GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
01.02.2015
4º Domingo do Tempo Comum — ANO B
( VERDE, GLÓRIA, CREIO – IV SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Tu és o Santo de Deus" __
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Ainda em nossos dias, vemos pessoas admiradas com o ensinamento de Jesus porque é feito com autoridade. Contudo, o ensinamento de Jesus não é teórico, mas existencial. Ele ensina um estilo de vida: viver de acordo com o projeto de Deus e assumir o estilo de vida baseado no Evangelho. Assumir este ensinamento é encontrar a alegria de ser livre. Conhecemos o ensinamento de Jesus? Vivemos de acordo com o ensinamento de Jesus?.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: O ensinamento com autoridade e os milagres que libertavam do mal faziam de Jesus o sinal do amor de Deus pela humanidade. Celebremos a Eucaristia com o fervor dos que acreditam na Redenção.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A liturgia deste domingo lança a pergunta: quem é Jesus para mim? A esse interrogante não existe subterfúgio, pois é uma inquietação que interpela a todos. O conhecimento que Jesus quer que tenhamos dele é mais profundo. Tal conhecimento provém de uma grande proximidade e de uma experiência vivencial. A nossa Liturgia nos garante que Deus não se conforma com os projetos de egoísmo e de morte que invadem o mundo e que escravizam os homens, e afirma que Ele encontra formas de vir ao encontro para lhes propor um projeto de liberdade e de vida plena. Elevamos o nosso coração numa reta vontade de não nos perder em distrações, para que não ocorra que nos peça contas por não ter escutado a sua Palavra, devido às impurezas de coração.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Dt 18,15-20): - "O profeta é alguém que Deus escolhe, chama e envia para ser a sua palavra viva no meio dos homens."
SALMO RESPONSORIAL 95(94): - "Não fecheis o coração, ouvi hoje a voz de Deus!"
SEGUNDA LEITURA (1Cor 7, 32-35): - "São Paulo convida os cristãos a repensarem as suas prioridades e a não deixarem que as realidades transitórias sejam empecilhos diante do compromisso com o serviço de Deus e dos irmãos."
EVANGELHO (Marcos 1, 21-28): - "Jesus, o Filho de Deus, cumpre o projeto libertador do Pai, pela sua Palavra e pela sua ação. Ele renova e transforma em homens livres todos aqueles que vivem pr isionei ros do egoísmo, do pecado e da morte."
Homilia do Diácono José da Cruz – 4º Domingo do Tempo Comum
"CALA-TE E SAI DELE!"
A primeira bicicleta que ganhei, aos oito anos, tinha duas rodinhas de sustentação para facilitar o equilíbrio no aprendizado, e o futuro ciclista deveria fazer de conta que elas não existiam, para que o treinamento surtisse efeito. Por puro comodismo comecei a me exibir para os familiares, imprimindo velocidade nos pedais e até largando das mãos, para mostrar que estava seguro, mas na verdade colocava toda minha segurança nas rodinhas auxiliares, que não deixavam a bicicleta cair em minhas arrojadas manobras.
A turma me olhava com uma pontinha de inveja, quando eu passava “esnobando” com a bicicleta, meus familiares sentiam-se orgulhosos e tudo ia bem até que apareceu um chato, um estraga-prazer de nome Odair, colega de escola, garoto de grande vivacidade e inteligência, que me desafiou. “Ah quero ver você andar sem essas rodinhas aí...!”.
Tentei em vão argumentar, que as rodinhas não eram importantes, mas o Odair pegou de brabo e comentou com a turma, que eu não sabia andar coisa nenhuma, e que só estava enganando a todos. Lembro-me que fiquei quase duas semanas de “beiço caído” sem falar com ele, entretanto, com o passar dos dias fui vendo que tinha razão, se não tivesse coragem de tirar as rodinhas auxiliares, nunca iria aprender de verdade, a andar de bicicleta, porque a minha habilidade de ciclista não passava de uma mentira.
Essa é exatamente a missão do profeta: denunciar todas as nossas falsas seguranças, mostrando-nos a verdade que tem de ser buscada e cultivada, em nossa relação com Deus e com os irmãos, para que a nossa vida de cristãos não seja uma grande mentira em uma religião só de aparência.
No Antigo Testamento os profetas lembravam ao povo a fidelidade à aliança, toda vez que dela se afastavam. A Palavra de Deus manifestada através de Moisés, antes de ser uma norma rígida era um dom, pois oferecia orientações seguras de como viver bem e ser feliz, sob o amparo e a proteção do Deus da Aliança, nesta relação exclusiva e particular “Vós sereis o meu povo e eu serei o Vosso Deus”. Mas os profetas e todos os demais que falaram ao povo em seu nome sofreram muito, foram rejeitados, incompreendidos e até perseguidos e mortos, pois muitos não estavam dispostos a ouvir a Verdade que os faria mudar de vida.
O evangelho desse domingo faz uma apresentação solene de um novo, único e verdadeiro profeta que não vem para fazer mais promessas, mas sim para cumpri-las uma a uma. O seu múnus profético se revela na comunidade onde irá realizar um sinal, como prenúncio da sua obra de salvação, que tem na libertação do homem o seu ponto mais alto, naquele sábado na sinagoga, a comunidade conheceu Jesus de Nazaré, o Messias de quem falaram todos os profetas. O seu ensinamento causava admiração, pois ensinava com autoridade e não como os mestres da lei.
Ensinar com autoridade não é falar grosso, gritar e dar murros na mesa, como certos pregadores, que gostam de fazer terrorismo religioso, mas é mostrar primeiro a vivência daquilo que se ensina, unir fé e vida, celebrar aquilo que se Crê, é ter uma fé encarnada na história, é sempre falar em nome de Deus.
A palavra é libertadora porque gera vida nova, renova o homem por inteiro, Jesus é a palavra viva, o Logus de Deus, o Verbo encarnado no meio dos homens. Para surpresa de todos, na comunidade há um homem possuído por um espírito do mal que conhece Jesus, inclusive manifesta esse conhecimento em palavras bonitas “Sei que tu és o Santo de Deus”, sabe, portanto quem ele é e a que veio, mas não o aceita, não admite que o seu ensinamento interfira no modo de pensar e viver. Parece que Marcos fala às autoridades religiosas do seu tempo, e ao homem da modernidade, que apenas o conhecimento da pessoa de Jesus e sua missão, sem o compromisso de vida com o santo evangelho, jamais vai nos conferir uma fé autêntica. Jesus ornamenta muitos lugares públicos e está em uma correntinha no peito de muita gente, mas falta uma abertura maior para que as atitudes dos que nele dizem professar a fé sejam realmente atitudes de um cristão.
O tratamento que Jesus dá ao homem possuído pelo espírito do mal, é de choque – Cala-te e sai dele! CALA-TE: porque a palavra que o mal nos propõe é enganosa e mentirosa, traz a morte e não a vida; aprisiona em vez de libertar. O homem da modernidade parece não ter forças para fazer calar tantas vozes mentirosas que seduzem, corrompem, e destrói a dignidade do ser humano, o homem da modernidade se acha importante com o seu conhecimento e o progresso e, entretanto, é totalmente impotente diante das forças do mal, justamente porque não professa uma fé verdadeira e perdeu totalmente a noção do pecado, que contraria a graça de Deus e a sua santa palavra.
As Igrejas cristãs devem ter coragem e ousadia, para fazer calar e expulsar tantos “espíritos do mal” que continua a enganar o ser humano, com propostas sedutoras de vida, arrastando muitos para a morte. Ouçamos o apelo dos nossos pastores e sejamos uma igreja mais profética e menos sacramentalista, mais missionária e menos ritualista, fazendo um ensinamento novo, capaz de derrubar as velharias ideológicas escravisadoras, contrárias aos princípios do Reino Novo, que Jesus inaugurou um dia, lá na sinagoga de Nazaré... Quando mostrou quem ele é, e a que veio...
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 4º Domingo do Tempo Comum
“Autoridade de Jesus – liberdade do cristão”
“Jesus entrou na sinagoga e pôs-se a ensinar” (Mc 1,21). Lemos nas páginas do Evangelho como o Senhor Jesus dá importância à pregação da boa nova: indo de uma cidade a outra para anunciar a sua mensagem e realizando-a com perfeição, com autoridade. As pessoas reconhecem-no: “eis um ensinamento novo, e feito com autoridade; além disso, ele manda até nos espíritos imundos e lhe obedecem!” (Mc 1,27).
Por nossa parte, deveríamos estar muito interessados no que ele nos diz. A formação que vamos recebendo de Cristo através da Igreja tende a fazer-nos homens ou mulheres responsavelmente livres. A nossa liberdade vai sendo educada paulatinamente para que possamos escolher aquelas coisas que nos fazem mais humanos e mais cristãos. Longe, portanto, da autêntica formação a coação e o controle sobre os outros. Não se trata de asfixiar as pessoas para que façam o bem. O importante é ajudá-las a amar o bem, a desfrutar na prática das coisas boas, a ver que somente na realização do bem verdadeiro encontra-se a felicidade. De fato, a autoridade de Jesus não retira a liberdade do cristão, mas a favorece aperfeiçoando-a.
Cristo é o Mestre por excelência. Ele, pacientemente, foi formando os discípulos e os apóstolos para uma missão que, sem dúvida, os superava. Não obstante, o Senhor os ensinou a confiar na graça e a lutar decididamente pelas causas que valem a pena e… conseguiram! Os apóstolos não cumpriram a vontade de Deus à força de prescrições legais, mas graças ao fogo do amor de Deus que lhes aquecia o coração e à formação recebida e assumida. Primeiro, o Senhor os fez ativos no amor e, consequentemente, essa caridade tornou-se fecunda através do apostolado que trouxe muitas pessoas ao encontro com o Divino Mestre.
Um dos efeitos do ensinamento de Cristo feito com autoridade é a formação da nossa consciência. Neste sentido, o Concílio Vaticano II ofereceu-nos uma definição de enorme beleza: “a consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa a sua voz” (GS 16). Na consciência ressoa a voz de Deus… É preciso escutá-la! A formação da consciência é um dos requisitos indispensáveis para conseguirmos a perfeição da liberdade. Como se lê no Catecismo da Igreja Católica, “a consciência deve ser educada e o juízo moral, esclarecido. Uma consciência bem formada é reta e verídica. Formula seus julgamentos seguindo a razão, de acordo com o bem verdadeiro querido pela sabedoria do Criador. A educação da consciência é indispensável aos seres humanos submetidos a influência negativas e tentados pelo pecado a preferir seu julgamento próprio e a recusar os ensinamentos autorizados. (…) A educação da consciência garante a liberdade e gera a paz do coração” (Cat.1783-1784).
Deus quer que sejamos os responsáveis pelas nossas próprias ações livres. Mas para que elas fossem verdadeiramente responsáveis e livres, Deus infundiu em nós, por criação, uma luz natural que nos faz agir segundo a reta razão. Contudo, isso não é suficiente! Pela nossa debilidade e pelo pecado, essa luz enfraqueceu-se e, nalguns casos, quase apagou-se. A graça, junto com as virtudes teologais e os dons do Espírito Santo, iluminam e fortalecem de maneira nova o nosso organismo natural tornando mais suave a consecução do fim para o qual fomos criados. Esse fim, que é Deus, torna-se presente em cada um dos fins intermediários que escolhemos diariamente.
