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NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO. Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A Páscoa não é uma alegria passageira. Páscoa é, mais do que tudo, um projeto de vida que tem como fim a Vida. Coração perturbado não compreende a grandiosidade desse mistério. Por isso o Senhor nos exortará: “Não se perturbe o vosso coração”. Jesus nos fala da casa do Pai, assegurando- -nos que lá tem muitas moradas, as quais ele mesmo preparará. É o amor que ama até o fim e para lá do fim! Jesus quer todos consigo, seja aqui, seja depois daqui. No entanto, a atitude de apreensão é muito humana e muito nossa, como muito humano e muito nosso é o desejo dos apóstolos de ver o Pai. Vivemos uma permanenente procura de Deus, sentimos um desejo, menos intenso, mais intenso de ver o rosto de Deus. E na procura de Deus, precisamos de pontos de referência para não nos perder. Jesus se coloca como ponto de refrência, seja para vencer a angústia pelo que pode acontecer, seja para encontrar a casa do Pai e fazer comunhão com Ele. INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Neste quinto Domingo do Tempo Pascal, celebramos a unidade perfeita entre o Pai e Filho. A morte e a ressurreição de Cristo abriu-nos o caminho para chegarmos à fonte e origem do Amor. É nessa perspectiva que caminhamos para a festa de Pentecostes. INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A afirmação de Jesus personaliza os temas bíblicos característicos e permite a toda experiência humana confrontar-se com ele sobre o sentido fundamental da existência. Jesus Cristo, Verbo feito carne, enviado como homem aos homens, fala as palavras de Deus e consuma a obra de salvação a ele confiada pelo Pai. Eis por que ele, ao qual quem vê, vê também o Pai, pela plena presença e manifestação de si mesmo por palavras e obras, sinais e milagres, e especialmente por sua morte e gloriosa ressurreição dentre os mortos, enviado finalmente o Espírito de verdade, aperfeiçoa e completa a revelação e a confirma com o testemunho divino de que Deus está conosco para libertar-nos das trevas do pecado e da morte e para ressuscitar-nos para a vida eterna. Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, cantemos cânticos jubilosos ao Senhor! (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) PRIMEIRA LEITURA (At 6,1-7): - "O número dos discípulos crescia muito em Jerusalém, e grande multidão de sacerdotes judeus aceitava a fé." SALMO RESPONSORIAL (32/33): - "Sobre nós venha Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos!" SEGUNDA LEITURA (1Pd 2,4-9): - "Aproximai-vos do Senhor, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e honrosa aos olhos de Deus." EVANGELHO (Jo 14,1-12): - "Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também." Homilia do Diácono José da Cruz – 5º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A "Na Casa do meu Pai há muitas moradas" Precisamos tomar cuidado com essas palavras de Jesus, dita aos discípulos antes da sua paixão e morte na cruz “Pois vou vos preparar um lugar...” Seria o Céu tão esperado um Condomínio Residencial de alto luxo onde cada um de nós teremos uma bela de uma casa com muito requinte, beleza e bom gosto? Esse evangelho é até muito utilizado no ritual das exéquias, pois serve de consolo diante da dor da morte de um ente querido. Claro que a expressão pode sim, ser aplicada nesse sentido! Qual o sentido da palavra “morada”? É o lugar onde moramos, é a nossa casa, onde agimos com espontaneidade e ficamos muito a vontade, sempre nos sentindo muito bem. É um lugar aconchegante onde vivemos na intimidade com os demais membros da família. É o lugar onde não precisamos e nem conseguiremos usar nenhuma máscara, pois diante dos membros da nossa família não há o que esconder: somos o que somos! Que morada é essa na casa do Pai, aonde Jesus vai nos preparar um lugar? Ele é o Filho do Dono da casa e tornou-se íntimo de cada um de nós, sabe perfeitamente qual o melhor lugar para ocuparmos na casa do Pai que são as nossas comunidades! Se nunca compreendermos que a Comunidade Cristã é esse lugar que o Senhor nos reserva, não adianta ficar sonhando com um Condomínio de Luxo lá no céu para aonde iremos um dia. Comunidade Eclesial e Vida Eterna são a mesma coisa, quem não se acostumar a ser Comunidade na Vida terrena, não vai querer ir para o Céu. Jesus é o único caminho seguro e verdadeiro para um dia entrarmos na Glória de Deus, e o caminho que é Jesus passa exatamente pela Comunidade. Há muito cristão afoito como Felipe, que depois fez essa maravilhosa e experiência e alcançou a santidade, mas que naquele momento ainda não compreendia o que Jesus falara, e queria um contato direto com o Pai, sem ter que assumir a Vida em Comunidade. “Há tanto tempo estou convosco e não me conhecestes, Felipe?” A nossa Igreja está presente em meio a humanidade há 2014 anos, muita gente cheia de boas intenções sente um encanto por Jesus, e jura que em sua vida nada há de maior e mais importante do que Jesus Cristo, mas quando se fala em Ser Igreja com os irmãos e irmãs, esses Cristãos de araque torcem os lábios e fazem uma cara de descontentes. Aceitam Jesus Cristo como Deus, recebem Sacramentos, acendem velas e fazem promessas, vão a pé a Bom Jesus de Pirapora, peregrinam a Aparecida ou a Canção Nova, mas vida em comunidade... Jamais! Como Felipe, querem VER o Pai, sem se darem conta de o Pai se revela no rosto de tantos irmãos e irmãs. Criam uma religião onde Deus os serve e fogem da comunidade, onde o cristão verdadeiro é aquele que serve a Deus servindo aos irmãos e irmãs. Trata-se, portanto, de um lugar preparado para o Serviço, para a entrega e a doação de si mesmo. O Caminho para o Pai é este, do Cristo Servidor e sofredor. Não há nenhum outro! José da Cruz é Diácono da Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 5º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A “Circuminsessio”Que palavra é essa? É simples. É o sinônimo de “perichoresis”. O quê? Ficará mais simples se eu utilizar as palavras de Jesus que escutamos neste domingo: “Crede-me: estou no Pai, e o Pai em mim. Crede ao menos por causa destas obras” (Jo 14,11). Agora ficou claro. Não? Então vamos deixar por um momento a palavra grega e analisemos a latina: “circuminsessio”. “Circum” significa “o que está em volta”, “sessio” significa “sentar-se”. Uma variante desta expressão é “cicumincessio”; neste caso, “cessio” estaria relacionada com “incessum” que significa “avançado”. Tem, por tanto, um significado mais dinâmico. Esse dinamismo se encontra presente na palavra grega, “perichoresis”, que conserva o significado de “recirculação” entre as Pessoas divinas. São Gregório Nazianzeno utilizou a palavra “perichoreo” para explicar a mútua presença da natureza divina e da natureza humana, compenetradas e sem confusão, em Cristo. São Máximo o Confessor utilizou essa mesma palavra para expressar a união das duas naturezas, mas com relação às ações do Verbo encarnado. A partir do assim chamado “Pseudo-Cirilo” começou a usar-se o vocábulo para a doutrina trinitária, desta maneira se afirma a multiplicidade das Pessoas em Deus permanecendo sempre a unidade divina. Os Doutores medievais utilizaram a palavra grega traduzindo-a por circumincessio ou circuminsessio. Perichoresis ou circumisessio é a in-existência ou presença de cada uma das pessoas da Santíssima Trindade nas outras duas. A doutrina cristã afirma que há um só Deus em três Pessoas verdadeiramente distintas. O Pai não é o Filho, nem o Filho é o Pai; o Pai não é o Espírito Santo, o Filho não é o Espírito Santo; o Espírito Santo não é nem o Pai nem o Filho. Não obstante, como existe um só Deus, é importante falar desse mútuo “permanecer em” das três Pessoas divinas para evitar qualquer divisão na essência divina e, em consequência, para evitar falar de três deuses. A doutrina da circuminsessio afirma que o Pai está no Filho e o Filho está no Pai, que onde está o Pai aí também está o Filho. E o mesmo se diga do Espírito Santo em relação ao Pai e ao Filho. Observemos também que Jesus nos convida a descobrir essa mútua presencia entre Ele e o Pai através das suas obras. As ações de Jesus mostram que ele faz em todo momento a vontade daquele que o enviou, que ele espera sempre o tempo que o Pai determinou para realizar as coisas, que ele está –de maneira semelhante a como estava Adão antes do pecado– em total dependência do Pai. Ele, ao contrário do primeiro homem, não se rebelou contra Deus, não o desobedeceu. Jesus sempre amou o Pai e fez em tudo a sua vontade. Essa maneira de fazer e de ensinar-nos, leva à compreensão da presença do Pai nele, e à inversa. A nossa maneira de atuar também mostra que em nós residem o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Que ninguém se assuste se nesse momento eu utilizo a palavra “perichoresis” ou “circuminsessio” não somente no sentido cristológico ou trinitário, mas também em perspectiva antropológica. Há uma presença de Deus no homem, e à inversa: há uma presença do homem em Deus. Esse é o “divinum comercium”, o comércio divino entre Deus e o homem, e que os Padres da Igreja gostavam de expressá-lo dessa maneira: o Filho de Deus se fez homem para que o filho do homem se fizesse filho de Deus. É importante que a nossa maneira de atuar, como no caso de Jesus, manifeste que Deus encontrou uma casa no nosso coração, que as três Pessoas divinas habitam na nossa vida em graça, que nós estamos presentes em Deus e que Deus está presente em nós. Agora mesmo, nesse exato momento, a humanidade que se encontra na Pessoa de Jesus, no céu, é a nossa humanidade. A humanidade gloriosa de Cristo manifesta como deve ser o homem segundo o plano de Deus porque Deus o criou para a incorruptibilidade, para a santidade e para a imortalidade. A nossa humanidade está na intimidade de Deus e Deus está no mais íntimo do nosso ser quando vivemos em graça. A vida cristã é consequência da in-habitação trinitária em nós. Assim fica mais fácil entender a Escritura quando afirma que nós somos templos do Espirito Santo. Não poderia ser diferente uma vez que Deus mora em nós. Ou seja, o que acontece nas profundezas da comunhão trinitária, acontece, a outro nível, entre Deus e nós. As relações entre o homem e Deus tem que ser a imagem das relações que há entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa Comentário Exegético — 5º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A EPÍSTOLA (1Pd 2, 4-9) CRISTO, PEDRA VIVA: Junto ao qual aproximando-nos, pedra viva, por homens certamente rejeitada, mas por Deus escolhida, preciosa(4). Ad quem accedentes lapidem vivum ab hominibus quidem reprobatum a Deo autem electum honorificatum. Pedro se refere a Cristo a quem chama PEDRA VIVA [lithos <3037> sön <2198>=lapis vivus]. Lithos é uma pedra, podendo ser uma pedra pequena, como em Mt 3, 9: Os afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. Uma pedra lavrada das usadas em construção, como em Mt 21, 42: Nunca lestes nas escrituras: a pedra que os construtores rejeitaram…que Jesus aplica a si mesmo.Também é a pedra que serve de tropeço [lithos proskommatos], como em Rm 9,33: Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, aquele que nela crê não será confundido. Pedras vivas [os homens] para o edifício do novo templo de Deus [a Igreja], como diz Paulo em Ef 2, 20: Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus a pedra angular. E dentro destas pedras vivas podemos dizer que algumas são preciosas [timioi] como em 1 Cor 3, 12, enquanto outras podem ser até palha. Como vemos no versículo seguinte, os fieis são essas pedras vivas que constituem a casa [templo] espiritual em que se oferece o sacrifício