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NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO. Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Iniciamos, irmãos e irmãs, o mês de outubro, dedicado a refletir sobre a importância da missionariedade na vida da Igreja. Por natureza, a Igreja é missionária. Ouviremos, no Evangelho, Jesus se apresentando como “pedra angular”, ou seja, pedra fundamental, onde se constrói a comunidade. Somos uma comunidade cristã, porque construímos nossa vida, nossa existência sobre Jesus Cristo. Ele é o primeiro missionário, enviado pelo Pai ao mundo, para aqui plantar um novo modo de ser e viver. Como comunidade, e comunidade alicerçada em Jesus Cristo, também somos seus discípulos missionários. E, como nos dirá São Paulo, o discípulo missionário é aquele que se ocupa com o que é verdadeiro, respeitável, puro, amável, honroso. Em suma: com aquilo que merece louvor. INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: A liturgia utiliza a imagem da vinha para falar do amor de Deus e da missão de seu povo, que é convidado a corresponder com bons frutos. Hoje iniciamos o Mês das Missões, e o tema da Campanha Missionária deste ano é: “Missão para libertar”. Voltamos a refletir sobre o tráfico humano. Deus nos criou com a mesma dignidade e nos conduz para a liberdade. INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A alegoria da vinha inaugura o tema das núpcias de Javé com Israel, tema que voltará frequentemente na literatura bíblica. Às vezes, Israel é designado como vinha, outras vezes, como a esposa acariciada e depois repudiada. Nesse cântico de Iasaías, as duas linhas se misturam perfeitamente, através de uma como que superposição de imagens. A intervenção do profeta lembra o papel do amigo do esposo. A figura da vinha, como aliás a da esposa, se tornam como que um exemplo da história da salvação, do modo de agir de Deus perante seu povo e o mundo inteiro. O amor de Deus pelos homens se revela de modo dramático, mas por fim é sempre o amor que triunfa sobre a recusa e a infidelidade do homem. Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, entoemos cânticos jubilosos ao Senhor! (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) PRIMEIRA LEITURA (Is 5,1-7): - "...eu esperava deles frutos de justiça – e eis injustiça; esperava obras de bondade – e eis iniqüidade." SALMO RESPONSORIAL 79(80): - "A vinha do Senhor é a casa de Israel." SEGUNDA LEITURA (Fl 4,6-9): - "Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças." EVANGELHO (Mt 21,33-43): - "A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos." Homilia do Diácono José da Cruz – 27º Domingo do Tempo Comum – Ano A "OS FRUTOS DA VINHA" Recorro a lembranças da minha adolescência ao iniciar esta reflexão, tínhamos no fundo do quintal um belo caramanchão de maracujá que meu pai zelava com carinho, lembro que as flores muito bonitas e perfumosas, pareciam os cravos com que Jesus foi crucificado. Na época dos frutos nos deliciávamos com o suco que era uma gostosura e isso sem contar com a sombra fresca em dia de muito calor, onde tínhamos um velho banco de madeira sendo o local preferido para um descanso ou uma leitura. Lendo esse evangelho e lembrando-se do meu pai, nas manhãs de verão, cavocando, podando, fazendo limpeza nas folhas do maracujeiro, reflito que é isso que Deus espera de cada um a quem, através do seu Filho, confiou a missão de cuidar do seu reino no meio dos homens. A liderança religiosa daquele tempo se esquivava dessa missão, e ainda aproveitava-se dela, para levar vantagem, isso é como se tivéssemos no quintal um maracujeiro, que nos desse flores, folhas, sombra e frutos, sem que lhe déssemos qualquer atenção. Benefício sem dar nada em troca chama-se exploração. É um pouco isso que acontece nos chamados crimes ambientais, onde o homem explora a natureza, tira dela todo lucro possível, e nada faz para restaurar a perda, daquilo que consumiu. Jesus confiou à igreja a missão de anunciar, e ser expressão do Reino de Deus, ele a arrendou, para que todos os batizados tomassem conta dela, cuidassem com carinho e produzisse os frutos que o mundo precisa. A comunidade é essa vinha, como igreja ela é sinal e expressão do reino de Deus, a parábola fala que os vinhateiros homicidas, não só negaram dar os frutos aos enviados pelo proprietário, como também foram violentos para com eles, e quando acolheram acolherem o Filho, o fizeram com a intenção de matá-lo para se apossar da sua herança. “Em nossas comunidades cristãs, não espancamos ninguém, e muito menos matamos quem quer que seja” devem estar pensando os leitores, míngüem na comunidade quer apossar-se de algo que pertence a outro. Será que não? Mas dá para se pensar que, matar alguém, nem sempre significa por um fim a sua vida biológica, podemos matar de muitas formas, desprezo, indiferença, preconceito, divisões, intrigas, calúnias, falta de paciência, compreensão, moralismo exagerado com os que erram. Deus confiou-nos a Igreja para que, como aquele maracujeiro do fundo do meu quintal, ela produza frutos doces, dê sombra, acolhendo e abrigando as pessoas, exale