GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
13.04.2014
DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR — ANO A
( VERMELHO, CREIO, PREFÁCIO PRÓPRIO – II SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Morrendo, destruiu a morte e deu começo a um novo tempo" __
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A Semana Santa que hoje iniciamos atualiza na comunidade cristã os mistérios centrais da redenção: paixão, morte e ressurreição de Jesus. Por isso, deve alcançar entre nós o nível de uma autêntica vivência da fé. Na verdade, somente a partir da fé se capta o mistério do paradoxo de Cristo: ressurreição, vida e triunfo através da humilhação, da cruz e da morte. No Domingo de Ramos lemos dois evangelhos: um antes de começar a procissão e outro na hora costumeira. Aparentemente o primeiro é festivo e aclama Cristo Senhor e Rei; e o segundo tem o gosto da morte. Contudo, também o relato da paixão, sobretudo na perspectiva de Mateus, aponta para um Cristo vitorioso a quem foi dado todo poder no céu e na terra. Tenhamos presente que a Paixão do Senhor, sem deixar de ser um texto histórico e literário, é uma página para ser rezada, meditada no coração. As palmas bentas que logo mais carregaremos, não sirvam de distração, mas nos ajudem a lembrar o Cristo mártir, vitorioso sobre a morte. Cristo morre condenado por homens, para garantir às criaturas humanas a libertação da injustiça e da morte e a posse da santidade da vida.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Iniciamos a Semana Santa, em que comemoramos os últimos atos de Jesus para consumar sua missão neste mundo. A bênção e a procissão de Ramos, que agora iniciamos, fazem memória da entrada triunfal de Jesus na Cidade Santa, imagem da Nova Jerusalém que acolhe o seu Senhor com júbilo. Participemos deste rito solene e, depois, mergulhemos no mistério da Paixão.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A oferta de sacrifícios a Deus parece constituir, em todos os povos, a expressão mais significativa do senso religioso do homem. Despojando-se de tudo o que lhe pertence por conquista ou pelo trabalho, o homem reconhece que tudp pértence a Deus e lho restitui em agradecimento. E quando uma parte do que foi sacrificado é comida pelos ofertantes, então se estabelece uma comunhão simbólica entre Deus e os comensais, uma participação da mesma vida. Na Bíblia, as tradições sacerdotais nos dão a conhecer uma legislação complexa, que poderia facilmente assumir valor autônomo e, portanto, formalista, esquecendo o significado da ação cultural em relação à salvação integral do homem. Os profetas lembram frequentemente que Deus só aceita as ofertas e sacrifícios se são acompanhados de uma atitude interior de humildade, de oferta espiritual de sí mesmo, de reconhecimento da própria e radical pobreza e da necessidade de uma libertação que nós sozinhos não podemos obter, mas podemo sinvocar e esperar de Deus. Na encarnação, Jesus fez sua a pobreza radical do homem perante Deus e coerente com esta escolha, apoiou-se na palavra do Pai, que nas Escrituras e nos acontecimentos lhe indica o caminho para cumprir sua missão; não se subtraiu à condição do homem pecador, ao sofrimento que provém do egoísmo, nem aos limites da nattureza humanam entre os quais, antes de tudo, a morte. Um homem como todos, um pobre em poder de todos, uma vítima da intolerância, um sacrificado pelos seus...
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, da Caridade, do Jejum e da Oração, preparemo-nos para a Páscoa do Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Is 50,4-7): - "O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida"
SALMO RESPONSORIAL (21/22): - "Ó meu Deus e Pai, por que me abandonastes, clamo a vós e não me ouvis?"
SEGUNDA LEITURA (Fl 2,6-11): - "Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra."
EVANGELHO (Mt 26,14-27,66): - "Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Mateus."
L1. Naquele tempo, 14um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes 15e disse:
L2: O que me dareis se vos entregar Jesus?
L1: Combinaram, então, trinta moedas de prata. 16E daí em diante, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus. 17No primeiro dia da festa dos ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram:
T: Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?
L1: 18Jesus respondeu:
P: Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: O mestre manda dizer: o meu tempo está próximo, vou celebrar a Páscoa em tua casa, junto com meus discípulos.
L1: 19Os discípulos fizeram como Jesus mandou e prepararam a páscoa. 20Ao cair da tarde, Jesus pôs-se à mesa com os doze discípulos. 21Enquanto comiam, Jesus disse:
P: Em verdade eu vos digo, um de vós vai me trair.
L1: 22Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a lhe perguntar:
L2: Senhor, será que sou eu?
L1: 23Jesus respondeu:
P: Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato. 24O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele. Contudo, ai daquele que trair o Filho do Homem! Seria melhor que nunca tivesse nascido!
L1: 25Então Judas, o traidor, perguntou:
L2: Mestre, serei eu?
L1: Jesus lhe respondeu:
P: Tu o dizes.
L1: 26Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o, distribuiu-o aos discípulos, e disse:
P: Tomai e comei, isto é o meu corpo.
L1: 27Em seguida, tomou um cálice, deu graças e entregou-lhes, dizendo:
P: Bebei dele todos. 28Pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados. 29Eu vos digo: de hoje em diante não beberei deste fruto da videira, até ao dia em que, convosco, beberei o vinho novo no Reino do meu Pai.
L1: 30Depois de terem cantado salmos, foram para o monte das Oliveiras. 31Então Jesus disse aos discípulos:
P: Esta noite, vós ficareis decepcionados por minha causa. Pois assim diz a Escritura: “Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho se dispersarão”. 32Mas, depois de ressuscitar, eu irei à vossa frente para a Galiléia.
L1: 33Disse Pedro a Jesus:
L2: Ainda que todos fiquem decepcionados por tua causa, eu jamais ficarei.
L1: 34Jesus lhe declarou:
P: Em verdade eu te digo, que, esta noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes.
L1: 35Pedro respondeu:
L2: Ainda que eu tenha de morrer contigo, mesmo assim não te negarei.
L1: E todos os discípulos disseram a mesma coisa. 36Então Jesus foi com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse:
P: Sentai-vos aqui, enquanto eu vou até ali para rezar!
L1: 37Jesus levou consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, e começou a ficar triste e angustiado. 38Então Jesus lhes disse:
P: Minha alma está triste até á morte. Ficai aqui e vigiai comigo!
L1: 39Jesus foi um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto por terra e rezou:
P: Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. Contudo, não seja feito como eu quero, mas sim como tu queres.
L1: 40Voltando para junto dos discípulos, Jesus encontrou-os dormindo, e disse a Pedro:
P: Vós não fostes capazes de fazer uma hora de vigília comigo? 41Vigiai e rezai, para não cairdes em tentação; pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca.
L1: 42Jesus se afastou pela segunda vez e rezou:
P: Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, seja feita a tua vontade!
L1: 43Ele voltou de novo e encontrou os discípulos dormindo, porque seus olhos estavam pesados de sono. 44Deixando-os, Jesus afastou-se e rezou pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. 45Então voltou para junto dos discípulos e disse:
P: Agora podeis dormir e descansar. Eis que chegou a hora e o Filho do Homem é entregue nas mãos dos pecadores. 46Levantai-vos! Vamos! Aquele que me vai trair, já está chegando.
L1: 47Jesus ainda falava, quando veio Judas, um dos doze, com uma grande multidão armada de espadas e paus. Vinham a mandado dos sumos sacerdotes e dos anciãos do povo. 48O traidor tinha combinado com eles um sinal, dizendo:
L2: Jesus é aquele que eu beijar; prendei-o!
L1: 49Judas, logo se aproximou de Jesus, dizendo:
L2: Salve, Mestre!
L1: E beijou-o. 50Jesus lhe disse:
P: Amigo, a que vieste?
L1: Então os outros avançaram, lançaram as mãos sobre Jesus e o prenderam. 51Nesse momento, um dos que estavam com Jesus estendeu a mão, puxou a espada, e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha. 52Jesus, porém, lhe disse:
P: Guarda a espada na bainha! Pois todos os que usam a espada, pela espada morrerão. 53Ou pensas que eu não poderia recorrer ao meu Pai e ele me mandaria logo mais de doze legiões de anjos? 54Então, como se cumpririam as Escrituras, que dizem que isso deve acontecer?
L1: 55E, naquela hora, Jesus disse à multidão:
P: Vós viestes com espadas e paus para me prender, como se eu fosse um assaltante. Todos os dias, no Templo, eu me sentava para ensinar, e vós não me prendestes.
L1: 56Porém, tudo isto aconteceu para se cumprir o que os profetas escreveram. Então todos os discípulos, abandonando Jesus, fugiram. 57Aqueles que prenderam Jesus levaram-no à casa do sumo sacerdote Caifás, onde estavam reunidos os mestres da lei e os anciãos. 58Pedro seguiu Jesus de longe até o pátio interno da casa do sumo sacerdote. Entrou e sentou-se com os guardas para ver como terminaria tudo aquilo. 59Ora, os sumos sacerdotes e todo o sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de condená-lo à morte. 60E nada encontraram, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas. Por fim, vieram duas testemunhas, 61que afirmaram:
T: Este homem declarou: “posso destruir o templo de Deus e construí-lo de novo em três dias”.
L1: 62Então o sumo sacerdote levantou-se e perguntou a Jesus:
L2: Nada tens a responder ao que estes testemunham contra ti?
L1: 63Jesus, porém, continuava calado. E o sumo sacerdote lhe disse:
L2: Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Messias, o Filho de Deus.
L1: 64Jesus respondeu:
P: Tu o dizes. Além disso, eu vos digo que de agora em diante vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso, vindo sobre as
nuvens do céu.
L1: 65Então o sumo sacerdote rasgou suas vestes e disse:
L2: Blasfemou! Que necessidade temos ainda de testemunhas? Pois agora mesmo vós ouvistes a blasfêmia. 66Que vos parece?
L1: Responderam:
T: É réu de morte!
L1: 67Então cuspiram no rosto de Jesus e o esbofetearam. Outros lhe deram bordoadas, 68dizendo:
T: Faze-nos uma profecia, Cristo, quem foi que te bateu?
L1: 69Pedro estava sentado fora, no pátio. Uma criada chegou perto dele e disse:
L2: Tu também estavas com Jesus, o Galileu!
L1: 70Mas ele negou diante de todos:
L2: Não sei o que tu estás dizendo.
L1: 71E saiu para a entrada do pátio. Então uma outra criada viu Pedro e disse aos que estavam ali:
L2: Este também estava com Jesus, o Nazareno.
L1: 72Pedro negou outra vez, jurando:
L2: Nem conheço esse homem!
L1: 73 Pouco depois, os que estavam ali aproximaram-se de Pedro e disseram:
T: É claro que tu também és um deles, pois o teu modo de falar te denuncia.
L1: 73Pedro começou a maldizer e a jurar, dizendo que não conhecia esse homem! E nesse instante o galo cantou. 75Pedro se lembrou do que Jesus tinha dito: “Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes”. E saindo dali, chorou amargamente. 27,1De manhã cedo, todos os sumos sacerdotes e os anciãos do povo convocaram um conselho contra Jesus, para condená-lo à morte. 2Eles o amarraram, levaram-no e o entregaram a Pilatos, o governador. 3Então Judas, o traidor, ao ver que Jesus fora condenado, ficou arrependido e foi devolver as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e aos anciãos, 4dizendo:
L2: Pequei, entregando à morte um homem inocente.
L1: Eles responderam:
T: O que temos nós com isso? O problema é teu.
L1: 5Judas jogou as moedas no santuário, saiu e foi se enforcar. 6Recolhendo as moedas, os sumos sacerdotes disseram:
T: É contra a lei colocá-las no tesouro do templo, porque é preço de sangue.
L1: 7Então discutiram em conselho e compraram com elas o Campo do Oleiro, para aí fazer o cemitério dos estrangeiros. 8É por isso que aquele campo até hoje é chamado de Campo de Sangue. 9Assim se cumpriu o que tinha dito o profeta Jeremias: “Eles pegaram as trinta moedas de prata – preço do precioso, preço com que os filhos de Israel o avaliaram – 10e as deram em troca do Campo do Oleiro, conforme o Senhor me ordenou! 11Jesus foi posto diante do governador, e este o interrogou:
L2: Tu és o rei dos judeus?
L1: Jesus declarou:
P: É como dizes,
L1: 12e nada respondeu, quando foi acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos. 13Então Pilatos perguntou:
L2: Não estás ouvindo de quanta coisa eles te acusam?
L1: 14Mas Jesus não respondeu uma só palavra, e o governador ficou muito impressionado. 15Na festa da Páscoa, o governador costumava soltar o prisioneiro que a multidão quisesse. 16Naquela ocasião, tinham um prisioneiro famoso, chamado Barrabás. 17Então Pilatos perguntou à multidão reunida:
L2: Quem vós quereis que eu solte: Barrabás, ou Jesus, a quem chamam de Cristo?
L1: 18Pilatos bem sabia que eles haviam entregado Jesus por inveja. 19Enquanto Pilatos estava sentado no tribunal, sua mulher mandou dizer a ele:
L2: Não te envolvas com esse justo, porque esta noite, em sonho, sofri muito por causa dele.
L1: 20Porém, os sumos sacerdotes e os anciãos convenceram as multidões para que pedissem Barrabás e que fizessem Jesus morrer. 21O governador tornou a perguntar:
L2: Qual dos dois quereis que eu solte?
L1: Eles gritaram:
T: Barrabás.
L1: 22Pilatos perguntou:
L2: Que farei com Jesus, que chamam de Cristo?
L1: Todos gritaram:
T: Seja crucificado!
L1: 23Pilatos falou:
L2: Mas, que mal ele fez?
L1: Eles, porém, gritaram com mais força:
T: Seja crucificado!
L1: 24Pilatos viu que nada conseguia e que poderia haver uma revolta. Então mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão, e disse:
L2: Eu não sou responsável pelo sangue deste homem. Este é um problema vosso!
L1: 25O povo todo respondeu:
T: Que o sangue dele caia sobre nós e sobre os nossos filhos.
L1: 26Então Pilatos soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus, e entregou-o para ser crucificado. 27Em seguida, os soldados de Pilatos levaram Jesus ao palácio do governador, e reuniram toda a tropa em volta dele. 28Tiraram sua roupa e o vestiram com um manto vermelho; 29depois teceram uma coroa de espinhos, puseram a coroa em sua cabeça, e uma vara em sua mão direita. Então se ajoelharam diante de Jesus e zombaram, dizendo:
T: Salve, rei dos judeus!
L1: 30Cuspiram nele e, pegando uma vara, bateram na sua cabeça. 31Depois de zombar dele, tiraram-lhe o manto vermelho e, de novo, o vestiram com suas próprias roupas. Daí o levaram para crucificar. 32Quando saíam, encontraram um homem chamado Simão, da cidade de Cirene, e o obrigaram a carregar a cruz de Jesus. 33E chegaram a um lugar chamado Gólgota, que quer dizer “lugar da caveira”. 34Ali deram vinho misturado com fel para Jesus beber. Ele provou, mas não quis beber. 35Depois de o crucificarem, fizeram um sorteio, repartindo entre si as suas vestes. 36E ficaram ali sentados, montando guarda. 37Acima da cabeça de Jesus puseram o motivo da sua condenação: “Este é Jesus, o rei dos Judeus”. 38 Com ele também crucificaram dois ladrões, um à direita e outro à esquerda de Jesus. 39As pessoas que passavam por ali o insultavam, balançando a cabeça e dizendo:
T: 40Tu que ias destruir o templo e construí-lo de novo em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!
L1: 41Do mesmo modo, os sumos sacerdotes, junto com os mestres da lei e os anciãos, também zombaram de Jesus:
T: 42A outros salvou... a si mesmo não pode salvar! É rei de Israel... Desça agora da cruz! E acreditaremos nele. 43Confiou em Deus; que o livre agora, se é que Deus o ama! Já que ele disse: Eu sou o Filho de Deus.