Estar atentos ao ensinamento de Cristo formará a nossa consciência de maneira eficaz. Mas é preciso conhecer a sua doutrina cada vez mais. E não há como conhecê-la profundamente se não aplicarmos a nossa mente e o nosso coração a ela, especialmente através da leitura da Sagrada Escritura e do Catecismo da Igreja Católica. Mas não é só questão de doutrina, é questão de conhecer o próprio Jesus, a sua Pessoa e a sua obra; é preciso, portanto, tratá-lo na oração, conversar com ele, aprender dos seus gestos e palavras.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 4º Domingo do Tempo Comum - Ano B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (1 Cor 7, 32-35)
INTRODUÇÃO: No domingo anterior vimos como Paulo fala do matrimônio, aclarando serem lícitas as duas opções: casar ou optar por ficar solteiro. Porém, afirma que esta última opção é preferível do ponto de vista religioso. As razões estão nestes versículos que constituem a epístola deste domingo.
A PREOCCUPAÇÃO DO SOLTEIRO: Quero, pois, que estejais despreocupados: o não casado preocupa-se das coisas do Senhor; como agradar ao Senhor (32). Volo autem vos sine sollicitudine esse qui sine uxore est sollicitus est quae Domini sunt quomodo placeat Deo. DESPREOCUPADOS [amerimnos<275>=sine sollicitude]. Além deste versículo encontramos unicamente esta palavra em Mt 28, 14: E, se isto chegar a ser ouvido pelo presidente, nós o persuadiremos, e vos poremos em segurança, dirão os chefes sacerdotais aos soldados que guardavam o sepulcro ao calar suas bocas com dinheiro: Não vos preocupeis se a vossa falta de disciplina chegar aos ouvidos de Pilatos. Esse é o verdadeiro sentido da palavra: estar apreensivo e inquieto, agitado ou perturbado. A causa da perturbação é o matrimônio. Quem não tem mulher e filhos está livre das inquietudes que os familiares causam e só atende ao serviço de Deus, sendo esta a única preocupação de sua vida. Paulo o declara com poucas, mas gráficas palavras: só se preocupa em agradar ao Senhor. Com esta conclusão, Paulo declara duas premissas importantes, tanto para a vida de um casado como para a vida dedicada a Deus: Primeiro, a finalidade é agradar ao cônjuge, sem o qual o matrimônio seria um uso egoísta do mesmo. E a segunda, que todo serviço religioso, e o que poderíamos chamar a liturgia diária da vida, é um agradar a Deus para que este possa dizer como disse de Jesus no batismo: nele tenho minhas complacências.
AS DIFERENÇAS: Mas o casado, preocupa-se das coisas do mundo: como agradar à mulher (33). Está dividido. A mulher e a virgem, a não casada, preocupa-se das coisas do Senhor a fim de ser imaculada tanto no corpo como no espírito. A casada, porém, preocupa-se das coisas do mundo: como agradar o marido (33). Qui autem cum uxore est sollicitus est quae sunt mundi quomodo placeat uxori et divisus est. Et mulier innupta et virgo cogitat quae Domini sunt ut sit sancta et corpore et spiritu quae autem nupta est cogitat quae sunt mundi quomodo placeat viro.PREOCUPA-SE [merimna<3309>=solicitus est] presente de merimnaö com o significado de estar ansioso, preocupado, como em Mt 6, 25: Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Ou como em 1 Cor 12, 25: Para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros. Porém é evidente que o significado deste versículo é o mesmo que em Fp 4,6: Não estejais inquietos por coisa alguma. Paulo faz uma distinção entre coisas do mundo e o serviço do Senhor. O caso mais semelhante é o de Marta a quem Jesus teve que repreender: Marta, porém andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? (Lc 10, 40). Como vemos pelas palavras de Jesus em Mt 6, 25, AS COISAS DO MUNDO são a comida, a bebida e o vestido, tudo para conservar a vida e agasalhar o corpo. Mas se casado, a mulher é também causa de preocupações. Segundo Paulo ela é carne e ossos do marido como lemos no Gn 1, 23-24 e que ele cita em Ef 5, 31: Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Logicamente, o esposo está dividido entre o agrado à mulher e o serviço a Deus. Neste momento, Paulo passa para a mulher e em primeiro lugar propõe a preocupação da não casada a que é ainda VIRGEM [parthenos<3933>=virgo] não tendo marido, preocupa-se das coisas do Senhor, assim como a viúva. Não toda mulher que perdeu o marido é considerada viúva, segundo Paulo, mas as de uma idade marcada de, pelo menos, 60 anos (1 Tm 5, 9) e logicamente deve ser cuidada pelos filhos ou netos (1 Tm 5, 4) que eram os que deveriam cuidar dos avós. Logo a verdadeira viúva devia estar livre de toda incumbência e assim ser semelhante a uma virgem. Na época de Paulo as mulheres eram donas de casa e não eram necessários os avós para cuidarem dos netos; mas antes, estes cuidavam dos avós. Assim, as verdadeiras viúvas eram consideradas como virgens, sem outra preocupação que os deveres religiosos. Portanto, livres de outra preocupação, elas estavam unidas ao serviço de Deus, como eram as mulheres que acompanhavam Jesus e o serviam (Lc 8, 2). A elas pede Paulo que se mantenham IMACULADAS [agia<40>=sancta], propriamente sagradas, coisa a Deus consagrada que não deve ser tratada como comum, mas com o respeito que merece uma pessoa dedicada ao serviço de Deus. E Paulo acrescenta tanto no corpo [alude à virgindade] como no espírito, ou seja, sem intenção de matrimônio. Este é o melhor elogio da virgindade como superior ao estado matrimonial. E isso, tendo em conta que a doutrina dos rabinos da época era tudo o contrário: Deus tinha abençoado o matrimônio, como diz o Gênesis em 1, 28: E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra. Porém, foi Jesus quem substituiu esta bênção especial por um depoimento evangélico: Há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus (Mt 19, 12). Finalmente, Paulo repete, com respeito à mulher, o que no versículo anterior afirmou dos homens solteiros: A casada preocupa-se das coisas do mundo: como agradar o marido.
A FORÇA DO TESTEMUNHO: Portanto digo isto, conveniente para vós mesmos: não para lançar-vos uma cilada, mas (como coisa) honorável e devota ao Senhor, sem distração (35). Porro hoc ad utilitatem vestram dico non ut laqueum vobis iniciam sed ad id quod honestum est et quod facultatem praebeat sine inpedimento Dominum observandi. CONVENIENTE [symferov<4851>=utilitas] benéfico, vantajoso, útil, lucrativo e como substantivo, proveito. Um exemplo é 1 Cor 10, 33 em que Paulo fala eu em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam salvar. CILADA [brochos<1029>=laqueus] propriamente significa laço e sai unicamente neste versículo. Lançar um laço a alguém é o mesmo que obrigar a gente a fazer uma coisa ou escravizá-la de modo a forçá-la a obedecer. Paulo não obriga a ninguém a ser celibatário, mas apresenta o celibato como coisa HONORÁVEL [euschëmon<2158>=honestus] digna de honra como era José de Arimateia: senador honrado, que também esperava o reino de Deus (Mc 15, 43). E DEVOTA [euprosedron<2145>=facultatem praebeat] é um apax e não existe outro caso no NT que possa nos dar o sentido bíblico da palavra. Derivada de eu [bom] e prosedros [sentado próximo de] o seu significado é o de estar devotado, que modernamente traduzem como estando para vos unirdes ao Senhor. A tradução direta seria assíduo e por isso termina o apóstolo falando sem distração alguma. Outra tradução: ao trato do Senhor sem preocupações. Conclusão: a pessoa que tem o ministério de ser de alguma maneira apóstolo ou seguidor do Senhor deve escolher o celibato. É a forma mais perfeita de agradar o Senhor. Assim o tem feito a Igreja após o Concílio de Elvira (305) e Niceia (325), pondo limitações ao matrimônio de clérigos, até que finalmente Gregório VII em 1074 ordena que todo sacerdote deve ser celibatário; para finalmente, no Concílio I de Latrão decretar que os matrimônios dos clérigos não são válidos.
EVANGELHO (Mc 1, 21-28) - LUGAR PARALELO: Lc 4, 33-37
O PODER CONTRA OS DEMÔNIOS.
INTRODUÇÃO: São dois os ensinamentos que podemos extrair do evangelho de hoje. E ambos têm como raiz a pessoa de Jesus e sua autoridade. O primeiro é sobre a sua palavra: autêntica no sentido de diferente dos ensinamentos humanos e com a força de um mandato muito mais do que uma doutrina peculiar ou nova. O segundo é que ele era o único, na época, que podia confirmar suas asseverações com fatos extraordinários que serviam de sinal divino que confirmava sua atuação. Mas vamos explicar as palavras chaves do evangelho em particular.
A SINAGOGA: Então, entraram em Cafarnaum e, imediatamente, aos sábados, tendo entrado na sinagoga ensinava (21). Et ingrediuntur Capharnaum et statim sabbatis ingressus synagogam docebat eos. CAFARNAUM: Foi à cidade, centro do ministério de Jesus onde foi morar, situada à beira mar, nos confins de Zabulon e Neftali (Mt 4, 13). Segundo João, depois do sucesso das bodas de Caná desceram a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos e seus discípulos; e ali ficaram alguns dias (Jo 2, 12). Foi chamada a própria cidade (Mt 9, 1). Hoje não sabemos com absoluta certeza a localização exata da cidade, como temos escrito nos comentários do domingo anterior. Dentro de Cafarnaum estava a casa de Pedro na qual Jesus residia como hóspede (Mc 1, 29). SINAGOGA: É uma palavra grega que literalmente significa convocação ou assembleia. Para os judeus, era o lugar onde se celebrava o culto religioso aos sábados. Era o substituto de Casa de Deus. A sinagoga começou a existir na Babilônia nos tempos do exílio como substituto do serviço do templo ou talvez para suprir uma necessidade dos exilados de se reencontrarem para matar suas saudades (ver Salmo 137). Foi introduzida por Esdras na Palestina e logo se difundiu por toda a Eretz Israel [terra de Israel]. A palavra hebraica que traduz sinagogé é Knesset. Com o domínio da língua latina, sinagoga entrou em todas as línguas modernas. Antes de tudo, a sinagoga é uma casa de oração e por isso é traduzida como Beit Knesset [casa de reunião] Beit Tefilá [casa das rezas] Beit Midrash [casa de estudo]. Desde o século I dC há notícias de sinagogas nos lugares onde existiam judeus, até mesmo fora da Palestina, como nos diz o livro dos Atos (At 15, 21). Também se reuniam no segundo e quinto dia da semana para ouvir a leitura das Escrituras. Os homens tomavam assentos separados das mulheres. As bênçãos iniciais: Um dos membros da sinagoga é quem fazia oração: Barehú et Adonai hamevorah [Bendizei ao Senhor que é Bendito]. E todos respondiam: Bendito seja o Senhor que é bendito para sempre. O dirigente: Bendito seja o Senhor que é bendito para sempre. Bendito és tu, nosso Deus, rei do universo que nos escolhestes entre todos os povos, e que nos destes a Torah. Bendito és tu Javé Deus, por nos teres dado a Torah. A primeira parte consistia principalmente na leitura de Dt 6, 4-9; 11, 16-21; Nm 15, 37-41 e em repetir algumas, ou todas as dezoito orações ou bênçãos [shemoné eshré], já em uso nos tempos de Jesus e das quais temos um exemplo em 2 Mc 1, 24-29, que começa: Senhor, Senhor Deus, criador de todas as coisas, temível e forte, justo e misericordioso, o único rei e o único bom, o único generoso e o único justo, todo-poderoso e eterno, que salvas Israel de todo mal, que fizestes de nossos pais teus escolhidos e os santificastes. Sob a palavra oração encontramos a Tefilá [prece] e também a chamada Amida [de pé, porque era recitada nessa posição]. Finalmente a Shemoné Esré ou as dezoito Bênçãos, foram ordenadas pelos homens que constituíam a Grande Assembleia e logo algumas outras adicionadas após a destruição do templo. Uma delas é a bênção contra os Minim [hereges ou sectários], inserida pelo rabino Gamaliel, em Jabne, contra os cristãos, no final do século primeiro. As três primeiras bênçãos eram para louvar o Criador do céu e da terra como o Deus dos patriarcas em sua onipotência e santidade. Seguem doze bênçãos, com caráter de súplica, pela santificação do nome de Deus, pelo conhecimento derivado da Torah, pela conversão e renovação da vida, pela remissão dos pecados, a salvaguarda das calamidades, cura das dores, por um ano frutífero, pela liberação do povo, e aí entrava a aniquilação dos apóstatas e heréticos [os cristãos], por Israel, Jerusalém, Sião e o templo, e o advento do Messias. Após pedir que a oração fosse atendida, dava-se opção aos desejos particulares. As duas últimas bênçãos eram de ação de graças pelos benefícios obtidos, terminando: Impõe tua paz sobre teu povo Israel e abençoa a todos. Louvado sejas tu, Yahveh, que crias a paz! Eram as BERAHOT que começavam com baruk ata Adonai [louvado seja o Senhor]. O povo ficava de pé durante as orações e todas as pessoas presentes diziam “Amém” quando terminavam. A segunda parte consistia na leitura da lei, feita por diversos assistentes, cada um dos quais lia um parágrafo alternadamente, correspondente a 3 ou 4 versículos atuais. O principal leitor era chamado Ba’al al Koré, e o número de pessoas a ler a mesma, não podia ser inferior a três. Começava e terminava com ação de graças. Seguia-se uma lição dos profetas [Neviim] ou haftará que era lida pelo Maftir [quem conclui] pela mesma pessoa que abria o serviço com a oração. Depois da leitura o leitor ou qualquer outra pessoa presente fazia uma exposição sobre ela. É o que aconteceu em Nazaré, quando da visita de Jesus após sua fama na Galileia (Lc 4, 16-17). O culto terminava com a bênção, pronunciada por um sacerdote, se havia algum presente; e a congregação dizia Amém. Provavelmente era esse momento da leitura dos Neviim, em que Jesus usava a oportunidade da palavra para pregar o advento do Reino. Um pequeno exemplo da pregação de Jesus nas sinagogas é o relato de Lucas acontecido na sinagoga de Nazaré em 4, 16-27. Seu comentário estava limitado à explicação das palavras do profeta lido anteriormente. Outro é o discurso ante as multidões explicando as qualidades do Reino à beira do mar e nas montanhas da Galileia.
