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NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO. Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Celebramos, hoje, as pedras fundamentais da fé cristã. Através destes dois apóstolos a Igreja celebra hoje sua apostolicidade, ou seja, celebra seu fundamento apostólico. Pedro foi preso por causa de sua fidelidade ao Evangelho. Paulo foi morto por causa da fidelidade ao Evangelho. Herodes persegue, tortura e mata os cristãos para agradar a sociedade. Hoje, celebramos o Mistério Pascal considerando a coragem e fidelidade dos apóstolos que souberam resistir a tudo. Peçamos ao Senhor, nesta celebração, que nos conceda o dom da fortaleza para não desanimarmos diante das agressividades contra a Igreja e contra a fé que professamos. INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Celebramos a Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, duas colunas da fé católica cuja missão se condensa no ministério do Papa. Por isso, rezamos de modo especial pelo Papa Francisco, que se assenta na “cátedra” de Pedro, para cuidar de toda a Igreja. Que o óbolo de São Pedro seja nossa contribuição, por meio das coletas de hoje, para fortalecer a missão da Igreja no mundo inteiro. INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Celebramos hoje a Solenidade dos Apóstolos são Pedro e são Paulo, as duas colunas da fé católica. Pedro toma a dianteira da profissão de fé apostólica e recebe a cátedra da unidade da Igreja; Paulo leva a fé aos confins do mundo e estende a Igreja a todos os povos. Estas duas missões se condensam no ministério do Papa, cujo dia hoje celebramos. Por isso, rezamos de modo especial pelo Santo Padre o Papa Bento XVI, que se assenta na "cátedra" de Pedro, mas também percorre, com espírito paulino, o mundo, visitando seus irmãos e confirmando-os na fé. Que o óbolo de São Pedro seja nossa contribuição, por meio das coletas de hoje, para a missão da Igreja no mundo inteiro. A celebração de hoje é antiquíssima; foi inscrita no Santoral romano muito antes da festa do Natal. No século IV já se celebravam três missas, uma em São Pedro no Vaticano, outra em São Paulo fora dos muros, a terceira nas caracumbas de São Sebastião, onde provavelmente estiveram escondidos por algum tempo os corpos dos dois apóstolos. Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, cantemos cânticos jubilosos ao Senhor! (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) PRIMEIRA LEITURA (At 12, 1-11): - "Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava!" SALMO RESPONSORIAL 33(34): - "De todos os temores me livrou o Senhor Deus." SEGUNDA LEITURA (2Tm 4, 6-8.17-18): - "Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé." EVANGELHO (Mt 16,13-19): - "Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo." Homilia do Diácono José da Cruz – SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO - DIA DO PAPA – Ano A "As Colunas da Igreja" Festa de São Pedro e São Paulo, que celebramos nesse domingo, nos faz pensar na origem de nossas comunidades. Como tudo começou? Quando foi a primeira celebração, quem fez? Como é que a comunidade cresceu e se desenvolveu para chegar aos dias de hoje? Uma coisa é muito certa, o fundador ou fundadores, deve ter feito uma experiência muito profunda com Jesus Cristo, pois sem isso, a comunidade não teria um alicerce, alguém em quem apoiar-se para poder crescer e cumprir a sua missão. Comecemos a falar primeiro de Paulo, cuja teologia, isso é, o modo como ele começou a pensar as coisas de Deus, depois do encontro com Jesus no caminho para Damasco, foi tão marcante na vida das comunidades, que esse apóstolo é mencionado como o segundo fundador da nossa Igreja. De fato, seria difícil pensarmos em uma igreja universal, presente no mundo inteiro, em outras culturas e nações, sem nos lembrar de Paulo, aquele que pregou aos gentios que eram pessoas de outra cultura. Paulo não ficou só na mística, se assim o fizesse, teria fundado uma outra religião e arrastaria milhares de adeptos, porém, sistematizou alguns pontos doutrinários importantes, organizou as comunidades que havia iniciado, e o mais bonito, mesmo pensando um pouco diferente do Chefe dos Apóstolos, manteve-se firme em comunhão com ele e os irmãos da Igreja de Jerusalém, com quem aliás, sempre foi solidário , ao organizar coletas que levava para a Igreja mãe. São Paulo é o modelo fiel do cristão autêntico, que faz a experiência com Jesus, se encanta com o seu ensinamento, desfaz o seu projeto de vida por causa dele e torna-se um fiel seguidor do evangelho, dando por ele a própria vida como aconteceu em seu martírio.São Paulo sempre acreditou nas comunidades, mesmo quando havia indícios de desunião, problemas internos, contendas e divisões, acreditava nas pessoas e mantinha com elas uma boa relação, mesmo que se tratasse de Pedro, que tinha uma linha mais tradicionalista, causa de algumas divergências bastante sérias entre ambos mas Paulo nunca deixou de amá-lo por causa disso. Ele mesmo manifestava essa sua flexibilidade, quando afirmava que se fazia um com todos e não tinha dificuldade de conviver com as pessoas. Outra coisa importante na pessoa de Paulo, é que ele promoveu uma ação evangelizadora em ambiente hostil á Cristo e ao seu evangelho, era corajoso e nunca teve medo de anunciar a Verdade. Isso nos leva a pensar que muitas vezes somos negligentes, quando ficamos esperando que as pessoas venham procurar nossa pastoral ou movimento, parece que a gente não se sente seguro para falar do evangelho no meio do mundo, lá onde as pessoas precisam escutar esse anúncio, porque achamos que não vão gostar e que algumas vão ser contra. Se São Paulo pensasse assim, milhares de pessoas, ontem e hoje, não teriam conhecido a Jesus. São Pedro é chamado o príncipe dos apóstolos, isso é, aquele que iniciou o apostolado, e vemos no evangelho de hoje, porque o próprio Cristo o constituiu chefe da sua