GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
15.02.2015
6º Domingo do Tempo Comum — ANO B
( VERDE, GLÓRIA, CREIO – II SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Se queres tens o poder de curar-me" __
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Somos convidados a experimentar Deus, que é cheio de amor, de bondade e de ternura, que convida todos os homens e todas as mulheres a integrar a comunidade dos filhos amados de Deus. Ele não exclui ninguém nem aceita que, em seu nome, se inventem sistemas de discriminação ou de marginalização dos irmãos. Jesus Cristo desfaz a relação entre puro e impuro e convida nossa comunidade a fazer o mesmo. É necessário ter as mesmas atitudes de Jesus. Só assim nossas celebrações serão verdadeira comunhão com a Palavra e com a Eucaristia.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Às portas da Quaresma, preparemo-nos para o caminho da penitência e da conversão. Mergulhemos na Campanha da Fraternidade e façamos da fé uma força para curar a lepra dos corações e das estruturas sociais viciadas pela idolatria, o maior pecado pessoal e social.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Somos convidados a experimentar Deus, que é cheio de amor, de bondade e de ternura, que convida todos os homens e todas as mulheres a integrar a comunidade dos filhos amados de Deus. Ele não exclui ninguém nem aceita que, em seu nome, se inventem sistemas de discriminação ou de marginalização dos irmãos. Jesus Cristo desfaz a relação entre puro e impuro e convida nossa comunidade a fazer o mesmo. É necessário ter as mesmas atitudes de Jesus. Só assim nossas celebrações serão verdadeira comunhão com a Palavra e com a Eucaristia.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (2Rs 5,9-14): - "Nos gestos mais simples encontramos a grandeza e poder de Deus. É necessário estar atentos para que nossas ações possam incluir os demais irmãos, principalmente os que mais sofrem."
SALMO RESPONSORIAL 32(31): - "Sois, Senhor, para mim, alegria e refúgio."
SEGUNDA LEITURA (1Cor 10, 31-11,1): - "Os cristãos devem ter como prioridade a glória de Deus e o serviço dos irmãos. O exemplo supremo deve ser o de Cristo, que viveu na obediência incondicional os projetos do Pai e fez da sua vida um dom de amor."
EVANGELHO (Mc 1,40-45): - "Deus desce ao encontro dos seus filhos, compadece-Se da sua miséria, estendelhes a mão com amor, liberta-os dos seus sofrimentos, convida-os a integrar a comunidade do Reino."
Homilia do Diácono José da Cruz – 6º Domingo do Tempo Comum
"SENTIU COMPAIXÃO..."
A nossa compreensão da palavra “compaixão”, nunca será completa, pois, na Sagrada Escritura, “sentir compaixão” é uma virtude própria de Deus e na maioria das vezes, esse sentimento pelo próximo, que o nosso coração define como “compaixão” não passa na verdade de um, gesto de piedade, que também é um atributo Divino, porém em seu sentido mais amplo, que o coração humano nunca será capaz de alcançar. O evangelho desse Domingo, nos ajuda a aprofundar o sentido dessa ação de Jesus, presente em momentos significativos, quando ele se defronta com a miséria humana, motivando-nos a rever se a estamos aplicando na relação com o próximo, em seu sentido autenticamente cristão.
Pelo conteúdo normativo de Levíticos, primeira leitura, Jesus tinha mil e uma razões para nem sequer se aproximar de um leproso, que pertencia a classe dos “irrecuperáveis” daquele tempo, na ótica religiosa. A lepra era incurável e vista como conseqüência do pecado e assim, o leproso era considerado um maldito, que além da dor física, sofria também a dor moral da exclusão, sendo esta bem mais dolorosa porque o colocava à margem da salvação, banindo-o do convívio social e da comunidade, além de saber que a sua condenação no pós morte, era tida como certa e definitiva.
Em uma sociedade marcada pelo ateísmo moderno, onde a fé é subjetiva e Deus é perfeitamente dispensável, esse quadro não é tão tenebroso, mas no contexto histórico e religioso daquele tempo, esse desprezo tinha um peso muito maior, o leproso era tido como um lixo, escória da sociedade, confinado em acampamentos fora da cidade, tendo que mostrar a sua desgraça e miséria, mantendo uma aparência monstruosa, e quem se aproximasse dele e o tocasse, estaria violando os preceitos da lei, tornando-se também um impuro e tendo de isolar-se, até que pudesse oferecer um sacrifício de expiação, como prescrevia a lei de Moisés, para só então ser reconhecido como “purificado”
Podemos então compreender a compaixão Divina, como uma ação coordenada não por normas legalistas, mas por uma lei nova, ensinada por Jesus: a Lei do amor, que não revoga a Lei antiga, mas lhe dá plenitude resgatando o seu sentido verdadeiro, que é a defesa e a preservação da vida humana. O evangelista Marcos faz questão de mostrar, da parte de Jesus essa “quebra de protocolo”, quando permite que o leproso se aproxime, é verdade que este o faz movido pelo desespero, infligindo também as normas do Levítico, e aqui percebe-se que o leproso é um homem diferente, uma vez que crê muito mais na misericórdia de Jesus, do que no cumprimento da Lei, determinada por uma instituição que não tem o poder da cura, mas apenas declara que ele está “impuro”, ao contrário de Jesus, que permite a aproximação, derrubando assim o preconceito.
Muito mais do que um simples encontro de Jesus com um leproso, este versículo sintetiza de forma brilhante o amor e a ternura de Deus pelo ser humano, permitindo uma reaproximação, após a queda do pecado, é o Deus que se deixa tocar, que se encarna e assume a natureza humana, com toda sua miserabilidade, o leproso se prostra diante dele, por uma razão muito simples: primeiro porque reconhece a sua insignificância, e em segundo porque não vê outra saída para sua dor, senão a de recorrer àquele que é diferente da instituição religiosa que o havia condenado, no fundo crê que Jesus de Nazaré é o seu Salvador e libertador, no sentido de ter o poder de resgatar a sua dignidade perdida, aquele leproso considerado um maldito, é na verdade alguém que consegue vislumbrar o verdadeiro messianismo de Jesus, em contradição com o Poder religioso, que o rejeita, mostrando uma fé madura, pois não pede simplesmente a cura física, mas a “purificação”.
Diante de uma fé assim, tão fiel e humilde, note-se que o leproso não impõe e nada exige e nem coloca a sua vontade como fator determinante, mas abandona-se à vontade de Deus: “Senhor, se queres...”. Que comovedora profissão de fé, para o homem arrogante e presunçoso de nossos tempos! Homem que a exemplo dos nossos primeiros pais, ousa ocupar o lugar que é de Deus, marginalizando e excluindo certas categorias sociais consideradas malditas, abandonadas em presídios de sistemas carcerários, que em quase nada contribuem para a recuperação de quem errou, de idosos, jovens, adolescentes e crianças, amontoados em asilos e instituições de caridade, gente que não tem mais esperança de nada, e que há muito tempo nem é mais contada na “aldeia global”, que só considera quem produz e consome.
Podemos encontrar com esse leproso no seio de nossas famílias e comunidades, onde isolamos certas pessoas em “acampamentos”, consideradas pervertidas, geniosas, temperamentais, desequilibradas, poderíamos incluir os aidéticos, efeminados, casais em segunda união, dependentes químicos, prostitutas, mães solteiras, pessoas que, como naquele tempo, sempre temos uma certa reserva, mantendo a necessária distância por medo de sermos “contaminados”, e a sua presença em nosso meio, causa asco e mal estar.
Como cristãos, temos que ter essa consciência do grave pecado da exclusão, e o evangelho nos mostra por onde devemos começar, é bem verdade que Jesus afrontou as instituições do seu tempo, mas em primeiro lugar, em sua relação com as pessoas, usou sempre da lei do amor, deixando de lado normas de conduta e formalismos religiosos, ao tocar no leproso. Poderíamos começar no nosso dia a dia, acolhendo com gestos cordiais, amizade e carinho, os “leprosos” que muitas vezes excluímos, por conta de preconceitos e até intolerância.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 6º Domingo do Tempo Comum
“Queres?”
Queres? Quero. Com essas palavrinhas foram resolvidos os problemas do leproso (cf. Mc 1,40-41). Também nós podemos perguntar a Jesus: queres? Procuremos escutar a resposta. Mas será que pode ser que ele não queira o que eu estou pedindo e que me parece tão importante? É possível. Aquilo que julgamos bom para nós e pedimos insistentemente, Deus, na sua omnisciência, poderia não estar de acordo. Desta maneira, não nos concederá determinada coisa ou talvez atrase a concessão da mesma.
E nem adianta viver na ilusão. Não faz muito tempo escutei a história daquela senhora, diabética quase ao extremo, que acreditava tanto nas curas de Deus que afirmou a outra pessoa o seguinte: – “Jesus me curou, já não sou diabética?” A sua amiga respondeu-lhe: – “puxa vida, pena que ele se esqueceu de dar-lhe um pouco de cor, pois você está muito pálida; vejamos se realmente está curada: vá tomar um café com muito açúcar.” A diabética afirmou: – “não, eu ainda não posso”.
