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Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A liturgia deste segundo Domingo de Páscoa nos convida a uma apropriada reflexão sobre nossos periódicos encontros com o Ressuscitado, quando ele mesmo nos oferece sua palavra viva e seu corpo e sangue, alimentos salutares que fortalecem nossa difícil caminhada no mundo. É sempre o Senhor quem toma a inicitiva de nos animar com a mensagem de esperança e amor e quem continuamente põe à nossa disposição as condicões necessárias para que, unidos aos irmãos na fé e na esperança, celebremos já a salvação definitiva, aproveitando na terra as coisas próprias do céu. INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Hoje é o segundo Domingo de Páscoa. Nossos corações exultam ainda com o aleluia pascal. Cristo venceu a morte e nos fez conhecer o amor de Deus. Celebremos, pois, este dia como um domingo que não tem fim. É por isso que a semana passada foi um único Dia de Páscoa, vivido na liturgia como uma páscoa continuada, antecipação do céu. INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Jesus ressuscitado está presente na comunidade, dando início à nova criação. Os cristãos sentem sua presença na ação do Espírito que os move à implantação do projeto de Deus na história. Contudo, da comunidade se espera uma fé madura, que não exige sinais extraordinários para perceber Jesus nela. Agradecemos ao Pai pela vitória de Cristo sobre nossa morte, pecados e incredulidades. Acolhemos a presença do Ressuscitado na comunidade unida e suplicamos o sopro de seu Espírito para vencer nossos medos, animar nossa fé ainda tão frágil e nos fortalecer na missão de testemunhas da ressurreição. Neste Domingo da Misericórdia, celebramos a páscoa de Jesus, que se realiza em todas as pessoas e grupos que vivem e promovem a paz e a reconciliação. O Evangelho apresenta a aparição de Jesus ressuscitado num quadro "litúrgico". Os discípulos estão reunidos, no domingo à noite (dia da ressurreição) e novamente oito dias depois. Jesus apresenta-se com os sinais gloriosos da paixão; transmite-lhes, com seu Espírito, os dons pascais resumidos na paz, na reconciliação; confirma-lhes a fé e anuncia a bem-aventurança dos que creram sem tê-lo visto. Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor! (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) PRIMEIRA LEITURA (Atos 5,12-16): - "Enquanto isso, realizavam-se entre o povo pelas mãos dos apóstolos muitos milagres e prodígios." SALMO RESPONSORIAL (Sl 117/118): - "Dai graças ao Senhor, porque ele é bom; Eterna é a sua misericórdia!" SEGUNDA LEITURA (Apocalipse 1,9-13.17-19): - "Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, e o que vive." EVANGELHO (João 20,19-31): - "Creste, porque me viste. Felizes aqueles que crêem sem ter visto!" Homilia do Diácono José da Cruz — 2º Domingo de Páscoa — ANO C "O ESPÍRITO QUE DÁ A VIDA PLENA..." A descrença de Tomé persiste ainda hoje nas comunidades cristãs, pois em sã consciência, é difícil as vezes, ter a crença inabalável de que o Senhor está vivo e presente na comunidade. Não só porque não podemos vê-lo nem tocá-lo, mas principalmente porque a vida em comunidade nem sempre é o que sonhamos e esperamos. Como pode Jesus estar presente se certas coisas dão tão errado, como pode Ele estar presente e as intrigas, fofocas, divisões, mal entendidos, ciúmes e inveja, serem tantas no seio da comunidade. Enfim, são tantos pecados da nossa Igreja, da parte dos fiéis e dos ministros, que é impossível crer que o Senhor está realmente presente. Parece mesmo que o Senhor desistiu da barca da Igreja e ela foi a deriva. O próprio ambiente, e as condições em que a comunidade se encontrava, após a morte de Jesus, já era algo mais para a incredulidade e o fracasso, do que um retorno ao projeto do Reino anunciado por Jesus. Estavam de portas fechada, por medo, provavelmente iriam fazer uma última reunião, dizer que foi um prazer caminharem aqueles três anos juntos, mas que infelizmente era melhor cada um tomar o seu rumo e retornar á vidinha de antes. Muitos cristãos, marcados por desilusões, pensam assim, alguns até insistem em procurar uma comunidade