O ENSINO: E se admiravam sobre o seu ensinamento; pois estava ensinando-os como tendo autoridade e não como os escribas (22). Et stupebant super doctrina eius erat enim docens eos quasi potestatem habens et non sicut scribae. A DOUTRINA: O grego didachê, propriamente é doutrina e não método de ensino. Porém a explicação dada na continuação por Marcos, mais parece apontar para o método, pois Jesus tinha uma maneira peculiar de fazê-lo, como quem tem autoridade e não como os escribas, que geralmente só citavam autoridades anteriores com o argumento de magister dixit [o mestre disse]. Jesus se transforma em mestre dos mestres como um novo Moisés que dita leis e proclama verdades com autoridade própria e não apoiada em superiores prestígios. É só abrir Mateus para ver que Jesus começa muitas de suas asseverações com o ouvistes que foi dito ou ensinado, eu, porém, vos digo ou afirmo (Mt 5, 21).
O POSSESSO: E havia na sinagoga deles um homem com um espírito imundo e gritou (23) dizendo: Ah, que a nós e a ti (sic), Jesus Nazareno? Vieste nos destruir? Tenho conhecido quem és tu: o consagrado de(o) Deus (24). Et erat in synagoga eorum homo in spiritu inmundo et exclamavit dicens quid nobis et tibi Iesu Nazarene venisti perdere nos scio qui sis Sanctus Dei. Chama a atenção que um possesso estivesse dentro da sinagoga. Por isso os evangélicos traduzem: Não tardou que aparecesse um homem possesso. O possesso diabólico não é admitido no sentido estrito pela versão persa, e hoje é discutido entre os modernos como foi possível que a pessoa que Jesus mandou calar, segundo Marcos, estivesse dentro da sinagoga sendo um possesso. Lucas não deixa dúvida alguma, pois fala de um homem tendo um espírito de demônio imundo (4, 33), embora estas palavras possam ser traduzidas como alguém mal intencionado. Houve tempos em que a única história conhecida e a única cosmogonia aceita eram as procedentes dos textos sagrados. Hoje isso não é mais possível, e ambas são consideradas insuficientes e defeituosas. Será que a mesma coisa não está passando com a demonologia? Porque o que antigamente por todos os cientistas ou médicos era atribuído ao demônio ou espíritos do mal, hoje sabemos que são doenças sem intervenção de seres supra-humanos, ou talvez atribuídas a causas paranormais. A questão é se tais fenômenos são totalmente humanos ou se existem a possibilidade e probabilidade de seres superiores intervirem na consciência e vontade humanas. Desde já podemos afirmar que os fenômenos supranaturais positivos, [influência do Espírito Santo, anjos e santos] são possíveis e é uma realidade da qual nenhum cristão duvida, devido a fatos milagrosos, profecias, etc. afirmadas no N T, como os anjos do sepulcro (Lc 24,4). Como fenômeno que desafia a ciência temos, após as aparições de Guadalupe no México, uma tilma ou manto que avalia a verdade das mesmas. Mas vamos reproduzir, no possível, as ideias da época. No grego clássico existem duas palavras Daimon [=masculino, deus de segunda ordem, ou destino, porque estava particularmente unido ao deus da sorte] e Daimonion [=neutro, era diminutivo, que é o caso dos evangelhos, e que significa ser espiritual superior ao homem , uma espécie de gênio que pode ser bom ou mau, e que geralmente nos evangelhos só designa uma potência do mal]. Há passagens em que espírito impuro e demônio se identificam pelo mesmo evangelista (Mc 7,25 e 26). Destes textos e outro paralelos, deduzimos que os espíritos impuros e os demônios eram palavras alternativas de um mesmo fenômeno. Mais: toda pessoa que tivesse algum dom, profético ou milagroso e que não fosse atribuído ao Enthusiasmos [=impulso divino] era considerada movida pelo demônio, como o caso de João Batista que não comia nem bebia (Mt 11,18) ou o próprio Jesus com autoridade sobre os espíritos do mal (Mt 9,34) que tinha por sua vez demônio (Jo 7,20 e 8, 48) ou tinha um espírito impuro (Mc 3, 30). Por isso é que Marcos fala de um homem em espírito impuro [sem falar de possessão] (1,23). E ao falar das diversas curas refere-se a expulsar daimonia, demônios (34 e 39). Na passagem de Lucas, em que Jesus, imediatamente após esta cura do possesso (?) da sinagoga, cura a sogra de Pedro, podemos ler que Jesus repreendeu a febre como se se tratasse de um demônio e esta deixou o corpo da sogra de Simão (Lc 4,38). Em Mateus e Marcos não existe essa ordem, pois Jesus toma a mão da doente e a febre desaparece. Isso nos leva a perguntar: há alguma relação entre doença e demônios? No grego do NT daimonion é preferível sobre daimon e, muitas vezes, será traduzido por espírito impuro ou imundo, de impureza legal por estar unido aos deuses pagãos, que também recebem o apelativo de demônios (Lv 17,7 e I Cor 10,20); era o oposto ao espírito sagrado que toma posse de um indivíduo de modo temporal ou contínuo. Daimon só aparece três vezes nos evangelhos (MT 8,31; Mc 5,12 e Lc 8.29), sempre no mesmo caso: o de Gerasa ou Gadara, que formavam legião e foram enviados aos porcos. Daimonion aparece 45 vezes. João nos dá uma dica de que daimonion não significa possessão diabólica tal e qual a entendemos hoje, mas um desarranjo mental ou perturbação temporal, tipo loucura ou psicopatia. Vejamos: Os judeus dizem de Jesus que tem demônio e é um herege ou samaritano (Jo 8,48). Jesus se defende, dizendo que não está com demônio. É o que pensavam seus parentes: que perdera o juízo (Mc 3,21) e que os fariseus traduzem por ter um espírito impuro (Mc 3,30). Deduzimos de tudo isso que os demônios e as possessões dos mesmos devem ser selecionados muito criteriosamente, porque abrangem casos de loucura, de epilepsia e outras doenças mentais, sem que hoje possamos discernir as mesmas dentro dos relatos evangélicos. OS DEMÔNIOS: como espíritos que habitam lugares desertos, sem água, misturados às bestas selvagens (Mc 1,13 e Is 13,21) dos quais Lilit é o representante da noite (Is 34,14) são puro folclore do AT. Os demônios como causadores de toda enfermidade – e isso acontece hoje nas sociedades indígenas primitivas- não existem. Nem toda doença é causada por um espírito maligno (Jo 9,2) e não é através de exorcismos que ela é curada (Mt 17,21). Hoje, por meio da medicina e da psiquiatria sabemos que doenças físicas ou psicofísicas têm como causa os micróbios, os vírus e até a própria psique alterada do homem. Muitos fenômenos que poderíamos pensar ultrapassarem as forças naturais são entendidos de modo neutro, sem recorrer a seres malignos, explicados por pura parapsicologia, e são denominados paranormais. O que fica do demônio, outrora confundido com deuses pagãos (Dt 37,12) e com eles identificado (Sl 96,5; Br 4,7)? Praticamente nada. Por isso dos 3 fenômenos que a teologia tradicional atribui ao poder do maligno – tentação, obsessão e possessão – esta última está, na prática, totalmente descartada. Sua explicação é dada pela dupla personalidade adquirida pelo esquizofrênico. Como exemplo vou usar um caso acontecido nos meus tempos de seminário com um adolescente. Ele acreditava que era Nossa Senhora, e apareceu um bom dia cantando a Ave Maria de Gounod em falsete. Quando a sua voz engrossou ao cair da tarde, e não podia cantar com voz de mulher, sua personalidade mudou para a de S. José. Logicamente ninguém acreditou numa possessão benéfica de Maria ou José no pobre louco. Mas se no lugar de tomar essas personalidades tivesse babado, gritado e rolado no chão, blasfemando, sem dúvida que muitos diriam ser um possesso e como tal sobre ele deviam ser lançados os exorcismos da Igreja. Pessoalmente me inclino a pensar que a possessão diabólica é mais uma doença chamada esquizofrenia. Mas como homem de ciência deixo a porta aberta a causas sobrenaturais para casos que considero raríssimos, e que em tempos modernos seriam mais fáceis de distinguir das verdadeiras doenças psíquicas. Segundo o pensar comum da época, bíblico e não bíblico, o ar estava cheio de espíritos, assim como o nosso ar está cheio de micróbios e vírus. Esses espíritos podiam ser bons ou maus. Estes últimos, que são os que nos interessam, habitavam os lugares desertos em grande número, sem água (Lc 11,24). Nos sinópticos, estes espíritos maus eram chamados de espíritos impuros, sujos, akatharta, traduzido por imundos nas bíblias evangélicas (Mc 1,23). Lucas os chama de maus em 7,21 e 8,2, ou causadores de doenças (8,2). Esses espíritos tinham como chefe Beelzebu (Mt 12, 24) ou Belial (II Cor 6,15). Causavam doenças de todo tipo, especialmente as que não tinham uma causa conhecida. Tais eram surdez, acompanhada da correspondente mudez (Mc 9,17 e Lc 11,14). A loucura, como no homem de Gérasa (Mc 9,17), a quem Lucas chama de endemoninhado (8,27). A epilepsia, como no caso da filha da mulher siro-fenícia (Mc 7,25) em que vemos que no lugar de espírito impuro também os sinópticos usam o termo demônio. A esclerose múltipla como o caso da mulher encurvada que tinha um espírito de doença (Lc 13, 11), atribuído a Satanás (13,16). Resulta estranho que João, no 4o evangelho, nunca fale deles. SATANÁS OU O DIABO: As duas palavras indicam um mesmo personagem, só que o primeiro é de origem semítica e o segundo é a tradução grega. O significado primordial é de Tentador, fiscal ou promotor. Era o anjo caído, a antiga serpente ou dragão do Éden, que se chama Diabo ou Satanás (Ap 12, 9). É o inimigo frontal de Cristo e que lutará contra o reino, mas será derrotado no final. É um ser pessoal cuja ação se manifesta também através de seres subalternos por meio da tentação (Mc 1,23) e da disseminação