GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
17.08.2014
20º DOMINGO DO TEMPO COMUM — ANO A
ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
( BRANCO, GLÓRIA, CREIO, PREFÁCIO PRÓPRIO – OFÍCIO DA SOLENIDADE )
__ "A eternidade: destino da vida humana" __
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A solenidade de hoje, é um momento de alegria e de louvor pela Salvação que Deus, concretamente, realiza em Maria, nossa Mãe. Damos graças a Deus porque pela Ressurreição de Jesus, a nossa humanidade, na pessoa da Virgem Maria, já se encontra em Deus e, ao mesmo tempo, garante que cada um de nós poderá participar desse mesmo destino. Há uma mensagem muito clara na atual solenidade litúrgica: não nascemos para a terra, para finalizarmos na poeira, mas para viver na eternidade. A Assunção de Maria indica, portanto, o nosso destino; mostra que a nossa vida está destinada a participar da glória e da santidade de Deus. Hoje, como que antecipadamente, podemos cantar que o Senhor “fez em nós maravilhas”, porque ele mesmo nos destina a viver na eternidade. Hoje, celebramos a vocação religiosa. Como o Pai chamou Maria para gerar seu Filho Jesus, assim ele chama homens e mulheres para servirem nos mais diferentes lugares e setores da vida humana levando sua Palavra. Nesta semana da vida consagrada, rezemos por todos os nossos religiosos.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Neste domingo refletimos sobre a vocação para a vida consagrada e religiosa. Coincidentemente, celebramos a festa da Assunção de Maria, preservada da corrupção corporal e resgatada da morte. Maria tem inspirado homens e mulheres a fazerem de sua vida uma consagração total a Deus e ao próximo, assumindo os votos evangélicos de castidade, pobreza e obediência.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: O dogma da Assunção foi definido no ano de 1950, durante o Pontificado de Pio XII. Ignoramos se, como e quando se deu a morte de Maria, desde muito cedo festejada como "dormição". É uma solenidade que, correspondendo ao natal (morte) dos outros santos, é considerada a festa principal da Virgem. O dia 15 de agosto lembra provavelmente a dedicação de uma grande igreja a Maria, em Jerusalém. A Igreja celebra hoje em Nossa Senhora a realização do Mistério Pascal. Sendo Maria a "cheia de graça", sem sombra alguma de pecado, quis o Pai associá-la à ressurreição de Jesus.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, cantemos cânticos jubilosos ao Senhor!
PRIMEIRA LEITURA (Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab): - "Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo."
SALMO RESPONSORIAL 44(45): - "Cheia de graça, a Rainha está. À vossa direita ó Senhor!"
SEGUNDA LEITURA (1Cor 15,20-27a): - "Deus pôs tudo debaixo de seus pés."
EVANGELHO (Lc 1,39-56): - "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!"
Homilia do Diácono José da Cruz – Assunção de Nossa Senhora – Ano A
"O CÉU DE MARIA!"
Maria foi assunta ao céu, elevada para junto de Deus em corpo e alma. Se Jesus nos abriu as portas do céu que estavam fechadas, Maria foi o primeiro ser vivente a entrar por ela. Na verdade, em Maria os Filhos degredados de Eva puderam sentir o “gostinho” da volta ao Paraíso e viver de novo na plenitude da comunhão com Deus, como era antes do pecado original. Na vida de Maria, desde o seu nascimento, até a sua “dormição” como preferem denominar o término da sua vida terrena os católicos ortodoxos, a gente vai aprendendo que o céu, dom de Deus, é também uma conquista do homem.
A partir de Jesus nos tornamos todos combatentes “Pois é preciso que ele reine, até que todos os seus inimigos estejam debaixo dos seus pés. O último inimigo a ser derrotado é a morte” afirma o apóstolo Paulo na segunda leitura desse domingo em 1Cor 15, 20-27, mostrando-nos que a conquista do céu vai acontecendo na medida em que, em nossa caminhada vamos combatendo e destruindo as forças do mal, que querem nos levar à morte, para longe de Deus e do seu Paraíso, que é o nosso destino glorioso.
É assim que a vitória de Cristo vai sendo confirmada, pois quando falamos que o céu é dom que Deus nos concede, estaríamos sendo ingênuos se imaginarmos que podemos conquistá-lo sem nenhum esforço. Mas o que mais nos surpreende nessa liturgia Mariana é a bela visão apocalíptica de João na primeira leitura, que vê no céu o sinal de uma mulher Guerreira, destemida e Vitoriosa, imagem que a Igreja atribuiu a Maria, pois para chegar vitoriosa no céu, Maria foi também vitoriosa na terra, aliás, a partir da obra que Deus realizou em Maria, o céu desceu a terra. “Uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés, e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”.
A visão do mal sempre é aterradora, mesmo em uma linguagem simbólica e figurativa como a de João “Um Dragão de sete cabeças e dez chifres, e sobre a cabeça sete coroas” Quem é que não se assusta diante de um bicho feio como este, com tanta força e poder?! Quem é que não se assusta com o mal hoje presente no mundo, marcado por tanta violência, medo, insegurança e o terror? Mas no espaço do céu, que é o lugar de Deus, esse mal tem o poder limitado. “Sua cauda varria apenas um terço das estrelas, atirando-as sobre a terra”, ou seja, a força do bem presente em Maria, consegue neutralizar as forças avassaladoras do mal. Mas quem é essa mulher ousada e vitoriosa, que chamamos de Mãe?
No evangelho festivo da Festa da Assunção, na catequese de Lucas percebemos algo encantador, que faz a diferença na vida de Maria, e que faz a diferença nossa vida também: A Força do Espírito de Deus! Prestemos atenção nas expressões verbais colocadas por Lucas, e que indicam uma ação imediata: Maria partiu – dirigindo-se apressadamente – entrou na casa e cumprimentou Isabel. Maria, essa mulher Guerreira e Vitoriosa, deixa-se mover no dinamismo do Espírito de Deus. Sua vida pacata na pequena Nazaré passa por uma “sacudida”, a partir de então, ela se moverá a partir do Espírito de Deus presente nela e que irá impulsioná-la a sair de Nazaré e a sair de si mesma, abrindo-se cada vez mais para Deus e os irmãos e Maria diante da revelação do anjo descobre a sua vocação de servir “Eis aqui a serva do Senhor...”
Tudo começou quando ela se fez pequena diante de Deus, é aí que o céu já começa a acontecer em sua vida. Quando os homens descobrem nessa vida a vocação para o amor, o céu já se faz presente. A entrada de Maria no céu, na Festa da Assunção, é apenas uma referência de sua glória, esta glória do Senhor que a envolveu totalmente, fazendo-a viver para Deus, sem deixar de viver para os irmãos. E quais são as conseqüências, na vida de Maria e em nossa vida, quando nos deixamos mover pelo Espírito Santo presente em nós? Isso é fácil de perceber nessa catequese de Lucas, olhando para a reação de Isabel - “Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria em meu ventre”. Quem é de Deus e a ele pertence e se entrega, transmite a paz verdadeira, o Shalon que traz alegria.
Quando o evangelho narra que Maria saudou Isabel, não foi uma saudação costumeira de Bom Dia ou Boa Tarde, mas sim a saudação desejando a Paz. Maria é anunciadora da Paz e portadora da Salvação, pois ali, naquela região montanhosa em casa de Israel, o Espírito de Deus transbordante em Maria, preenche também a Isabel e lhe revela: Chegou o Salvador, Deus já está entre vós! João dá cambalhotas no ventre de sua mãe e com ele a humanidade inteira pode pular e cantar, dançar e extravasar sua alegria: Jesus já chegou! Chegou através dos pobres e pequenos como Maria e Isabel.
Nossos sonhos e esperança de chegar a esse céu das plenitudes como Maria, já começa a se tornar feliz realidade quando descobrimos a nossa vocação para o amor e o serviço, tornando-nos também portadores dessa Paz e alegria, que vem do Espírito de Deus presente em nós. SALVE MARIA! (Festa da Assunção - LUCAS 1, 39-5)
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – Assunção de Nossa Senhora – Ano A
“Assunção de Nossa Senhora”
Depois de ter sido ordenado diácono, um amigo meu foi pregar sobre Nossa Senhora e disse uma coisa muito curiosa: “A Nossa Senhora lhe chamam porta do céu e muitas outras coisas, eu vou chamá-la ‘janela’. Maria é a janela. Conta-se que certa vez São Pedro foi chamado à atenção por Nosso Senhor porque estavam entrando muitas pessoas pela porta do céu. Jesus lhe disse: ‘Pedro, é preciso ser um pouco mais rigoroso’. São Pedro respondeu: ‘Senhor, não adianta. Eu posso até ser rigoroso aqui na porta do céu, mas a tua mãe abre a janela e muitos estão passando por ela’”.
É uma grande alegria contemplar Nossa Senhora subindo ao céu. Ela, sendo porta do céu, está disposta a abri-nos também a janela do céu, contanto que lhe sejamos devotos. Imaginemos por um momento a cena: os apóstolos, ao saberem que a Santíssima Virgem morreu, ou dormiu, reúnem-se todos ao redor do seu corpo inanimado. Alguns inclusive, têm que fazer uma longa viagem até Éfeso, onde provavelmente estaria Maria, já que, ao parecer, era São João quem cuidava dela, pois segundo a tradição, Nossa Senhora foi morar nessa cidade da Ásia Menor. Outros, talvez, nem conseguiram vê-la, pois quando lá chegaram, ela já teria subido aos céus. Deve ter sido surpreendente vê-la subindo aos céus! Assim como os Apóstolos viram o Senhor subindo aos céus, parece conveniente que vissem também Nossa Senhora subir aos céus. Deve ter sido também doloroso para os mesmos saber que a Mãe de Jesus já não estaria no meio deles em carne mortal, sentiriam saudades da presença materna daquela que eles consideravam sua mãe. Como é doloroso ver a mãe morrer! Mas como é maravilhoso vê-la sendo glorificada. Hoje, temos dois sentimentos: saudade de Nossa Senhora que se foi e alegria porque ela foi para ser nossa advogada lá no céu, pertinho do seu Filho e Nosso Senhor Jesus Cristo.
De muitos santos conservamos relíquias que nós veneramos com grande devoção, de Nossa Senhora não conservamos nenhuma relíquia, nenhum pedaço do seu corpo santo. O seu corpo não sofreu a corrupção. O Santo Padre, o Papa Pio XII, na definição desse dogma, o da assunção de Nossa Senhora, expressou-se da seguinte maneira: “(…) pela autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo e nossa, proclamamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado: a imaculada Mãe de Deus, sempre virgem Maria, cumprido o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial. Por isso, se alguém, e que Deus não o permita, se atrevesse a negar ou voluntariamente colocar em dúvida o que por Nós foi definido, saiba que separou-se totalmente da fé divina e católica” (Constituição Dogmática “Munificentissimus Deus”, 01-11-1950). Aos dogmas da Maternidade divina, da Sempre Virgem, da Imaculada, juntava-se esse novo: a Assunção em corpo e alma de Nossa Senhora aos céus.