Estou a afirmar que Deus não cura? Não. Claro que o Senhor cura, liberta e faz milagres. E não obstante, pode ser que em determinados momentos ele não o queira e permita que padeçamos porque ele sabe que tal sofrimento será para o nosso bem e para a glória de Deus: “Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus” (Jo 11,4). Infelizmente, alguns grupos cristãos têm satanizado toda e qualquer enfermidade, as doenças viriam do diabo e por isso seria preciso curar-se de qualquer jeito. Um dos grandes perigos dessa maneira de ver o sofrimento é a vinda do ateísmo. Explico-me: as pessoas que frequentam esses tipos de seitas, quando abrem os olhos e percebem que há anos vêm pedindo cura e, paradoxalmente, não recuperam a saúde desejada, podem vir a perder a fé em Deus. Mas, deixemo-lo claro: essas pessoas acreditam num Deus que não parece ser exatamente o Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo. Tenho medo de que, com o passar do tempo, essa grande onda de curas e de milagres venha a desembocar num ateísmo cada vez maior e num secularismo que já não conhece a mensagem cristã, cujo centro é justamente o mistério da cruz que eclode no domingo da ressurreição.
Mas o fato é que no caso do leproso de hoje, Jesus quis a sua cura. Por quê? Ora, naquele homem enfermo, Jesus Cristo viu um “projeto de apóstolo”. E assim foi! “Este homem, porém, logo que se foi, começou a propagar e divulgar o acontecido, de modo que Jesus não podia entrar publicamente numa cidade. Conservava-se fora, nos lugares despovoados; e de toda parte vinham ter com ele” (Mc 1,45). O ex-leproso converteu-se então num mensageiro do Evangelho. Neste caso, a cura dele também foi para a glória de Deus!
Em suma, tanto a nossa enfermidade quanto a nossa cura podem ser para o nosso bem e para a glória de Deus. Ele, que tem a visão de todas as coisas e conhece o mais íntimo de nós mais que nós mesmos, sabe o que será melhor no nosso caso concreto. Daí que devemos abandonar-nos confiadamente nas mãos do Bom Deus.
Jesus também poderia perguntar a você: Queres? Queres seguir-me de verdade? Queres buscar-me de verdade ou será que queres tão somente aquilo que eu posso te oferecer? As perguntas entram numa clara lógica de conversão. A cura do leproso não foi apenas uma cura do corpo, mas principalmente da alma: ele tornou-se uma testemunha do Senhor. Jesus quis curá-lo, mas ele – o leproso – também quis seguir o Senhor de verdade.
Conta-se que certa vez a irmã de Santo Tomás de Aquino perguntou-lhe qual era o segredo da santidade. O santo respondeu sem hesitar: – querer! Caso nós percebemos que não vamos para frente na extirpação de tal ou qual vício ou no progresso em determinada virtude, perguntemo-nos a nós mesmos: será que eu quero? A graça de Deus não nos falta, o problema não pode está aí; o problema está na debilidade da nossa resposta aos apelos de Deus. Lembro-me daquele espanhol, professor renomado, que confessou aos seus alunos: – “Eu parei de fumar. O que eu fiz? Lutei para nem sequer pensar no cigarro”. Esse homem QUERIA de fato deixar de fumar!
Queres, meu filho? Queres, minha filha?
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 6º Domingo do Tempo Comum - Ano B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (1 Cor 10, 31- 11,1)
PARA GLÓRIA DE DEUS: Porque quer comais, quer bebais,ou façais alguma coisa, tudo para glória no de Deus fazei (31). Sive ergo manducatis sive bibitis vel aliud quid facitis omnia in gloriam Dei facite. Este versículo é parte da conclusão do problema dos idolotitos; ou seja, de carnes de consumo nos açougues que procedia dos santuários pagãos. Tudo que não se utilizava no templo com fins cultuais era vendido no mercado. Por isso, a questão de: se ao comer essa carne, o cristão não participaria da idolatria. S. Paulo, na sua resposta, distingue cuidadosamente o plano doutrinal do plano da praxis. Em teoria é evidente que um cristão não pode se comprometer com deuses falsos. Por isso, seguindo o critério de Jesus que afirmou não se contaminar o homem pelo que entra pela boca, Paulo afirma que o cristão é livre: Tudo é permitido, porém nem tudo convém. E ainda: “Tudo é permitido”, mas nem tudo edifica (v 23). Um exemplo clássico era quando se come em casa de outro como invitado: tem um cristão direito a comer carnes que antes foram oferecidas aos ídolos pagãos [idolotitos]? A resposta do apóstolo consta de dois princípios fundamentais: 1º) liberdade total no que diz respeito a essas carnes. 2º) respeito à consciência dos outros. O primeiro princípio é logicamente defendido por um razoamento simples, que corresponde a tudo é permitido. Porque o ídolo nada é, e a carne a ele oferecida nada recebe, nem de mal nem de bem. É simplesmente carne de um animal. O fato de ser oferecido a uma estátua de bronze ou pedra e ter recebido incenso nada pode acrescentar a um pedaço de carne. O mundo pagão é profano e nada tem de sagrado, que deve estar limitado ao verdadeiro Deus e seu culto. O segundo princípio é devido a que nem todos têm essa liberdade de consciência e pensam que a carne chamada idolotito está contaminada. Sua consciência é fraca, e quando alguém acredita que comete pecado, embora não exista matéria para o mesmo, realmente peca. Por consequência, se um alimento pode causar escândalo e incitar ao pecado a um cristão, devo me abster da carne que o incita ao pecado. A caridade deve ser o último critério nesta questão, e assim se cumpre o segundo princípio: nem tudo edifica. Esta posição de Paulo ele a descreve dizendo: fiz-me fraco com os fracos (1 Cor 9, 22). Dos três casos possíveis: compra no mercado, comida em casa de um amigo e comida num santuário pagão, os dois primeiros não devem preocupar um cristão. Mas dificilmente a última prática poderia estar livre de pecado, pois estaria unida a um culto explicitamente proibido, não por comer uma carne, mas por participar de um culto pagão. Não foi a toa que inumeráveis mártires morreram por esta causa na história do cristianismo contra o culto ao Imperador como deus do Império. Daí a conclusão do versículo anterior a este: Se eu agradeço a Deus pela comida que como, por que é que hei de ser criticado por aquilo que eu agradeço a Deus? (30). Ou seja, a verdadeira intenção da comida não está na carne, mas na ação de graças que precede intencionalmente a comida da mesma. E assim Paulo recomenda a ação de graças antes da comida e da bebida, que estende a toda obra realizada: Portanto, quer comam, quer bebam, quer façam quaisquer outras coisas devem fazer tudo para dar glória a Deus (31). Da questão dos idolotitos, Paulo passa agora a uma mais ampla visão, como é a intenção que deve predominar em toda conduta cristã: é a glória de Deus, como dirá séculos mais tarde S. Ignácio de Loyola: Ad maiorem Dei Gloriam. Este é o motivo principal e causa final de todas as nossas ações, sem o qual se converteriam em promover nossa própria vontade e exaltar o nosso natural egoísmo. Perfeita e totalmente, unicamente alcançaremos esta finalidade na feliz bemaventurança em que o Reino terá sua completa realização como diz Jesus na oração que nos ensinou: seja feita a tua vontade, assim na Terra como no Céu (Mt 6, 10).
NÃO ESCANDALIZAR: Sem ofensa sede, tanto para judeus como helenos assim como para a Igreja de(o) Deus (32). Sine offensione estote Iudaeis et gentilibus et ecclesiae Dei. OFENSA[aproskopoi<877>=sine offensione] como em At 24, 16 significa ter uma conduta limpa, irrepreensível de modo a não ter escandalizado nem a judeus nem a gregos. Como diz em Fp 1,10 de modo a estar sem escândalo algum até ao dia de Cristo. A conduta de Paulo neste ponto é dirigida pelo bem do irmão: Por isso, se a comida escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se escandalize (1 Cor 8, 13). E da comida passamos a uma regra mais geral no âmbito da caridade: Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão (Rm 14, 13); de modo a não dando nós escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado (2 Cor 6,3). E será com essa regra de conduta que Paulo se dirige aos ministros de Cristo como chefes do rebanho: Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a Igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue (At 20, 28). Tudo o que constitui seu testamento aos presbíteros de Éfeso na sua despedida em viagem a Jerusalém.
AGRADANDO A TODOS: Como também eu me esforço em agradar em tudo a todos, não buscando o que é vantajoso para mim, mas aos muitos para que sejam salvos (33). Sicut et ego per omnia omnibus placeo non quaerens quod mihi utile est sed quod multis ut salvi fiant. ESFORÇO-ME[areskö<700>=placeo] com o significado de esforçar-se por comprazer ou simplesmenteCOMPRAZER [symferon<4851>=utile] como em Mc 6, 22: a filha da mesma Herodíades, dançou, e agradou a Herodes e aos que estavam com ele à mesa. Com o mesmo significado do versículo atual: Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação (Rm 15, 2). E é com este propósito que Paulo nos confia sua impecável conduta: Agora satisfaço aos homens ou a Deus? Ou procuro agradar aos homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo (Gl 1, 10). Assim, ele procura cumprir a regra de ouro do ministério apostólico:sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais (1 Cor 9, 19). Que em termos de um verdadeiro cristão ele designa nesta frase lapidária: Que ninguém procure o seu próprio bem, mas sim o dos outros (1 Cor 10, 24).