L1: 44Do mesmo modo, também os dois ladrões que foram crucificados com Jesus, o insultavam. 45Desde o meio-dia até às três horas da tarde, houve escuridão sobre toda a terra. 46Pelas três horas da tarde, Jesus deu um forte grito:
P: Eli, Eli, lamá sabactâni?
L1: que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” 47Alguns dos que ali estavam, ouvindo-o, disseram:
T: Ele está chamando Elias!
L1: 48E logo um deles, correndo, pegou uma esponja, ensopou-a em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara, e lhe deu para beber. 49Outros, porém, disseram:
T: Deixa, vamos ver se Elias vem salvá-lo!
L1: 50Então Jesus deu outra vez um forte grito e entregou o espírito.
(Todos se ajoelham em silêncio.)
L1: 51E eis que a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes, a terra tremeu e as pedras se partiram. 52Os túmulos se abriram e muitos corpos dos santos falecidos ressuscitaram! 53Saindo dos túmulos, depois da ressurreição de Jesus, apareceram na Cidade Santa e foram vistos por muitas pessoas. 54O oficial e os soldados que estavam com ele guardando Jesus, ao notarem o terremoto e tudo que havia acontecido, ficaram com muito medo e disseram: “Ele era mesmo Filho de Deus!” 55Grande número de mulheres estava ali, olhando de longe. Elas haviam acompanhado Jesus desde a Galiléia, prestando-lhe serviços. 56Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. 57Ao entardecer, veio um homem rico de Arimatéia, chamado José, que também se tornara discípulo de Jesus. 58Ele foi procurar Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que lhe entregassem o corpo. 59José, tomando o corpo, envolveu-o num lençol limpo, 60e o colocou em um túmulo novo, que havia mandado escavar na rocha. Em seguida, rolou uma grande pedra para fechar a entrada do túmulo, e retirou-se. 61Maria Madalena e a outra Maria estavam ali sentadas, diante do sepulcro. 62No dia seguinte, como era o dia depois da preparação para o sábado, os sumos sacerdotes e os fariseus foram ter com Pilatos, 63e disseram:
T: Senhor, nós nos lembramos de que quando este impostor ainda estava vivo, disse: “Depois de três dias eu ressuscitarei!” 64Portanto, manda guardar o sepulcro até ao terceiro dia, para não acontecer que os discípulos venham roubar o corpo e digam ao povo: “Ele ressuscitou dos mortos!” pois essa última impostura seria pior do que a primeira.
L1: 65Pilatos respondeu:
L2: Tendes uma guarda. Ide e guardai o sepulcro como melhor vos parecer.
L1: 66Então eles foram reforçar a segurança do sepulcro: lacraram a pedra e montaram guarda.
– Palavra da salvação
T. Glória a vós, Senhor.
Homilia do Diácono José da Cruz – DOMINGO DE RAMOS – ANO A
"QUEM É O NOSSO JESUS NESSE DOMINGO DE RAMOS?"
Sabemos que evangelho significa Boa nova ou Boa Notícia, por isso quando deparamos com um dos sinóticos, no caso São Mateus, nesse Domingo de Ramos, é forçoso nos perguntar, como que os pormenores da paixão de Jesus, a sua morte na cruz, poderá nos trazer uma mensagem de Boa Nova... E mais um detalhe importante, se é Domingo de Ramos, que tem como foco a entrada triunfal de Jesus na cidade Santa, como vemos na primeira proclamação, feita antes da procissão de ramos, novamente nos perguntamos, o que poderá haver de triunfal em um acontecimento que irá resultar em uma tragédia?
Sendo o evangelho a Palavra de Deus revelada sob inspiração do Espírito Santo, é necessário abrir o coração para compreendê-lo, e não só a razão. Naturalmente essas questões que a nossa razão apresenta entre outras, longe de manifestar a nossa incredulidade, nos ajuda a migrarmos para o coração, pois, se dermos relevada importância ao fato histórico em si, a comoção que iremos sentir diante desses relatos, será idêntica á que experimentamos diante da obra de um grande taumaturgo. Vamos acabar chorando comovidos, com toda a maldade que fizeram com o Jesus Histórico e jamais conseguiremos entender o que isso tem a ver com a nossa vida. Diante de um evangelho, precisamos sempre ter em mente que se trata de uma reflexão sobre Jesus de Nazaré, feita pelas primeiras comunidades, estamos portanto longe do fato histórico da condenação e morte do Senhor, sobre o qual nenhum resquício chegou até nós, a não ser os evangelhos, que nada mais são do que escritos coletados pelas comunidades e que por isso mesmo requer uma interpretação usando sempre como referência a Tradição e o Magistério da Igreja, que se fundamenta no testemunho dos apóstolos e das primeiras comunidades, como a de Mateus, onde havia muitos judeus convertidos, e já se tinha consciência de que Jesus ressuscitara, e que agora tentam descobrir qual a relação desse Jesus ressuscitado , com aquele Homem Jesus de Nazaré, que foi condenado com 33 anos, e passou por uma morte tão vergonhosa e humilhante.
Sabemos pelo próprio relato, qual foi a atitude da comunidade diante de tal revelação, não guardaram dúvidas ou desconfianças diante da Revelação Divina e concluíram com um belíssimo ato de Fé, que Mateus retratou com fidelidade na exclamação do Oficial Romano “Ele era mesmo o Filho de Deus”!
O evangelista Mateus, preocupado em convencer seus conterrâneos sobre a Verdade de Jesus de Nazaré, usou de uma estratégia ao reler as escrituras, apontando de maneira caridosa e paciente, os textos que a ele se referiam facilitando assim a compreensão sobre o conteúdo das leituras desse Domingo de Ramos, que nos introduzem na Semana Santa, onde se celebra o Tríduo Pascal, enfocando a Vida e a morte, a plena realização e o fracasso, as trevas e a Luz, antagonismos presentes não só na Vida Terrena de Jesus, mas na vida de cada Ser Humano, que a partir de então poderá fazer suas escolhas e decidir-se por uma ou por outra, pois Salvação é exatamente isso, conhecer a Verdadeira Luz, a Vida e a Verdade Absoluta que é o próprio Cristo, e deixar-se atrair por ele tomando a decisão de segui-lo, não mais a partir de uma obrigatoriedade Legal de Caráter Religioso, mas a partir de uma experiência real como ocorreu com as Comunidades de Matheus, e o Oficial Romano, sendo este precisamente o convite e o apelo desse evangelho: que as nossas comunidades revejam toda a caminhada e em uma auto afirmação da nossa Fé, redescubramos: Jesus é o nosso Senhor, o Filho de Deus!
O máximo que se pensou sobre Jesus, é que ele fosse um Profeta, tal qual nos atesta a conclusão do relato da sua entrada em Jerusalém, Mateus não engana seus leitores, pois sendo um Profeta renomado, terá o mesmo destino dos demais, sendo ouvido por poucos, rejeitado por muitos, e finalmente esmagado com a morte. Portanto, aquilo que parece ser um momento de glória, pelo menos na visão nacionalista da Nação de Israel, irá redundar em terrível fracasso! Há Glória sim, presente no regozijo de um Homem totalmente novo, Fiel, que com sua encarnação Divinizou a todos e a cada um dos homens, resgatando neles a imagem e semelhança do Deus Criador. Um homem capaz de ter toda firmeza e confiança em Deus,, mesmo diante das contrariedades e provações, em um contexto que caminha para o iminente fracasso, como esse Servo de Iahweh, assumido pelo Profeta Isaias.e que nessa circunstância provoca a queixa orante do Salmista “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes”
O apóstolo Paulo, na carta aos Filipenses, consegue resumir, de modo magistral, o que Mateus transmite nas entre linhas desse evangelho... O mal presente no coração do homem, do presente, do passado e do futuro, não conseguirá jamais subjugar o Bem Supremo, impondo-lhe o seu domínio. Ninguém o humilhou, mas Ele humilhou-se, ninguém o entregou á morte, mas Ele próprio entregou-se, ninguém foi capaz de rebaixá-lo despojando-o da sua Dignidade de Filho de Deus, Ele próprio rebaixou-se e esvaziou-se de si mesmo.
Podemos então concluir a nossa reflexão desse domingo de Ramos, olhando para o testemunho do Oficial Romano, homem considerado impuro e, portanto, descartado da Salvação pela Religião Oficial, mas que fez a sua experiência com Cristo, e mesmo sem pertencer ao Povo da Promessa, reconheceu Nele aquilo que os Doutores em Escritura não reconheceram. O Oficial viu a revelação do Amor de Deus, naquele Homem que se entregou livremente, porque o verdadeiro amor não é aquele que domina, mas aquele que se deixa dominar, o verdadeiro amor pressupõe uma entrega total, dentro de uma também total liberdade. O verdadeiro amor se aniquila e se deixa esmagar, tornando-se alicerce na construção de algo totalmente novo, que o coração humano busca e sonha, mas que só se consegue encontrar em Jesus, alguém como nós, mas que vislumbrado na Fé, o descobrimos como nosso único Deus e Senhor, Aquele que o Pai exaltou para sempre!
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – DOMINGO DE RAMOS – ANO A
“Junto aos da primeira multidão”
Durante muitos anos eu preguei que a multidão que estava com Jesus na entrada de Jerusalém foi a mesma que depois gritaria “crucifica-o”. No entanto, J. Ratzinger-Bento XVI, no seu novo livro “Jesus de Nazaré – Da entrada de Jerusalém até a Ressurreição”, deu-me outra visão das coisas. Ratzinger nos explica que há duas multidões, a primeira é a que acompanhava a Jesus e que o aclamava com “hosanna” e com “bendito o que vem em nome do Senhor”; a outra multidão foi a que gritou “crucifica-o”. Ainda que não me estranhasse que algumas pessoas que faziam parte da primeira multidão estivessem entre os da segunda, pareceu-me convincente a explicação de Ratzinger. Ajuda-me a ver a primeira multidão de uma maneira mais próxima a nós. As pessoas que aclamam a Jesus no dia de hoje não aparecem como falsas ou mesquinhas e traidoras no porvir. Elas atuavam com um coração sincero. Ainda que as pessoas possam perverter-se, é preciso dar-lhes sempre um voto de confiança.
Nós, quando louvamos e bendizemos a Deus, quando estamos bem perto dele e dizemos que nós o amamos e depois, talvez não muitas horas depois, o traímos com alguma ofensa grave ou pedimos a sua morte a través dos nossos pecados, não estávamos sendo falsos nem hipócritas. Nós que louvamos a Deus, mas depois nos deparamos com as nossas fraquezas patentes, temos que apoiar-nos mais na misericórdia, mas não devemos pensar que estamos fazendo teatro.
Quando nós dizemos nos nossos atos de contrição, “eu não quero mais pecar”, o Senhor sabe que a nossa vontade é débil e sabe que o ofenderemos novamente, no entanto, Deus acredita de verdade, ele não finge que acredita na nossa contrição. Ele conhece o nosso coração e sabe que não queremos enganá-lo, sabe também que nem sempre nós acreditamos nas nossas promessas de fidelidade e de bons desejos. Não é verdade que nalgum momento fizemos um ato de contrição com aquela pergunta mais profunda que questionava a nossa sinceridade para com Deus?
Deus sabe mais. Claro que sim. Não é hipócrita quem peca e se arrepende, não é falso que ofende a Deus e se confessa, não é descarado quem chora os seus próprios pecados e depois se alegra em praticá-los. Não. A debilidade humana existe. E como existe! Mas a graça de Deus também existe. E como existe!
Aclamemos o Senhor no dia de hoje com todas as nossas forças. Nós nem sabemos quando gritaremos “crucifica-o”, talvez nunca mais diremos essas palavras. No entanto, livre-nos Deus da “presunção petrina”. Presunção petrina? Refiro-me àquele episódio no qual Jesus anuncia a Pedro que ele o negaria três vezes. O apóstolo, confiando nas suas próprias forças e no seu amor ao Senhor, diz que isso não aconteceria. Pobre Pedro! Nós já sabemos como termina a história. Graças a Deus termina bem: com um ato de arrependimento, com o perdão de Jesus e com um trabalho apostólico depositado nos ombros de Pedro que o faria não complicar a própria existência, mas simplesmente continuar trabalhando pela glória de Deus e pelo bem dos irmãos.
Não nos compliquemos a existência desde o começo, ou seja, evitaremos inclusive a presunção petrina. Deus nos recorda com frequência: “meu filho, cuidado, confia mais em mim; do contrário, você se quebrará”. Digamos ao Senhor: “é certo, Senhor, reconheço o real perigo de quebrar-me interiormente. Salva-me; do contrário, perecerei.” Digamos com o coração, sem nenhuma falsa humildade: “salva-me!” Não nos assustemos conosco mesmos. Haja sempre paz em nossa alma. Deus é nosso Pai e nós somos os seus filhos. Que mais queremos? Além do mais, o Senhor colocou à nossa disposição os meios para que fôssemos restaurados: a confissão, a comunhão, a oração, a caridade, etc. Permanecendo sempre no caminho de Deus, continuemos o nosso louvor a ele junto aos da primeira multidão: “bendito o que vem em nome do Senhor”.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético — DOMINGO DE RAMOS – ANO A
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
Nota: Este Comentário Exegético é baseado nas leituras da Celebração da Benção dos Ramos.
EPÍSTOLA (Fp 2, 6-11)
INTRODUÇÃO: O trecho é considerado um hino em louvor a Cristo; mas podemos considerá-lo como uma autêntica fórmula de fé em que os cristãos resumiram a vida do Salvador: Um despojamento [Kenösis], um revestimento [sua humanidade], uma humilhação [sua obediência], uma morte sacrifical [de cruz]. A esse destino, livremente assumido, correspondeu sua exaltação [ressurreição] sobre toda criatura [novo nome], que o elevou à categoria divina [Senhor]. Se christianus alter Christus, é assim que deve ser nossa história dentro da História da humanidade, pois foi essa existência a escolhida como caminho e vida pelo Filho de Deus.