o perfume do amor verdadeiro, da retidão e da justiça, para que a comunidade seja um Oasis no meio desse imenso deserto quente e íngreme, que às vezes é a vida das pessoas, por conta de tantos fatores sociais, econômicos e familiares. Nesse sentido, olhando por esse ângulo, a palavra de Deus nos questiona se em nossas comunidades as pessoas saem saciadas e felizes. Será que, pertencer a comunidade ou ir a nossas celebrações, é para as pessoas motivo de alegria e prazer? E trazendo a reflexão em nível pessoal, será que nós próprios somos uma videira viçosa, onde as pessoas encontram abrigo e refúgio? Nossos frutos são saborosos, as pessoas comentam sobre a doçura deles, ou trazem um azedume que gera maledicência e até reclamação? Matar o Filho do Dono da vinha, é não anunciá-lo, não testemunhá-lo, esquecer seus ensinamentos e colocar em nossa vida outros valores e tendências ditadas pelo egoísmo. Na sexta feira santa da paixão, uma grande multidão sempre lota as igrejas e acompanha o Cristo morto, a gente se pergunta por que, e nesse evangelho encontramos a resposta, as vezes somos também meio homicidas e anunciamos um Cristo morto, em nome da modernidade, da ciência, da tecnologia, um Cristo morto pelo relativismo, em lugar de ser simples arrendatários muitas vezes nos achamos donos da vinha que é a igreja, é como se o cristianismo fosse apenas uma filosofia de vida, um pensamento e uma ideologia muito bonita, mas que logo é sufocada pelas ideologias que o mundo nos propõe. O proprietário enviou servos para buscarem os frutos que lhe pertencem, enviou seu próprio Filho que veio para ser acolhido e nos ensinar como produzir os frutos. Estamos em um aprendizado constante com a sua palavra e a eucaristia, temos aulas práticas e o manual de como cuidar da Vinha, que é a Palavra de Deus. Esforcemo-nos para corresponder, e não deixemos que as pragas do pecado destruam ou torne inexpressiva a Vinha do Senhor, pois disso, nós todos, enquanto povo de Deus, iremos um dia prestar contas ao proprietário, que nos confiou sua vinha, seu reino, plantado por Jesus no meio dos homens. José da Cruz é Diácono da Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 27º Domingo do Tempo Comum – Ano A “Agraciados e desgraçados”A palavra “agraciado” soa bem aos nossos ouvidos, não posso afirmar a mesma coisa do seu antônimo. Mas não se erra ao afirmar-se que des-graçado significa sem-graça. Os lavradores da parábola que nós escutamos eram agraciados: eram dignos da estima do seu senhor que lhes confiara a sua vinha. Mas caíram na desgraça: perderam a vinha e morreram por causa da própria ambição. Grande contradição a da vida daqueles homens: querendo a herança, perderam a vida, perderam até mesmo a possibilidade de ambicionar a herança. Aqueles lavradores tinham uma ambição desleal. Eles eram invejosos. Não estou falando mal deles, simplesmente tento glosar o que eles mesmos disseram: “eis o herdeiro! Matemo-lo e teremos a sua herança” (Mt 21,38). É fato que os lavradores não suspeitavam duma coisa: o filho queria fazer deles participantes da sua herança. Mas, pobres coitados! Os lavradores, que poderiam ser uns ricos herdeiros por graça do seu senhor, acabariam sendo homicidas e exterminados sem piedade. Eram uns homens miseráveis porque eram egoístas e invejosos. Temos que ter cuidado: poderíamos ser uns desgraçados, inclusive ambicionando coisas boas. Mais ainda, provavelmente, se tivessem ficado com a herança teriam se matado entre eles, cada um defendendo os próprios “direitos”. Como a estória daqueles três “amigos” que eram assaltantes. Conta-se que na hora de dividir o produto do roubo resolveram “comemorar”. Sendo assim, um deles foi comprar uma garrafa de whisky para fazer a festa. Este, muito esperto, resolve ficar com tudo só para ele e coloca veneno na garrafa para que os outros morram. Enquanto isso os outros dois “amigos” planejam o seguinte: ficar com tudo para eles. Quando chega o que fora comprar o whisky, os outros dois o matam e, para comemorar tomam o whisky… Péssimo resultado! Morreram todos! É fato: quem não sabe partilhar não serve para ter. A parábola que o Senhor Jesus nos contou no dia de hoje é um resumo de toda a história da salvação com os seus progressos e os seus regressos. Da parte de Deus, ele sempre a fez progredir. No que diz respeito ao ser humano, havia progresso quando ele correspondia à vontade de Deus; regresso, quando as pessoas se rebelavam contra o querer de Deus. Finalmente, “Deus enviou o seu próprio Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei, a fim de remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a sua adoção” (Gl 4,4-5). Desta maneira, o homem pôde corresponder perfeitamente à vontade do Pai. Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, viveu intensamente a vontade do seu Pai do céu. “Hão de respeitar o meu filho” (Mt 21,37). Mas não! Mas será que hoje em dia se respeita o Filho de Deus que morreu e ressuscitou pela nossa salvação? A ingratidão é uma coisa penosa, machuca o coração e fere os sentimentos mais profundos. Às vezes, a ingratidão é mais dolorosa que um ato de violência física. O Coração do nosso Pai do céu é alvo de constantes ingratidões. Deus nos oferece a felicidade e nós pensamos que as suas exigências santas são como uma espécie de moral de escravos ou de infelizes. Deus oferece o que é bom, o que constrói o ser humano, mas nós continuamos com a “cabeça dura” e o “nariz empinado” querendo construir a própria felicidade à margem de Deus. Dá a impressão que às vezes o homem quer colocar-se no lugar de Deus. O certo é que há várias tentativas de construir um espaço sem Deus, sem religião, sem valores; enfim, um mundo que se encaminharia à destruição por mãos do próprio homem. A pessoa humana é um ser maravilhoso, mas pode transformar-se num pobre desgraçado. Não estou sendo pessimista se afirmo que se a vinha não está nas mãos de Deus, as uvas apodrecerão os dentes de quem as comer. Isto é, qualquer felicidade que deixa a Deus de fora é uma fantasia. Como poderia ser verdadeiramente feliz alguém que renuncia a algo que lhe é tão próprio como a dimensão religiosa da vida? Como pode alcançar a felicidade alguém que era escravo, foi libertado, mas não quer viver segundo aquilo que é tão próprio do seu ser: a liberdade? Como pode ser feliz alguém que opta por desprezar aquele que quer fazê-lo feliz dando-lhe a herança dos filhos? Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa Comentário Exegético — 27º Domingo do Tempo Comum – ANO A EPÍSTOLA (Fl 4, 6-9) (Pe. Ignácio, dos padres escolápios) SEM ANSIEDADE: Nada vos perturbe, mas em toda oração e petição com ação de graças, vossos pedidos sejam conhecidos por Deus (6). Nihil solliciti sitis sed in omni oratione et obsecratione cum gratiarum actione petitiones vestrae innotescant apud Deum. Paulo escreve da prisão e, não obstante, a recomendação de alegria é própria desta carta. Por isso, termina a primeira parte pedindo: resta, irmãos meus, que vos regozijeis no Senhor (3, 1). A alegria cristã nasce de fontes mais profundas que as alegrias das categorias humanas. É um elemento, esta alegria, integrante da vida de um cristão, pois está formando parte das petições -fazendo sempre com alegria oração por vós em todas as minhas súplicas- e na iminência da morte Paulo tem uma palavra alegre: folgo e me regozijo com todos vós. São os amados e queridos, que constituem, como ele diz, minha alegria e coroa. Nesta carta, Paulo se preocupa de que todos vivam unidos; e para isso recomenda tanto as virtudes cristãs, com o exemplo da humildade de Cristo, como as virtudes humanas que enumera no versículo 8 deste trecho: verdade, honestidade, justiça, pureza. O cristão deve ser perfeito, de modo que os próprios pagãos estimem sua conduta como uma consequência de uma filosofia que nada tem a desejar da dos estóicos e cínicos do momento. Nada vos PERTURBE [merimnatelo<3309>=solliciti sitis] é o imperativo do verbo merimnö com o significado de ter ansiedade, estar preocupado, perturbado, como em Mt 6, 25: Por isso vos digo: Não andeis preocupados quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Entre as diversas recomendações, Paulo em primeiro lugar cita a oração, que não deve ser um pedido de bens materiais ou espirituais, mas antes uma ação de graças. ORAÇÃO [proseuchë <4335>=oratio] é a oração de petição como em Mt 17, 21: esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum. PETIÇÃO [deësis<1162>=obsecratio] com o significado de rogo, súplica, solicitação. O exemplo é Lc 1, 13: Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida. Em grego, temos a simples oração [proseuchë] como ato de devoção e de religiosidade, súplica [deësis] como expressão de uma necessidade pessoal, que pode ser dirigida até a um homem; e finalmente, intercessão [enteuxis] que indica uma conversação filial do homem com Deus, como um filho com seu pai. Sai duas vezes em 1Tm 2.1.: Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações [deëseis= obsecrationes], orações [proseuchas=orationes, intercessões [enteuxeis = postulatones], e ações de graças, por todos os homens. Na outra vez que enteuxis sai é em 1Tm 4,5 em que enteuxis está unida a palavra [logos] de Deus: Porque pela palavra de Deus e pela oração [enteusis] é santificada. PEDIDOS [aitëmata<156>=petitiones] em grego, uma demanda, uma solicitação, um pedido formal como em Lc 23, 24: Pilatos julgou que devia fazer o que eles demandavam. A PAZ: E a paz de Deus a que supera todo entendimento, guardará vossos corações e vossas mentes em Cristo Jesus (7). Et pax Dei quae exsuperat omnem sensum custodiat corda vestra et intellegentias vestras in Christo Iesu. A PAZ [eirënë<1515>=pax] de Deus é diferente da paz humana. É a bênção divina que traz descanso, esperança de salvação e felicidade a quem se encontra nos braços de Deus como filho amado. Tudo provém de que Cristo é o príncipe da paz e com ela se identifica, pois justificados pela fé, estamos em paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5, 1). GUARDARÁ [frourësei <5432> =custodiat] futuro de froreuö de significado proteger, guardar, conservar, reservar, manter, sustentar e, finalmente, preservar. Paulo usa este verbo em Gl 3, 23: Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. O