se procura a pátria celeste em oposição à terrena, que no caso deveria ser Ur. Há uma outra possibilidade de que a pátria terrena seja o antigo paraíso e assim poderemos continuar com nossa alegoria da verdadeira pátria que não conseguimos ver a não ser pela esperança que a fé nos dá.
DEUS PREPAROU UMA CIDADE: Mas agora melhor desejam, isto é celeste, portanto não se envergonha deles o Deus, de ser chamado Deus deles; pois preparou-lhes uma cidade (16). Nunc autem meliorem appetunt id est caelestem ideo non confunditur Deus vocari Deus eorum paravit enim illis civitatem. Continuando com Abraão e sua fé, o autor passa da pátria terrena à celeste. Também podemos ver nestas palavras a terra da Palestina, que foi dada aos hebreus e dentro da mesma o único lugar em que Jahveh Deus foi adorado: a cidade de Jerusalém. Caso seja isto verdade, a carta deveria estar escrita antes da ruína de Jerusalém no ano 70. Porém, parece que a palavra celeste, sobre o céu [epouranios<2032>=caelestis], o mesmo adjetivo que distingue o Pai, segundo Mt 18, 35, está indicando uma pátria superior à da terrestre, pois esta seria epigeos[<1919>= terrestris] como distingue Paulo em 1 Cor 15, 40. Aqui termina esta reflexão e começa de novo uma outra sobre um ato de fé, daquele que acreditou contra toda esperança (Rm 4, 18), ou seja, Abraão.
ISAAC: Pela fé ofereceu Abrão a Isaac sendo tentado, e oferecia o primogênito, o recebido pelas promessas (17). Fide obtulit Abraham Isaac cum temptaretur et unigenitum offerebat qui susceperat repromissiones. A quem foi dito que em Isaac será chamado teu sêmen (18). Ad quem dictum est quia in Isaac vocabitur tibi semen. TENTADO [peirazomenos<3985>=cum temptaretur] melhor se traduzimos como provado, assim como foi Jesus pelo diabo no deserto (Mt 4, 1) verbo usado também na mesma situação por Mc 1, 13 e Lc 4, 2. Esse filho, que era o das promessas, foi oferecido como sacrifício por Abraão no monte da terra de Moriá, e no momento em que a faca estava a degolar Isaac o anjo deteve o braço (Gn cap 22). Essa fé em Deus foi tanto mais forte quanto a esperança de Abraão estava toda ela baseada em Isaac, na sua descendência.
FÉ NA RESURREIÇÃO: Estimando que também dentre os mortos suscitar poderoso era (o) Deus, por isso o recebeu em parábola (19). Arbitrans quia et a mortuis suscitare potens est Deus unde eum et in parabola accepit. Porém a fé do patriarca tinha um fundamento sólido: Deus poderia ressuscitar dentre os mortos o filho sacrificado, pois era poderoso para o fazer. Por isso o recebeu em PARÁBOLA: Esta frase merece uma explicação. PARÁBOLA [parabolë <3850> =parabola] materialmente, significa colocar uma coisa ao lado de outra, como quando dois barcos lutam na abordagem. Metaforicamente, é comparação, exemplo, narrativa fictícia e até um provérbio usado como termo de comparação. Vejamos primeiro as diversas traduções: Por isso, o recuperou também em figura (Nácar Colunga). Por isso, numa espécie de prefiguração, ele recuperou o filho (TEB). De onde também figuradamente o recobrou (RA). Isso é um símbolo para nós (Esp). Por isso o recebes também tu como um símbolo (It). Seria o mesmo caso que em 9, 9 em que a construção do templo antigo e a conduta do sumo sacerdote era um exemplo [parabolë] para a época presente. Logo a recuperação de Isaac da morte, por intervenção divina, era um modelo do que aconteceria com Cristo, primogênito também, salvo da morte por desígnio e intervenção do Pai, após o sacrifício da cruz.
Evangelho ( Lc 12, 32-48)
ADVERTÊNCIAS DO SENHOR
INTRODUÇÃO: O evangelho deste domingo tem três exortações diferentes, precedidas de um estímulo inicial: Não temas, (tu) ó pequeno rebanho! (sic) Vamos explicar, ponto por ponto, as diversas partes do mesmo.