perfeita e pensam tê-la encontrado, até que nova desilusão provém e a fé vai perdendo o seu encanto. Parece que a Igreja e o Cristianismo, tornaram-se intrusos na vida do homem. Entretanto, uma assembléia que estava destinada a dissolver-se, porque havia perdido o seu rumo, é surpreendida pela presença do Senhor! É nos momentos de fracasso, medo e desânimo, que Jesus se revela na assembléia. Quantos momentos e períodos assim, a Igreja já não viveu, desde os primórdios até os dias atuais? Digamos que, se ela fosse uma grande “farsa” como pensam alguns “iluminados”, como alguém poderia sustentar uma “farsa” ao longo de dois milênios de História.... “A Paz esteja convosco!” É a primeira saudação do Ressuscitado. Como viver a paz em meio ao “caos” da Família, sociedade, comunidade, será que a Paz tem algum significado, será que ela é realmente buscada? Não! Da parte do homem nada há que se possa fazer para se construir a paz... Que não é ausência de guerras e conflitos, que não é ausência de problemas, isso seria a plenitude, e o ser humano, com suas limitações e fragilidades, jamais concretizaria o sonho da paz, mesmo porque, para quem detém algum poder, paz é quando tudo está sob controle, como era a famosa Pax Romana. Paz, no contexto da igreja comunidade, é a presença do Senhor, entretanto, é bom compreender bem, o que significa a presença misteriosa de Jesus em nosso meio, pois há muitos que a compreendem como uma espécie de “alívio”. Jesus caminha com a nossa igreja, então vamos deixar que Ele resolva todos os problemas e dificuldades, podemos cruzar nossos braços e ficar no aguardo do grande Dia, em que seremos todos com Ele, arrebatados ao céu.... O evangelho de João, escrito 90 anos após a ascensão de Jesus, quer ajudar as comunidades cristãs, daquele tempo e também as de hoje, a perceberem que a Fé não nasce de uma experiência humana, não é resultado do raciocínio e nem produto da lógica. O Reino de Deus anunciado por Jesus, não é um reino lá de cima, sem qualquer conexão com as realidades humanas, é um reino aqui de baixo, com suas raízes plantadas no chão da história, mas que, apesar disso, não depende do homem, de suas aspirações ou ideologias, para atingir a plenitude. Este homem novo, que não é alienado, mas que também não é só uma realidade carnal e psíquica, nasceu no “sopro” de Jesus, este homem convocado para viver uma nova realidade celestial, mesmo em meio ao “caos” estabelecido na humanidade, é que forma a Igreja dos que crêem, e que não encontrando em si mesmo uma força que transforme aas relações, sonha, constrói e vai a luta, impelido pelo Espírito do Senhor Ressuscitado, que vai á frente da sua Igreja, como um General vai á frente da Batalha, convicto da vitória. Há uma missão a cumprir, dificílima e sempre desafiadora, para cada Cristão Batizado, mas o bom êxito da missão está assegurado, porque é o Espírito do Senhor, que nos move, anima, direciona e impulsiona. Não importa as nossas fragilidades, vacilo e indecisões, pois o mais importante é que, como São Tomé, reconheçamos Jesus como nosso único Deus e Senhor, tudo o mais, inclusive a tenebrosa força do mal, está abaixo desse Senhorio, a Soberania pertence a Cristo, e somente a Ele... José da Cruz é Diácono da Homilia do Padre Françoá Costa — 2º Domingo de Páscoa — ANO C Encontrar o Ressuscitado e acreditar nele Hoje, Jesus aparece no meio da comunidade reunida. Nós também, reunidos com os nossos irmãos na fé, fazemos a experiência do Ressuscitado. Claramente no caso daqueles discípulos foi uma experiência muito especial, já que eles viram o corpo glorioso do Senhor. A nossa experiência, sem ser do mesmo modo, não deixa de ser maravilhosa, já que nós contemplamos o corpo eucarístico do Senhor, comungamos o seu Corpo e o seu Sangue. No mistério da Eucaristia está todo o Mistério Pascal do Senhor. Eis aqui um argumento totalmente convincente para que não faltemos a Missa dominical! A propósito, um homem escreveu uma carta ao diretor do jornal da sua cidade e comentava como ir à igreja todos os domingos tinha pouco sentido. “Fui à igreja durante 30 anos – escrevia –, e desde então escutei mais ou menos 3000 homilias. Não posso, porém, lembrar-me