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NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO. Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A hora de Jesus, também chamada de "glória", é o momento decisivo da cruz, hora do serviço total da entrega da vida. "Se o grão de trigo cair na terra e morrer, produzirá muito fruto". Hoje o Pai nos entrega Jesus, o grão fecundado pela força do Espírito, feito Pão da Vida para nossa salvação. Com alegria renovamos nossa aliança e comungamos seu projeto, aceitando a cruz de nossa vida, como passagem necessária para a ressurreição e alegria plena. INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Neste Domingo, preparemo-nos para celebrar a Semana Santa e para contribuir, por meio da coleta do próximo domingo, que é o Domingo de Ramos, com o gesto concreto da Campanha da Fraternidade. Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo entoemos alegres cânticos ao Senhor! (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) PRIMEIRA LEITURA (Jr 31,31-34): - "Todos me conhecerão do menor ao maior deles, diz o Senhor, pois perdoarei sua maldade e não mais lembrarei o seu pecado" SALMO RESPONSORIAL 51(50): - "Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido." SEGUNDA LEITURA (Hb 5, 7-9): - "Mas na consumação de sua vida tornou-se causa de salvação eterna para todos que lhe obedecem." EVANGELHO (Jo 12, 20-33): - "Já o glorifiquei e tornarei a glorificá-lo" Homilia do Diácono José da Cruz – 5º Domingo da Quaresma "MORRER PARA FRUTIFICAR" Capitão Tininho era o nome de um grão de feijão, que certa ocasião usei como cobaia, na minha adolescência, para saber como era o desenvolvimento das plantas. Na minha fantasia, o Capitão Tininho retrucou, mas eu o convenci de que ele iria se tornar um herói, e poderia até quem sabe, reescrever a “Viagem ao Centro da Terra”, na visão de um grão de Feijão, e então ingenuamente ele aceitou. Ainda fantasiando, cavei um buraco, fiz um belo discurso para a “tropa” reunida ali, e aplaudimos o Capitão Tininho, que coloquei com carinho no buraco e jogamos a terra por cima. Todos os dias eu regava e revolvia a terra até que em uma manhã surgiu um brotinho quase invisível, fiquei eufórico, era como se estivesse nascendo um filho. Quando finalmente o pezinho de feijão estava “espigadinho” inclusive com algumas folhas, reuni a “tropa”, na minha fantasia, e começamos aquilo que eu chamei de “Operação retorno”, mas cadê o coitado do Capitão Tininho? Examinei cuidadosamente a raiz do meu pé de feijão, e não tinha nem vestígio do meu herói, de noite comentei com um colega na aula de ciência, que sorriu e me explicou friamente que o Capitão Tininho tinha “esticado a canela”. Por isso, no primeiro contato com esse evangelho, quando ministro da palavra, nos anos 80, comentei com meus botões “Eis aqui mais um Capitão Tininho”, referindo-me ao grão de trigo da parábola que Jesus contou em Jerusalém, praticamente às vésperas da sua paixão e morte. Qualquer criança em idade escolar, bem cedo irá aprender que a semente morre nas profundezas da terra, para poder brotar nova plantinha. Mas na dimensão teológica, como poderíamos interpretar esse ensinamento de Jesus, o que significa morrer, nesse sentido? Eu diria que a morte de Jesus teve início com a sua encarnação, pois no paraíso, o homem sentiu-se tão importante que teve a pretensão de ser o Deus - Todo Poderoso, conhecedor do Bem e do Mal, e senhor de todos os seus atos, enquanto isso, para iniciar a obra da salvação, o Deus Todo Poderoso se fez tão pequeno, que se tornou homem. Essa pequenez de Jesus está diretamente ligada à sua missão – eu vim para servir. Poderíamos até afirmar que pequeno, é todo aquele que serve, é aquele que sabe partilhar com os outros, aquilo que tem inclusive os carismas. Na teologia judaica, a glorificação divina estava reservada aos justos, que no pós-morte seriam levantados por Deus para nunca mais morrerem. Ora, todas as personalidades bíblicas do A.T são uma prefiguração de Jesus e em alguns gêneros literários, como os evangelhos, por exemplo, encontramos em Mateus uma relação mais direta de Jesus com Moisés. Com a Salvação, Jesus insere de novo o homem na plenitude original do paraíso, sendo esse o anúncio que ele faz aos discípulos no evangelho desse quinto domingo da quaresma, com a afirmativa própria de João de que “Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado”. Quando o homem busca a santidade e a perfeição em todas as suas ações e pensamentos, manifestando fidelidade ao projeto de Deus, revelando o amor ágape em suas relações com o próximo a glorificação não é simplesmente um prêmio divino, por ele ter sido bom, mas é o resgate perfeito da imagem original de cada ser humano, enquanto imagem e semelhança de Deus, é a volta do Filho pródigo à casa do Pai, recuperando a dignidade perdida com o pecado. Esse processo aconteceu primeiro com Jesus de Nazaré, chamado nas cartas paulinas de primogênito de todas as criaturas e embora não tivesse nele nenhum pecado, ao receber a glória, também glorificou o Pai, que agora poderá olhar o homem realmente como Filho, e restabelecer com ele uma vida de comunhão, para comunicar a sua graça. É este precisamente o caminho do cristão, não há nenhum outro, é o mesmo caminho de Jesus, o caminho do serviço, do amor ágape, da doação, da fidelidade ao Pai, do despojamento e do esvaziamento, e tudo isso significa “morrer” para si mesmo, ou deixar-se morrer para que o irmão seja bem servido e tenha mais vida. A comunidade é o lugar ideal para se viver a vocação do grão de trigo, morrer para atingir a plenitude, uma linguagem e um ensinamento estranho, para uma sociedade onde ainda prevalece, em todos os segmentos, a famosa Lei de Gerson... José da Cruz é Diácono da Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 5º Domingo da Quaresma “Atração da Cruz” Aproximam-se aqueles dias intensos nos quais celebraremos o mistério da nossa salvação. No próximo domingo, a Igreja tornará a vivenciar a entrada de Cristo em Jerusalém e viverá a partir de então, e com muita intensidade, aqueles dias tão fortes da Semana Santa e do Tríduo Sacro. Tão perto de tão grandes acontecimentos, é maravilhoso poder escutar essas palavras de Jesus na Missa de hoje: “E quando eu for levantado da terra atrairei todos os homens a mim” (Jo 12,33). Contemplamos Jesus levantado na cruz estendendo-se rumo a todos os pontos cardeais, mostrando-se como aquele servo que aparece na profecia de Isaias e que é feito “luz das nações, para propagar minha salvação até os confins do mundo” (Is 49,6). A cruz do Senhor atrai. Já disse e tornarei a repetir: erram todos aqueles cristãos que querem tirar a cruz do cristianismo, equivocam-se todos aqueles que querem apresentar um cristianismo light, sem exigências, a gosto do “cliente”. Certas comunidades, ditas cristãs, ao parecer muito interessadas no dinheiro dos “fregueses”, retalham a doutrina de Cristo e apresentam somente aquelas coisas que são consideradas agradáveis às pessoas atualmente. Odo Casel (1886-1948), no