1A PARTE: ESTÍMULO INICIAL
NÃO TEMAS: Não temas, ó pequeno rebanho! Porque vosso Pai se agradou em dar-vos o Reino (32). Nolite timere pusillus grex quia conplacuit Patri vestro dare vobis regnum. Com as mesmas palavras [não temas] dirige-se Gabriel, o arcanjo, a Zacarias (Lc 1, 13) e a Maria (1, 30) ao anunciar uma boa-nova, tanto a um como a outra; ou seja, anuncia o evangelho particular de ambos. Sem dúvida, que aqui, Jesus se dirige a seus doze discípulos (12, 22), com uma notícia que é de esperança para eles: porque foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino (32). Que significam estas palavras? Teremos que compará-las com Lc 22, 28-30: porque permanecestes constantemente comigo em minhas tentações; também eu disponho para vós o Reino, como meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e bebais à minha mesa em meu Reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel. O ambiente em que Jesus pronuncia as primeiras palavras é de preocupação, porque o mesmo Jesus viu-se obrigado a ir furtivamente a Jerusalém; já que, como diz Marcos, nessa subida, os discípulos estavam assustados e acompanhavam-no com medo (10,32); ou como narra João, Jesus percorria a Galileia, não podendo circular pela Judeia, porque os judeus o queriam matar. E por isso subiu para a festa, não publicamente, mas às ocultas (ver Jo 7,1-14). Que tipo de reino era esse que o Pai complacentemente iria entregar? Era um convite da mais alta confiança: seriam os convivas no banquete, ou seja, nas delícias da nova escolha do povo, que tinha origem em Jesus, como seu rebanho do qual ele era pastor e rei. Mas dentro das estruturas do Reino, eles deveriam ser os juízes para julgar os que não quiseram entrar e impediram outros de entrarem dentro de sua organização. Jesus promete uma distinção especial que é como entregar os mais cobiçados cargos àqueles que tinham compartilhado das tribulações de Jesus durante sua vida. Outros identificam o julgar com o reinar como foi o caso do livro dos Juízes e assim se compreende melhor o porquê dos doze tronos, próprios dos que reinam e não das cadeiras judiciais. Podemos supor que ambas as opiniões podem entrar: os apóstolos reinarão e julgarão os seus conterrâneos acompanhando o soberano principal a quem o Pai deu o Reino, o poder, e que ele quer compartilhar com seus discípulos, assim como estes compartiram com ele suas adversidades e tribulações. O poder real e o domínio sobre todos os reinos debaixo do céu serão entregues ao povo dos santos do Altíssimo (Dn 7, 27). O pior é que os apóstolos entendem estas palavras de um modo material e estrito que não é precisamente o que Jesus queria deles.
VENDEI VOSSAS PROPRIEDADES: Vendei as vossas possessões e dai esmola; fazei para vós bolsas que não envelhecem um tesouro inextinguível será vosso nos céus onde ladrão não chega nem traça corrompe (33). Vendite quae possidetis et date elemosynam facite vobis sacculos qui non veterescunt thesaurum non deficientem in caelis quo fur non adpropiat neque tinea corrumpit POSSESSÕES: O grego diz literalmente as coisas sobre as quais tendes propriedade. Forma parte do primeiro conselho-mandato de Jesus nesta ocasião. Sem dúvida que uma das preocupações dos discípulos era como manter suas famílias e até a si mesmos sem ter uma base material. Jesus, de novo, dá uma lição de confiança na providência divina que cuidará de modo especial daqueles que dedicaram suas posses à ajuda dos mais necessitados. Quando Pedro pergunta que receberiam eles que tinham deixado seus bens para segui-lo, Jesus responde que receberão muito mais no tempo da vida presente e, além disso, a vida eterna (Lc 18,28-30). Marcos dirá que esse muito mais será cem vezes mais; Mateus, contrariamente ao que Lucas e Marcos narram, restringe a resposta de Jesus aos doze e, portanto afirmará que assentar-se-ão em doze tronos para governar as doze tribos de Israel. Feita esta digressão, observamos como Lucas, no trecho de hoje, aproveita uma lição, aparentemente particular, para estender o ensino à generalidade dos discípulos de Cristo. O melhor que podem fazer é segui-lo, deixando toda propriedade; porque dando seus bens aos pobres terão bolsas que não envelhecem, um tesouro que não falha nos céus, onde ladrão não se aproxima nem traça corrompe (23). Evidentemente que se trata de tesouros em forma de grãos ou mercadorias perecíveis. É a mesma advertência que Mateus recolhe no sermão da montanha: Não ajuntar tesouros [no sentido explicado de depósito ou armazém] onde a traça e a ferrugem os corroem. E os ladrões arrombam e roubam (Mt 6, 19-20). O que era uma exigência para os doze, se transforma agora numa séria advertência para os que querem ser verdadeiros discípulos.