do mal (Mt 13,25). Ele é o adversário do desígnio de Deus sobre a humanidade. No AT mais do que como adversário ele é tratado como anjo da corte divina que desempenha a ação de fiscal ou acusador (Jó 2, 1). Sem opor-se diretamente a Deus, desejaria que sua noção de falsa santidade em Jó fosse a que prevalecesse. Em Zc 3, 1-5 já se torna adversário de Deus. Em Gn 3,1 vemos como, sob a forma de serpente, uma misteriosa personagem tem um papel importante na introdução do pecado, da doença e da morte. Suas armas são a astúcia e a mentira (Jo 8,44). A essa serpente, a Sabedoria dá o nome de Diabo (2,24). A humanidade, vencida um dia, triunfará de seu adversário (Gn 3,15). Cristo veio para reduzir à impotência a quem tinha o domínio da morte (Hb 2,14) e para substituir o reino do maligno pelo reino de Deus (I Cor 15,24-28 e Cl 1,13). Os evangelhos apresentam a vida pública de Jesus como uma luta contra Satanás, luta que começa com as tentações do deserto, nas quais, após o Gênesis, vemos pela primeira vez um filho de Adão (Lc 3, 38) cara a cara com o Diabo (Lc 4,3). Esta luta terá dois aspectos diferentes: um físico ao vencer Jesus com autoridade o que se acreditava era domínio do mal entre os homens possessos, e outro espiritual no enfrentamento com os judeus incrédulos dos quais reclama falta de lógica e maldade do coração por julgarem como falsa sua missão messiânica, tornados por isso verdadeiros filhos do Diabo (Jo 8,44), os mesmos que o Batista já chamou raça de víboras (Mt 3,7). Na hora da paixão, Satanás parece vencer (Jo 13, 2; 27; 14,30 e Lc 22,3); mas na realidade não tem poder algum sobre Cristo e sua missão messiânica, que se cumprirá por meio de seu sacrifício na cruz, como obra do amor e obediência ao Pai (Jo 14,30-31). O império do mundo pertence agora ao Cristo (Fl 2,10-11). Porém esta luta entre Cristo e Satanás terá que ser repetida em todo cristão. Por vezes será evidente, como quando Paulo é impedido de ir a Tessalônica (I Ts 2,18). Satanás semeia o joio (Mt 13, 39) e arranca a semente boa da palavra (Mc 4, 15). Como em Judas, entrará em possessão do anticristo ou anticristos (2 Ts 2,7) que já estão em ação e ocultará sua obra maléfica, revestido de anjo de luz ( 2 Cor 11,14). As almas simples jamais sentirão sua presença, pois Cristo as protege com seus anjos (Mt 18,10). Porém as almas santas que têm experimentado a presença de Deus serão tentadas como os discípulos (Lc 22,31) por meio de dúvidas de fé, orgulho pela sua santidade e desesperação pelos pecados cometidos e dos quais parece nunca se livram. O maligno pode tomar até forma sensível, como diz Teresa de Jesus, como um anjo belo e formoso, mas que traz angústia e dúvidas ao coração. Porque Deus permite que as tentações acompanhem as visões para purificação e mérito dos santos. Satanás, pois, existe: é um personagem maligno, empenhado mais na derrota do bem que no triunfo do mal. Nos tempos modernos ele inspira cantos [heavy metal] e através de drogas, ritos e cultos, promove independência e liberdade absolutas, fora de toda obediência, em busca da felicidade total. Mas os resultados são destruição e morte [Manson], novos líderes messiânicos [Jim Jones] que levam seus adeptos ao suicídio e aniquilamento. Estes sim são fenômenos que sociólogos, teólogos e pastoralistas deveriam estudar para que a fumaça de Satanás não penetre na Igreja de Deus, em palavras de Paulo VI. Outro problema ao qual não é fácil encontrar solução é por que Deus permite sua atuação que, em certo sentido, converge com a existência do mal no mundo. Esse problema só será resolvido no outro mundo e cada um de nós verá como, em definitivo, o mal provocou um bem maior em nossas vidas como canta a Igreja no hino pascal: Feliz culpa que teve tão grande redentor! É índice de maior amor, amar o que não é digno de ser amado, como é o pecador que volta redimido ao bem! Sem o mal- dirá o filósofo – não pode existir o bem. CONCLUSÕES: A) Nos tempos de Jesus: Como temos visto há uma série de doenças que hoje certamente sabemos nada tem a ver com espíritos ou demônios. Logo as palavras dos evangelhos não podem ser tomadas fundamentalmente ao pé da letra. A maioria das doenças curadas por Jesus eram normais, quer dizer, sem intervenção sobrenatural. Autores há que afirmam que todas as doenças atribuídas aos demônios têm uma explicação completamente natural, incluídos fatos hoje chamados paranormais. É uma opinião que não deve ser descartada. Quando Jesus escolhe os 12 é para morar com Ele, para enviá-los a evangelizar e ter autoridade de expulsar demônios (Mc 3,15). Este fato era de grande importância no seu tempo: A mentalidade judaica era de que os demônios tinham um poder praticamente supremo no mundo, devido à idolatria, e que seriam vencidos pelo poder messiânico (Mt 12, 22-45 e Lc 11, 14-26). Jesus usa esse poder e os inimigos o atribuem ao próprio maligno, o que constitui pecado contra o Espírito Santo, Espírito que Jesus tinha e através do qual imperava nos demônios. B) Tempos atuais: Existem endemoninhados no mundo moderno? Uma grande parte dos pastores protestantes afirma que sim. Escutando suas rádios e vendo seus programas televisivos, abundam os possessos tanto quanto os enfermos de câncer. Pelo contrário, não conheço nenhum Padre católico que afirme tal coisa. Pessoalmente eu tenho conhecido epilépticos, neuróticos e histéricos; mas jamais me deparei com um endemoninhado. É verdade que o munus de exorcista não tem sido eliminado dos ritos católicos. Mas vejamos o testemunho de um deles, José Antônio Fortea, pároco de Na. Sa. de Zulema. É um dos dois exorcistas que existem na Espanha. Ele diz que as influências diabólicas são seis, das quais a mais espetacular é a possessão diabólica e esta é rara. Ele afirma que 95% dos casos são doenças mentais. Dos mais de 600 casos em que o outro exorcista teve que intervir só 4 podiam ser considerados como possessão diabólica. Porém existe uma forma de influência diabólica bastante frequente no Brasil: é o caso dos terreiros e centros espíritas. Invocam espíritos. Evidentemente não são dirigidos pelo Espírito Santo em suas formas múltiplas, logo podemos dizer que são espíritos do mal. Para ver a influência dos terreiros e seus pais de santo me contaram que numa pequena cidade de 3500 habitantes na região do sertão, num dia de propaganda política, um determinado candidato visitou 13 terreiros. Lógico é de se supor que seu oponente visitou outros tantos a ele mais próximos. É dessa forma que o inimigo semeador de joio trabalha sem necessidade de ser descoberto como mal; mas camuflado como bem entre os umbandistas, quimbandistas, macumbeiros e kardecistas. O GRITO DO ENDEMONINHADO: Que entre nós e ti? Lucas usa os mesmos termos: Ah! Que entre nós e ti, Jesus Nazareno? (Lc 4, 34). A interjeição Ea que Lucas introduz antes das palavras que entre nós e ti, é uma interjeição de indignação, de espanto misturado com medo. Talvez fosse melhor traduzir por Ai! É interessante saber que o espírito maligno usa o plural: entre nós. Esse nós abrangeria o espírito e o homem possuído, ou esse nós estava referido a todos os espíritos do mal que Marcos compreende como espíritos imundos? (26). Vemos que o oposto a esse nós é precisamente o tu de Jesus Nazareno. É o mal que encontra o Bem e o rejeita com a repugnância de um proscrito infernal. E nisso encontra sua infelicidade e desesperação. É uma visão terrena do que sucede no inferno. Realiza-se o que Tiago na sua carta diz: Os demônios creem e [por isso] tremem (Tg 2, 19). Interessante também, que o nome completo seja Jesus Nazareno. O sobrenome Nazareno está no lugar do pai [patronímico] e na realidade se José fosse o verdadeiro pai o nome completo de Jesus seria Jesus bar Josef (Jo 1, 45). Para melhor designá-lo Filipe dirá a Natanael que esse filho de José era de Nazaré e foi com este topônimo [nome do lugar] que Jesus foi e é conhecido até agora. O diabo admite a conceição virginal de Maria. Esse mesmo título era o que Pilatos colocou na cruz (Jo 19, 19). Sobre este nome existem duas acepções gregas: Nazarenos [nazareno], como habitante de Nazaré e Nazôraios [nazoreo] que foi o nome com que os cristãos foram conhecidos em primeiro lugar. A primeira voz sai 3 vezes em Marcos e uma em Lucas. A segunda sai 2 em Mateus, 1 em Marcos 2 em Lucas e 3 em João. Sem dúvida que é mais uma questão de nome e não de semântica ou de conceito. O SANTO DE DEUS: Na realidade o ‘agios grego deve ser traduzido por consagrado ou sagrado. Tomando o sentido, traduziríamos, como melhor opção, por o Ungido do [verdadeiro] Deus. Era um título messiânico indiscutível. O demônio sabia quem verdadeiramente era esse homem. Além de Messias, o demônio [ou o espírito esquizofrênico que na hora o dominava] sabia que era filho de Deus? Provavelmente não. Jesus ainda não o tinha manifestado e as tentações no deserto não podem ser tomadas como provas, porque Filho de Deus era um título puramente messiânico. Ficamos, pois, com o suficientemente provado: Tu és o Messias, o Ungido de Deus.
O MANDATO: Então Jesus o repreendeu dizendo: Cala, e sai dele (25). Et comminatus est ei Iesus dicens obmutesce et exi de homine. A ordem de Jesus é dupla: Cala-te primeiro, e logo sai desse homem. A primeira parte corresponde ao segredo messiânico que Marcos respeita quando Jesus cerca seus milagres e sua pessoa ao título de Messias, de modo que não consentia que os demônios falassem, pois sabiam quem ele era (Mc 1, 34). A segunda é a que produz o milagre que todos viram admirados.