igreja. Ele conseguiu enxergar em Jesus algo muito mais do que se falava, o povo via nele um Messias Profeta, comparável a João Batista ou a Elias, outro grande profeta na História de Israel, mas esse pensamento era fruto de uma ideologia, e a era messiânica que todos aguardavam com ansiedade, representava uma nova política, uma inversão do quadro, o Messias era um libertador Político, enviado por Deus sim, porém, com uma missão terrena. O apóstolo Pedro, que fala em nome do grupo, consegue fazer essa transição, do Messias Histórico e Ideológico, para o Messias Espiritual, ele não era enviado por Deus mas sim o próprio Deus. O que Jesus falava e fazia, todos viam, e a partir disso embalavam o sonho e a esperança de dias melhores para o povo de Israel, mas sempre em uma perspectiva terrena. A confissão de Pedro manifesta pela primeira vez no meio do grupo, a Fé em uma Salvação que supera toda e qualquer realização humana, onde o homem atinge a plenitude do seu ser, divinizando aquilo que é humano. Cesaréia de Filipe é terra de pagãos, cercado por rochas sobre as quais há edificações habitadas pela elite do império romano. A igreja de Cristo está no meio do mundo, porém edificada sobre a fé professada por toda comunidade, que tem como base a fé professada por Pedro, naquele dia. Como Pedro e Paulo, que sejamos nessa igreja um apoio seguro para os que ainda não crêem, porque não conhecem a Cristo e acima de tudo, nunca nos esqueçamos que Jesus Cristo edificou o reino sobre pessoas como Pedro e Paulo, instrumentos aparentemente fracos, mas que pela ação da graça operante e santificante do Batismo que receberam, tornaram-se perenes, transpondo fronteiras e todas as barreiras que separa os homens, para anunciar Jesus Cristo, o Filho de Deus, aquele que plenificou o nosso existir. (São Pedro e São Paulo MATEUS 16, 13-19) José da Cruz é Diácono da Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO - DIA DO PAPA – Ano A “Viva o Papa!”“Tu és o Cristo”, eis a profissão de fé de Pedro. “Tu és Pedro”, eis a demonstração de que Deus confia nos homens. Na clausura do Ano Sacerdotal, o Papa Bento XVI falava da audácia de Deus, que consiste em confiar nos homens a tal ponto de fazer deles instrumentos e canais de graça. Realmente, Deus confia em nós! Não nos necessita, mas quis necessitar de nós. São Pedro nasceu em Betsaida, cidade da Galiléia. Conheceu Jesus através de seu irmão André. Jesus “fixando nele o olhar” (Jo 1,42) o chamou para segui-lo. O olhar carinhoso de Cristo devia ser arrebatador, convincente e encerrava um radicalismo de entrega a Deus atraente. Aquele olhar transformou Pedro, agora chamado Cefas, pedra, Pedro. De simples pescador converte-se num pescador de homens. Foi o vigário de Cristo na terra quando ele, o Senhor, já não estava entre os seus em corpo mortal. Jesus quis instituir a sua Igreja tendo Pedro e seus sucessores à frente dela, e isso para sempre. Pedro, Lino, Cleto, Clemente, Evaristo, Alexandre, Sisto, Telésforo, Higino, Pio, Aniceto, Sotero, Eleutério, Vítor,… Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI: 266 papas, 265 sucessores de São Pedro. Que maravilha! Cheios de entusiasmo professemos a nossa fé nesta Igreja, que é “Una, Santa, Católica e Apostólica, edificada por Jesus Cristo, sociedade visível instituída com órgãos hierárquicos e comunidade espiritual simultaneamente (…); fundada sobre os Apóstolos e transmitindo de geração em geração a sua palavra sempre viva e os seus poderes de Pastores no Sucessor de Pedro e nos Bispos em comunhão com ele; perpetuamente assistida pelo Espírito Santo” (Paulo VI, Credo do Povo de Deus). S. Jerônimo expressou firmemente a sua adesão ao Papa com as seguintes palavras: “não sigo nenhum primado a não ser o de Cristo; por isso ponho-me em comunhão com a Sua Santidade, ou seja, com a cátedra de Pedro. Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja”. A história da Igreja – são já dois mil anos! – é uma demonstração de força e de debilidade, também no que se refere à história do papado. Graças a Deus, o século XX está cheio de grandes Papas, a começar por S. Pio X no começo do século culminando com João Paulo II. Todos nós somos testemunhas também da bondade e da inteireza do atual Romano Pontífice, Bento XVI: quanta fortaleza, quanto amor a Deus, quantas lutas para defender a Santa Igreja. A maioria dos Papas foram homens magníficos, cheios de Deus e entregues ao serviço do rebanho a eles confiado. A Igreja é santa, é guiada e sustentada por Deus, nada a pode derrotar. É Santa, os pecadores somos nós; Deus a fundamentou de tal maneira que nem o inferno e seus demônios, nem os homens, poderão derrotá-la. A Igreja, esposa de Cristo, chegará à Parusia. Outro fato maravilhoso é que os Papas, mais santos ou menos santos, sempre guardaram intacto o depósito da fé. Deus garante o pastoreio da Igreja através desses homens que ele mesmo escolheu. É fato e é dogma de fé: o Papa quando fala sobre coisas de fé e de moral com a sua autoridade de Supremo Pastor do rebanho não pode errar, não pode equivocar-se. O Papa é sempre o bispo de Roma. Deus quis – em sua providência – que Roma tivesse esse significado especial na história da Igreja peregrina. O Romano Pontífice como vigário de Cristo é o administrador de Cristo aqui na terra, como sucessor de Pedro leva consigo toda a autoridade que Cristo confiou ao mesmo Pedro para apascentar o rebanho do Senhor. S. Josemaria Escrivá dizia que “o amor ao Romano Pontífice há de ser em nós uma bela paixão, porque nele vemos Cristo”. O católico deve estar sempre perto do Papa: escutá-lo, apoiá-lo, rezar por ele e suas intenções. Não podemos romper a unidade católica: todos com o Papa! De fato, para estar em plena comunhão com a Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, é preciso professar a mesma fé, celebrar os mesmos sacramentos e estar unidos à hierarquia cujo ponto principal é o Papa. “Sou católico, vivo a minha fé” (Edições