CORAÇÃO, [kardia<2588>=cordum] segundo o pensar da época era o centro da vida espiritual, fonte dos pensamentos, paixões, desejos, apetites, afetos, propósitos e empenhos. É o Leb do AT. A MENTE [noëma <3540>=intelligentia] a inteligência ou o pensamento. Paulo usa o termo em 2 Cor 3, 14 falando dos judeus: Eles tinham o entendimento fechado. Ainda hoje, quando leem os livros da antiga aliança, esse mesmo véu continua por levantar, pois só com Cristo é que ele desaparece. Diante desta última frase, entendemos que Paulo ensina como pela oração podemos descobrir o verdadeiro sentido da presença de Cristo em nossas vidas. VALORES DESEJÁVEIS: Do resto, irmãos, quantas são verdade, quantas honestas, quantas justas, quantas puras, quantas agradáveis, quantas dignas de encômio, se algo virtuoso, se algo digno de louvor, essas coisas pensai (8). De cetero fratres quaecumque sunt vera quaecumque pudica quaecumque iusta quaecumque sancta quaecumque amabilia quaecumque bonae famae si qua virtus si qua laus haec cogitate. Uma vez firme a fé em Cristo Jesus, Paulo dirige sua doutrina aos valores humanos que devem adornar todo cristão, que por ser tal, não deixa de ser homem e viver entre os homens e como tal, dele se espera uma conduta irrepreensível. O que é VERDADEIRO [alethë<227>=vera] embora o grego use o plural neutro que o latim respeita, nas línguas vernáculas é melhor usar o singular. Assim diremos: tudo o que é verdadeiro. RESPEITÁVEL [semna <4586> =pudica] coisas dignas, honoráveis, dignas de respeito. JUSTO [dikaia<1342>iusta] também em plural, como coisas conformes à lei. SEM IMPUREZA [agna<53>=sancta] ou limpas e puras. AGRADÁVEL [prosfilë<4375>=amabilia] coisas agradáveis ou amáveis, DIGNO DE APLAUSO [eufëma<2163>=bonae famae] dignas de aprovação, de boa fama. Se existe alguma VIRTUDE [aretë<703>=virtus] no sentido bíblico, poder divino; no sentido humano, conduta excelente que chamamos hoje de virtude. Se alguma coisa é LOUVÁVEL [epainos<1868>=laus] plausível, reconhecível como digna de aplauso. PENSAI [logisesthe<3049>=cogitate] imperativo do verbo logizomai, de significado considerar, avaliar, se propor, intentar, almejar. Paulo, no contato com o mundo, escolhe a verdade e o bem que claramente dominam a conduta da maioria dos homens. A TRADIÇÃO: As que também aprendestes e recebestes e ouvistes e vistes em mim, essas praticai e o Deus da paz estará convosco (9). Quae et didicistis et accepistis et audistis et vidistis in me haec agite et Deus pacis erit vobiscum. Paulo agora propõe como modelo de vida os seus ensinamentos –aprendestes, recebestes e ouvistes – e a sua conduta pessoal – vistes. APRENDESTES [emathete<3129>=didicistis] do verbo manthanö com o significado de aprender. RECEBESTES [parelabete<3880>=accepistis] é o receber da tradição, transmitido oralmente, como indica pelo OUVISTES [ëkousate<194>=audistis] aoristo do verbo akouö, ouvir. Essas palavras indicam a força da tradição que a Igreja Católica sempre tem proposto como acompanhante da escrita bíblica que é interpretada essencialmente por essa tradição como fonte da exegese da Escritura. Finalmente Paulo apresenta sua vida como modelo, escrevendo VISTES [<eidete>=vidistes] EM MIM. Oxalá todo evangelizador pudesse apresentar sua vida como modelo a ser seguido pelos evangelizados! Não é a primeira vez que Paulo se propõe como modelo. Ver Fl 3, 17: Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam A consequência é que se isso é praticado, o Deus da paz estará com eles. DEUS DA PAZ [‘o Theos tës eirënës] é uma frase que Paulo usa como saudação final em suas cartas. Assim em Rm 15, 33 e 16, 20, 2 Cor 13, 11 e 1 Ts 5, 23. Em 1 Cor 14, 33 podemos ver uma explicação desta frase paulina: Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. Paulo estima a união dos fiéis como um fato extremamente importante, como Jesus pedia ao Pai: E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para Ti. Pai santo guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós (Jo 17, 11). Seguindo, pois, os ensinamentos de Paulo e imitando sua conduta, haverá entre os filipenses união e paz, que Paulo deseja de todo o coração. EVANGELHO (Mc 12, 1-12; Lc 20, 9-19) INTRODUÇÃO: É a terceira parábola de Jesus dirigida contra os representantes da autoridade em Israel (Mt 20, 1-16 [dos trabalhadores da vinha]; 21, 28-32 [dos dois filhos] e 21, 33-43 [esta de hoje]). Na parábola de hoje, com alguns momentos de alegoria, podemos distinguir a razão pela qual foi retirado o Reino aos judeus. Encontramos nela, Jesus como a pedra angular do novo edifício, que será o próximo Reino. Também o particular conceito eclesiológico de Mateus, refletido no versículo 43: o Reino deve dar frutos como a vinha da parábola; do contrário, os dirigentes do mesmo serão reprovados. Daí o traspasso do Reino de Deus como nação escolhida, a um novo povo que, no caso, serão os gentios. A Nova Igreja não terá como fundador Moisés, mas Jesus, que é constituído pedra angular como remate do edifício. A parábola tem rasgos alegóricos e conecta com o canto da vinha da primeira leitura. Esta parábola