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NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO. Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: O Natal do Senhor está chegando e esta celebração é como que a grande anunciadora desta proximidade. A Mãe grávida, Maria, canta seu hino de admiração pelas maravilhas que Deus nela realizou e o evangelista João anuncia que a luz vinda do alto é Jesus. Uma luz que deverá ser reanimada, ou novamente acesa, em nossa sociedade, marcada por tantos acontecimentos que a escurecem. INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: O terceiro Domingo do Advento é também chamado “Domingo da alegria”, porque esse é o espírito que o Natal traz para a humanidade. É também o dia da Coleta Nacional da Campanha para a Evangelização no Brasil. Aproveitemos esta oportunidade para demonstrar com alegria nossa generosidade e nossa preocupação com a difusão do Evangelho na sociedade. INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: O Deus que vem quer ser pobre; contesta as imagens que espontaneamente dele fazemos, e vem ao nosso encontro numa dimensão incomum para uma religião. Mas esse Deus diferente despertará muito mais a fé daqueles que procuram uma religião autêntica. Toda uma linha profética havia apresentado aos israelitas o Messias segundo as categorias do poder, da vitória, do domínio universal; isso, aliás, correspondia à experiência do Exodo, que permanece o ponto de referência necessário para o Deus da Aliança. Mas sobretudo com o exílio, que favorece a reflexão sobre a aliança e sua interiorização, o Deus de Israel e Aquele que ele consagra para a missão de salvador do povo são encarados sob uma luz nova, mais espiritual e mais simbólica também; e, do mesmo modo é encarada a missão e seus destinatários. Os pobres são mais disponíveis para o alegre anúncio da salvação, pois não se apoiam em sua suficiência pessoal ou na segurança material, e estão atentos, à escuta da palavra de Deus e capazes de uma fidelidade simples e firme à sua lei. O terceiro Domingo do Advento é também chamado “Domingo da alegria”, porque apresenta um forte sentimento de júbilo diante da perspectiva iminente do Natal. É também dia da Coleta Nacional da Campanha para a Evangelização da Igreja no Brasil. Aproveitemos esta oportunidade para demonstrar nossa generosidade e espírito de comunhão eclesial, por meio da colaboração nas coletas de hoje, destinadas a consolidar a evangelização. Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, entoemos cânticos jubilosos ao Senhor! (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) PRIMEIRA LEITURA (Isaías 61,1-2.10-11): - "O espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção." SALMO RESPONSORIAL Lc 1: - "A minha alma se alegra no meu Deus!" SEGUNDA LEITURA (1 Tessalonicenses 5,16-24): - "... para o Senhor, um dia é como mil anos e mil anos como um dia." EVANGELHO (João 1,6-8.19-28): - "Endireitai o caminho do Senhor, como o disse o profeta Isaías." Homilia do Diácono José da Cruz – 3º DOMINGO DO ADVENTO – Ano B "A FORÇA DO TESTEMUNHO!" Quando alguém em nosso meio se destaca, na arte, na cultura, na política ou no esporte, fazendo algo diferente e estando muito acima da média, logo se torna famoso e importante, e diante disso, somos aguçados pela curiosidade em conhecê-lo, saber quem é essa pessoa, como ela vive no seu dia a dia, onde mora e o que faz quando está longe do público.Mais ainda, o que ela pensa sobre certas coisas, qual a sua opinião diante de temas polêmicos. É isso que faz certos programas de TV, ou pela Internet, que mostra aos fãs como vivem seus ídolos. Alguns são bem autênticos e até cultivam valores positivos, que através de revistas, jornais ou programas de auditório, passam aos jovens ajudando-os a viver melhor. Mas há também aqueles que infelizmente, sendo uma referência negativa e em nada contribuem no exemplo que dão aos nossos jovens. Quando João Batista apareceu no deserto, ele não veio do nada e nem caiu do céu, mas é alguém que fez uma opção de vida, porque se sentia enviado por Deus para uma missão especial: anunciar a todos que o Reino já tinha chegado e era preciso se tomar diante dele uma decisão.Sua pregação tão enérgica, o modo austero que vivia no deserto logo chamou a atenção, naquele tempo havia muitos pregadores do messianismo, anunciando o fim do mundo, não diferente de hoje, mas o Batista se destacava de todos porque não se colocava como modelo de uma nova religião ou seita, mas anunciava alguém que representava a verdadeira renovação espiritual que o homem precisava, ele não queria seguidores para si, mas preparava as pessoas para seguirem o verdadeiro Mestre e Profeta de Israel que era Jesus Cristo. O seu testemunho firme e inequívoco logo preocupou os judeus, que mandaram os representantes da religião oficial para interrogá-lo, pois tinham medo que ele fosse o messias prometido. Mas o Batista logo desfez essa mentalidade distorcida á seu respeito, ao afirmar “Eu não sou o Messias!”. Pronto! Estava desfeito o equívoco, João não era o Messias, nem Elias e nem o profeta, causando mais expectativa nos seus Interlocutores, que querem saber quem o autorizou a pregar, pois precisam levar uma resposta aos poderosos e líderes religiosos. No fundo a questão que preocupa as lideranças religiosas é só uma: quem é esse Deus que enviou João Batista, sem que ele tivesse uma linhagem profética ou fosse a reencarnação de um profeta famoso, a religião da manipulação não admitia outra linha de pensamento. Em uma sociedade marcada por tantas correntes religiosas e eclesiologias diferentes, por ideologias enlatadas e rotuladas, é proibido pensar e viver diferente, por isso, naquele tempo, o povo, cansado da religião dos holocaustos, dos ritos purificatórios , jejuns e preceito sabático, acorre para João, atraídos pela novidade que ele anuncia, novidade que já está no meio deles e que em breve iria se manifestar. Quem fica parado é poste, quem fica na mesmice cria bicho como uma água parada, viver a religião significa antes de tudo renovar-se constantemente, uma renovação que só pode acontecer quando abrimos a porta da nossa vida para acolhermos o novo que é Jesus Cristo - Filho de Deus, enviado do Pai, e que sempre inverte a ordem estabelecida, para desespero dos que não querem mudanças, nem na ordem social econômica e muito menos na religiosa. Nenhuma comunidade cristã deve ser tão fechada, a ponto de não aceitar que Deus tenha seus “enviados” como João, que anuncia algo novo. O batismo dado por João, feito com água, é apenas o primeiro passo de quem ouviu e aceitou esse anúncio, e cheio de alegria se prepara para receber quem já está no meio do povo, e que irá marcar para sempre o homem com o verdadeiro batismo, tornando-o filhos e