ONDE ESTÁ TEU TESOURO: Porque onde está vosso tesouro aí também estará vosso coração (34). Ubi enim thesaurus vester est ibi et cor vestrum erit. Entendemos por tesouro um amontoado tanto de metais ou coisas preciosas como de mercancias, como trigo, frutos, salgados etc. Parece que Jesus cita um provérbio que não é precisamente religioso, nem muito menos evangélico, e que seria patrimônio de todas as culturas. Um único comentário: podemos substituir o coração por mente ou desejo. O coração do homem, ou seja, a imagem que representa a soma de suas energias e desejos, está sempre concentrado nas coisas que ele pensa serem primárias em sua vida.
2A PARTE: A VIGILÂNCIA
A VINDA DO FILHO DO HOMEM: Estejam vossos lombos cingidos e as candeias acesas (35). Sint lumbi vestri praecincti et lucernae ardentes. Também vós semelhantes a homens que esperam pelo seu senhor quando voltar da festa, para que vindo e bater, imediatamente lhe abram (36). Et vos similes hominibus expectantibus dominum suum quando revertatur a nuptiis ut cum venerit et pulsaverit confestim aperiant ei. Sob este título da vinda do Filho do homem, podemos interpretar os parágrafos seguintes que constituem a segunda parte do discurso de Jesus. Com imagens aparentemente de extrema urgência, Jesus descreve a preparação para o fim escatológico que narra como iminente. Podemos pensar que a escatologia não é uma vinda estrondosa ou espetacular, porque o Reino já está no meio de vós (Lc 17, 21). Alguns comentaristas falam da crise que viria no momento de paixão e morte de Jesus. É por isso que ele pede no horto das oliveiras: Orai para não entrardes em tentação (Lc 22, 40), que em Mateus e Marcos se completa com vigiai e orai para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26,41 e Mc 14, 38). Toda tribulação exige preparação que Jesus descreve com as imagens de cingir os quadris e ter as lamparinas [luzes] acessas. Jesus emprega duas imagens para descrever, não tanto a incerteza do evento como a preparação em termos de vigília dos servidores. Como as túnicas dos orientais eram longas, como se fossem vestidos talares [até os calcanhares] eles as recolhiam, dobrando-as no cinto que cingia seus lombos (1 Rs 18, 46). Devemos distinguir também entre lampas [tocha] que usavam as virgens acompanhantes do esposo e lyxnoi [candeias ou lamparinas] que iluminavam as casas. Estas últimas são as que devem permanecer acesas, esperando a volta do dono de uma festa, pois gamoi em plural, não designa casamento, mas festa em geral; para que ao bater o dono, a porta lhe seja aberta de imediato.
BEMAVENTURADOS: Ditosos os escravos, aqueles os quais vindo o Senhor, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo que se cingirá e os reclinará e, passando entre eles, os servirá (37). Na realidade os servos não fizeram nada mais, além de cumprir seu dever; mas o dono os recompensa de um modo completamente insólito. Ele se torna escravo e os serve à mesa. É o tipo de exageração que ressalta o bem conseguido pela conduta impecável dos servos ao esperar, vigilantes, o seu dono. O caso se torna mais compreensível, caso seja Deus o dono.
AS VIGÍLIAS: E se vier na segunda vigília e na terceira vigília vier e encontrar dessa forma, ditosos são os escravos aqueles (38). Et si venerit in secunda vigilia et si in tertia vigilia venerit et ita invenerit beati sunt servi illi. No cômputo judeu, a noite estava dividida em três vigílias de quatro horas cada uma. A parábola ou exemplo diz, pois, que devemos estar vigilantes como se fosse dia a noite inteira, pois a primeira vigília, é lógico que não sirva para dormir, mas com a terceira completamos a noite como se fosse um dia de trabalho, neste caso de espera. Não importa a hora, o que é preciso é estar despertos para que o dono não encontre os servos dormidos.
O LADRÃO: Isto, pois, sabei, que se o dono da casa conhecesse qual a hora, em que o ladrão havia de vir, vigiaria e não deixaria furar a sua casa (39). hoc autem scitote quia si sciret pater familias qua hora fur veniret vigilaret utique et non sineret perfodiri domum suam. Um outro exemplo para recalcar a necessidade de estar vigilantes e preparados: se o dono da casa soubesse o momento exato em que o ladrão escolhesse para entrar furtivamente, ele vigiaria e não deixaria que sua casa fosse furada. Alude Lucas ao modo de construir as casas, de adobe, de modo que era mais fácil penetrar nelas através de um buraco nas paredes que arrombando a porta das mesmas.