CNBB), um Compêndio da Doutrina elaborado pela Conferência Episcopal, quando se pergunta “Quem é o Papa para nós, católicos?” responde da seguinte maneira: “o Papa é o sucessor do apóstolo Pedro, o bispo de Roma que Jesus constituiu como “perpétuo e visível fundamento da unidade” (…) é o pastor de toda a Igreja. (…) tem a missão de confirmar toda a Igreja na fé, continuando a mesma tarefa que Cristo confiou a Pedro (…) Todo católico, além de conhecer e viver a Palavra de Deus, de dar testemunho da sua fé em Cristo, de participar da comunidade eclesial, espaço de testemunho, de serviço, de diálogo e de anúncio, ama e respeita o Papa e os bispos como seus legítimos pastores. Ora por eles e obedece às orientações da Igreja Católica” (V,15) Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa Comentário Exegético – SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO - DIA DO PAPA – Ano A Epístola (2 Tm 4, 6-8. 17-18) Pois eu estou sendo oferecido em libação e a ocasião de minha partida tem chegado (6). Ego enim iam delibor et tempus meae resolutionis instat. OFEERECIDO EM LIBAÇÃO: O verbo spendö [<5743>=delibare] significa derramar, fazer uma libação, e figuradamente, na passiva, de uma pessoa cujo sangue é derramado em morte violenta por causa de Deus. Sai duas vezes no NT. Na segunda é em Fp 2,17:Mesmo que eu seja oferecido por libação [spendomai]sobre o sacrifício. É o mesmo Paulo que fala e que claramente usa com o mesmo sentido o verbo em questão. OCASIÃO: A palavra Kairos [<2540>=tempus] é o momento propício, que temos traduzido por ocasião. PARTIDA: em grego analysis [<359>=resolutio] dissolução, saída, especialmente de um barco, soltar amarras. Paulo está preso em Roma, desamparado de todos sem esperança de libertação. Era o ano de 67 pouco antes de sua morte. Antes desta em que derramou seu sangue por causa do evangelho, escreve esta carta pedindo a Timóteo para que lhe acompanhe nos seus dias finais. A luta, a boa, lutei. A corrida completei, a fé guardei (7). Bonum certamen certavi cursum consummavi fidem servavi. LUTA: [aglön<73>=certamen] o significado é assembleia, o lugar onde se realiza a assembleia, especialmente para os jogos, a arena dos mesmos, daí a luta, e em geral uma luta ou combate e finalmente uma ação legal ou julgamento. Aqui é claro que Paulo considera sua vida como um combate contínuo contra o mal, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestes (Ef 6, 12). O evangelho encontra um inimigo terrível nas verdadeiras forças do mal que não são a carne e sangue [os homens], mas as potestades celestes, ou seja, o próprio Satanás cujo reino Jesus previa como caindo (Lc 10, 18). Só assim descobriremos como a Igreja é perseguida, aparentemente sem motivo ou razão suficiente, como para ser o sangue de seus mártires realmente libados no terreno da História. Isso abre uma porta à interpretação da História do ponto de vista sobrenatural, em que existem momentos como na vida de Jesus dos quais podemos dizer como o Senhor: esta é a hora e o poder das trevas (Lc 22, 63). E Paulo continua sua comparação com o espetáculo dos jogos antigos como se fosse um gladiador que agora entra na corrida das bigas e quadrigas do circo, tudo para conservar sua fé naturalmente na missão de Cristo. Do resto, me está reservada a coroa da justiça que me dará o Senhor naquele dia, o justo juiz; pois não só a mim, mas a todos os que amam seu advento (8). In reliquo reposita est mihi iustitiae corona quam reddet mihi Dominus in illa die iustus iudex non solum autem mihi sed et his qui diligunt adventum eius.Porém o triunfo final será sempre o triunfo do bem, onde a coroa da justiça, isto é, o prêmio [estamos dentro da arena da competição] a levará unicamente quem tiver competido com a regra do bem-fazer, ou seja, de quem cuidou de cumprir os mandatos do Senhor que constitui a única justiça válida e digna de recompensa. Por isso, a recompensa vem do Senhor, como justo juiz. E esta vitória não é só de Paulo, mas de todos os que amam ou estão esperando esse seu último advento ou presença entre a humanidade. Pois o Senhor esteve presente e me deu forças para que por meu meio o anúncio fosse completado e o ouvissem todos os gentios e fui libertado da boca do leão (17). Dominus autem mihi adstitit et confortavit me ut per me praedicatio impleatur et audiant omnes gentes et liberatus sum de ore leonis. Nos versículos que faltam nesta leitura Paulo se queixa de sua solidão. Ninguém o visita, ninguém o ajuda. Mas ele encontrou um advogado no Senhor. Foi tal a sua defesa unicamente com a ajuda do paracletos [o advogado defensor prometido por Jesus] que serviu para dar a conhecer o evangelho entre os gentios como aprece na sua defesa diante do rei Agripa (At 25, 13 ss). E diz que foi libertado da boca do leão, ou seja, até agora nessa primeira audiência não foi condenado, como lemos em Sl 22,21: salva-me das faces do leão e talvez tenha em conta o castigo dado a Daniel na cova dos leões do qual o anjo de Jahveh o libertou, mas fizeram pedaços dos corpos de seus inimigos (Dn cap 6). E me libertará o Senhor de toda obra má e salvará para seu reino, o do céu, ao qual a glória para os séculos dos séculos. Amém (18). Liberabit me Dominus ab omni opere malo et salvum faciet in regnum suum caeleste cui gloria in saecula saeculorum amen. Paulo fala num futuro que ele vê próximo, pois sua morte está já às portas, já que terminou a carreira e finalizou o combate (ver 7). E nessa visão, tem confiança de que Deus [o Senhor, pois Cristo é o Senhor Jesus] liberta-lo-á de toda espécie de mal e o levará ao Reino definitivo que segundo Paulo é o que está no céu [epouranios <2032>=caelestis] ou celeste, coisa oposta a epi tës gës [sobre a terra ou terrestre]. Finalmente, termina com uma doxologia: Glória [doxa], honra ou louvor a esse Deus por sempre. A frase eis tous aiönas tön aiönion tem em latim a tradução de pelos séculos dos séculos e podemos traduzi-la