dos vinhateiros homicidas constitui um compêndio da história da salvação desde a Aliança do Sinai até a pessoa de Cristo, o Filho assassinado pelos arrendatários homicidas fora da cidade. E a vinha que representava o antigo Israel, agora significa o novo Israel, a igreja como Reino de Deus. OUTRA PARÁBOLA: Escutai outra parábola. Certo homem era dono da casa, que plantou uma vinha e a rodeou com uma cerca e cavou nela um lagar e edificou uma torre e a arrendou a agricultores e ausentou-se (33). aliam parabolam audite homo erat pater familias qui plantavit vineam et sepem circumdedit ei et fodit in ea torcular et aedificavit turrem et locavit eam agricolis et peregre profectus est. OIKODESPOTËS Mateus fala de um homem que era OIKODESPOTËS, ou seja, dono da casa ou como traduz o latim pater famílias; a bíblia de Jerusalém traduz por proprietário. Marcos e Lucas, em lugares paralelos só falam de um certo homem. Nas vezes que esta palavra aparece sempre é para se referir a um chefe de família que tem bens e pode usar os serviços de servos ou empregados. Um verdadeiro proprietário duma casa e de bens que exigem o serviço de empregados. A VINHA: A palavra AMPELON é traduzida por vinha, mas hoje dificilmente entendemos o verdadeiro significado da palavra. Como vemos nos relatos de Marcos e Mateus, o trabalho não se reduzia a plantar, mas também era o de construir uma cerca ou muro, o lagar e a torre de vigilância. Parece que isto não era infrequente na época, pois a vinha era com os olivais, a base da economia de mercado na época. Em Isaías (5, 10), falando da infertilidade da terra por castigo divino, temos: dez jeiras [espaço de terra que uma junta de bois pode arar num dia] da vinha produzirão 45 litros de vinho [uma metreta]. E um coro [450 litros] de sementes só dá um efá [45]. As vinhas eram mais produtivas que os campos de cereais de trigo e cevada. A vinha era símbolo do povo de Israel, cuidado com esmero por Jahweh como vemos no salmo 80, 9: Arrancaste uma vinha do Egito e para transplantá-la expulsaste as nações. Isaías 3, 14, fala dos dirigentes de Israel como sendo não guardadores, mas devastadores da vinha: Vós sois os que consumistes esta vinha; o que roubastes do pobre está em vossa casa. Mas muito mais que essas anteriores citações é importante o início do capítulo V de Isaías, que diz: Vou cantar a meu amado o cântico do meu amigo para a sua vinha. O meu amado tinha uma vinha em uma encosta fértil. Ele cavou-a, removeu a pedra e plantou nela uma vinha de uvas vermelhas. No meio delas construiu uma torre e cavou um lagar. Com isso, esperava que ela produzisse uvas boas, mas só produziu uvas azedas. Agora, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, servi de juízes entre mim e minha vinha. Que me restava ainda fazer à minha vinha que eu não tenha feito? Por que quando eu esperava que ela desse uvas boas, deu apenas uvas azedas? Agora vos farei saber o que vou fazer de minha vinha! Arrancarei a sua cerca para que sirva de pasto. Derrubarei o seu muro para que seja pisada; reduzi-la-ei a um matagal: ela não será mais podada, nem cavada: espinheiros e ervas daninha crescerão no meio dela. Quanto às nuvens, ordenar-lhes-ei que não derramem a sua chuva sobre ela. Pois bem, a vinha de Jahweh dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a sua plantação preciosa. Deles esperava o direito, mas o que produziram foi a transgressão; esperava a justiça, mas o que apareceu foram gritos de desespero. (5,1-7). O FRUTO: Quando, pois, se aproximou o tempo dos frutos enviou seus escravos aos agricultores para receberem seus frutos (34). Cum autem tempus fructuum adpropinquasset misit servos suos ad agricolas ut acciperent fructus eius. Na vida real, o fruto era recolhido pelo proprietário em dinheiro, após a vindima. Temos o relato de um dono que enviou seu servo para recolher mil denários de uma vinha. A vinha tem como base as vides ou videiras, que são plantas lenhosas e, portanto, muito perduráveis de até 100 anos. Uma nova videira precisa de 3 a 4 anos para dar frutos. Por isso, segundo a lei (Lv 19, 23-25), os frutos dos três primeiros anos serão considerados como frutos de um incircunciso e os frutos do quarto ano serão entregues como primícias, como sagrados, numa festa de louvor a Jahweh. No inverno ela deve ser adubada e também no início da floração deve ser podada tirando sarmentos velhos para não carregar o tronco ou cepa com incrementos que produziriam galhos menos produtivos. Entre os brotos de primavera estão as gemas e filamentos que são apreciados pelo gado caprino e até pelos humanos, como comida esquisita. Os sarmentos são úteis, do ponto de vista de lenha, para um fogo sem fumo e com bastante intensidade calórica. Regiões existem onde esta maneira de fazer churrascos ou assar pimentões é tradicional em terras em que as vinhas constituem cultivos normais. As traduções vernáculas falam de servos [do latim servi], mas o grego douloi deve ser traduzido por escravos, como faz a literal de Green. A espanhola fala de criados. Mas, no tempo de Jesus, os criados das casas ricas eram escravos. Sendo os enviados escravos