por meio de Cristo. Mas neste versículo o apóstolo fala de Cristo como a pedra viva rejeitada pelos homens. Refere-se Pedro à passagem que lemos em Mc 12, 10: Não lestes esta Escritura: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra angular [kefalë gonias]. (ver também Mt 21, 42 e Lc 20, 17). Essa Escritura é Is 28, 16 que diz: Eis que assentei em Sião uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa, angular, solidamente assentada; aquele que crer não foge. Veremos que significa pedra angular, como diz At 4, 11, citando Sl 118, 22: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra angular [kefalë gonias]. Era a pedra inicial de um canto do edifício que regulava toda a obra como fundamento da mesma. Por isso, Cristo é o fundamento desse edifício como diz Paulo em Ef 2, 20, que temos citado supra. PEDRAS VIVAS: E vós, como pedras vivas, sois edificados (como) casa espiritual, para um sacerdócio sagrado, para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por meio de Jesus Cristo (5). Et ipsi tamquam lapides vivi superaedificamini domus spiritalis sacerdotium sanctum offerre spiritales hostias acceptabiles Deo per Iesum Christum. Pedro continua sua metáfora de uma construção [templo melhor, pois é a casa de Deus] em que as PEDRAS de seus muros e interior são vivas, de homens dedicados ao seu serviço. E quem podia entrar no templo eram os sacerdotes que aqui recebem o nome de CONSAGRADOS [agioi] para o serviço do templo que é oferecer sacrifícios, no caso espirituais [não de animais ou de óleo, vinho e pão], mas da vida própria do corpo como dirá Paulo: Rogo-vos que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, sagrado e agradável a Deus, que é vosso culto racional. Assim, na semelhança de Cristo que a si mesmo se ofereceu (Hb 7, 37) e como diz Paulo vos amou e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave (Rm 6, 19). É claro que unicamente unidos a Cristo com nossos corpos como formando parte de seu corpo, pois somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros (Rm 12, 5), coisa que repete em 1 Cor 6,2. Modernamente podemos comparar as pedras vivas com as células do corpo de modo que a frase paulina poderia ser traduzida por nossos corpos são as células que formam o seu corpo. PEDRA ANGULAR: Por isso também está contido na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra no ângulo principal, escolhida, preciosa e quem crer nele nunca será iludido (6). Propter quod continet in scriptura ecce pono in Sion lapidem summum angularem electum pretiosum et qui crediderit in eo non confundetur. A Escritura é do grande profeta de Israel, Isaías 28, 16, que diz: Assim diz o Senhor Deus: Eis que assentei em Sião uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada, aquele que crer não se apresse. A tradução grega dos Setenta fala de embalö eis ta themélia [literalmente ponho nos fundamentos]. O Latim mittam in fundamentis (Vulgata) fundamentum ponam (Nova Vulgata) que é traduzida pela TEB como firmo uma pedra e pela espanhola pongo de cimiento, [sem dúvida melhor tradução] junto com kJV lay for a fundation. Ou seja, é uma pedra que forma parte dos alicerces do edifício. O problema é que tipo de pedra é essa que em hebraico original é pinnah<06438> que é traduzido ao grego por akrogöniaios <204> e ao latim angularis. Veja Jó 28, 6. A palavra pinnah significa esquina, canto, ângulo, extremidade. Junto com eben <068> formando a frase eben pinnatah significa pedra angular, lithos goniaios grego e lapis angularis na Vulgata. De onde deduzimos que a pedra angular é uma pedra colocada como alicerce no ângulo do edifício e que com sua posição estabelecia o desenho de todo o edifício. A tal pedra sai nestes versículos bíblicos: Gn 49, 24 em que José é o pastor e pedra [eben] de Israel. Salmo 118,22: A pedra [eben] rejeitada pelos construtores. Isaías 28, 16: fala de eben pinnat que é traduzido como lithos akrogöniaos [pedra de extremidade angular]. Mateus 21, 42 Diz-lhes Jesus: Nunca lestes, nas Escrituras, A pedra, que os edificadores rejeitaram, Essa foi posta por cabeça do ângulo [eis kefalën gönias]. Mc 12, 10; Lc 20, 17 e At 4, 11: Também falam de eis kefalën gönias, que temos traduzido por na cabeça do ângulo. Falando de uma pedra de alicerce não pode ser outra que a colocada primeiro como marcando o ângulo entre a fachada e o lateral do edifício que determinava todo o curso do mesmo, sendo, pois, fundamental ou cabeça do mesmo. Isso também pode ser interpretado em Ef 2, 29 em que se o alicerce são os apóstolos e profetas a pedra akrogöniaios [do ângulo extremo] é Cristo. Também nesta carta Pedro usa o akrogöniaios que é traduzido por simples piedra angular no espanhol; na TEB por pedra angular; e por chief corner stone em inglês da KJV. É a pedra do alicerce e como principal do mesmo é a que estava no ângulo entre a fachada e a parede lateral, que por sua posição determinava a estrutura do edifício. ILUDIDO [kataischynthë <2617>=confundetur] o verbo kataischynö tem o significado de desonrar, causar descrédito, ignomínia, vergonha. Especialmente quando alguém sofre uma repulsa ou fica desapontado. Assim a fé não ilude ou falha, de modo a cair na frustração por causa do engano. FIEIS E INCRÉDULOS: Para vós, pois, a honra, aos que creem; mas aos incrédulos a pedra que rejeitaram os edificadores essa tornou-se em cabeça do ângulo (7), e pedra obstáculo e rocha de escândalo. Os que tropeçam com a palavra, incrédulos, na qual também foram postos (8). Vobis igitur honor credentibus non credentibus autem lapis quem reprobaverunt aedificantes hic factus est in caput anguli et lapis offensionis et petra scandali qui offendunt verbo nec credunt in quod et positi sunt. Isaías, no livro de Emmanuel, anunciava que Jahveh seria pedra de escândalo e tropeço para as duas casa de Israel e de Judá: Ao senhor dos exércitos, a Ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso assombro. Ele vos servirá de santuário, mas será pedra de tropeço e rocha de escândalo às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém (Is 8,13-14). Essas casas eram as duas dinastias de Israel e de Judá. Pedro aplica diretamente a Cristo este texto que em Isaías olhava diretamente a Jahveh, o Senhor dos exércitos que destruiria ambos os reinos. Cristo, rejeitado especialmente por causa de sua cruz, como escândalo [rocha de escândalo] para os judeus e loucura [pedra obstáculo] para os gregos, mas honra para os que creem (1Cor 1,23). Pedro é consciente das cartas paulinas que julga têm lugares difíceis de entender, que os incultos e inconstantes torcem e igualmente as outras Escrituras para sua própria perdição. (2Pd 3, 16). É por isso que este trecho parece uma glosa do versículo citado de Paulo aos Coríntios. Os que tropeçam na palavra são incrédulos que com ela se encontram. O etethësan <5087> é imperfeito de tithëmi e em conformidade com a Vulgata [in quo poisiti sunt], que se refere ao neutro Verbum e parece que deve ser traduzido por: com ela tropeçam ou se encontram. A tradução espanhola é, pois, também a que estavam destinados, a esse funesto tropeço. O comentário é que o texto grego diz simplesmente a eso foram destinados. A TEB e a isto estavam destinados, com uma nota indicando não serem os incrédulos destinados por Deus à incredulidade mas à queda, caso se recusassem a crer. A KJV traduz whereunto also they were appoinnted [no qual também estavam designados]. A tradução latina é literal, mas deficiente; deveria dizer: in quo positi erant. Isto confirma minha tradução, com ela [a palavra] se encontravam. O significado é que a palavra [o evangelho] seria a pedra de tropeço para os incrédulos que com ela se encontram. RAÇA: Vós, porém, raça escolhida, real sacerdócio, nação sagrada, povo reservado de modo a proclamardes as excelências de quem desde a escuridão vos chamou para sua maravilhosa luz (9). Vos autem genus electum regale sacerdotium gens sancta populus adquisitionis ut virtutes adnuntietis eius qui de tenebris vos vocavit in admirabile lumen suum. Pedro agora se dirige aos crentes gregos que, segundo ele, como eleitos (1Pd 1,2), santificados em Cristo (1 Cor 1,2) formam uma raça escolhida, como escolheu Israel de todos os povos (Dt 10, 15), um sacerdócio de reis (Êx 19,5-6) [igual no grego da setenta:[basileion ieratreuma] que traduzem como reino sacerdotal e que a TEB traduz como comunidade sacerdotal do rei ou também comunidade sacerdotal. A KJV fala de royal priesthood [sacerdócio real]. Como têm existido sobre este assunto interpretações errôneas, vejamos a sua origem, tradução grega e latina. O Êx 19,5 diz em hebraico: Vocês serão para mim um reino de sacerdotes [mamleket<04467> kohanim<03548>]. Mamlakah =reino, domínio, soberania, de onde o constrito mamleket [do reino] usado tanto da dignidade real como do reino sujeito ao mesmo. Kohanim plural de kohen cujo significado é sacerdote e até levita. A tradução do hebraico é pois: reino de sacerdotes, com o ênfase no reino. A Setenta traduz baslileion <933> ierateuma <2406>. Basileion é o palácio real como substantivo e como adjetivo é régio, majestoso, esplêndido. E ierateuma é o ministério de um sacerdote e também a classe ou corpo sacerdotal. O grego, pois, fala de uma classe sacerdotal régia. A tradução da Vulgata é sereis para mim in regnum sacerdotalis [reino sacerdotal], que a nova Vulgata traduz como regnum sacerdotum [reino de sacerdotes]. E continua: ethnos <1484> agion <40> que podemos traduzir como nação consagrada. Finalmente laos <2992> eis peripoiësin <4047> povo em propriedade, ou pertencente de modo especial. Todas as conotações pertencem ao antigo Israel no seu conjunto, sem que cada um dos elementos ou indivíduos sejam tudo, mas tenham como finalidade a proclamação das excelências e maravilhas de Deus, já que das trevas como cegos encontraram a luz. EXCURSUS O SACERDÓCIO GERAL: Como muitos afirmam o sacerdócio universal dos fieis está apoiado neste trecho de Pedro e noutros do NT. Vamos explicar a diferença entre o sacerdócio universal e o específico e ministerial dos homens a este fim ordenados. Vejamos os textos: Êx 19, 5-6: Vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel. Ap 1, 6: E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo e sempre. Amém. Ap 5, 10: E para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra. Dos textos deduzimos que a fala é geral, não podendo ser todo o povo, ou melhor, seus indivíduos todos reis e sacerdotes, mas que neles haveriam umas classes como tais, por Deus aprovadas e dirigidas. Vejamos a interpretação do texto de Pedro. É um texto metafórico em que os homens, ou melhor, os fieis se comportam como pedras vivas de um templo espiritual. O nosso texto está tomado do Êx 19, 6 em que se afirma que os israelitas são o reino de Deus, um reino teocrático em que Deus (Jahveh) é o rei de Israel e os israelitas são sacerdotes, como súditos desse reino, separados dos pagãos, por oferecerem a Deus um culto que não pode ser oferecido pelos demais povos. Trata-se de uma metáfora para significar que os israelitas são pessoas consagradas ao serviço de Deus, em modo análogo, mas diferente dos sacerdotes propriamente ditos por intermédio de Jesus Cristo (5). Como diz Paulo em Rm 12, 1, o maior sacrifício é a oferenda dos vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é vosso culto racional. Um outro sacrifício aprazível e agradável a Deus é a esmola, como escreve Paulo em Fp 4, 18. Com isto creio que a dúvida está suficientemente resolvida. EVANGELHO (Jo 14, 1-12) O CAMINHO É CRISTO INTRODUÇÃO: O evangelho de hoje forma parte do discurso de despedida de Jesus, que inclui o final do capítulo 13 e todo o capítulo 14. Jesus vai preparar as moradas na casa do Pai. Jesus