A SAÍDA: O espírito, o imundo [sic no grego] o agitou, e havendo gritado com grande som, saiu dele. Et discerpens eum spiritus inmundus et exclamans voce magna exivit ab eo Akathartós é a palavra que os evangélicos traduzem por imundo e os católicos por impuro. O significado próprio é sujo, não limpo [unclean inglês]. Oposto a ele é o espírito ‘agios [divino] (Mc 12, 36) ou espírito de Deus (Mt 12, 28) com o qual Jesus expulsa o demônio. O espírito imundo é substituído por maligno [ponerón] (Lc 7, 21 e 8, 2) ou por espírito de demônio imundo (Lc 4, 37) o espírito de enfermidade (Lc 13, 11). Por vezes esse espírito é descrito pelos efeitos de mudez: espírito mudo de Marcos 9, 17 e 25, o endemoninhado cego (Mt 9, 23) e cego e mudo (Mt 12, 22). Uma outra palavra frequente nos evangelhos [11 vezes] é endemoninhado [daimonizomenos]. Até o quarto evangelho usa a palavra contra Jesus em 10, 21. De tudo isso devemos concluir que nem sempre espírito akathartós significava possessão diabólica mas certo tipo de doenças que não tinham explicação fisiológica e mais correspondia a doenças mentais ou psíquicas. Porém, dentro das mesmas, havia algumas que se atribuíam na época a demônios e que poderíamos chamar de verdadeiras possessões malignas, com maior ou menor influência do anjo do mal ou capeta em termos vulgares. As outras eram, apesar do nome de espíritos, doenças do espírito ou mentais. E com um grande grito, chacoalhando-o em convulsão saiu dele. Lucas, no lugar paralelo, diz que o demônio o lançou no meio e saiu sem causar-lhe mal algum. Sem dúvida que essa forma de se despedir indica raiva e desesperação. É o único consolo que terá o diabo ante o triunfo de Jesus: derrotado não poderá fazer o mal como é seu costume. Exatamente como saiu do menino epilético em Marcos 9, 26, narração que para Mateus e Lucas termina com uma cura simples.
ADMIRAÇÃO DOS PRESENTES: E se admiraram todos de modo a se questionarem entre eles, dizendo: Que é isto, que doutrina esta, a nova, de modo que com autoridade ordena aos espíritos, os imundos, e lhe obedecem? (27). Et mirati sunt omnes ita ut conquirerent inter se dicentes quidnam est hoc quae doctrina haec nova quia in potestate et spiritibus inmundis imperat et oboediunt ei. O assombro dos presentes é duplo: pela doutrina que é nova, sem pretender tirar dela a exposição magistral que também influiria na admiração, pois ele, Jesus, era um simples artesão e não tinha estudos, e logo pela autoridade e comando que tinha dos espíritos imundos que lhe obedeciam. As novidades eram a doutrina e o poder de Jesus. Será o novo mestre da humanidade e o milagre será a confirmação da verdade de sua doutrina, sendo o maior, a sua ressurreição. Por isso dirá Jesus a seus oponentes; Se não acreditais em minhas palavras [e razoamentos] acreditai nas minhas obras (Jo 10, 38). Nestes momentos em que a humanidade não sabe distinguir entre a verdade e a falsidade, entre o bem e o mal, existe uma voz que se deixa ouvir com claridade em ambos os problemas: a do Papa, que é o vigário de Cristo. E existem umas obras que podemos ver como divinas: Os milagres que sempre acompanham a vida dos santos dessa Igreja tão universal que chamamos de Católica.
Pistas:
1) Existe um livro de Francisco Ansón, intitulado Três milagres para o século XXI, em que descreve a tilma de Guadalupe [México, 1531] o milagre do coxo de Calanda [Virgem do Pilar, 1640], e Fátima [1917]. Recomendo a leitura sem prejuízos e sem paixão. É um livro que produz fortes dúvidas nos agnósticos e certezas incontestáveis entre os crentes. Como sempre, se repete a visão de Simeão: Cristo será sempre sinal de contradição (Lc 2, 34).
2) Vemos como a interpretação dos fatos tem sido totalmente diferente segundo os tempos e os avanços da ciência. Que os curados por Jesus eram doentes, ninguém pode duvidar. Ora, as causas das doenças que não são visíveis diretamente, eram atribuídas a espíritos. Hoje temos outras interpretações mais convincentes e lógicas após os descobrimentos científicos correspondentes. Os fatos são reais, a cura é portentosa. Porque tanto faz seja demônio ou loucura. Ninguém, mesmo nos dias de hoje, cura um esquizofrênico repentinamente. O Milagre não é a cura, mas a falta de tempo para se realizar de modo a responder a um comando de forma imediata.
3) A modéstia de Jesus que quer evitar toda publicidade sobre sua pessoa para centrá-la na doutrina e nos ouvintes, contrasta com a publicidade de certos pregadores modernos que apelam aos fatos prodigiosos para enaltecer suas virtudes ou carismas. É lícito proclamar curas para reunir uma multidão ou devemos proclamar Jesus para anunciar a salvação?
4) No mundo moderno, os fatos que levarão os homens à fé serão as obras de caridade. Jesus já o disse: nisso conhecerão que sois meus discípulos: se permanecerdes em minha palavra (Jo 8,31) e reconhecidos como tais, se tiverdes amor uns pelos outros (Jo 13, 35).
5) A impressão de quem estuda a fundo os evangelhos é de que eles formam uma unidade de pensamento que relata uma única vida e que não contradiz o Deus do AT. Não existem contradições ou divergências. E eram quatro os narradores. Tudo o contrário do Al Corão que relata o episódio do bezerro de ouro e também culpa um samaritano pelo mesmo (sura 20, 87) ou que um dos filhos de Noé perecesse no dilúvio (sura 11, 43). Ou quando admite uma exceção sobre o matrimônio, em favor do profeta. Só se permitem 4 mulheres e a ele se permitem até 12.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
25.01.2015
3º Domingo do Tempo Comum — ANO B
( VERDE, GLÓRIA, CREIO – III SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Segui-me e Eu farei de vós pescadores de homens!" __
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A liturgia do 3º Domingo do Tempo Comum propõe-nos a continuação da reflexão iniciada no passado domingo. Recorda, uma vez mais, que Deus ama cada homem e cada mulher e chama-os à vida plena e verdadeira. A resposta do homem ao chamamento de Deus passa por um caminho de conversão pessoal e de identificação com Jesus. A resposta é pessoal, mas o compromisso é comunitário.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Hoje festejamos o nosso padroeiro arquidiocesano, o Apóstolo São Paulo, e também rezamos pela nossa cidade, que completa 461 anos de fundação. Devemos assumir nossa vocação de testemunhar nesta cidade tão cheia de contrastes e carências, o amor de Deus, que constrói a paz.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A liturgia do 3º Domingo do Tempo Comum propõe-nos a continuação da reflexão iniciada no passado domingo. Recorda, uma vez mais, que Deus ama cada homem e cada mulher e chama-os à vida plena e verdadeira. A resposta do homem ao chamamento de Deus passa por um caminho de conversão pessoal e de identificação com Jesus. A resposta é pessoal, mas o compromisso é comunitário.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Jonas 3,1-5.10): - "Através da história do envio do profeta Jonas a pregar a conversão, vemos como o povo responde ao chamado."
SALMO RESPONSORIAL 24(25): - "Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos, Vossa verdade me oriente e me conduza."
SEGUNDA LEITURA (1 Coríntios 7,29-31): - "O cristão deve ter consciência de que "o tempo é breve". Deus nos convida a viver com o olhar no mundo futuro – quer dizer, a dar prioridade aos valores eternos."
EVANGELHO (Marcos 1,14-20): - "O Evangelho de hoje nos mostra o convite que Jesus faz a toda a humanidade para se tornarem seus discípulos e para integrarem a sua comunidade."
Homilia do Diácono José da Cruz – 3º Domingo do Tempo Comum
"Na ínfima Galiléia começa algo novo para a humanidade"
Longe dos Palácios dos Poderosos do Império Romano, e do sistema religioso centralizado no Templo de Jerusalém, sem nenhuma comunicação prévia aos Escribas, Doutores da Lei e outros homens importantes da Comunidade Judaica, lá na desprezível Galiléia dos pagãos algo de totalmente novo começa a acontecer depois que João foi preso... Quanta ingenuidade dos poderosos achando que prendendo João Batista iriam calar a voz de Deus...
Sai de cena alguém que era somente uma voz do deserto, para entrar na vida pública aquele que é o próprio Verbo Encarnado, não foram os homens que interromperam a chegada do Reino de Deus anunciado por João, mas foi a vontade de Deus que fez chegar o tempo oportuno que havia se completado, de agora em diante Deus não mandará avisos, Ele próprio vai falar e tornar-se caminheiro junto ao seu povo...
Um projeto grandioso como esse, o único, verdadeiro e mais importante para toda humanidade, começa na Galiléia, Deus não se alia aos poderosos para fazer o Reino acontecer, mas busca os mais fracos e desprezíveis, que esperam por algo novo e guardam no coração a esperança de uma mudança para melhor, mas que só dependa de Deus, seu desígnio e sua iniciativa.
A Igreja de Cristo não pode querer construir o reino fazendo parceria com Instituições poderosas, pois o Reino não depende de nenhum poder humano, nem de algum sistema econômico ou ideologia política partidária, mesmo porque, no sistema conhecido como Padroado, Igreja e estado caminhavam juntos no poder, dentro de um imperialismo que só atrasou a Missão da Igreja de Evangelizar.
É essa a verdadeira e sincera conversão, romper com todo e qualquer sistema que queira manipular o homem e ser o Dono da Vida, o Homem é Filho de Deus e a Vida um dom que pertence unicamente a ele. Conversão é mudança de mentalidade e de atitude, uma volta e uma busca permanente de Deus a única Fonte de Vida. Os primeiros seguidores de Jesus eram simples pescadores, considerados impuros diante do sistema religioso juntamente com outras categorias marginalizadas e desprezadas.
Eles conhecem Jesus, ouvem suas palavras e a sua proposta de darem uma "guinada de 90 graus" em suas vidas e aceitam com sinceridade de coração. Não foram arrebatados dentro do templo, não entraram em êxtase em uma espécie de encantamento, mas Jesus de Nazaré os procurou em seu ambiente de trabalho, na labuta diária, com as mãos cheirando peixe.
Impactados pelo anúncio de Jesus, não pediram um tempo para pensarem n o assunto, afinal, deixar para trás trabalho e família, não é coisa que se possa fazer da noite para o dia... Mas o nosso evangelho, que não é uma reportagem jornalística, apenas quer nos mostrar a urgência que devemos ter ao responder o Senhor que nos chama para algo novo. Em nossa labuta diária, através de pessoas e acontecimentos Jesus continua a nos chamar, Ele poderia, de maneira violenta nos arrebatar e invadir a nossa vida, mas com a humildade de sempre, m manifestada na sua encarnação, vida, paixão e morte na cruz, nos faz uma proposta e um convite...
Afinemos bem os nossos ouvidos e o nosso coração, e não percamos mais tempo, vamos responder com generosidade a este chamado, como fizeram aqueles primeiros discípulos, que deixando tudo para trás, o seguiram...
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 3º Domingo do Tempo Comum
“Qual é a minha vocação?”
“Vinde após mim; eu vos farei pescadores de homens” (Mc 1,17). Estamos ainda no mês de janeiro e, graças a bondade de Deus e a sabedoria da nossa Mãe Igreja, estamos meditando nesses primeiros domingos alguns temas importantíssimos na configuração da própria vida cristã. Hoje o Evangelho nos leva a fazer oração sobre a realidade da vocação.