Maria subiu aos céus. Como é a nossa devoção para com ela, nossa Mãe e advogada? Muitos irmãos nossos, que demonstram pouco amor à Mãe de Jesus, não devem nunca atrapalhar a nossa fé no que diz respeito aos privilégios de Maria Santíssima. Não devem ser escutados! Como é a nossa devoção mariana? Deixamo-nos influenciar por idéias não-católicas no que se refere à Santíssima Virgem? A minha devoção a Nossa Senhora deve ser terna, ou seja, uma devoção na qual o coração tenha o seu espaço. Preciso tratá-la como mãe com aquelas práticas de devoções tão valorizadas pela tradição cristã: pelo menos uma parte do rosário, as saudações aos quadros da Santíssima Virgem, o “anjo do Senhor” ao meio-dia, as três Ave-Maria da noite pedindo a santa pureza, e tantos outros atos de devoção rijos, não adocicados, que mantêm o nosso fervor para com aquela que é a Mãe de Deus e nossa.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – Assunção de Nossa Senhora – Ano A
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (1 Cor 15, 20-27)
INTRODUÇÃO: Num breve resumo, Paulo formula os planos divinos sobre os destinos da raça humana que em definitivo é a sorte final do Universo. Existe uma luta inicial em que a antiga serpente parece triunfal, mas não ganhará a guerra, embora triunfe em batalhas parciais: o pecado e a morte. Dele cantará a igreja: O felix culpa quae talem et tantum meruit redemptorem [feliz culpa que mereceu tal e tão grande redentor]. E Paulo comentará numa frase lapidária: onde abundou o pecado superabundou a misericórdia [ou a graça](Rm 5, 20). E se isto foi dito em geral, não podemos restringi-lo em cada caso em particular, de modo que o canto de todo fiel salvo deve ser um hino à misericórdia de Deus, que em forma de graça superabundou em sua vida. Paulo especificamente admite que a ressurreição de Cristo seja a base de sua argumentação de modo que nela está a vitória final sobre todos os inimigos, sendo o último a ser derrotado a morte.
CRISTO PRIMÍCIAS: Mas agora Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, feito primícias dos adormecidos (20). Nunc autem Christus resurrexit a mortuis primitiae dormientium. RESSUSCITADO [egëgertai<1453>=resurrexit] na verdade foi levantado [erguido] numa passiva cujo sujeito ativo é Deus como claramente o indica em outra passagem: Deus ressuscitou [egeiren=suscitavit] o Senhor (1 Cor 6,14). PRIMÍCIAS [aparchë <536> = primitiae] era a oferenda dos primeiros frutos, ou da primeira parte da massa, com a qual os pães da preposição eram elaborados. Daí o termo era usado para determinar as pessoas consagradas a Deus em sua totalidade. É a tradução grega do hebraico reshith<7225>, que sai como início em Gn 1, 1 (Be)reshith, [no princípio] Deus criou os céus e a terra. E como primícias dos frutos da terra em Êx 23, 19: As primícias dos frutos da sua terra [reshit bicurei admatecha=as aparchas tön prötogevëmatön tës gës] trarás à casa do Senhor, teu Deus. Como primeiro e principal temos: Balaão disse: Amaleque é o primeiro [reshith=archë] das nações (Nm 24, 20). Vemos como o hebraico reshit pode ser traduzido como aparchë [primícias] ou archë [primeiro ou principal]. Usando Paulo aparchë 6 vezes das 8 que aparece no NT [outra em Tg 1, 18 e outra em Ap 14, 4] todas elas traduzidas por first fruits [primeiros frutos] na KJV. DOS ADORMECIDOS [kekoimënön<2837>=dormientium] no grego é o particípio passado do verbo koimaö, causar o sono, pôr a dormir, com o significado metafórico de calmar, cair no sono, dormir e finalmente morrer. Lemos em Lc 22, 45: Foi ter com os discípulos e os achou dormindo. Com o último significado de morrer, temos em Mt 27,52: Abriram-se os sepulcros e muitos corpos de santos que dormiam, ressuscitaram. E em Paulo, das 8 vezes, todas têm o significado de morrer, como vemos por exemplo em 1 Cor 15, 18: Portanto também os que dormiram em Cristo, pereceram. Como Paulo está falando da ressurreição, dizer que Cristo é primícias dentre os que adormeceram é afirmar que é o primeiro a ressurgir dentre os mortos.
ADÃO E CRISTO: Porque, pois, por um homem veio a morte e por um homem vem a ressurreição dos mortos (21). Quoniam enim per hominem mors et per hominem resurrectio mortuorum. Paulo dirige seu olhar aos inícios da humanidade, segundo a tradição do Gênesis. E encontra a morte como efeito do pecado de Adão. E agora no último Adão (1 Cor 15, 45), temos a causa da nossa ressurreição; pois como diz Paulo, nossos corpos formam parte de seu corpo, como membros do mesmo (1 Cor 6, 15). Comumente da ressurreição, fala-se em termos gerais, mais especificamente como almas unidas num mesmo espírito; mas esta frase de Paulo é clara: o corpo material também entra dentro do pléroma corporal de Cristo. Consequentemente não pode um membro particular estar morto se o corpo está vivo após ressurgir dentre os mortos. A restauração da primitiva ordem, em que a morte não era o último destino humano, mas através da árvore da vida a morte era evitada segundo os planos divinos (Gn 2. 9 e 3, 22), forma parte do plano final da restauração de todas as coisas em Cristo (Ef 1, 10), como alfa e ômega (Ap 1, 8) porque assim como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão vivificados (1 Cor 15, 22).
A RESTAURAÇÃO: Porque assim como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão restaurados à vida (22). Et sicut in Adam omnes moriuntur ita et in Christo omnes vivificabuntur. RESTAURADOS À VIDA: estar vivo, ou reviver e em passiva vivificar, fazer retornar à vida como é nosso caso. Paulo afirma, pois, que todos morrem por serem parte do sêmen de Adão, ou, como agora diríamos, por terem o genoma dele. Mas em Cristo, assim como ele ressuscitou, todos serão devolvidos à vida, porque como corpos formam parte de seu corpo total (1 Cor 6, 15).
ORDEM DA RESSURREIÇÃO: Cada um, pois, em sua própria ordem: primícias Cristo, depois os de Cristo na sua parusia (23). Unusquisque autem in suo ordine primitiae Christus deinde hii qui sunt Christi in adventu eius. PARUSIA [parousia <3952>=adventus] isto é a presença, a vinda, a chegada, e especialmente de Cristo, a vinda gloriosa do céu, para a ressurreição final, o juízo universal e a imposição do seu reino definitivo. Tem o nome grego de parousia para distingui-lo de outra manifestação de Cristo possível na História. É o chamado segundo advento como o declara Mt 23, 27. Existem algumas dúvidas: 1º) Houve ressurreições de mortos antes de Cristo e feitas por ele? Como é que se fala de Cristo como primícias? Uma delas, a feita por intercessão de Elias, voltando à vida o filho da viúva de Sarepta (1 Rs 17, 17-24). Para não falar das feitas por Jesus, como a de Lázaro após 4 dias da morte deste último (Jo 11, 38-44). Todos eles foram ressuscitados da morte, mas nenhum deles foi realmente ressuscitado, no sentido que esta palavra tem em Paulo. Cada um deles tinha seu corpo, ainda sem estar totalmente destruído pela corrupção e foi suscitado da morte para a vida, a mesma que possuía horas ou dias antes, sem que houvesse uma transformação do corpo material em espiritual como afirma Paulo (1 Cor 15, 43-44). Jesus não foi o primeiro a ser trazido de novo da morte, mas o primeiro ressuscitado em corpo glorioso. 2º) Que dizer das palavras de Mateus 27, 52-53: os túmulos abriram-se, os corpos de muitos santos já falecidos, ressuscitaram: saindo dos túmulos, depois da ressurreição dEle. Eles entraram na cidade santa e apareceram a um grande número de pessoas. Em primeiro lugar, estas ressurreições estavam incluídas nas profecias que anunciavam o dia do juízo final em Is 26, 19: Os vossos mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão…porque teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho da vida e a terra dará à luz os seus mortos. Ez 37, 12: Portanto, profetiza e dize-lhes: Assim fala o Senhor Deus: Eis que abrirei a vossa sepultura e vos farei sair dela, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. Finalmente Dn 12, 2: Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna e outros para vergonha e horror eterno. Mateus diz duas coisas: 1º) Se abriram os sepulcros. Isso está em conformidade com o tremor da terra que abriu a tumba do Senhor, e atribuído a um anjo que removeu a pedra da entrada (Mt 28, 2). Caso confirmado pelos outros evangelistas indiretamente, ao afirmar que a pedra estava removida. 2º) As aparições dos mortos. A solução do caso, desta afirmação de Mateus, é difícil. Evidentemente os mortos ressuscitaram após a ressurreição de Cristo, como afirma o próprio evangelista. Com isto está a salvo o que diz Paulo, de Cristo como primícias da ressurreição dos mortos. Mas quem eram os ressuscitados? Antigos profetas que estavam enterrados no vale do Cedrão, como afirmam alguns? Não parece seja esta a melhor solução. Familiares dos vivos na época? É o mais provável, pois a frase de corpos de muitos santos já falecidos, que não discrimina indica que não eram antigos profetas, em cujo caso Mateus o teria dito explicitamente. E que essa nova vida foi temporária e não a eterna da última parusia parece implícita na frase eles entraram na cidade santa e apareceram a um grande número de pessoas. Ou seja, não foram vistas por todos como era de se esperar de uma verdadeira revivificação. Além disso, a ênfase está na aparição e não na ressurreição. Cremos que o fenômeno é semelhante ao que acontece na vida de muitos santos que tem experiência da vida em ultra tumba de pessoas mortas. Consequentemente não podemos anunciar que alguns santos já estão em corpo e alma no Reino dos céus, como é o caso de Nossa Senhora. A ressurreição de que Paulo fala é a do fim dos tempos para a vida eterna como diz o catecismo (988). Por isso ao falar de quando, o catecismo diz, sem dúvida, no último dia ao fim do mundo, pois a ressurreição está intimamente associada à Parusia de Cristo (1001). Em consequência, ao falar da Assunção de Nossa Senhora o mesmo catecismo afirma: Este dogma constitui uma participação singular na ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos demais cristãos (966). Diante da eternidade, o tempo de espera desde a morte até a parusia é como instantâneo de modo que poderíamos afirmar que morte e ressurreição são fenômenos quase simultâneos. Mil anos são como um dia aos olhos do Senhor, dirá o salmista (90, 4).