A KENÖSIS: O qual (Cristo) em forma de Deus existindo (continuando a existir), não estimou roubo ser igual a Deus (6), mas esvaziou-se a si mesmo tomando a forma de um escravo, em semelhança de homens se tornando (7). Qui cum in forma Dei esset non rapinam arbitratus est esse se aequalem Deo, sed semet ipsum exinanivit formam servi accipiens in similitudinem hominum factus et habitu inventus ut homo. FORMA [Morfë<3444>=forma] é a aparência, figura, ou externa maneira com a qual uma pessoa é vista; diferente do schema <4976> que pode ser traduzido por modelo, aspecto, hábito. A forma indica em si mesma a presença externa com a qual uma pessoa ou coisa pode ser vista e conhecida. EXISTINDO [Yparchön <5225>=esset]: O verbo Yparchö tem como sentido estar por baixo, começar, ou simplesmente ser como em 1Cor 11, 7 quando Paulo fala do varão, como sendo [representando] imagem e glória de Deus. Uma vez pode ser traduzido como viver; por exemplo, em Lc 7, 25 em que fala dos vivendo [yparchontes] em palácios. As traduções antigas falam de subsistir com o significado de existir ou continuar existindo, permanecer. Talvez pudéssemos traduzir por permanecendo em forma de Deus, ou continuando a ser Deus, que indica não deixando de ser Deus. ESTIMOU [Ëgeomai <2233>=arbitrare]: A tradução primária é liderar, conduzir e também considerar, estimar, julgar, pensar, como parece ser o caso. Um exemplo em 2 Cor 9, 5: Julguei [ëgësamën] pois necessário. Assim temos traduzido por estimar. ROUBO [Arpagmos<725>=rapina]: traduzido como roubo, latrocínio, furto, apoderar-se de uma coisa imprópria ou que não lhe pertence. É a única vez [ápax] que acontece no NT. O significado é que a divindade era própria dEle e não houve mistificação ou apropriação imprópria da divindade em sua pessoa. ESVAZIOU-SE [Ekenösen<2758>=exinanivit]: o verbo Kenoö significa esvaziar. A fé se torna vazia e a promessa nula dirá Paulo em Rm 4, 14. O significado é que externamente nada demonstrava do que podia ser atributo, qualidade ou sinal distintivo da divindade. Pelo contrário o que era próprio dEle foi anulado porque tomou totalmente outra maneira de ser visto e esta foi a puramente humana, que Paulo chama aspecto de um escravo. O DOULOS [<1401>=servus] não pode ser traduzido por servo, pois estes não existiam na época ou eram chamados diakonoi. A tradução, pois, deve ser escravo, condição última entre os homens e que estavam à disposição do amo sem ter vontade própria. A mesma Virgem Maria declara ser escrava do Senhor (Lc 1, 38), indicando a total submissão e obediência ao que desde então seria seu Senhor. SEMELHANÇA [Omoiöma <3667>=habitus]: semelhança, parecido, aspecto, forma. Esse aspecto é o de um homem, ou, segundo a tradução direta, aspecto de homens em plural. Como conclusão, temos que Cristo tem como essência a divindade e que a humanidade foi como um vestido ou aspecto externo com o qual foi reconhecido entre os homens de seu tempo. A Igreja interpreta esta passagem declarando: uma pessoa divina e duas naturezas: divina primeiro, como increada e eterna e logo, humana, como criada e assumida.
OBEDIÊNCIA: E sendo encontrado em hábito como homem, humilhou-se feito obediente até (a) morte, morte, porém de cruz (8). Humiliavit semet ipsum factus oboediens usque ad mortem mortem autem crucis. HÁBITO [ Schëma <4976>=habitus]: Em grego significa figura, modo de se comportar, maneira de proceder ou viver. A Vulgata tem a primeira parte como porção do versículo anterior [habitus inventus ut homo]. A ideia subsistente é que Cristo se comportou como um homem comum, sem que a diferença com a divindade pudesse ser vista pelos contemporâneos. HUMILHOU-SE [Etapeinösuin <5913>=humiliavit]: de Tapeinoö que significa humilhar, rebaixar, degradar, abater, abaixar. A ideia é que Cristo desceu até uma posição humilde e humilhante, pois o eauton designa que ele quis tomar essa postura voluntariamente como forma que o rebaixou até uma escravidão total como foi sua obediência até a morte. Porém não uma morte natural, que já seria aceitar um fim indigno de um Deus, mas uma morte de CRUZ [Staurou<4716>=crucis]. Hoje só temos uma visão bastante desluzida do que era a morte de cruz. Só falamos em sofrimentos físicos, mas não pensamos na humilhação que a acompanhava. A cruz era degradante e infamante. Era tratar o homem como um escravo que não tivesse outro direito a não ser o aviltamento e o desprezo. Vejamos o que Pedro pensava da cruz: Senhor, não acontecerá isso a ti (Mt 16, 22). E sobre a humilhação temos as palavras de Jesus: Quando envelheceres estenderás tuas mãos e um outro te cingirá e te conduzirá para onde não quiseres (Jo 21, 18) que parece que o tratará como um animal, mas que era o modo de como os condenados eram conduzidos entre os abusos da multidão apos ouvir: I, lictor, obnubilato capite, duc illum in crucem (Vai lictor, coberta a cabeça, conduze-o à cruz). A cruz era a mais cruel e mais humilhante morte que um homem podia pensar e a essa morte se submeteu voluntariamente Jesus de Nazaré. Dou minha vida, pois ninguém a tira de mim. Eu conheço o Pai e dou a minha vida pelas minhas ovelhas (Jo 10, 15) e é por isso que meu Pai me ama porque eu dou a minha vida (idem 17) ninguém a tira de mim, mas eu a entrego por mim mesmo… este é o mandato que eu recebi de meu Pai (idem 18). Em tudo isso encontramos a obediência de Cristo que resulta em humilhação e morte de cruz.
EXALTAÇÃO: Por isso, também [o] Deus o exaltou e o presenteou com um nome sobre todo nome (9). Propter quod et Deus illum exaltavit et donavit illi nomen super omne nomen. Neste versículo temos a reação do Pai que premeia a obediência do Filho. A EXALTAÇÃO [Yperypsösen <5251>=exaltavit] que composto de Uyper [sobre] e Ypsoö [exaltar]; na realidade significa, pois, exaltar sobremaneira. E Paulo explica, dizendo que lhe concedeu um NOME [Onoma<3686>=nomen] no lugar da pessoa. Entre os hebreus, o nome próprio estava relacionado com Javeh, e era uma espécie de qualificação ou destino, de modo que temos vários casos em que Jahveh, ou o anjo do mesmo, comuta o nome: Jacó em Ishrael [homem que luta com Deus] é clássico do AT e Simão em Kefas [rocha] do NT. Em ambos os casos o nome determina a função escolhida por Deus, que destina uma pessoa para um específico fim. Qual é o nome que recebeu o homem de Nazare? Paulo o declara no versículo seguinte Iësous (grego) Iesus (latim) ou Jehoshua [Jahveh salva] do hebraico, que, por sua vez, designa o Josué do AT que foi o sucessor de Moisés. De fato, segundo Êx 17, 9, em hebraico YeHOSHUA[<0391>=Josué] e em grego IËSOUS. O nome era frequente na época, pois Flávio Josefo menciona 20 personagens com esse nome. Em aramaico, e este era o idioma de Jesus, soava como Jeshua. Marcos e Lucas escrevem Iësous ho Nazarënos; e Mateus e João, Jësous ho Nazöraios, fórmula que aparece também nos Atos. Em Nazarënos temos referência ao lugar de residência desde a infânia e em Nazöraios um composto das palavras neser[retonho] e semah [germe] tendo, segundo esta interpretação, um caráter messiânico ou o de Nazareo que significa separado para Deus, como em Nm 6. O nome de Jesus é considerado de tal forma único, na atualidade, que não é usado para nome próprio no Brasil. Excepcionalmente ele é comum, por exemplo, na Espanha.
O NOME: Para que no nome de Jesus todo joelho se dobre sobre os céus e sobre a terra e inferiores da terra (10). Ut in nomine Iesu omne genu flectat caelestium et terrestrium et infernorum. No NOME DE JESUS relembra o que Paulo dizia: Se confessares em tua boca que Jesus é Senhor e se em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo (Rm 10, 9). Não é, pois, um nome mágico, que pronunciado de imediato realize a obra de salvação, já que deve ser pronunciado desde a fé, aceitando seu senhorio; é, portanto, essa aceitação que Paulo chama de pistis e que em grego podemos traduzir por entrega fiel e confiada, a que provoca a ação salvífica por parte de Deus. JOELHO [Gonu<1119>=genu]: está unido à palavra DOBRAR [Kamptö <2578>=flectare] que como frase significa venerar e em termos religiosos adorar como diz Paulo em Rm 14, 11: Como está escrito: por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho e toda língua dará louvores a Deus. Paulo cita Isaías 45, 23. E esta citação coloca Jesus, o Cristo, a par de Jahveh, sendo agora o Deus do NT. CÉUS, TERRA E INFERIORES: Propriamente sobre os céus, sobre as terras e inferiores da terra. Na concepção do mundo tripartido da época, o mundo era como uma casa de três andares: o inferior era o submundo ou o Katachthonios [<2709>=inferior] onde se encontrava o abismo. Katachthonios é adjetivo e significa subterrâneo, por baixo da terra, que os romanos chamavam de infernos. A palavra é composta de Kata [embaixo] e Chthön [terra]. O adjetivo se torna neutro nesta passagem e plural, indicando a totalidade dos diversos lugares inferiores ou infernos. Era o lugar em que o maligno [Satanás] tinha seu domínio como príncipe [não senhor]. No segundo andar, temos a terra e sobre ela habitavam os homens e nos lugares inóspitos [éremoi] assim como no ar, estavam os demônios, em geral espíritos akathartoi ou impuros. Finalmente, os céus que eram habitados pelos anjos e era o domínio absoluto de Deus que tinha como príncipe Miguel. Dentre os céus o mais alto [ypsistos] era o terceiro em que estava a morada de Deus (2 Cor 12, 2). Os anjos cantam glória a Deus nos mais altos céus (Lc 2, 14). Com esta frase Paulo quer dizer duas coisas: 1º) Que Jesus deve ser adorado como Deus. 2º) Que a criação está a Ele submetida em sua totalidade.
A CONFISSÃO: E toda língua confesse que Senhor (é) Jesus Cristo para glória de Deus Pai (11). Et omnis lingua confiteatur quia Dominus Iesus Christus in gloria est Dei Patris. CONFESSE [Exomologësetai <1843>=confiteatur]: A confissão é obrigatória como disse Jesus: A quem me confesse diante dos homens o confessarei também eu diante de meu Pai celeste (Mt 10, 32), que com sua parte negativa indica uma necessidade absoluta em ordem à salvação. O verbo Exomologëö [<1843>=confiteor] tem o significado de confessar, proclamar, declarar em geral publicamente uma verdade, anteriormente mais ou menos oculta. Pode ser um pecado, um delito, ou uma verdade religiosa. SENHOR: [Kyrios <2952>=dominus]: em sentido geral, significa dono; em sentido restrito e religioso, é próprio de Deus, que logo foi restringido a Cristo. A proclamação que é exigida pelo sacrifício da cruz é que Cristo é agora o verdadeiro Deus dos homens. E isso para GLÓRIA [Doxa<1391>=gloria] do Pai. Ou seja, que nesta proclamação de Cristo como Senhor, estamos dando um grito de loa e louvor à sabedoria e ao amor de Deus como Pai: Pai de Jesus e Pai de todos os homens que Jesus salvou por sua expiação no sacrifício de sua morte na cruz.
EVANGELHO (Mt 21, 1-11)
DOMINGO DE RAMOS - ENTRADA TRIUNFAL COMO MESSIAS
QUESTÃO HISTÓRICA: Hoje estamos mais interessados em saber os fatos como história muito mais do que em tirar conclusões éticas ou dogmáticas das narrações evangélicas. Tudo o contrário dos primeiros cristãos para os quais os evangelhos eram uma Boa Nova como uma espécie de catecismo a ser norma de vida. A História nos demanda saber quando, onde e como. Ao responder estas perguntas, com os reduzidos meios de que dispomos e com a própria limitação pessoal, dedicamos esta primeira parte.
O TEMPO: Jesus acabava de ressuscitar Lázaro. A Páscoa estava próxima (Jo 11, 55). E seis dias antes da Páscoa Jesus janta em Betânia (Jo 12, 1) como conviva na casa de Simão o leproso (Mc 11,3 e Mt 26, 6) que poderia ser a casa de Marta segundo Lc 10, 38. No dia seguinte (Jo 12, 12) foi quando Jesus entrou triunfante em Jerusalém nas circunstâncias que lemos no evangelho de hoje. Era domingo, esse dia seguinte que coincide com a data do banquete que geralmente celebrava-se ao entrar o sábado, ou seja, na noite do que hoje chamamos de sexta-feira. Descansa, pois, no sábado e cedo de manhã inicia a curta viagem até Jerusalém distante de Betânia 2,8 Km.
O LUGAR: O início da multitudinária procissão foi a aldeia ou vilarejo de Betfagé. Jesus sai de Betânia (cuja descrição foi dada no comentário do domingo anterior) e enfrenta Betfagé que significa casa dos figos primários [brevas em castelhano]. Todos os evangelhos falam de Betfagé como kome, nome que significa a vila rural onde os camponeses têm suas casa e descansam após o trabalho do dia. É diferente da polis, cidade com muros e mercado próprio. Poderíamos traduzir kome por vilarejo. Segundo o Talmud, a aldeia estava tão perto de Jerusalém que era considerada como um subúrbio de Jerusalém. Também a palavra kome pode significar subúrbio. Sua população era sacerdotal. Estava provavelmente situada entre Betânia e Jerusalém na ladeira sul-oriental do pequeno monte das Oliveiras e constituía a passagem obrigatória dos que peregrinavam desde Jericó para celebrar os dias festivos em Jerusalém. Desde Betfagé até a porta oriental de Jerusalém havia menos de mil metros de distância ou menos de uma milha para que os sacerdotes pudessem descansar nos dias de sábado sem infringir a Mishná que mandava que as distâncias a serem percorridas tivessem menos de dois mil côvados (mil metros) e, em circunstâncias especiais, duplicava-se a distância. Era uma estrada que passava por uma ponte sobre o córrego do Cedrão até a porta chamada dos cavalos nos tempos de Neemias e que mais tarde recebeu o nome de porta dourada. Antes da ponte, na mão direita do caminho, enquanto seguimos em direção a Jerusalém, está o horto de Getsêmani. O tempo, pois, de apoteose de Jesus seria de 15 a 20 minutos de aclamações, à parte os ouvidos dentro do templo.
COMO? Temos quatro descrições do evento que coincidem essencialmente, mas que tem como todo relato diferenças segundo as diversas testemunhas do sucesso. As discrepâncias mais óbvias são sobre a montaria: Segundo Mateus, que sempre parece discrepar dos outros, eram duas as montarias: Uma a mãe [ónos em grego que tanto poderia significar jumento como jumenta], mas que o grego distingue ao descrever a cria como estando atada e com ela [meta autés] o jumentinho [pôlos grego] que os ingleses traduzem por colt e que bem podemos traduzir por potro ou poldro porque ainda não tinha sido montado (Mc 11, 2), pois estava junto à mãe o qual indica ser um jumentinho; era o onarion [literalmente jumentinho] de que fala o quarto evangelista. Estavam atados, pelo menos sua mãe à porta de fora do cruzamento do caminho. O latim diz ante januam foris in vibio Mateus tem intenção de destacar o detalhe da jumenta por trazer logo a profecia de Zacarias. Mas é improvável que Jesus montasse em ambos como indica o mesmo evangelista na continuação, dizendo que os discípulos puseram as vestes sobre eles [autôn] (mãe e cria) e que Jesus sentou-se encima delas [autôn] (sobre as vestes) (21,6). Porque o genitivo do plural é autôn para os três gêneros. Mateus é o mestre do duplicado: dois os cegos que o seguiam pedindo a cura (9, 27), dois os cegos curados em Jericó, dois foram os jumentos em que Jesus montou (Mt 21, 2) e os dois malfeitores –não um só – blasfemavam de Jesus na cruz (Mt 27, 44) e duas as mulheres às quais viram Jesus ressuscitado (Mt 28, 9). É possível que levado pela ideia de que unicamente duas testemunhas podiam ser válidas para testemunhar um fato. Consequentemente podemos dizer que, salvo caso de uma má interpretação do aramaico original feita pela tradição, existe um pequeno mistério ainda não resolvido no texto de Mateus que usa o dual no lugar do singular em determinados casos. Sem dúvida que foi o jumentinho o animal usado pelo Mestre e que a jumenta ficou no lugar. S. Remígio, bispo desde 22 anos de idade até os 72 (+530), que converteu e batizou Clodoveu a quem no momento do batismo disse: terás que queimar o que adoraste e adorar o que queimaste, escreve que lhe parece bem que o Senhor montasse em ambos os animais. Como sempre nestas minúcias, Mateus se dirige pelo afã catequético e metódico didático, conformando-se o melhor possível com as antigas profecias.