filhas queridas de Deus. Podemos nos perguntar diante de Deus, neste terceiro domingo do advento, se o nosso modo de viver e pensar são um testemunho firme como o de João ou, embora cristãos, não passamos de “Maria vai com as outras”, curvando-nos diante de tantos valores que o mundo coloca diante de nós como absolutos, e que por isso mesmo, acabam roubando em nossa vida, o lugar que só pertence a Deus. Enfim, que testemunho é o nosso? José da Cruz é Diácono da Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 3º DOMINGO DO ADVENTO – Ano B “A luz da prudência”Cristo é a luz e João é a testemunha da luz. Uma vida iluminada testemunha a existência da graça. Mas, como não se percebe a graça com os sentidos, se lhe reconhece através dos efeitos: quem tem Cristo sabe qual é o sentido da sua vida e age em consequência. Como se sabe a prudência é a virtude que visa o reto agir, é a virtude do bom governo. E todos nós precisamos governar algo, sempre: a própria vida, as decisões, a família, o trabalho, os empreendimentos etc. Precisamos, portanto, daquela reta razão, que é uma luz, que nos ajuda a fazer bem o que temos que fazer em cada momento. É bem conhecido aquele conselho de S. Bernardo de Claraval: “qui sapiens est doceat nos, qui sanctus est oret pro nobis, qui prudens est gubernet nos!”; agora em português: “que o sábio nos ensine, que o santo reze por nós e que o prudente nos governe”. Há mulheres impressionantes, que tem um bom senso e uma maneira de aproveitar o tempo que causa verdadeira admiração: trabalham meio período na casa dos outros e são eficazes tanto no trabalho de fora como na própria casa. A mulher prudente se entrega ao serviço de todos com um sorriso nos lábios: educa os filhos, faz a comidinha do marido, reza o terço, consegue tempo para ler um bom livro e ainda ajuda a fazer os deveres de casa da criançada. Há outras que são tão imprudentes que ainda que tenham duas empregadas em casa são um verdadeiro desastre: estão sempre correndo atrás de algum atraso, atrapalhadas, não encontram nada na própria bolsa… Coitadas! Falta-lhes prudência para governar a própria vida e a própria casa. Sem dúvida também são imprudentes aqueles homens que não sabem se posicionar nem na própria casa, vivendo uma vida como a daquele marido que estava contando a um amigo como era o seu fim de semana: “é muito divertido – dizia ele –, pois eu leio, toma a minha cervejinha, durmo, vejo um bom filme”. O amigo, interessado na vida nada atormentada daquele sujeito, pergunta: “E a sua esposa? Ela também se diverte muito?”. Ao que o amigo responde: “Claro que sim, ela pinta”. “Puxa, que legal – diz o outro –, eu não sabia que ela era pintora. E o que ela pinta? Telas, porcelanas…”. Ao que o marido daquela senhora responde: “Não. Ela pinta as paredes: num fim de semana ela pinta um quarto; noutro, a cozinha; noutro ainda, a sala; e assim por diante”. Esse marido imprudente está procurando, no mínimo, a separação, por mais que ele diga que ame a esposa. A pessoa prudente, ao contrário, procura adiantar-se aos acontecimentos porque é previdente, é capaz de ver a situação dos outros, de analisar as coisas com base na própria experiência e na de outros; o prudente encontra tempo para tudo. A pessoa que pratica a virtude da prudência não é necessariamente um gênio, é simplesmente uma pessoa que se deixa guiar pela reta razão, pela luz natural da razão e pelo bom senso. No cristão, a virtude cardeal da prudência é uma disposição elevada pela graça de Deus. A luz de Cristo, da qual João Batista foi testemunha, iluminou também as nossas vidas fazendo-nos as suas testemunhas. Um discípulo de Cristo sempre terá tempo para Deus e para os outros; procurará administrar o seu tempo de tal maneira que possa fazer muito apostolado, em primeiro lugar na família e no trabalho, depois em outros lugares e circunstâncias; estará atento às necessidades da própria alma e dará o primeiro lugar à sua vida com Deus (oração, confissão, Missa dominical, devoção a Nossa Senhora etc.); se é estudante, procurará não atrasar matérias através de uma dedicação diária e intensa a cada disciplina; enfim, um homem de Deus, uma mulher de Deus, dependerá em grande parte do exercício da virtude da prudência para chegar à santidade e para conduzir os seus amigos a Deus. No Tempo do Advento, é prudente, por exemplo, não deixar a confissão que prepara para o Natal para a última hora, pois quanto mais se aproximam as festas natalinas, mais aumentam as filas para as confissões. Como a prudência é uma luz que vai norteando, dirigindo a nossa vida para que atuemos bem em cada momento, não vamos deixar as coisas que dizem respeito à glória de Deus, ao bem da nossa alma e da dos demais para a última hora. Deus é o nosso fim, o nosso Sol, o nosso Norte; para ele e iluminados por ele somos encaminhados. Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa Comentário Exegético – 3º Domingo do Advento – Ano B EPÍSTOLA (1Ts 5, 16-24) INTRODUÇÃO: É a última parte desta epístola, escrita na terceira viagem paulina cerca do ano 55, a mais antiga de suas epístolas, e com motivo principal de provar a ressurreição verdadeira de Cristo e espera da segunda vinda ou Parousia do mesmo. O trecho de hoje corresponde à parte final, com diversas advertências recalcando a oração e a confiança em Deus, de quem pede ajuda e bênção para esperar abençoado o dia da Parousia do Senhor Jesus Crsito. ALEGRIA: Sempre alegrai-vos (16). Semper gaudete. SEMPRE [pantote<3842>=semper] como advérbio de tempo, como vemos em Mt 26, 11: Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre. ALEGRAI-VOS [chairete<5463>=gaudete] Pode ser uma saudação no início de uma carta, equivalente ao salutem romano, como em At 15, 23: Escreveram o seguinte: Os apóstolos e os anciãos e os irmãos, aos irmãos dentre os gentios que estão em Antioquia, e Síria e Cilícia, saúde. Ou simplesmente parte de uma narração em que a alegria é grande como em Mt 2, 10, quando os magos reencontram a estrela: Vendo eles a estrela, regozijaram-se muito com grande alegria. Era também a palavra que usavam os gregos para saudação quando duas pessoas se encontravam, como foi o caso de Judas em Getsêmani: E aproximando-se de Jesus, disse: Eu te saúdo, Rabi; e beijou-o (Mt 6, 20). Porém é uma característica de Paulo que escreve aos de Corinto: Como contristados, mas sempre alegres. Porque tendo sofrido muito pelo evangelho, pareceria ser um homem triste e abatido; mas na realidade, estava cheio de alegria interior. De onde vinha essa alegria? Ele encontrava-a em Cristo. Daí seu conselho: Alegrem-se sempre no Senhor. Repito, alegrem-se nEle (Fp 4, 4). ORAÇÃO: Sem cessar orai (17). Sine intermissione orate. SEM CESSAR [aialeiptös <89>= sine intermissione] ou constantemente, como em Rm 1, 