O FIM: Então o fim, quando entregar o reino ao Deus e Pai, quando tiver abolido todo principado e toda autoridade e poder (24). Deinde finis cum tradiderit regnum Deo et Patri cum evacuaverit omnem principatum et potestatem et virtutem. O FIM [telos<5056>=finis] também término de uma coisa ou de uma era. Um segundo significado é o de taxas alfandegárias, como em Mt 17, 25 em que pedem a Pedro se Jesus não paga o didracma e Jesus pergunta: Simão, que te parece? De quem cobram os reis da terra impostos [telë]. É claro que aqui o significado é o fim, do qual fala Paulo em Rm 6, 22: Transformados e servos, tendes o vosso fruto para a santificação e por fim [telos] a vida eterna. ENTREGAR [paradidömi<3860>=tradidere] passar, entregar, dar, e até atraiçoar, como no caso de Judas (Mt 26, 2). O que é entregue é o Reino dos céus, formado pelos que cumprem a vontade de Deus (Mt 5, 10) como justiça [retidão de conduta]. E quem recebe esse Reino, ou melhor, Reinado, constituído pelos filhos do Reino (Mt 13, 38) é Deus como Pai. Um reino que tem como Rei o próprio Jesus (Jo 18, 47) e como sucessor Pedro a quem entrega as chaves (Mt 18 19) e cujos súditos se distinguem porque o maior dentre eles é como o menor e o que dirige é como o que serve (Lc 22, 26), que Paulo descreve como sendo escravos uns dos outros (Gl 5, 13) e que o próprio Jesus, dando exemplo na última ceia, lavou como escravo, os pés dos discípulos, declarando: Compreendeis o que vos fiz?…Dei-vos exemplo para que como eu vos fiz façais vós também… Se souberdes estas coisas, bemaventurados sois se as praticardes (Jo 13, 12-17). De modo que a frase paulina atribuída a Jesus, mais bemaventurada coisa é dar que receber (At 20, 25) pode ser traduzido em há mais felicidade em servir que em mandar. ABOLIDO [katargësë<2673>=evacuaverit] do verbo katargeö com o significado de tornar inativo, inoperante, ineficaz, acabar ou abolir. Parece que Paulo afirma que o poder não é conforme aos planos de Deus, de modo que no reino definitivo, não haverá tal modo de reinar, mas será o serviço quem ordena as relações entre os filhos do Reino. Jesus, em sua vida terrena, declarou tal método como prática e agora Paulo, ao abolir todo império, o declara como norma futura: Não mais existirá um reino, um que manda ou é superior ao outro, mas somente Deus e seus planos serão os que dirigem o mundo futuro. Eram, por outra parte, tempos em que o império ainda estava sob o Princeps Senatus, título dos Imperadores desde Augusto (ano 28 aC). A Autoridade era o poder moral de quem tem a capacidade para ditar uma norma de conduta. Estava fundamentalmente no Senado. Poder era a potestade de mandar cumprir as normas impostas. Eram os cônsules e pretores e em tempo de guerra o imperador ou general.
OS INIMIGOS: Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés (25). Oportet autem illum regnare donec ponat omnes inimicos sub pedibus eius. DEBAIXO DOS PÉS: Paulo alude ao costume da época de colocar de bruços os vencidos, para que os oficiais vencedores passassem por cima deles, como lemos no salmo 7, 5; e especialmente em Js 10, 24: Josué disse aos principais da gente de guerra que tinham vindo com ele: chegai, ponde os pés sobre o pescoço destes reis. Coisa que Jesus usa como nota do seu messiado em Mc 12, 36. É, pois sinal de absoluta derrota e total submissão. Com isso, Paulo indica uma vitória final.
A MORTE: Último inimigo a desaparecer é a morte (26). Novissima autem inimica destruetur mors. Com esta frase, Paulo afirma que todo mal, é resultado do pecado, pois com o pecado entrou a morte. O primeiro inimigo é Satanás como lemos em Ap 12, 9. Temos também o mundo, que apesar de ser feito por Ele não o conheceu (Jo 1, 10). E a carne, da qual diz Paulo que nela não habita bem nenhum (7,18), de modo que são os três inimigos clássicos do homem. Em lugar de construir, eles destroem a ordem do Senhor em geral e, em particular, em cada homem. Finalmente, Paulo enumera o último, que é a morte. O catecismo fala do mal físico e do mal moral. Como recordação temos as palavras de S. Tomás de Aquino: Por que Deus não criou um mundo tão perfeito que nele não pudesse existir nenhum mal? Deus poderia criar coisa melhor. Porém na sua sabedoria infinita Deus criou um mundo em estado de via, caminhando para sua perfeição e não perfeito (CIC 310). Por isso, tanto os homens como os animais contribuem ao melhoramento do mesmo. Aqueles por instinto, estes por razão. Assim, é importante a escolha do bem, que em Deus é perfeita, pois como diz o catecismo, Deus em sua providência toda-poderosa, pode sacar um bem das consequências do mal, incluso moral, causado por suas criaturas (312). É por isso que todo ato conforme a natureza é agradável, exceto o parto (Gn 3, 16). A base do pecado do homem é dirigir seu fim ao agradável e transformá-lo num fim quando é unicamente um meio.
SOB SEUS PÉS: Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos seus pés: (27). Omnia enim subiecit sub pedibus eius. Paulo usa a mesma linguagem dos salmos, quando fala da suprema condição do homem a respeito do Universo: Deste-lhe domínio sobre as obras de tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste (Sl 8, 6). Mas sobre o homem do AT está o novo homem do NT que é Cristo a quem tudo é submetido. Pois existindo criaturas superiores, não foi aos anjos que sujeitou o mundo que há de vir (Hb 2, 5). Para que por sua morte destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo (Hb 2, 14). De modo que o poder de Cristo está sobre o poder daquele que aparentemente tem o máximo poder como é o da morte ante a qual todos estávamos sujeitos.
EVANGELHO ( Lc 1, 39-56)
OS NOMES: Tendo, pois, se levantado Mariam, naqueles dias foi à montanha, com presteza, a uma cidade de Judá (39). Exsurgens autem Maria in diebus illis abiit in montana cum festinatione in civitatem Iuda. Mariam significa senhora e, segundo Lucas, devemos distinguir seu nome de Maria que é o nome dado à Madalena, ou o nome da irmã de Lázaro, assim como o de Maria Salomé. Lucas expressamente usa Mariam para a Mãe de Jesus. Elizabet, de origem hebraica, significa juramento de Javé. Zacaria(s) significa Javé se lembrou. Segundo o modo de pensar dos judeus, o nome tinha muito a ver com a vida e existência do sujeito nomeado. A Senhora visita a casa de quem foi lembrado por Deus, porque cumpriu seu juramento, dando origem a um bebê [Johanan] que é um dom precioso de Javé. Talvez Lucas não soubesse a metáfora que os nomes significavam. Numa época em que Fílon interpretava as Escrituras de modo simbólico e que teve como sucessores Orígenes e Cirilo de Alexandria, fundadores da escola simbólica escriturária para depois dar lugar à Cabala. Daí podemos deduzir que a possibilidade desta interpretação não é absolutamente irresponsável. A MONTANHA: Termo técnico, semelhante ao Deserto de Judeia, para designar a região entre Jericó e Bethoron, como indicamos na exegese do IV Domingo do Advento de 2007. (Ver comentários exegéticos Número 14 de presbíteros.com. br) Como a resposta de Isabel até o versículo 45 já foi devidamente estudada nesses comentários, neste evangelho de hoje vamos especialmente interpretar o canto mariano por excelência, o Magnificat.
O MAGNIFICAT: É um dos três cânticos que Lucas nos oferece em seu evangelho. Sem dúvida tomando como modelo outros cânticos como o de Moisés, em Êxodo 15, 1-18 e a pequena estrofe de Miriam no versículo 21. Assim se inaugura uma ação de graças com cântico que formam um conjunto de louvores pelos feitos maravilhosos, provindos das mãos do Senhor. Mas o cântico que está mais perto do Magnificat é o de Ana em 1 Sm 2, 1-10. Tenho o coração alegre, graças ao Senhor, e a fronte erguida, graças ao Senhor, minha boca abre-se contra os meus inimigos: eu me alegro por tua vitória. (…) O Senhor torna pobre e enriquece, rebaixa e também exalta. Ergue o fraco da poeira e retira o pobre do monturo para fazê-los sentar com os príncipes e atribuir-lhe o lugar de honra. A questão é se o canto foi um espontâneo de Maria ou foi produto de um poeta cristão posterior. O mais provável é que Maria meditou muito durante a viagem de três dias e o tivesse composto meditando o cântico de Ana e o de Judite: Deus, o nosso Deus, está conosco para manifestar seu vigor em Israel e sua força contra os inimigos (Jt 13, 11). E Louvai a Deus que não retirou sua misericórdia da casa de Israel, mas esmagou nossos inimigos por minha mão esta noite (Jt 13, 14). Se em Ana o impulso que a levou ao cântico é o nascimento do filho, em Judite está a vitória de Israel sobre os inimigos. Ambas as razões estão vivas no cântico de Maria.
ESTRUTURA: Dividiremos o Magnificat em três partes diferentes: 1a) Introdução (47). 2a) razão do louvor (48-53). 3a) A especial providência para com Israel, figura da misericórdia para com ele (54-55). Vamos tentar explicar cada uma das partes, dando no final uma tradução livre do cântico.
INTRODUÇÃO: E disse Mariam: Engrandece a minha alma o Senhor (46). Et ait Maria magnificat anima mea Dominum. E encheu-se de gozo meu espírito no Deus, meu salvador (47). Et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo. É um louvor de agradecimento a Deus que é Senhor [Kyrios] e ao Deus, o seu Salvador [o theós, o soter]. É um beraká ou louvor em alta voz. O grego usa o verbo megalenö, que significa engrandecer tal e qual as traduções portuguesa e italiana. Também a Vulgata usa a palavra magnificat que é uma tradução literal do grego. Porém podemos traduzir livre, mas mais ajustado ao sentido próprio, por exaltar ou glorificar. De fato, esta última é a preferida pela tradução espanhola: Exalta minha alma o Senhor. É, pois um grito de louvor, ou melhor, de ação-de-graças por um benefício recebido. Não podemos esquecer que na língua semita não existe a palavra agradecer que é substituída por louvar ou exaltar. A segunda parte da introdução é o gozo existente por ter visto de perto a ação salvífica divina: E meu espírito encheu-se de gozo no Deus, o meu salvador. Tanto Deus, como Salvador, estão com artigo, indicando uma realidade definida e próxima de Maria.
RAZÃO: Porque fixou seu olhar na insignificância de sua escrava: Eis, pois, desde agora me chamarão ditosa todas as gerações (48). Quia respexit humilitatem ancillae suae ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes. O verbo epiblepö, que mais do que um simples olhar significa observar, prestar atenção [respexit latino] por isso temos traduzido fixou seu olhar. Uma outra palavra mal traduzida é tapeinosis porque o latim traduz por humilitas [humildade] que pode ser uma virtude ativa contrária à soberba e assim foi traduzido às línguas vernáculas. Por isso a tradução espanhola moderna diz se há fijado em la humilde condición de su esclava. Já a italiana diz há considerato l’umiltà della sua serva. As duas portuguesas dirão olhou para a humilhação de sua serva (Bíblia de Jerusalém) e contemplou na (sic) humildade da sua serva (RA evangélica) que é uma construção um tanto irregular. Tapeinosis pode ser também uma condição nativa de impotência e insignificância, ou seja, ser pequeno demais. Daí que o olhar deve ser meticuloso, um observar, como indica o latim [respicio= considerar, olhar com atenção, com piedade]. Doulë=serva que o espanhol traduz como escrava e o latim como ancilla [escrava doméstica], muito melhor que as traduções de serva, pois o doulë grego significa escrava propriamente dita. A primeira razão da ação-de-graças é pois a natureza transcendental ou divina de quem provê a eleição traduzida em benevolência: Deus. A segunda é a pequenez da qual ele se deixou conquistar: escolheu um ser insignificante como é uma escrava. É por isso que todas as gerações a chamarão bendita (de Deus). O grego diz propriamente me abençoarão [chamar bendita] que muitos traduzem por bemaventurada, ou feliz. O que não é realmente uma tradução feliz. Melhor seria, considerarão que sou privilegiada de Deus.