declara que, no entanto, poderão ser atendidos quando pedirem em seu nome. Jesus vai embora, mas, ao mesmo tempo, estará junto deles e não se sentirão órfãos. Como toda lógica semítica, ao contrário da ocidental que coloca uma tese inicial a ser provada posteriormente, o discurso de Jesus se inicia com as provas, para terminar com a conclusão final: Eu estou no Pai e o Pai está em mim. Com isso, declara que toda a sua obra foi um estrito cumprimento, em obediência, da vontade do Pai, Deus em última instância. E precisamente por essa obediência até a morte e morte de cruz, como diz Paulo, obteve um nome sobre todo nome ante o qual todos no mundo ver-se-ão obrigados a aceitar. Os bons com amor e agradecimento, como amigos e vencedores; e os maus com rebeldia e aversão, como inimigos e vencidos. A DESPEDIDA: Não se perturbe o vosso coração: acreditais em (o) Deus, também acreditai em mim (1). Na casa de meu Pai há muitas moradias. Se não, vos teria dito. Parto para preparar um lugar para vós (2). Non turbetur cor vestrum creditis in Deum et in me credite. In domo Patris mei mansiones multae sunt si quo minus dixissem vobis quia vado parare vobis locum. NÃO FIQUEIS AGITADOS: O semitismo usa o singular distributivo: não se altere vosso coração. Tarassö [remover, agitar, revolver, alvorotar e excitar] é o verbo usado quando Jesus se alterou na morte de Lázaro. É a perturbação que os discípulos deviam experimentar, dada a morte inglória de Jesus na cruz. Sua fé e sua esperança seriam perturbadas pela terrível morte, em certo modo, sacrílega ou maldita, do mestre. Essa perturbação tem como base o coração, que em termos modernos, seria a mente, onde os pensamentos e decisões têm sua sede em sentido figurado. Nas línguas semíticas o coração substituía a mente, como o alicerce dos pensamentos, do mesmo modo que os rins eram a base dos sentimentos do homem. CONFIAI: O pisteuö grego significa acreditar, ter confiança, não duvidar. Jesus se identifica pela primeira vez com o Pai, com Deus. Este é o tema de todo este discurso de Jesus. Ele tem o poder do Pai para que seus discípulos tenham completa confiança em suas palavras. Como acreditam em Deus, devem também acreditar em seu Mestre, Jesus. Este lhes fala sobre um futuro que proximamente está cheio de dificuldades, mas que finalmente terá uma base de eterna felicidade na casa do Pai. MONAI: É o plural de momë, palavra que provém do verbo ménö que significa permanecer e que, tantas vezes, repete João no discurso da última ceia. Jesus compara o céu com uma morada [oikia] em que existem inúmeras habitações [monai] ou estâncias, de modo a não faltar lugar para os hóspedes. De fato, a palavra mone [monai em plural] só aparece uma outra vez em Jo 14, 23 em que Jesus diz que o Pai e Ele [Jesus] farão de quem guarda seus mandamentos a sua morada. A palavra indica uma dependência habitada dentro da casa, um aposento, uma habitação dentro de uma casa, que, no nosso caso, é a casa do Pai. Se o substantivo não tem muito lugar no NT o verbo menö é, pelo contrário, um dos mais usados no quarto evangelho. Nos capítulos 14 e 15 do discurso da última ceia, aparece 13 vezes. A ideia é muito mais complexa do que um simples habitar numa casa comum. Implica uma comunhão de vida com Jesus e com o Pai: o permanecer em mim. SE NÃO, VOS DIRIA: Há uma tradução que o grego admite e que a vulgata traduz confusamente. É esta: Se não, vos teria dito que vou preparar-vos um lugar? Como temos visto, o grego termina em interrogação e deixa a pergunta como uma questão de crédito pessoal: por acaso pensais que eu poderia ter-vos dito que vou preparar-vos um lugar, se tais aposentos não existissem? A tradução italiana concorda com o que temos dito, que, aliás, é a conclusão mais natural do versículo. O latim traduz de modo confuso: Se quo minus dixissem vobis; quia vado parare vobis locum. E podemos traduzir: Nada menos vos diria senão isso [que há muitos aposentos] e que vou prepará-los. O quo minus latino pode ser traduzido por de não ser assim. A Nova Vulgata traduz: si quo minus, dixissem vobis, quia vado parare vobis locum? Que podemos traduzir: se não fosse assim, vos teria dito, já que vou preparar-vos um lugar? SE EU PARTIR: E se eu partir e vos preparar um lugar, de novo venho e vos receberei junto a mim para que onde estou eu, também vós estejais (3). Et si abiero et praeparavero vobis locum iterum venio et accipiam vos ad me ipsum ut ubi sum ego et vos sitis. Jesus declara, na continuação, que o insinuado no parágrafo anterior é verdadeiro. E, portanto, continua: Mas [mesmo] se for e preparar o lugar para vós, de novo virei e vos tomarei para que onde eu estou também estejais vós. Com isto, Jesus dá continuidade a sua presença com os discípulos. Ele e eles terão o mesmo fim: a casa do Pai. Jesus não declara a autoridade que ele tem para semelhante preparação que foi, sem dúvida, a sua morte vicária; mas explica que ele estará primeiro lá para preparar essa moradia, dependência ou cômodo que agora Jesus chama de lugar [topos]. Ele prepara, como um hospedeiro, o lugar de descanso, após uma jornada dura de caminho. Com ele devemos nos encontrar no fim de nossa jornada, certos de que, como os apóstolos, encontraremos o Jesus que preparou nosso descanso. Em Henoc tardio temos um interessante paralelo: No mundo futuro existem muitos aposentos preparados para os homens, bons para os bons e maus para os maus. Como Javé com seu povo, Jesus se mostra amigo até o fim, de seus amigos (Jo 13, 1). E apesar da separação temporária, ele voltará e não os deixará a sós. O CAMINHO: E, para onde eu vou, sabeis o caminho (4). Et quo ego vado scitis et viam scitis. O grego tem uma afirmação um tanto diferente de alguns códices e da Vulgata. Se o grego afirma que sabeis o caminho para onde eu vou, o latim oferece uma tradução algo diferente: Conheceis aonde vou e conheceis o caminho. A que se refere Jesus? Em primeiro lugar qual é o destino de Jesus? Em 13, 33 Jesus dirá: para onde vou, vós não podeis ir. Essa mesma palavra ouviram os fariseus no capítulo 8, 21. A questão é, só a morte como dizem os comentaristas, ou além da morte acessível a todo mortal independente de qualidades pessoais, existe uma outra finalidade ou meta que determine o caminho? Como pouco antes tinha falado da casa do Pai, com toda certeza, era essa a meta almejada por Jesus. Mas qual era o caminho? Hoje, através da história, iluminada pela fé, sabemos que a morte era a meta almejada e que o caminho para a mesma era a cruz. Mas qual dos discípulos de Jesus poderia saber, na última ceia, uma e outra verdade? Nenhum deles seria capaz. A interpretação dos fariseus foi pensar num suicídio [por acaso irá ele matar-se?]