Deus chamou a cada um de nós – leigos, sacerdotes, religiosos – para sermos pescadores de homens. Sendo isso verdade, não nos esqueçamos de que antes de sermos pescadores nós fomos pescados pelo Senhor. E isso tem uma importância enorme: considerar-se pescado pelo Senhor é saber-se na mesma barca de Cristo governada visivelmente pelo sucessor de Pedro e que navega rumo à eternidade, à santidade, à felicidade. Todos e cada um de nós, ao considerarmo-nos pescados por Cristo, somos conscientes de que a Igreja vai adiante também com a nossa santidade pessoal. Sem dúvida, a Igreja é indefectível, isto é, chegará à escatologia, será fiel até o fim; mas nós, que também somos Igreja, precisamos ser fiéis de verdade, ou seja, santos. O primeiro chamado que Deus nos dirigiu foi a vocação à santidade, chamou-nos desta maneira: “vinde após mim”. Estas palavras significam discipulado, seguimento, imitação fiel, santidade!
Na Igreja todos temos vocação: a universal, à santidade; outra, específica. Esta vocação específica nada mais é que a maneira concreta de realizarmos a vocação universal à santidade: uns se santificarão como leigos no meio do mundo, levando todas as coisas a Deus desde dentro das mesmas realidades temporais; outros, santificar-se-ão através do ministério sacerdotal, no qual se dedicarão inteiramente ao serviço dos seus demais irmãos na fé ministrando-lhes a Palavra de Deus e os Sacramentos da fé, governando o Povo de Deus com a autoridade do próprio Cristo; outros, finalmente, encontram o seu caminho de santidade na vida consagrada através dos conselhos evangélicos de pobreza, obediência e castidade vividos em comunidade e como sinal da vida eterna presente no meio de nós. Em cada uma dessas vocações se deve viver o seguimento do Senhor: vinde após mim! Segue-me com o teu amor e a tua fidelidade!
A vocação é uma realidade norteadora de toda a nossa vida. Quem tem uma meta sente-se motivado a procurar determinados meios para conseguir o objetivo vocacional. Para cada cristão é capital saber o chamado específico que Deus lhe faz: qual é a minha vocação? Pergunta-se a filha ou o filho de Deus interessado no cumprimento da vontade amorosa do seu Pai do céu.
Nesse sentido, é muito importante que os pais ajudem os seus filhos a descobrirem a própria vocação. Uma vez descoberta a vontade do Senhor para um dos seus, os pais devem respeitar o caminho que o Senhor escolheu para eles e que eles aceitaram livremente para a glória de Deus, o bem dos outros e a consecução da própria felicidade. Neste sentido, é interessante notar o fato de que Zebedeu, pai de João e de Tiago, que contava com a ajuda de seus filhos no ofício de pescadores, não os impediu de seguirem Jesus. Gosto de pensar em Zebedeu como um homem bom que, apesar das próprias necessidades laborais, entendia que os seus filhos iam estar muito bem na companhia do Messias, de Jesus Cristo. Também a mulher de Zebedeu será contada entre o grupo daquelas mulheres piedosas que seguiram o Cristo (cf. Mt 27,56).
Ajudados ou não pelos pais, cada pessoa deve sentir-se responsável diante de Deus pela resposta que lhe dá ao chamado feito para segui-lo. Cada um é responsável pela própria vocação e ninguém o substitui na resposta e na conservação do chamado. A grande maioria da juventude será chamada para a vocação laical e matrimonial; alguns serão chamados à entrega a Deus no celibato apostólico. Destes últimos, uns permanecerão no estado laical, outros receberão o sacramento da ordem, outros ainda se dedicarão ao Senhor na vida religiosa. No dia de hoje, vamos pedir ao Senhor que muitos jovens descubram a sua vocação, o sentido das suas vidas, o encanto do seu existir.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 3º Domingo do Tempo Comum - Ano B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (1 Cor 7, 29-31)
INTRODUÇÃO: Estamos num contexto moral em que Paulo responde a umas questões como é o matrimônio, especialmente se misto (7, 12-17). Respondendo uma carta, Paulo prefere a virgindade, mas declara que o matrimônio não é ilícito. E termina que o tempo de vida é tão efêmero que o melhor é usar das coisas como se não fossem eternas, mas caducas, esperando sempre pelo que será definitivo.
A LIMITAÇÃO DAS COISAS: Pois isto vos digo, irmãos, a oportunidade limitada. O resto é para que também os que têm mulheres sejam como se não tivessem (29). Hoc itaque dico fratres tempus breve est reliquum est ut qui habent uxores tamquam non habentes sint. OPORTUNIDADE [kairos<2540>=tempus] entre os diversos significados de um período de tempo está o de tempo oportuno, o tempo certo, o tempo devido, como em Mt 24, 45: Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o seu senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a seu tempo? Como tempo favorável temos At 24:25: E, tratando ele (Paulo) da justiça, e da temperança, e do juízo vindouro, Félix, espavorido, respondeu: Por agora vai-te, e em tendo oportunidade te chamarei. Aqui no versículo atual, o tempo de que fala Paulo é o tempo anterior à segunda vinda de Cristo. Esta esperança da vinda do Senhor Jesus, como triunfante de seus inimigos, era a expectativa comum de todas as primitivas comunidades. O fundamento era a profecia de Jesus da destruição de Jerusalém e do templo. Para um judeu isso era o fim. E o novo mundo seria o definitivo. Não uma era diferente, mas um mundo novo, em que o mal fosse totalmente aniquilado assim como os inimigos de Cristo. Era o fim do final último. Hoje sabemos distinguir perfeitamente entre o fim de um tempo ou época, como era o fim de Jerusalém, e o fim escatológico do mundo que ainda está para se realizar. Vejamos alguns textos. Rm 13, 11: E isto digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé. Esse fim será também para Pedro o do mundo: Já está próximo o fim de todas as coisas; portanto, sede sóbrios e vigiai em oração (1 Pd 4, 7). Diante de semelhante proximidade, a procriação que era o modo de perpetuar-se de um homem não tinha muito sentido. Por isso, acrescenta Paulo: os que têm mulheres sejam como se não tivessem. Embora dentro dessa proximidade o próprio Pedro tenha que afirmar que o tempo do Senhor é diferente do tempo nosso: não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia (2 Pd 3, 8). Somente o que retarda esse fim prometido é a paciência divina que espera a conversão do pecador: O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânime para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se (2 Pd 3,9).
COM DESAPEGO: E os plangentes como não plangentes; e os que se alegram como se não estivessem alegres; e os compradores como se não fossem possuidores (30). Et qui flent tamquam non flentes et qui gaudent tamquam non gaudentes et qui emunt tamquam non possidentes. Paulo continua batendo na mesma tecla da brevidade e precariedade do tempo a disposição do homem. A dor como a alegria passam rapidamente e assim receita um remédio fácil e universal: quem chora por um familiar morto não se desespere. Pois é tão breve o tempo que nos separa do mesmo que é como se não tivesse morto. A despedida é como quem diz boa noite para se encontrar no dia seguinte. A palavra que temos traduzido por PLANGENTES [klaiontes <2799>=flentes] é o particípio presente do verbo klaiö com o significado de chorar ou derramar lágrimas. Usado por Mateus em 2, 18: Em Ramá se ouviu uma voz, Lamentação, choro e grande pranto: Raquel chorando [klaiousa] os seus filhos. Sempre o choro é por uma dor que tem como causa uma perda material ou espiritual. Daí o choro [klauthmos, da mesma raiz] pela perda de uma filha em Mc 5, 38; ou a perda do reino em que encontramos a frase tão repetida (6 vezes) em Mateus: haverá pranto [klauthmos] e ranger de dentes (8, 12). Também a alegria não deve ser motivo absoluto na vida. COMPRADORES [agorazontes<59>=ementes]. Parece um pouco fora de lugar esta frase. Mas a compra sempre enriquece o comprador e é precisamente essa riqueza que Paulo rejeita como coisa definitiva, segundo o que diz Jesus: Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam (Mt 6, 19). É, pois, nessa base da caducidade das tristezas e bens terrenos que Paulo argumenta suas razões para não se deixar dominar por coisas efêmeras e transitórias. Já o afirmava Tiago na sua epístola: o rico passará como a flor da erva (1, 10), sendo a vida como um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece (4,14).
A APARÊNCIA DO MUNDO: E os usantes deste mundo como não utilizantes; porque passa a aparência deste mundo (31). Et qui utuntur hoc mundo tamquam non utantur praeterit enim figura huius mundi. USANTES [chrömenoi<5530>=qui utuntur] particípio do verbo chraomai com o significado de usar, fazer uso de, empregar, abusar, como no caso de Paulo em 1 Cor 9,18: Logo, que prêmio tenho? Que, evangelizando, proponha de graça o evangelho de Cristo para não abusar do meu poder no evangelho. Porém o mais usual é o simples uso de, como em 1 Cor 9, 12: Temos o direito de participar dos vossos bens…..Mas nunca quisemos fazer uso desse direito. Confirma o uso da narração do naufrágio em que levado este (o bote) para cima, usaram de todos os meios, cingindo o navio (At 27, 17). Devemos, pois, segundo Paulo, usar dos bens deste mundo, sem pretender ser donos dos mesmos; porque a aparência do mesmo é transitória. APARÊNCIA [schëma<4976>=figura] é o que é visto como exterior de uma pessoa: sua figura, sua maneira de atuar. Além deste versículo, schëma sai unicamente outra vez em Fp 2, 8 falando sobre a humanidade de Cristo: Achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Definitivamente Paulo tem também a ideia de que o mundo seria transformado, como diz Pedro, que assim como pereceu o mundo de então (tempos de Noé), coberto com as águas do dilúvio, (2 Pd 3,6), do mesmo modo o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão (idem 2, 10). Também podemos falar, sem pensar escatologicamente, do fim de cada vida individual em que já o mundo desaparecerá para cada homem no momento de sua morte.
EVANGELHO (Mc 1, 14-20) (paralelos: Mt 4, 12-22 e Lc 5, 1-11)
VOCAÇÃO APOSTÓLICA
INTRODUÇÃO: O texto tem duas seções diferentes: A primeira é a proclamação do Reino por Jesus, em pessoa. A segunda é a eleição dos 4 primeiros discípulos, chamados por parte de Jesus. O Reino sintetiza-se na pessoa e mensagem do próprio Jesus. Se aceita e se entra no reino, quando a palavra de Jesus se torna vida. Da mentalidade do AT que estava centrada na Lei Mosaica, na circuncisão, no templo, na pureza externa e no sábado, agora a justiça [a correção e bondade] do reino está na fé, na verdade de Jesus como Rei, na vida do seu mandato de amor, na graça de Deus Pai e na paz entre os irmãos, sem distinção de etnias entre judeus e gregos. Todos os povos são chamados e todos estão unidos na humanidade de Jesus. Este não era unicamente um profeta, a voz de Deus, mas todo ele era a vida de Deus conosco, o Emanuel; porque sua humanidade foi assumida na pessoa do Verbo. Como homem, Jesus era limitado no tempo e no espaço, e por isso era necessário que sua eficiência como voz e como pessoa fosse prolongada em outros homens que seriam os discípulos. Estes prolongariam a presença visível de Jesus, desde que nos entregassem suas palavras e operassem seu ministério de perdão na Nova Aliança.