O PRIVILÉGIO(49): Já que fez para mim magníficas (coisas) [megaleios] o Poderoso. Porque Santo é o seu nome (49). Quia fecit mihi magna qui potens est et sanctum nomen eius. Na realidade, megaleios é um adjetivo que significa excelente, magnífico. O PODEROSO era um dos títulos com os quais os judeus substituíam o nome santo Hashem ou HASHEM YITBARAH [o nome recôndito]. É com este nome de PODEROSO que Jesus responde à conjura de Caifás( Mt 26, 64) só que aqui é adjetivo e no momento do julgamento usa-se o substantivo Poder [dynamis]. Por isso, como era costume entre os judeus, termina Maria com um louvor ao nome santo: pois sagrado é seu nome. Ou se queremos calibrar melhor diríamos: pois seu nome é único, divino. Traduzimos o Kai grego, como correspondência ao wau hebraico que tem o significado de conjunção causal ou explicativa, tanto como conjuntiva. Será, pois, porque.
A PROVIDÊNCIA DIVINA (50): Porque sua misericórdia é para geração de gerações, aos que o temem (50). Et misericordia eius in progenies et progenies timentibus eum. Maria agora eleva seu olhar, e da intimidade de seu ser, parte para a lei geral da providência divina para com todos os povos: Visto que sua misericórdia se estende de geração em geração para com os que o temem. Maria nos dá uma definição da atuação divina que merece a pena considerar: Deus é misericórdia para os que o respeitam, pois é a maneira que devemos traduzir o fobeo [temer] grego quando referido a Deus. Respeito e reverência, que se traduzem em obedecer suas leis de modo escrupuloso. A misericórdia é um ato de amor correspondente a quem se inclina ao mais fraco para ajuda e consolação. Esta é a linha geral que Maria descobre em Deus através da escolha particular de sua insignificante pessoa.
O BRAÇO (51): Seu braço se mostrou poderoso ao dispersar os arrogantes de pensamento dentro de seu coração (51). fecit potentiam in brachio suo dispersit superbos mente cordis sui. Podemos contemplar dois sentidos na frase: A) O particular de uma batalha em que são derrotados os inimigos de Israel como aconteceu no caso de Judite 9, 4 e 13, 14 e o verbo pode ser empregado com toda a literalidade do mesmo, como dispersar ou desbaratar, do qual fala o salmo 89, 11 esmagaste Raab, como um cadáver, dispersaste teus inimigos com teu braço poderoso, como modelo da canção Mariana. É esse braço cuja destra esplendorosa de poder esmaga o inimigo (Êx 15, 6). B) Ou o sentido geral de todos os que têm orgulho de serem melhores e mais poderosos que os humildes e então o modelo é o canto de Ana: O arco dos poderosos é quebrado, os debilitados são cingidos de força (1 Sm 2,4). Neste último caso optaremos por uma tradução menos literal e no lugar do dispersou usaremos, peneirou como palha, descartando-os, como a palha é descartada do trigo.
OS PODEROSOS (52): Derribou os poderosos dos tronos e elevou os pequenos (52). deposuit potentes de sede et exaltavit humiles. Aos famintos cumulou de bens e aos ricos despediu vazios (53). Esurientes implevit bonis et divites dimisit inanes. PODEROSOS são chamados de dynastes que podemos traduzir por príncipes ou poderosos. A tradução será, pois, destronou os homens de poder de seus tronos e ergueu os de humilde condição (52). Aos necessitados cumulou de bens e aos ricos despediu vazios (53). Neste ponto Maria segue o modelo de Sl 107, 9 e o canto de Ana: Os que viviam na fartura se empregam por comida. Os que tinham fome não precisam trabalhar (1 Sm 2,4-5). Maria segue assim a política de Jesus das bemaventuranças, de modo especial a redação que nós temos hoje de Lucas: Benditos os famintos… Ai de vós os saciados agora.( Lc 6).
ISRAEL O SERVO (54): Protegeu Israel seu servo, para recordar misericórdia (54), como falou aos nossos pais, Abraão e sua descendência para os séculos (55). Suscepit Israhel puerum suum memorari misericordiae sicut locutus est ad patres nostros Abraham et semini eius in saecula. Em Is 41, 8-9 Javé chama a Israel meu servo. A palavra usada é pais que tanto pode significar filho como escravo. Por isso a atuação de Javé com o nascimento de Jesus significa um efeito peculiar de Deus em favor de seu povo. E fez isso lembrado da misericórdia. Um momento peculiar dessa benevolência divina foi o cumprimento de sua promessa dada como palavra divina a Abraão e sua semente [sua descendência] para sempre (55). É uma recordação de Gn 17,7. Esta aliança perene fará de mim teu Deus e o de tua descendência depois de ti.
TRÊS MESES (56): Permaneceu, pois, Mariam com ela uns três meses e voltou para sua casa (56). Mansit autem Maria cum illa quasi mensibus tribus et reversa est in domum suam. Era o tempo que faltava para que Isabel desse à luz seu filho e Maria, sem dúvida, ficou com a anciã parente até o momento do nascimento de João. Assim se explicam os detalhes do mesmo, dos quais Lucas é narrador e Maria, sem dúvida, testemunha.
A TRADUÇÃO: Exulta minha alma ao Senhor e meu espírito encheu-se de gozo no Deus, o meu salvador; porque fixou seu olhar na insignificância de sua escrava. Por isso, pois, desde agora aclamar-me-ão como bendita todas as gerações; já que realizou em mim fatos extraordinários, porque seu nome é divinamente sagrado, visto que sua misericórdia se manifesta de geração em geração em favor dos que o respeitam. Seu braço mostrou-se poderoso ao desbaratar os arrogantes de pensamento no íntimo de seus corações. De modo que obrigou os homens de poder a descer de seus tronos e ergueu os de condição humilde. Aos necessitados cumulou de bens e aos ricos despediu vazios. Protegeu Israel, seu servo, guiado da sua misericórdia, como prometeu a nossos pais, a Abraão e sua descendência para sempre.
PISTAS:
1) O Magnificat de Maria é o canto da maioria dos fiéis humildes, isto é, pequenos e sem ambições, que constituem a maioria dos seguidores de Jesus. Diante das ambições das doutoras do sexo feminino que pretendem o sacerdócio é bom que recitem o cântico com a mesma sinceridade e humildade com que o fez Maria, todas as tardes nas vésperas para aprender que não é com direitos que vamos nos apresentar ao Deus dos pequenos, mas com a sinceridade que a humildade nos dá, ao saber que dele dependemos e que unicamente os que se humilham serão exaltados (Mt 23, 12).
2) Não é pela pessoa em si mesma, que a Igreja exalta e venera Maria, simples criatura, mas pelos grandes favores que recebeu de Deus e que por isso anima os mais desprestigiados a esperar favores desse mesmo Deus que exalta os humildes. Em Maria vemos as maravilhas que Deus pode realizar com as almas que reconhecem sua bondade; o que outros chamariam de méritos.
3) Maria é a única que louva o Senhor de modo a ser exemplo para todas as mulheres. Ela não o disse no Magnificat, mas será Isabel que em termos de santa inveja a declara modelo de todas as mulheres.
4) Maria indica o verdadeiro caminho de salvação do seu Filho: Deus escolhe desde agora os mais imprestáveis segundo o mundo, como diz Paulo (1 Cor 1, 17 –31) e que com clareza óbvia Maria expressa em seu cântico, para que ninguém se glorie em si mesmo.
Publicação Especial - Doutrina / Dogmática
(Extraído do site Presbíteros)
Síntese de Mariologia
Pe. Jair Cardoso Alves Neto
“Quando chegou a plenitude dos tempos, mandou o seu Filho, nascido de mulher… para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4,4-5). Constantemente na história da salvação, Deus manifesta o seu amor de Pai junto a seu povo. O amor é revelado por meio de uma eleição: uma jovem é separada para que por meio dela o Filho de Deus pudesse assumir a humanidade decaída com o pecado. Assim como por meio de uma mulher (Eva), o pecado “entrou” no mundo, Deus separa uma mulher para que por meio dela chegue a Salvação: dá-se uma nova criação. Há um novo Adão e, do seu lado é tirada a mulher, a nova Eva; um novo povo é constituído.
Maria é a Mulher do sim. O sim dado ao Amor. A obediência dada por amor. A entrega dada no amor. Desta maneira, Maria tem uma grande importância na história da salvação e na vida de muitos cristãos e sua figura é tradicionalmente reconhecida na Igreja Católica.
5.1 MARIA NO NOVO TESTAMENTO
Certamente, a Virgem tem na Bíblia um lugar discreto. Ela aí é representada toda em função de Cristo e não por si mesma. Mas sua importância consiste na estreiteza de seus laços com Cristo.
Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na história da salvação: não somente no princípio (cf. Lc 1 – 2) e no fim (cf. Jo 19,27) da vida de Cristo, mistérios da Encarnação e da morte redentora, mas na inauguração de seu ministério (cf. Jo 2) e no nascimento da Igreja (cf. At 1,14). Presença discreta, na maior parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura, e de um amor pronto a compreender e a servir aos desejos de Deus e dos homens (cf. Lc 1,38-39.46-56; Jo 2,3) (BOFF, 2004).
Esta presença revela seu sentido total, e com toda a Escritura se a recolocarmos nos grandes quadros e correntes da teologia bíblica onde eles se situam, Maria aparece no término da história do povo eleito como correspondente de Abraão: Ela se apossa, pela fé, da promessa que ele havia recebido na fé. Ela é o ponto culminante onde o povo eleito dá nascimento a seu Deus e se torna a Igreja. Se alagarmos a perspectiva da história de Israel à história cósmica, segundo as insinuações de João e de Lucas, se compreendermos que Cristo inaugura uma nova criação, Maria aparece no início da salvação, como restauração de Eva: Ela acolhe a promessa de vida onde a primeira mulher havia acolhido a palavra de morte e se torna perto da nova árvore da vida a mãe dos vivos (LAURENTIN, 1965).
5.1.1 Maria no Evangelho de Marcos
O Evangelho de Marcos se constitui em duas questões fundamentais: Quem é Jesus de Nazaré? Como ser discípulo de Jesus, o Cristo? Questões que Maria, mãe de Jesus, como todos de sua família e todos da comunidade cristã, inclusive Marcos buscam entender.