. A resposta de Jesus esclarece sua afirmação e com certeza, seria a mesma que poderia dar a seus discípulos: Sou do alto. Vós daqui de baixo… Na morte ficareis em vossos pecados e, portanto, vosso fim não pode ser o mesmo que o meu a não ser que creiais em mim, especialmente na hora em que eu for levantado, pois é então que devereis acreditar que EU SOU. Ou seja: sou Javé para vocês. E se na hora da morte não acreditais em mim, não podereis ter o mesmo final que é a casa do Pai. Jesus, por outra parte, tinha predito, segundo os sinóticos, sua morte e agora declara que ia para o Pai. Consequentemente, Jesus podia perfeitamente afirmar que sabeis não unicamente a meta, mas o caminho. Esse caminho era só o de Jesus, ou era o caminho, especialmente o da obediência, de seus discípulos também? O primeiro é evidente; o segundo é uma conclusão lógica de que todo discípulo não pode ser maior do que o Mestre (Lc 6, 40). TOMÉ: Diz-lhe Tomé: Senhor, não temos sabido aonde vais e como podemos conhecer o caminho? (5). Dicit ei Thomas Domine nescimus quo vadis et quomodo possumus viam scire? Tomé era nome hebraico que foi traduzido por Dídimo em grego, e que podemos traduzir por Gêmeo como vemos em Jo 13, 16. De quem era gêmeo Tomás? Não sabemos com certeza. Tudo que depois foi arquitetado como sendo gêmeo do próprio Jesus (?) é mais fantasioso que fantástico e seria anular, não unicamente a fé, mas todos os evangelhos e toda a tradição. Somente em tempos muito modernos tal hipótese teve cabida devido à descoberta do chamado evangelho de Tomé entre os papiros de Nag Hammedi em 1947. O evangelho é posterior a Ireneu (+202) e citado pela primeira vez por Hipólito (+225). Era o evangelho dos Naasenos, ou Ofitas, gnósticos do grupo dos ascetas que já foram condenados por Cirilo de Jerusalém que fala de Tomé, o autor, como sendo um dos três discípulos de Manes. [Para mais informação ver no site WWW. Presbíteros.com.br em Artigos número 57 Código da Vinci e no mesmo site em História da Igreja número 14 Os apócrifos]. O Tomé verdadeiro é, sem dúvida, um dos doze que teve uma iluminação especial da parte de Jesus ressuscitado para que não fosse incrédulo, mas fiel e de cuja fé imediata são as palavras de reconhecimento, meu Senhor e meu Deus (Jo 20, 28), até esse momento, nunca explicitadas pelos outros discípulos em forma tão clara. O evangelho de João derruba totalmente o evangelho gnóstico e filosófico de Tomé. Talvez, nesta ocasião, foi Tomé o escolhido para a pergunta, porque, no segundo domingo após a ressurreição, ele deu a resposta mais apropriada. Sem dúvida, que a pergunta de Tomé era a pergunta de cada um dos doze. EU SOU O CAMINHO: Diz-lhe Jesus: Eu sou o caminho e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão através de mim (6). Dicit ei Iesus ego sum via et veritas et vita nemo venit ad Patrem nisi per me. O CAMINHO: Jesus não responde à primeira parte da pergunta [não sabemos para onde vais] e se contenta em apontar a solução da segunda parte: Eu sou o caminho. Um caminho, não tanto exemplar como podíamos pensar de sua cruz, que deve ser tomada por todo discípulo verdadeiro em seu seguimento (Mt 16, 24), mas o caminho essencial se quisermos subir onde ele vai e morar com o Pai. Porque ninguém poderá chegar ao Pai a não ser por ele [Jesus] que seria melhor traduzido através dele [dia grego], por meio dele. Jesus é o caminho para o Pai. Esta é a acepção mais imediata e literal. Fora deste trecho unicamente a palavra caminho [odos] só sai em 1,23 em que é citado Isaías: endireitai o caminho do Senhor. A verdade e a vida parecem ser pleonasmos ou redundâncias em que as novas expressões clarificam a primeira delas, que no caso é o caminho. Porém têm suas acepções particulares que não devemos esquecer. ALETHEIA: Traduzida por Verdade em geral. No evangelho de João a palavra aparece 17 vezes nem sempre com um mesmo significado. Unida a graça [charis] significa fidelidade como em 1, 14 em que a verdade, em seu sentido primário, designa a realidade divina enquanto se manifesta e pode ser conhecida pelo homem. Por isso, o Verbo Encarnado [Jesus] se manifesta como graça e verdade de Deus. Em 8. 