O SEU EXEMPLO: Sede meus imitadores como também eu de Cristo (11, 1). Imitatores mei estote sicut et ego Christi. Com toda razão pode, pois, Paulo, terminar seu escrito com uma frase que tem sido declarada como símbolo da vida de um apóstolo: Sede meus IMITADORES[mimëtai<3402>=imitatores]. Na realidade, este versículo tem o limite da conduta sobre os idolotitos; mas Paulo exorta os corintianos a uma mais ampla imitação, copiando em suas vidas o seu exemplo, que era de sofrimento e trabalho pelo anúncio do evangelho, como escreve na mesma carta em 4, 16: Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores. Esta imitação está na linha do que é a conduta divina, como declara Paulo aos de Tessalanônica: E vós fostes feitos nossos imitadores, e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito Santo.Tudo o que remata com esta consideração: Porque vós, irmãos, haveis sido feitos imitadores das igrejas de Deus que na Judeia estão em Jesus Cristo; porquanto também padecestes de vossos próprios concidadãos o mesmo que os judeus lhes fizeram a ele (Fp 2,14). Porque mais do que com a palavra, a pregação paulina foi um exemplo de serviço e dedicação: Não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes (Ts 3, 9). O exemplo de Paulo só vale, enquanto ele é uma cópia da conduta de Cristo, que não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos (Mt 20, 28). Este é o ideal de todo ministro do evangelho, e que, segundo Paulo, deve ser também de toda alma cristã.
EVANGELHO (Mc 1, 40-45) - CURA DE UM LEPROSO
(lugares paralelos Mt 8, 1-4 e Lc 5, 12-16)
INTRODUÇÃO: A LEPRA. Sobre este nome, seguramente que estão incluídas várias doenças, que antigamente eram desconhecidas em origem e que tinham sintomas parecidos. Como se nos tempos modernos declarássemos gripe a toda doença que tem sintomas como febre, dores musculares, ou dificuldades respiratórias. Há muitas doenças de pele que poderiam ser confundidas, a simples vista, com a verdadeira doença de Hansen, a vulgarmente chamada lepra. Como enfermidades da pele, podemos ver 35 diferentes, desde acne até urticária física. No AT a lepra tem dois capítulos 13 e 14, a ela dedicados no livro do Levítico. Como viam os vestidos cobertos de mofo branco assim como as paredes, também o Levítico trata desta “lepra”. Dos primeiros, trata em 13, 47-52 e das segundas, em 14, 34-53. Tanto os vestidos como as paredes deverão ser examinados pelos sacerdotes e declarados impuros durante sete dias. Como vemos, não podemos confiar na descrição da enfermidade nos textos bíblicos, pois declara como tal o mildew, mofo ou bolor. Modernamente não temos dúvidas sobre a verdadeira doença, dividida entre lepra tuberculoide e lepra lepromatosa. Esta última é a mais severa e a que produz grandes nódulos desfigurantes. Todas as formas desta enfermidade causam finalmente dano neurológico periférico ou das extremidades nervosas, manifestado em perda sensorial cutânea e debilidade muscular. SINTOMAS: Lesões cutâneas hipopigmentadas [mais claras do normal] com diminuição nelas da sensibilidade ao tato, ao calor e à dor. Lesões cutâneas, que não são aliviadas em semanas ou messes. Ausência de sensibilidade nas mãos, braços e pés. Debilidade muscular que ocasiona a presença de sinais como o pé caído [a ponta do pé se arrasta ao levantá-la para dar um passo]. CONTÁGIO: sempre é direto, de pessoa enferma a pessoa sã. Por via respiratória, digestiva ou cutânea, por secreções bacterianas. Como os bacilos não atravessam a placenta, de pais leprosos nascem filhos sãos. A lepra tuberculosa é de prognóstico benigno, aparecendo manchas vermelhas que não emitem bacilos e, portanto, não é contagiosa. EXPANSÃO: É encontrada, com maior frequência, nos países tropicais. A OMS calcula o número de infectados em 286.000 pessoas. No início de 2005, os casos declarados na América são 38.877 sendo o Brasil o país com maior número de enfermos.CASTIGO: Era considerada como um castigo divino, especialmente após a lepra de Maria, a irmã de Moisés, que, por falar mal de seu irmão, apareceu coberta de lepra branca como a neve (Nm 12, 10). E como tal, os que a padeciam eram considerados impuros. JULGAMENTO: A observação da enfermidade, a declaração da mesma e de sua cura, pertenciam aos sacerdotes (Lv cap 13), que recebiam os curados e faziam o sacrifício de purificação, uma vez declarado curado o enfermo, como narrado no livro do Levítico, no capítulo 14. Realmente, o leproso tinha que se afastar da vida social. Deviam morar fora das aldeias e cidades, e se dar a conhecer de longe, pois tinham que vestir vestidos desgarrados, como de mendigos, a cabeça nua, sem turbante, a barba coberta com um véu e advertir de sua proximidade aos viajantes gritandoTamé, tamé [impuro, impuro]. Deviam falar a 4 côvados de distância no mínimo [pouco mais de dois metros]. Reduzidos ao estado de mendigos, acostumavam morar nas covas e sepulcros, em pequenos grupos para repartir a comida e as penalidades. Não eram propriamente excomungados, pois podiam assistir aos ofícios da sinagoga desde que fossem os primeiros a entrar e os últimos a sair e nelas estivessem em lugar separado. A conduta dos rabinos era bem diferente da de Jesus como narrada nos evangelhos. Alguns fugiam deles só ao vê-los, outros até chegavam a jogar pedras para afastá-los do caminho e não se contaminar. O nosso leproso era dos considerados como tais pela lei, e como diz Lucas, estava cheio de lepra, o qual indica uma lepramatose profunda. Lucas diz que estando numa cidade foi quando o leproso se prostrou por terra.
O PEDIDO: Então, vem a ele um leproso, implorando de joelhos e dizendo-lhe que se queres podes me limpar (40). Et venit ad eum leprosus deprecans eum et genu flexo dixit si vis potes me mundare. Esta tradução literal que indica a pobreza sintática de Marcos, recebe nos outros sinóticos umas pequenas diferenças de redação. Mateus (8, 2) dirá que o adorava [prosekynei,adorabat latino], termo que no oriente significava admitir o senhorio de uma personagem como suprema na vida do súdito. A tradução em vernáculo é prostrou-se. Lucas (5, 12) traduzirá em seu verdadeiro valor material o proskyneô, ao escrever caindo com o rosto por terra. A frase inicial é escrita com as mesmas palavras por Mateus e Lucas com a única diferença de que estes dois últimos têm no início a palavra Kyrie [Senhor]. Logicamente esta palavra não significa que ele admitisse em Jesus a divindade, mas um poder do qual ele desejava se aproveitar para a cura de sua doença. O leproso tinha uma fé absoluta no poder de Jesus. Faltava ganhar a sua vontade, a de Jesus, para que a cura fosse imediata.
A RESPOSTA: Jesus, pois, movido de compaixão, havendo estendido sua mão, o tocou e lhe diz: Quero, sê limpo (41). Iesus autem misertus eius extendit manum suam et tangens eum ait illi volo mundare. Uma tradução literal que, uma vez mais, indica a falta de sintaxe de Marcos, como para dizer: a inspiração não destroi as virtudes ou defeitos do escritor. Mateus e Marcos coincidem nas palavras de Jesus e corrigem a rude sintaxe de Marcos, escrevendo: Havendo estendido a mão o tocou dizendo. Com essa resposta, Jesus indica que a cura depende unicamente de sua vontade e que esta está em fazer o bem a quem tão confiadamente o pede. Marcos, muito mais expressivo que seus sucessores, fala de um verbo que acostuma empregar-se para indicar o amor de Deus para com seu povo. É o verbo compadecer-se [splagchnizomai] que tem como raiz a palavra grega splagchnon, que significa entranhas, vísceras, e que é traduzido por mover-se a compaixão. Aparece unicamente nos sinóticos: 4 vezes em Marcos, 5 em Mateus e 3 em Lucas. Um exemplo é o do samaritano que viu o ferido e se moveu a compaixão (Lc 10, 33) e outro é o pai do filho pródigo em 15, 20. É o que no AT se descreve com a palavra cheçed <02617> [ch pronunciado como j em espanhol] que unido a´emeth <0571>[fidelidade] define os atributos divinos com respeito a sua conduta com os seres humanos. O significado de ambas as palavras juntas, cheçed we ´emeth, acostuma variar no texto grego dos Setenta. Em Gn 24, 27 as duas palavras são traduzidas comodikaiousynê kaì alêtheia [justiça e verdade], embora a tradução inglesa diga Kindness and Faithfulness [bondade e fidelidade]. Em 24, 49 a tradução é eleos kai dykaiousyne [misericórdia e justiça]. Em 32,10 será dykaiousyne kai alêtheia [justiça e verdade]. Em 47, 29 eleêmosynê kai alêtheia [compaixão, (beneficência) e verdade]. Em Êx 34, 6 lemos polyéleos kai alêthinós[supermisericordioso e fiel]. Estes exemplos bastam para ver que a palavra cheçed é traduzida de diversas maneiras. Nos salmos aparecem também ambas as palavras unidas, e traduzidas já, como graça e verdade (25, 10) na versão portuguesa AV, que na vulgata é traduzida pormisericórdia et veritas. No salmo 86, 15 podemos ler que o Senhor é poliéleos kai alethinós[multae misericodiae et verus, cheio de amor e fidelidde, abounding in love et faithfulness]. Finalmente no salmo 88, 14-15 temos: te precedem éleos kai alêtheia [misericórdia et veritas, graça e verdade, love and faithfulness]. Vemos como a vulgata e a New Intenational Version são bastante mais confiáveis que a versão revisada portuguesa, que traduz cheçed por graça. Já no NT, João no prólogo usa os dois termos em grego, dizendo do Logos como estando cheio decharitos kai alêtheias [gratiae et veritatis, de graça e verdade]. Os modernos preferem amor e fidelidade, como comenta em nota a Bíblia de Jerusalém, para corresponder à definição de Deus no Êx 34, 6 +. Evidentemente que essa graça é a grande misericórdia da qual Deus é rico como declara João Paulo II na sua encíclica Dives in misericórdia citando Ef 2,4. E a verdade se transforma em fidelidade ou lealdade às suas promessas. Um outro vocábulo usado pela Escritura para definir a compaixão divina é rehem<7359> [misericórdia ou piedade] como vemos em Dn 2, 18 para que pedissem misericórdia [timôria, auxílio] ao Deus do céu ourachmanîy <7362> [oiktirmôn, compassivo] em Lm 4,10: As mãos das mulheres, outrora compassivas. São os únicos casos em que ambas as palavras aparecem no AT e qualificam condutas humanas. Como conclusão, podemos afirmar que a conduta divina é de cheçed, ou amor benévolo por parte de Deus, quando olha o homem que Ele escolheu como seu amado.ESTENDENDO A MÃO: Jesus o tocou. Jesus rompe com o esquema usual que, com base na legalidade vigente, tornava impuro quem tocasse ou se aproximasse, menos de dois metros do leproso. Em Lc 17 12-13, vemos como os leprosos, à entrada da cidade, clamam à distância. A ação de Jesus indica uma compaixão profunda com o doente, que, nesse momento, o identifica como amigo, pois é seu médico. E Jesus declarou: quero, sê limpo. A reposta de Jesus ao pedido do leproso foi exatamente a esperada pelo doente. Jesus une a cura com a sua vontade, que é movida simplesmente pela compaixão. É assim que Deus foi movido e é movido, no conjunto da História humana, e especialmente na particular história de seu povo. Se o leproso desobedece à lei ao se aproximar de Jesus, este último ainda a despreza mais, pois toca com sua mão um homem impuro, o que seria o mesmo que se tornar ele também impuro, segundo Lv 5, 3 e Nm 5, 2. Jesus se tornava impuro consciente e voluntariamente, indicando que a lei da impureza não servia quando da cura de um homem ou quando o fato de fazer o bem era posto na balança. Exatamente como quando viola, aparentemente, o sábado para fazer o bem a uma mulher encurvada (Lc 13, 10+). Mais do que evitarmos o mal, estamos obrigados a fazer o bem que é a razão do verdadeiro amor ao próximo. É o mesmo Jesus que se tornou pecado para salvar o pecador como diz Paulo (2 Cor 5, 21). Também podemos deduzir da conduta de Jesus, que uma lei, que não cumpre a finalidade de contribuir para o bem do homem, não tem sentido e não é um mandato que deve ser necessariamente obedecido. É por isso que Jesus pronunciou as palavras que limparam a lepra: Quero, sê limpo.