seu livro Mysterium des Kreuzes (O mistério da Cruz) apresenta-nos de maneira magistral a verdade conhecida de que Cruz e o Mistério de Deus encontram-se intimamente unidos. A Cruz é reveladora tanto da grandeza de Deus quanto da feiura do pecado. Depois dessa consideração, Casel nos mostra o Mistério da Cruz em relação com o Mistério da Igreja, Corpo de Cristo que nasceu do seu Sangue Preciosíssimo na Cruz. Casel chama a Igreja de concorporea Christi, concorpórea de Cristo. A graça chega até nós através do Mistério da Cruz, motivo suficiente para que amemos a Santa Cruz. No seguimento do Crucificado, o cristão vive no Pneuma, no Espírito Santo, e não na carne. Aquele que renasceu “da água e do Espírito” (Jo 3,5) sabe que ad altiora natus est, nasceu para as realidades superiores. Para conseguir chegar até lá tem que lutar e mortificar-se naquilo que tem de carnal. O nosso autor observa que nas culturas antigas, as árvores – especialmente os cedros – eram divinizadas. A Sagrada Escritura repugna essa visão divinizadora de árvores. Há três árvores na Bíblia muito importantes: a da vida – que segundo a vontade de Deus, o homem deveria comer os seus frutos e viver –; a da ciência do bem e do mal – da qual o homem comeu, instigado pelo demônio, preferindo um conhecimento fora da submissão e, por tanto, longe de Deus –; finalmente, a árvore da Cruz, que foi colocada na fronteira entre a morte e a vida, entre o mundo pecador e o “mundo” de Deus. Através da árvore da Cruz se pode ter acesso à árvore da vida que está no Paraíso. O ser humano, depois de ter sido expulso do Paraíso, não teve mais acesso à árvore da vida; Deus “colocou ao oriente do jardim do Éden querubins armados de uma espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da vida” (Gn 3,24). A árvore da Cruz e árvore da Vida, para alguns Padres da Igreja, se identificam: Crux Christi est lignum vitae, a cruz de Cristo é o lenho da vida (S.Atanasio Sinaíta). A Cruz aparece como condição necessária para aceder à árvore da vida e graças à satisfação que Cristo ofereceu ao Pai, podemos aceder novamente à árvore da vida. Nós buscamos a árvore da vida, mas às vezes, ao buscá-la de maneira equivocada, podemos acabar dançando ao redor da árvore da morte, que é um ídolo. O ser humano quer encontrar a felicidade nas coisas imediatas, aqui e agora, e não busca a árvore que está na fronteira e que dá acesso à árvore da vida. Temos que aplicar diariamente à nossa vida a contemplação que fizermos sobre o mistério da Cruz, ou seja, carregar a nossa Cruz a través da obediência e do amor. A cruz de Cristo atraiu cada um de nós e continuará atraindo, também através da vida santa de cristãos bem dispostos a servir a Deus em todos os momentos e a todos os seres humanos por amor a Deus. Isso acontecerá se a nossa vida estiver selada pela santa Cruz, que aponta e traz em si o mistério da Ressurreição do Senhor. Tudo isso custará sacrifício, mas… O que foi a entrega de Cristo na cruz senão uma oferta, um dom sagrado (sacrifício), ao Pai no Espírito? Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa Comentário Exegético – 5º Domingo da Quaresma - Ano B EPÍSTOLA (Hb 5, 7-9) INTRODUÇÃO: O estado de inferioridade de Cristo foi temporal (2,7). Após a sua morte fez sua entrada nos céus onde foi constituído e proclamado Filho de Deus (5, 5-10). A presença de Cristo nos céus e sua proclamação como Filho de Deus tem uma importância extraordinária em nossa carta. Cristo é proclamado Filho e Sumo Sacerdote ao mesmo tempo (5, 5-10). Como Sumo Sacerdote purifica-nos do pecado. Como Filho associa a si seus irmãos, os introduz com Ele nos céus e os tornam também filhos de Deus (2, 13-16). Utilizando o padrão do AT, o autor deduz que Cristo é Sumo Sacerdote porque reúne todas as condições requeridas: ser representante ante Deus, ter compaixão da fragilidade humana, sentir a necessidade de oferecer sacrifícios por eles mesmos e cumprir as ordenanças rituais.Tudo isso se cumpre em Jesus, menos a necessidade de oferecer sacrifícios por si mesmo (4, 16 e 7, 27). Porém, isto não é uma deficiência, mas uma sobreabundância que manifesta um sacerdócio superior. SACERDÓCIO DE CRISTO: O qual [Cristo] nos dias da sua carne, preces e também súplicas a quem podia salvá-lo da morte por meio de clamor forte e lágrimas tendo oferecido e tendo sido ouvido em atenção à piedade (7). Qui in diebus carnis suae preces supplicationesque ad eum qui possit salvum illum a morte facere cum clamore valido et lacrimis offerens et exauditus pro sua reverentia. CARNE [sarx<4561>=caro]: com esta afirmação coincide o quarto evangelista que não diz se fez homem, mas se fez carne (1,14) para contradizer os docetas que viam um homem em Cristo, mas não feito de carne, a semelhança como experimentamos as visões dos anjos. Jesus não foi uma aparência de homem, mas uma realidade assumindo a carne dos mesmos. Sarx traduz o hebraico bashar<01320> como em Gn 2, 23: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne. PRECES [deësis<1162>=prex] que é a palavra usada por Lc 1, 13: Não temas, Zacarias, porque a tua oração foi ouvida. SÚPLICAS [iketëria<2428> =supplicatio] propriamente era o ramo de oliveira com o qual os suplicantes se apresentavam para serem atendidos. É um apax que só sai neste versículo. Ambas as expressões, seguidas de quem podia salvá-lo da morte, têm sua realidade no momento da oração de Jesus em Getsêmani que em Mateus vemos relatado com estas palavras: Indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres. Podemos ver também essa situação em Mt 27, 46: Perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste. Tudo para indicar que Jesus não escolheu a sua paixão e morte, o cálice a ser bebido,] por vontade própria, mas como ato de obediência ao Pai: Sendo obediente até à morte, e morte de cruz (Fp 2, 8). Era a hora em que podia suplicar: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho (Jo 17,1). SALVÁ-LO DA MORTE: Assim o declarou Jesus a Pedro quando lhe mandou invaginasse a espada: Pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos? (Mt 26,53). CLAMOR FORTE E LÁGRIMAS [kraugës <2906>ischyras<2478> kai dakryöv<1144>= clamore valido et lacrimis]: é o momento da agonia em que Jesus disse: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres (Mc 14, 36). Essas lágrimas eram em forma de sangue, segundo o que narra Lucas 22,44: Posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão. OUVIDO [eiskoustheis<1522>=exauditus] por causa de sua PIEDADE [eulabeia <2124>=reverentia], coisa que encontramos em Lc 22, 43: Apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia. O Filho respondeu com súplicas e lágrimas perguntando se é possível. E dada a resposta negativa, ele foi confortado por um anjo devido a essa eulabeia, reverência, temor de Deus ou piedade que nunca deixa de ser respondida pelo Pai, cuja característica é ser misericordioso e fiel [ehed we emeth]. O anjo que impediu a morte de Isaac, agora não impede o sacrifício de Jesus, mas conforta a angústia de seu coração. OBEDIÊNCIA: Embora sendo