O FILHO DO HOMEM: Também pois vós ficai preparados porque na hora em que não pensais o Filho do Homem vem (40). Et vos estote parati quia qua hora non putatis Filius hominis venit. Parece um acréscimo sem sentido esta alusão. É talvez uma redação reflexiva de Lucas, preocupado com o problema escatológico da vinda do Senhor. Ele traz a observação como um parêntese surgido ao narrar os fatos do evangelho. É curioso que o problema do Reino, que enche grande parte das parábolas e ditos de Jesus nos sinóticos, só aparece em duas ocasiões em João: como explicação a Nicodemos sobre o nascer de novo para entrar no reino e como resposta a Pilatos que pergunta se ele é rei. O problema da vinda triunfante do Senhor era crucial nos primeiros tempos do cristianismo, como vemos na carta primeira aos Tessalonicenses, escrita no verão do ano 50. Essa expectativa está presente em todo este trecho de Lucas em que o Senhor Jesus chama a si mesmo Filho do Homem que aparece em Lucas 24 vezes e sempre com artigo: o Filho do Homem. Precisamente é o artigo que o distingue de um ser humano comum para entrar na escatologia; pois é o Jesus que representa o reino divino como chefe e soberano do mesmo, segundo Daniel 7,13-14. É o Jesus da resposta ao Sumo Sacerdote Kaifás: O Filho do Homem sentado à direita do poder de Deus (Lc 22, 69) e vindo sobre as nuvens do céu (Mt 26, 64). Deste modo, este segundo trecho está relacionado com a expectativa escatológica dos primeiros cristãos. A questão da vigilância é comum com o discurso escatológico da ruína de Jerusalém (Lc 21, 34-36). Esta passagem tem seus duplicados em Mc 13, 33-37 e Mateus 24, 37-44.
3A PARTE: O ADMINISTRADOR FIEL
A PERGUNTA DE PEDRO: Então lhe disse Pedro: Senhor, dizes esta parábola para nós ou também para todos? (41). Ait autem ei Petrus Domine ad nos dicis hanc parabolam an et ad omnes? A parábola é para nós ou para todos? Pedro era o porta-voz dos doze e, por isso, ele pergunta se o ensinado por Jesus em forma de exemplo, é só para eles, os doze, ou para toda a multidão dos quais se consideravam como discípulos. Jesus não responde diretamente à pergunta, mas indiretamente dá uma lição de conduta para todos os que têm na comunidade um cargo de autoridade, de mandato, que deve se transformar em serviço. Todos são administradores com responsabilidade e é sobre como deve ser dirigida e exercitada essa responsabilidade que Jesus narra a seguinte parábola com três tipos diferentes de escravos em postos de responsabilidade.
PRIMEIRO TIPO DE ESCRAVOS: Disse-lhe, pois, o Senhor: Quem, portanto é o fiel mordomo e prudente o qual constituirá o Senhor sobre seu serviço para dar no tempo oportuno a porção de trigo? (42). dixit autem Dominus quis putas est fidelis dispensator et prudens quem constituet dominus super familiam suam ut det illis in tempore tritici mensuram. Ditoso o escravo aquele que vindo o Senhor encontrar fazendo isso (43). Beatus ille servus quem cum venerit dominus invenerit ita facientem. Em verdade vos digo que o constituirá sobre todas as suas posses (44). vere dico vobis quia supra omnia quae possidet constituet illum. MORDOMO [oikonomos<3623>=dispensator] É o mordomo responsável de modo que não exista roubo nem dolo e ao mesmo tempo sábio, inteligente, de forma que saiba distinguir entre o necessário e o puramente acidental, entre o que deve ser feito para gastar e guardar o patrimônio, para o serviço da casa [therapeia<2322>=familia] como diz Lucas, pois o principal era o cuidado de dar no tempo a refeição de pão necessária [ração de trigo no original]. A VOLTA DO DONO: Parece que Jesus está pensando numa ausência e que satisfatoriamente o dono encontra tudo como tinha planejado. Por isso o abençoa e o recompensa como administrador total de suas posses.