A CURA: E, tendo falado, imediatamente retirou-se dele a lepra e foi limpo (42). Et cum dixisset statim discessit ab eo lepra et mundatus est. No mesmo instante em que Jesus pronunciou as palavras, a lepra se afastou e ficou limpo. As palavras de Marcos indicam uma cura instantânea: afastou-se imediatamente [eythys], como se fosse uma pessoa que abandona a sua casa por ordem superior. E ficou limpo. A instantaneidade da cura é também nota característica de Mateus e Lucas. O leproso estava limpo. Que devia agora fazer?
OS MANDATOS: E tendo-o seriamente advertido, imediatamente o despediu (43). E diz-lhe: Vê, não digas nada a ninguém, mas vai pessoalmente, mostra-te ao sacerdote e oferece, por tua purificação, as coisas que mandou Moisés para testemunho deles (44). Et comminatus ei statim eiecit illum. Et dicit ei vide nemini dixeris sed vade ostende te principi sacerdotum et offer pro emundatione tua quae praecepit Moses in testimonium illis. São duas as advertências sérias – espécie de mandatos- de Jesus, uma vez obtida a cura: a 1a a de guardar silêncio sobre o acontecido. Tendo-lhe seriamente advertido, dirá Marcos. Lucas rebaixa até um simples aviso de não espalhar a notícia e Mateus refere como: cuidado! Não o digas a ninguém (8,4). Podemos nos perguntar a razão desta advertência. Jesus realmente foge da fama de curandeiro e não mostra desejo algum de que suas obras extraordinárias sejam conhecidas. Em Mateus, vemos a mesma conduta perante a cura dos dois cegos: vede, que ninguém conheça (9, 30). Se no caso do demônio, como vimos no domingo anterior, a causa do silêncio exigido era pela deformação do messiado, agora existe o perigo de falsificar a figura de Jesus tornando-a médico prioritariamente, antes que Salvador. Seria o homem das curas que tomaria o lugar do verdadeiro Salvador, o Servo de Jahvé, a tirar o pecado do mundo (Jo 1, 29), esse Messias que corretamente anuncia o anjo a José, que salvará o seu povo de seus pecados (Mt 1, 21). Por isso, como no caso do surdo-mudo, quanto mais proibia, tanto mais proclamavam seus fatos extraordinários (Mc 7, 36). A prática de Jesus é totalmente diferente dos muitos curandeiros modernos que convidam os seus seguidores para verem milagres como produtos de oração. Desta forma a religião se transforma em curandeirismo, ou em egolatria do pregador. A 2a é a recomendação de se apresentar aos sacerdotes. Parece uma bagatela insignificante. Porém, na realidade, não era assim. Não exigir essa apresentação era como desprezar a Lei, que não deixava nas mãos do médico [e para o caso, Jesus era o tal] a cura da lepra, mas dava a última palavra ao sacerdote. Além disso, existia uma outra razão: a cura foi feita por um enviado de Jahvé-Deus e como tal se exigia a ação de graças pela mesma, com o sacrifício correspondente. Jesus tinha, pois, motivos reais suficientes para exigir, tanto neste caso como no dos dez leprosos, a presença última do sacerdote para a declaração final da ausência da impureza. Quando cura os dez leprosos, a lei é cumprida de forma terminante. É de longe que eles pedem a cura e Jesus manda que vão para serem declarados limpos pelo sacerdote, sem se aproximar deles ou tocar nos seus corpos feridos. E na ida, eles encontram a sua cura (Lc 17, 14). A OFERENDA: A cura da lepra não era uma cura normal. Era um verdadeiro dom de Deus, poder se tornar limpo e participar da vida social, como um membro do povo escolhido. Por isso, o retorno à vida da comunidade devia ser feito com um sacrifício de ação de graças. O Levítico, após narrar os sintomas da verdadeira lepra no capítulo 13, regula, no 14, a inserção do leproso na comunidade. Para a tal oferenda serão necessárias duas aves, madeira de cedro, lã escarlate e hissopo. Não vamos entrar nos detalhes, que se seguirão com os dois cordeiros um deles imolado pelos pecados e o outro como holocausto. Interessa a frase final de Jesus: coisas mandadas por Moisés como prova para eles. A que se refere prova para eles? Hoje traduzem provacontra eles. Em Dt 31, 26, após Moisés escrever o livro da lei, manda que este seja colocado ao lado da Arca da Aliança como um testemunho contra ti [o povo], porque conheço a tua rebeldia e a tua dura cerviz. É possível que este texto do AT esteja na mente de Jesus para indicar que ele, tem um poder que é diretamente vindo de Deus e por isso quer que seja reconhecido como tal pelo sacerdote, o único que podia dar testemunho da cura da lepra. A cura do leproso é uma prova de que Jesus era profeta de Deus, pois agia como tal em seu nome. E a apresentação diante do sacerdote indicava que Jesus exigia a testemunha oficial para ver no curado o poder divino do médico. Comentaristas católicos usam este texto para demonstrar que a cura do pecado só é verificada testemunhalmente pelo sacerdote que absolve o pecador. No Sacramento da Reconciliação, o penitente recebe um cheque em branco para a anulação de suas dívidas. Os pecados eram opheilemata [dívidas] como afirma Mateus no Pai-Nosso (6, 12) porque deviam ser pagos para serem perdoados. As disposições do penitente preencherão a cifra correspondente por meio de sua humilde confissão, seu arrependimento e seu propósito sincero. E o sacerdote, um juiz num ato de reconciliação, que não age somente com Deus, mas também com a Igreja, avaliará e testemunhará com o eu te absolvo, a certeza do perdão e a segurança da reconciliação.
DIFUSÃO DO MILAGRE: Ele [o leproso], porém, tendo saído, começou a pregar muitas coisas e a espalhar a palavra de modo ele [Jesus] não poder, de maneira alguma, abertamente entrar numa cidade, mas estava fora em lugares inabitados e de toda parte vinham a ele (45). At ille egressus coepit praedicare et diffamare sermonem ita ut iam non posset manifeste in civitatem introire sed foris in desertis locis esse et conveniebant ad eum undique. Ele [o leproso], porém, saindo [dali]começou a pregar muitas coisas e a espalhar a palavra. Evidentemente, o leproso, agora curado, não cumpriu a séria advertência de Jesus e falava abertamente do sucedido e a difundir a palavra sobre Jesus e o reino.O antigo excluído socialmente, se transforma agora em verdadeiro apóstolo da palavra, ou seja, dessa realidade que chamamos evangelho. Praticamente é o que aconteceu com Paulo que de perseguidor se transformou em firme defensor de Jesus. Em Paulo foi curado o espírito, no leproso o corpo, para conhecer a verdade em suas vidas e manifestá-la claramente a todos os homens. O leproso canta a glória do Senhor com o espírito de Maria que declarava no seu canto de louvor: porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor (Lc 1. 49). Se Maria teve como ouvinte Isabel, o nosso leproso teve como auditório as aldeias e vilas da Galileia. RESULTADO: De modo que ele [Jesus] não podia entrar em cidade alguma e devia habitar em lugares desabitados. Mesmo assim vinham a ele de todas as partes. Parece um pequeno inciso, mas na realidade mostra a verdadeira vida de Jesus que, indiretamente, os evangelhos narram, pois sua palavra será dirigida e escutada no monte, no lugar descampado em que teve que multiplicar os pães, à beira mar e até deverá enviar os doze para pregar, em seu nome, nas aldeias e cidades da região. Talvez estes pequenos comentários nos obriguem a ver Jesus de modo um tanto diferente como temos acostumado a observá-lo nos filmes de produção para espetáculo. No início, e durante a vida de Jesus, a semente era mesmo de mostarda.