9: Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, me é testemunha de como incessantemente faço menção de vós. Na mesma epístola sai outras duas vezes (1, 2 e 2, 13). Lucas também insiste nesta oração contínua com a parábola da viúva, falando sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer (18,1). A oração contínua e perseverante é um tópico de Paulo que em Rm 12, 12 pede perseverai na oração, coisa que repete aos colossenses: Perseverai em oração, velando nela com ação de graças (4,2) e que afirma ser uma prática constante nele: Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito (Ef 6, 18). Parece que a razão de pedir oração como parte da vigilância, era o sentimento comum da primitiva Igreja de que o fim das coisas estava próximo por causa do advento [parousia] do Senhor: Já está próximo o fim de todas as coisas; portanto sede sóbrios e vigiai em oração (1 Pd 4, 7). AÇÃO DE GRAÇAS: Em tudo dai graças, pois esta (é) vontade de Deus em Cristo Jesus para vós (18). In omnibus gratias agite haec enim voluntas Dei est in Christo Iesu in omnibus vobis. É uma constante de Paulo esta da ação de graças, como vemos em Ef 5, 20: Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. E em Cl 3, 17: quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai. Como vemos, é uma maneira de viver a vida em conformidade com os ensinamentos de Cristo e que Paulo diz é VONTADE [thelëma<2307>=voluntas] o querer, que constitui praticamente o mandato de Deus para entrar no reino (Mt 6, 10). Porque o mesmo Jesus afirmou que desceu do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou (Jo 6, 38). E sendo Deus o Bom (Lc 18, 19), é com certeza que fazer o bem é o motivo da criação, como lemos no fim de cada dia no Gênesis: E viu Deus que era bom (1, 10). De modo que se queremos formar parte do Reino, teremos que fazer a vontade do Pai (Mt 7, 21): Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus, que vemos confirmado em Lc 6, 46: por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo? Sempre que usamos a palavra Senhor, estamos diante de uma suprema vontade, como os olhos dos servos atentam para as mãos dos seus senhores, e os olhos da serva para as mãos de sua senhora, assim os nossos olhos atentam para o SENHOR, nosso Deus (Sl 122,2). A ação de graças é expressa com o verbo EUCHARISTEITE [<2168>=gracias agite] como Jesus na instituição da Eucaristia: Tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado (Lc 22, 19), o mesmo que com o cálice do vinho. Também foi o modo de iniciar a multiplicação dos pães (Jo 6, 11), de modo que a bênção do pão antes da comida é a eucaristia familiar em que o pão é reconhecido como dádiva divina que deve ser respeitado. Antigamente se beijava quando caía e jamais era desprezado como lixo. O ESPÍRITO: O Espírito não extingais (19). Spiritum nolite extinguere. EXTINGAIS [sbennyte<4570> =extinguere] é o imperativo do verbo sbennymi com o significado de apagar ou extinguir, como em Mt 12, 20: Não quebrará a cana pisada, nem apagará o pavio que ainda fumega, até fazer com que a justiça alcance a vitória. O Espírito está no lugar de seus dons ou carismas, que tão bem descreve Paulo na carta aos de Corinto. Esse Espírito, que não deve ser entristecido, como diz em Ef 4, 30 e que Timóteo recebeu como profecia, com a imposição das mãos de Paulo (1 Tm 4, 14). De fato, era deste modo como as primitivas igrejas recebiam a consolação do Espírito, que por isso era chamado de Parákletos ou Consolador. PROFECIAS: Profecias não desprezeis (20). Prophetias nolite spernere. PROFECIA [profëteia<4570>= prophetia], nome que achamos na lista de 1 Cor 12, 10. É um dos carismas e talvez o mais apreciado por Paulo (1 Cor 14, 1). Sua missão não era propriamente a de predizer o futuro, mas a de iluminar e orientar, em nome de Deus, a vida da comunidade. Quando falta essa palavra, o povo se sente como órfão. O nascimento de Jesus é rodeado de profetas: Isabel, Simeão, Ana, o Batista. Jesus é também um profeta: Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa (Mt 13, 57). E faz partícipe a sua Igreja desse dom profético: Nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão (At 2, 17). Fato que Paulo declara ser habitual em 1 Cor 1,14 e 12, 28-29, e no meio dos efésios em 2, 20 e 4, 11. De modo que pede aos de Corinto que optem por esse dom, sem descuidar o de línguas: Procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas (1 Cor 14, 39). Porque é sobre apóstolos e profetas que a fé está edificada: sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas (Ef 2, 20). Por isso dirá Paulo do carisma profético, que está em segundo lugar: Pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas (1 Cor 12, 28). Assim entendemos que, faltando os apóstolos, os profetas devem ser a base de uma Igreja estabelecida. EXAME: Examinai todas as coisas; o que é bom retende (21). Omnia autem probate quod bonum est tenete. EXAMINAI [dokimazete<1381>=probate] é o verbo usado por Lucas em 14, 19: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los. É o verbo usado por Paulo para que antes da comunhão eucarística, cada fiel examine-se, a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. RETENDE [katechete<2722>=tenete] com o significado de deter ou reter como em Lc 4, 42: (Jesus) foi para um lugar deserto; e a multidão o procurava, e chegou junto dele; e o detinham, para que não se ausentasse deles. Ou Paulo que bem quisera conservar comigo (Onésimo), para que por ti me servisse nas prisões do evangelho. Que coisa Paulo considera boa para a ela se agarrar? Escutemos suas próprias palavras: Na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo (Fp 3,8). Para Paulo, Cristo é o único bem, e com Cristo encontra os bens contingentes, mas que nEle têm bondade eterna: Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai (Fp 4, 8). É a parte positiva da moral cristã: antes de evitar o mal, devemos aprender a fazer o bem. ABSTENÇÃO: De toda forma de mal abstende-vos (22). Ab omni specie mala abstinete vos. FORMA [eidos<1491> =species] além de forma é a aparência externa. Em Lc 9, 29 encontramos essa aparência: Estando ele (Jesus) orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca e mui resplandecente. Aqui, neste versículo, não é só aparência, mas forma ou classe. MAL [ponëros <4190>=mala], em latim é adjetivo concordando com species e a tradução seria de toda espécie maligna. Mas pode ser substantivo no grego, e então temos que poneros é o mesmo que homem iníquo, como lemos em 1 Cor 5, 13: Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo. ‘O ponëros é o diabo como em Mt 13, 19: vem o maligno (diabo), e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho. E o neutro to ponërov é o mal, como em plural ta ponëra em Mc 7, 