para sempre e por sempre, o que geralmente é por sempre jamais. Evangelho (Mt 16, 13-19) INTRODUÇÃO: Este evangelho é o primeiro IBOPE do qual temos notícia. A pergunta é: Quem dizem os homens que sou eu, como Filho do Homem? (13). Dois são os elementos de estudo principais derivados deste evangelho: Ekklësia e Petros. Estudaremos o texto comparando-o com os paralelos de Marcos 8, 27-30 e Lucas 9, 18-21. É um texto, o de Mateus, fundamental, que ilumina biblicamente a primitiva Igreja tal e como foi fundada por Jesus. Ekklësia, palavra grega que significa assembleia, designa a comunidade nova, o novo povo de Deus, que ia substituir o antigo povo de Israel. Nela, Petros [a rocha], obtem o poder supremo, o chamado primado do reino que dirá a última palavra sobre quem está dentro e quem deve ser expulso da mesma Ekklësia. E esta estrutura seria a definitiva, sem que a morte [os portões do Ades], tanto de Pedro como de seus sucessores, pudesse contra ela. As consequências são essenciais para entender o cristianismo atual, como organização que contribui para a obra de salvação de Jesus. A PERGUNTA: Tendo chegado então Jesus para as terras de Cesareia de Filipe, perguntou a seus discípulos dizendo: Quem dizem os homens ser eu, o Filho do homem? (13). Venit autem Iesus in partes Caesareae Philippi et interrogabat discipulos suos dicens quem dicunt homines esse Filium hominis. O LOCAL: Mateus diz que era perto de Cesaréia de Filipe. Na realidade, Jesus veio para os distritos [merë], lugares, ou terras que eram dessa cidade. Cesareia era o nome comum de várias cidades. Essencialmente, na Palestina, existiam duas Cesareias: a de Palestina, cidade romana, fundada por Herodes o Grande, situada na costa do Mediterrâneo, 37 Km ao sul do monte Carmelo e 100 Km ao noroeste de Jerusalém; e a Cesareia de Filipe, cidade gentílica, situada no sopé do monte Hermom, no Antilíbano, na cabeceira principal do rio Jordão, 32 Km ao norte da Galileia. Distava 40Km de Betsaida [dois dias de caminho desta última]. A antiga Panion também Pânias, que hoje ainda subsiste com o nome de Baniyas numa aldeia das fontes do Jordão. Foi helenizada no século III aC e tinha uma população, também na região, que em sua maioria não era judia. Em 20 aC, Augusto a cedeu a Herodes, que nela construiu um grandioso templo dedicado ao imperador, feito de mármore branco, sobre uma rocha que dominava a cidade e a fértil planície da qual era capital a antigas Pânias, assim chamada porque perto da cidade existia uma gruta, dedicada desde tempos remotos, ao deus Pan ou Panion [deus dos pastores e das florestas]. A cidade foi ampliada e embelezada pelo tetrarca Filipe, que lhe deu o nome de Cesareia em honra de Tibério César. Por isso foi chamada de Cesaréia de Filipe. A partir do século II foi chamada de Cesareia de Pânias e no século IV em diante, o termo Cesareia desapareceu, permanecendo apenas o antigo Pânias. O templo sobre a rocha evidentemente era um símbolo que Jesus não devia desperdiçar. A PERGUNTA: Segundo o evangelho de Mateus, a tradução literal do versículo 13 seria: Quem me dizem os homens ser o Filho do Homem? Esse me [a mim] não está sendo traduzido na vulgata latina nem nas versões vernáculas. Numa linguagem mais elaborada a tradução seria: quem dizem os homens que Eu, o filho do homem, sou? É notório que nas três recensões da pergunta dos três sinóticos a pergunta é a mesma na primeira parte: quem me dizem os homens [as turbas em Lucas] ser? Ou quem dizem os homens que eu sou? Se tomarmos unicamente Mateus, a pergunta seria sobre o Filho do homem. Que ideia tinha a gente sobre esta figura tão frequentemente usada por Jesus como unida ao Reino por ele pregado e presidido? A expressão Filho do homem é semítica e significa em princípio um membro da comunidade humana, especialmente na sua fase de frágil mortal (Is 51, 12 e Jó 25, 6). A expressão Filho do homem se transforma em Daniel (7, 13 +) numa figura simbólica. De um significado plural [o povo dos eleitos] passa a tomar um significado singular como o Filho do homem [um homem] que recebe a glória e o poder que pertencem unicamente a Deus. Por isso foi dado a ele domínio e glória e um reino, de modo que todos os povos, nações e línguas o servissem; seu domínio é um domínio para sempre, que nunca passará e seu reino é um reino que nunca será destruído. Neste último sentido é o título preferido por Jesus, aparecendo setenta vezes na sua boca nos evangelhos. Nesta ocasião, Jesus queria saber qual era a opinião da gente sobre sua pessoa como pregador público de uma mensagem divina. Uma pergunta diretamente unida a seu rol como pregador de um reino que os discípulos esperavam fosse instaurado modo militari em Jerusalém, onde esperavam ir em breve. A figura cume desse reino era, sem dúvida, Jesus que a si mesmo se intitulava como Filho do Homem. FILHO DO HOMEM: ‘O ‘yiós tou anthrópou é uma tradução grega de BEM ADÁM que ocorre 120 vezes no AT, das quais 96 em Ezequiel, e que é um sinônimo de homem. Em Ezequiel é a denominação que Javé dá ao próprio profeta e é sempre em vocativo. Representava a humanidade em contraste com Deus e aparentando a porção da mesma que sofreria a ira do mesmo. Grita e geme, ó filho do homem, porque ela[a notícia] será contra meu povo(Ez 21, 11). Nos salmos representa a fragilidade humana em comparação com a fortaleza de Deus (8, 4-6). Porém em Dn 7, 13 aparece um como, ou semelhante a um filho de homem [Kebar mas, ‘os Yiós anthropou, quase filius hominis]. Ele provém do céu e é destinado a possuir o domínio universal. Jesus precisamente o aplica à sua vinda futura em Mt 24, 30 e lugares paralelos. No NT a frase, com uma exceção [quando Estêvão vê o filho do homem], é sempre achada em frases, pronunciadas por Jesus. Mateus usa a frase 30 vezes, Marcos 14, Lucas 25 e João 13. O ponto crucial é precisamente este trecho do evangelho de hoje. A RESPOSTA: Eles, pois, disseram: Uns, certamente, João, o