PISTAS:
1) Os rabinos consideravam o leproso como se estivesse morto e pensavam que sua cura era uma verdadeira ressurreição. Por isso, a lepra tornou-se o símbolo do homem em pecado mortal e a sua cura, avaliada pelo sacerdote, foi a imagem do sacramento da penitência e reconciliação.
2) Jesus toca o leproso, contra toda a prática jurídica e em oposição aos costumes da época. Jesus demonstra com sua atitude, que o homem está por cima de toda lei social que o discrimina e condena a um ostracismo absurdo que é como considerá-lo morto em vida. Até o homem mais repugnante tem o direito de ser tratado como um ser humano e de ser considerado entre os quais devemos amar e ajudar.
3) Devido a deformação da lepra chamada lepromatosa, que forma nódulos, foi considerada como um castigo divino para as pessoas pecaminosas, afastadas dos princípios religiosos. Hoje sabemos que é uma bactéria e que a doença nada tem a ver com a religião. Devemos ter em conta que a interpretação das escrituras deve ser feita com o critério da cultura antiga, contemporânea do tempo de Jesus, sem pretender, como alguns fazem, uma leitura científica e literal. A cura foi feita. A doença no tempo era lepra e como não temos nenhuma descrição da mesma, poderia ser qualquer doença que na época recebia esse nome. O que indica o poder de Jesus é a sua instantaneidade na cura, impossível, mesmo com os remédios modernos.
4) Pelo que toca a nós, a lepra verdadeira é o pecado. Ele nos afasta de Deus e ao mesmo tempo implica com nosso descomprometimento social, de modo a modificar a verdadeira relação que, devendo ser de justiça [no sentido de santidade] se transforma em inimizade e aversão.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
08.02.2015
5º Domingo do Tempo Comum — ANO B
( VERDE, GLÓRIA, CREIO – I SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Curai-nos, Senhor, Deus da vida" __
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Nos primeiros domingos do Tempo Comum, a Liturgia apresentava Jesus nos convidando a assumir o discipulado pelo seguimento, adotando o Evangelho como estilo de vida. Agora, a Liturgia nos apresenta as vicissitudes da vida e solicita uma atitude de serviço. A celebração atual, chamará a nossa atenção para o sofrimento humano, mas não deixará de lembrar a necessidade de continuar evangelizando. Um discípulo de Jesus nao pode ficar indiferente diante do sofrimento humano, como também, não pode se omitir como evangelizador. Lembramos que, no próximo dia 11, celebraremos a festa de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira da nossa Diocese. Na ocasião, celebraremos o Jubileu dos Funcionários (as) da Diocese com uma missa festiva na Catedral.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Anunciar o Evangelho do amor em toda parte e libertar a todos do mal foi a missão de Jesus neste mundo. Prolongando na liturgia esse ministério de libertação, acolhamos em nossos dias a salvação que Deus continua a oferecer.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Em tantos momentos de nossa vida nos perguntamos: Que sentido tem o sofrimento e a dor que acompanham a caminhada da humanidade? Qual a "posição" de Deus diante dos dramas que marcam a nossa existência? A liturgia deste domingo reflete justamente sobre estas questões fundamentais. Garante-nos que o projeto de Deus para o homem não é um projeto de morte, mas é um projeto de vida verdadeira, de felicidade sem fim. Jesus nos ensina a celebrar e a viver a partir de nossas dores. Ele nos toma pela mão e nos garante a vida em plenitude. Para isso, somos convidados a nos colocar a serviço, à semelhança Dele, que se fez servo de todos.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Jó 7, 1-4.6-7): - "Jó comenta, com amargura e desilusão, o fato de não conseguir perceber Deus diante dos sofrimentos que passa. Apesar disso, é a Deus que Jó se dirige, pois sabe que ele é a sua única esperança."
SALMO RESPONSORIAL 147(146): - "Louvai a Deus, porque ele é bom e conforta os corações."
SEGUNDA LEITURA (1 Cor 9, 16-19.22-23): - "Na ação e no testemunho, os discípulos de Jesus não podem ser guiados por interesses pessoais, mas sim pelo amor a Deus, ao Evangelho e aos irmãos."
EVANGELHO (Mc 1,29-39): - "Na ação libertadora de Jesus em favor da humanidade, começa a manifestação do mundo novo sem sofrimento, sem opressão que Deus sonhou para os homens. A ação de Jesus tem de ser continuada pelos seus discípulos."
Homilia do Diácono José da Cruz – 5º Domingo do Tempo Comum
"A PERIGOSA FÉ DA MAGIA..."
Gosto muito de ouvir histórias de pessoas que montaram um pequeno negócio, e após muito esforço foram bem sucedidas, tornando-se gestores de grandes empresas, agindo sempre com ética e honestidade. O bom empreendedor é sempre ousado e pensa “grande”, tendo uma visão audaciosa do futuro, atitude muitas vezes até criticada e questionada pelos acomodados que pensam “pequeno” porque têm medo de arriscar. Se o empreendedorismo é fator dos mais importantes no desenvolvimento de uma nação, de uma empresa ou de qualquer negócio, no reino de Deus não poderia ser diferente, porém, é preciso ter os pés no chão, trabalhando a cada dia com vistas à grandiosidade que se vislumbra, pois o homem de fé, mais do que ser otimista, já vai construindo no hoje da história, o reino de Deus alicerçado pelo próprio Cristo.
No evangelho desse quinto domingo do tempo comum, podemos perceber nitidamente essa diferença no modo de pensar e agir, entre Jesus e os seus discípulos. Enquanto o mestre pensa em algo grandioso, querendo expandir o projeto recém iniciado, os discípulos estão seguros de que já alcançaram o sucesso e demonstram grande interesse em montar ali, na casa de Simão, uma “Tenda dos Milagres”, pois o carisma de Jesus já tinha atraído uma grande e imensa clientela, ao curar os enfermos e expulsar os demônios, por isso aonde ele ia, a multidão maravilhada com os sinais prodigiosos, o seguia.
Há nesta fé da magia, a perspectiva de um negócio altamente lucrativo em todos os sentidos, pois Jesus tem o perfil do Messias esperado, poderia ser ele o salvador da pátria, capaz de dar a grande virada na história de Israel, e um populismo assim, era tudo que eles queriam para concretizar a libertação com que sonhavam. Não conseguiam vislumbrar em Jesus algo além dos seus ideais humanos, que também eram importantes e tinham o seu valor, mas Jesus não veio para ser o Rei dos Milagreiros, nem para ser um libertador político, pensar assim é pensar “pequeno”, ter uma fé com essa expectativa de um Cristo prodigioso, que interfere com seu poder na vida das pessoas, quando essas fazem por merecer, realizando milagres e curas inexplicáveis, é menosprezar toda a obra da Salvação, é fazer da Igreja uma simples tenda dos milagres, é abusar de certos carismas recebidos, explorando assim a boa fé das pessoas, e Cristianismo não é isso.
Curas de enfermidades o Cristo as realizou ontem, e realiza também hoje, mas estas são simples sinais de algo maior, de um empreendimento mais arrojado, com o qual todos têm de se comprometer, acreditar, deixar de ser um torcedor para entrar em campo e “suar a camisa” por aquilo em que se acredita. E como é que podemos, com nossas limitações e fraquezas, sermos parceiros de Deus nesse projeto tão arrojado, que plenifica e ao mesmo tempo transcende, qualquer empreendimento humano?
O evangelho responde em seu início, logo que Jesus sai da sinagoga e vai á casa de Simão, onde os discípulos correm para lhe falar que a sogra de Pedro estava acamada e com muita febre. Era uma pessoa debilitada, entregue ao desânimo, que muitas vezes chega à vida de alguém, que doença seria essa? O comodismo e o desânimo, o egocentrismo, a indiferença na relação com as pessoas, nas comunidades cristãs há pessoas assim, que precisam de ajuda, para cair na realidade. Jesus não diz uma só palavra, mas apenas estende a mão e a ajuda a levantar-se do seu leito. Como é bom quando sentimos que o outro nos estende a mão, em um grandioso gesto de ajuda...
Como é bom agarrar com firmeza a mão amiga, que nos permite levantar e dar a volta por cima, diante de tantas situações difíceis da nossa vida.Amor que se traduz em gestos de solidariedade, um toque de mão que transmite segurança, afeto, ânimo e esperança, sem muito ritual pomposo, sem êxtases arrebatadores. Como resultado desse gesto de ajuda, a mulher se levanta a febre a deixa e agora se põe a servir a comunidade. É na oração íntima com Deus Pai, que Jesus de Nazaré fortalece a sua missão, cumprindo a vontade daquele que o enviou, pois sem a oração, a nossa igreja seria apenas um Posto de atendimento de serviço religioso ou balcão de Sacramentos.