O PREGOEIRO: Depois, portanto, de ter sido entregue João, Jesus veio para a Galileia proclamando o evangelho do Reino de(o) Deus (14). E dizendo que está cumprido o tempo [kairós] e tem-se aproximado o Reino de(o) Deus. Arrependei-vos [metanoeite] e crede no evangelho (15). Postquam autem traditus est Iohannes venit Iesus in Galilaeam praedicans evangelium regni Dei. et dicens quoniam impletum est tempus et adpropinquavit regnum Dei paenitemini et credite evangelio Após a prisão do Batista, que Marcos narra como sendo uma entrega, uma traição, Jesus se retira para a Galileia. Quem entregou o Batista a Herodes Antipas? A entrega foi uma denúncia, ou a polícia da Decápolis o arrestou e o entregou a Antipas? Não o sabemos. Mas a animosidade de Herodíades dá motivo para pensar que houve uma conspiração para calar uma boca que era molesta, precisamente pela verdade que proclamava. A mesma razão dá Mateus, que diz que Jesus, por causa de ouvir que João fora entregue se retirou para a Galileia (Mt 4, 12). A questão que surge é por que razão Jesus que, segundo Marcos e Mateus, estava na Judeia, território não sujeito a Herodes Antipas, agora se mete na boca do lobo como dizem, pois Galileia era o território de Herodes. Talvez seja tudo, como dizem os modernos, questão de redação. A frase inicial tem o sentido de logo, ou depois que, uma introdução temporal, para indicar que Jesus respeitou o tempo do Batista e só iniciou seu tempo após o fim do profeta. É uma delicadeza de quem era superior, esperar o tempo do seu profeta para iniciar o seu, de pregador. Retirado o apresentador, Jesus entra em cena com uma nova proclama: o evangelho como Boa Notícia e não como o dia da ira de Jahveh. Mas também para este ano de graça é necessária a conversão, para a nova justiça [righteousnes=retidão] do Reino do Deus verdadeiro, que nós podemos traduzir como Deus em maiúscula, para manter o grego original. EUAGGELION: A palavra grega é composta de dois vocábulos gregos: eu [bom] e aggelos [mensageiro]. Evangelho significava originalmente a recompensa dada por uma boa notícia. Biblicamente no NT está sempre unida a uma notícia de origem messiânica, que podemos traduzir por novas que causam alegria. O evangelho é uma noticia alegre (Lc 1, 15) ou um grande júbilo (Lc 2, 10). Em Marcos, a palavra evangelho sai 5 vezes, 1 como evangelho de Jesus Cristo (1, 1), 2 vezes como evangelho do Reino de Deus ou simplesmente evangelho (5 vezes). Em Mateus, aparece como evangelho do Reino (3) ou simplesmente evangelho (1). Em Lucas, não se encontra evangelho, mas o verbo evangelizar (10 vezes), dos quais 3 com o objetivo do Reino de Deus. Tanto o verbo como o substantivo, não aparecem em João. Como estamos comentando Marcos, vemos como a palavra evangelho está diretamente conectada com a missão de Jesus. Deixando à parte o evangelho de Jesus Cristo de 1, 1, que realmente é uma recopilação do evangelista, parece que o Reino é o objetivo da boa nova ou notícia. É esse reino de Deus, que Jesus pede que venha na oração por excelência, o Pai Nosso, e que Mateus completa magistralmente com o parêntese de faça-se tua vontade na terra, assim como ela é absoluta nos céus. Conclusão: para entrar no Reino é preciso fazer a vontade do Pai, e esse desejo anterior ao nosso de felicidade [negar-se a si mesmo (Mt 16, 24)], constitui a base da METÂNOIA que Jesus prega. Unicamente, pois, aquele que faz a vontade do Pai é que pode ser chamado verdadeiramente irmão de Jesus (Mt 12, 50) e filho, portanto, de Deus, a quem ama e serve como Pai. Perguntará alguém: E qual é a vontade do Pai? Pois responderemos com a boa nova: Quem vê o Filho e nele crê, tem a vida eterna e ressuscitará no último dia (Jo 6, 40), coisa que confirma em 7, 17: Se alguém quer cumprir sua vontade, reconhecerá se minha doutrina é de Deus ou se falo por mim mesmo. No mundo atual, esta fé é tanto mais perseguida do que era nos tempos da primitiva Igreja e deve ter um valor primordial na vida dos que se intitulam discípulos de Jesus. Ou seja, existe uma entrada no Reino que depende de aceitar Jesus como Filho do Pai, e dessa aceitação depende a vida eterna. Jesus proclama: crede no evangelho. Com o qual completa a pregação do Batista que era só de metânoia. A entrada é gratuita e só necessita a fé; isto é, depende de aceitar Jesus como Filho de Deus e, dessa situação, depende a nossa nova família que será eterna (Mt 12, 50). Porém, Paulo afirmará que a fé não basta e os que praticam as obras da carne não herdarão o Reino de Deus (Gl 5, 21). Essas obras da carne ele as descreve nos versículos 19-20. Em definitivo: entra-se no Reino pela fé; mas essa fé deve ser demonstrada e realizada nas obras (Tg 2, 22). KAIRÓS: Em grego se distingue perfeitamente entre chronos [tempo] e kairós [oportunidade]. Aliás, este último nem é tempo na sua acepção original, mas justa medida, ocasião, coisa conveniente, oportunidade. Com essa palavra, o evangelista quer indicar que o Reino irrompe como uma ocasião única [parábola da pérola] que não pode ser desperdiçada. A própria palavra eggiken [se acercou, está às portas] indica que não existe muito tempo para deliberar ou esperar. A decisão deve ser imediata: conversão e fé na palavra que anuncia a nova era. Para mais detalhes, ver Exegese no 116 de Presbiteros.com.br no comentário de Mc 1, 1-8. Não cremos que exista motivo para traduzir acabou-se o prazo, isto é: o tempo do AT e suas instituições; pois temos um novo eon que é o reinado de Deus, como se o AT não estivesse sob o comando de Deus. Mas a verdadeira tradução é: Tem chegado a oportunidade.
O PASSEIO: Andando, pois, junto ao mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, lançando a tarrafa no mar, pois eram pescadores (16). Et praeteriens secus mare Galilaeae vidit Simonem et Andream fratrem eius mittentes retia in mare erant enim piscatores. O MAR DA GALILEIA: Na realidade é um lago de água doce vinda das fontes do Jordão. Antes do lago, ou mar, também chamado de Genesareth, temos um outro lago, ao norte, de nome El-Huleh, unido ao nosso mar pelo pequeno Jordão. O nosso lago recebeu nos tempos de Antipas e de Tibério o nome de mar de Tiberíades [do imperador], nome com o qual o apresenta unicamente o quarto evangelho (Jo 6,1 e 21, 1). Evangelho que é mais correto no que diz respeito aos nomes geográficos e históricos da época. O nosso lago é de água doce e está situado a 210 m sob o nível do mar Mediterrâneo, tendo a forma de uma lira, com profundidade máxima de 48 m, comprimento de 21 Km e largura de 12 Km. Devido ao calor de suas águas, é abundante em peixes e as tempestades são frequentes, formando-se em menos de meia hora, com ondas de até 2 m de altura, do quais os evangelhos são testemunhas (Mt 8, 24). Junto ao lago, estava Betsaida que, em aramaico, significa casa de pesca. Era a Betsaida que o tetrarca Filipe engrandeceu até formar uma cidade ao leste do Jordão, a que chamou Júlia, do nome da filha de Augusto, onde teve lugar a multiplicação dos cinco mil pães (Lc 9, 10) e a cura do cego (Mc 8, 22). Foi a cidade onde nasceram Pedro, André e Filipe. Cafarnaum [aldeia da consolação segundo alguns, e aldeia formosa segundo outros] era uma vila ao noroeste do lago e onde se encontrava a casa de Pedro. No período de máximo esplendor, cobria uma área de 4 hectares e meio [uma hectare é 10 mil m2,, equivalente a campo e meio de futebol]. Calcula-se que então tivesse uma população aproximada de 1800 pessoas. Mas esta Cafarnaum é dos tempos bizantinos. No tempo de Jesus, teria unicamente algumas centenas de habitantes, não superando os 500. Jesus fez da cidade sua morada habitual, até que os habitantes da mesma, por instigação dos fariseus, o rejeitaram e obrigaram Jesus a deixar a cidade, imprecando sobre ela as suas deslealdades (Mt 11, 23). Corozaim se considera que seja Tell Khirbet Kerexah a 4 Km ao noroeste de Cafarnaum. Talvez seja esta a cidade de Corozaim da qual nada mais conhecemos. Estas três cidades terminaram desaparecendo na História e suas localizações permaneceram desconhecidas por séculos. Sua desaparição foi em cumprimento da profecia de Jesus (Mt 11, 21-24). Magdala [torre] era outro lugar com grande número de barcos de pesca. Talvez seja o Migdael de Josué 19, 38 que pertencia à tribo de Neftali. Segundo Mt 15, 39, após a segunda multiplicação dos pães, Jesus veio com seus apóstolos à região de Maedan que muitos códices traduzem por Mgdala. O Talmud distingue entre o Magdala do leste, perto de Gadar [atual Mukes] e o Magdala do oeste, perto de Tiberíades, distante desta cinco quilômetros e que é chamada de Magdala Nunaya [Magdala dos peixes]. Esta última era uma cidade rica e foi destruída pelos romanos. Seu nome grego foi Tariqueia, que significa salga ou salgadura em grego. O sal era abundante na Palestina, extraído puro, principalmente das salinas, perto do Mar Morto. Era o sal de Sodoma. Tendo sal e peixes em abundância, a indústria da salgação era uma forma de vida habitual na região. A bíblia menciona uma vez a salga de um peixe em Tobias 6, 6. Mas sabemos que os judeus comiam muito peixe seco e salgado como vemos na multiplicação dos pães em Mt 14, 17. Comiam os peixes salgados até em Jerusalém, onde existia a porta dos peixes que tomava seu nome de um mercado de peixes [necessariamente salgados] perto dali. Da Palestina se exportavam sal e peixe a todo o mundo. Pedro e seus companheiros, pescadores eram, sem dúvida, provedores de matéria prima para as salgadeiras de Tariqueia. Tiberíades se tornou a capital da Galileia no reinado de Antipas, que a fundou no tempo de Tibério, no ano 18 quando Jesus teria 25 anos. Localizada no lugar de um antigo cemitério, as prescrições legais impediam aos judeus de a habitarem. Antipas viu-se obrigado a levar para ela colonos à força: moradores dos arredores, mendigos, aventureiros, escravos libertados, etc. (ver a parábola do banquete real em Mt 22). A cidade não tinha mais de 5 km de circunferência. Quando começou a revolta do ano 66, a maioria da população era de judeus, principalmente de pescadores, e se rendeu sem luta aos romanos, e obteve o privilégio de estar habitada unicamente por judeus, com exclusão de pagãos e cristãos. Na sexta centúria, a escola de Tiberíades inventou a Massorá, fixando o texto hebreu de Bíblia em hebraico, acrescentando as vogais ao mesmo.