No Evangelho de Marcos a pessoa de Maria aparece em duas passagens: Mc 3,31-35 e Mc 6, 3-4. Nestes textos Maria é a mãe biológica de Jesus que busca entender o filho juntamente com seus familiares. A mulher maternalmente solícita pela sorte do filho. Mas, que também é convocada a ser discípula na busca de compreender Jesus e sua missão e acolher sua proposta. Ela também podia estar entre os primeiros a nutrir preocupações ainda muito humanas pela missão e a obra de Jesus.
Marcos indica que a verdadeira família de Jesus não é a de ordem carnal e que a ela pertencem todos os filhos do Reino. Assim, Maria, Mãe de Jesus é fundamental testemunho dos verdadeiros laços que criam comunhão com Jesus. Depois de ter levado Jesus, seu filho no ventre, era preciso que ela o gerasse no coração, cumprindo a vontade de Deus (cf. Mc 3,35), que se manifestava naquilo que Jesus dizia e realizava. Neste sentido, a figura de Maria “mãe” se harmoniza e se completa com a figura da “discípula” (SERRA, 1995).
5.1.2 Maria no Evangelho de Mateus
No Evangelho de Mateus a pessoa de Maria aparece em dois momentos: nos relatos da infância (cf. Mt 1-2) e no ministério apostólico de Jesus ( cf.Mt 12,46-50; 13,54-58). O primeiro é composto por relatos próprios de Mateus; o segundo está em dependência de Marcos, mas Mateus toma diante dele tal liberdade que é capaz de transformar seu sentido e seu ensinamento (ALVAREZ, 2005).
No Evangelho da Infância em Mateus, Jesus, como todos os meninos, não chega ao mundo sem um pai e uma mãe. Mateus fala de José, esposo de Maria (cf. Mt 1,16) e de Maria esposa de José (cf. Mt 1,24). Maria, por sua vez não tem existência sem José, do qual é esposa, e sem Jesus, do qual é mãe. Maria é aquela que gera e é mãe, ao passo que José é somente o pai legal.
Mt 1,3 fala sobre a concepção de Jesus, diz que esta se realizou “para que se cumpra o oráculo do Senhor, por meio do profeta [...]” e cita Is7, 14, aplicando a Jesus a realidade do “Emanuel” e a Maria a de “virgem”. (Mateus quando) Ao falar do nascimento de Jesus, Mateus recorrendo ao texto de Isaías, não somente assume a interpretação dos LXX, mas ele mesmo interpreta teologicamente esse nascimento: Jesus é o Emmanuel e nasce de Maria Virgem. Neles dois se realiza plenamente o oráculo do profeta: Jesus é o Messias, e Maria é a Mãe-Virgem e, este fato maravilhoso somente pode ser entendido como a obra do Espírito Santo (ALVAREZ, 2005).
A união de Maria com seu Filho é, então, íntima, total e permanente. Desde a concepção virginal, Maria está expressamente unida a Jesus e é inseparável dele. Por isso, os escritores eclesiásticos aprofundam nesta realidade, dizendo que não podemos entender Jesus sem Maria e entender Maria sem Jesus.
Podemos notar, finalmente, como que um contraste nas expressões de Mateus: Enquanto Jesus é o Emmanuel de Deus, Deus – conosco, Maria é a Mãe que está sempre junto do seu Filho. Ela é a resposta permanente à presença sempre atual do Senhor na história.
Quanto ao ser discípulos de Jesus significa cumprir a vontade do Pai no céu, realizar seu plano. Para Mateus, o discípulo integra, então, a escuta da Palavra e sua ação (cf. Mt 5,19;Mt7,24-25), o estar junto de Jesus e sob a sua proteção (cf. Mt 12,49-50). E Maria, com perfeita discípula e “família dele” em um nível muito mais forte e firme do que o dos laços físicos de geração (ALVAREZ, 2005).
Portanto, o Evangelho de Mateus nos fala que Maria está intimamente ligada ao seu Filho Jesus Cristo, desde antes do nascimento e, uma vez nascido para o mundo, está unida a ele nos momentos fundamentais de sua vida e de seu ministério. Assim, Maria aparece, mesmo sem palavras, como testemunha da graça abundante de Deus para seu povo, mas também como mãe que cuida e acompanha o Filho de suas entranhas (ALVAREZ, 2005).
5.1.3 Maria no Evangelho de Lucas
De todos os Evangelhos, Lucas é o que mais nos fala de Maria. Primeiramente nos relatos da infância, onde ela tem um papel mais ativo do que o que vimos em Mateus; em seguida, no marco da atividade apostólica de Jesus, com quatro textos, dois dos quais coincidem com as tradições de Marcos e de Mateus (cf. Lc 4,16-30 e 8,19-21) e outros dois que pertencem à tradição própria de Lucas (cf. Lc 3,23 e 11,27-28); por último, no começo dos Atos dos Apóstolos, quando se inicia a história da Igreja (cf. At 1,14) (ALVAREZ, 2005).
A primeira coisa que temos de afirmar, ao entrar na análise dos textos lucanos sobre Maria, dentro do chamado Evangelho da infância (Lc1-2), é que os textos são fundamentalmente cristológicos e mariológicos. Maria não tem uma identidade e uma vocação própria, mas dentro e a serviço da cristologia. Ela é tudo para Jesus e se transforma e se enriquece plenamente por e para Jesus. Para isto, temos alguns títulos que ilustram esta tão grandiosa discípula: Filha de Sião, Virgem e Mãe, Cheia de Graça, Morada de Deus, Cheia do Espírito, Serva e mulher de fé e Portadora da santa presença. Temos também textos bíblicos que falam da sua experiência como Mãe do Salvador: Lc1, 26-28 (o anúncio do Anjo); Lc1-39-45 (a visita a Isabel); Lc1, 46-55 (o cântico da libertação). Assim sendo, Maria surge em Lucas como a primeira mensageira do Evangelho de Deus: leva a Notícia da paz, da felicidade e da salvação, desde a Galiléia até a região de Judá. Mas Maria é a primeira mulher que acolhe o Evangelho e o comunica a seus irmãos, trazendo-lhes o gozo escatológico, quer dizer, a alegria e a segurança da salvação definitiva (cf. Lc 1,44) (ALVAREZ, 2005).
Em Lucas percebemos a participação e a cooperação de Maria no plano da salvação, desde a anunciação até o início da Igreja: “todos estes unânimes, perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e com seus irmãos” (At 1,14) (ALVAREZ, 2005).
Portanto, no Evangelho de Lucas vimos que Maria é apresentada como a Mãe do Salvador e esta em Atos exerce a função de Mãe da comunidade, pois, ela se encontra reunida com esta comunidade nascente para receber em oração a Promessa do Espírito; com esta comunidade reunida com os seus para orar e esperar de seu Filho o presente dos tempos novos. É, finalmente, irmã na comunidade e discípula do Senhor exaltada, que permanece em Jerusalém em cumprimento da Palavra do Mestre (cf. At 1,5-8) (ALVAREZ, 2005).
5.1.4 Maria no Evangelho de João
O quarto Evangelho oferece-nos a história de Cristo, num esforço de “memória viva” que parte da fé pascal (cf. Jo 2,17.22;12,16;13,7;20,9) e é realizada por obra do Espírito, o Paráclito, que é testemunha fiel e o hermeneuta qualificado da vida e da obra do Cristo joânico (cf. Jo 14,15-17;15,26;16,7-11.13.15). O quarto Evangelho é do final do século I e expressa a situação de duas igrejas, primeiro na Síria e depois na Ásia Menor (ALVAREZ, 2005).
A figura de Maria aparece no quarto Evangelho em duas ocasiões, no começo e no final do Evangelho. Em ambas, Maria é chamada “a Mãe de Jesus” (cf. Jo 2,1.3.5;19,26), e em ambas a palavra do Mestre vai dirigida a ela com o nome de “mulher” (cf. 2,3;19,26), mas nunca aparece o nome próprio de Maria. No Evangelho de João Maria é chamada por dois nomes: “Mãe de Jesus” e “Mulher”. Enquanto a expressão “Mãe de Jesus” é um título que contrasta com a outra afirmação, “filho de José”, o termo “mulher” é comum em Jesus para dirigir-se às mulheres (cf. Mt15, 28; Lc13, 12; Jo4, 21; 8,10; 20,13). Contudo aqui, dito à sua Mãe tem uma conotação especial: o termo “mulher” dirigido por Jesus é um termo joânico que aparece em duas ocasiões (em Caná e na cruz) e forma uma espécie de inclusão. A mulher está presente no começo e no fim da vida pública, no momento em que o Messias inicia suas obras e na hora da morte, quando consuma sua obra (ALVAREZ, 2005).
Maria aparece no Evangelho de João, sobretudo em 2,1-12 como intercessora e evangelizadora. Como intercessora Maria apresenta simplesmente a Jesus, a necessidade dos que participam da festa de bodas: “Não há mais vinho” (Jo 2,3). Já como evangelizadora, a segunda palavra de Maria que encontramos no quarto Evangelho é significativa não só pelo que diz, mas também por aqueles aos quais a diz: “Fazei o que ele disser” (Jo 2,5) (ALVAREZ, 2005).
Se em Caná, Jesus lhe disse que ainda não havia chegado sua “Hora” e iniciou seus sinais, aqui, na cruz, na Hora da Páscoa, Jesus realiza seu último e definitivo sinal da salvação, a morte por todos e a entrega do Espírito (cf. Jo 19,30). Assim, Maria é chamada novamente com dois títulos de Caná: a Mãe de Jesus e a Mulher. Maria também é a testemunha por excelência da Páscoa de Jesus diante da comunidade (cf. Jo 19,35; 21, 24). E esta comunidade, ao entender o gesto de seu Senhor, a recebe entre seus bens mais preciosos: Maria passa a ser um bem precioso com que Jesus Cristo presenteia a Comunidade, um dom da Páscoa de inapreciável valor; mas também a Mãe de todos acolhida como tal (ALVAREZ, 2005).
A visão do quarto Evangelho é nitidamente teológica contribui para realçar o papel de Maria no mistério de Jesus. Assim, o Evangelho de João articula os três elementos, Maria – Mãe de Jesus, Maria – Mulher e Maria – Mãe dos discípulos, segundo uma graduação teológica: partindo de Maria – Mãe de Jesus para chegar a Maria – Mãe dos discípulos, com uma maternidade nova.
5.2 OS DOGMAS MARIANOS
Os quatro dogmas marianos: “Maternidade Divina” = “Mãe de Deus” (Theotókos), e “Maria Virgem” = Virgindade, são antigos e estão estreitamente ligados entre si e inseparáveis da fé em Jesus Cristo e a sua formulação histórico- dogmática. Os dogmas da “Imaculada Conceição” e “Assunção de Maria” são mais recentes e estão baseados na dignidade e no significado de Maria Virgem e Mãe de Deus.