Batista, outros porém, Elias; e outros, Jeremias ou um dos profetas(14). At illi dixerunt alii Iohannem Baptistam alii autem Heliam alii vero Hieremiam aut unum ex prophetis. A RESPOSTA: Podemos dividir esta em duas partes bem diferenciadas: uma, a geral, dada pelo povo, que praticamente indica Jesus como um homem de Deus, especialmente como um profeta comparável aos grandes de Israel; a outra é a resposta particular dada por Simão Pedro. Vamos estudar ambas as respostas. A) O Batista: A pregação de Jesus e dos discípulos era a mesma de João: Arrependei-vos, o reino de Deus está próximo (Mt 3, 2) e oferecia um batismo como o do adusto homem do deserto (Jo 3, 22-23). O parecido parentesco entre o Batista e Jesus (Lc 1, 36) talvez facilitasse a ideia de que Jesus era o Batista ressuscitado. Afirmava-se que João, o Batista, era Elias, pois a Escritura afirmava que o antigo profeta não tinha morrido, mas fora arrebatado aos céus no meio de uma tempestade de fogo (2Rs 2, 11). Essa era a razão pela qual se esperava a sua vinda. B) Elias propriamente dito. Segundo a tradição, Elias escreveu uma carta depois de ser arrebatado (2 Cr 21, 12) dirigida ao rei Jorão de Judá por sua conduta idolátrica já que tinha como esposa uma filha do ímpio rei Acab de Israel. Supunha-se, pois, que Elias voltaria antes do dia do Senhor, o dia da vingança e do castigo dos ímpios, dia da ira que está por vir (Jo 3, 7). Em Malaquias 3, 1 lemos: Eu vos envio meu mensageiro. Ele aplainará o caminho diante de mim. Por isso numa data posterior ao livro [após o ano 450 aC] identifica este mensageiro ou anjo, com Elias (seria no acrescentado capítulo 4, versículo 5, que não está no canônico Malaquias). Na sua complicada alegoria animalística da História, o livro apócrifo de Henoc (século II aC), descreve a aparição de Elias antes do juízo e da aparição do grande cordeiro apocalíptico. Isto é importante, visto que João falava do Cordeiro de Deus (Jo 1, 29). Em Eclo 48, 10, temos outra referência do século II aC: Tu que fostes designado nas censuras para os tempos a vir, para aplacar a cólera antes que ela se desencadeie, reconduzir o coração do pai para o filho (Lc 1, 17). Vistos os milagres que Jesus operava, os contemporâneos de Jesus pensavam que se não fosse Elias, que em vida realizou muitos e notáveis milagres, devia ser um profeta redivivo [aneste=despertado] pois a profecia tinha acabado e não era necessária nos tempos messiânicos. C) Jeremias: esta identificação é própria de Mateus, porque como vemos em 2 Mc 2, 4-7 temos Jeremias escondendo a arca e o altar dos perfumes na montanha de Moisés para afirmar: Este lugar ficará desconhecido até que Deus tenha consumado a reunião de seu povo e lhe tenha manifestado a sua misericórdia. E em 2 Mc 15, 13 lemos: Apareceu a Judas um homem de cabelos brancos…Onias disse: Este homem que ora pelo povo e pela cidade santa é Jeremias, o profeta de Deus. D) Um profeta. Lucas dirá que é um dos antigos profetas, redivivo. De fato, os judeus distinguiam entre antigos profetas como Josué, Juízes, Samuel, Davi e os profetas compreendidos no reinado de Davi, e os últimos profetas, a começar por Isaías e terminar com Malaquias. A que profeta se referem os discípulos como porta-voz da vox populi? Talvez Samuel que já nos tempos de Saul se mostrou redivivo em 1 Sm 28, 12 diante da médium de Endor? ( ver hades em parágrafo posterior). Ou talvez Moisés, pois a ele comparam a atuação de Jesus como vemos em Jo 5, 45-46 e 6, 31-32. Na realidade, os enviados oficiais perguntam a João se ele não era o Profeta [como conhecido personagem, esperado nos tempos messiânicos] de Dt 18, 15-18. Pois Javé disse a Moisés: um profeta como tu suscitarei do meio de teus irmãos. Por isso em 1 Mc 3, 45 aguardavam a vinda de um profeta que se pronunciasse a respeito. Este profeta, semelhante a Moisés, que deveria ser escutado em tudo (At 3, 22), era o próprio Jesus, coisa que o povo admitiu após a multiplicação dos pães (Jo 6, 14) e na festa dos tabernáculos em Jerusalém(Jo 7, 40). E VÓS? Diz-lhes: Vós, pois, quem dizeis que eu sou? (15). Dicit illis vos autem quem me esse dicitis. Que ideia têm eles, seus discípulos, do Filho do homem? Ou seja, que papel na vida pública, especialmente na vida religiosa, deve ter Jesus entre seus conterrâneos? Em qual dessas categorias deveria ser incluído o Mestre que foi seu guia e com o qual conviviam durante esse tempo? PEDRO: Tendo respondido Simão Pedro disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente (16). Respondens Simon Petrus dixit tu es Christus Filius Dei vivi. O apóstolo-chefe é conhecido por diversos nomes entre os autores do NT. A) Simão. O nome original do apóstolo era Simão, forma abreviada de Simeão [famoso]. De fato, seu nome completo, ou como diríamos hoje, seu DNI era Simão bar Jonas [Simão, filho de Jonas], que a vulgata conserva como Simon bar Iona como vemos no versículo 17 do evangelho de hoje. Já o quarto evangelista diz dele que era filho de João [‘yiós Iöannou] (1, 42), e que a vulgata traduz por filius Iona (?) que o próprio evangelista repete em 21, 15, como Simon Iöannou [Simão de João], com a vulgata agora traduzindo corretamente por filius Ioannis ou de João. A dúvida existe: o pai era Jonas [pomba] ou João [ favor de Deus]? Talvez a solução seja a diferença entre o aramaico e o hebraico em cuja escrita as consoantes de Jonas e João eram as mesmas mas a pronúncia diferente. Jesus, sempre que fala com o apóstolo, usa o nome de Simão. Além do nome próprio ou, como dizem em inglês first name, temos outros personagens com o nome de Simão no NT: Simão, o zelotes, um dos doze (Mt 10, 4); Simão, o irmão do Senhor (Mt 13, 55); Simão, o leproso de Betânia (Mt 26, 6); Simão, o fariseu (Lc 7, 40); Simão, o Cirineu( Mt 27, 32); Simão, pai de Judas, o Iscariotes (Jo 6, 71); Simão, mago (At 8, 9) e Simão de Jope (At 8, 18). Com este nome de Simão é que Jesus o chama B) Como Pedro em latim Petrus e em