O CHAMADO: Então disse-lhes Jesus:vinde após mim e vos farei ser pescadores de homens(17). E imediatamente, tendo deixado as suas redes, o seguiram (18). Et dixit eis Iesus venite post me et faciam vos fieri piscatores hominum. Et protinus relictis retibus secuti sunt eum VINDE APÓS MIM: Com estas palavras Jesus torna os chamados por Ele, discípulos. Naquela época, os discípulos dos mestres (Rabi) de Israel, moravam junto com estes últimos. De sua convivência, resultavam lições muito mais proveitosas que de suas palavras. A Jesus seguiram as turbas como ouvintes e como discípulos. Discípulo [mathêtês grego] é aquele que ouve a palavra com agrado e que a retém; e, portanto, nele é causa de frutos de salvação. A palavra mathêtês, [discípulo] derivada de matheuô [aprender] é aquele que aprende de um mestre. A palavra aparece 250 vezes nos Evangelhos e Atos. O discípulo, porém, mais do que aprender teoricamente, segue, obedece e se compromete com o mestre. Logo exige muito mais do que um assentimento intelectual. O centro de interesse do discípulo é o Mestre, Jesus, sua pessoa e sua autoridade (Mt 11, 29 e Ef 4, 20). O antigo Magister dixit [o mestre disse], se transforma em Magister imperat [o mestre comanda]. Sua palavra é definitiva, máxime que ele é divino na sua atuação e nos seus ensinamentos, e que a sua vida é um espelho da qual deve ser também a vida do discípulo (Lc 14, 27). Daí que o discípulo se torna testemunha dos ditos e situações do mestre, como magistralmente Jesus ressuscitado ensina aos onze na última lição de sua vida terrena e visível (Lc 24, 48). É fácil deduzir que se os evangelhos têm sido escritos como memória desses discípulos, eles nos oferecem o ensino de Jesus de um modo quase literal, como sucede numa gravação eletrônica. Já a palavra APÓSTOLO significa enviado. Os evangelhos sinóticos (Marcos, Mateus e Lucas) trazem a lista dos doze apóstolos dividida em 3 seções de 4, e cada uma encabeçada sempre com os mesmos nomes: Simão, Filipe e Tiago de Alfeu. Todos eles foram escolhidos pelo Senhor, após uma noite de oração (Lc 6, 12). Jesus constituiu 12 [o número das tribos de Israel] para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar e terem autoridade para expulsar os demônios (Mc 3, 14-15). A principal missão de um apóstolo é a evangelização. Por isso, Paulo se considera apóstolo (Gl 1, 1), embora não tivesse conhecido Jesus na carne. Já em vida, Jesus enviou os doze a proclamar o Reino de Deus e a curar (Lc 9, 1). Com a mesma missão enviou outros 72 discípulos [era o número tradicional das nações pagãs] (Lc 10, 1+). Para se tornar apóstolo, um discípulo devia ter acompanhado Jesus desde seu batismo por João, até o dia em que foi arrebatado (At 1, 21-22). Tal foi o caso de Matias, incluído no lugar de Judas, o traidor. Ou seja, um apóstolo era precisamente uma testemunha, tanto da doutrina como principalmente da ressurreição de Jesus (At 1, 22). No evangelho do domingo anterior, temos visto como foi o primeiro contato de Jesus com André, Pedro, Filipe, Natanael e um outro discípulo do Batista que, sem dúvida, passou a formar parte dos novos discípulos de Jesus (Jo 1, 25-32). Natanael é o nome próprio e Bartolomeu é o nome familiar ou sobrenome. Por isso, a maioria dos intérpretes concordam em que os dois nomes designam a mesma pessoa, que os sinóticos preferem chamar pelo sobrenome e João escolhe chamá-lo pelo nome, que significa dom de Deus. O relato de João é o encontro de determinadas pessoas com Jesus. Mas o relato dos sinóticos é a narração de uma escolha e eleição que se origina no próprio Jesus. É Jesus quem os escolherá definitiva e livremente de modo que, os assim escolhidos, deixarão tudo para o seguirem totalmente.
DISCÍPULOS DO BATISTA: Na seleção dos primeiros discípulos de Jesus, todos eles, ao que parece, eram discípulos de João, o Batista. Chama a atenção que alguns dos nomes sejam gregos: André, Filipe. Isso quer dizer que estamos ante uma sociedade mista como a descrita por Mateus, a Galileia das Nações [isto é, dos gentios] (4, 15). Desde o início, Jesus quer seguir a profecia de Simeão: seria luz para a revelação dos gentios e glória de Israel, seu povo (Lc 2, 32). Naquela época, os discípulos dos mestres (Rabi) de Israel moravam junto com estes últimos. De sua convivência resultavam lições muito mais proveitosas que de suas palavras. Eram às 4 da tarde quando André e outro discípulo de João seguem Jesus. Com este passam a noite e de manhã é quando André revela a Simão, seu irmão, que tinham encontrado o Messias. No encontro com Jesus, Simão muda de nome e quem impõe o novo nome como se fosse seu pai, ou melhor, exercendo um atributo divino: Chamar-se-á Kefas, Rocha. Mateus também traz esta mudança de nome, na ocasião em que Simão reconheceu a missão de Jesus como sendo o Messias (Mt 16, 18).
OUTROS DOIS: E tendo ido adiante um pouco viu Jacob, o do Zebedeu e João seu irmão e eles na barca consertando as redes (19). E imediatamente os chamou; e, tendo abandonado o seu pai, Zebedeu no barco com os assalariados foram depois dele (20). Et progressus inde pusillum vidit Iacobum Zebedaei et Iohannem fratrem eius et ipsos in navi conponentes retia. Et statim vocavit illos et relicto patre suo Zebedaeo in navi cum mercennariis secuti sunt eum. O texto grego usa uma palavra para rede dificilmente traduzida às outras línguas. É diktion um termo geral para rede, que aqui se usa em plural. Na realidade, em grego temos: Amfiblëstron, [tarrafa], sagënë [de arrastão] e diktion [rede em geral], que é a usada aqui. João, o quarto evangelista fala de ploiarion [pequeno barco] em 6, 22 e 21, 8, que pode ser traduzido por barca, ou navícula em latim, e Mateus distingue entre tarrafa (4, 12) e rede de arrastão (13, 47). JACOB: nome hebraico que em português é traduzido por Tiago [o inglês James, derivado de Jacomus francês do baixo latim] e que significa suplantador, do Jacó, o irmão de Esaú e pai das doze tribos. O nome de Tiago provém de Sancti Jacobi apocopado em Santiago; e, retirado o San, temos o Tiago, com que é conhecido. JOÃO [Javé favoreceu] é o apóstolo preferido do Senhor, segundo a tradição. ZEBEDEU, forma grega de Zebadaias [meu presente], esposo de Salomé [perfeita], que pede em Mt 20, 29 os primeiros postos para seus filhos. Razão não faltava, pois o pai era de posição de classe média alta, pois tinha operários às suas ordens (Mc 1, 20) e até relacionado com o Sumo Pontífice (Jo 18, 15). Uma velha tradição fala também de Salomé como parente de Maria.
EXCURSUS
Existem umas diferenças notáveis entre os sinóticos e o 40 evangelho sobre a vocação ao apostolado dos primeiros discípulos. João fala de que Jesus encontrou em Betabara [Decápolis] ou Betânia [Pereia] discípulos do Batista como vimos no domingo anterior. Já os sinóticos realizam essa escolha no mar da Galileia, quando os que seriam pescadores de homens, abandonam barco e rede de pesca para seguir Jesus. Sem dúvida, que João é o mais exato em seu relato, já que parece ser uma testemunha do fato, indicando até a hora (4 da tarde). Por que, pois, a diferença? Houve um segundo chamado que podemos considerar como definitivo? Em primeiro lugar devemos entender que os relatos evangélicos [não os ditos] não são exatos, mas têm muito de redacionais, e nessa redação existe uma alta percentagem de intencionalidade. Encontrar esta é saber a razão do relato como exemplo e moral de uma história. No caso, querer transformar pescadores de peixes em pescadores de homens, para mostrar que não era importante a humilde condição dos apóstolos para dar crédito aos mesmos. Mas para João, tardio em seu evangelho, e em circunstâncias diferentes, quando encontra ainda discípulos do Batista que nele acreditavam, o caso é mostrar como, desde o início, os discípulos de João o abandonam e, de seu 10 mestre passam a ser apóstolos de Jesus, com o qual, nem o Batista é diminuído, nem a figura de Jesus pode ser vista como igual no plano da salvação. Pois há uma continuação necessária entre o discipulado de João e o de Jesus. Talvez fosse esta forma de narrar do quarto evangelista, uma maneira de dizer aos discípulos do Batista, ainda existentes na época, que deviam mudar de mestre e que era Jesus o apontado pelo Batista como quem devia vir e se tornar primeiro antes dele. Em segundo lugar, existe uma outra razão: Os pescadores eram considerados como de segunda classe entre os judeus. João escreve seu evangelho para os judeus de Jerusalém. Não era conveniente exaltar um fato que dificultava a fé inicial, devido aos costumes contrários da época. Por isso, das 6 vezes que sai a palavra pescador, João não a emprega nunca. Até quando devem tomar o barco para voltar a Cafarnaum, o evangelista disse que subiram num barco. Somente no apêndice do capítulo 21 é que sabemos que Pedro sabia pescar (Jo 21, 3) e com ele uma parte substancial dos apóstolos. Para nós, o ofício de Pedro e dos primeiros apóstolos é indiferente, mas para os antigos cristãos provenientes do judaísmo, era uma questão importante. Sempre poderemos pensar que Jesus escolheu o lixo do mundo para confundir a sabedoria dos sábios (1 Cor 1,18 + e 4, 9+).
PISTAS:
1) Jesus se apresenta como um continuador do Batista, que era profeta do AT. Só que, agora, a pregação de Jesus adquire dois pontos importantes: 10 ) O novo reino não é um juízo, como pensava o Batista (Mt 3, 12), mas uma Boa Nova, uma grande alegria, daí o evangelho. 20) Pede fé nas suas palavras num mundo desconfiado e descrente de possibilidades que não fossem para o triunfo do mal. Esse mesmo é o dever da Igreja de hoje: Se não somos eco das palavras de Jesus, não podemos afirmar nosso discipulado, pois não existe discípulo superior a seu mestre (Mt 10, 24).
2) A fé na palavra é precedida da conversão. É preciso abrir a mente e, sobretudo, libertar o coração para escutar as palavras de Jesus com o máximo proveito. Enquanto os fariseus as rejeitavam por não concordar com seus sentimentos e desejos, pescadores humildes aceitam a conversão na pregação do Batista e a obedecem de imediato na voz de Jesus.
3) Se tivéssemos perguntado aos conterrâneos de Jesus, que pessoas do seu tempo, estavam mais preparadas para receber e poder anunciar a palavra de Deus, escolheriam os Rabis e Grammateoi [doutores], abundantes entre os fariseus. De rejeitar, seriam os pastores e pescadores, como os mais ineptos e incompetentes. Deus sabe como escolher, quando seu evangelho está dirigido com mais propriedade aos humildes da terra, os anowim do AT.
4) A conversão-fé-vocação é o trinômio próprio de todo cristão que toma a presença de Jesus como importante em sua vida. Que devemos fazer? – perguntavam as turbas ao Batista. E ele respondia assim: Quem tem duas túnicas dê uma a quem nada tem. A conversão do bolso –dizia um velho sacerdote – é a única que podemos comprovar como verdadeira.
5) Vemos pela História, como Jesus escolheu vilas sem importância, para a sua primeira apresentação pública. Como, o fato de que alguns o aceitaram e outros muitos o rejeitaram, deu origem a essa profecia de maldição de quem tendo ouvidos não ouve e quem tendo olhos não enxerga. A história atual repete as mesmas conclusões que Jesus tirava da conduta de seus conterrâneos. Por isso, não devemos desanimar com os resultados do anúncio atual do evangelho.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
CAMPANHA DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA
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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus! Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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