de nenhuma delas. Penso então que eu perdi o meu tempo e os sacerdotes o seu ao dar sermões ao vazio.” Por causa daquela carta teve início uma polêmica na seção “Cartas ao Diretor” daquele jornal, que continuou durante semanas, até que alguém escreveu uma consideração que, surpreendentemente, acabou com todas as controvérsias: “estou casado há 30 anos. Desde então fiz aproximadamente 32000 refeições entre almoços e jantares. No entanto, não posso lembrar-me de nenhum menu inteiro de nenhum desses dias. Não posso, porém, concluir que essas refeições não serviram para nada. Alimentaram-me e deram-me forças para viver, e se eu não tivesse feito aquelas refeições já estaria morto.” É na igreja onde fazemos a nossa experiência de Cristo ressuscitado, é aqui onde comungamos o Corpo ressuscitado do Senhor. O Domingo é o dia do cristão, pois é o dia do Ressuscitado. O Domingo só é domingo por causa do Senhor Jesus. “Este é o dia que o Senhor fez para nós”, é o primeiro dia da semana, marcando assim o início de uma nova fase: o da nova criação. O Domingo é também o oitavo dia, apontando dessa maneira para o descanso eterno, para a escatologia, para o céu. Já que a semana tem apenas 7 dias, chamar o domingo de “oitavo dia” é colocá-lo em outra dimensão, a eterna. Diante do Cristo ressuscitado e da sua grande Misericórdia, tomemos como ponto de partida da nossa oração para o dia de hoje e para essa semana aquela frase cheia de fé e de rendição diante do Mistério: “Meu Senhor e meu Deus”. Quando Jesus for de fato Senhor e Deus das nossas vidas, acontecerá conosco aquilo que a Sagrada Escritura relata dos primeiro cristãos: “A multidão dos cristãos era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum” (At 4,32). No filme sobre o Papa João Paulo II, Karol – o homem que se tornou papa, que é muito recomendável, aparece muitas vezes a saudação cor unum et anima uma, a expressão vem desse trecho da Bíblia. Precisamos ser um só coração e uma só alma, nas nossas celebrações dominicais e lá fora, atuando assim seremos coerentes com o nosso ser cristão. Uma última recomendação: vá à Missa ainda que você não sinta nada. Não importa! Nós não servimos a Deus em troca de sentimentos. Por outro lado, caso o Senhor nos conceda um sentimento de alegria e de satisfação, agradeçamos-lhe, mas não façamos desses sentimentos o motivo da nossa lealdade, da nossa fidelidade. Dá pena escutar a esses ex-católicos afirmando que mudaram de igreja por que lá, na outra, se sentem bem. Ora, para sentir-se bem, basta ir a uma discoteca! Desculpem que eu tenha baixado o nível, porém, convenhamos! Maria, auxílio dos cristãos, nossa Mãe, causa de nossa alegria, nos ajude e nos faça mais devotos da Eucaristia, do Mistério Pascal de seu Filho e mais atentos às necessidades dos demais. Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa Comentário Exegético — 2º Domingo de Páscoa — ANO C Epístola (Ap 1, 9-11ª; 12-13; 17-19) O AUTOR: Eu, João, o também vosso irmão e copartícipe na tribulação e no reino e na perseverança de Jesus Cristo, estava na ilha, a chamada Patmos, pela palavra do Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo (9). Ego Iohannes frater vester et particeps in tribulatione et regno et patientia in Iesu fui in insula quae appellatur Patmos propter verbum Dei et testimonium Iesu. JOÃO: [Iöannës <2491>=Iohannes]é um nome de origem hebraica [Yehohanan], cujo significado é Jahveh é um dador gratuito ou de graça. Com este nome temos 4 pessoas diferentes no NT: João, o Batista; João, o apóstolo, o que escreve o quarto evangelho, que a tradição diz ser também o autor do Apocalipse; João, com o sobrenome de Marcos, companheiro de Barnabé e Paulo, como narra At 12, 12 e João, um membro do Sinédrio (At 4, 6). Sobre o autor do Apocalipse, a tradição diz que o evangelista e discípulo amado do Senhor (Jo 13, 23) teve nos últimos anos o cuidado das igrejas da Ásia Menor onde morreu com idade avançada. Porém, há autores modernos, desde o final do século XIX, que afirmam nunca saiu da Palestina onde morreu já avançado em anos. Esta hipótese não é muito seguida e existe uma terceira em que se afirma que tanto o Quarto Evangelho como o Apocalipse