grego Petros. Uma única vez aparece na boca de Jesus como vocativo ( Lc 22, 34). Esta única ocasião mais parece redacional que ipsissima verba Christi [as próprias palavras de Cristo]. Dentro da parte que poderíamos chamar redacional dos evangelhos, encontramos a palavra Pedro em Mateus 16 vezes, em Marcos 11, em Lucas 9, em João 9 e 3 nos Atos. C) Como Simão Pedro em Mateus 3, em Marcos 1, em Lucas 2, em João 17 e em Atos 4. D) Como Kefas [o aramaico por rocha] aparece em João 1, 42 e nas epístolas de Paulo, nas duas primeiras, Gálatas e 1 Coríntios e sempre na boca de Paulo. Deste nome podemos deduzir que a palavra usada por Jesus foi Kefas e que, aos poucos, ela foi traduzida ao grego como Petros, com o mesmo significado; pois pedra seria lythos. Em latim petra também significa rocha, tendo o significado de pedra a palavra lápis ou calculus. A RESPOSTA: Em nome dos doze, Simão responde: Tu és o Cristo [Ungido], o Filho do Deus vivente. Vamos comparar esta resposta com a de Marcos: Tu és o Cristo (Mc 8, 29), e a de Lucas: O Cristo do (sic) Deus. Ninguém duvida de que a resposta mais breve de Marcos é a saída da boca de Pedro. A de Lucas pode ser redacional ao explicar a unção como feita pelo Deus único e a de Mateus uma explicação, como sempre, de um bom catequista, para entender as palavras do apóstolo e a bênção imediata de Jesus. Qual era o significado de Cristo [Chrestós em grego]? Logicamente devemos recorrer à palavra correspondente hebraica. Significa Ungido que seria a tradução da palavra aramaica Messiah. A palavra Messias era traduzida como Christos em grego (Jo 1, 41). Originariamente era uma referência de Há Kohen há Massiah [o sacerdote, o ungido], ou seja, o Sumo Sacerdote, em cuja cabeça tinha sido derramado o óleo, quando consagrado como líder espiritual da comunidade (Lv 4, 3). Daí que o Messias era alguém investido por Deus de uma responsabilidade espiritual especial. Nos tempos de Jesus, existia a ideia de que um descendente da casa de Davi seria o Messias que redimiria a humanidade; tradição que provinha dos tempos de Isaías. E foi o profeta Daniel em 9, 25 que deu uma nova esperança a esse ungido de Deus. Essa tradição encarava o Messias, não como um ser divino, mas apenas como um homem, um grande chefe, reformador social, que iniciaria uma era de paz perfeita. É o que os anjos prometeram aos pastores ao anunciarem o nascimento do Salvador que era o Messias (Lc 2, 14). O termo Filho de Deus vivo era título Messiânico, assim como Santo de Deus (Jo 6, 69). O nome de Filho de Deus é uma expressão usada por Oséias em 2, 1: Aos filhos de Israel…se lhes dirá filhos do Deus vivo, o qual concorda perfeitamente com a frase de Mateus e a confissão de Marta: Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que vem a este mundo (Jo 11, 27). O Santo [consagrado] de Deus, era também um título Messiânico, como vemos em Jo 6, 6, numa confissão feita pelo próprio Pedro. Talvez esta confissão de Pedro no quarto evangelho seja uma réplica mais ou menos exata da que hoje estudamos em Mateus. Para um judeu, o Messias era produto de uma eleição divina que confiava uma missão especialíssima ao seu ungido. Para um grego ou um romano, o título ia além da personalidade humana do Messias. Sabemos que os judeus admitiram Jesus como Messias [Chrestós], título que para os gentios era traduzido como Senhor [Kyrios]. Pois Deus o constituiu Senhor e Cristo [Kyrion autón kai Christon, de At 2, 36]. Sabia Pedro o significado substancial de suas palavras? Pelo que vemos em 16, 22, não. Porém Jesus se serviu das mesmas para fundar sua Igreja. A palavra Messias significa Ungido. Portanto, dizer tu és o Chirstós [Ungido] é a mesma coisa que dizer tu és o Messias. Quanto às palavras O Filho do Deus Vivente [muito melhor do que vivo], que seria dizer o mesmo que Filho do Deus verdadeiro, porque os outros deuses não existem, não vivem; os autores duvidam se são verdadeiramente palavras de Pedro ou foram acrescentadas pela tradição como parêntesis explicativo para distinguir entre o Messias, filho de Davi, um rei de âmbito regional, e o Messias, Filho do verdadeiro Deus, Senhor, portanto, do Universo. As razões aludidas pelos exegetas baseiam-se fundamentalmente nos lugares paralelos de Marcos [tu és o Ungido] e de Lucas [és o Ungido de Deus]. A declaração de filiação divina tem um amplo significado na tradição judaica, já que todo rei era considerado filho de Deus por virtude de seu ofício, como representante divino perante o povo. Mateus, como seus dois paralelos sinóticos, proíbe aos discípulos que digam a alguém que ele [Jesus] era o Cristo. Se o sentido de Filho de Deus fosse estrito, como o entendemos atualmente, a proibição devia recair sobre esta segunda parte, Jesus como Deus, muito mais escandalosa e até blasfema para os contemporâneos, como vemos que a contemplou Caifás (Mt 26, 36). Existia uma aposição entre Messias e Filho de Deus. O pontífice conjura Jesus, em nome do Deus, do vivo [notar a coincidência dos termos] a que declarasse se ele era o Messias, o Filho de Deus. E então Jesus explica a sua transcendência, dizendo estará sentado à direita do Poder [de Deus] e vindo sobre as nuvens do céu. Com isso, o seu messiado se transforma em Divindade; e, portanto, Caifás entende escutar uma blasfêmia já que um homem se declara divino. Mesmo que a resposta de Pedro que estudamos seja estritamente histórica, nem por isso deveria ter um significado transcendente, como era o de declarar Jesus unigênito do Pai. RESPOSTA DE JESUS: Então tendo respondido Jesus disse-lhe: Bendito és Simão Bar Ionas porque carne nem sangue te revelou mas o meu Pai o (que está ) nos céus (17). Respondens autem Iesus dixit ei beatus es Simon Bar Iona quia caro et sanguis non revelavit tibi sed Pater meus qui in caelis est. BEMAVENTURADO ÉS: O makarismo indica um favor divino alcançado por Pedro que Jesus explicará posteriormente. A carne e o sangue não te revelaram o