compreende-se melhor, embora seja injusta, a conduta dos arrendatários. OS ENVIOS: E os agricultores tendo tomado os escravos dele, a um espancaram e a outro mataram e a outro apedrejaram (35). Et agricolae adprehensis servis eius alium ceciderunt alium occiderunt alium vero lapidaverunt. PRIMEIRO ENVIO: Chegada a hora da colheita, enviou seus escravos [doulos] para receberem os frutos que lhe correspondiam. Os lavradores, agarrando os servos, espancaram um, mataram outro e o terceiro apedrejaram (Mt 34-35). Porém, tanto Marcos (3) como Lucas (10) reduzem o número a um só servo, que foi espancado e despachado vazio. É este um lugar em que Mateus, nem sempre estritamente histórico especialmente nas parábolas, enriquece os ditos de Jesus para transformar a parábola numa alegoria mais em conformidade com os fatos históricos do passado? Como explicarmos essas diferenças que não são essenciais e não mudam a parábola quod ad sensum? Não existe inconveniente num relato em que a ideia central é mantida e até reforçada para melhor entendimento dos leitores. Mas estas diferenças devem ter uma correspondente razão nos escritos dos outros evangelistas. E encontrar a razão dessas diferenças é evidentemente exegese verdadeira. Mas dizer sem motivo que uma narração é trabalho do evangelista e não pertence aos fatos ou ditos de Jesus só porque não concorda com nosso modo ideológico de pensar, isso não é método histórico nem rigor exegético. SEGUNDO ENVIO: De novo, enviou outros escravos em maior número dos primeiros, e lhes fizeram de modo semelhante (36). Iterum misit alios servos plures prioribus et fecerunt illis similiter. Outros escravos, em maior número, foram tratados do mesmo modo (Mt 36). De novo (Mc), ou em vista disso (Lc) enviou-lhes outro escravo ao qual esbordoaram na cabeça, e insultaram (Mc 4), ou segundo Lucas (11), o espancaram e insultando-o o enviaram vazio. TERCEIRO ENVIO: Mais tarde, enviou-lhes o seu filho, dizendo: respeitarão meu filho (37). Porém os agricultores, tendo visto o filho, disseram entre eles: este é o herdeiro. Vamos, matemo-lo e possuiremos a herdade dele (38). E, tendo o agarrado, jogaram fora da vinha e o mataram (39). Novissime autem misit ad eos filium suum dicens verebuntur filium meum. Agricolae autem videntes filium dixerunt intra se hic est heres venite occidamus eum et habebimus hereditatem eius, et adprehensum eum eiecerunt extra vineam et occiderunt. Marcos dirá que o terceiro envio foi depois de outros muitos, e a uns espancaram e a outros mataram (12, 5). Lucas limita o número do terceiro a um só indivíduo (20, 17) e eles, após feri-lo, o arrojaram. Como vemos, não existe uma ordem clara nos envios e nos tratamentos dos servos pelos arrendatários. É o que parece ser produto da redação dos diversos evangelistas que tinham um respeito supremo pelas palavras diretas de Jesus, mas que sabiam que era impossível recordar os detalhes das parábolas que eles ordenavam segundo normas de redação mais conformes às suas maneiras de relatá-las. A moderna edição da bíblia de King James distingue perfeitamente as palavras de Jesus em vermelho, da redação do evangelho em letra negra comum. Se esta interpretação vale para as introduções como egeneto [sucedeu] de Lucas, ou levantou-se e disse de Mateus, podemos sem dúvida ampliar a redação para parágrafos que nada dizem à essência do evangelho. ALEGORIA DOS SERVOS-ESCRAVOS? Já falamos no comentário do domingo XXIV como os administradores eram em geral escravos domésticos. Como a parábola tem elementos alegóricos, fundados precisamente no parágrafo anterior, sabemos que a vinha representa o povo de Israel, que o dono da vinha é Javé-Deus e que os arrendatários eram os dirigentes do povo, especialmente os religiosos. Logo os servos são evidentemente os profetas. De fato, os judeus distinguiam entre antigos profetas como Moisés, Josué, Juízes, Samuel, Davi e os profetas compreendidos no reinado de Davi; e os últimos profetas, a começar por Isaías e terminar com Malaquias. Isso poderia explicar as duas levas de douloi [escravos] da parábola, segundo Mateus. A primeira antes do exílio (586 a.C.) e a segunda, após o mesmo (539 a.C.). De fato, sabemos que muitos dos profetas foram rejeitados e até perseguidos pelos reis, tanto de Israel como de Judá. Elias teve que fugir por sua vida (1 Rs 19, 3), e lemos de Jeremias que provavelmente, após ser jogado numa cisterna, foi levado ao Egito para morrer lá, segundo alguns, de modo discutível (Jr 43,1-7). Temos Miqueias que foi esbofeteado por Sedecias falso profeta (2 Cr 18, 23). Alguns dos profetas foram mortos à espada como vemos em 1Rs 19, 14 ou Dn 111, 33. Finalmente temos Zacarias que foi apedrejado no pátio do templo segundo 2 Cr 24, 21 por ordem do rei Joás. Vemos como a palavra profeta tem um sentido muito mais amplo que o do enviado diretamente por Deus: é o sentido do justo, do santo, diríamos nós. Temos também dois textos de Jesus sobre a sorte dos profetas nas mãos dos antigos dirigentes de Israel: vós que sois filhos dos que mataram os profetas (Mt 23, 31) ou na lamentação de Jesus em Mt 23, 37 sobre Jerusalém