derivam do ensinamento do apóstolo João, sem dúvida por intermédio de redatores pertencentes aos meios joaninos de Éfeso. O livro durante muito tempo foi posto em dúvida em certas comunidades cristãs. Hoje é um dos preferidos pelas comunidades evangélicas e considerado como profecia do passado por muitos eruditos católicos. IRMÃO [Adelfos<80>=frater] é a palavra comum entre os cristãos que se consideravam filhos de Deus e, portanto, verdadeiros irmãos pelos méritos de Cristo, o Filho natural do Pai comum. COPARTÍCIPE [rSygkoinövos <4791>=particeps] derivado de syn [juntamente] e koinönos [associado] que, neste caso, é devido à perseguição ou TRIBULAÇÃO [Thlipsis <2347>= tribulatio] com o significado de opressão, aflição, sofrimento, tribulação, angústia, perigo, desgraça. Como em todos os escritos apocalípticos, o autor descreve em temos escuros a realidade, para caso de ser descoberto, não dar motivo à polícia para aumentar a perseguição. Daí o estilo criptográfico que é chamado apocalíptico. Cremos, portanto que a melhor tradução é perseguição.PERSEVERANÇA [Hypomonë<5281>=patientia] firmeza, perseverança, constância, tenacidade, resistência. Em Rm 5, 3, Paulo fala de que ele se gloria na tribulação [perseguição?] sabendo que a tribulação produz a perseverança(TEB). PATMOS <3963> que em grego significa meu assassinato, era uma pequena ilha do grupo das Cíclades do mar Egeu, que recebeu seu nome das árvores que produzem a turpentina ou trementina, ou seja, de certos pinheiros. Tem aproximadamente 50 Km de circunferência [10X5 milhas] e está próxima das costas da Ásia Menor, especialmente de Éfeso. S. Ignácio diz que João foi desterrado a Patmos pelo imperador Domiciano, que Irineu calcula ser ao redor dos anos 95 ou 96 não por um pecado, ou delito, mas por sua fé em Cristo, como afirma o próprio João neste versículo pela palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo. Da ilha, uma vez livre, viveu em Éfeso, distante aproximadamente 60 Km da mesma. Segundo os autores modernos relatam, Patmos era uma espécie de Alcatraz no império romano. Funcionava como um cárcere sem muros. A ilha era rica em mármore e a maioria dos presos estava forçada a trabalhar nas canteiras da mesma. Atualmente não tem árvores, nem rios, nem vegetação, exceto alguns cantos cultivados entre as rochas. Há uma gruta donde a tradição diz que o apóstolo morava e na qual teve suas visões. É, pois uma ilha deserta, isolada, estéril, apropriada como prisão. Segundo antigos testemunhos, no ano 96, após a morte de Domiciano, João pode sair para Éfeso, no tempo de Nerva, o novo imperador. A VOZ: Achei-me em espírito no dia do Senhor e escutei detrás de mim uma grande voz como de trompa (10). Fui in spiritu in dominica die et audivi post me vocem magnam tamquam tubae. EM ESPÍRITO [En Pneumati <4145>= in spiritu] o verbo egenomën <1096> que a vulgata traduz por fui, do verbo ginomai, tem o significado de transformar-se, ter lugar, suceder, ocorrer, acontecer, passar, surgir, resultar, chegar a ser. Daí que podemos traduzir por achei-me possuído no espírito. Podemos dizer, comentando Paulo em Gl 5, 16, que não foi impulsionado pela carne, mas levado pelo espírito que provem de Deus mesmo, e que o que viu e agora escreve, são fatos e palavras que constituem o que os antigos profetas chamavam oráculo do Senhor. DIA DO SENHOR é o domingo e vemos como já era desde tempos apostólicos o dia primeiro da semana chamado dia do Senhor por causa da ressurreição de Jesus. Talvez seja também uma reação contrária ao dia de Augusto celebrado uma vez por mês em honra do imperador. TROMPA [Salpigx<4536>=tuba] é o shofar <07782> feito de um chifre de carneiro. Quando o shofar soava em Israel, o Senhor se levantava do assento do juízo e se assentava no assento da misericórdia. Assim como as trombetas anunciavam a presença de um rei mortal, o Shofar [tuba] anunciava o rei dos reis e senhor dos senhores (Sl 98, 6) onde a AV traduz: Com trombetas [behachatsoserat, salpigxin, tubis, trombetas],e ao som de buzinas [shofar, salpiggos keratinës, bucinae, trompas], De fato a setenta distingue entre salpigx [trompa] e salpigx keratinës [ trompa de chifre]. A primeira é chatsotserah <02689> e a segunda é shofar<07782>. Este foi o instrumento tocado pelos sacerdotes em Jericó, feito de um chifre de carneiro [yobel<03194], que também recebia o nome de yobel e de donde vem a palavra jubileu [yobel<03104>] com o mesmo nome, de Lv 25, 10, anunciado pelo som deste instrumento. De fato existem duas palavras: trombeta, diminutivo de trompa, com os significados de clarim, corneta (corno em espanhol), ou cornetim. Atualmente, é chamada de trompete. O corno, que melhor podia ser trompa [famosas as trompas de caça na idade média], se é de chifre de carneiro, é o Shofar. E assim devia ser traduzido o Shofar que, em grego, a Setenta traduz como salpigx. O som do shofar é o que deve ser ouvido sempre que a presença do Senhor esteja a ser anunciada, como no monte Sinai (Êxodo 19:16, 19), onde este instrumento (som fortíssimo de trompa (shofar), segundo a TEB], aparece pela primeira vez na Bíblia. Daí deduzimos que a trombeta é o Shofar, chamada para indicar a vinda e presença do Senhor. ALFA E ÔMEGA: Dizendo: eu sou o alfa e o ômega, o primeiro e o último; e o que estás vendo escreve num livro e envia às sete igrejas, as da Ásia (11a). Dicentis quod vides scribe in libro et mitte septem ecclesiis. ALFA E ÔMEGA: No alfabeto grego eram as duas letras inicial e final do mesmo. Por isso, o autor explica o significado desse enigma na continuação. O primeiro e o último. Que quer dizer isso? O título era próprio de Jahveh no AT como vemos em Is 41, 4 : ego Dominus primus et novissimus ego sum. Como vemos em Ap 1. 8, são palavras de Jesus, o Cristo e ele a si mesmo se define como o princípio e o fim de tudo, exatamente como o Deus do AT. Primeiro e último, pois não existe um parêntese de tempo ou espaço em sua vida. Quer dizer que a criação do mundo e o seu fim estão unidos a Cristo como princípio e fim. Por ele tudo foi criado; por ele tudo chegará ao fim próprio, para o que foi destinado. Tudo foi feito por ele e sem ele nada se fez do que foi feito (Jo 1,3). Isto é o princípio e o fim. O seu império está nas palavras do anjo a Maria: Reinará na casa de Jacó e seu reino não terá fim (Lc 1, 33). Paulo diz claramente que o fim da Lei é Cristo (Rm 19, 4). E unicamente o fim de tudo será conseguido quando Cristo entregar o seu reino a Deus Pai (1 Cor 15, 24). Portanto, poderá dizer: Eu sou o que é e o que era e o que vem, o Todo poderoso (Ap 1,8). SETE IGREJAS: São sete cidades da Província da Ásia, desde 133 a.C. que era administrada por um procônsul, dependente do Senado e cuja capital era Éfeso, que com Pérgamo, eram cidades das mais populosas da oikoumene. Além das sete citadas, havia outras na região, como Colossas que não são denominadas. Alguns manuscritos as denominam e são: Esmirna, Pérgamo, Tyatira, Saris, Filadélfia e Laodicea. Parece que o número 7 não é um numerus clausus, mas um número típico em que entra a totalidade das igrejas no tempo. Também as cartas de Paulo foram dirigidas a sete Igrejas como Roma, Corinto, Galácia, Éfeso, Colossas, Filipo e Tessalônica. Uma outra interpretação é que a província romana de Ásia estava dividida em sete distritos postais, correspondentes às sete cidades para as quais envia a carta, o autor do livro. OS CASTIÇAIS: E virei-me a ver a voz que falou comigo; e tendo-me virado, vi sete castiçais dourados (12). Et conversus sum ut viderem vocem quae loquebatur mecum et conversus vidi septem candelabra aurea, SETE CASTIÇAIS: João pensou ver o sujeito da voz, mas no seu lugar só viu sete candelabros de ouro. Uma tipificação do Menorah? Era o Menorah uma lâmpada de azeite de sete braços, elemento ritual do judaísmo que simbolizava os arbustos em chamas que viu Moisés no monte Sinai (Êx 25). Encontrava-se no Tabernáculo e passou a formar parte dos dois templos: o de Salomão e o de Herodes. Não deve ser confundido com o Hanukiá que celebra os 8 dia que a luz de uma candeia durou milagrosamente 8 dias até que foi purificado o templo pelos Macabeus. Uma planta que cresce em Israel chamada de Moriah tem sete galhos e parece com a Menorah, o que deu lugar a ser a inspiração do mesmo. Após a destruição do templo, o famoso candelabro foi levado a Roma, onde sua figura ainda pode ser vista no arco de triunfo de Tito. Uma base para explicar o seu desenho está em que representa os sete corpos celestes da antiga cosmologia hebraica: Sol. Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Uma outra interpretação é que representa a árvore da vida que em termos pagãos era representada pela deusa Asherah, que em hebraico era chamada de Hochmah e em grego de (sabedoria). Na realidade, deveríamos traduzir castiçais e não candelabros, pois estes são troncos que recebem vários braços em cujos extremos estão as lâmpadas e os castiçais são um para cada lâmpada. Alguns intérpretes dizem que os castiçais são as imagens das sete igrejas e que as luzes ou lâmpadas no extremo de cada castiçal representam a luz de Cristo que cada castiçal levanta para ser mais bem vista, segundo o que diz o Senhor (Mt 5, 15). Não é a Menorah, um único candelabro com sete braços, mas são sete castiçais em cujos extremos temos as lâmpadas com sua luz independente. Nácar Colunga traduz candeleros em espanhol, que é castiçal em português. No AT temos um profeta que vê também as sete lâmpadas, mas com a diferença de que é um único candelabro do qual saem sete tubos (RA) ou bicos (TEB), como era o Menorah. Em Zacarias ainda existe uma outra imagem: a das duas oliveiras. A Igreja é onde encontramos a luz de Cristo e não em cada indivíduo em particular de modo que stare cum Christo é stare cum Ecclesia. É nela que encontramos a verdadeira luz de Cristo. O FILHO DO HOMEM: E no meio dos sete candelabros um semelhante a um filho de homem revestido de vestido talar e cingido nos seios com uma cinta dourada (13). Et in medio septem candelabrorum similem Filio hominis vestitum podere et praecinctum ad mamillas zonam auream. FILHO DO HOMEM: ÉJesus que aparece em funções de um juiz escatológico como em Daniel 7, 13-14: vindo nas nuvens do céu e foi-lhe dado domínio e glória. Era o título messiânico usado por Jesus e que a Igreja raramente usou, preferindo, após a ressurreição, o título de Senhor, que ao contrário da humanidade, manifestava mais bem a natureza divina de Cristo. VESTIDO TALAR ou como diz o grego podërës [<4158>=poderes] que em latim significa túnica talar, usada pelos sacerdotes. Provém do grego pous [pé] e arö [unir]. É a única vez [aplax] que sai no NT. Seu simbolismo indica que Jesus era sacerdote, sumo dirá a epístola aos hebreus (7, 17). CINTA DOURADA era a banda de quatro dedos de largura que devia cingir a túnica do Sumo sacerdote (Êx 28, 4, 31-32; 29, 5) em sinal de glória e de majestade (Êx 28, 39). Em 39, 5 descreve-se a faixa que era feita de linho, ouro, e púrpuras. A faixa de Jesus tinha mais ouro do que os fios da antiga faixa sacerdotal, pois era de ouro puro. Segundo o tipo do AT, se os sacerdotes tinham que cuidar do Menorah de modo que não faltasse o azeite, nem o pavio fosse insuficiente, Cristo cuida das igrejas do NT de modo a suas luzes estarem sempre brilhantes no dia e especialmente na escuridão da noite, que era simbolicamente a noite sem fé do mundo pagão. NÃO TEMAS: E quando o vi, cai aos pés dele como morto e pôs a s sua mão direita acima de mim dizendo-me: Não temas! Eu sou o primeiro e o último (17). et cum vidissem eum cecidi ad pedes eius tamquam mortuus et posuit dexteram suam super me dicens noli timere ego sum primus et novissimus. O apóstolo estava abrumado pela visão, embora conhecesse que era o mesmo Jesus, o que o amava e com o qual viveu momentos de intimidade e amizade na terra. Como é descrito com cores simbólicas, era de uma majestade impressionante e, por isso, diante do temor natural, João recebe as palavras que o próprio Jesus disse aos discípulos no meio da tempestade, andando sobre as ondas do mar: Não temais (Jo 6, 20): Sou eu, dirá então. E agora: Sou o primeiro e o último. DONO DA VIDA: E o que vive e que foi feito morto e eis que estou vivo pelos séculos dos séculos. Amém. E tenho as chaves do Hades e da morte (18).Et vivus et fui mortuus et ecce sum vivens in saecula saeculorum et habeo claves mortis et inferni. O QUE VIVE: propriamente o vivente [Zön<2198>=vivus] é uma clara alusão à morte e ressurreição. Como diz na continuação, foi feito morto [egenomën nekros <1096; 