40 Jesus afirma que fala a verdade que ouviu de Deus como Filho, e coloca no polo oposto o diabo que é mestre da mentira (8, 44) do qual os judeus [jerosolimitanos] eram filhos. Em 17, 17 Jesus expressa o desejo de que sejam seus discípulos consagrados na verdade porque esta é unicamente a palavra de Deus. E, finalmente, dentro desta seleção de textos temos em 18, 37 a afirmação categórica de que ele veio ao mundo para dar testemunho da verdade e que todo aquele que a busca ouve sua voz. Consequentemente, Jesus se identifica com a Verdade divina e assim pode muito bem assinalar o caminho que leva ao Pai. ZOÉ: Vida é uma das palavras que constituem a base da teologia de João, o evangelista. No seu evangelho sai em 31 versículos. Para o que nos interessa, unida à verdade ou a Jesus, são estas: A vida estava nele e a vida era a luz dos homens (1, 4). De modo que, todo que nele crer, tenha a vida eterna (1, 15 e 17), Ele se identifica com a Escritura já que, assim como esta era a vida eterna para os judeus (5, 39), agora será substituída pela palavra de Jesus (5, 24). Ele próprio é o Logos de Deus. A si mesmo ele declara ser como pão do céu, em oposição ao maná do deserto que dava só a vida temporal (6, 48 e 51). Dele dirá Pedro: Só tu tens palavras de vida eterna (6, 68). Relacionado com o caminho temos suas palavras: quem me segue terá a luz da vida (8, 12). A vida eterna está unida ao conhecimento do Pai, como único Deus verdadeiro e ao de Jesus, como o Ungido a quem enviaste (17, 3) e este foi o fim pelo qual foi escrito este evangelho de modo que creiamos que Jesus foi o Ungido, o Filho de Deus, e crendo tenhamos a vida em seu nome [pessoa]. Destas citações podemos deduzir que, realmente, Jesus era a vida e que por meio dele essa vida se transmitia a todos nós, como luz e como verdade, e ao mesmo tempo, como caminho. Embora todos os códices tenham as três palavras ligadas pelo Kai esta conjunção pode implicar uma explicação da primeira palavra, que é o caminho, e poderíamos traduzir: Sou o caminho porque verdade para a vida. [Ou porque conduz a verdadeira vida]. Esta última é a verdadeira vida que é a própria de Deus. A explicação do seguinte versículo indica por que Jesus afirma ser a verdade: Se me tivésseis conhecido também teríeis conhecido o Pai. É desde agora que o conheceis e o tendes visto. Na primeira parte, Jesus parece recriminar seus discípulos por uma falta de fé ou excesso de cegueira, apesar de ter vivido juntos tanto tempo, como dirá depois a Filipe. UM PARÊNTESE: Se tivésseis me conhecido, talvez tivésseis, também, conhecido meu Pai; e desde agora o conheceis e o tendes visto (7). Si cognovissetis me et Patrem meum utique cognovissetis et amodo cognoscitis eum et vidistis eum. Este é o texto a, preferido por certos manuscritos gregos e a Vulgata latina. Mas a interpretação deste versículo é difícil. Devido, pois, à falta de precisão temporal dos modos do verbo em hebraico, que seria o original, alguns traduzem de forma diferente, admitida por alguns textos gregos que chamaremos de b alternativo: Se me conhecesseis, conhecereis também o meu Pai. Ou como diz a Nova Vulgata: Si cognovistis me, et Patrem meum utique cognoscetis. Esta última tradução das bíblias modernas, incluindo a Nova Vulgata, indica que Jesus afirma, com certeza, que os seus apóstolos estavam em condições de saber num futuro próximo, quais eram os atributos do Pai. De todos os modos, é de agora em diante que o conhecimento do Pai está à vista. A morte de Jesus e sua ressurreição e ascensão indicam como Ele era um espelho do Pai, um Deus praticamente desconhecido como Deus-Pai, pelos discípulos. Esta última tradução nos leva a um futuro próximo em que o Pai será revelado e estará com os discípulos como Jesus esteve com eles. O Espírito, o segundo parácletos, revelaria perfeitamente o Pai e não estariam órfãos de Jesus (Jo 14, 18). A PERGUNTA DE FILIPE: Diz-lhe Filipe: Senhor. mostra-nos o Pai e é suficiente para nós (8). Dicit ei Philippus Domine ostende nobis Patrem et sufficit nobis. Filipe [amante de cavalos] era oriundo de Betsaida, um dos primeiros discípulos do Senhor, conterrâneo e, provavelmente, amigo de Pedro, e de André. Ele tinha por colega Bartolomeu ou Natanael, a quem falou de Jesus; mas este não acreditava que de Nazaré poderia sair um profeta. Assistiu ao primeiro milagre nas bodas de Caná. Na multiplicação dos pães e peixes, foi a Filipe a quem Jesus dirigiu a pergunta onde compraremos pão, porque Filipe era da região. E Filipe respondeu que nem duzentos denários eram suficientes (Jo 6, 5-7). Devia saber bem o grego, para ser ele o intermediário entre os de fala grega, para que lhes mostrasse Jesus (Jo 12, 20- 21). A tradição diz que ele morreu crucificado numa cruz invertida, aos 87 anos de idade, no tempo de Diocleciano, na Frígia. A pergunta é: mostra-nos o Pai e isso nos contentará. Mostrar o Pai significava experimentar o sobrenatural? Porque os discípulos estavam acostumados a ver um homem [Jesus] que nada demonstrava de extraordinário a não ser, de vez em quando, as obras que realizava em nome [com o poder ou mandato] de meu Pai (Jo 10, 25). Essa era a visão que tinham os discípulos de Jesus. Mas parece que os discípulos queriam mais: ver Deus, como Moisés (Êx 23, 19-23), ou como (1 Rs 9, 9-15). Talvez um milagre extraordinário em que Deus se manifestasse como fez no Sinai. QUEM ME VÊ, VÊ O PAI: Disse-lhe Jesus: Tanto tempo estou convosco e não me tens conhecido, Filipe? Quem me tem visto, tem visto o Pai. E como tu dizes mostra-nos o Pai? (9). Dicit ei Iesus tanto tempore vobiscum sum et non cognovistis me Philippe qui vidit me vidit et Patrem quomodo tu dicis ostende nobis Patrem. Jesus, em primeiro lugar, parece que censura a pergunta de Filipe recordando a vida em comum, própria dos discípulos da época com o mestre correspondente, e que parece que não foi suficiente para que os apóstolos conhecessem Jesus e a sua doutrina. E finalmente, Jesus oferece a grande revelação: Quem me viu, viu o Pai. Como podes pedir, mostra-nos o Pai? (9) Com esta resposta, o conhecimento do Pai depende do conhecimento que temos do Filho. A resposta, referida aos apóstolos diretamente, também atinge todos os que conhecem Jesus através dos evangelhos e da tradição apostólica. O Pai é para nós o que a figura de Cristo nos manifesta e representa. É o Deus revelado na figura humana de Jesus. Logicamente não podemos supor que Deus tenha um corpo humano, mas como ele é Espírito, será o estudo do espírito de Jesus que nos leva a descobrir a verdadeira natureza de Deus, como nosso Pai, ou como o Pai, de quem Jesus disse que ele é meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus (Jo 20, 17). A resposta irônica de Jesus pode ser