Filho, aprendeu das coisas que padeceu a obediência (8). Et quidem cum esset Filius didicit ex his quae passus est oboedientiam. Não existe amor sem obediência, como claramente afirma Jesus: Se guardardes os meus mandamentos permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor (Jo 15, 10). Neste versículo há uma afirmação dogmática digna de reflexão: Jesus era verdadeiro Filho de Deus. Como tal e segundo o Deuteronômio, esse filho deveria honrar [kabad<3516>timeö=honorare] o Pai (Dt 5, 16). Como diz o livro de Ester, o rei Assuero decretou que todas as mulheres darão honra [yeqar<03366> peritithemi timën= defere] a seus maridos, desde a maior até à menor (Est 1, 20). Essa honra consistia em não fazer o que fez a rainha Vasti por não ter obedecido [asah<06213>] ao mandado do rei Assuero, por meio dos camareiros (Est 1, 15). Mas a verdadeira obediência de Jesus Cristo se deu na hora de sua paixão que mais do que uma aprendizagem [emathen] no sentido ideológico, foi ter uma experiência do que significava uma submissão e obediência. Porque, como diz Paulo, tanto o pecado como a redenção do mesmo tem como base a obediência: Como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um, muitos serão feitos justos (Rm 5, 19). No canto do Filho, Paulo escreve: Achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz (Fp 2, 8). E embora a fé seja um dom do Pai, ela exige do homem uma obediência que Paulo chama de obediência da fé: O mistério [da entrada dos gentios] manifestado agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé (Rm 16, 25). A OBEDIÊNCIA: E aperfeiçoado, tornou-se a todos os que o obedecem, causa de salvação eterna (9). Et consummatus factus est omnibus obtemperantibus sibi causa salutis aeternae. APERFEIÇOADO ou sendo perfeito na obediência e no sacrifício que ela solicitava, foi causa de SALVAÇÃO [sötëria<4991>=salus]. Já no dia de seu nascimento Jesus recebeu do anjo o nome de sötër: Na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor (Lc 2, 11). De modo que essa salvação é basicamente perdão e remissão do pecado do povo como diz Zacarias que seu filho anunciaria (Lc 1, 77), e proclamaria na presença de Jesus: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1, 29). Salvação que Paulo denomina justificação e que não foi gratuita por parte do Salvador que trouxe muitos filhos à glória, pelas aflições, o príncipe da salvação deles (Hb 2, 10); mas foi gratuita por parte dos remidos como diz Paulo: Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus (Ef 2, 8). Como temos anteriormente afirmado, a justificação está no plano da obediência: obediência de Cristo pela sua morte na cruz (Fp 2, 8), e de nossa parte obediência da fé (Rm 16, 25). S. Faustina Kowalska escreve no Diário: Satanás pode envolver-se no manto da humildade; mas não é capaz de vestir o manto da obediência. EVANGELHO (Jo 12, 20-33) INTRODUÇÃO: O evangelho de hoje é próprio de João nas suas circunstâncias de tempo e lugar, e até nas pessoas dialogantes, mas tem muitos pontos de contato com os sinóticos pelo que se refere às afirmações de Jesus sobre sua oblação e morte, como depois veremos, ao tratar de cada um dos versículos. A DIÁSPORA: palavra grega que significa dispersão. No ano 609 aC quando Nabucodonosor conquistou Jerusalém, destruiu o templo de Salomão e deportou a aristocracia judia para Babilônia. Aqui começa o período do cativeiro. Nos anos 586-538 aC os judeus [nome genérico do povo tanto de Judá como de Israel] iniciariam o que se conhece com o nome de Diáspora [dispersão] fugindo do poder babilônico e do cativeiro de Babilônia, foram especialmente para ao Egito. Paradoxalmente foi um momento auge da cultura hebraica, com a compilação da Bíblia e a sistematização de outras doutrinas tradicionais. Destruído o império neobabilônico pelos persas, estes permitiram que os judeus deportados regressassem para a Palestina com a condição de reconhecerem vassalagem aos persas. Nem todos retornaram, mas os que o fizeram constituíram um foco cultural e religioso, cuja máxima expressão foi a reconstrução do templo de Salomão [completada perto de 515 aC]. A situação dos judeus na Babilônia foi satisfatória pelo menos até o século X dC. A destruição do Estado e do Templo foram experiências traumáticas. Diante da pregação dos profetas, afloraram tanto o desejo de vingança como os sentimentos de culpa e contrição. A religião judaica conseguiu um importante desenvolvimento no exílio babilônico. A sinagoga, talvez a instituição mais importante da vida judaica, começou a atuar em substituição ao destruído Templo. E a estreita proximidade dos não judeus teve que exercer uma certa influência sobre sua Teologia e o pensamento religioso. Os desterrados nunca abandonaram a esperança de retornar a sua pátria. Até o profeta da condenação, Jeremias, lhes assegurou que finalmente retornariam a sua terra. No Exílio, Ezequiel, com sua profecia da ressurreição dos ossos dos mortos, alentou certamente a esperança. Quando os medos conquistaram Babilônia, os judeus o consideraram um ato de Deus. Ciro, a quem Isaías chama Pastor de Jahvé (Is 44, 28), empenhou-se na reconstrução de Jerusalém e estabelecimento do templo (Idem). Foi concedida aos judeus autorização de regressar a Jerusalém e reconstruir o Templo. O primeiro retorno, 538 aC, incluiu 42360 homens livres e 7337 escravos. O território era pequeno e abrangia Jerusalém e suas vizinhanças. Os regressos sofreram grandes contrariedades assim como a hostilidade dos colonos que os assírios tinham assentado na Samaria, após a conquista de Israel. Estes habitantes eram conhecidos como samaritanos e adotaram certa forma de judaísmo e estavam construindo seu próprio templo no monte Garizim. Em 515 o templo estava reconstruído mas as condições em geral dos habitantes não eram em modo algum favoráveis. Em 458, um segundo grupo de judeus babilônicos chegou à cidade sob o comando de Ezra a quem as novas autoridades da Babilôna tinham nomeado governador. Este grupo compreendia 18 mil homens, mulheres e crianças. O prolongado período de paz sob a dominação persa, em cujo transcurso o aramaico deslocou como língua de uso o hebraico nacional, deu passo, sem sobressalto algum, à incorporação da Judéia ao império dos sucessores de Alexandro Magno [séc III aC]: Ptolomeus primeiros e Selêucidas da Síria depois. O novo âmbito político facilitou mais ainda a diáspora judaica e se iniciou um contato cultural proveitoso com o mundo helenístico. A tradução da Bíblia ao grego em Alexandria [versão dos setenta], significou um passo decisivo na difusão universal das doutrinas hebraicas. Os Selêucidas sírios romperam a tradição de tolerância da que se tinham beneficiados os judeus até o momento e trataram de impor uma helenização forçosa na cultura e na religião. A resistência ficou plasmada nos livros bíblicos de Daniel e Ester e na rebelião capitaneada pelos Macabeus [160 aC]. O enfraquecimento do Império Selêucida, devido as lutas internas, devolveu aos judeus certa independência e tranquilidade durante um século, governados por