SEGUNDO TIPO: Mas se disser o escravo esse consigo mesmo: Demora meu dono em vir. E começa a bater nos criados e criadas, a comer e beber e se inebriar (45). Quod si dixerit servus ille in corde suo moram facit dominus meus venire et coeperit percutere pueros et ancillas et edere et bibere et inebriari. Virá o dono desse escravo no dia em que não espera e na hora que não conhece. E o cortará em dois e a sorte dele porá com os infiéis (46). Veniet dominus servi illius in die qua non sperat et hora qua nescit et dividet eum partemque eius cum infidelibus ponet. O servo irresponsável. Agora Lucas emprega a palavra certa: doulos, escravo, pois, no tempo de Jesus, eram os escravos domésticos os que se encarregavam da administração das casas ricas. Agora o escravo do modelo tem uma conduta que podemos chamar de irresponsável, pois primeiro pensa que seu dono demorará na volta e logo começa a atuar como dono real, batendo nos escravos e escravas e desfrutando da vida, comendo, bebendo e embriagando-se. Parece uma descrição do que era, na época, a vida dos ricos. O resultado de semelhante conduta não pode ser mais desastroso. Virá o dono desse escravo no dia não esperado e na hora que é desconhecida e o partirá em dois (sic) e o colocará entre os que não merecem confiança. Logicamente partir em dois deve ter um significado metafórico, não real, porque logo está vivo como para poder ser colocado entre os servos que não merecem confiança. Ou seja, o tratará como um escravo fugitivo.
TERCEIRO TIPO: Porém, aquele escravo que conhecendo a vontade do seu dono e não se preparou nem fez conforme a vontade dele, será espancado muitas vezes (47). Ille autem servus qui cognovit voluntatem domini sui et non praeparavit et non fecit secundum voluntatem eius vapulabit multas. Jesus descreve a conduta daqueles que conhecem a vontade do dono, mas nem se preparam [para recebê-lo] nem a cumprem, receberão como castigo uma boa surra de paus. Era o castigo comum na época para os escravos cuja conduta desagradava o dono.
ÚLTIMO TIPO DE CONDUTA REPROVÁVEL: Aquele, pois, que não conhece a vontade do dono, mas faz coisas que merecem golpes, será golpeado poucas (vezes). A todo, pois, que muito foi dado muito será exigido dele; e ao que muito lhe foi oferecido [apresentado] mais se pedirá dele (48). Qui autem non cognovit et fecit digna plagis vapulabit paucis omni autem cui multum datum est multum quaeretur ab eo et cui commendaverunt multum plus petent ab eo. O grego termina com o adjetivo poucas ao qual devemos logicamente acrescentar o nome que aqui parece mais apropriado, vezes ou golpes. MORAL DA HISTÓRIA: Deus dá de graça seus dons [o foi dado tem como sujeito ativo Deus, sendo, pois, uma passiva impessoal]; mas não quer que estejamos preguiçosos sem nada fazer. Por isso, termina dizendo que a exigência depende da abundância do dom recebido.
PISTAS:
1) É de destacar a insistência de Lucas e de sua comunidade na esmola como meio de vida cristã. Existem duas maneiras de viver em radicalidade, por não dizer totalidade, o evangelho: renunciar aos bens terrenos, ou repartir com os necessitados as riquezas de que somos administradores e não donos absolutos. A segunda parte pode ser tomada como uma adaptação do evangelho aos dirigentes das comunidades em que devia existir uma administração de bens comuns, como narram os Atos 4, 34-35. Porém, se pensamos que Deus está presente como dono de tudo, também a segunda parte está intimamente unida à primeira, de modo que o dinheiro será o teste para saber quem é melhor administrador e como ele será considerado pelo dono absoluto que é Deus. O dinheiro é apontado como teste de nossa honradez e fiabilidade para com Deus.
2) O nosso tesouro é o amor em nossos corações, que é o maior fruto do Espírito (Gl 5, 22). No caso das riquezas materiais, o amor nos impele a seguir o exemplo de Zaqueu: Dar a metade aos pobres. Isso pelo menos deve ser feito com o chamado supérfluo de nossos bens. Melhor: todo o supérfluo como diz Tobias (4, 16) pertence aos pobres. Por isso uma norma que pode ser exigida na atualidade é que gastemos tanto em esmola como gastamos em diversões. Isso não nos torna mais pobres e torna mais ricos os pobres.
3) A exortação à vigilância é hoje uma exortação a uma vida austera e simples. Não temos uma ameaça de destruição como era a de Jerusalém; porém temos uma ameaça que está num futuro próximo: a do meio-ambiente. Se não sabemos ser austeros em nossas vidas e dilapidamos o que temos, que poderão herdar os futuros habitantes da terra?
4) A última parte do evangelho é, segundo muitos, uma referência ao purgatório. Não é a fé que determina o prêmio ou o castigo; mas a fidelidade à vontade do Senhor. Especialmente se consideramos que o dono é uma figura representativa do próprio Deus.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
CAMPANHA DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA
CLIQUE AQUI, acenda uma vela virtual, faça seu pedido e agradecimento a Nossa Senhora Aparecida pela sagrada intercessão em nossas vidas!
QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus! Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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