que disseste. Carne e sangue é uma expressão semítica para significar o homem todo, considerado como puramente homem. Foi o meu Pai [que habita] nos céus que revelou o Filho a Pedro. Mateus entra na mesma linha lógica que descreve João em 6, 36: Todo aquele que o Pai me der virá a mim. Jesus considerou esta declaração de Pedro de tal importância que afirma duas coisas que, sem dúvida, transformarão a personalidade e o ministério do apóstolo. PEDRO E A IGREJA: E por isso te digo, que tu és rocha e e sobre esta rocha edificarei minha Igreja. E (os) portões do Hades não prevalecerão sobre ela (18). Et ego dico tibi quia tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam et portae inferi non praevalebunt adversum eam. A) Tu es Petrus: Com esta primeira declaração, Jesus além de trocar o nome do apóstolo, que agora seria Kefas, como vemos nos primeiros escritos (Gálatas e 1Cor), significa seu novo ministério: ser fundamento de um edifício como a rocha era e é em todos os tempos. O nome de Simão seria trocado e usado em grego como Petros derivado da palavra Petra com o significado de rocha ou penhasco. A tradução do grego é muito mais esclarecedora pela força das palavras. Jesus afirma: sobre esta mesma rocha [taute te petra], ou sobre esta que é a rocha, edificarei a minha Igreja. Segundo as escrituras, a mudança de nome é um claro sinal de uma especial escolha e missão divinas. Abrão se tornará Abraão (Gn 17, 5). Jacó se tornará Israel (Gn 32, 29). Sarai será chamada Sara (Gn 17, 15). Gedeão recebeu o nome de Jerobaal (Jz 6, 32). A exceção do caso de Gedeão, todos os outros recebem diretamente de Deus e, coisa notável, com o nome novo nasce um povo novo em todos os casos: Abraão como pai de uma multidão de nações; Sara como matriz de reis poderosos; Israel foi o pai do povo do mesmo nome. Por isso, podemos deduzir que Rocha é não unicamente uma mudança de nome, mas também implica uma novidade de um povo, o povo da nova aliança, do Reinado do Senhor Jesus, que neste caso Mateus chama de sua Igreja. B) Ekklësia: Sobre esta Rocha edificarei a minha Igreja. As traduções que usam a palavra pedra estão deturpadas. Como vimos anteriormente, elas não dariam o verdadeiro sentido de rocha como fundamento sobre o qual se edifica uma casa. Jesus usa a palavra Igreja [Ekklësia] que só aparece uma outra vez em Mateus 18, 17 com o significado de assembleia e nunca em outros evangelhos. Só nos Atos aparece pela primeira vez em 5, 11 quando todos ficaram com grande temor ao conhecerem os fatos de Ananias e Safira. Igreja está aqui como reino visível, comunidade escatológica [no sentido dos últimos tempos] a substituir a sinagoga nestes tempos finais, constituída pelos fiéis que acreditam em Cristo. Há quem, citando as palavras de Paulo, que só admite um fundamento que é Cristo (1 Cor 3, 11) confunda a rocha com o(s) fundamento(s) e admite que também os outros apóstolos edificam sobre o mesmo fundamento diminuindo assim a importância de Pedro, pois Cristo é a pedra mestra [akrogoniaios e lapis, nada de petron ou petra!] (Ef 2, 20) {ver parágrafo anterior da RESPOSTA DE JESUS}. Mas esquecem que a pedra mestra não era o fundamento mas o remate do arco da qual dependia a estabilidade do mesmo. De fato, o grego akrogoniaios tem como raiz akron [tope] e gonia [ângulo], sem nada haver com o elemento pedra [rocha]. Neste caso particular de Pedro, Jesus toma do templo de Pan, de mármore branco, edificado sobre uma rocha nas fontes do Jordão, o simbolismo da igreja e do seu chefe, Pedro. C) O Hades: Esta Igreja que começou com Pedro-rocha será a última e eterna como reunião do povo eleito porque as portas do Hades não prevalecerão contra ela. Se a afirmação de rocha como personalidade de Simão não fosse suficiente, Jesus persiste nos poderes e qualidades do seu apóstolo ao declarar seu papel primordial nessa grande assembleia dos eleitos, cuja perpetuidade descreve com palavras tomadas da tradição judaica. Fala das portas do inferno, ou melhor, portões do inferno. Há duas palavras em grego que são traduzidas por portas, mas que o inglês traduz por Gates [pyle] e doors [thyra]; em português poderíamos dizer portões e portas. O portão [pyle] era a entrada de uma cidade, de um templo, de um cárcere, de um reino. Assim a sublime porta do império turco. Pyle sai 9 vezes no NT. A porta [thyra] é a entrada ou a peça de madeira ou metal que fecha a mesma na casa e os interiores; também os sepulcros e os apriscos. É usada 18 vezes no NT. Chama a atenção que o pyle se usa em plural [pylai]. Porque os judeus admitiam 3 portas na cidade dos mortos, que corresponde ao Hades grego. Também podemos dizer que a maioria dos portões da cidade eram duplos com um espaço no meio para os guardas e os coletores de impostos. O Hades grego era o reino de uma ilha na nebulosa e subterrânea parte da terra, da qual era rei Aides [o invisível] ou Pluto [o rico]. Tanto bons como maus continuavam a existir como sombras em constante sede, nesse lugar tenebroso. Dentro do Hades, nesse mundo inferior [inferno] existia também um abismo chamado Tártaro, a região mais inferior da terra em que os malvados eram punidos. No judaísmo temos o Sheol do AT, que corresponderia ao Hades grego e a Gehena do NT, esta última identificada com o Tártaro. A essa expressão corresponde o Salmo 9, 14: Tu que me fazes subir das portas da morte. E ao Hades, região dos mortos , Atos 2, 27: Não deixarás a minha vida no Hades e 2, 31: Não foi deixada a vida dele [Cristo] no Hades, que as bíblias traduzem por morte ou região dos mortos. Como conclusão, podemos afirmar que a frase: as portas do inferno não prevalecerão, significa que a morte, o fim, jamais chegará a esta Igreja. AS CHAVES: E dar-te-ei as chaves do Reino dos céus; portanto, se algo atares na terra, está atado nos céus e o que desatares sobre a terra estará desatado nos céus (19). Et tibi dabo claves regni caelorum et quodcumque ligaveris super terram erit