sacerdotes-reis, descendentes dos Macabeus até a incorporação por Roma, que se deu na metade do século I aC. Durante o período do segundo templo os principais acontecimentos da história judaica aconteceram na terra de Israel. No século II dC, após o fracasso da rebelião de Bar Kokeba e das perseguições subsequentes desatadas por Adriano, o centro da vida judaica se trasladou de Judeia a Galileia. Aqui foi compilado e editado no século III o corpo de leis conhecido como Mishná [literalmente repetição, que foi chamado de segunda lei]. Na Babilônia existia também uma comunidade florescente desde a época do exílio no século VI aC, correspondente a uma densa população judaica desde a época do exílio no século VI aC. No século III dC o maior peso da autoridade religiosa se trasladou da Galileia para a Babilônia pois houve uma corrente de eruditos e discípulos que se dirigiu a esse país. Em 219 chegou a Babilônia Abba Arija, conhecido pelo nome de Ray, um dos mais destacados rabinos de Eretz Israel [terra de Israel]. Ele estabeleceu um seminário em Sura que conjuntamente com a cooperação de seu colega Samuel em Nehardea se converteu no centro da autoridade religiosa para todo o mundo judaico. No fim do século III a Yoshiba [escola] se trasladou a Pumbidita [identificada com a atual Falluia] tendo como dirigente o famoso Judah Ben Ezequiel. Nestes seminários ou escolas [yoshiboth] a Mishnã [lei falada] entrou a formar parte do Talmud [corpus júris hebraico] e os textos e discussões estudados neles são os admitidos hoje em dia como autênticos. O Talmud [composto da Mishná e da Guemará] além da matéria legal e ritual, compreende uma multidão de variados assuntos como lendas, relatos, anedotas, sermões e até debates sobre temas científicos. O Talmud de Babilônia foi completado no século V dC e a versão do Eretz Israel, chamada de Talmud de Jerusalém, foi terminada antes. Na comunidade de Babilônia, próspera durante vários séculos, houve um cisma entre os séculos IX e X separando caraitas [negando a interpretação rabínica da Escritura] da hierarquia institucionalizada dos rabanaistas. Em certo sentido podemos afirmar que os caraitas e rabanaistas estão como evangélicos e católicos com respeito à interpretação das Escrituras. Hoje praticamente a maioria dos judeus babilônicos têm emigrado ao Eretz Israel. Nos tempos de Jesus existiam judeus em todas as cidades importantes do Império romano. No Egito, havia comunidades judaicas especialmente em Elefantina e Alexandrina em cuja população os judeus eram uma classe à parte. Um exemplo: Temos testemunhos do século III aC do mosaico de uma sinagoga na ilha de Aegina e em Delos e uma menorá [candelabro dos sete braços] em Atenas que indicam que a presença judaica nesses lugares se remonta 2400 anos atrás. Os judeus da diáspora abandonaram a língua materna [o hebraico ou o aramaico] e adotaram a Koiné [grego vulgar] que se introduziu na sinagoga. Por isso o judaísmo egípcio traduziu ao grego o AT [a chamada Versão dos setenta] que foi adotada como tradução oficial da Bíblia em toda a diáspora. Como ela é geralmente citada pelos evangelistas, hoje existe a comum opinião de que essa tradução é a inspirada, mesmo porque o texto hebraico na época não estava fixado. Devido a esta tradução que era lida nas sinagogas, o judaísmo ficou exposto ao influxo cultural do helenismo. Fílon (+perto do 40 dC) é um eco destas tendências que descobrem um sentido mais profundo nas escrituras, servindo-se da filosofia platônica para sua análise. O judeu da diáspora mantinha um forte laço de união ideal e objetivo com a pátria Erezt Israel. Jerusalém e o templo estavam no centro deste sentimento de união. O judeu piedoso oferecia cada ano um tributo financeiro ao Templo [o didracma do evangelho] e seu mais vivo desejo era peregrinar a Jerusalém. Fílon relata que cada ano eram enviados delegados sagrados que levavam ao templo grande quantidade de ouro e prata, produtos das primícias. Cada um, desde os 20 anos, deve oferecer suas contrbuições anuais, oferta que se denomina Lytra [resgate], pensando que, devido a esta contribuição, poderia ver-se livre da escravidão, das doenças e gozar de perfeita saúde e liberdade. A outra característica era a fidelidade à religião dos pais; era o ligame que formava um estreito vínculo com a comunidade e exclusão do resto da população, fato que influiu muito nos frequentes brotos de anti-semitismo. Isso aconteceu de fato em Alexandria nos anos 38-40. Na realidade, a população do grande porto egípcio estava formada por judeus, gregos e egípcios; porém os judeus ocupavam 3/5 dos bairros da cidade constituíndo 40 % da população, segundo Fílon. Resulta razoável pensar que, com uma população que representava uma percentagem entre 7 ou 10% do total do mundo antigo, em algumas cidades a população judia representasse 25 % ou mais do total. O chamado Politeuma [governo interno] judeu foi destruído nestas revoltas de Alexandria. OS GREGOS: Havia, porém, alguns gregos [‘ellênes <1672>] dentre os que sobem para que adorassem na festa (20). Erant autem quidam gentiles ex his qui ascenderant et adorarent in die festo. Conservamos no texto grego os tempos e modos, como sempre, embora, como vemos, a tradução resulta um pouco forçada. Consequentemente a tradução da Vulgata, conservando o sentido, se afasta da literalidade, devido aos problemas de sintaxe que forçariam o texto. Existe também na Vulgata uma variante – assim o estimamos – ao verter gregos [‘ellenes] por gentios. Eram estes gregos gentios, ou melhor, judeus de fala grega, provenientes do fenômeno Diáspora? O dicionário grego distingue entre Hellen <1672>, grego em sentido de gentil e hellenistés<1674>, um judeu que tem como língua o grego. HELLENES: Claramente vemos o significado de grego total em Jo 7, 35: Para onde irá este que não o possamos achar? Irá porventura para a dispersão entre os gregos? E em Atos 14:1: Em Icônio Paulo e Barnabé entraram juntos na sinagoga judaica e falaram de tal modo que veio a crer grande multidão tanto de judeus como de gregos. Nesta última situação vemos como gregos se opõe a judeus e como os tementes de Deus podiam assistir aos ofícios das sinagogas. O próprio Paulo distingue entre judeus e gregos em Rm 1, 16. Pelo que respeita ao termo HELLENISTÊS temos At 6, 1: Houve murmuração dos helenistas [ellenistön <1675>] contra os hebreus [ebraious <1445>] porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas. Como o texto de hoje (20) fala de hellenes, podemos afirmar que a tradução da Vulgata gentiles, é acurada e correta. Mas vejamos quais eram estes gregos e estes helenistas com respeito ao judaísmo e sua fé, no parágrafo seguinte. Em todos os tempos muitos pagãos entraram em relação direta e estreita com o judaísmo: Daí temos os dois diferentes tipos de conversos: PROSÉLITOS [do grego prosëlitos<4160>, adventício] que admitiam por completo a religião judaica, se circuncidando. Em Mateus 23, 15 achamos esta classe de conversos que os mestres da Lei e os fariseus buscavam recorrendo mares e terras, com o qual