23: Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem. Em genitivo, como é nosso caso, pode ser neutro [mal] ou masculino [diabo] como vemos em Mt 5, 13, no fim do Pai Nosso: E não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal [ou do maligno]. O Espanhol e Português traduzem do mal e o italiano mais moderno do malo. Parece, pelo contexto, que devemos traduzir toda classe de mal. ABSTENDE-VOS [apechesthe<567> =abstinete] é o imperativo presente médio [reflexivo] de apechö: se distanciar, se abster ou privar, como em 1 Ts 4, 3: Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da prostituição. Muitos traduzem: Abstende-vos de toda aparência de mal. Talvez influenciados pela fama que os cristãos tinham de serem pouco religiosos e inimigos do gênero humano. Creio que é suficiente com o que diz Pedro em sua primeira carta 3, 11: Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma. BÊNÇÃO DIVINA: Pois o mesmo Deus da paz vos santifique inteiramente e seja conservado íntegro o vosso espírito e a alma e o corpo, irrepreensíveis, na presença de nosso Senhor Jesus Cristo (23). Ipse autem Deus pacis sanctificet vos per omnia et integer spiritus vester et anima et corpus sine querella in adventu Domini nostri Iesu Christi servetur. SANTIFIQUE [agiasai<37>=sanctificet] do verbo agiazö consagrar ou tornar sacro, dedicar, purificar, como em Mt 23, 17: Que é mais importante? O ouro, ou o templo que torna o ouro sagrado? Ou como lemos em Jo 10, 36: Podem dizer àquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo que blasfema, por ter afirmado: “Eu sou o Filho de Deus? Disto deduzimos que a vida deve ser consagrada a Deus, como diz Pedro do sacerdócio dos fiéis: Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pd 2, 9). INTEIRAMENTE [oloteleis<3651>=per omnia] na realidade oloteleis é um adjetivo que modifica o vós, e a tradução seria consagre vós ínteiros. É um ápax de NT. SEJA CONSERVADO [tërëthein <5083>=servetur] É o aoristo passivo de Tereö, guardar, preservar, reservar, deter, manter. Um exemplo é Jo 2, 10: tu guardaste até agora o bom vinho. ÍNTEGRO [oloklëron<3648>=integer], adjetivo neutro que coincide com pneuma e de significado completo, íntegro, intacto. O outro exemplo é Tg 1, 4: para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma. ESPÍRITO [pneuma<4151>=spiritus] ALMA [psychë<5590>=anima] CORPO [söma<4983> =corpus] é a divisão tripartida do ser humano próprio da filosofia do tempo. O Espírito em Gn 2, 7 era o nishmat <05397> que é traduzido ao grego por pnoë <4157>, alento de vida que é narrado como formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma [nefesh=psychë] vivente. Em Eclesiastes 12, 7 lemos: O pó volte à terra, como o era, e o espírito [ruah=pneuma] volte a Deus, que o deu. Temos pois os três elementos: ruah<07307> /pneuma<4151>, nefesh<05315>/psychë<5590> e basar<01320>/ soma<4983> formam o homem completo e como diz o versículo atual, esse homem deve ser íntegro e inteiramente conservado. IRREPREENSIVELMENTE [amemptös<274>=sine querella], que sai também na mesma carta em 2, 10: Vós e Deus sois testemunhas de quão santa, e justa, e irrepreensivelmente nos houvemos para convosco, os que crestes, como Paulo fala de sua conduta entre eles. NA PRESENÇA [en të parousia <3952>=in adventu]. Poderíamos traduzir na Presença de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo o En grego que é estático e com uma tradução Presença da palavra parousia. Mas no contexto anterior da mesma carta que é básico nela, temos um versículo que pode definir o assunto: Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos (1 Ts 3, 13). Sem dúvida que esta Parousia ou Advento era tema essencial na primitiva Igreja. O Vigiai e orai, agora se manifesta em preparação completa como conduta irreprovável diante do julgamento universal. E temos também 1 Cor 1, 8: O qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. DEUS FIEL: Fiel o que vos está chamando o qual fará também (24). Fidelis est qui vocavit vos qui etiam faciet. Do próprio Paulo temos uma explicação em 1 Cor 1, 9: Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. Tendo Cristo, nesse momento, a vida eterna à direita do Pai, a comunhão com ele significa o triunfo com Ele na Parousia; e para isso, segundo o que temos visto no versículo anterior, fiel é o Senhor, que vos confirmará, e guardará do maligno (2 Ts 3, 3), de modo que fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar (1 Cor 10, 13). EVANGELHO (Jo 1, 6-8.19-28) - O VERDADEIRO TESTEMUNHO INTRODUÇÃO: Neste Domingo, a Igreja apresenta o melhor testemunho sobre Jesus de Nazaré: O de João, o Batista. Ele é a testemunha oficial [profeta], reconhecido como tal pela imensa maioria de seus contemporâneos. O povo assim o reconhecia e os dirigentes não se atreviam a ir contra esta reputação, que incluía seu batismo, como sendo de divina disposição (Mt 21,25-27). Sua vida austera e incomum o colocava entre os especiais, como seres humanos. Para os judeus, que não acreditavam em super-heróis, ele era a palavra de Jahweh. E com tal palavra, ele se apresenta neste domingo para ser testemunha do maior ato que pode se lembrar com orgulho a humanidade: Deus se fez homem e habitou entre nós (Jo 1, 14). Veio como testemunha da luz (8). Na segunda parte, João testemunha sobre si mesmo, dizendo que é só a voz, o som [fone] que grita no descampado. E, ao mesmo tempo, dá o testemunho que podemos chamar de oficial: Estou preparando o caminho do Senhor, esse que vem após mim e do qual não sou digno de ser seu mais humilde escravo. APARECEU: Apareceu um homem enviado da parte de Deus: seu nome, João (6). Fuit homo missus a Deo cui nomen erat Iohannes. EGENETO [fuit latino], que poderíamos traduzir melhor por surgiu, como um aparecer de um homem na História. É o aoristo do verbo ginomai que significa chegar a ser, nascer [no caso de uma pessoa], tornar-se, suceder [caso de um evento], aparecer num momento da história, ou em público de uma personagem, ou de um fato prodigioso, que de repente se produz. Logicamente aqui usaremos o Apareceu um homem enviado por Deus. Este apareceu é melhor tradução que o Houve um homem das bíblias vernáculas clássicas. Precisamente o enviado por Deus e o uso do egeneto indicam que sua presença nesse momento da História é um caso da providência e não um resultado de uma coincidência ou sorte casual. O sentido indica mais claramente a irrupção espontânea de Deus na História. Deus não depende do homem, nem do tempo, nem das circunstâncias; mas escolhe a sua intervenção, segundo seu bel prazer, que não é caprichoso nem irresponsável, mas voluntarioso, livre e compassivo com as necessidades humanas. É o que Paulo chama de Kairós: o tempo propício, conveniente e até poderíamos chamar de necessário. ENVIADO: A palavra