AS PROFECIAS: Temos duas profecias: uma de Isaías e outra de Zacarias. Vejamos a primeira: Eis que o Senhor fez ouvir até as extremidades da terra estas palavras: Dizei à filha de Sião: Eis que vem o teu Salvador, vem com ele a sua recompensa, e diante dele, o seu galardão (62, 11). Destas palavras deduzimos que o Messias devia entrar em Jerusalém e que a obra de salvação devia ser feita na cidade que o profeta chama filha de Sião. A outra profecia era de Zacarias: Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, e num jumentinho, cria de jumenta (9, 9). Parecem dois animais diferentes; por isso temos colocado o e em ressalte. Esta tradução está confirmada no latim da vulgata: ascendens super asinum et super pullum, filium asinae. Sem dúvida que Mateus fez uma interpretação sui generis, duplicando os animais e fazendo com que Jesus montasse ao mesmo tempo sobre os dois animais, o qual não parece provável. É interessante saber que os setenta oferecem uma tradução diferente do texto hebraico: Montado sobre uma besta de carga e potro [jumento] novo. O e une um mesmo animal com duas qualidades diferentes. Mais: como veremos no parágrafo seguinte o animal em que montou Jesus devia ser novinho, sem conhecer cavaleiro que o montara anteriormente. Cremos, pois que era só um animal o que escolheram os discípulos, ou seja, um potro novo sobre o qual nunca ainda ninguém tinha montado. Pois este inciso de nunca ter servido de montaria (2) era para preservar a divindade de Jesus, pois no AT só podiam ser oferecidos ao sacrifício animais que não tivessem sofrido jugo. Por outra parte os rabinos diziam que se Israel era puro, o Messias viria sobre as nuvens, conforme Dn 7, 13; mas no caso contrário, sobre um jumento, segundo Zacarias 9,9. E realmente a profecia se cumpre nesse dia de um modo completo. Se o jumento foi em tempos primitivos animal da cavalaria real ou pelo menos entre os nobres e dignatários como em Gn 22, 3 ou Jz 3, 10, nos tempos de Jesus era um animal humilde, próprio dos pobres. O quarto evangelista faz um comentário que abunda neste modo de pensar da humildade da cavalgadura: isto não o entenderam os discípulos; só quando Jesus foi glorificado [após sua ressurreição e ascensão] entenderam o que estava escrito e compreenderam o que eles tinham feito nesse dia (Jo 12, 16). Segundo 1 Rs 1, 33-35, a cerimônia em que Salomão foi entronizado realizou-se após cavalgar sobre um mulo [pered em hebraico e hemionos em grego]. A palavra grega indica seguramente a origem do animal, um meio jumento ou híbrido, seria a tradução, que no Israel pré-bíblico não era permitido procriar, mas parece que era animal de cavalgadura nos tempos de Salomão. Este, rei pacífico por excelência [como indica até seu nome] era o tipo de Jesus que entrava em Jerusalém como tal rei e que seria de um modo especial coroado na cruz poucos dias depois.
A PROCISSÃO: O que hoje festivamente celebramos, tinha na tradição judaica uma semelhança muito relevante. Existia uma festa em que o Hoshanna era o grito de resposta e júbilo acompanhado da agitação de ramos de salgueiro, mirto [ou murta] e palmeira. Era a festa das cabanas ou dos sukkoth (Lv 23, 40): Nos primeiros dias vos munireis de belos frutos, de folhas de palmeiras, de ramos de árvores frondosas ou de salgueiros das torrentes. Segundo Flávio Josefo, os israelitas levavam na mão esquerda uma toranja [que chamavam de etrog e na mão direita uma palma e outros dois ramos, um de salgueiro e outro de mirto; os três atados com cordão especial. Segundo a Mishnná, o ramalhete era formado por quatro galhos: palmeira[tamar], cidra[strog], mirto[hadas] e salgueiro[aravá]. Significavam as quatro grandes categorias numa fraternidade entre os homens. O Talmud vê na palmeira o símbolo da força religiosa, no mirto a inocência, no salgueiro a modéstia e no etrog a amenidade e o amor ao próximo. Primeiramente eram atados com um laço de palmeira e logo com um cordão de ouro pelo menos pelos habitantes de Jerusalém. No templo os judeus acompanhavam o canto do Grande Hallel ou seja os salmos 113-118 e agitavam os ramos no serviço matutino, acompanhando o canto, em especial os versículos 25-29 do salmo 118 que diziam: 25 Ah Javé, dá-nos a salvação! Dá-nos a vitória Javé! 26 Bendito o que vem em nome de Javé! Da casa de Javé nós vos abençoamos 27 Javé é Deus: ele nos ilumina! Formai a procissão com ramos até aos ângulos do altar 28 Tu és o meu Deus, eu te celebro, meu Deus eu te exalto; eu te celebro porque me ouviste e foste a minha salvação! 29 Celebrai a Javé porque ele é bom, porque o seu amor é para sempre. O ramalhete era agitado, especialmente no versículo 25 que em hebraico dizia mais ou menos:ANÁ [Ah!] JAVÉ [Senhor] HOSHANNÁ [salva-nos te pedimos].
OS MANTOS: O costume dos mantos para a passagem pelo que hoje chamaríamos tapete vermelho de um eleito como rei é visto pela primeira vez em 2 Rs 9, 13, quando da proclamação de Jeú como rei de Israel. Cada um dos chefes do exército tomou seu manto e lançando-o aos seus pés, sobre os degraus e ao som da trompa, clamaram: ¨Jeú é rei¨. Os romanos relatam o caso de Cato o de Útica, em que os soldados espalharam os mantos para que ele andasse sobre eles como num tapete. Talvez seja isto uma imagem que reflita o que acontecia com os vencidos sobre cujos corpos deitados na terra passava o exército vencedor humilhando-os como escravos submetidos à nova autoridade imposta pela vitória das armas. Mas voltando ao nosso caso: onde estenderam os judeus os mantos diante da passagem de Jesus? Até agora tínhamos a ideia de que era no meio do caminho; mas parece que segundo o costume da grande festa do Sukoth, era ao lado do mesmo, como para assinalar a rota seguida, tal como se estendiam os vestidos e galhos com frutas como adorno ao redor das cabanas e como hoje se estendem nas sacadas e janelas os tapetes e bandeiras para as procissões do Corpus Christi ou Semana Santa. A palavra usada pelos evangelistas é strônnymi [estender, desdobrar, desfraldar, expandir, ou adornar]. Tomando os primeiros significados o latim traduz por straverunt [do verbo sternare] que significa estender no chão, mas também desfraldar. Lucas é quem diz mais claramente que era sob o caminho. Marcos dirá que era para o caminho. E Mateus no caminho, dependendo das diversas preposições usadas. Os mantos sobre o jumento foram postos sobre ou instalados. A solução talvez seja uma intermediária: mantos no meio do caminho e galhos nas margens do mesmo. Sobre os galhos temos o testemunho de 1 Mc 13, 51 o relato seguinte: quando Simão Macabeu expulsou os pagãos da cidade de Jerusalém, entraram os israelitas no meio das aclamações e palmas [galhos, não houve som com as mãos], ao som das liras e dos címbalos [pratos], dos hinos e dos cantos. Um outro relato interessante porque nos dá uma ideia do que aconteceu com Jesus no domingo de Ramos era uma imitação do que sucedia como Hag[festa] ou seja a grande festa das cabanas. Em 2 Mc 10, 6 lemos que os israelitas celebravam com transportes de alegria os oito dias de festa da purificação do templo (Jesus o purificaria imediatamente) à maneira das tendas…É por isso que levando tirsos[o bastão de farra, próprio do deus Baco{eram como os carnavais nossos}], ramos verdes e palmas elevaram hinos àquele que levava a bom termo a purificação do seu lugar santo.
HOSHANNÁ: O vocabulário hebraico a define como indicando que existia uma poesia litúrgica que termina com esta palavra como estribilho, significando ajuda-nos ó Deus; e acrescenta: reza-se na festa de Sukoth. Outra tradução seria: salva-nos. Vos pedimos. É uma palavra composta do verbo yashá[ salvar] e da posposição nah [vos pedimos; o please inglês]. Parece que os israelitas do tempo de Jesus distinguiam quatro tipos de Hoshanna. 1o) O Hoshanna do Sábado: era uma série de súplicas, elogiando o sábado e dando graças a Javé por esse dia. Todas as preces concluíam com a palavra Hoshanna e várias petições para que Deus os salvasse como fez em outros tempos. No final de cada petição recitava-se, pois, a palavra Hoshanna. 2o) O Hoshanna do grande Hoshanna: era durante as festas das cabanas ou das tendas [sukoth em hebraico]. No sétimo dia desta festa cantava-se o grande Hoshanna depois que os sacerdotes, portando ramos de salgueiro, rodeassem o altar sete vezes; ao cantar o Hoshanna, o povo circundante agitava os galhos que segurava na mão. 3o) Hoshanna como nome do conjunto de três ramúsculos: o de cidra, o de salgueiro e o de mirto, unidos por um cordão. A palma sozinha recebia o nome de Lulab, que outros dão ao conjunto dos quatro ramos, quando a palma estava acompanhava dos três anteriores. 4o) O significado de Hoshanna como grito de alegria seria o nosso viva ou o long life dos ingleses.
AS ACLAMAÇÕES: Hoshanna [viva! ou long life!] ao filho de Davi. Bendito o que vem em nome do Senhor. Hoshanna nas alturas mais elevadas [nos céus mais altos] (Mt). Hoshanna! Bendito o que vem em nome do Senhor. Bendito o reino que vem de nosso pai Davi! Hosanna nos mais altos céus! (Mc). Bendito o rei que vem em nome do Senhor. Paz no céu e glória no mais alto (Lc). Hoshanna! Bendito o que vem em nome do senhor, o rei de Israel (Jo). Do exame dos textos deduzimos que existe uma clara alusão ao reino. Jesus o tinha proclamado de modo contínuo na Galileia. A maioria dos peregrinos que o acompanhavam era dessa região. Jesus subia ao templo e este era o momento esperado por todos para iniciar o reinado. Daí que claramente se adverte nos gritos de entusiasmo da multidão a referência a esse reino na pessoa de Jesus: filho de Davi, segundo Mateus, em Marcos é o reino que está aparecendo. Lucas claramente aponta ao rei que esta vindo em nome do Senhor [Deus] e que também João designa como rei de todo Israel. Era, pois, a aclamação do povo, pelo menos dos galiléus, que em Jesus viam o Messias. Lucas repete o desejo dos anjos do início de seu evangelho: Paz e glória só que desta vez a paz será debitada ao céu e a glória no mais alto [dos mesmos].
QUEM É ESTE? Segundo Mateus, parece que Jesus era um desconhecido em Jerusalém, pois ao entrar nela a cidade se agitou perguntando: quem é este? A resposta da multidão [peregrinos do norte] foi: este é o profeta Jesus originário de Nazaré da Galileia. Marcos dirá que entrou no templo e tudo observou, e como fosse tarde voltou para Betânia. Lucas confirma Marcos ao dizer que Jesus esteve no templo e começou a expulsar os vendedores. Mas este segundo plano da expulsão dos comerciantes está fora do evangelho de hoje. Jesus mesmo tinha dado a si mesmo o título de profeta ao afirmar na sinagoga de Nazaré: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria (Lc 4, 24). Jesus era, pois, no mínimo o profeta esperado nos tempos messiânicos.
PISTAS:
1) A entrada triunfal em Jerusalém é narrada nos quatro evangelhos. Sinal de que foi um fato marcante na primitiva igreja. Como temos anteriormente explicado era entrada de um rei pacífico na sua cidade. Jesus mesmo o declarou: Se neste dia tu também conhecesses a mensagem da paz! (Lc 19, 41). Porque esta sua entrada foi rejeitada por atos posteriores dos jerosolimitanos [os judeus]: não temos mais rei que o César (Jo 19, 15). A entrada de Jesus como rei é típica de quem o recebe pela primeira vez como discípulo. Mas chega logo a hora difícil do compromisso, e muitas vezes por motivos de considerações puramente humanas [ambições, riquezas, paixões, discrepâncias modernas que causam covardia e vergonha] chegamos ao que Paulo chama de inimigos da cruz de Cristo (Fp 3, 18) a uma sexta feira santa em que renegamos dele ou covardemente o abandonamos.
2) Na maioria das atuações de nossa vida será a riqueza, o poder, o aplauso do público o verdadeiro rei a quem servimos e a causa última de nossa conduta. Tememos discrepar da opinião pública por covardia ou vergonha. Não queremos perder o passo da modernidade. Por isso somos tão medíocres que mais parecemos indiferentes ou contrários ao reino do que súditos. Terminamos como carga morta dentro da igreja.
3) Deus sempre escolhe antes da cruz um pequeno triunfo para que não nos desanimemos com os dias de tempestade futuros porque podemos recordar a bonança dos dias felizes. Assim aconteceu com Cristo e assim –diz S. Teresa- Deus prepara as almas escolhidas para os tempos de tentação que inevitavelmente acompanham os verdadeiros discípulos.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
06.04.2014
5º DOMINGO DQUARESMA — ANO A
( ROXO, CREIO, PREFÁCIO PRÓPRIO – I SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá." __
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Como nos dois domingos anteriores, também o quinto domingo da quaresma, é marcado por um dos grandes episódios do Quarto Evangelho: a ressurreição de Lázaro. Com isso, não só se narra um dos últimos episódios antes da morte de Jesus, provocando ódio mortal nas autoridades judaicas, mas ainda se prefigura a sua ressurreição: o episódio de Lázaro conduz à Páscoa da morte e ressurreição de Cristo. Neste sentido, convém levar em consideração não apenas o alto teor teológico da liturgia atual, mas também seu profundo humanismo. Embora Jesus veja na doença de Lázaro um ensejo para que a glória de Deus seja revelada, é verdadeira a emoção por causa da morte do amigo. Os sinais de Deus se encarnam em autêntica humanidade. Foi o amor de Jesus por Lázaro que o fez rezar ao Pai e devolver seu amigo à vida. Assim, a nossa vida, uma vez renovada em Cristo, deverá ser não menos, mas mais profundamente humana, para “encarnar” sempre mais e melhor o amor de Deus em nós.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: A ressurreição de Lázaro mostra que Jesus é o Senhor da vida. É um passo decisivo no processo da Iniciação Cristã. Se os mortos são ressuscitados, não há dúvida de que Jesus é o Messias. Às portas da Semana Santa, a Igreja renova a missão de anunciar Jesus Cristo, o Libertador do pecado e da morte.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Partindo da experiência da precariedade da própria vida, o homem religioso da Bíblia descobre o Deus vivo como fonte, plenitude e defesa de toda a vida, especialmente da dos seus. A benção "crescei e multiplicai-vos" concerne precisamente à transmissão da vida: aquela que outra página apresenta como comunicação do próprio "sopro" vital de Deus. A narrativa da árvore da vida evoca a exigência indestrutível de uma vida que se prolonga além dos limites da experiência, de um bem destinado a durar para sempre. Assim a linguagem simbólica e poética atinge as profundezas do homem.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, da Caridade, do Jejum e da Oração, preparemo-nos para a Páscoa do Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Ez 37,12-14): - "Então sabereis que eu, o Senhor, digo e faço - oráculo do Senhor"
SALMO RESPONSORIAL (129/130): - "No Senhor é que se encontra o perdão, copiosa redenção!"
SEGUNDA LEITURA (Rm 8,8-11): - "...os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus."
EVANGELHO (Jo 11,1-45): - "Lázaro, vem para fora!"
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 11 1 Lázaro caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e sua irmã Marta. 2 Maria era quem ungira o Senhor com o óleo perfumado e lhe enxugara os pés com os seus cabelos. E Lázaro, que estava enfermo, era seu irmão.