É na oração que acontece este colóquio com o Pai, aonde vai se descortinando para nós a plenitude do Reino, que humildemente vamos construindo com gestos simples como o de Jesus, capaz de erguer as pessoas que estão ao nosso lado.
Os discípulos, encantados com o carisma e o Poder do mestre, querem urgentemente abrir um “pequeno negócio”, um salãozinho de fundo de quintal, onde eles teriam naturalmente o monopólio sobre Jesus e seus milagres, mas o Mestre pensa grande, ele não veio para que as pessoas o buscassem, mas para ir ao encontro delas, curando de suas enfermidades e as libertando dos males físicos e espirituais, como um sinal da libertação plena.
É esse o Cristo que devemos anunciar como Igreja missionária, pois qualquer outra imagem diferente da que nos apresenta o evangelho, seria apenas uma caricatura grotesca, uma cópia falsificada de um mero “Salvador da Pátria”, desses que vez ou outra, o povo gosta de aclamar como Rei...
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 5º Domingo do Tempo Comum
“Orar pelos outros”
Não sei se também durante a vida terrena do Filho de Deus as sogras já tinham má fama, o fato é que Jesus estende a sua mão misericordiosa a todos: no dia de hoje, lemos que ele curou a sogra de Simão. Você já ouviu aquela piadinha que defende ironicamente que Pedro traiu Jesus porque tinha curado a sua sogra? Ainda assim, conheço sogras admiráveis. Você também, querido leitor, talvez seja dessas pessoas que teve a ventura de não só conhecer, mas de ter uma sogra maravilhosa. No entanto, a bem da verdade, o meu interesse não é falar de sogras, eu quero sublinhar o fato de que ela só foi curada porque outros pediram, intercederam por ela.
O Catecismo da Igreja Católica contêm três parágrafos muito expressivos sobre a oração de intercessão (cf. Cat. 2634-2636). Em primeiro lugar, nos apresenta Jesus e o Espírito Santo como os grandes intercessores junto do Pai. Depois, mostra-nos a beleza e eficácia da intercessão que nós podemos fazer em favor dos outros. Pedir pelos outros “é próprio de um coração que está em consonância com a misericórdia de Deus”. O Catecismo também nos apresenta a oração de intercessão em conexão com aquela verdade de fé tão importante que é a comunhão dos santos, como expressão dessa comum-união. Neste sentido, também fica patente que devemos viver tudo isso não de maneira individualista, mas como membros da grande assembleia das filhas e dos filhos de Deus, como membros da Igreja.
Jesus está totalmente dedicado ao serviço do seu Pai do céu e, por amor ao Pai, de todos os seres humanos. Na primeira parte do Evangelho ele aparece curando a sogra de Simão; na segunda, ele ajuda a tantas outras pessoas necessitadas; na terceira, ele dedica-se a oração para continuar aquela ação penetrada pelo diálogo com Deus: “Ele retirou-se dali, pregando em todas as sinagogas e por toda Galileia, e expulsando os demônios” (Mc 1,39). A oração e a ação de Jesus são inseparáveis: ele reza para agir em nosso favor, ele faz o bem a todas as criaturas contemplando o Pai e com ele dialogando, ou seja, em oração.
Rezemos pelos outros, especialmente por aqueles que estão mais necessitados. Santa Teresa animava as suas carmelitas a rezarem pelos outros com as seguintes palavras: “tenhamos, irmãs, cuidado particular de suplicar, e não descuidar, já que é uma grande esmola rezar pelos que estão em pecado mortal; é um ato de caridade muito grande; é como se víssemos um cristão com as mãos amarradas com fortes correntes, amarrado a um poste e morrendo de fome, não por falta de comida, já que perto de si tem verdadeiros manjares, mas não pode comer porque não consegue levá-los à boca, está também muito cansado e vê que já vai morrer, não morte como esta, mas eterna. Não seria grande crueldade ficar olhando para ele e não chegar-lhe à boca um pouco de comida Pois então… e se pela oração as correntes fossem retiradas Vejam que maravilha! Por amor de Deus vos peço que sempre tenhais presente em vossas orações almas semelhantes” (S.Teresa de Jesus, Moradas 7ª,1,4).
Não somente pelos pecadores (entre os quais nos incluímos), mas também pelas necessidades da Igreja e do mundo, pelo Santo Padre Bento XVI e seus colaboradores, pelo Bispo e por toda a Diocese, pelos que governam o País, pelos nossos familiares e amigos, pelas almas do purgatório etc. Por todos!
Peçamos também a intercessão daqueles que já estão na glória do Senhor. Claro está que se uma pessoa, um comedor de arroz com feijão, pode orar por mim… Como não intercederá por mim de maneira eficaz alguém que já está contemplando o rosto de Deus? E caso se afirmasse que os que morreram em Cristo estão simplesmente dormindo, seria preciso lembrar aquela passagem segundo a qual “está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo” (Hb 9,27) e a recompensa eterna: “hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43). O coração daqueles que estão reinando com Cristo se dilatou pela perfeição da caridade, eles amam os seus irmão, nós que estamos ainda peregrinando, e nos ajudam com as suas orações, intercessões e súplicas ante o trono da Divina Majestade.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 5º Domingo do Tempo Comum - Ano B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (1 Cor 9, 16-19. 22-23)
NECESSIDADE DE EVANGELIZAR: Se, pois, anuncio o evangelho,não há lugar a me gloriar; porque a necessidade me obriga. Já que, ai de mim se não evangelizar!(16). Nam si evangelizavero non est mihi gloria necessitas enim mihi incumbit vae enim mihi est si non evangelizavero. Paulo passa agora à defesa de seu modo de realizar o ministério apostólico. Não só foram os trabalhos e sofrimentos; mas, o que era mais importante, é que Paulo não recebeu nenhuma recompensa por seu trabalho apostólico. Evangelizar era um dever para Paulo e uma necessidade. Seu mérito era fazê-lo sem receber recompensa. Um outro motivo de vanglória é que Paulo se tornou servo de todos para ganhá-los assim para o evangelho. Não prega como superior, mas como quem presta um serviço, acomodando-se aos desejos do amo. ME GLORIAR [kauchëma <2745>=gloria] não existe motivo para me possuir ou orgulhar.Kauchëma é a palavra usada por Paulo em Rm 4, 2 ao dizer que se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. A razão é que foi obrigado a evangelizar, como disse em Rm 1, 14: Eu sou devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes. E o afirma dizendo que a NECESSIDADE [anagkë <318>=necessitas] como si fosse uma espada de Dâmocles pendente em sua vida, pois usa o verbo epikeimai [<1945>=incumbere], o verbo usado por João para descrever o sepulcro de Lázaro que era uma caverna, e tinha uma pedra posta sobre ela (Jo 11, 38). Chamado para isso, segundo a voz dos profetas, que lhe impuseram as mãos e o enviaram junto com Barnabé (At 13, 2-3). Era um chamado ou vocação por parte de Deus que não podia ser recusado. Daí que se sentisse devedor para com todos como afirma em Rm 1, 14.
A RECOMPENSA: Se, pois, voluntariamente isso pratico, tenho recompensa; se porém forçado, estou encarregado de uma administração (17). Si enim volens hoc ago mercedem habeo si autem invitus dispensatio mihi credita est. Neste versículo, Paulo continua falando de seu ministério, que podia realizar de duas maneiras diferentes: voluntariamente, e de modo forçado. VOLUNTARIAMENTE [ekön<1634>=volens] como em Rm 8, 20: Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou. O contrário é obrar FORÇADO [akön<210>=invitus] apax neste versículo. Trabalhando por livre vontade, como homem livre, é lógico que Paulo tem direito a uma recompensa ou SALÁRIO [misthos<3408>=merces]. Assim era o costume que o direito romano ratificava. Mas se o trabalho era o de um escravo, forçado a fazê-lo, unicamente se podia concluir que era como o de um administrador que na época era efetuado pelo escravo responsável; e que, segundo o evangelho, não tinha outra opção nem outro prêmio que o de ter feito o mandado: Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos sem retribuição, porque fizemos somente o que devíamos fazer (Lc 17, 10).
GRATUITAMENTE: Qual é então minha recompensa, a fim de que evangelizando, de graça proponha o evangelho de(o) Cristo para não abusar de minha autoridade? (18). Quae est ergo merces mea ut evangelium praedicans sine sumptu ponam evangelium ut non abutar potestate mea in evangelio. DE GRAÇA [adapanos <77>=sine sumptu] é também um apax que só sai neste versículo e significa sem paga, composto do negativo a e do nome dapanë que significa custo, despesa ou gasto. Nisso Paulo acha causa de orgulho e vanglória. E acrescenta: para não ABUSAR [katachrësasthai<2710>=abutar]. O verbo é usado uma outra vez em 1 Cor 7, 31: E os que usam [chrömenoi] deste mundo, como se dele não abusassem [katachrömenoi], porque a aparência deste mundo passa. Como vemos o prefixo Kata transforma o uso natural e necessário em abuso e exploração. Paulo pensa que obter proveito e paga por evangelizar é um abuso de sua AUTORIDADE [exousia<1849>=potestas] de apóstolo. Segundo ele, o ideal é evangelizar gratuitamente, sem receber salário ou recompensa. Assim o fez nas suas missões evangélicas e assim o declara como sendo seu título de orgulho. Ele recordará no seu sermão de despedida aos de Éfeso, como não recebeu emolumento algum por seu ministério e recordou as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber (At 20, 35).