é derivada do verbo apostellö cuja raiz está em apóstolo, um mensageiro com uma determinada função. Como apóstolo, João é o último do AT e precede ao primeiro do NT. Não pregará o Reino, mas está diretamente ligado a ele, pois proclamará a iminente proximidade do mesmo. Em João vemos uma mistura de pensamentos: Ele estará certo ao afirmar a nova Era em que está entrando a humanidade. Certo em apontar o novo homem-Messias como cordeiro de Deus que com seu sacrifício tira o pecado do mundo (Jo 1, 29). Pecado, em singular, para indicar que os pecados individuais são frutos das condutas e responsabilidades de cada homem em particular. Jesus, em termos gerais, reconcilia a humanidade; em termos particulares, essa reconciliação e perdão requerem a metânoia de cada indivíduo em particular. Porém, o Batista erra ao apontar detalhes circunstanciais de um juízo, como sendo o ambiente do novo Eón. Apresenta o dia de Jesus como os antigos profetas apresentavam o dia de Jahweh: terrífico e violento. Um dia de ira (Lc 3, 7). Por isso o 4º evangelista, conhecida já suficientemente a verdadeira história da salvação, concentra unicamente o Batista na sua missão essencial: apontar e ser testemunha de Jesus, como sendo este a luz do mundo. Luz que ilumina todo homem (Jo 1, 9). Jesus reforma esse conceito errado do dia da ira do Batista, ao afirmar: Não vim julgar, mas salvar o que estava perdido (Lc 3, 17 e 19, 10). Não devemos esquecer que, dentro da mensagem do profeta, podem existir interpretações próprias, ou sugeridas pelo ambiente, que contribuam a uma certa deformação da realidade. Devemos distinguir o essencial, das circunstâncias ambientais. A este respeito me lembro que na mensagem de Fátima, quando os pastorinhos ouviram Rússia, pensaram que era uma má mulher que necessitava de conversão. É por isso que só o tempo pode nos dizer o que era realmente substancial e o que era circunstancial na profecia. PARÁ THEOU: Traduzido da parte de Deus [a Deo na Vulgata] seria melhor do que por Deus das bíblias vernáculas. Assim temos claramente quem era o mandante e de quem era o mensageiro. O ofício de João se identificava com sua missão. Os antigos profetas eram escolhidos e enviados por Deus e sua missão era a de ilustrar a fé, ou retificar a conduta de seu povo. Isso mesmo vemos em João; pois pede ao povo a retificação da conduta e, ao mesmo tempo, aponta a nova fé e esperança em Jesus. Seu ministério era preparar o caminho e apontar o verdadeiro Messias, como profeta do Altíssimo, segundo as palavras de seu pai, Zacarias, no momento do nascimento do filho (Lc 1, 76-77 ). SEU NOME, JOÃO: não existe o verbo ser de ilação entre nome e João. Por isso o temos traduzido no verdadeiro sentido do grego. JOÃO: Do hebraico Johanan [Deus, Jahweh, propício, ou Deus favoreceu]. Nas linguagens semitas o nome era a essência das pessoas. Em outras línguas, o nome identifica a pessoa e a separa como própria, distinta dos outros homens. No nosso caso, o nome de João o identifica com o filho nascido de Zacarias, sacerdote da classe de Abias, e sua mulher Isabel. Por nascimento, João era sacerdote e filho legítimo de dois pais da descendência de Aarão (Lc 1, 5). Ambos eram justos, isto é: cumpriam rigorosamente a Torah. De sua adolescência e juventude nada sabemos. Unicamente o encontramos com maioridade legal [maior de 30 anos], morando em lugares inóspitos. VERDADEIRO MINISTÉRIO: Este veio para testemunha a fim de testemunhar sobre a luz, para que todos cressem por meio dele (7). Hic venit in testimonium ut testimonium perhiberet de lumine ut omnes crederent per illum. TESTEMUNHA: A finalidade da vida de João foi ser testemunha, não unicamente dar testemunho. O evangelista usa palavras próprias de um vocabulário jurídico: confissão, interrogatório, testemunho. Como testemunho estava sua palavra e seu gesto de apontar o novo Ungido, escolhido por Deus como luz, para que todos pudessem reconhecer a mesma na pessoa de Jesus de Nazaré. Implica isto que, não unicamente o povo da Galileia jazia nas trevas e viu uma grande luz, mas todo Israel e todo o mundo precisava dessa luz. A palavra e a vida desse homem-luz formariam o homem novo de que fala Paulo em suas cartas (ver Ef 2, 15, por exemplo). E assim como no antigo provérbio, Regis ad exemplum totus componitur orbis [a exemplo do rei se ordena todo o orbe], assim será na nova Aliança em que Cristo é Senhor e constitui um corpo, místico, mas real, com todos os batizados (Rm 12, 5). Como testemunha, temos sua vida, que foi a que atraiu com sua austeridade [nem comia, nem bebia] e, por isso, era digno de ser escutado como fonte de verdade. A Igreja tomou o lugar do Batista. Se ela quer ser ouvida, seu testemunho deve ser acompanhado pelo exemplo de sua vida. Os verdadeiros apóstolos são os que vivem o evangelho, não os que o pregam. LUZ: [fös em grego, lúmen latino, significa luz]. Na língua grega temos como sinônimos, feggos brilho, augé raio de luz como a de uma arma de fogo, e, finalmente, fös como termo geral de luz, a que verdadeiramente serve para iluminar e ver. Este é precisamente o significado próprio da luz que é o homem Jesus, o Emmanuel, no qual está encerrada a divindade, o Deus conosco. Não há nada melhor que olhar para a conduta desse homem para saber com certeza a conduta que deve ser a real e verdadeira de todo homem. Por isso, Mateus pode afirmar: O Povo que estava nas trevas viu uma grande luz (4, 16); essa luz que Lucas afirma deve iluminar as nações e ser a glória de Israel (2, 37). E que Jesus se atribui como sendo sua pessoa: Eu sou a luz do mundo e quem me segue terá a luz da vida (Jo 8, 17), e que repetirá de novo: Vim como luz do mundo, para que todo que crê em mim não fique nas trevas (Jo 12, 46). E ainda podemos acrescentar que os apóstolos serão também a luz do mundo e não a Escritura: Vós sois a luz do mundo (Mt 5, 14). A diferença entre Cristo, e João e os apóstolos, é que, estes últimos não eram a verdadeira luz, mas eram luz enquanto testemunhas da luz verdadeira. De João afirma o evangelista que era a lamparina [lu@xnoj, lucerna latina, que outros traduzem como lâmpada ou tocha] que arde e ilumina; vós, pois quisestes regozijar-vos com a luz, de momento (Jo 5, 35). Provavelmente, com esta segunda parte, o evangelista quer dizer que, até no seu tempo, existiam discípulos do Batista, como se este fosse a luz de suas vidas, contrariamente à luz verdadeira de Cristo. CRER: No início do cristianismo a fé era essencial. Era uma questão vital, como hoje dizemos. Diante do judaísmo, que exigia a Torah e do paganismo reinante que se alimentava do culto a Roma, o cristianismo propunha a fé no Messias, ou Cristo Senhor. O Batista apontava Jesus, como tal, e por isso seu testemunho conduzia à verdadeira fé. O PARÊNTESE: Não