3 Suas irmãs mandaram, pois, dizer a Jesus: "Senhor, aquele que tu amas está enfermo".
4 A estas palavras, disse-lhes Jesus: "Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus".
5 Ora, Jesus amava Marta, Maria, sua irmã, e Lázaro.
6 Mas, embora tivesse ouvido que ele estava enfermo, demorou-se ainda dois dias no mesmo lugar.
7 Depois, disse a seus discípulos: "Voltemos para a Judéia".
8 Mestre, responderam eles, "há pouco os judeus te queriam apedrejar, e voltas para lá?"
9 Jesus respondeu: "Não são doze as horas do dia? Quem caminha de dia não tropeça, porque vê a luz deste mundo.
10 Mas quem anda de noite tropeça, porque lhe falta a luz".
11 Depois destas palavras, ele acrescentou: "Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo".
12 Disseram-lhe os seus discípulos: "Senhor, se ele dorme, há de sarar".
13 Jesus, entretanto, falara da sua morte, mas eles pensavam que falasse do sono como tal.
14 Então Jesus lhes declarou abertamente: "Lázaro morreu.
15 Alegro-me por vossa causa, por não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos a ele".
16 A isso Tomé, chamado Dídimo, disse aos seus condiscípulos: "Vamos também nós, para morrermos com ele".
17 À chegada de Jesus, já havia quatro dias que Lázaro estava no sepulcro.
18 Ora, Betânia distava de Jerusalém cerca de quinze estádios.
19 Muitos judeus tinham vindo a Marta e a Maria, para lhes apresentar condolências pela morte de seu irmão.
20 Mal soube Marta da vinda de Jesus, saiu-lhe ao encontro. Maria, porém, estava sentada em casa.
21 Marta disse a Jesus: "Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido!
22 Mas sei também, agora, que tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá".
23 Disse-lhe Jesus: "Teu irmão ressurgirá".
24 Respondeu-lhe Marta: "Sei que há de ressurgir na ressurreição no último dia".
25 Disse-lhe Jesus: "Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.
26 E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto?"
27 Respondeu ela: "Sim, Senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo".
28 A essas palavras, ela foi chamar sua irmã Maria, dizendo-lhe baixinho: "O Mestre está aí e te chama".
29 Apenas ela o ouviu, levantou-se imediatamente e foi ao encontro dele.
30 (Pois Jesus não tinha chegado à aldeia, mas estava ainda naquele lugar onde Marta o tinha encontrado.)
31 Os judeus que estavam com ela em casa, em visita de pêsames, ao verem Maria levantar-se depressa e sair, seguiram-na, crendo que ela ia ao sepulcro para ali chorar.
32 Quando, porém, Maria chegou onde Jesus estava e o viu, lançou-se aos seus pés e disse-lhe: "Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido!"
33 Ao vê-la chorar assim, como também todos os judeus que a acompanhavam, Jesus ficou intensamente comovido em espírito. E, sob o impulso de profunda emoção,
34 perguntou: "Onde o pusestes?" Responderam-lhe: "Senhor, vinde ver".
35 Jesus pôs-se a chorar.
36 Observaram por isso os judeus: "Vede como ele o amava!"
37 Mas alguns deles disseram: "Não podia ele, que abriu os olhos do cego de nascença, fazer com que este não morresse?"
38 Tomado, novamente, de profunda emoção, Jesus foi ao sepulcro. Era uma gruta, coberta por uma pedra.
39 Jesus ordenou: "Tirai a pedra. Disse-lhe Marta, irmã do morto: Senhor, já cheira mal, pois há quatro dias que ele está aí"
40 Respondeu-lhe Jesus: "Não te disse eu: Se creres, verás a glória de Deus?" Tiraram, pois, a pedra.
41 Levantando Jesus os olhos ao alto, disse: "Pai, rendo-te graças, porque me ouviste.
42 Eu bem sei que sempre me ouves, mas falo assim por causa do povo que está em roda, para que creiam que tu me enviaste".
43 Depois destas palavras, exclamou em alta voz: "Lázaro, vem para fora!"
44 E o morto saiu, tendo os pés e as mãos ligados com faixas, e o rosto coberto por um sudário. Ordenou então Jesus: "Desligai-o e deixai-o ir".
45 Muitos dos judeus, que tinham vindo a Marta e Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele.
- Palavra da Salvação.
- Glória a Vós, Senhor!
Homilia do Diácono José da Cruz – 5º DOMINGO DA QUARESMA – ANO A
"Marta, Maria, Lázaro e Nós..."
De todos os milagres de Jesus, relatados no evangelho de São João, a Ressurreição de Lázaro é sem dúvida o mais espetacular, visto que ocorreu três dias após o sepultamento, quando o corpo do seu amigo já estava em estado de decomposição, pois cheirava mal. Jesus tinha outros amigos além de Lázaro, pessoas do seu relacionamento, com certeza por ele muito queridas como por exemplo, o pai adotivo José, pessoas estas que morreram e ele nada fez...Por que cargas d’água não os ressuscitou também? Será que Lázaro era o mais amado de todos? Basta uma pergunta assim e já vamos percebendo que o evangelista João quer revelar algo muito maior do que a simples ressuscitação de um cadáver..João é especialista em montar verdadeiros dramas, como a história do cego de nascença, a Mulher Samaritana e agora, no último domingo da quaresma, a grande apoteose; Jesus também faz voltar á vida quem morreu, estamos no último capítulo da aula de catequese Joanina e por isso alguns detalhes são muito importantes. Jesus estava longe quando o estado de saúde do amigo agravou-se e mesmo sendo avisado, continuou a viagem e quando decidiu voltar já era tarde, Lázaro tinha morrido. Com seu poder, ele bem que poderia ter evitado que Lázaro morresse, mesmo á distância. E quando chegou na casa do falecido, o enterro já tinha ido. Imagine no cemitério, depois que já se fechou o caixão, chega um parente de longe que insiste em ver o finado. Nesse caso foi pior, Jesus mandou desenterrar Lázaro, mas que ousadia! Deve ter pensado muitos Judeus. Quem essa cara pensa que é?
É difícil de ler esse evangelho sem pensar nessas coisas, e se não fizer essas perguntas, o leitor corre o risco de se empolgar com a “embalagem” e menosprezar o “produto” Quem era Lázaro? Um amigo querido, que junto com as irmãs Marta e Maria sempre hospedava Jesus no final de um dia de pregações e ensinamentos. Uma comunidade que apesar de muito hospitaleira, era igual as nossas comunidades cristãs...
Tinha gente como Marta, lembram-se dela ? Aquela que era um “Pé de Boi” para trabalhar, e que se dava o direito de criticar a irmã, que não a ajudou nas tarefas em uma das ocasiões em que hospedaram Jesus. Aqui ela parece novamente estressada quando se levanta e vai ao encontro de Jesus para dar a bronca “Se o Senhor estivesse aqui, meu irmão não teria morrido...” Em outras palavras, “o Senhor é mui amigo heim! Não veio ver meu irmão e só me chega agora, quando ele já foi enterrado! O evangelho em nada muda o comportamento das duas irmãs diante de Jesus, Maria ficou em casa sentada, parece que Marta era a mais agitada. Ela vê algo especial em Jesus, talvez um Profeta Poderoso, pois para abrandar as palavra concluiu “Eu sei que o que pedires a Deus lhe será concedido”. Marta fala o que pensava um Judeu, tudo o que Deus poderia dar a uma pessoa Justa, era nessa vida, o conceito de Ressurreição era ainda bem rudimentar e não se tinha uma esperança escatológica.
Então Jesus fala da ressurreição em uma perspectiva totalmente nova “Teu irmão vai ressuscitar...”. Marta se detém ao conceito antigo, segundo o qual a ressurreição acontecerá no último dia, quando bons e maus serão julgados diante de Deus.
Vamos levando esta vida e fazendo nossas ações boas ou más, no final haverá o acerto de contas com Deus, ações boas serão premiadas, e as más receberão a justa punição. Marta é alguém que na comunidade faz e acontece, está sempre á frente tomando iniciativas, Jesus não veio para iniciar o evento da Salvação, mostrando o caminho que nos leva a ela, ele é a própria Salvação, ele não veio para nos ajudar a percorrer bem este caminho e assim ressuscitar entre os justos e alcançar o céu, Ele é o Céu, a comunhão plena com Deus, Ele é a Ressurreição! Mas não era assim que a Marta o via...As vezes na comunidade temos excessiva preocupação em FAZER, como se isso é que nos desse a identidade de Cristãos.
Maria, a contrário, vê em Jesus a possibilidade de Vida, mas diferente de Marta, sua Fé vislumbra algo novo que Jesus não vai fazer, mas que já é. A frase é a mesma de Marta, mas quanta diferença... .Longe de lamentar a ausência de Jesus, ela se prostra diante dele, reconhecendo interiormente que só ele é a Verdadeira Vida.
Podemos ver nesse evangelho um forte apelo para que, fazendo a experiência profunda de Jesus, como a Samaritana, passando a enxergar o mundo, as pessoas e os acontecimentos, como aquele cego, á luz de Cristo e de seu evangelho, somos enfim chamados a viver já nesta vida terrena, as alegrias da Vida Eterna que só Jesus oferece. Comunidade que não ouvir este chamado e não percorrer esse caminho, acaba perecendo e perdendo toda esperança. Marta e os judeus que murmuram, pela atitude tardia de Jesus, que não impediu a morte de Lázaro, são as pessoas que na vida de Fé ainda não conseguem vislumbrar em Jesus algo novo, que transcende o simples existir. Certamente não foram eles que removeram a pedra do túmulo, porque pó m orto estava ali há quatro dias e cheirava mal.
Fazemos parte de uma sociedade que gosta de enterrar mortos-vivos, mesmo á nossa volta, há muitas pessoas com as quais cortamos relacionamento, colocando a pesada pedra do preconceito e da indiferença, imitamos o sistema, que decide quem permanece vivo e quem deve morrer.
Comunidade verdadeiramente cristã é aquela que remove toda e qualquer pedra, mais ainda, é aquela onde os mortos vivos encontram um novo sentido para a vida, e livres das amarras podem agora caminhar. Se não for assim, continuaremos a enterrar nossos mortos vivos, por trás da bela fachada do Cristianismo.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 5º DOMINGO DA QUARESMA – ANO A
“Protesto! A quantidade também é importante!”
Não gosto de visões estreitas e pessimistas dentro do cristianismo. Talvez se poderia dizer que esse sacerdote tem uma visão triunfalista. Então, que se diga! Não me importa. O fato é que você e eu nascemos para dominar, para conquistar, para dar sentido a esse mundo. É urgente que cumpramos essa nossa missão. Já chega de ficar num anonimato morticínio. Um cristão que não tenha fome apostólica de “comer o mundo”, ou seja, um filho de Deus que não deseje evangelizar, “já cheira mal, pois há quatro dias que ele está aí…” (Jo 11,39), na tumba; está num estado cadavérico.
Já estamos no quinto domingo da quaresma e temos que sentir a urgência daquilo que o Papa lembrava para esse domingo, que “Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança” (Papa Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2011).
Concretamente, nesses últimos dias: a quantas pessoas vamos fazer a proposta de que tenham uma vida cristã comprometida? A quantos dos nossos amigos convidaremos a fazer uma boa confissão? A quantos companheiros de profissão insistiremos para que participem conosco de algum meio de formação cristã? Por quantos familiares estamos fazendo penitência para que durante essas celebrações quaresmais e de semana santa tenham um encontro com Deus? Eu quero números. Não podemos conformar-nos com aquele ditado que reza assim: “o importante é a qualidade, não a quantidade”. Eu protesto! A quantidade também é importante! A Igreja Católica não é uma espécie de oligarquia, de gente selecionada porque seria o melhor da society, de gente chique e inteligente que forma um gueto de iluminados. Não! Na Casa de Deus cabem todos.
O cristão que não sente os interesses de Deus como sendo os seus próprios interesses ainda não saiu da casca do ovo do egoísmo. Deus quer salvar a todos. Jesus morreu por todos. O nosso Salvador não se contenta em ficar com noventa e nove ovelhas, ele quer as cem dentro do rebanho. Quem somos nós para diminuir a vontade salvífica e universal de Deus? Seria uma pretensão boba, sem sentido e destinada ao fracasso. Deus quer a todos! A todos!
Como é importante examinar-nos para que deixemos pra trás o nosso sepulcro, o nosso fedor pessoal, a nossa visão míope! Como? Começando com uma boa confissão? Poderia ser. Também é importante ter um pequeno plano de vida espiritual no qual esteja presente momentos de oração pessoal, de devoção a Nossa Senhora e de tempo para a leitura daqueles bons livros que nos vão dando formação. Sem dúvida, a Missa, pelo menos dominical, e a santa comunhão, ocuparão o centro da nossa vida. Um cristão forte no seu interior, vivo pela graça de Deus, sempre sentirá o desejo de compartir com os demais a alegria que vive e que sente. Somente quem tem vida interior experimenta de verdade o que é ser apóstolo, evangelizador no século XXI.
Fora os fedores! Ao contrário, levemos sempre em todo o nosso ser o “perfume de Cristo” (2 Cor 2,15), esse perfume da graça que atrai e que satisfaz, que nos transporta à eternidade fazendo-nos permanecer com uma dedicação intensa às nossas ocupações habituais. A graça de Deus vai trabalhar justamente dentro daquelas realidades na quais nós nos encontramos imersos. Não nos tirará do mundo, mas nos pedirá espalhar o cheiro de Cristo nesse mundo, assim o mundo será mais agradável. O viver social, a cultura, a política, a economia também devem cheirar bem; e essa é uma tarefa encarregada especialmente aos cristãos que estão nesses ambientes.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético — 5º DOMINGO DA QUARESMA – ANO A
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (Rm 8, 8-11)
OS APETITES CARNAIS: Pois os que estão na carne não podem agradar a Deus (8). Qui autem in carne sunt Deo placere non possunt. NA CARNE [en sarki <4561>=in carne], A palavra SARX tem o significado de carne, a parte branda que cobre os ossos e é comestível. Também significa o corpo humano natural, que podemos dizer de animal natural, especialmente em Paulo, inclinado pelos apetites ao mal nos descendentes de Adão, e em Cristo como sujeito de sofrimento. Como homens, filhos do Pai comum em Adão, a carne é a raiz do pecado e seguir os instintos da mesma é o mesmo que ir contra a vontade de Deus, segundo o que afirma o próprio Paulo: Porque eu sei que na minha carne não habita bem algum…porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço (Rm 7, 18-19). Sendo Deus o único BOM (Lc 18, 19) nada de mal há nele e vemos como, pelo contrário, a carne leva Paulo a realizar o mal, como princípio ativo que submete a vontade, esta inclinada ao bem. AGRADAR [aresai<700>=placere] é o infinitivo de aoristo do verbo areskö com o significado de agradar, trabalhar para agradar, acomodar as opiniões próprias aos desejos e interesses de outros, ou seja, se submeter. O sentido da frase é que a carne [o homem que se deixa levar pelos apetites do corpo] está em contradição com os planos divinos.