ligatum in caelis et quodcumque solveris super terram erit solutum in caelis. Constituída a comunidade de Jesus como uma cidade com seus muros e portões próprios, só existe uma maneira de entrar: abrir as mesmas por meio de chaves, já que o assalto à mesma está descartado no parágrafo anterior [não prevalecerão]. Os levitas passavam a noite na casa de Deus, pois, a eles cabia guardá-la e abri-la todas as manhãs (1 Cr 9, 27). Sobre o ombro do mordomo Eliacim, filho de Helcias, porá o Senhor Deus a chave da casa de Davi. Ele abrirá e ninguém fechará. Fechará e ninguém abrirá (Is 22, 22). Essa é a chave de Davi que está precisamente nas mãos do Filho do Homem do Apocalipse(3, 7). A similitude é tomada dos costumes da época. Ainda hoje os árabes carregam no ombro uma grande chave para indicar sua autoridade e potestade. A nenhum outro apóstolo foram dadas essas chaves que indicam o total domínio da Igreja. Como no parágrafo anterior, Pedro é singularmente favorecido, além de ser a rocha sobre a qual o fundamento da fé que é Cristo, edificará sua comunidade de crentes. Pedro terá as chaves para indicar quem deve ser incluído ou excluído. Estas chaves têm os seguintes significados: a) O chefe do palácio era quem recebia as chaves (Is 22, 22) e, portanto, era o dignatário de maior hierarquia. b) Se ligadas ao parágrafo posterior, as chaves servem par abrir e fechar, para admitir a entrada dos dignos e para expulsar os indignos. c) Mas também, seguindo o uso rabínico da época, as chaves eram o símbolo do ato de sentenciar questões religiosas como declarar lícita ou ilícita uma conduta. Concordam com esta interpretação as palavras de Jesus aos escribas: Ai de vós legistas, que tomastes as chaves do conhecimento; vós mesmos não entrastes e os que queriam entrar, vós os impedistes (Lc 11, 52). Os rabinos aplicavam a explicação da lei no sentido de declarar algo permitido ou proibido (Jo 21, 13-18). Agora serão Jesus e seus discípulos os que terão autoridade para representar o verdadeiro ensino. Mais: nesse caso o paralelo com as chaves indica que se trata de um verdadeiro poder e não de uma licença de ensino. É o poder que Mateus dá a comunidade na pessoa dos discípulos que têm de declarar quem é culpado de uma transgressão ou pecado, que justifica sua expulsão como membro da comum convivência. Na jurisprudência judaica da época, as chaves significam a faculdade que tinham os juízes de mandar para a prisão ou deixar livre um acusado. Poucos anos mais tarde, Rabi Neconia terminava seus sermões pedindo a Javé que não deixasse atado o que ele tinha desatado, nem desatado o que ele tinha atado; que não purificasse o que ele declarava impuro, nem tornasse impuro o que ele dissera ser puro. Em Mt 18, 18 este poder de excomungar um obstinado é dado, em termos gerais, à igreja, considerada como corpo jurídico, o que aqui é concedido em termos particulares a Pedro, o supremo pastor que deve governá-la em nome e com o amor de Jesus distribuído aos irmãos com dedicação (Jo 21,15-17 e 1 Pd 5,2). COMENTÁRIOS: O texto é tão claro que os ortodoxos gregos afirmam que, em suas dioceses, os bispos que confessam a verdadeira fé se integram em Pedro como sucessores e dele herdam o primado. Os evangélicos reconhecem a posição e a função privilegiada de Pedro nas origens da Igreja, mas não admitem sucessor e restringem os poderes à pessoa de Pedro. Os católicos fundamentam sua interpretação no versículo 18: A igreja é imortal, e seu fundamento deve perdurar sempre. Assim como ortodoxos e evangélicos admitem bispos presbíteros e diáconos, como sucessores dos primitivos homônimos, por que unicamente o princípio de unidade deve estar ausente, se é sobre essa rocha que foi fundada a Igreja? Com razão comentava um colega meu no sacerdócio: Nós, católicos, temos a certeza e o orgulho de sermos a única Igreja cristã, edificada sobre fundamento rochoso, sobre Pedro (ver Mt 7,24). Daí que séculos mais tarde os latinos, com outro primado diferente de Pedro, afirmassem Ubi Petrus ibi Ecclesia Onde está Pedro aí está a Igreja. No caso de não levarmos o livre arbítrio da interpretação das escrituras ao extremo tão radical, que rejeitemos toda outra autoridade que não seja a acrata da interpretação individual, não se entende por que se admitem sucessores dos apóstolos como são os bispos, rejeitando os sucessores de Pedro, cuja base escriturística é pelo menos tão evidente como a dos bispos, já que em Pedro está fundada a Igreja. Pistas: 2) Na verdade, essa imagem de Cristo que todos nós levamos dentro, desde o batismo, está, ou destroçada, ou escurecida. Como poderemos ser apóstolos se não sentimos sua presença dentro de nós? Como vender um produto do qual não estamos nós, os vendedores, convencidos? 3) A resposta de Jesus dada a Simão indica que a nossa resposta, admitindo seu senhorio total como Messias e como Filho de Deus, é também um dom do céu e que ela merece um makarismo especial. Não seremos os chefes, como Pedro, mas a Igreja estará fundada em nós e nas nossas famílias. 4) Além de Cristo, como figura central, temos Pedro, como figura destacada, por duas razões: por sua fé em Jesus e por sua lista de serviços como chefe da comunidade. A revelação de confessar Jesus como Messias Filho de Deus, é um dom do Pai e isso serve para todos nós. A chefia da comunidade eclesial é própria dele e continua em seus sucessores através dos séculos. A eles pertence o poder das chaves, jurídico e doutrinal, como o entende a Igreja católica. Não foi dado este poder aos outros discípulos e, portanto, devemos distingui-lo do poder evangelizador e de governo dado ao resto dos apóstolos. EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova. - Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana. Interpretação errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. Consequências: - O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
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