era aquele a luz, mas para testemunhar acerca da luz (8). Non erat ille lux sed ut testimonium perhiberet de lumine. Evidentemente, aqui não existe nem narração, nem palavras citadas do Batista. É, portanto, um parêntese esclarecedor. A Luz verdadeira era o Logos (Jo 1,9). Mas a influência do Batista era tal, no fim do primeiro século, que poderia ser confundido com o Messias. E o autor sagrado repete o estribilho de que não era João o esperado como Luz, três vezes, de forma diferente nos três versículos 7, 8 e 9: para dar testemunho- não sendo luz mas testemunha- antes existia a luz verdadeira. Era ou não o Batista, luz? A resposta a dará o mesmo Cristo quando o declara a tocha [lychnos] que arde na noite (Jo 5, 35). O sol do dia era Jesus. Também o Batista tinha sua luz, mas não para iluminar a todos como é a luz do Sol, mas que ilumina uma determinada estância ou porção do caminho. Essa luz estava dirigida precisamente a iluminar a figura de Jesus para que pudesse ser contemplada em sua missão como quem devia vir. A CONCLUSÃO: João não era a Luz, com maiúscula, ou verdadeira, mas era só uma testemunha para apontar essa Luz. Luz e Messias estavam unidos. Os judeus modernos que acreditam em Jesus como Messias, aceitam como cumprida a profecia de Isaías 60, 3: E nações virão para tua luz e reis para o esplendor de teu surgimento na passagem de Atos 13, 47-48, que traduzem: porque assim Yaohuh Ul [Jahveh] nos determinou: Eu te constitui para luz dos gentios, a fim de que sejas salvação até os confins da terra. SEGUNDA PARTE: TESTEMUNHO DE JOÃO SOBRE SI MESMO O INTERROGATÓRIO: E este é o testemunho do João, quando enviaram os judeus de Jerusalém sacerdotes e levitas, para interrogá-lo: Tu quem és (19). Et hoc est testimonium Iohannis quando miserunt Iudaei ab Hierosolymis sacerdotes et Levitas ad eum ut interrogarent eum tu quis es. As palavras do Batista têm, segundo o evangelista, valor de uma afirmação, diante de um tribunal de ofício: um verdadeiro testemunho. ENVIARAM: Por que uma legação de Jerusalém, formada por Sacerdotes e levitas? Porque o caso do Batista era popularmente sério e rondava os flancos da legalidade religiosa. Como e com que direito, ele podia, em nome de Deus, se dirigir ao povo, sem passar pela censura do grande tribunal religioso? Somente um homem escolhido por Deus podia falar ao povo dessa maneira. TESTEMUNHO PRIMEIRO: E confessou e não negou, mas confessou que não sou eu o Ungido (20). Et confessus est et non negavit et confessus est quia non sum ego Christus. O evangelista, primeiro, aponta um testemunho negativo: Não sou. Negar-se a si mesmo é a qualidade do discípulo de Cristo. O Batista nega ser o Cristo. Temos traduzido por Ungido a palavra grega Christos <5547> [o Christus latino]. Traduz um original aramaico que é Messiah. Eram os tempos de expectação, em que o Rei-Messias era particularmente esperado pelo povo. Com esta declaração diante do tribunal [enviados como interrogadores oficiais da classe religiosa] o messiado do Batista está oficialmente julgado como inexistente. É um dos propósitos prováveis do evangelista. OUTROS TESTEMUNHOS NEGATIVOS: E lhe interrogaram: Quem, pois, és tu, Elias? E diz: não sou. És tu, o profeta? E respondeu: Não (21). Et interrogaverunt eum quid ergo Helias es tu et dicit non sum propheta es tu et respondit non. O Verbo diz está em presente no grego original. A pergunta oficial de se é Elias é respondida com uma negação rotunda. O Batista nega ser Elias. Também nega ser o profeta. ELIAS: Todo o mundo conhece os dois primeiros: O Messias e Elias. O Messias, como ungido do Senhor, como Rei de Israel e Elias, porque se esperava que o profeta de Tesbi em Galaad, que não morreu, mas foi arrebatado, viria antes do Messias. (Galaad é precisamente a região onde o Batista exercia sua função em Bethabara). Os judeus falavam que, no segundo ano de Acaz, Elias se escondeu e não aparecerá até os tempos de Gog e Magog [esses tempos serão aqueles nos quais a provação de Israel será a última]. Também afirmavam que, antes da vinda do filho de Davi [o Messias], Elias viria para trazer as boas notícias do mesmo. No livro apócrifo de Enoch do século II aC, na sua complicada alegoria animalística da História, descreve-se o retorno de Elias antes do juízo e da aparição do grande cordeiro apocalíptico (!). E nesse mesmo século, se afirmava que Elias estava destinado a ungir o Messias. Disputando com S. Justino mártir, Trifão, o judeu (ano 150), dirá que o Messias não será reconheccido, nem terá qualquer poder, até que Elias venha e o torne ungido e o faça conhecer a todos. Outros falam de Elias como um Messias sacerdotal ao lado do Messias davídico. Em Malaquias 3, 23 [ou 4, 5, segundo outras versões] lemos: Eis que vos enviarei o profeta Elias antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor. Ele fará voltar o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais, para que eu não venha e fira a terra completamente [como um herém ou morte de todos]. Na realidade, ele não era Elias ressuscitado ou redivivo, mas o espírito com o qual o Batista anunciava os novos tempos, que era o mesmo que animava Elias. Como vemos em Lc 1, 17: Gabriel dirá a Zacarias que seu futuro filho irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, e explica essa conversão como converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado. Como vemos, é a citação de Malaquias, unicamente retirando a segunda parte da conversão, a do coração dos filhos para os pais. Que significava esta conversão [epistrefo, voltar a]? Os pais eram os antigos patriarcas e assim como eles eram os guardiões do estrito monoteísmo de Jahveh, e de suas promessas [a justiça do AT], essa mentalidade formaria os filhos, neste caso os contemporâneos do Messias. O PROFETA: Quem era o profeta, causa da terceira pergunta dos fariseus? Em Lucas 9, 19 temos uma questão semelhante quando Jesus pergunta sobre quem pensava a gente que era ele: na resposta entra Elias e um dos antigos profetas redivivo. Esse profeta era Jeremias, segundo afirmavam alguns rabinos e vemos em Mt 16, 14. Outros diziam que deveria vir um profeta, sem afirmar que fosse o próprio Jeremias, como dá a entender o versículo citado de Mateus. A razão de Jeremias é que ele foi constituído profeta para as nações (Jr 1, 5), sobre as nações e sobre os reinos (10) diante de toda a terra (18). Além disso, os judeus pensavam que fosse o profeta anunciado em Dt 18, 15: Jahveh, teu Deus, suscitará um profeta como eu [Moisés] no meio de ti, dentre teus irmãos, e vós o ouvireis. Rabi Judá diz que Jeremias como Moisés têm em suas vidas muitas coisas em comum, como os anos de profecia, o rio onde Moisés foi lançado e Jeremias num poço, e portanto, Jeremias é o profeta anunciado no Deuteronômio. Em 1 