O ESPÍRITO PELO CONTRÁRIO: Vós, porém, não estais em carne, mas em Espírito, se, na verdade, o Espírito de Deus habita em vós. Pois se alguém não tem o Espírto de Jesus, esse tal não é dEle (9). Vos autem in carne non estis sed in Spiritu si tamen Spiritus Dei habitat in vobis si quis autem Spiritum Christi non habet hic non est eius. Agora Paulo se dirige aos cristãos aos quais por meio da graça de Deus já não devem viver se arrastando pelos desejos carnais, mas dirigidos pelo ESPÍRITO [pneumati <4151>=spirito]. Para Paulo, existem no homem três partes bem diferenciadas: espírito [pneuma], alma [psychë] e corpo [söma]. As duas últimas dirigem o homem natural que Paulo chama [psykikos] (1Cor 2, 14), que não aceita as coisas do Espírito [pneuma] de Deus porque lhe são loucura e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente (idem). Sabendo isto, podemos afirmar que, ao ser o Espírito oposto ao homem carnal [que está ou vive na carne], o espírito deste versículo é o Espírito Santo que habita e dirige o homem espiritual [pneumatikos], de modo que julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor que o possa instruir ? Nós, porém, temos a mente de Cristo (1Cor 2, 16). Podemos ver nesta citação de 1 Coríntios a explicação do atual versículo: Se realmente temos o Espírito de Cristo, podemos julgar com verdade todos os acontecimentos e não poderemos ser condenados, pois a mente do Senhor [Jesus] é verdadeira como Mestre. Seguindo seus ensinamentos e sua conduta, jamais estaremos fora dos planos divinos. Disto deduzimos que ao ensinar e ao dirigir as pessoas a nossa resposta deve estar conforme ao que o Senhor ensina no evangelho. Uma citação do mesmo basta para dirimir uma dúvida e ordenar uma conduta. Porém Paulo introduz uma sutil suspeita: será que todos os cristãos têm o Espírito de Jesus? Se sua conduta contradiz a lei do amor [esta é a lei e os profetas (Mt 7, 12)] de modo especial, podemos afirmar que não. Porém, pelos seus frutos conheceremos os falsos profetas (Mt 7, 16). Por isso, a norma de vida não é outra que a determinada pelo Pai: Este é o meu Filho, o amado [agapetos] a ele ouvi (Lc 9, 35).
LABOR DO ESPÍRITO: Se, portanto Cristo (está) em vós, o corpo portanto (está) morto pelo pecado; mas o Espírito (é) vida pela justiça (10). Si autem Christus in vobis est corpus quidem mortuum est propter peccatum spiritus vero vita propter iustificationem. Consequências da habitação do Espírito de Cristo [que hoje chamamos de Espírito Santo] em nós cristãos, é a morte do corpo [soma], no sentido de que este não tem o domínio do bem; pois o pecado o matou para todo bem. Mas é o Espírito quem dá a vida porque por meio dele foi recebida a justificação. Como interpretar estas duas afirmações? 1) o corpo está destinado à morte por causa do pecado, este sendo o original especificamente: Se comeres da árvore morrerás (Gn 2, 17). 2) O Espírito da nova criatura, esse que nos foi dado no batismo, e no qual estamos como imersos [baptithentoi], porque fomos reformados pela justificação nele recebida, esse Espírito é o mesmo de Cristo, pelo qual somos também filhos e herdeiros como diz Paulo em Rm 8, 17. E é nisto que consiste precisamente a justificação. Lançados do paraíso para não sermos como deuses e não podermos viver eternamente (Gn 3,22), agora somos admitidos nele, como filhos de Deus para viver sua eterna vida. É o novo paraíso que Jesus promete ao bom malfeitor (Lc 23, 24).
O ESPÍRITO, CAUSA DA RESSURREIÇÃO: Se pois o Espírito de quem ergueu Jesus dentre os mortos habita em vós, quem ergueu o Cristo dentre os mortos reviverá também vossos corpos mortais por meio do Espírito habitante em vós (11). Quod si Spiritus eius qui suscitavit Iesum a mortuis habitat in vobis qui suscitavit Iesum Christum a mortuis vivificabit et mortalia corpora vestra propter inhabitantem Spiritum eius in vobis. Vemos neste versículo que esse Espírito não é um impulso ou faculdade humana, mesmo que superior, mas um ser com poder sobre a morte e, portanto, divino, que foi definido como a terceira pessoa da Santíssima Trindade. Ou seja, o próprio Deus (At 2, 24) e de quem Paulo também diz: Deus ressuscitou o Senhor [Jesus] e também nos ressuscitará a nós pelo seu poder (1Cor 6, 14). Não há dúvida, pois, de que o Espírito do qual fala Paulo é o poder do próprio Deus, pois a isso chamamos Espírito. É o Espírito Santo que foi prometido por Jesus como advogado consolador (Jo 15, 26), Espírito da Verdade que procede do Pai (Jo 15, 26) e que por isso nos torna filhos com o direito de o chamar de Abbá (Rm 8,15) que é o mesmo Espírito do seu Filho Jesus (Gl 4, 6). Esse Espírito que ressuscitou Jesus se habita em nós também será causa de nossa ressurreição. Podemos assim falar, como os antigos padres da Igreja, da divinização dos batizados que em Paulo se traduz por justificação. A vida de Deus que agora vivemos pela fé, será nossa vida como eterna [vida própria da divindade] sem espelhos nem enigmas (1Cor 13, 12).
EVANGELHO (Jo 11,1,45)
A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO
INTRODUÇÃO: Hoje temos a leitura de um milagre que é sinal: a ressurreição de Lázaro é um sinal da vida que o Espírito, por intermédio de Jesus, realiza no momento da morte. O batismo é antecipação e garantia dessa ressurreição, significando ao mesmo tempo a morte ao pecado, que introduziu a morte biológica no mundo, segundo S. Paulo. Jesus faz jus a sua proclamação de ser a Ressurreição e a Vida; e, portanto, reclama para si a divindade, mas, ao mesmo tempo, descobre a sua humanidade pela comoção perante a morte de um amigo. O choro pela morte está temperado pela esperança de que ela não será a solução definitiva. Crês nisso? Pergunta Jesus a todo aquele que a ele se aproxima pedindo a vida. O evangelho apresenta a figura de Jesus como sendo a causa da ressurreição e da vida. Seguindo seu método de narrar a vida de Jesus através dos sinais [semeia], o quarto evangelista toma ocasião de um fato extraordinário, como é uma ressurreição, para indicar um atributo, também extra-humano, em Jesus. Ele não só ressuscita os mortos, mas é a ressurreição dos mortos, dos definitivamente mortos como são os que já ultrapassaram o quarto dia de seu falecimento (vers 39). Neste evangelho seremos testemunhas do porquê Jesus toma para si o título de Ressurreição e Vida (vers 25).
A FAMÍLIA DE LÁZARO: Havia, pois, um certo enfermo, Lázaro, de Betânia, da vila de Maria e Marta suas irmãs (1). Erat autem quidam languens Lazarus a Bethania de castello Mariae et Marthae sororis eius. Era, assim, Maria a que tinha ungido o Senhor com unguento e enxugado os pés dEle com os seus cabelos, cujo irmão estava doente (2). Maria autem erat quae unxit Dominum unguento et extersit pedes eius capillis suis cuius frater Lazarus infirmabatur. LÁZARO é a forma grega de Eleazar que significa Deus ajudou. Como não aparece mulher alguma, ou era jovem [menor de 14 anos até os 18 em que um judeu contraia matrimônio], ou solteiro. A primeira hipótese é a mais provável, porque as irmãs tinham o controle da casa. Nisso coincidiria com os outros dois mortos ressuscitados por Jesus: o filho da viúva de Naim (Lc 7, 12) e a filha de Jairo (Lc 8, 41). No jantar, em casa de Simão, o leproso (Mt 26, 6), ou de Marta (Lc 10, 38), oferecido após a ressurreição, Lázaro era um convidado (Jo 12, 2). Podemos deduzir daí que Marta era a esposa de Simão, e que Lázaro ainda era um adolescente? É provável. AS DUAS BETÂNIAS: O nosso evangelista é um mestre da metáfora e por isso é bom sabermos o significado dos nomes implicados na perícope de hoje. Vemos como Lázaro significa Deus ajudou. Betânia significa casa das tâmaras, ou dateis, frutos da tamareira, palmeira de origem africana. Também derivam o significado como casa da dor ou do rogo. Maria é senhora e Marta senhora da casa. Pelo que respeita a Betânia é interessante recordar que, na ocasião, Jesus estava retirado na Betânia do Jordão, pois existiam duas aldeias com o nome de Betânia: Uma, na margem oriental do rio Jordão onde batizava João, que Orígenes deu o nome de Betabara; mas parece que o nome de Betânia era o verdadeiro. Segundo as últimas investigações estava perto de Escitópolis e dentro do território da Decápolis (ver mapa em presbíteros.com.br - exegese 230). Foi nessa Betânia/Betabara onde estava Jesus fugindo dos judeus ou talvez estava mais perto, junto a Jericó porém do outro lado do Jordão?(Jo 10, 40). Pouco antes os judeus tinham a intenção de matar Jesus como blasfemo (Jo 10, 31 e 33). A razão, pois, de ir para outro lado do Jordão [talvez Betânia, ou Betabara], era porque estava numa região fora do domínio do Governador da Judeia. Era como se fugisse para uma outra nação. Caso existisse uma Betânia perto de Jericó, ela estaria sob o domínio de Antipas, na região da Pereia e também fora do âmbito do governador da Judeia. A segunda Betânia está situada na ladeira sudeste do monte das Oliveiras a 2,8 Km de Jerusalém. É aqui onde estava situada a casa de Simão, o leproso (Jo 12, 1-10). Nela estava a residência dos três irmãos, Lázaro, Marta e Maria e foi onde aconteceu a ressurreição que relata o evangelho de hoje. Foi desta Betânia que Jesus enviou os dois discípulos para preparar sua entrada num jumento em Jerusalém (Mc 11 , 1-0) e perto dela, teve lugar a ascensão do Senhor (Lc 24, 50). Lucas dirá de Betânia que era uma aldeia onde Marta recebeu Jesus na sua casa (10, 38-39). É em Betânia também onde, seis dias antes da última Páscoa, lhe ofereceram um banquete onde Maria, a irmã de Lázaro, ungiu os pés de Jesus com nardo, enxugando-os com seus cabelos (Jo 12, 3) e que foi em Betânia, perto de Jerusalém, onde ressuscitou Lázaro. Era uma clara opção para demonstrar aos judeus sua missão. O ESQUEMA: Podemos distinguir um pequeno esquema dentro do relato de hoje, dividido em quatro partes: Jesus recebe a notícia da doença de Lázaro. Jesus volta a Betânia de Jerusalém. Conversa com as duas irmãs e a ressurreição de Lázaro. Vejamos a primeira parte.
PRIMEIRA PARTE: JESUS RECEBE A NOTÍCIA
A PETIÇÃO: Enviaram, portanto as irmãs a Ele dizendo: Senhor, olha, aquele que amas está doente (3). Miserunt ergo sorores ad eum dicentes Domine ecce quem amas infirmatur. É uma bela SÚPLICA. Como razão do interesse pela correspondência, elas colocam o amor particular de Jesus por Lázaro. Não se diz que seja o discípulo amado, ou melhor, o discípulo a quem Jesus amava [mathetés on agapa] como nas quatro ocasiões do evangelho: Jo 13, 23; 19, 26; 21, 7 e 21, 20. Aqui João usa o verbo fileo que significa um laço de união entre amigos. Vamos, pois, distingui-lo do agapao que significa preferência, seleção. Agapao é o verbo que usa o evangelista para o amor de Deus ao homem e o amor do homem para com seus inimigos. Unicamente no final do evangelho de João, parece que na última das perguntas de Jesus, este emprega fileo no lugar de agapao. Porém, as respostas de Pedro são todas com o verbo fileo, amar como amigo. Agapao é acolher com amor, sem ódio, mas como um ser querido e amado de modo especial. A notícia chega a Jesus por intermédio de alguma pessoa: Lázaro, teu amigo, está gravemente doente (3). O pedido era urgente. Devia visitá-lo antes de deixá-lo morrer. O evangelista explica a predileção de Jesus por Marta, sua irmã e Lázaro no versículo 5. Era a casa de Simão o leproso, segundo Mt 26, 6 e Mc 14, 3 que João disse que Marta o servia e que Lázaro estava à mesa com Jesus (Jo 12,1-2). Significa isto que Marta era esposa de Simão e que talvez este foi um dos curados por Jesus? Cremos que há razões suficientes para afirmar como fato o que temos reproduzido como dúvida. O interesse de tudo isto é que podemos deduzir que Maria não era a Madalena e nem a mais amada, como para ser a discípula preferida dos evangelhos apócrifos de Tomé e Filipe e que, segundo uma tradição muito posterior, foi com seu irmão Lázaro a Marselha inaugurando com seu filho [e de Jesus] a dinastia dos Merovíngios. Do relato de hoje, Marta tem maior protagonismo do que sua irmã Maria.
A RESPOSTA: Porém, tendo ouvido, Jesus disse: esta doença não é para morte, mas para glória de (o) Deus, para que seja glorificado o Filho de(o) Deus por causa dela (4). Já que amava Jesus a Marta e a sua irmã Maria e a Lázaro (5). Audiens autem Iesus dixit eis infirmitas haec non est ad mortem sed pro gloria Dei ut glorificetur Filius Dei per eam. Diligebat autem Iesus Martham et sororem eius Mariam et Lazarum. Jesus parece não se inquietar porque para ele a doença não era para a morte [pros grego com genitivo] ou que terminasse tendo como fim principal a morte. Também no caso da filha de Jairo, Jesus parece não se incomodar com a morte a qual chama de sono: A criança não morreu; está dormindo (Mc 5, 39). Pelo contrário, Jesus vê na doença de Lázaro um outro fim: pela conveniência da glória do Deus (de Israel) a fim de que seja glorificado o filho do Deus (verdadeiro) por causa dela [da doença] (4). Esta parece ser a melhor tradução do versículo e favorece a interpretação posterior de Jesus quando declara que Lázaro estava morto (14). E o evangelista explica num parêntese a razão do porquê Jesus amava Lázaro. Era porque estava unido com laços de amizade com Marta e consequentemente com Maria e Lázaro, os irmãos dela. Era um amor devido ao agradecimento, pois em casa de Marta se hospedava nas idas a Jerusalém. A frase indica que era Marta a predileta de Jesus, pois era na sua casa onde se hospedava (Lc 10, 38).
O ATRASO: Como, pois, escutou que está doente, então certamente permaneceu no lugar onde estava dois dias (6). Então, após isto, diz aos discípulos: Vamos de novo para a Judeia (7). Ut ergo audivit quia infirmabatur tunc quidem mansit in eodem loco duobus diebus. Deinde post haec dicit discipulis suis eamus in Iudaeam iterum. Com a declaração anterior de que era só uma doença sem perigo de morte, Jesus prolongou sua estadia por mais de dois dias à beira do Jordão. Após esses dois dias, Jesus propõe a seus discípulos a subida a Jerusalém. Certamente o evangelista falava como uma testemunha do tempo e dos fatos: da ribeira do Jordão era uma subida de mais de 600 m até a montanha da Judeia onde estava a cidade santa.
A OBJEÇÃO: Dizem-lhe os discípulos: Rabi, nesta hora te buscavam para apedrejar os judeus e outra vez vais lá? (8). Dicunt ei discipuli rabbi nunc quaerebant te Iudaei lapidare et iterum vadis illuc. A resposta dos discípulos declara o porquê de sua retirada à margem esquerda do rio. De fato, era por causa de uma discussão com os de Jerusalém [os judeus] na festa da Dedicação, quanto à pergunta de se ele era o Cristo [o Messias]. Ouvindo a resposta eu e o Pai somos um (10, 30), os judeus apanharam de novo pedras para o apedrejar (Jo 10, 31). Porque anteriormente, ao ouvir que antes que Abraão existisse, EU SOU (Jo 8, 58) também apanharam pedras para atirar nele (Jo 8, 59). Tudo isto demonstra a razão pela qual os discípulos aconselham Jesus a não voltar. Como nota particular, parece que podemos afirmar que todo o relato está unido aos anteriores e não é uma redação de umas tradições que deveriam ser ligadas por um Kai ou outra conjunção, mas pela memória de uma testemunha original em que os tempos e as circunstâncias geográficas permanecem ainda nitidamente recordados. Segundo os discípulos, era uma contradição sair de Jerusalém por temor de uma morte duas vezes intentada e voltar de novo lá. Que poderia Jesus encontrar fora de um novo atentado contra sua vida?