Jesus admite o fato da dispersão judaica no mundo romano. No livro dos Atos, pela primeira vez, vemos como estes estavam em Jerusalém no dia de Pentecostes, uma das três festas principais dos judeus, judeus, e prosélitos, cretenses e árabes dirá o livro dos Atos (2,11). Nicolau era um desses prosélitos que foi escolhido entre os sete diáconos gregos (At 6,5). E os TEMEROSOS DE DEUS que acolhiam diversas práticas e crenças judaicas com exceção da circuncisão. Tal era Cornélio [foboumenos ton theon], o centurião romano de quem fala Atos 10, 2. Tanto os prosélitos como os tementes podiam assistir aos ofícios das sinagogas. Porém os tementes não podiam transgredir o muro de separação dos gentios no templo de Jerusalém. Os judeus acusam Paulo de introduzir gregos [®Hellenas] no templo, em especial Trófimo, o efésio (At 21, 28-29) e por isso querem linchá-lo lá mesmo. QUEREMOS VER JESUS: Estes aproximaram-se de Filipe, o de Betsaida da Galileia, e perguntaram-lhe dizendo: Senhor, queremos ver Jesus (21). Hi ergo accessérunt ad Philíppum, qui erat a Bethsáida Galilaéae, et rogábant eum dicéntes: Dómine, vólumus Iesum vidére. Filipe era nome grego [que ama os cavalos] e tinha nascido em Betsaida [casa dos peixes]. Era uma aldeia de pescadores ao oeste do lago de Genesaré, terra também de André e de Pedro (Jo 1, 44). Outros dizem que Betsaida estava no leste do lago, na terra da Gaulanítide não longe de onde o Jordão desemboca nele. Filipe era um dos doze escolhidos por Jesus, par de Bartolomeu (Mt 10, 3). Fora deste trecho só João, ao parecer conterrâneo e amigo do apóstolo, traz algum dado interessante. Jesus encontra, no caminho para a Galileia, Filipe e pede que lhe siga (Jo 1, 43). Filipe era amigo de Natanael a quem disse: encontramos o Messias (Jo 1, 45). É o discípulo interrogado por Jesus para saber como dar de comer à multidão em lugar inóspito antes da multiplicação dos pães e peixes (Jo 6, 5). No discurso da última ceia é Filipe que pede a Jesus que lhes mostre o Pai (Jo 14, 8). E se encontrava entre os discípulos que permaneceram orando antes do dia de Pentecostes (Jo 1, 12). Era homem diferente do Filipe diácono (At 6,5) famoso por sua evangelização em Samaria (At 8) e pai de quatro filhas profetisas (At 21, 9). A pergunta é mais uma petição: Senhor queremos ver Jesus. A Palavra Kyrios é traduzida por senhor, título honorífico que expressa respeito e reverência, com o qual os serventes se dirigem a seus donos. Diverge do título de Despotes, que denota um domínio absoluto e poder sem controle. Após a ressurreição o título de Kyrios foi dado em propriedade a Jesus, como Messias e Deus, a quem pertencia o título como dono absoluto do povo de quem este último se declarava súdito e servidor. ANDRÉ: Vem Filipe e diz a André e de novo André e Filipe dizem a Jesus (22). Venit Philíppus et dicit Andréae, Andréas rursum et Philíppus dixérunt Iesu. O evangelista usa o presente histórico e vemos como o latim expressa os tempos no passado. Fora isso, só temos que falar de André. Seu nome é grego, significando varonil. Era natural de Betsaida (Jo 1, 44), pescador e irmão de Pedro (Mt 4, 11). O nome do pai era Joan ou Jonas (Jo 1, 42) [pomba]. André era discípulo de João o Batista (Jo 1, 42) e trouxe Simão Pedro a Jesus (Jo 1, 41-42). Chamado a pescar homens (Mc 1, 16). Um dos doze apóstolos (Mt 10, 2). Depois de Atos 1, 13 não aparece mais. A tradição afirma que foi crucificado na Acáia, segundo uma ordem do procónsul Eges, cuja esposa se convertera ao ouvir a pregação. A forma de sua cruz é a decussata (cruzada) em X conhecida como cruz de santo André. A HORA: Jesus porém respondeu a eles dizendo: tem chegado a hora para que seja glorificado [doxasthë <1392>] o filho do homem (23). Iesus autem respóndit eis dicens: Venit hora ut clarificétur Fílius hóminis. Que significa a HORA? Tem o sentido cronológico do tempo (Mt 20, 12). Do instante em que sucede um fato (Mt 8, 13). Algumas vezes designa figuradamente o próprio sucesso como quando se afirma que a mulher quando é chegada a hora (Jo 16, 21) ou a oportunidade: esta é a vossa hora e o poder das trevas (Lc 22, 53). Mas, especialmente, Jesus usa a palavra para se referir 1o) a sua morte e ressurreição que significa o retorno ao Pai (Jo 7, 30 e 8, 20; 12, 27 e 13,1) e 2o) aos tempos escatológicos como em Jo 5, 25 e 6, 28. Evidentemente neste trecho de hoje essa hora é a de sua paixão que para os homens é fracasso e humilhação e para os planos de Deus, que são os que contam definitivamente, são momentos de glória em que Ele mostra sua incomensurável sabedoria, exaltando espiritualmente, o que os homens exaltavam materialmente. GLORIFICAÇÃO: O substantivo glória como o ato glorificar tem no NT o significado de reconhecimento e consequente louvor dos atributos de Deus e de Jesus: Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro (Lc 17,18)? Especialmente a glória de Deus se torna presente e visível de forma esplendente em Jesus: Vimos sua glória, glória do unigênito do Pai (Jo 1, 14). Esta glória se mostra de modo especial na ressurreição de Jesus: Não era necessário que Cristo sofresse tudo isso para entrar na sua glória (Lc 24, 26). Neste caso Jesus diz que o Filho do Homem, ou seja, ele como homem, espera a glorificação que provém do Pai, de Deus: um reconhecimento por parte deste último de que Jesus estava intimamente unido à divindade. O latim traz o verbo clarificar [honrar ou melhor tornar famoso alguém]; mas logicamente aqui a fama é dada pela ação de Deus como vemos no versículo 28. O GRÃO DE TRIGO: Em verdade em verdade vos digo: Se o grão do trigo, caindo na terra não morresse, ele permanece só; mas se morresse, acarreta muito fruto (24). Amen, amen, dico vobis, nisi granum fruménti cadens in terram mórtuum fúerit ipsum solum manet; si autem mórtuum fúerit, multum fructum adfert. A frase em verdade em verdade é usada no início de um discurso ou depoimento como uma espécie de solene afirmação ou no lugar de um juramento em que a verdade [amem significa verdadeiramente] é afirmada de modo enfático como colocando na palavra pronunciada não unicamente a sinceridade do locutor mas a certeza da afirmação. No fim de uma oração significa uma resposta dos ouvintes, em conformidade a toda a prece proferida, que se traduz também por assim seja. O amém é uma palavra universal que não foi traduzida ao grego nem ao latim e conservada íntegra em conformidade com o texto hebraico do qual se deriva. A raiz é a mesma que a do verbo amam [ser fiel, confiar]. Todo o ambiente desta perícope está baseado na morte de Jesus e sua ressurreição. Daí a comparação com o grão de trigo que para produzir fruto deve antes morrer ao ser enterrado na terra. Como sempre temos traduzido o grego da forma mais literal possível e vemos que a Vulgata confirma a tradução feita. A consequência da morte de Jesus é comparada com a morte do grão para que o fruto seja abundante. UM ELEMENTO HOMILÉTICO: O amante de sua vida [psychën<5590>] a perderá e o que detesta sua vida no mundo a conservará para a vida eterna (25). Qui amat