também dirigida a todos nós: tanto tempo estamos com ele, escutando suas palavras e recebendo seu corpo e ainda desconhecemos essencialmente o Pai, esse Deus que quer ser chamado de Pai. EU NO PAI E O PAI EM MIM: Não acreditais que eu no Pai e o Pai está em mim? Os ditos que eu vos falo não os falo por minha conta. O Pai, porém, quem em mim habita, ele próprio faz as obras (10). Tende confiança em mim. Porque eu no Pai e o Pai (está) em mim. Senão, ao menos por causa das próprias obras, tende confiança em mim (11). Non credis quia ego in Patre et Pater in me es? verba quae ego loquor vobis a me ipso non loquor Pater autem in me manens ipse facit opera. Non creditis quia ego in Patre et Pater in me est? But if not, believe Me because of the works themselves. A Velha vulgata tem um versículo diferente. Seguimos o grego original e a Nova Vulgata, pelo que diz respeito aos versículos. Também a N V não coloca a interrogação no versículo 11, como a antiga versão latina, que o inicia com um não. Essas são as principais diferenças entre os textos recebidos. Pelo que diz respeito às palavras e seu uso, podemos afirmar que, a falta do verbo ser, indica uma tradução de um original semita. Por isso, o temos colocado entre parênteses como está. A palavra grega rëmata é diferente do logoi. O logos é a palavra enquanto som, que tem um significado. Porém o significado de Rema é de discurso, sentença e por isso preferimos a tradução de ditos em plural. Na sua disputa com os jerosolimitanos, Jesus afirmará que ele e o Pai eram um (Jo 10, 10) e mais adiante dirá que se faço as obras de meu Pai, crede nas obras, para que conheçais sempre mais, que o Pai está em mim e eu no Pai (Jo 10, 38). Era uma união de poder que implicava união de expressão em palavras proféticas, como ditas pelo mesmo Deus, a quem Jesus chamava de Pai. Mas essa união pode se estender a uma vida trinitária em que a natureza une as pessoas. Filipe era, sem dúvida, testemunha dessa situação, e, por isso, Jesus se queixa de que ele não tivesse compreendido anteriormente essa unidade entre Jesus e o Pai. De alguma maneira, Jesus explica essa unidade por ser ele mesmo a mansão do Pai. Daí que as palavras de Jesus sejam as mesmas que as do Pai; pois a palavra, se verdadeira, é a expressão autêntica do ser que a emite. Essa palavra, como caminho e verdade, é a vida que o Pai realiza em Jesus, como parte principal de sua obra humana e para os homens. CONCLUSÃO: Amém, amém vos digo: Quem acredita em mim, as obras que eu faço ele também fará e maiores que elas, porque eu parto para o meu Pai (12). Amen amen dico vobis qui credit in me opera quae ego facio et ipse faciet et maiora horum faciet quia ego ad Patrem vado. É uma afirmação tão vigorosa que pode dar lugar a uma base teológica sobre as que chamamos mediações, além da essencial de Cristo. Nesta conclusão de Jesus, podemos fundar toda a mediação dos santos da Igreja. A obra ou obras de Jesus continuarão em seus discípulos. E a História da Igreja confirma esta palavra profética do seu fundador. PISTAS: 1) Na ausência do Mestre, este se preocupa de antemão com a situação da orfandade dos discípulos. E explica a razão dessa ausência: preparar a morada no céu, na casa do Pai comum. Como ele entrou, eles entrarão também. Como Ele ressuscitou, eles também ressuscitarão. Por isso, não devem se sentir atribulados, já que a questão se resolve na esperança fundada na fidelidade de Cristo à sua palavra. 2) Jesus aponta a si mesmo como o verdadeiro e único caminho para alcançar o Pai. Um caminho do qual depende a vida do discípulo. Caminho nada fácil e que não podemos abandonar uma vez encontrado, ou que possamos escolher arbitrariamente, como sendo um caminho particular de cada um e não o determinado pela verdade externa e eterna de Jesus. Pois Jesus conhece bem esse caminho que é de ascensão [anábase] porque ele tinha antes descido [katábase] para descrevê-lo. O caminho de Jesus passava pela cruz que era o motivo básico no qual, a fé em sua divindade era questionada. Em nós, esse caminho é o percorrido pelo mal do mundo que se tornará sofrimento para o discípulo. 3) A verdade e a vida se encontram como se encontram base e termo, caminho e meta. Sem a verdade que Jesus representa, a vida do homem não tem sentido, porque ele viverá na mentira, da mentira e para a mentira. A procura da verdade está como dever primário entre os problemas que todo homem deve resolver. E na procura encontramos Jesus como questão fundamental, porque ele disse ser o único que sabe e pode dar testemunho da verdade, já que veio do alto, do lugar em que ela existe como princípio e fim, como o Alfa e Ômega de todas as coisas. 4) Jesus viveu plenamente a vida humana como nenhum outro homem pode vivê-la. Como Filho, respeitando um Pai que, nos seus planos, lhe impôs uma tarefa extremamente difícil; como irmão, porque foi uma vida entregue para a salvação do homem. Mas a vida de Jesus é parte essencial de toda vida humana que deseja unir a verdade da mesma, oculta no mistério da fé, à luz da esperança na mansão do Pai. Seria viver a vida com amor e por amor a Deus e aos homens, como tarefa primária de todo homem neste mundo. 5) Jesus apela ao milagre [obras, ou semeia=signos] para que os discípulos acreditem em suas palavras e promessas. O milagre autêntico é a assinatura divina para confirmar palavras [remata] humanas. Como é possível que modernos exegetas recortem, mais ou menos arbitrariamente, semelhantes obras de Cristo, tudo o qual terminaria em transformar um Homem-Deus num homem-sábio? EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova. - Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana. Interpretação errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. Consequências: - O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
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