UMA COMPARAÇÃO: Respondeu Jesus: Não são doze horas do dia? Se alguém anda de dia não tropeça, porque a luz deste mundo vê (9). Mas se alguém andar na noite, tropeça, já que a luz não está nele (10). Respondit Iesus nonne duodecim horae sunt diei si quis ambulaverit in die non offendit quia lucem huius mundi videt. Si autem ambulaverit nocte offendit quia lux non est in eo. Não é também o primeiro provérbio que Jesus traz à tona sobre o tempo e as horas propícias para o trabalho, pois em Jo 9, 4-5 temos uma correspondência próxima. As horas do dia [distinguindo-o da noite] eram horas de trabalho e horas em que se podia andar sem dar um tombo, já que [a gente] vê a luz deste mundo. Mas se alguém anda na noite, tropeça porque a luz não existe nele (10). É uma alegoria para dizer que ainda não tinha vindo a hora da noite em que ele seria entregue ao poder das trevas (Lc 22, 53), de modo a demonstrar sua fraqueza humana e não a fortaleza de sua divindade. Mas ele determina e conhece perfeitamente o tempo de sua prisão e morte. Ainda não chegou.
LÁZARO DORME: Estas coisas disse e depois disso diz-lhes: Lázaro, o nosso amigo, há caído no sono; porém vou para despertá-lo (11). Disseram-lhe os seus discípulos: Senhor, se está dormindo, se salvará (12). He said these things. And after this, He said to them, Our friend Lazarus has fallen asleep, but I am going that I may awaken him. Dixerunt ergo discipuli eius Domine si dormit salvus erit. Assim ele afirma que Lázaro, o nosso querido, está dormindo; mas vou para despertá-lo (11). Havia entre os judeus a crença de que toda doença se curava com o sono reparador como era para a atividade e o trabalho. Talvez Jesus, como no caso da filha do Jairo, chame de sono a uma morte que não seria definitiva, porque o morto viveria de novo após breve tempo como dormido. No AT temos as palavras de Isaías 26, 19: Despertai e cantai, vos que habitais o pó, falando da morte como de um sono. Não entenderam os discípulos e por isso responderam: Senhor se está dormido, salvar-se-á (12). Evidentemente Jesus falava da morte e os discípulos entenderam do sono.
A DECISÃO: Porém, Jesus tinha falado da morte dele [Lázaro]; mas eles pensaram que [Jesus] fala (sic) do descanso do sono (13). Então, finalmente, lhes disse Jesus abertamente: Lázaro faleceu (14). E me regozijo por vós, para que creiais, porque não estávamos lá. Mas vamos junto dele (15). Disse, então, Tomé o apelidado Dídimo, aos seus condiscípulos: Vamos também nós, para que morramos com ele (16). Dixerat autem Iesus de morte eius illi autem putaverunt quia de dormitione somni diceret. Tunc ergo dixit eis Iesus manifeste Lazarus mortuus est. Et gaudeo propter vos ut credatis quoniam non eram ibi sed eamus ad eum. Dixit ergo Thomas qui dicitur Didymus ad condiscipulos eamus et nos ut moriamur cum eo. Então Jesus disse abertamente: Lázaro morreu (14). E é por vocês que me alegro para que creiais porque não estávamos lá. Mas vamos a ele (15). A maioria das traduções usa o singular [não estava] e inclusive a vulgata [non eram]. Porém o grego usa o plural não estávamos. Uma cura, das muitas atribuídas a Jesus, não teria o efeito de uma ressurreição após 4 dias morto, ou seja definitivamente morto, porque a crença comum era que, após o terceiro dia, não havia possibilidade de reviver. Daí que a ressurreição seria um ato como o de Javé de soprar o alento sobre Adão para torná-lo espírito vivo (Gn 2, 7). E isso só podia ser aceito com um ato de fé em Jesus como sendo este o senhor da vida, ou seja, como Ele diria ser o dono da vida e da ressurreição. O convite de Jesus constituía um desafio para entrar na boca do lobo. Foi então que Tomé, cuja tradução grega é Dídimo, ou seja, gêmeo disse: Vamos também nós para morrermos com ele! Esta última consideração do evangelista indica uma testemunha ocular, pois além do testemunho declara quem foi o autor do mesmo.
SEGUNDA PARTE: JUNTO À TUMBA DE LÁZARO
ENCONTRO COM MARTA: Tendo chegado, portanto, Jesus o encontrou quatro dias já que estava na tumba (17). Pois estava Betânia cerca de Jerusalém, como quase quinze estádios (18). Venit itaque Iesus et invenit eum quattuor dies iam in monumento habentem. Erat autem Bethania iuxta Hierosolyma quasi stadiis quindecim. Quando chegaram a Betânia encontraram Lázaro que estava sepultado fazia 4 dias. Os judeus sepultavam seus mortos no mesmo dia. Fazia, pois, quatro dias que ele estava morto. Se quando Jesus falou da dormição de Lázaro, era o momento da morte do mesmo, os quatro dias podem ser um o da notícia de Jesus da morte do amigo e nos outros três dias os necessários, desde o dia da morte até se apresentar em Betânia de Jerusalém, caso fosse Betabara [a Betânia do outro lado do Jordão] o lugar em que Jesus estava retirado. Betânia estava a 15 estádios de Jerusalém. O estádio era uma medida grega, que correspondia à distância original do espaço atlético de Olímpia, onde se celebravam os jogos da Hélide [Grécia] e que tinha 600 pés gregos de comprimento, entre 180 e 185 m, estando, pois, Betânia a 1700 ou 1800 m de distância de Jerusalém.
A CENA: E muitos dentre os judeus tinham comparecido para cerca de Marta e Maria para consolá-las a respeito de seu irmão (19). Marta, pois, como ouviu que Jesus está chegando, saiu ao encontro dele; todavia Maria estava sentada em casa (20). Multi autem ex Iudaeis venerant ad Martham et Mariam ut consolarentur eas de fratre suo. Martha ergo ut audivit quia Iesus venit occurrit illi Maria autem domi sedebat. Muitos dentre os judeus tinham vindo perto de Marta e Maria para consolá-las por causa de seu irmão. (19). A frase indica que elas pertenciam a uma família bem acomodada. O fato mesmo de Maria quebrar um frasco de nardo no valor de 300 denários confirma a posição, mais que remediada, da família. Tenhamos em conta que 150 denários [trinta moedas de prata, ou seja, 30 siclos, preço fixado por lei para a vida de um escravo em Êx 21,32] foi o que Judas recebeu pela sua traição. Por outra parte, tanto as bodas como os funerais duravam uma semana. O costume era esperar o enterro e, após o mesmo, perto da tumba, os parentes formavam fileiras por onde passavam os conhecidos para os pêsames. A crença afirmava que os mortos não abandonavam a casa na primeira semana e era então que os parentes eram visitados em casa, pois segundo o Talmud, na primeira semana a pessoa em luto não podia sair da porta de sua casa; na segunda sai, mas não pode sentar-se; na terceira não pode falar e na quarta pode se comportar como qualquer um. E era no terceiro dia em que as visitas eram as mais numerosas. Maimônides [Moshé bem Maimom] (1135-1204) cordovês, que teve que sair da Espanha pela perseguição da dinastia dos Almóades, grande comentador da Mishná, médico do sultão Saladino e filósofo, declara como confortar uma pessoa enlutada: Os familiares do morto recebem no lugar do túmulo as pessoas amigas e os seus pêsames que consistiam nestas palavras: ¨Que o céu te conforte¨. Após isso, os familiares permaneciam dentro da casa por sete dias, e os amigos vinham para consolá-los, visitando-os. A pessoa de luto sentava-se num lugar preferente dentro da casa e os amigos sentavam-se no chão ao seu redor, em silêncio (Jó 2, 13). O silêncio era absoluto até que o afetado se manifestasse (Jó 3, 1). E quando o enlutado assentava com a cabeça, os amigos partiam deixando-o a sós. Marta, pois, quando ouviu que Jesus vem (sic) foi procurá-lo. Maria, porém, estava sentada na casa (20). Talvez isso indicasse que Marta fosse a mais velha das irmãs, responsável pela recepção de hóspedes, e tira toda dúvida de que Maria fosse a Madalena casada com Jesus em Caná como afirma o romance de Dan Brown.
TERCEIRA PARTE: DIÁLOGOS
O DIÁLOGO COM MARTA: Disse então Marta a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui meu irmão não teria morrido (21). Porém, também agora, sei que quantas coisas pedirdes a(o) Deus te dará (o) Deus (22). Diz-lhe Jesus: Ressurgirá teu irmão (23). Diz-lhe Marta: sei que ressurgirá na ressurreição, no último dia (24). Disse-lhe Jesus: Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo se morrer, viverá (25). E todo o que vive e crê em mim, de modo algum morrerá para sempre. Crês isso? (26). Diz-lhe: Sim, Senhor, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de(o) Deus que vem ao cosmos(27). E tendo dito estas coisas, foi embora e chamou Maria sua irmã, em particular, dizendo: O mestre está aqui e te chama (28). Dixit ergo Martha ad Iesum Domine si fuisses hic frater meus non fuisset mortuus sed et nunc scio quia quaecumque poposceris a Deo dabit tibi Deus. Dicit illi Iesus resurget frater tuus. Dicit ei Martha scio quia resurget in resurrectione in novissima die. Dixit ei Iesus ego sum resurrectio et vita qui credit in me et si mortuus fuerit vivet et omnis qui vivit et credit in me non morietur in aeternum credis hoc . Ait illi utique Domine ego credidi quia tu es Christus Filius Dei qui in mundum venisti. et cum haec dixisset abiit et vocavit Mariam sororem suam silentio dicens magister adest et vocat te. A petição de Marta é uma oração de fé no poder de Jesus. MARTA: Senhor, se tivesses estado aqui meu irmão não teria morrido (21). Mas também agora sei que tudo quanto pedirdes a Deus, Deus to concederá (22) Além de uma recriminação, Marta reconhece o poder de Jesus sem limites. JESUS: Teu irmão ressuscitará (23). MARTA: tenho acreditado [de sempre] que ele ressuscitará na ressurreição no último dia. Temos traduzido o eu sei [presente] por tenho acreditado [oida] em perfeito como está no grego original. Em parêntesis agrego o desde sempre para facilitar a compreensão do texto. Com isso ela expressa sua fé, apropriando-se da crença dos fariseus, contrária a dos saduceus, que não acreditavam na ressurreição dos mortos. Seria no último dia, ou seja, no fim do mundo. O verbo usado está na voz média que pode ser traduzida pelo reflexivo ou simplesmente pela voz ativa usual. Existia entre os judeus uma frase na qual eles resumiam o ambiente da ressurreição: era o dia da consolação. Por isso a versão Síria traduz: ¨na consolação do último dia¨. JESUS: Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que morra viverá (25) e todo o vivente e crente em mim, que não morra para sempre. Crês isto? (26). A palavra empregada para Ressurreição é anástasis que em grego clássico significa elevação, derivada de ana [=acima] e stasis [=estar de pé]. O verbo derivado anistemi significa fazer levantar, despertar e consequentemente ressuscitar. De Jesus usarão os evangelistas o verbo egeiro [= despertar, levantar, levantar-se]. A palavra anástasis é usada para o termo bíblico de ressurreição como vemos em Mt 22, 23 em que os saduceus não acreditam na ressurreição [anastasis]. A crença na ressurreição está claramente definida em Atos 24, 15: tendo esperança [dirá Paulo diante do governador romano] em Deus como estes também a têm de que haverá ressurreição tanto de justos como de injustos. E o próprio Jesus em João 5, 28: vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz [de Jesus] e sairão. A ressurreição geral aparece tardiamente no AT, desde a visão de Ezequiel dos ossos que se revestem de carne (37, 1-14) e Isaías 26, 19, onde se afirma que destruirá a morte para sempre. Finalmente em Daniel 12, 2, texto citado por Paulo em que então muitos ressuscitarão do sono da morte; uns para a vida eterna e outros para a eterna ignomínia. No segundo livro dos Macabeus aparece a ressurreição arraigada nas crenças populares. A mãe dos sete mártires exorta os filhos a sofrerem o martírio dizendo: O Criador que deu origem a todas as coisas vos retribuirá, na sua misericórdia, o espírito e a vida (2 Mc 7,23). A resposta de Jesus é do ponto de vista Teológico de um conteúdo extraordinário: Eu sou a Ressurreição (e a vida acrescentam outros manuscritos entre eles a Vulgata com a frase et vita) para explicar, imediatamente depois, essa afirmação tão contundente: Porque quem crê em mim, mesmo se estiver morto viverá (25) e todo [aquele que for] vivo que crê em mim, que jamais morra nunca mais. Crês isto? (26). Com estas palavras, Jesus declara seu poder absoluto sobre a morte, de modo que na fé, ou dito de outra maneira, na entrega a ele confiante estará o futuro da humanidade. A afirmação é total de modo a não admitir substituto nesse ministério de ser a vida dos seus seguidores. No caso, Jesus está pedindo uma fé inquebrantável para poder realizar a ressurreição de Lázaro. Ele pode ser o dador da vida porque o Pai lhe deu o poder de ter a vida em si mesmo (Jo 5, 26). Como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá a vida, assim também o Filho aos que quer dá a vida (Jo 5, 21). MARTA: Ela afirma que desde faz muito tempo, desde que conheceu Jesus, sempre tinha acreditado que ele, Jesus, era o Cristo, o Filho do Deus [verdadeiro] que deveria vir ao mundo. Marta sabia da ressurreição da filha de Jairo e do filho da viúva da Naim e por isso, perante a pergunta de Jesus, sua resposta é natural e absoluta. Ela está convencida de que Jesus pode ressuscitar os mortos e de que é o representante do Deus de Israel, como ungido, que todos esperavam, porque os judeus atribuíam a Deus o poder de dar a vida e ressuscitar. No AT Elias tinha ressuscitado o filho da viúva de Sarepta (1Rs 17, 21) e Eliseu o filho da Sunamita (2 Rs 4, 14) e foi no toque de seus ossos que um morto ressuscitou (2 Rs 13, 21). Esperava Marta uma ressurreição semelhante, ou acreditava ela que Jesus era definitivamente a causa da ressurreição de todos os homens? O título de Filho de Deus, unido ao simples título de Messias como uma aposição, era, neste caso particular, o título que os cristãos dariam a Jesus após sua ressurreição. Não existe inconveniente em pensar que o evangelista, neste último inciso, queira tomar as palavras de Marta em sentido pós-pascal.
DIÁLOGO COM MARIA: Ela (Maria) como ouviu, se levanta imediatamente e vem junto dEle (29). Ainda, pois, não tinha entrado Jesus na vila, mas estava no lugar onde o encontrou Marta (30). Porém, os judeus que estavam com ela na casa e a consolavam, vendo a Maria que rapidamente se levantou e saiu a seguiram dizendo que vai à tumba para chorar ali (31). Illa ut audivit surgit cito et venit ad eum. Nondum enim venerat Iesus in castellum sed erat adhuc in illo loco ubi occurrerat ei Martha. Iudaei igitur qui erant cum ea in domo et consolabantur eam cum vidissent Mariam quia cito surrexit et exiit secuti sunt eam dicentes quia vadit ad monumentum ut ploret ibi. Terminada essa conversa com Jesus, Marta chama Maria em segredo dizendo que o Mestre está aqui e te chama (28). Não sabemos se Jesus realmente pediu a presença de Maria. Na conversa anterior esta última está totalmente ausente. Mas nem todos os detalhes são referidos em forma taquigráfica. Imediatamente, Maria se levantou [já temos explicado como era o costume de ficar sentados no luto] e veio a Jesus. O evangelista diz que Jesus ainda não entrara na aldeia, mas estava fora, onde, por lei, estavam os sepulcros. Os judeus [de Jerusalém], vendo a pressa de Maria, a acompanharam, pensando que ia ao sepulcro para manifestar sua dor por meio das lágrimas. Era ainda o tempo da consolação, como temos descrito nas tradições judaicas e como é refletido no evangelho de hoje.