5.2.1 A Maternidade Divina e Virginal
Julga-se que o título Theotókos, Mãe de Deus, aparece pela primeira vez, na literatura cristã, nos escritos de Orígenes (†250). Foi solenemente proclamado pelo Concílio de Éfeso (431) (BETTENCOURT, 2004).
Em que sentido Maria é a Mãe de Deus? Toda mãe é mãe de uma pessoa. A Pessoa que nasce de Maria é a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que dela assumiu a carne humana. Maria, porém, não é mãe apenas da carne humana, mas de toda a realidade do seu Filho, o Verbo encarnado. Daí dizer-se que Maria é Mãe de Deus, mas enquanto Deus feito homem.
Deus escolheu Maria, por benevolência ou gratuidade, para ser Mãe Santa. Portanto, encheu-a de graça. Maria correspondeu fielmente ao dom de Deus, dizendo-se e fazendo-se a serva do Senhor (cf. Lc 1,38. 44). Maria foi escolhida como filha de Sião ou como membro de um povo chamado a gerar o Messias. Isto quer dizer que o Sim de Maria é o Sim de uma coletividade; é o Sim de todo o gênero humano, chamado a se prolongar na Igreja através dos séculos (BETTENCOURT, 2004).
Maria concebeu o Filho de Deus de maneira livre e generosa. Para isto, devia ter certo conhecimento do dom e da missão que lhe eram propostos (não se tratava de conhecimento pleno; (cf. Lc 2,50). Maria é privilegiada, mas ela se intitula “servidora de Deus e dos homens” (cf. Lc 2,38. 48). O próprio Jesus ensinou que “o maior deve ser como aquele que serve” (cf. Lc 22,26; Jo 12,13-15).
Desde remota época a Igreja professa que Maria é sempre virgem (no sentido físico). Esta verdade pertence ao patrimônio da fé, como declarou, em conformidade com a Tradição, o Papa Paulo V (aos 7/08/1555): “A bem-aventurada Virgem Maria foi verdadeira Mãe de Deus, e guardou sempre íntegra a virgindade, antes do parto, no parto e constantemente depois do parto” (DS 1880 [993]).
A doutrina da concepção virginal de Maria começa a ter sentido quando abordada de modo contemplativo no contexto da encarnação. As narrativas da infância de Mateus e Lucas são as únicas fontes que falam da concepção virginal de Jesus. Elas testemunham que Maria concebeu Jesus pelo poder da sombra do Espírito Santo sem intervenção masculina (cf. Lc 1,26-38; Mt 1,18-25). Os dois autores estão indicando o interesse na concepção virginal como sinal de escolha e graça divinas. A descrição extraordinária do nascimento de Jesus entra no discernimento cristológico de que Jesus é Filho de Deus, o Messias, desde o nascimento.
Assim, a doutrina da virgindade de Maria é indicativo das origens de Jesus no mistério de Deus que não se explicita apenas por ascendência humana, mas pela iniciativa criadora de Deus. Maria é virgem e mãe. Maria Virgem porque se guardou íntegra para Deus. Virgem por guardar íntegra a Palavra de Deus: “Faça-se em mim…”. Por isso é também a “sempre virgem Maria”: avançou íntegra na “penumbra da não-visão”; avançou em “peregrinação de fé” (LG 58).
5.2.3 Imaculada Conceição
O dogma da Imaculada Conceição significa que, no primeiro instante de sua conceição, a Bem-aventurada Virgem Maria foi, por graça e privilégio singulares de Deus onipotente e em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, preservada de toda mancha da culpa original (DS 2803 [1641]).
Esta verdade, solenemente definida por Pio IX em 08/12/1854, foi aos poucos aflorando à consciência da Igreja. Durante muito tempo, os teólogos perguntavam como poderia Maria ter sido salva por Jesus Cristo se nunca tivesse pecado. Finalmente, João Duns Scoto, O.F.M. (†1308) propôs a fórmula decisiva: “pertence à perfeição do Redentor não somente purificar do pecado, mas preservar do pecado a mais dileta dentre as criaturas” (BETTENCOURT, 2004, p.06).
Maria, portanto, foi isenta do pecado original em previsão dos méritos de Cristo; assim, ela foi remida de maneira mais perfeita do que as outras criaturas.
Maria nunca contraiu pecado pessoal, nem a mais leve culpa. A razão pela qual o Senhor Deus quis outorgar tal privilégio a Maria, se deriva da graça da maternidade divina: não convinha que aquela mulher chamada a ser tabernáculo do Altíssimo ou Mãe de Deus feito homem estivesse, por um momento sequer, sujeita ao domínio do pecado e de Satanás. O anjo declarou Maria “cheia de graça” (Lc 1,26) – o que sugere que desde o início da sua existência ela gozou da plenitude do favor divino.
A riqueza de graças em Maria não impediu que ela vivesse de fé e de esperança, em meio a lutas e dores. A sua fé inspirou-lhe a obediência incondicional a Deus, que lhe pedia cada vez mais generosa. Maria não compreendeu desde o início a grandeza da obra que Deus nela realizaria; também se sentiu perplexa, mais de uma vez, diante do procedimento de seu Filho (cf. Lc 2,49s), mas abandonou-se a Deus sem reservas.
5.2.4 Assunção de Maria
Desde remota época (séculos IV e V), os autores cristãos julgaram que Maria teve um fim de vida terrestre singular; em seus sermões e em escritos apócrifos, professaram a glorificação corporal de Maria, logo após a sua morte na terra. Esta crença foi-se transmitindo até que o Papa Pio XII em 1950 houve por bem proclamá-la solenemente como dogma de fé (FIORES, 1995).
Com efeito, Maria, que não esteve sujeita ao império do pecado para poder ser a santa Mãe de Deus, não podia ficar sob o domínio da morte que entrou no mundo através do pecado (cf. Rm 5,12). Por isto, não conheceu a deterioração da sepultura, mas foi glorificada não somente em sua alma, mas também em seu corpo (FORTE, 1985).
A carne da mãe e a carne do filho são uma só carne. Por isto, a carne de Maria devia tocar a mesma sorte que tocou a carne de Jesus: ambas foram glorificadas no fim desta caminhada terrestre. Existe uma tendência a empalidecer o significado da glorificação corporal de Maria mediante a tese da ressurreição de todo indivíduo logo após a morte: o caso de Maria seria um entre outros pares (BETTENCOURT, 2004).
A Assunção da Virgem Maria é uma participação singular na Ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos (CIC 966).
5.3 MARIA NOS DOCUMENTOS DO VATICANO II: LUMEN GENTIUM E MARIALIS CULTUS
A figura de Maria foi de suma importância para o Vaticano II: o Papa João XXIII abriu o Concílio na festa da Maternidade Divina de Maria (11 de outubro de 1962) e o Papa Paulo VI o concluiu na vigília da Imaculada Conceição (07 de dezembro de 1965). O Concílio, todavia, abre perspectivas de um novo tempo, nos deixando o “Capítulo VIII” da Lumem Gentium. Depois do Concílio Vaticano II, temos a exortação de Paulo VI (02 de fevereiro de 1974) (FURLANI, 2005).
5.3.1 Maria no Capítulo VIII da Lumen Gentium
O capítulo VIII da Lumem Gentium integra o mistério da Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja. Este documento dá destaque à fundamentação bíblica e tradicional da doutrina mariana, levando em conta a exegese recente, os Padres da Igreja e dos teólogos posteriores.
No seu conteúdo, representa a doutrina clássica em termos modernos: Maria, a Mãe de Deus e tipo de Igreja é vista como pessoa que se oferece livre e conscientemente à graça de Deus.
A devoção aparece como incentivo para a fé e amor de Jesus. E favorece ao diálogo ecumênico, assumido no Concílio. O Papa Paulo VI na promulgação da Constituição Lumem Gentium, terminou sua alocução proclamando Maria Mãe da Igreja, título que não aparece no documento conciliar, mas foi acrescido às “Ladainhas lauretanas” (FIORES, 1995).
5.3.2 Marialis Cultus
A Exortação Apostólica do Papa Paulo VI (02/02/ 1974), parte da renovação litúrgica, decidida pelo Concílio Vaticano II, para explicar o lugar de Maria no ciclo geral e o sentido das festas propriamente marianas (FIORES, 1995).
A Exortação segue o que orienta o Concílio: [...] promovam generosamente o culto, sobretudo o litúrgico, para com a Bem-Aventurada Virgem Maria; dêem grande valor às práticas e aos exercícios de piedade recomendados pelo magistério [...] (LG 67). Neste ensinamento, Paulo VI articula a questão da cultura e da inculturação do culto devido a Maria, como a Mulher que soube viver no seu contexto e inserir-se no mistério de Cristo, porque foi uma mulher que acreditou naquilo que o Senhor lhe disse.
A Exortação especifica as características e evidencia elementos teológicos e espirituais do culto e de uma devoção mariana para o nosso tempo. Portanto, no seu conteúdo doutrinal, o mistério de Maria deve ser compreendido como um mistério trinitário, cristológico, pneumatológico e eclesial; em relação à devoção mariana deverá seguir quatro orientações: “bíblica, litúrgica, ecumênica e antropológica, para tornar mais vivo e mais inteligível o vínculo que nos une a mãe de Cristo e mãe nossa na comunhão dos santos” (MC 29).
O cunho bíblico em toda forma de culto é princípio e fato reconhecido pela piedade cristã e também pela piedade mariana. O conteúdo bíblico, portanto é referencial para alimentar o amor para com Maria e o culto que a ela se presta (MC 30).
Na característica antropológica, mostra que o mundo moderno requer uma nova imagem de Maria. Os cristãos devem fazer ver em Maria o modelo de pessoa humana, da mulher responsável e co-responsável, em conformidade com a realidade bíblica e levando em conta as exigências do fenômeno da libertação da mulher e do reconhecimento dos seus direitos na sociedade moderna (MC 35).
Na questão do ecumenismo a Marialis Cultos orienta que se mantenham os sentimentos de unidade de todos os cristãos pois: “[...] todos aqueles que confessam abertamente que o filho de Maria é o Filho de Deus e Senhor nosso, Salvador e único Mediador (cf. 11Tm 2,5), são chamados a serem uma só coisa entre si, com Ele e com o Pai, na unidade do espírito Santo” (MC 32).
O lugar de Maria na liturgia se insere na celebração da obra salvífica do Pai: o Mistério de Cristo. Neste mistério inseriu-se a memória de Maria como Mãe de Cristo, celebrando-se de forma explícita a íntima ligação que a Mãe tem com o Filho de Deus (MC 3-4). Na celebração dos eventos dos mistérios da salvação, Maria aparece associada ao Filho em primeiro lugar na Celebração Eucarística, quando se invoca a memória da “sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor Jesus Cristo” (Oração Eucarística I) e as memórias incorporadas pela liturgia da Igreja e aquelas que nascem da experiência de fé das comunidades cristãs. Da tradição perene e viva da fé da Igreja colhem-se as mais significativas expressões da piedade e devoção marianas (MC 9-15).