TORNOU-SE ESCRAVO: Pois sendo livre de todos, a todos me escravizei para ganhar os mais (19). Nam cum liber essem ex omnibus omnium me servum feci ut plures lucri facerem. LIVRE [eleutheros<1658>=liber] num mundo classista, os homens se dividiam entre livres e escravos. Paulo afirma que ele não é escravo, sujeito a amo algum. Ele mesmo o tinha afirmado pouco antes na mesma carta: Não sou eu apóstolo? Não sou livre? Porém, se tornou escravo, ME ESCRAVIZEI [edoulösa<1402>=me servum feci] para servir a todos. E assim poder ganhar o maior número possível [para Cristo]. E, na continuação, que não forma do texto epistolar, declara como se tornou como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei (v 20). Essa foi a razão pela qual circuncidou Timóteo por causa dos judeus que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego (At 16, 3). Ou para os gentios, os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. De modo que não obrigou aqueles cujo pai era gentio a se circuncidar e por isso teve com Pedro uma discussão em Antioquia (Gl 2, 11). Neste instante, o texto é reassumido pela liturgia.
FEZ-SE TUDO PARA TODOS: Tornei-me para os débeis como débil, para ganhar os débeis; para todos fiz-me tudo para de todos os modos salvar alguns (22). Factus sum infirmis infirmus ut infirmos lucri facerem omnibus omnia factus sum ut omnes facerem salvos. DÉBEIS [astheneis<772>=infirmi] a palavra asthenës pode significar enfermo como em Lc 10, 9: E curai os enfermos que nela houver. E pode significar pessoas que por seu baixo nível de nascimento e posses nunca chegam a ter influência, mas são desprezadas na sociedade, como em 1 Cor 4, 10: Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos [astheneis], e vós fortes; vós ilustres, e nós vis. Evidentemente é esta última a situação que Paulo quer descrever aos de Corinto. O texto anterior claramente define esta política de Paulo. É uma prática de acomodação à cultura e pensamento dos ouvintes do evangelho, sempre que não esteja em detrimento da verdade cristã e fraternidade entre as igrejas.
PARTE DO EVANGELHO: Pois isto faço pelo evangelho para me tornar coparticipante do mesmo (23). Omnia autem facio propter evangelium ut particeps eius efficiar. Essa atitude de Paulo é um ato de serviço, que sempre o situa em humilhado ao quem presta seu ministério em nome de Cristo. Cumpre-se assim o que Jesus disse de sua missão: o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos (Mt 20, 28). COPARTICIPANTE [sigkoinönos<4791>=participes] É parceiro ou associado; alguém como diz João no Apocalipse 1, 9: Eu, João, que também sou vosso irmão, e companheiro na aflição, e no reino, e paciência de Jesus Cristo. Com esse mesmo espírito, Paulo diz que ele forma parte do anúncio evangélico.
EVANGELHO (Mc 1, 29-39) - MILAGRES E ORAÇÃO DE JESUS
(Lugares paralelos: Mt 8, 14-17 e Lc 4, 38-41)
INTRODUÇÃO: O milagre assim como a parábola é uma característica da vida pública de Jesus. Não é o milagre, pelo maravilhoso do fato, que a Bíblia o apresenta, mas pelo que contém de acontecimento em que se pode ver a revelação do poder de Deus e o signo da salvação. Por isso, João os chama de semmeia [sinais] no lugar de dynamis [força ou poder; work of power inglês] a palavra usada pelos outros evangelistas. Em geral, o milagre é uma cura extraordinária, ou a expulsão de um demônio, como era acreditadas determinadas doenças na época. Porém, há outros fatos extraordinários que também recebem os nomes anteriormente escritos: A conversão da água em vinho, segundo João foi o primeiro dos sinais feito por Jesus na Galileia. A multiplicação dos pães também recebe este apelativo (Jo 6, 26). Mas os judeus esperavam algo mais contundente: um sinal do céu (Mt 12, 38) que não seria dado (Mt 12, 39).
PRIMEIRA PARTE: A CURA DA SOGRA DE SIMÃO(29-31)
SAINDO DA SINAGOGA: Assim, imediatamente, tendo saído da sinagoga, entraram na casa de Simão e André, junto com Jacó e João (29). Et protinus egredientes de synagoga venerunt in domum Simonis et Andreae cum Iacobo et Iohanne. Imediatamente, dirá Marcos, saindo da sinagoga ou levantando-se da sinagoga entraram na casa de Simão, dirá Lucas (4, 38). Os serviços religiosos demoravam toda a manhã do sábado, de modo que terminavam ao meio dia. Era, pois, a hora da refeição. Junto com Simão e André, estavam os dois novos discípulos de Jesus: Jacob [Tiago] e João. A distância não era grande, pois a cidade era pequena, como vimos em comentários anteriores.
A SOGRA: Estava, porém, a sogra de Simão deitada, febril, e logo lhe falam sobre ela (30). Decumbebat autem socrus Simonis febricitans et statim dicunt ei de illa. Os três evangelistas falam sobre a SOGRA [penthera] de Simão que estava doente, de cama, com febre muito alta. Tomada de grande febre, dirá Lucas (4, 38). E pediram a Jesus por ela. Qual era a doença? Talvez impaludismo, ou malária, porque tinha começado com uma febre muito alta; assim tão de repente, só poderia ser uma dessas doenças a causa. O impaludismo é endêmico em países pantanosos. O agente é o mosquito anopheles que transmite o plasmodium; e o sintoma característico é a febre, com acessos de dois ou três dias de intervalo, que se espaçam com a evolução da doença. Ainda não existe uma vacina nos dias de hoje. O nome de malária foi dado na Itália em 1847 por Torti, porque se acreditava que o mal era causado pelo ar mau [malaria em italiano] ou miasmas que se desprendia das águas estancadas e dos terrenos pantanosos; o de impaludismo [paludismo em espanhol] porque predominava nos lugares pantanosos que em italiano eram paludes do latim palus. Era doença que se dava principalmente na terminação da época pluvial e início da seca. Do relato, deduzimos que Simão Pedro era casado. Imediatamente, depois de chegar em casa, Jesus se informa da doença da sogra de Simão.
A CURA: Então, tendo-se aproximado, a levantou, tendo segurado a mão dela e a febre a abandonou. E imediatamente os servia (31). Et accedens elevavit eam adprehensa manu eius et continuo dimisit eam febris et ministrabat eis. Therapeuô em grego significa servir, estar em serviço a um superior, cuidar de [como os médicos] e finalmente curar. A palavra cura significa também em latim estar ao serviço de, cuidar. No AT traduz o hebraico ebed como therapon [servo]. As línguas modernas tomam a raiz de therapeia e usa terapia para indicar tratamento de cura. No NT das 43 vezes em que aparece a palavra therapeuô, 40 é para significar o mesmo que Iaomai, termo médico para curar uma doença. E, especialmente nos evangelhos, usa-se therapeuô para os atos de Jesus, em que demonstra seu poder para restituir a saúde dos diversos enfermos. Nestes fatos estão se cumprindo a profecia de Is 53, 4 como declara Mt 8, 16-17. Eram atos de serviço muito mais do que prodígios, semelhantes aos que os theoi anthrópoi [homens divinos] operavam para demonstrar sua capacidade através de milagres. Tendo como base que toda doença era um castigo pelos pecados, quer individual, quer do coletivo correspondente [ver Mc 2, 5 no caso do paralítico, e Jo 8,11 e 9, 2], a cura é um sinal do perdão recebido e da libertação dos laços do maligno (Lc 13, 16). Por isso devemos ter em conta estas premissas, para afirmar que a cura não era uma simples compaixão de quem era médico supremo, mas a ação de uma visão muito mais ampla, como é o ofício de um salvador. O importante na cura era a visão teológica do Salvador e por isso Jesus exigia a fé. Fé no seu ministério, como poder sobre doenças malignas, muito mais do que fé na sua eficácia como médico ou mágico. Segundo o que vemos no evangelho de Lucas em lugar paralelo, Jesus mandou [epetimêsem] à febre que saísse do corpo da sogra de Simão (4, 39). Esta conduta de Jesus segue o pensamento contemporâneo de ver nas doenças, espíritos malignos pessoais, a exemplo do centurião (Mt 8, 8-9) que via em Jesus um homem com autoridade sobre determinadas doenças. Outra coisa foram os dois milagres de devolução de vida ao filho da viúva de Naim e ao seu amigo Lázaro: Em ambos, a compaixão foi a determinante da ação salvífica de Jesus (Lc 7, 13 e Jo 11, 35 e 38). No caso da filha de Jairo, ele ordena à menina e não à doença, embora houvesse dito que estava só dormindo (Mc 5, 41 Lc 8,54). Por isso, a exousia [autoridade] sobre os demônios é parte da dynamis [poder] sobre as doenças que Jesus transmite a seus discípulos. E uma importante observação: Quando Jesus cura o paralítico na casa de Simão disse: Para que saibais que o filho do homem [eu] tem poder para perdoar os pecados, ordena ao paralítico: levanta-te e anda. Ou seja, o poder de cura demonstra o poder de perdoar. Logo o poder de cura dos discípulos é a base de seu poder de perdoar ou reter os pecados (Jo 20, 23). Uma explicação teológica paulina é que Satanás tem poder de atormentar o corpo, pois entrega o incestuoso de Corinto de modo que o corpo fosse destroçado, mas pudesse se salvar no dia do Senhor (1 Cor 5, 5). As curas eram realizadas com a simples imposição das mãos, ou usando algumas poucas palavras, porque os rabinos proibiam orações sobre os enfermos por temerem que fossem palavras mágicas. Sabemos que os discípulos curavam usando óleo (Mc 6, 13) e que esta prática foi normativa na primitiva Igreja, como relata Tiago (5, 14). Nas recomendações finais de Jesus que manda proclamar o evangelho, lemos que os que tiverem crido serão acompanhados por sinais entre os quais está a imposição das mãos sobre os enfermos e estes serão curados (Mc 16, 18). Texto que serve, sem reserva nenhuma, para que muitos dos chamados carismáticos tomem o lugar dos médicos modernos. Este procedimento pode ser uma imprudência e temeridade: Tentar a Deus. As duas posturas, os curandeiros que recorrem às orações de Vodum e os espíritas, são inaceitáveis do ponto de vista católico. Também devemos ter muito cuidado com os carismáticos que se atribuem o dom de cura. Há exemplos de falhas tremendas. Os santos nunca falavam de ter esse dom, e o usavam de modo pontual e sem espetáculos de multidões.