Mc 4, 41-50 se fala da espera de um profeta, capaz de resolver certos problemas legais, no estilo de Moisés. Os essênios de Qumrã seguiam as leis da Torá e as tradições, até que venha um profeta. Esta era a expectativa dos judeus no tempo de Jesus: Este é verdadeiramente o profeta que deve vir ao mundo (Jo 6, 14). Em Jo 7, 40: Ouvindo essas palavras diziam: esse é verdadeiramente o profeta! Diante dessa aclamação, os fariseus só tinham uma resposta: Estuda e verás que da Galileia não surge profeta (Jo 7, 52). Recentemente, se cogita que as três funções escatológicas sobre as quais o Batista foi interrogado, são os três personagens cuja vinda esperavam os essênios de Qumrã, que citamos, como dizendo: até a vinda de um profeta e os Messias de Aarão e Israel. O Batista nega qualquer identificação com estes personagens, porque ele não era a luz (8) e só reclama para si, ser a voz que grita no ermo. QUEM ÉS TU?: Disseram-lhe, pois, quem és, para darmos uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes a respeito de ti mesmo? (22). Disse: Eu, a voz gritando no desabitado: Endireitai o caminho do Senhor, como disse Isaías o profeta (23). Dixerunt ergo ei quis es ut responsum demus his qui miserunt nos quid dicis de te ipso. Ait ego vox clamantis in deserto dirigite viam Domini sicut dixit Esaias propheta. Como o interrogatório era oficial, o Batista devia dar uma resposta em conformidade com a pergunta: sou uma voz que grita. ERMO: Precisamente em português temos uma palavra que significa o erëmos grego, ou desertus latino, que mal traduzimos por deserto. Este último vocábulo significa um mar de areia como o grande deserto do Saara. Porém, o ermo, como o erëmos original, só indica um lugar desabitado, que poderia ser uma selva ou um sertão. ISAÍAS: Não sabemos se a citação foi feita pessoalmente pelo Batista, ou foi um inciso do evangelista. A citação original, tomada do próprio Isaías, diz, na sua primeira parte, o mesmo, com a única diferença de que, no lugar de euthynate [endireitai], o original grego traz etoimasate [preparai]. A segunda parte fala de tornar retas as veredas de Deus. A causa de não citar esta última parte é talvez, o nome de Deus que identificaria Jesus, [o Senhor ou Messias] com Jahveh, [Elohim no massorético] coisa que não estava nos cálculos do Batista. Se, no original, era um grito do profeta para preparar a volta do povo do exílio babilônico, agora, o preparo era para a vinda do Messias. UMA EXPLICAÇÃO: Pois os que foram enviados eram do grupo dos fariseus (24). Et qui missi fuerant erant ex Pharisaeis (24). Os interrogadores eram dos FARISEUS. É um inciso como para indicar: atenção! Vós, os fariseus, que fostes procurar a verdade! Aí a encontrareis: no testemunho oficial do Batista. Porque ele nega ser o Cristo, mas depois afirma que ele conhece quem devia ser considerado como tal. E vocês não o escutaram! Não vamos agora intentar explicar o significado da palavra Fariseu, mas as consequências que esse grupo trouxe para o Israel irredento. Após o desastre do Templo, os fariseus foram o único grupo formado que restou do antigo Israel. Opostos a Jesus como Messias, reuniram-se, no tempo em que o 4º evangelho era escrito, em Jamnia, para trasladar por escrito a Torah falada [a Mishná] através das sentenças dos Tanaim ou rabinos mais influentes, do grupo dos fariseus e, assim, torná-la lei vinculativa para a posteridade. O parêntese do evangelista é um irônico comentário do ponto de vista da História Contemporânea. A NOVA QUESTÃO: E perguntaram-lhe e disseram-lhe: Por que, pois, batizas se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? (25). Et interrogaverunt eum et dixerunt ei quid ergo baptizas si tu non es Christus neque Helias neque propheta. O BATISMO: uma vez obtida a resposta de quem era, os enviados argumentam sobre seus atos, um em especial, como era o batismo. Do Verbo Baptizö significa estar rodeado dentro do líquido e não o Baptö este último um mergulho temporário. Uma simples voz não tem o direito para reformar umas vidas, mergulhando-as, para ter uma nova existência. Somente os dirigentes religiosos do povo podiam fazer isto. A limpeza [declaração] do leproso era um paradigma de como existia uma autoridade central que determinava os direitos da palavra e da formação religiosa. Os enviados abririam uma exceção caso seja o Batista algum dos três enunciados. E então ele devia prová-lo com algum fato extraordinário, como pediram a Jesus (Mt 16, 1). Eis a pergunta: Por que batizas? Admitimos a autoridade desses sujeitos [Messias, Elias, o profeta], mas, se tu não és nenhum deles, como te atreves a batizar para a remissão dos pecados? RESPOSTA DE JOÃO: Respondeu-lhes o João, dizendo: Eu batizo em água; porém, no meio de vós estava quem vós não tendes conhecido (26). Esse é o que vem depois de mim, antes de mim gerado, do qual eu não sou digno de modo a desatar as correias de sua sandália (27). Respondit eis Iohannes dicens ego baptizo in aqua medius autem vestrum stetit quem vos non scitis. Ipse est qui post me venturus est qui ante me factus est cuius ego non sum dignus ut solvam eius corrigiam calciamenti Eis a resposta: Eu batizo só com água. Como quem diz: o verdadeiro batismo é feito em nome do outro que vem após mim. A esse, vós não o conheceis. ÁGUA: O batismo de João era uma imersão [não um mero mergulho] na água, como é o de uma limpeza externa; e ele dirá mais propriamente que o de Jesus era uma purificação no Espírito Divino ou uma consumação no fogo, dependendo de quem devia ser imerso (Mt 3, 11). Aqui João só fala do batismo por ele administrado, sem detalhar a diferença com o batismo a ser feito em nome de Jesus. O Espírito Santo [Divino melhor] era claro nos primeiros batismos em que o fenômeno da xenoglossia se tornava patente e visível, como um sinal da presença do Espírito [Pneuma agios]. Mas para os que não queriam receber o mesmo, estaria o fogo inextinguível onde a palha seria lançada, após ser separada do trigo (Mt 3, 12). E continua, afirmando que estava já no meio deles um desconhecido muito maior do que ele. É esta uma afirmação do passado, ou é uma confirmação do presente, quando foi escrito o evangelho e unicamente existiam os fariseus? Ambas podem ser verdadeiras. De todos os modos, era precisamente o que vinha atrás dele que lhe dava, como seu arauto e mensageiro, o poder para anunciá-lo e preparar o caminho diante de sua vinda próxima. Por isso se declara servidor ou escravo, que até o ato de amarrar as correias das sandálias [mínimo e mais ínfimo dever do mais desprezível dos escravos] ele não é digno de realizar. ANTES DE MIM: Como temos visto, o evangelista parece misturar fatos e ditos reais com reflexões posteriores, como bom catequista que não busca unicamente a história, mas persegue