que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados; por isso, pedirão contas do sangue de todos os profetas …do sangue de Abel até o sangue de Zacarias que pereceu entre o altar e o santuário (Lc 11, 50-51). E em Hebreus 11, 36-37: escárnios, açoites, prisões, lapidações, serramentos e mortes com a espada. O FILHO (37-39): Após a terceira leva inútil, o dono da vinha apela para a distinção e excelência do filho. Não era um escravo comum, mas o filho único, o herdeiro. Mateus só fala do filho, mas Marcos (6) e Lucas (13) falam do filho amado ou o amado, que logicamente indica o herdeiro. Mesmo que Mateus só fala do filho sabemos, com certeza, que era único porque os agricultores falam de matá-lo para herdar a propriedade. Isto era lógico já que não tendo herdeiros diretos, segundo a lei, os bens pertenciam aos que cultivavam os mesmos, quando faltasse o dono. Foi o caso de Abraão que, ao não ter filhos, disse ao Senhor que um dos servos de minha casa será meu herdeiro (Gn 15, 3). Era o uso capientis. Eles se apoderam do filho herdeiro, o expulsam da vinha como se não fosse sua propriedade, e o matam fora dela. Em Marcos o crime é ainda mais repugnante; pois, morto dentro da vinha, o cadáver é lançado fora aparentemente sem sepultá-lo, o que constituía, segundo os costumes da época, um ato de maldição, porque os cadáveres insepultos se deixavam propositadamente para serem comida de cães e aves de rapina. Assim vemos na maldição de Elias sobre a casa de Acab (1 Rs 21, 24). Por isso, Tobias arrisca sua vida para enterrar os mortos de Israel (2, 7). Além disso, um cadáver tornava impuro o lugar e isso impedia se aproveitar dos frutos da vinha. Tomando esta passagem como alegórica, vemos como Jesus foi morto fora dos muros de Jerusalém, que precisamente era, segundo os profetas, a vinha particularmente amada de Jahveh, como vemos em Isaías 5, 3. PERGUNTA E RESPOSTA (40-41): Portanto, quando vier o dono da vinha que fará àqueles agricultores? (40). Disseram-lhe: De modo ignominioso os destruirá e arrendará a vinha a outros agricultores os quais lhe entregarão os frutos nos seus tempos próprios (41). Cum ergo venerit dominus vineae quid faciet agricolis illis. Aiunt illi malos male perdet et vineam locabit aliis agricolis qui reddant ei fructum temporibus suis. Que vos parece? (21, 28) Está dirigida aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo (21, 23). E agora também pergunta aos mesmos que irá fazer o dono com esses vinhateiros? (40). Logicamente a resposta não podia ser outra, dadas as leis do olho por olho do tempo: Destruirá de maneira ignominiosa esses infames e arrendará a vinha a outros vinhateiros que entregarão os frutos no tempo devido (41). Marcos dirá que o dono virá e destruirá os vinhateiros para dar a vinha a outros. Em Lucas é o próprio Jesus que responde a si mesmo usando as palavras de Marcos (16). Ante esta proposição de Jesus os ouvintes exclamaram: Não seja [assim] (16). Isso indica que eles entenderam muito bem o significado oculto da parábola. Nesta conclusão há duas proposições que podemos considerar como complementares: a destruição dos assassinos e a entrega da vinha a outros arrendatários que sirvam melhor aos propósitos do dono, que são, em definitivo, obter os frutos devidos de sua propriedade. O COMENTÁRIO DE JESUS (42-43): Diz-lhes Jesus: Nunca leste nas Escrituras: (A) pedra que os construtores rejeitaram, esta se tornou em cabeça de ângulo; da parte de (o) Senhor foi feita e é admirável aos nossos olhos? (42). Por isso, vos digo que será arrebatado de vós o Reino d(o) Deus e será dado a uma nação que produza os frutos dele. Dicit illis Iesus numquam legistis in scripturis lapidem quem reprobaverunt aedificantes hic factus est in caput anguli a Domino factum est istud et est mirabile in oculis nostris. Ideo dico vobis quia auferetur a vobis regnum Dei et dabitur genti facienti fructus eius. Marcos traz a sentença íntegra que em Lucas é mais breve. Que significa CABEÇA DE ÂNGULO? Os três evangelistas falam com o mesmo termo cabeça de ângulo [Kefalê gonias]. Vejamos os dois textos do AT. Salmo 144, 12: Que nossos filhos sejam na sua mocidade como plantas viçosas e nossas filhas como pedras angulares lavradas como colunas de palácio. E o Salmo 118,22: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra angular. Isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos. Como vemos até palavra por palavra os dois textos gregos coincidem. Que era a pedra cabeça de ângulo? Provavelmente havia uma pedra para cada um dos quatro ângulos da casa sobre os alicerces da mesma. Daí a principal [uma das quatro]. As quatro eram escolhidas e lavradas [como colunas Sl 14, 12] para dirigir toda a obra desde o início, como balizas da mesma. Delas, poderiam se tirar as cordas de alinhamento para a construção. Jeremias profetiza uma tal destruição de Jerusalém que dela não se poderiam tirar pedras nem para o ângulo nem para os fundamentos (52, 26). Parece que o resto da casa era de material que podemos chamar tipo argamassa. Por isso as pedras angulares eram especialmente lavradas e escolhidas, pesadas e especialmente