SEGUNDA PARTE: AS CURAS (32-35)
CHEGADA À TARDE: Chegada à tarde, quando o sol se pôs, trouxeram-lhe todos os doentes e os possessos pelos demônios (32). Vespere autem facto cum occidisset sol adferebant ad eum omnes male habentes et daemonia habentes. Opsias<3789>de genomenes [chegada à tarde] não é uma frase redacional como parece, mas uma conformidade com a realidade, um pequeno detalhe que indica a grande autenticidade evangélica. Após a cura do endemoninhado, todos sabem que Jesus tem um poder de cura e pretendem aproveitar o Kayrós [oportunidade]. Mas a cura era um dos trabalhos não permitido em dia de sábado, e por isso esperam o pôr-do-sol, como diz com propriedade Marcos, ou seja, o início do dia seguinte. E Jesus cura tanto os que tinham doenças, os male habentes latino, que traduz literalmente o grego kakös echontes, assim como os endemoninhados. Já temos explicado a diferença entre os dois poderes de Jesus: a autoridade sobre os demônios e o poder sobre as doenças, que os evangelistas distinguem perfeitamente.
A RESPOSTA: E a cidade toda estava reunida junto à porta (33). E curou muitos que estavam doentes de muitas enfermidades e muitos demônios expulsou e não permitia que falassem os demônios porque o conheciam. Et erat omnis civitas congregata ad ianuam. Et curavit multos qui vexabantur variis languoribus et daemonia multa eiciebat et non sinebat loqui ea quoniam sciebant eum. A cidade era pequena e não podemos falar de grandes multidões como o texto poderia sugerir. NÃO DEIXAVA FALAR: A razão de que não deixasse falar os demônios é que sabiam quem ele era. Já explicamos no comentário do domingo anterior em que consistia o segredo messiânico de Marcos. Um Messias, rei davídico, era o que entenderiam através da linguagem demoníaca e não um servo sofredor que era a verdadeira imagem do autêntico Messias. Por isso a mentira devia ser calada para não ofuscar a verdade. O contrário seria suplantar o VERDADEIRO Messias, que era o que Paulo pregava nas sinagogas (At 9, 22) e que ele descrevia como o Messias CRUCIFICADO (1 Cor 2, 2), por um FALSO Messias produto de uma insatisfação política do momento. É a mesma mentira que a Igreja moderna teve que enfrentar com certos aspectos ou certas Teologias de libertação. Substitui-se a misericórdia e o perdão do pecado pela justiça e desta vez, não como nos tempos de Jansênio, mas a justiça humana. O Papa Bento XVI claramente advertiu que o opus primum da Igreja é a caridade. Os demônios antigos foram substituídos por alguns teólogos modernos.
TERCEIRA PARTE: ORAÇÃO DE JESUS (36-39)
CEDO DE MANHÃ: E muito cedo, na profunda noite, tendo-se levantado, saiu e foi a um lugar inóspito e lá orava (35). Então o procuraram Simão e os que com ele [estavam] (36). Et diluculo valde surgens egressus abiit in desertum locum ibique orabat. Et persecutus est eum Simon et qui cum illo erant. Sem dúvida que as curas, não muitas, porque a população de Cafarnaum não era tanta assim, demoraram algum tempo. Logo houve o descanso do sono noturno. Jesus levantou-se, como diz Marcos, muito cedo [prôi], bem à noite [ennychan lian], quando todos estavam ainda dormindo. Jesus se dirigiu a um lugar inabitado e lá estava orando. Assim o encontraram Simão e seus companheiros que o buscaram. Parece que este era um costume habitual de Jesus, que os apóstolos mais íntimos tiveram ocasião de presenciar no monte Tabor, sendo que talvez, fosse mais habitual essa conversa de Jesus com seres supranaturais, como parece que encontramos nas duas ocasiões em que os discípulos foram testemunhas: Moisés e Elias, na primeira vez (Mc 9, 4) e um anjo na segunda (Lc 22, 44). Ao falar de Simão e outros companheiros, Marcos delata certamente a origem deste comentário; pois, segundo a tradição, Marcos foi discípulo de Pedro.
MISSÃO MAIS AMPLA: E tendo-o encontrado, lhe dizem que todos te buscam (37). Então diz-lhes: Vamos para as aldeias vizinhas para que eu pregue lá. Para isto, pois, foi enviado (38). Et cum invenissent eum dixerunt ei quia omnes quaerunt te. Et ait illis eamus in proximos vicos et civitates ut et ibi praedicem ad hoc enim veni. Temos traduzido o grego nos tempos correspondentes para dar uma ideia melhor do texto, que vemos estar escrito num presente histórico. Uma vez encontrado, lhe disseram: todos te buscam. Ele respondeu: Vamos às vilas próximas [Eis tas echomenas kômopoleis]. Kômopolis é uma palavra composta de Kômê [=vila, aldeia] e polis [=cidade], indicando uma localidade habitada do interior. A palavra echomenos que poderia ser traduzida por habitado, tem em grego um significado próprio de próximo, contíguo. Vamos a essas próximas cidadezinhas para que também nelas pregue; pois para isso fui enviado. Com estas palavras, Jesus declara uma parte principal de sua missão: pregar o reino. A outra parte era o sacrifício, sem o qual, não haveria redenção. A Igreja tem o dever duplo de pregar o evangelho [nome com o qual se designa o Reino] e de renovar o sacrifício da cruz através da Eucaristia, que é um exemplo do que nós devemos fazer em nossas vidas. A GALILEIA: Por isso, Jesus pregava nas sinagogas da Galileia, lugar escolhido por Deus como privilegiado, para ouvir as palavras do Filho, que seriam luz também para as nações, em próximos anos (Mt 4, 15-16 e Lc 2, 32). EXPULSANDO DEMÔNIOS: Não é narrado como uma especialidade, mas como a derrota de um reino oposto ao divino, reino este que agora estava agindo (Mt 12, 28). Portanto o reino do mal ou de Satanás, agora encontrava o mais forte que o tinha reduzido em sua casa para apoderar-se da mesma (Mc 3, 27). É por essa razão que o evangelista propositadamente traz esta locução, como final do período de evangelização. Se os homens não se submeteram à palavra do Filho de Deus, pelo menos os demônios não puderam se subtrair a sua autoridade. Isso quer dizer que o Reino definitivamente triunfará.
PISTAS:
1) A cura está diretamente unida ao kêrygma evangélico ou é uma prova de que ele é autêntico? Quando os discípulos do Batista foram enviados para perguntar a Jesus se ele era o Messias ou deviam esperar um outro, Jesus responde com curas prodigiosas (Lc cap 7). A resposta de Jesus é a resposta de todos os tempos. Sua doutrina não depende das curas, mas sua credibilidade está baseada nas mesmas. Não faz outra coisa a Igreja quando canoniza um santo. A sua vida heróica precede todo milagre que a confirma.
2) Portanto, separar a cura da doutrina é desvirtuar esta e idolatrar aquela. A cura confirma a doutrina e não pode ser separada da mesma, como se fosse a base evangélica em si mesma. Marcos dirá: Proclamai o evangelho…. E estes são os sinais que acompanharão os que tiverem crido (Mc no final do cap. 16). São, pois, sinais que testemunham a fé e não objetivos em si mesmos de uma religião de cura.
3) A expulsão dos demônios teve, nos tempos de Jesus, um papel fundamental. Eram os tempos da iniciação do Reino e a luta de poder determinava os dois inimigos: Jesus e Satanás. Hoje o Reino está instituído e a luta está dentro de nós mesmos. Somos Reino, ou, pelo contrário, as trevas do mal nos situam na calçada da frente?
4) De onde tirava Jesus a sua autoridade e o seu poder? Vemos como, enquanto Jesus ora, os discípulos dormem e só o buscam porque muitos querem ser curados. Hoje também muitos de nós dormimos e só nos interessamos pelos bens materiais, saúde, bem-estar, comida, vestido, casa. Jesus fala de um Reino em que a justiça do mesmo tem prioridade (Mt 5, 37). Certamente essas coisas não correspondem à justiça do Reino que consiste, como diz o Papa atual, no amor a Deus e ao próximo. Quando esse amor estiver realmente presente, a justiça humana terá muito pouco a reclamar.
5) A descristianização do mundo contemporâneo nos obriga a escutar com maior atenção as palavras finais do evangelho de hoje: Vamos para essas cidades, para que também nelas seja pregado o evangelho, porque para isso estamos sendo enviados.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
CAMPANHA DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA
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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus! Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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