ánimam suam perdet eam, et qui odit ánimam suam in hoc mundo in vitam aetérnam custódit eam. Os termos bíblicos tanto hebraicos como gregos que designam o que geralmente traduzimos por alma não designam uma parte do ser vivo que é o motor da vida, mas o homem inteiro enquanto está vivo. O homem não tem alma, mas é alma viva, como diz o Gênese: insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente (Gn 2, 7). Por isso podemos traduzir Psychê por vida ou ser vivo enquanto vive. Neste sentido salvar ou perder a vida tem um sentido transcendente, que se a vida não termina aqui e agora podemos compreender as palavras de Jesus como dizendo: quem neste mundo dedica-se a gozar da vida não poderá ter essa dita no outro e pelo contrário quem sacrifica a sua vida [logicamente por amor a mim] esse é que encontra a verdadeira e definitiva vida no além. Os verbos amar e odiar ou detestar, são próprios das expressões em branco e preto das línguas semíticas, que não admitem as cinzas das línguas modernas. Talvez possamos traduzir por quem prefere viver bem esta vida não espere ganhar a vida eterna porque só aquele que sacrifica sua vida na terra é que alcançará a vida plena no além. O SERVIÇO: Se alguém me serve [diakonê <1247>], siga-me, e onde estou eu também o meu servidor estará; e se alguém me serve, honrá-lo-á [timêsei <5091>] o Pai (26). Si quis mihi minístrat, me sequátur; et, ubi sum ego, illic et miníster meus erit. Si quis mihi ministráverit, honorificábit eum Pater meus. No grego existem duas palavras diferentes para designar o serviço: Douleuô que significa um serviço feito por escravos e Diakoneô, de onde procede diáconos, que é o serviço feito por uma pessoa livre de modo voluntário. Diáconos era também o nome dado a quem servia à mesa. O versículo é um quiasmo, de proposições cruzadas, em que o final da primeira constitui o início da segunda. É próprio do quarto evangelista. Todo este versículo parece uma interpolação para explicar em que consiste perder a vida. É um serviço voluntário a Jesus que será premiado com a honra que unicamente o Pai pode oferecer. O verbo timaö significa honrar e ao mesmo tempo recompensar. E o caminho a seguir é o mesmo de Jesus que termina materialmente e absolutamente na cruz. É uma invitação a seguir Jesus até a morte [dar a vida] na cruz. A ANGÚSTIA: Agora minha alma tem sido conturbada e que direi? Pai salva-me desta hora! Mas para isto vim a esta hora (27). Nunc ánima mea turbáta est: et quid dicam? Pater, salvífica me ex hac hora. Sed proptérea veni in horam hanc. Duas questões surgem destas palavras de Jesus: Por que está conturbado [tetaraktai <5015>]? O verbo tarassö indica agitação, distúrbio da equanimidade por medo ou por pavor de uma coisa que causa ansiedade e angústia. Nada poderia agitar o espírito de Jesus a exceção da morte na cruz, humilhante do ponto de vista da dignidade humana e terrível pelo sofrimento físico que acarretava. Era como se, neste momento, Jesus estivesse vendo a sua execução e por isso seus sentimentos eram de tristeza e angústia, como ele declarou em Getsêmani (Mt 26, 37). A exclamação de Jesus é muito similar à contada pelos sinóticos no horto de Getsêmani que João não descreve e que aparece neste diálogo com os gregos ou diante de seus discípulos. A RESPOSTA: Pai, glorifica o teu nome! Veio, pois, uma voz do céu: E o glorifiquei e de novo o gloricarei (28).. Venit ergo vox de Pater, clarífica nomen tuum caelo: Et clarificávi et íterum clarificábo. A ideia de Pai transfere a ideia de um Deus morador de um templo para um Deus familiar e sempre presente na vida do homem. Jesus tem clara a sua filiação que transforma a criação de semelhança em geração de igualdade entre Deus e o homem. Nome está no lugar da pessoa. A voz do céu, segundo alguns comentaristas, seria a bath kol [filha da voz], mas esta voz própria dos profetas, segundo os rabinos, não podia ser a voz plena e completa que se manifestou como testemunha no batismo e na transfiguração, embora nestes últimos casos a voz foi acompanhada da misteriosa presença divina ao se abrirem os céus no batismo e aparecer em forma como de pomba o espírito e ao cobrir a nuvem com a sua claridade o grupo do Tabor. Aqui somente houve uma voz que confundiram com um trovão os que talvez não entendessem o aramaico em que ressoou forte e por isso pensavam fosse um trovão. Mas ela foi clara para os presentes que entenderam a língua: o glorifiquei e o glorificarei de novo. A glorificação anterior eram as obras extraordinárias feitas por Jesus, especialmente com a ressurreição de Lázaro, que foi feita como um pedido ao Pai (Jo 11, 41-42). A segunda parte indica que o Pai aprova o cumprimento do mandato por Jesus, ao entregar a vida como dom voluntário em favor dos homens no alto da cruz. Essa cruz que é maldição e loucura será para Deus o modo escolhido pelo Pai para exaltar Jesus: e quando eu for exaltado da terra tudo atrairei a mim (Jo 12, 32). INTERPRETAÇÃO: O povo, pois, que estava presente e tendo ouvido dizia: tem acontecido um trovão; outros diziam: um anjo tem falado a ele (29). Turba ergo, quais stabat et audíerat, dicébat tonítruum esse factum. Alii dicébant: Angelus ei locútus est. O trovão era a voz de Deus como vemos por 1 Sm 12, 18: Invocou Samuel o Senhor e o Senhor deu trovões e chuva. E no salmo 18,14: Javé trovejou no céu, o Altíssimo fez ouvir a sua voz. O papel dos anjos era bem conhecido e aceito nos tempos de Jesus como vemos em Atos 23, 8: Os saduceus declaram não haver ressurreição nem anjo nem espírito, ao passo que os fariseus admitem todas essas coisas. Entenderam os presentes de fala grega a voz do trovão? Pode ser que alguns deles ou a maioria não entendesse. Daí a opinião do trovão. Outros pensaram que era um anjo, pois o Deus de Israel estava no santuário como no seu trono e era invisível e inalcançável aos humanos. EXPLICAÇÃO DE JESUS: Respondeu Jesus e disse: Não por minha causa, esta voz aconteceu mas para vocês (30). Respóndit Iesus et dixit: Non propter me haec vox venit, sed propter vos. Sem dúvida que a voz responde ao pedido de Jesus de sua glorificação; mas ele sabe que essa glória em parte constitui a honra que os homens devem a Deus e é por isso que Jesus fala de que a voz foi principalmente ouvida pelos presentes como foi o caso da ressurreição de Lázaro, para que creiam que tu me enviaste (Jo 11, 42). A CONDENAÇÃO: Agora é a condenação [krisis<2920>] deste mundo; agora o príncipe [archön <758>] deste mundo será lançado fora (31). Nunc iudícium est mundi, nunc princeps huius mundi eiciétur foras. No lugar de julgamento ou juízo temos traduzido condenação porque krisis embora tenha um significado primário de separação, logo de julgamento, mas também significa condenação. Daí que podemos traduzir como condenação pelo significado do segundo hemistíquio. E por isso o representante desse mundo, o príncipe do mesmo, o Archon, ou seja, chefe, senhor ou dominador do mesmo será lançado ou arremessado fora. É interessante como os evangelhos são muito cuidadosos em escolher os termos de modo que