Referências Bibliográficas
ALVAREZ, Carlos G. Maria Discípula e Mensageira do Evangelho. São Paulo: Paulus, 2005. (Coleção do Celam)
BETTENCOURT, Estevão Tavares. Escola “Mater Ecclesiae”: curso de iniciação teológica por correspondência. – Rio de Janeiro
DENZIGER, Hünermann. Compêndio dos Símbolos, definições e declarações de fé e moral. São Paulo: Paulinas/Loyola,2007
FORTE, Bruno. Maria, a mulher ícone do Mistério. São Paulo, Paulinas, 1985
FURLANI, Maria Aparecida. Apostila de Mariologia”: “ad usum studentium”.- Várzea Grande, MT,2006
Lumen Gentium. In: Documentos do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997
PAULO VI, Papa. Marialis Cultus. In Documentos de Paulo VI. São Paulo: Paulus, 1997.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
10.08.2014
19º DOMINGO DO TEMPO COMUM — ANO A
( VERDE, GLÓRIA, CREIO – III SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Coragem, sou eu. Não tenhais medo." __
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: O medo é saudável, desde que seja “medo equilibrado”. O medo, quando exagerado, acovarda. Mas viver sem medo é colocar a vida em risco. Todavia, o “medo equilibrado”, não acovarda e nem põe em risco a vida humana, podendo ser denominado como prudência. O medo, ademais, tem a capacidade de tirar a paz interior e, consequentemente, introduzir a insegurança na vida pessoal. A pessoa medrosa é uma pessoa insegura. O medo provoca a ansiedade e a ansiedade faz com que o medo cresça. Quando essa combinação vive no interior de alguém, então comportamentos estranhos começam a surgir na pessoa. Um ditato popular diz: “o medo faz ver coisas”, como aconteceu com os discípulos ao confundir Jesus com um fantasma. O medroso cria fantasmas dentro de si e os projeta porque vive ou convive com uma segurança fragilizada e em permanente ameaça. No entanto, para todo tipo de medo, interiores ou exteriores, Jesus tem uma palavra confortadora: “Coragem, sou eu. Não tenhais medo”. Hoje, comemoramos o dia dos pais e, abrimos a Semana Nacional da Família, com o tema: “A espiritualidade cristã na família: uma casamento que dá certo”. Que nossos pais e nossas famílias apoiem-se sempre mais na misericórdia e no amor de Deus em todas as horas. (Semana de oração pela vida em família com atenção especial aos pais.).
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Neste domingo refletimos sobre a vocação para a vida em família. Como membros da grande família de Deus, não nos afastemos de Cristo, que nos conserva em serenidade nos momentos de turbulência, quando a família pode ficar desorientada ou dividida.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Deus vem ao encontro do homem especialmente nos momentos de necessidade, quando ele o invoca com fé. O Deus dos profetas e de Jesus é aquele que toma a defesa dos pobres e dos fracos, e decepciona as esperanças dos que querem se servir de seu poder. Ele não está nos fenômenos naturais grandiosos e violentos: vento, terremoto, fogo; mas no sopro leve da brisa, como que significando a espiritualidade e a intimidade das manifestações de Deus ao homem.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, cantemos cânticos jubilosos ao Senhor!
PRIMEIRA LEITURA (1Rs 19,9a.11-13a): - "Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor, porque o Senhor vai passar."
SALMO RESPONSORIAL 84(85): - "Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade e a vossa salvação nos concedei!."
SEGUNDA LEITURA (Rm 9,1-5): - "Cristo, o qual está acima de todos, Deus bendito para sempre!"
EVANGELHO (Mt 14,22-33): - "Homem fraco na fé, por que duvidaste?"
Homilia do Diácono José da Cruz – 19º Domingo do Tempo Comum – Ano A
"Fé e Ação tem que estar em sintonia, senão..."
O apóstolo São Pedro sempre falava em nome do grupo, às vezes dava testemunhos belíssimos, outras vezes enfiava os pés pelas mãos. Nesse evangelho, mais uma vez Pedro é censurado por Jesus, pela sua pouca Fé.
Lembrei-me da minha infância, quando certa vez brincávamos de circo e eu cismei de equilibrar-me em uma corda grossa, atravessando de uma árvore a outra, claro que levei um tombaço e passei alguns dias com dor intensa em uma das pernas, mas por causa do medo, preferi nada dizer a meus pais.
Mas alguém da nossa turma tinha essa habilidade, e depois ele nos disse que aprendera com um artista de circo de verdade, “O Segredo é você olhar à frente e não para baixo onde está o perigo”. Pedro não se equilibrava sobre uma corda, mas andava sobre as águas, o que é humanamente impossível...
Enquanto Pedro olhava á frente, onde estava Jesus, caminhava, mas quando prestou mais atenção na ventania, daí começou a afundar. Eu acho que Pedro, sendo pescador, sabia nadar, mas o pavor era tanto que estava paralisado e não conseguia reagir.
Na vida em comunidade é exatamente assim: quando caminhamos olhando o Ressuscitado que vai á nossa frente, orientando-nos e incentivando “Vamos, caminha, não desanime, você vai conseguir, eu estou com você...” caminhamos porque cremos Nele, caminhamos porque Ele está á nossa frente, ensinando a rota, apontando-nos a meta, corrigindo-nos quando saímos fora do percurso, vejam bem que os ventos contrários não param de soprar, as Forças do Mal nunca deixarão de investir sobre a comunidade, mas com os olhos fixos em Jesus a gente vai caminhando.
Quando porém, por alguma razão desviamos nossa atenção de Jesus e perdemos o foco do nosso cristianismo, imediatamente sentimos a força do mal tentando nos destruir e virar o barco da nossa comunidade.
Isso ocorre quando achamos que certas situações que enfrentamos hoje, não têm mais jeito de se mudar, tem gente que não acredita que a Família tem jeito, tem gente achando que a juventude não têm mais jeito, tem gente achando que nem a Igreja tem mais jeito, e assim vai a esteira de pessimismo e lamentação: Vida conjugal, casamento, política, economia, está tudo irremediavelmente perdido, o Domínio da Força do Mal é uma triste realidade, não vamos conseguir reverter esse “jogo”, mas vamos continuar combatendo, só para cumprir tabela, mas o mundo não tem mais jeito não... Nossos vícios e fraquezas, aqueles pecados que vira e mexe cometemos, achamos que é mais forte que nós!
Quando esse pensamento nos domina, então começamos afundar, como Pedro, e quando achamos que a Vaca já vai indo realmente para o Brejo, clamamos por Jesus, sua mão forte, generosa, cheia de ternura, nos segura firmemente e nos arranca das Forças do Mal, quando damos por nós, estamos novamente a caminho, buscando a Santidade, lutando prá valer, combatendo o bom combate. Onde arranjamos força? No Cristo Jesus, na Eucaristia que nos abastece, na Palavra que nos liberta e nos encoraja.
Comunidade é o lugar do desafio, mas também é o lugar onde, na travessia dessa Vida, temos o Senhor junto a nós, e de joelhos dobrados o adoramos, Ele é o nosso Senhor, nosso Deus, aquele que nos conduzirá ao Porto Seguro da Vida Eterna, e os ventos contrários terão de se dobrar diante Dele... Afinal, o Mal não tem nenhuma chance contra a Igreja de Cristo, e se alguém estiver em dúvida, devemos lembrar que a Igreja de Cristo, Una, Santa Católica, já está no Terceiro Milênio de sua História. Cadê os Reinos e Impérios que investiram contra ela? Não vejo ninguém...
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 19º Domingo do Tempo Comum – Ano A
“Silêncio eloquente”
Esforço, suor, dor nas pernas, sol quente, cansaço. São palavras que expressam o final de um caminhar que chega ao cume de uma alta montanha e que tem como resultado o sabor da vitória e da alegria. Lembro-me daquele rapaz cheio de energia, mas pouco animado a escalar: a marcha custava-lhe muito e o desejo de que chegasse logo ao fim daquilo que ele julgava um grande sacrifício era colossal. Finalmente, passadas as cinco horas previstas, tudo era alegria e o nosso jovem tinha uma expressão de vitória no rosto. Maravilhado com a vista que a natureza lhe proporcionava, brotava de todo o seu ser um estremecimento cheio de agradecimento. Tudo era grandeza ao seu redor e ele sentiu-se realmente localizado na criação: era um ser quase insignificante, mas era o único capaz de apreciar e explicar algo daquilo que ele admirava.
Há muita poesia acerca das montanhas. Lembrava-me disso porque o Evangelho de hoje narra que Jesus “subiu à montanha para orar na solidão” (cfr. Mt 14,23). Ele ficou rezando lá naquela montanha até à quarta vigília, ou seja, até às três horas da madrugada, aproximadamente. Que medo! Ficar sozinho numa montanha até a essas altas horas deve ser terrível: o silêncio acompanhado de pequenas interrupções dos habitantes naturais daquele espaço, a escuridão iluminada apenas pela tênue luz duma noite pouco estrelada, a solidão que parece fazer-se acompanhada pela sensação de que a qualquer momento alguém poderia aparecer e fazer-nos dano. Enfim, a noite é misteriosa, mas numa montanha ela pode ser verdadeiramente pavorosa.
Além do mais, Jesus ficou rezando durante umas oito horas porque – diz o Evangelho – Jesus começou a rezar quando chegou a noite e ficou rezando até às três. Muita oração! Quando procuramos estar atentos à grande atividade de Jesus durante o dia junto aos sedentos da Palavra de Deus, junto aos enfermos e aos atormentados por maus espíritos, junto aos fariseus e junto às pessoas de má vida, ficamos admirados de que ele ainda tenha forças para estar durante tantas horas acordado em oração vigilante ao seu Pai do céu. Dá vontade de ficar detrás de uma daquelas grandes árvores e espiar a oração de Jesus com grande curiosidade. Certamente, ao estar lá ou no caso de que pudéssemos obter alguma resposta a respeito daqueles acontecimentos misteriosos, não duvidaríamos em perguntar até mesmo àquelas montanhas e árvores que testemunharam aqueles momentos intensos de diálogo entre o Pai, Jesus e o Espírito Santo.
Jesus não temia o silêncio nas montanhas porque a ausência de palavras daquela noite estava preenchida pelo diálogo com quem ele tanto amava: o seu Pai. Curiosamente, até para rezar se promove o ruído hoje em dia. Quando se faz um momento de silêncio parece ser um convite quase imediato a tocar uma música ou a ler alguma coisa ou… sei lá. Teme-se o silêncio! Por quê? Talvez porque os nossos silêncios sejam meros silêncios, quiçá porque estejamos sem a palavra interior que nos faz dialogar com o Pai ou quem sabe por que nem descobrimos que o silêncio existe para que falemos. Contradição?! Não. Existe um verbo interior e um verbo exterior. Antes que falemos (verbo exterior, palavra exterior) já tínhamos essas noções na nossa mente (como palavras interiores). Quando falamos sem consideração é exatamente por isso: porque não consideramos de verdade a nossa palavra interior. Então é quando saem as abobrinhas, as bobagens e a estultícia.