3498> =fui mortuus] que podemos traduzir por estive morto, já que o latim não tem o verbo estar que é comum ao português e espanhol. No presente está vivo e essa vida será eterna pelos séculos [aiön<165> saeculum]. O aiön grego significa uma idade perpétua, um período de tempo sem medida ou muito longo, daí um século e quando repetido eis tous aiönas tön aiönön é traduzido ao latim in saecula saeculorum e ao português por pelos séculos dos séculos, ou seja, sem fim o forever em inglês. O Amém final indica assim é. HADES [hades<86>=infernus] era o deus de ultratumba também chamdo Pluto, que logo passou a chamar-se de reino dos mortos, do qual Hades era o rei. É neste sentido que Cristo tem as chaves [para entrar ou sair] desse reino e consequentemente, será o dominador da morte, como se esta tivesse vida própria e fosse uma pessoa real. É o mesmo que disse Jesus a Marta : Eu sou a ressurreição e a vida (Jo 11, 25). O MANDATO: Escreve as que vedes e as que são e as que estão a acontecer depois delas (19). Scribe ergo quae vidisti et quae sunt et quae oportet fieri post haec. Com estas palavras está claro que o relato do livro na continuação é inspirado por mandato de Jesus, o Cristo. As coisas que tendes visto: ou seja, a visão de Jesus, como glorioso e majestático, o sumo pontífice da nova era. As que são, ou seja, as das sete igrejas da Ásia. Finalmente as que estão a acontecer, ou seja, no futuro próximo. Provavelmente não escatológico, pois o Apocalipse trata dos tempos anteriores e próximos futuros, segundo a opinião dos modernos exegetas. Efetivamente, o livro está dividido em três partes: coisas que o autor já viu: capítulo I. Coisas que eram do tempo presente: capítulos 2 e 3. E finalmente, o futuro: capítulo 4 até o fim. Evangelho ( Jo 20, 19-31) - PRIMEIRA APARIÇÃO AOS DOZE 1ª PARTE: JESUS APARECE AOS DISCÍPULOS OS LUGARES PARALELOS: Temos, além do relato de João, outros dois paralelos, muito mais breves, como corresponde a um resumo auricular e não a um testemunho ocular. São Marcos 16, 14-18 e Lucas 24, 36-49. Contrastaremos todos eles para determinar o grau de historicidade e o valor teológico das afirmações como catequistas bíblicos. TEMPO: Sendo, portanto, o entardecer naquele dia o primeiro da semana e as portas trancadas donde estavam os discípulos reunidos por medo dos judeus, veio o Jesus e ficou em pé no meio e diz-lhes: paz convosco (19). Cum esset ergo sero die illo una sabbatorum et fores essent clausae ubi erant discipuli propter metum Iudaeorum venit Iesus et stetit in medio et dicit eis pax vobis João é o mais detalhado neste respeito: estando, pois, aquele dia perto do fim [opsies], o primeiro da semana, temos traduzido por entardecer. Comparado com o relato de Lucas anterior ao sucesso de João, que este não narra, da aparição aos dois de Emaús, parece que temos uma pequena contradição de tempo. Os dois de Emaús pedem a Jesus que fique, pois está na tarde e o dia já há declinado [temos traduzido literalmente]. Como pode dizer João que depois de uma caminhada de sessenta estádios, aproximadamente 9 mil metros, ou duas horas de caminho ainda era a tarde do dia? Vamos explicar esta aparente contradição. A tarde começava às quinze horas. Era este também o tempo em que se iniciavam as jantas. O dia, na primavera palestina, termina entre 17:30 e 18 horas. Caso estejamos, segundo Lucas, no início das 16 horas teremos mais duas horas de volta e os dois discípulos estariam com os doze às 18 horas, precisamente o fim do dia como afirma João. OS DISCÍPULOS: Além dos doze [melhor onze, porque Judas estava morto] estavam os dois de Emaús e provavelmente mais, dentre os quais logo nos Atos se dirá eram cento e vinte. Dentre os onze faltava Tomé o chamado Dídimo. Tanto Tomé como Dídimo significam o mesmo: gêmeo. Como diz Lucas estavam reunidos os onze (!) e seus companheiros comentando uma aparição a Pedro [Simão] (Lc 24, 33-34) que João não narra porque ele não foi testemunha do fato. Temos uma falha de informação em Lucas porque não sendo ele testemunha narra na totalidade, os onze, quando na verdade faltava um: Tomás. Também vemos como em Marcos existe uma narração formal e genérica, quando resume todas as