Kyrios só é usado para Deus, e tanto Miguel como Satã são os respectivos príncipes de seus domínios. O príncipe deste mundo é pois Satanás, como podemos ver por Marcos e Lucas quando ele mostra os reinos do mundo e diz a Jesus tudo te darei se me adorares (Mt 4, 8). O fim deste governo do mundo está à vista. Já começou com a vinda de Jesus, e se confirmará com a sua morte de modo que a salvação estava à disposição de todos os homens unicamente pela fé e entrega a Jesus, escolhendo o senhorio deste em contrário do domínio do maligno em todas as ordens, tanto de pensamento como de ação ou moral. A ELEVAÇÃO: Porque se eu for levantado [hypsôthô <5312>] da terra atrairei [elkysô <1670>] todos a mim mesmo (32). Et ego, si exaltátus fúero a terra, ómnia traham ad meípsum. Talvez o aoristo de hypsôthô fosse melhor traduzido por quando eu estiver içado da terra. Ver o significado de Hypsoô no comentário do domingo anterior na conversa com Nicodemos sobre o içamento da serpente. O verbo nos recorda os métodos de aclamação dos antigos reis quando eram içados sobre o escudo para a proclamação da multidão. Por isso, Jesus afirma que arrastará todos para a sua pessoa. Será uma aclamação tendo como circunstância a cruz onde seria prontamente elevado. A MORTE: Pois isto disse significando que classe de morte estava a ponto de morrer (33). Hoc autem dicébat signíficans qua morte esset moritúrus. Efetivamente a cruz era uma morte em que o réu era içado para ser mostrado à vista de todos como um criminoso do qual deviam tomar exemplo para evitar sua conduta. Mas em Jesus, homem justo e filho de Deus, a exibição era para obter a cura, como a serpente no deserto, ou melhor, a salvação para todos os que confiavam na loucura dessa cruz, como sendo a sabedoria de Deus para libertação do pecado e da morte. De modo que encontremos na morte de um a vida para todos. EXCURSO: BREVE HISTÓRIA DO POVO JUDEU PERCENTAGEM DE JUDEUS: Qual era a percentagem de judeus na Eretz e na Diáspora? Afirma-se que de 1 a 6. Entre 7 e 10 % da população do Império eram judeus. A alta percentagem era, segundo Josefo, um testemunho da virtude e capacidade de reprodução dos judeus, que, ao contrário dos romanos, não usavam nem contraceptivos nem recorriam ao abortamento. Na Grécia, desprezava-se o comércio e a indústria, atividades que estavam reservadas aos mefíticos [estrangeiros]. Na época da prosperidade de Atenas, trabalhavam 40 mil escravos para 20 mil cidadãos e 30 mil mefíticos cuidavam do comércio. Assim mesmo em Roma as classes dirigentes desprezavam profundamente toda classe de comércio e todas as atividades que não estivessem relacionadas com a atividade rural. Estrabão (+25 dC) afirma que era difícil encontrar um lugar na terra habitável que não tivesse recebido essa tribo de homens e não fosse possuído por eles [os judeus]. O Império Romano, na época de Trajano em 117 dC na sua maior expansão, tinha uma superfície de 4.532 000 km2 e uma população de 50 a 60 milhões. Nesta época, a população judaica, no âmbito de todo o império, teria alcançado uma cifra entre 4 e 4,5 milhões; alguns historiadores a elevam a 6 milhões, dos quais um milhão ou milhão e meio corresponderiam aos judeus no Império Parto [incluindo Armênia, parte de Síria, Mesopotâmia, Média e Elam]. Em relação, pois, com o Império Romano os judeus constituíam entre 7 e 10 %. Sendo a população do Eretz de 600 mil habitantes, teremos entre 3 e 4 milhões de judeus, habitantes do império romano. Um de cada dez homens era judeu, e visto um total de 40 ou 50 milhões em todo o império, teríamos de 4 a 5 milhões o número de judeus em todo o mundo. No início do século 20 contaram-se 10 milhões de judeus em todo o mundo, dos quais 50 mil habitavam em Jerusalém. Segundo cálculos, 6 milhões deles morreram nas câmaras de gás nazistas. No final desse mesmo século 14,5 milhões de judeus viviam no mundo, dos quais 4,7 habitavam no Eretz Israel. JUDEUS NA ARÁBIA: Para completar estas breves notícias sobre a história do judaísmo sabemos que antes do surgimento do Islã, no século VI dC, existiam na Arábia poderosas tribos judaicas que dominaram sobre tribos vassalas e um número considerável de não judeus se converteu à fé mosaica. Existem provas de que houve um reino prosélito dos judeus e uma rainha dessa origem. As esperanças de Maomé de convertê-los, não se realizou e isso provocou que as tribos fossem expulsas da Arábia e todos os varões de uma delas executados. Os que ficaram vivos como Dimmies, tiveram que pagar tributos especiais e vestir de preto ou azul, impedindo-os de montar a cavalo. Os órfãos de pai eram obrigados –especialmente no Iêmen - a se converterem ao islamismo. Os trabalhos próprios eram o artesanato de ouro ou prata, dado que isto era vedado aos seguidores do Islã. Essas limitações já se encontram no chamado Convênio de Omar (ano 637, ainda em vida do profeta) que fixa por meio da doutrina chamada ahl al-jimma os direitos dos judeus e cristãos. Isso mesmo foi o direito que prevaleceu na Espanha durante a ocupação muçulmana. Um dos resultados desta perseguição foi que os judeus de Iêmen se conservaram etnicamente separados e mantiveram seus costumes peculiares. Sua singular pronúncia do hebraico e suas práticas rituais permaneceram intactas durante 2 mil anos, que levarão luz sobre o idioma e cultura da antiguidade hebraica. JUDEUS NA ARMÊNIA: Temos também o caso dos judeus cuzistãos que de origem armênia se converteram ao judaísmo em 740 dC, formando um reino que impediu a expansão árabe na Rússia. Eram turcos, procedentes da Ásia central. Destes judeus são alguns dos chamados askenazis. Sua relação com os cairitas e rabanaistas tem sido recentemente descoberta nos arquivos das antigas sinagogas. JUDEUS NA ESPANHA: Caso especial é o dos judeus espanhois. Antes de serem expulsos da Espanha em 1942, foram expulsos junto com os mozárabes da Andaluzia para o Marrocos pelos Almoravides de Yusuf Ben Tashufin pouco depois de invadirem a península ibérica em 1086, em número de 100 mil ou obrigados a se converterem ao Islã. Também foram expulsos da Inglaterra por Eduardo I em 1290, o que é considerada como a primeira expulsão da Idade Média, com um número de 16 mil; da França em 1032; em 1182 pelo rei Felipe Augusto o da 3a cruzada e em 1321/1324 quando foram confiscados seus bens por Felipe IV o belo, o famoso rei perseguidor dos templários e finalmente na Áustria em 1421, após uma perseguição com 270 judeus queimados, confiscação dos bens e conversão forçosa das crianças. Na expulsão de 1492 da Espanha não houve mortos nem conversões forçosas [exceto que se oferecia o batismo ou a expulsão e os mais ricos optaram pelo batismo, talvez a metade dos 100 mil que foram expulsos], e os judeus tiveram tempo de vender suas posses e levar o preço ao exílio. Tendo à vista o decreto de expulsão de 31 de março de 1492 podemos afirmar: a) Causa de expulsão: pela conversação e comunhão com os cristãos, os judeus os induziam e atraiam à lei mosaica, dogmatizando e ensinado os preceitos e cerimônias daquele [Moisés] e fazendo-os