desenhadas. Isaías 28, 16 diz: Eis que firmo em Sião uma pedra, uma pedra a toda prova, uma pedra angular preciosa, estabelecida para sua fundação. No NT temos textos sobre esta pedra base. At 4, 11: Ele (Jesus) é a pedra rejeitada por vós, os construtores, mas que se tornou a pedra angular. E 1 Pd 2, 6: Eis que ponho em Sião uma pedra angular [akrogöniaion], eleita e preciosa: quem nela crê não será confundido. Os judeus sabiam que na construção das sinagogas, casas de pedra, havia diferença em relação a construção das casas comuns de adobes. No entanto, existiam duas pedras importantes: uma era a que ocupava o ângulo da edificação nos fundamentos e era a que servia de base para a construção. A outra era a pedra remate do arco de entrada do edifício. O salmo 118 fala de Israel que como povo foi desprezado, oprimido e quase aniquilado pelos povos e reis pagãos, mas que foi escolhido por Deus como base das promessas messiânicas. Como vemos em Atos e na carta de Pedro a pedra angular é a pedra sobre a qual todo o edifício era planificado. Paulo fala de que o único fundamento é Jesus Cristo (1 Cor 3, 11). Os judeus costumavam chamar seus rabis e doutores de construtores, porque eles estudavam continuamente os fundamentos do mundo que era a lei. Quem é a pedra rejeitada pelos construtores em tempos de Jesus? Evidentemente é ele mesmo. O costume do mestre da construção de revisar as pedras e aceitar, ou rejeitar as mesmas, está na frase de Pedro em At 4, 11 que temos citado acima. Como afirmava Lucas por meio da palavra profética de Simeão seria alvo de contradição (Lc 2, 34). Por isso, o mesmo evangelista registra um parágrafo próprio dele que diz: Quem tropeçar nessa pedra ficará quebrado e sobre quem cair essa pedra será esmagado. Por esta última frase alguns comentaristas falam da pedra angular como sendo a pedra remate superior do arco da entrada. Porém podemos explicar o fato da pedra cair porque aqui estamos dentro de uma linguagem metafórica em que não devemos abranger como realistas todos os requisitos da comparação. A TRANSFERÊNCIA: O reino, que era a grande promessa de Israel, será arrebatado dos dirigentes do povo e será dado a uma nação que produza os frutos esperados. Qual é a nova nação? Evidentemente, pela História, devemos pensar em Roma. E os frutos é a aceitação de Jesus como o novo Senhor. É uma profecia que, em tempos dos escritos evangélicos, ainda não podia ser confirmada. Somente com o Imperador Teodósio (379-394) o cristianismo foi declarado religião do Estado. A separação entre o Cristianismo e o Judaísmo, efetivada teologicamente em 325 no Primeiro Concílio de Niceia, era agora lei (388) sob os imperadores romanos. REFLEXÃO: 1) Qual foi a razão última pela qual os dirigentes de Israel não entraram no novo Reino como povo escolhido? Diríamos que a razão imediata era o seu interesse material na religião que a transformava numa fonte de rendas e, portanto, numa visão espúria da espiritualidade religiosa. 2) Em segundo lugar, seu orgulho que não permitia que alguém interpretasse a lei de modo diferente do seu. Segundo sua interpretação, os pobres estavam longe de Deus, considerando a pobreza como uma espécie de rejeição e castigo divinos, como era interpretada a doença. Quem pecou, este ou os pais para nascer cego? Perguntarão os discípulos (Jo 9,2). Do mesmo modo, a pobreza era considerada como o pior dos castigos divinos e a riqueza como o melhor dos benefícios. Nós vemos no evangelho uma clara alusão a esta cosmovisão, quando, após Jesus declarar que um rico dificilmente entrará no Reino dos céus, a pergunta dos discípulos será de um desânimo total: Então quem poderá se salvar? (Mt 19,25). A doutrina de Jesus devia escandalizar os legistas e peritos da lei, quando em suas bemaventuranças declara o Reino como herança dos pobres. 3) Com respeito à razão última, é Paulo quem o explica na sua epístola aos romanos: Tanto judeus como gentios se tornaram pecadores. Na frase de Paulo estão sob o império do pecado (9,13). Mas Deus, gratuitamente pela fé em Cristo, salva o homem; porque se a lei veio para que proliferasse a falta, porém onde proliferou o pecado superabundou a graça (5,21). E logicamente a graça foi maior ao admitir os pagãos ao Reino. 4) Podemos perguntar: e nós? Qual é a razão para que o Reino não seja o valor principal – o tesouro, a pérola – em nossas vidas? Cada um de nós poderá dar uma resposta particular, mas existe uma geral e comum nos tempos modernos: o estado de bem-estar, confundido com a felicidade final, que nos transforma em verdadeiros ricos, num mundo de quase absoluta pobreza espiritual. E no lugar das bemaventuranças, dirigidas aos pobres, aos que sofrem, aos que choram, aos que são perseguidos, encontramos as censuras de Jesus que atingem os ricos, os fartos, os que aparentemente são felizes. EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova. - Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana. Interpretação errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. Consequências: - O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
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