JUNTO AO SEPULCRO: Assim, Maria, quando chegou onde estava Jesus, tendo-o visto, caiu aos pés dEle dizendo-lhe: Senhor, se tivesses estado aqui, não teria morrido meu irmão (32). Jesus, então, como a viu chorando e os judeus que vieram com ela plangentes, abalou-se na alma e turbou-se interiormente (33). E disse: Onde o puseste? Dizem-lhe: Senhor, vem e vê (34). Jesus chorou em prantos (35). Maria ergo cum venisset ubi erat Iesus videns eum cecidit ad pedes eius et dixit ei Domine si fuisses hic non esset mortuus frater meus Iesus ergo ut vidit eam plorantem et Iudaeos qui venerant cum ea plorantes fremuit spiritu et turbavit se ipsum et dixit ubi posuistis eum dicunt ei Domine veni et vide et lacrimatus est Iesus. Ao encontrar Jesus, Maria se prostrou aos seus pés, reclamando sua ausência, exatamente como Marta tinha dito. As curas de Jesus eram tão frequentes, que Maria e Marta tinham a ideia de que bastava sua presença para que qualquer doença fosse curada. Jesus vendo-a chorar e vendo a dor de seus acompanhantes, gemeu e se comoveu profundamente [infremens do latim]. Perguntado onde estava enterrado, ao lhe dizerem vem e vê, chorou. Embora a vulgata traduza por lacrimatus est, derramar lágrimas aparentemente em silêncio, o grego usa nesse caso o verbo alalazö; porém o usado agora é dakruö, que significa chorar em voz alta, como se fazia no Oriente, ou seja, acompanhado de gemidos, como um plangente a mais.
COMENTÁRIOS: Disseram então os judeus: vede como o amava (36). Porém, alguns dentre eles, disseram: Não podia este que abriu os olhos do cego, ter atuado para que também este não fenecesse? (37). Dixerunt ergo Iudaei ecce quomodo amabat eum. Quidam autem dixerunt ex ipsis non poterat hic qui aperuit oculos caeci facere ut et hic non moreretur. Então os judeus exclamaram: Vede quanto o amava! Um comentarista afirma: As lágrimas de Cristo santificam todas as lágrimas que nascem do amor e da dor. Elas são precisamente as que se derramam por causa da morte de um ser querido. Porém, no evangelho, outros comentários eram mais críticos; Por que não impediu a morte? Pois ninguém pensava na ocasião que o tremendo milagre de reviver um morto de quatro dias podia ser feito. Tanto nos casos dos profetas do AT como nos casos das ressurreições de Jesus, a morte era recente e até os três dias os judeus acreditavam que o espírito não se separava das vizinhanças do corpo. O evangelista, ou relata os fatos como sucederam [isto implica sua presença real nos mesmos e que ele é um mero relator do sucedido], ou é um tremendo artista inventando detalhes que eram difíceis de supor após um fato imaginário e midráshico como alguns supõem. Logicamente a primeira das suposições é a única verdadeiramente fundamentada.
A TUMBA: Jesus, então, de novo, estremecido em seu interior, chega ao monumento, pois era uma cova e uma pedra estava depositada sobre ela (38). Iesus ergo rursum fremens in semet ipso venit ad monumentum erat autem spelunca et lapis superpositus erat ei. Jesus ainda estava gemendo e turbado; e se aproximou assim do túmulo [monumento diz o evangelista] que, neste caso, era uma cova ou gruta fechada por uma pedra acima da mesma. A Vulgata, como acostuma fazer, traduz literalmente por pedra superposta. Entre as formas de sepulcros, uma delas era um buraco na terra vertical de modo que o morto ficava como num poço de pé. Seria esta a sepultura de Lázaro, ou como imaginamos geralmente uma réplica da sepultura caríssima que José tinha escavado para si e que durante um tempo foi a tumba do Senhor? Outros admitem que era escavada no chão e até o fundo descia-se por uma escada desde a abertura feita no chão e fechada por uma pedra. O buraco verticalmente cavado no chão como um poço, é o que melhor se adapta ao grego com a pedra superposta.
A ORDEM: Diz Jesus: Levantai a pedra. Diz-lhe a irmã do morto, Marta: Senhor, já fede, pois é de quatro dias (39). Diz-lhe Jesus: não te disse que se acreditasses verás a glória de (o) Deus?(40). Ait Iesus tollite lapidem dicit ei Martha soror eius qui mortuus fuerat Domine iam fetet quadriduanus enim est. Dicit ei Iesus nonne dixi tibi quoniam si credideris videbis gloriam Dei. Jesus dá uma ordem inaudita: Levantai a pedra. O verbo airö <240> na realidade tem o significado de levantar, erguer especialmente uma pedra do chão, que o latim com tollere respeita e traduz de forma absolutamente correta. Não assim as bíblias vernáculas com retirar (BJ) ou tirar(RA). As inglesas lift (Literal) ou take away (JK). Temos que ficar com levantai, uma vez que sabemos como grande parte dos sepulcros eram poços cavados no chão. Como um pequeno comentário sobre o latim da Vulgata: Como pode afirmar Lorenzo Vala (+1457) que a Vulgata de Jerônimo (?) não era completamente fiel ao texto grego dos evangelhos? Em primeiro lugar, Jerônimo (+410) não é o autor do latim dos evangelhos. Ele retocou só alguns trechos dos evangelhos da Vetus Latina onde o texto latino alterava o sentido do texto grego, sem que revistasse o texto latino dos demais livros do N T que em definitivo se atribui a Cassiodoro (450). Não confundir este Flávio Magno Aurélio Cassiodoro com Casiodoro de Reina, de 1569, tradutor da Bíblia ao espanhol, chamada do Oso e que foi adotada pelos protestantes após as correções de Valera, como Bíblia de Casiodoro-Valera. Dizem ser a primeira tradução, mas já antes, durante o reinado de Afonso X o Sábio (1252-1284), a Bíblia podia ser lida em romance, ou seja, em castelhano (era a Prealfonsina, completa e traduzida do latim). Para se ter uma ideia, na Espanha se proibiu a Bíblia em romance em 1492, uma tradução do texto hebraico do AT canônico, feita por judeus espanhois, que afetava aos judeus de modo especial. Também existe a famosa Bíblia da Casa de Alba anterior a 1433. E em segundo lugar, em várias ocasiões, como a de agora, temos visto que o texto latino é mais correto e conforme com o original grego que os textos modernos das versões vernáculas. Mas prossigamos. E então Marta recomenda: Deve cheirar mal porque já está morto há quatro dias. Por este inciso, sabemos que também Marta voltou para o lado de Jesus. E pelo seu papel principal como intermediária, que ela era a irmã maior da família. Quatro dias [o quatriduanus latino] era o tempo no qual a corrupção tinha feito seu labor e o odor era inevitável. Era também o tempo do espírito se ausentar definitivamente do corpo. Os judeus tinham a ideia de que o espírito voltava ao corpo após a morte; mas quando via seu rosto desfigurado [após quatro dias] não o reconhecia e fugia dele para sempre, como diz Jó 14, 22 : e sua alma sobre ele [o corpo] sentirá pena. Jesus lhe recrimina dizendo: Não te disse que se creres verás a glória de Deus? Na realidade a frase foi dirigida aos discípulos em Jo 11, 4. A Marta, Jesus só disse que seu irmão ressuscitaria em Jo 11. 23. Sem dúvida, o evangelista une esta última afirmação, claramente dirigida a Marta, com o seu pensamento [ele era um dos discípulos que tinha ouvido Jesus expor o fato como glória de Deus], que, em essência, refletia a valia do milagre extraordinário, acontecido em Betânia.
QUARTA PARTE: A RESSURREIÇÃO
ORAÇÃO: Levantaram, pois, a lousa onde estava o morto depositado. Jesus então elevou os olhos ao alto e disse: Pai, te dou graças que me escutas (41). Pois eu sempre soube que me escutas; porém pela multidão que está ao redor disse, para que creiam que tu me enviaste (42). Tulerunt ergo lapidem Iesus autem elevatis sursum oculis dixit Pater gratias ago tibi quoniam audisti me. ego autem sciebam quia semper me audis sed propter populum qui circumstat dixi ut credant quia tu me misisti. Somente, no Pai Nosso, Jesus se dirige a Deus como Pai publicamente. Na oração do horto será o Abbá (Mc 14, 36) o objeto de sua súplica, mas é esta uma oração particular que revela como era a mesma, na boca de Jesus. Aqui, como seu Pai e não nosso Pai (Jo 20, 17). A oração de Jesus nesta circunstância foi um ato de apologia de seu ministério para que o milagre não tivesse uma outra conotação diferente da que pretendia. Elias, para demonstrar que Javé era o único Deus de Israel, orou dizendo: Escuta-me, Senhor para que este povo saiba que tu és o Deus verdadeiro (1 Rs 18, 37). Aqui é para demonstrar que Jesus era verdadeiramente o Filho único de Deus. O milagre não era total e principalmente um ato de amizade para com Lázaro e suas irmãs, mas uma demonstração de quem Ele era, como Filho e como único, de um Pai que todos consideravam seu Deus. Os olhos ao céu, indicavam a quem ele se dirigia e a invocação de ação-de-graças era uma cópia das orações de ação-de-graças dos judeus, que sempre as iniciavam com essa frase para captar a benevolência do Ser Supremo. Não havia, pois, dúvida de que Deus e não outro poder sobrenatural atuava por meio dele e de que ele era o enviado, caso a ressurreição se efetuasse. Jesus o dirá claramente: para que saibam que tu me escutas e que tu me enviaste. Além disso, os judeus só acreditavam que o único poder de ressuscitar um morto era o poder divino. Nenhum demônio, nenhum deus poderia ressuscitar um morto de 4 dias, pois unicamente Javé era quem podia dar o alento de vida que já tinha escapado de um corpo que estava no primeiro dia de sua corrupção.
O MILAGRE: E tendo dito estas coisas, com grande voz, gritou: Lázaro, aqui, fora! (43). E saiu o falecido, atados os pés e as mãos com faixas e o seu rosto com um sudário atado ao redor. Diz-lhes Jesus: Desatai-o e deixai marchar (44). Haec cum dixisset voce magna clamavit Lazare veni foras. et statim prodiit qui fuerat mortuus ligatus pedes et manus institis et facies illius sudario erat ligata dicit Iesus eis solvite eum et sinite abire. E assim com voz de mando, como quem é dono da situação e sabe será obedecido pela morte sujeita a seus pés, lançou o desafio: Lázaro, aqui, para fora! É a tradução direta do grego, embora o latim use o verbo veni no lugar do advérbio grego deuro que significa aqui. E saiu aquele que esteve morto, tendo os pés e mãos ligados com ataduras e o rosto envolto num sudário. Comparando as vendas de Lázaro com as de Jesus no túmulo vemos como a descrição do mesmo evangelista das duas mortalhas tem alguma diferença não essencial. Em 20,6-7 João fala de dois tipos de vendas: othonia [<3680>=panos de linho] e soudarion [<4676>=lenço]. Os outros evangelhos só falam do lençol sindön[4616>=lençol]. O sudário está em ambos os casos. Pelo que respeita ao lençol, João fala unicamente de panos de linho, como se fossem vendas nas quais fora envolto o corpo de Jesus. Além do milagre do retorno à vida, está o milagre de poder sair do sepulcro, máxime se ele era um poço vertical como temos descrito. Disse-lhes Jesus: Desatai-o e deixai que ele vá (44). Para Lázaro mover-se tal e como estava atado, exigia uma força sobrenatural; consequentemente o milagre era duplo: retornar à vida e poder-se movimentar tão amarrado e sujeito como estava. Agora que estava fora do sepulcro, era questão dele se movimentar livremente.
CONCLUSÃO: Portanto, muitos dos judeus [jerosolimitanos] que tinham vindo detrás de Maria e visto as coisas que Jesus fez, creram nEle (45). Multi ergo ex Iudaeis qui venerant ad Mariam et viderant quae fecit crediderunt in eum. Os judeus que acompanharam Maria quando esta foi ter com Jesus após ser avisada por Marta, foram testemunhas do fato da ressurreição e consequentemente creram nele. Logicamente a crença é a fé verdadeira: Jesus era o enviado de Javé, o Messias, Filho do Deus verdadeiro e Senhor da vida. Só faltava a ressurreição de Jesus para acreditar na sua divindade. Poucos dias mais tarde teria lugar o banquete em casa de Simão, o leproso (ver Lc 10, 38 comparado com Mc 14, 3), com o qual Marta estava provavelmente casada, pois servia à mesa no mesmo (Jo 12, 2).
PISTAS:
1) A tardança de Jesus em estar presente durante a doença de Lázaro parecia uma falta de amor, porém no fim, Jesus cumpriu perfeitamente: salvou a vida de Lázaro e ao mesmo tempo fez uma ação que resultou em glória de Deus. Nós queremos muitas vezes dirigir nossas vidas e até a história humana a nosso modo de ver. Deus, o Pai, pelo contrário faz sair o sol para bons e maus.
2)Jesus sabia muito bem o que devia fazer. Por isso dirigiu a conversa com Marta de modo a mostrar a relação do milagre com a sua pessoa e sua missão. Foi uma lição magistral para que as conclusões fossem tiradas de modo correto: realmente ele era Filho de Deus, e como tal, Senhor da vida e da morte.
3) A humanidade de Jesus: Se no evangelho aparece em primeiro plano a divindade pela grandeza do milagre, também podemos ver sua humanidade. As lágrimas, a dor profunda com a qual se soma ao sentimento de perda dos seus amigos mostram um Jesus profundamente humano, que não nega amizades nem sentimentos legítimos, como são lágrimas pela morte de um ser querido. Compreendemos que Deus é amor e quem não entende o amor e a compaixão não pode ter um conhecimento verdadeiro de Deus. O evangelho de hoje é um compêndio de Teologia: Ecce Deus, por seu poder sobre vida e morte. Ecce homo, por sua compaixão que é também a compaixão de um Deus que quer ser Pai.
4) Crer em Jesus é o início da vida da qual só uma atitude de rebeldia ou pecado pode nos separar. Não é preciso esperar outra condição se a fé é verdadeira e a entrega é total. Ele salvará todos os que o Pai lhe entregou de modo que seu pastoreio será o de guardar aqueles que o Pai lhe confiou.
5) O evangelho sugere uma forma de petição muito recomendável: aquele que amas está doente. Serve para todo momento e circunstância. Quem não se encontra doente e débil diante de um mundo hostil e pelas forças enfraquecidas pela tentação? Que fórmula magnífica encontramos nesta simples oração que é um gemido de ajuda! Muito especialmente deve ser a oração dos anciãos e dos pobres e necessitados.
6) Há muitos doentes que estão praticamente sós. A visita aos mesmos deveria ser uma das pastorais mais urgentes dos párocos e das atuações dos leigos em nossas paróquias. Só com entrega e sacrifício daremos o carinho necessário para que se encontrem amados do Pai e servidos pelos irmãos.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
CAMPANHA DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA
CLIQUE AQUI, acenda uma vela virtual, faça seu pedido e agradecimento a Nossa Senhora Aparecida pela sagrada intercessão em nossas vidas!
QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus! Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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