as consequências da mesma. Isso não diminui o valor histórico do relato. Na escrita do tempo, não existiam nem parênteses nem notas e tudo se realizava com uma mesma letra uncial sem a diferença entre o texto propriamente dito e os comentários do escritor. Porém, para a nossa exegese, é irrelevante. A verdade que interessa, não é tanto a verdade histórica, que, por outra parte, é uma realidade experimentalmente testemunhada, mas a verdade anunciada, que constitui o verdadeiro evangelho. O gerado [egeneto grego e factus est latino] indica, sem dúvida uma reflexão a posteriori do evangelista, pois é difícil que João pudesse ter, nesse momento inicial, o conhecimento da filiação divina de Jesus, recebido mais tarde, no dia em que Jesus foi batizado e ele, João, se constituiu testemunha da subsequente Epifania. FINAL: Estas coisas sucederam em Bethabara do outro lado do Jordão onde estava João batizando (28). Haec in Bethania facta sunt trans Iordanen ubi erat Iohannes baptizans. BETHABARA: Estava batizando em Bethabara [casa do vau] segundo muitos manuscritos, ou Betânia segundo outros, e a Vulgata. Alguns manuscritos leem Betharaba, que é traduzido como casa no deserto; mas é uma tradução errada. Pois se Beth é casa, deserto não é ’Abarah <5679>, mas ‘Arabah <6160>. O sentido, pois, da palavra era casa do vau. Bethabara era um lugar desabitado [eremos em grego] ao outro lado do Jordão, que segundo Orígenes, pode corresponder com os vaus de Abraão, que estavam no caminho de Gileade. (Ver o número 05679 de Sprong no dicionário em que temos a tradução crossing place ou vau). Caso seja certo, o lugar estará mais perto da Galileia do que da Judeia; pois a cidade oriental cisjordânica é Citópolis. Por isso, João batizava em Enom perto de Salim (Jo 3, 23). Enom está, segundo nos afirmam os biblistas, perto de Citópolis. Coincidem assim as duas narrações dos capítulos 1 e 3. Mais, estando o vau tão perto da Galileia, entendemos como dentre os discípulos de João encontramos verdadeiros galiléus como André, Filipe e Natanael. Também podemos entender que Bethabara, ou Enom, estava no caminho de Jerusalém para a Galileia e passando Jesus por esse caminho o apontou a seus discípulos como o cordeiro de Deus (Jo 1, 36). Segundo Lucas, João veio por todos os arredores do Jordão proclamando um batismo de metânoia (Lc 3, 3). Isto implica que também o lugar de Bethabara estava dentro do percorrido do Batista. Marcos 1, 4 fala de que apareceu João no deserto [em te eremo] sem dizer que deserto era. Mateus afirma que era o deserto da Judeia [em te eremo tes joudaios] (Mt 3, 1). Porém é difícil pensar que fosse o deserto da Judeia, pois este não chegava até Jericó e estava ao sul do mesmo na desembocadura do Jordão e este era propriamente o Midbar hebraico, com o significado de estéril, desolado. Talvez a Judeia signifique aqui a atual Palestina. O ‘Arabah, com artigo, era o vale do Cedron, especialmente na sua parte oriental, mais perto do mar Morto. Podemos afirmar que o eremos grego traduz um lugar inóspito, ermo. É uma contradição que o Batista batizasse no deserto, junto ao Jordão precisamente numa região que é fértil e bem habitada. Segundo os comentários da bíblia de Jerusalém, o deserto da Judeia era a região montanhosa que se estendia entre a cadeia central da Palestina e a depressão do Jordão e do mar Morto. Não havia água suficiente para batizar. A esse deserto foi levado Jesus pelo Espírito e morava entre feras (Mc 1, 12). É difícil que houvesse feras no deserto próprio da Judéia, mas sim que existissem no lugar inabitado perto de Enom. Jesus foi batizado, segundo Lucas, no Jordão e voltou do Jordão e foi conduzido pelo Espírito Santo ao interior do deserto (4, 14). O deserto foi, sem dúvida, citado pelos evangelistas para que se visse cumprida a profecia do segundo Isaías, 40, 3, segundo a Setenta: Voz que clama no deserto. Mas o hebraico diz: Uma voz clama: preparai no deserto o caminho do Senhor. De Mateus e Marcos não podemos tirar uma conclusão geográfica certa. É João que nos deve conduzir a uma conclusão certa. Não queremos dar a última palavra, mas sim expressar novos pontos de vista, especialmente pelo que diz respeito ao evangelho de João, aparentemente contraditório com os sinóticos, mas que, histórica e geograficamente, está melhor avaliado atualmente e parece responder a uma testemunha ocular dos fatos. Pode ser que exista uma via intermediária que compagine tanto a visão de João como as aparentemente contraditórias dos sinóticos. PISTAS: 1º) A Igreja hoje é o novo João que testemunha Jesus como Salvador. Não unicamente a Igreja oficial, que teve como encargo primário a guarda da palavra e a interpretação da mesma. Igreja somos todos nós, de modo especial os pais que preservam e ensinam a verdade de Jesus a seus filhos, tornando-os pelo batismo, filhos também de Deus. 2º) Mas dentro da Igreja, existe um outro testemunho que é o sinal divino: o milagre. É especialmente sobre este testemunho, como foi evidenciado pelos apóstolos, que como Paulo, podiam falar do poder dos sinais e dos prodígios, poder do Espírito, pelo qual o primitivo cristianismo foi fundado e estabelecido (Rm 15, 19). A Igreja exige esse poder para elevar os filhos mais heróicos à santidade. Ela, com o mesmo poder de Cristo, (Jo 20, 21), determina que o santo está no paraíso, seguindo o exemplo de Cristo que, pela primeira vez, declarou salvo o malfeitor: Hoje estarás comigo no paraíso (Lc 23, 43). 3º) Parece-me que estão totalmente equivocados os que não querem, ou relutam em admitir nos evangelhos o sobrenatural. Na realidade, o milagre é a rubrica de Deus à qual Jesus também apelava: Se eu faço as obras de meu Pai, muito embora não acrediteis em mim, crede nas obras (Jo 10, 38). 4º) Como João, a Igreja não só dá testemunho: Eu não sou o Cristo, sou a voz que prepara os caminhos. Mas também, como João, é a serva desse Senhor que proclama. E como serva, ela deve se humilhar até o mínimo dos serviços, esse que simbolicamente apontava João como sendo o de desatar a correia das sandálias. E o maior serviço que a Igreja pode dar é o do amor, especialmente aos inimigos. Por isso ela recebeu a faculdade do perdão, que deve ser dado sempre que exista arrependimento. 5o) Que o AT, reconhecido como palavra de Deus, é usado pelos evangelistas como uma prova mais importante que os próprios milagres para evidenciar o ponto essencial do Cristianismo: Jesus é o esperado (Ver II Pd 1, 19). EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova. - Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana. Interpretação errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. Consequências: - O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
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