O silêncio é para que aprofundemos na palavra interior que levamos, para que falemos com Deus sobre essas coisas que estão no nosso coração, para que resolvamos as nossas dificuldades à luz da Palavra que sempre existiu no coração do Pai, o seu Filho que se fez carne.
A experiência da “solidão” acompanhada por Jesus é maravilhosa. As pessoas que cultivam uma autêntica vida interior sentem uma necessidade imperiosa de momentos de silêncio, de consideração e, em definitiva, de oração, que bem pode ser definida como um “falar com Deus”. E por que Jesus rezava tanto e durante tantas horas? Ora, simplesmente por que ele ama o Pai e gosta de estar muitas horas com a Pessoa amada. Não é esta uma luz para que descubramos o porquê do tédio que às vezes experimentamos na oração, o porquê da pressa para terminar a nossa meditação da Palavra de Deus, o porquê de tantas orações vocais sem a consideração do que estamos dizendo a Deus, o porquê rezamos pouco? Será que amamos de verdade o nosso Pai do céu? Esses momentos de oração durante o dia, constantes ainda que poucos, nos ajudarão a ser “contemplativos no meio do mundo”, isto é, no nosso trabalho, na nossa família, nas relações sociais do dia a dia.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Publicação Especial - Doutrina
(Extraído do site Presbíteros)
O mistério dos anjos: quem são eles?
Pe. Françoá Costa
Ao colocar a palavra “anjos” num buscador de internet, é incrível a quantidade de informação que aparece, muitas contaminadas por doutrinas esotéricas. No entanto, é ainda mais curioso quando se busca imagens de anjos: seres fofinhos, bebezinhos; por vezes, afeminados, com bochechinhas vermelhas, asinhas simpáticas etc. Muitos artigos sobre os anjos estão, sem dúvida, contaminadas por doutrinas esotéricas. Inclusive, é possível encontrar um anjo específico para cada dia da semana, entre outras coisas absurdas. No entanto, é preciso dizer que também se encontra muita coisa boa.
Os anjos não são reencarnações, não são homens ou mulheres com asas, não são lugares nos quais se sente a presença de Deus, não são gnomos nem duendes, não são uma espécie de energia, nem tampouco uma fumaça branca. Um dos artigos bons que encontrei em internet foi o de P. B. Celestino que, em relação a isso, dizia: “a humanidade no seu conjunto parece obedecer a uma espécie de “lei do bêbado”: depois de uma queda para a direita, procura compensá-la inclinando-se para a esquerda, e acaba caindo nessa direção. Assim, às épocas de racionalismo exacerbado e míope, seguem-se outras em que proliferam as mais tresloucadas fantasias e crendices, e a doutrina sobre os anjos é das que mais facilmente se prestam a essas deformações. O nosso tempo inclui-se entre as segundas, a julgar pelo número de “caricaturas” deformadas desses seres não-humanos ― sob a forma de duendes, gnomos, espíritos “desencarnados”, deidades e extraterrestres ― que se misturam inextricavelmente nas estantes das livrarias e lojas de bibelôs, bem como nas cabeças de alguns…”
O calendário litúrgico da Igreja Católica celebra duas festas angélicas, no dia 29 de setembro, a festa dos três arcanjos – S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael – e, no dia 2 de outubro, os anjos da guarda. Quem são eles?
Talvez o Concílio da Igreja que mais se dedicou a explicar a doutrina sobre os anjos foi o Concilio de Latrão IV, no ano 1215. Nele se afirmou, num contexto de profissão da fé, que os anjos foram criados por Deus desde o inicio do tempo, também os demônios. No caso dos demônios, o Concilio nos diz que foram anjos criados bons, mas que depois se fizeram maus. Logicamente, houve pronunciamentos magisteriais sobre os anjos antes dessa data, por exemplo, o Papa Zacarias, no ano 745, rejeitou os vários nomes dos anjos, ficando somente com os de Miguel, Gabriel e Rafael porque a Sagrada Escritura só fala desses três. O Concilio de Aix-la-Chapelle, no ano 789, fez a mesma coisa.
O que nos diz a Bíblia sobre os anjos? Bastante. Os dicionários bíblicos dedicam a esse tema varias páginas. Em resumo: anjo vem da palavra grega angelos, que serviu para traduzir a palavra hebraica mal’ak, que – de maneira geral – significa “mensageiro”. Eles são filhos de Deus (Jó 1,6; 2,1), são protetores dos homens (Sl 90,11), moram nos céus (Mt 28,2), são de natureza espiritual (1 Re 22,19-21; Dn 3,86; Hb 1,14). Há anjos bons e anjos maus (Zc 3,1). Existem serafins (Is 6), querubins (Gn 3,24; Ex 25,22; Ez 10,1-20), tronos, dominações, potestades e principados (Cl 1,16), virtudes (Ef 1,21), arcanjos (1 Ts 4,15-16; Judas 9), anjos que cuidam dos indivíduos (Tb 5; Sl 90,11; Dn 3,49s; Mt 18,10). Nos Evangelhos também se lê que eles contemplam o rosto de Deus (Mt 22,30; 18,10) e se alegram pela conversão daqueles que estavam afastados de Deus (Lc 15,10), dizem ainda que eles levaram o corpo de Lázaro ao seio de Abraão (Lc 16,22).
Como se pode ver, as afirmações do Magistério da Igreja estão solidamente apoiadas pela Tradição Escriturística. Com relação aos três arcanjos, acontece a mesma coisa. Gabriel que significa “Deus é força” aparece em Dn 8,16; 9,21; Lc 1,19.26; Miguel que significa “Quem como Deus?” aparece em Dn 10,13.22; 12,1; Jud 9; Ap 12,7; São Miguel é o padroeiro de toda a Igreja; Rafael – “Deus cura” – aparece em Tb 3,25. A distinção mais divulgada de uma hierarquia entre os anjos aparece no livro De coelesti hierarquia – Sobre a hierarquia celeste – atribuído a Dionísio, o Areopagita, entre os séculos IV e V. Nessa obra, os anjos são distribuídos em três ordens, cada ordem formado por três coros, num total de nove coros angélicos: serafins, querubins e tronos fazem parte da primeira hierarquia; dominações, virtudes e potestades, formam a segunda hierarquia dos anjos; os principados, os arcanjos e os anjos estariam na terceira. Todos esses anjos têm – como resume o teólogo francês J. Daniélou – duas funções: louvar a Trindade Santíssima e guardar e defender tudo o que é de Deus.
O Catecismo da Igreja Católica diz que os anjos são criaturas pessoais, ou seja, dotadas de inteligência e vontade; são, ademais, imortais por serem puramente espirituais e superam em perfeição as criaturas visíveis (Cat. 330).
A perfeição dos anjos não permite, no entanto, que eles penetrem nas nossas consciências; temos que manifestar-lhes as nossas necessidades, mas basta falar com eles mentalmente e eles nos entenderão. O fato dos anjos serem pessoas (angélicas) nos faz ver que são capazes de relações de amizade e de fraternidade com as pessoas humanas. Os santos anjos são nossos amigos. Como seria bom se cultivássemos essa amizade frequentemente, conversando com eles, pedindo a sua proteção e agradecendo os seus favores. Nessas angélicas relações amistosas, o nosso anjo da guarda ocupa o primeiro posto, é o anjo que mais deveria ser tratado por nós.
A devoção aos anjos não contradiz a centralidade de Cristo, único Senhor.
Todos os anjos estão ao serviço de Jesus Cristo e é uma honra para eles servir a Cristo e a todos os seres humanos por amor ao Deus Uno e Trino. O Catecismo da Igreja destaca esse serviço humilde e eficaz a Cristo e a toda a Igreja (Cat. 333-335). Os santos foram muito devotos dos anjos. São Josemaría Escrivá, por exemplo, deixava que o seu anjo da guarda contasse o número de orações e mortificações que ele ia fazendo, tinha-o presente nos trabalhos apostólicos que realizava, chamava-o “Relojoeirinho” (porque era muito pontual em despertar-lhe e até consertou-lhe um relógio numa ocasião), dedicava as terças-feiras a tratá-lo mais intensamente, rezava ao anjo da guarda de alguém com quem tinha que conversar ou escrever-lhe uma carta; viu o Opus Dei no dia 2 de outubro de 1928, festa dos anjos da guarda; confiou os diversos trabalhos dessa nova fundação a cada um dos arcanjos. “Caminho”, esse clássico-moderno de espiritualidade, dedica nove pontos seguidos à devoção aos anjos. Como São Josemaría, poderíamos elencar vários outros santos cuja devoção aos anjos nos anima a ser mais amigos desses celestes espíritos.
Os anjos estão presentes na liturgia da Igreja, máxime quando a Santa Missa é celebrada. Os textos litúrgicos fazem referências a esses celestes adoradores de Deus. O “Glória a Deus nas alturas” foi uma oração entoada por eles (cfr Lc 2,13-14). As orações eucarísticas, na sua primeira parte, os prefácios, terminam “com os anjos e os arcanjos e com todos os coros celestiais” cantando o hino da glória de Deus que é o “Santo, Santo, Santo”, hino dos serafins (cfr. Is 6). Na oração eucarística I ou Cânon Romano, a oferenda é levada ao Deus todo-poderoso “per manus sancti angeli”, ou seja, pelas mãos do santo anjo. São Beda dizia que “da mesma maneira que vemos como os anjos rodeavam o corpo do Senhor no sepulcro, devemos crer que estão fazendo a corte a Jesus na consagração”.
Enfim, toda a vida do novo Povo de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, recebe a proteção dos anjos. São Miguel Arcanjo é padroeiro de toda a Igreja. Nós, membros da Igreja, podemos intensificar nos próximos dias a nossa devoção a esses celestiais guardiões da nossa fé, esperança e caridade, do nosso trabalho pela causa de Deus e do nosso caminho rumo ao céu. Sejamos gratos aos nossos anjos da guarda e, sobretudo, agradeçamos ao Senhor por esses angélicos companheiros.
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Referência bibligráfica: A. VACANT, “Ange”, in F. VIGOUROUX (ed.), Dictionaire biblique, I,1 A, Paris : Letouzei et Ané, 1895, 576-590. A. V. de PRADA, O Fundador do Opus Dei (3 volumes), São Paulo: Quadrante, 2004. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 325-336. F. F. CARVAJAL, Antología de textos para hacer oración y para la predicación, Madrid: Palabra, 1983, 85-95. J. DANIÉLOU, O mistério do Advento, RJ: Agir, 1958. P. B. CELESTINO, Os anjos, São Paulo: Quadrante. O artigo de P. B. CELESTINO, “Os anjos e o nosso anjo” se encontra em http://www.quadrante.com.br/ sessão “artigos >> doutrina e teologia” (visitada no dia 26/09/2010). P.-M. GALOPIN, “Ángel”, in P.-M. BOGAGERT e outros (responsáveis), Diccionario Enciclopédico de la Biblica, BARCELONA: HERDER, 1993, 73-76.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
CAMPANHA DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA
CLIQUE AQUI, acenda uma vela virtual, faça seu pedido e agradecimento a Nossa Senhora Aparecida pela sagrada intercessão em nossas vidas!
QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus! Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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