guardar o sábado e as páscoas e festas dela…tal lepra e tão contagiosa não se podia remediar sem a expulsão…subverter os cristãos astuta e mui cautelosamente a sua perfídia judaica…por sua própria culpa submetidos a perpétua servidão e sejam servos e cativos nossos e se são sustentados e tolerados é por nossa piedade e graça e se desconhecem e são ingratos não vivendo quietamente e da maneira dita anteriormente, é pois muito justo que percam a nossa graça e que sem ela sejam tratados como hereges e fautores de dita heresia….por meio de grandíssimas usuras devorar e absorver as fazendas e substâncias dos cristãos exercendo iniquamente e sem piedade a pravidade usuária contra os ditos cristãos e naturais…e como sua saúde consiste em afastá-los da prática, conversação de judeus e judias a qual ..tem causado a dita apostasia e depauperação das fazendas dos cristãos…os infiéis usurários manifestos sedutores dos católicos e fautores de hereges dentre os católicos cristãos, por preservação e conservação das almas deles e da religião cristã DEVEM SER EXPELIDOS E APARTADOS, pois retirando a ocasião de errar é suprimido o êrro. b)Tempo dado: até o fim do mês de julho [4 meses íntegros] e ainda mais 40 dias ou seja 4 meses e mais 40 dias para iniciar as penas previstas por lei. c) Penas: Só pena de morte e de perdição de bens a nossa câmara e fisco aplicáveis, a qual pena seja incorrida ipso facto e sem processo ou declaração alguma. Nessa pena incorrerão os que acolham, recebam os tais, pois cometerão crime de recepção e fautores de hereges. d) Proteção real: Pessoas e bens estão durante esse tempo sob proteção real de modo que ninguém seja ousado a fazer qualquer dano a pessoas e bens. e) Os bens: Devem ser usados para pagar os credores e o resto possa ser levado pelos emigrantes. f) O policiamento: O sistema de controle é deixado nas mãos das forças inquisitoriais porque o Santo Ofício da Inquisição seja a autoridade que disponha de dita expulsão, embora sejam as autoridades civis, duques, marqueses, condes, viscondes, nobres barões, oficiais,súditos e naturais, segundo o poder de cada um lhe corresponda. Que a Inquisição seja a polícia tem dois motivos: 1o) que o assunto é de heresia e 2o a Inquisição tinha oficiais já operando como verdadeira polícia religiosa. Comentário: Cremos que podemos afirmar que não houve motivos pecuniários de riqueza real para a expulsão. Foram motivos religiosos e motivos de ordem social, como a extrema usura, mas não em benefício dos monarcas, pois os bens eram vendidos e resultavam em lucro dos vendedores. O motivo religioso da expulsão era de heresia e por isso a Inquisição [tribunal e polícia instaurada em 1478] foi escolhida para cumprir o decreto. Sirvam estas notas para descobrir a verdade: Os judeus foram perseguidos por todas as religiões e em todos os tempos. A intensidade da perseguição foi devida às diversas culturas e ao sentimento de proteção contra uma forma de vida que se descartava como única e inimiga da que prevalecia socialmente na região. A expulsão espanhola não foi a mais cruel nem a mais violenta entre elas. CONCLUSÕES: Parece que todos se uniram para a destruição e o extermínio do povo judeu, como se este fosse um inocente perseguido. Mas a coisa não é assim tão clara. Lembremo-nos do caso de Fineias (Nm 25), do herém no AT que é traduzido por anátema, e dedicado a Deus devia receber a morte, como vemos em Nm 18, 14 e que na realidade se deu na conquista de Jericó (Jz 6) e Hai (Jz 8) e outras cidades em que só o gado foi poupado. Temos o exemplo de Esdras mais recente em que as mulheres estrangeiras e filhos das mesmas foram expulsos de Israel como vemos no capítulo 10 do livro do mesmo nome. E no século I aC Aristóbulo I (104-103) obrigou os habitantes da Galileia a se judaizar à força. Mas foi Alexandre Janeu (103-76) o mais cruel dos Asmoneus quem matou 6 mil fariseus porque o receberam com limões quando se preparava para oferecer um sacrifício como sumo sacerdote. Logo em seis anos de guerra civil e repressão, houve 50 mil vítimas, mandando crucificar 800 judeus em Jerusalém fazendo esfoliar vivas mulheres e crianças à vista dos crucificados, de modo que 8 mil judeus fugiram ao deserto. Como afirma Serafim Fanjul força é admitir que só na quantidade [por dispor de melhores meios de destruição e de coerção] diferem os abusos ou crimes perpetuados por uma ou outras sociedades. Todos nós – como afirma o poeta – pusemos nelas [as vítimas] as nossas mãos! PISTAS: 1) Temos uma página muito esclarecedora da missão de Jesus. Sem dar lugar às perguntas dos gregos, ou pagãos, Jesus oferece um resumo do que é sua atuação e doutrina na terra. Estamos perto da paixão de Jesus e, portanto, este fala de sua hora, comparando sua vida com a de um grão de trigo. Necessariamente ele deve dar a vida para produzir fruto. Esta mesma sorte é a dos que são os diáconos de Jesus, seus servidores. 2) Os seguidores de Jesus têm um denominador comun: são diáconos (26), ou melhor, os servidores de Jesus são seus seguidores que têm como finalidade a mesma sorte de Jesus: a entrega de suas vidas ao serviço do Reino, que os obriga a dar sua vida como grãos de trigo que morrem para frutificar. O papa atual disse aos cardiais recém-nomeados que seu ofício é o serviço à Igreja. 3) O destino do grão de trigo é a sina comum de todos os que querem frutificar: é necessário gastar a vida para produzir o fruto que se espera. É norma universal que o exemplo do grão seja a realidade de toda vida de um verdadeiro discípulo de Jesus. 4) A paixão de Jesus não foi nada fácil de modo a perturbar o ânimo de Jesus ao imaginar os sofrimentos que formavam parte da entrega de sua vida. Nós avaliamos um objeto ou uma ação pelo custo de mão de obra. O custo do sacrifício de Jesus foi o máximo, não unicamente por ser o custo de uma vida, mas pelo modo como ela foi entregue: no maior tormento e máxima humilhação como era a cruz. 5) A vida e a morte de Jesus são a glorificação do Pai. Por isso, a resposta do Pai é de que Ele já glorificou o Filho e sempre o glorificará. Efetivamente as obras de Jesus são um magnífico expoente do amor e poder divinos. A multidão não entendeu a voz e se fixou unicamente nas circunstâncias, sem entender o significado. Isso acontece com as nossas interpretações do evangelho. Quanta literatura para intentar demostrar que não devem ser tomadas literalmente as palavras e diluir a mensagem a termos humanos! 6) A condenação de Satanás parece parcial, visto os resultados atuais. Nos círculos de poder o inimigo ainda tem muito a dizer. Podemos dizer que o triunfo é total em determinados seguidores de Jesus, mas parcial em outros e sem efetividade nos inimigos que aceitam como senhor o poder ou as riquezas. EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova. - Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana. Interpretação errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. Consequências: - O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
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