aparições afirmando finalmente que apareceu aos onze quando estavam à mesa e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não haviam dado crédito aos que o tinham visto ressuscitado (34, 14). Vemos que esta última afirmação é só em parte verdadeira como constatamos em Lucas 24, 34. Esta falta de detalhes indica claramente que eles tratam o assunto na sua generalidade, como um fato que transcende a história e forma parte da tradição. Não assim em João onde hora, lugar e circunstâncias permitem conhecer o que uma testemunha viu e ouviu. Por isso temos dois detalhes importantes: o medo aos judeus [propriamente jerosolimitanos] e as portas fechadas, ou melhor, trancadas. JESUS VEIO: É desta forma como aparece para estar na frente de todos a figura do ressuscitado. Nada de ruídos, de resplendor, de experiências impactantes. Como entra a luz quando uma janela é aberta, assim o corpo de Jesus entrou e se colocou no meio deles. A PAZ: A figura na frente deles não é uma estátua; fala e comerá logo, para demonstrar que não é um espírito, uma fantasia, um fantasma. Mas vamos agora estudar suas palavras. A primeira palavra de Jesus é uma saudação que podemos dizer entra dentro do costume ambiental: PAZ. A palavra hebraica Shalom da qual a grega Eirene e a latina Pax são traduções, significa evidentemente ausência de guerra e vida tranqüila Lc 14, 32, mas também significa bênção, glória, riqueza, descanso, bem-estar, saúde física, esperança de êxito, justiça, salvação: ou seja tudo que acostumamos chamar de estado feliz. Especialmente paz e justiça aparecem unidas (Mt 5, 9-10). A paz é dom precioso de Deus (1 Cor 1, 3). Daí que o futuro Messias, Jesus em definitivo, seja antes de tudo um porta-voz da paz e inclusive se identifique com ela (Rm 5, 1). É o Messias que a comunica por meio do Espírito como antecipação da paz definitiva (Rm 14, 7). Se a primeira vez, a palavra pode ter o significado de uma saudação (19), quando é repetida pela segunda vez, tem um significado profundamente teológico: ela é a base do Espírito que transforma os discípulos em enviados do Pai, recebendo o principal carisma da nova era: o espírito de reconciliação que basicamente é perdão. Algo novo está ocorrendo; e esse algo novo é um bem divino: essa profunda e definitiva paz, que Deus está disposto a partilhar como doador com simples seres humanos. AS CHAGAS: E dito isto, mostrou-lhes as mãos e o seu lado; alegraram-se, pois, os discípulos vendo o Senhor (20). Et hoc cum dixisset ostendit eis manus et latus gavisi sunt ergo discipuli viso Domino. Jesus mostrou suas chagas: mãos e pés, segundo Lucas (24, 39) e mãos e lado, segundo João (20, 21). Lucas declara o propósito dessa prova como demonstração de que ele era o mesmo Jesus crucificado que tinha sido depositado no sepulcro e não um fantasma. Nem a afirmação de Lucas nega a de João nem esta poderá ser tomada como contraditória à de Lucas. Máxime que João distingue duas aparições: uma só para Tomé em que pede que este introduza a mão no lado, daí que o lado era mais importante para João do que as chagas do pé. Lucas só traz uma aparição, porque para ele o importante era que Jesus tinha sido visto pelos onze. Isto explica as diferenças entre os dois. Não todos os detalhes são importantes, mas só aqueles que do ponto de vista do autor contribuem para demonstrar ou confirmar seu propósito. Desde este momento, Jesus será o crucificado, ou seja, aquele que em seu corpo apresenta umas feridas que inicialmente foram vergonha e humilhação, mas que desde agora, seriam glória e exaltação. O Jesus-homem, filho de Maria [filho do homem] agora se apresenta como o Cristo-Senhor verdadeiro filho de Deus [Cristo Deus]. O PERDÃO DOS PECADOS: Disse-lhes então o Jesus de novo: Paz convosco. Como me enviou o Pai também eu os envio (21). E dito isto, soprou e diz-lhes: recebei um espírito divino(22). Se de alguns perdoardes os pecados, são a eles perdoados, se de alguns retiverdes, retidos são (23).. Dixit ergo eis iterum pax vobis sicut misit me Pater et ego mitto vos. Hoc cum dixisset insuflavit et dicit eis accipite Spiritum Sanctum. Quorum remiseritis peccata remittuntur eis quorum retinueritis detenta sunt A nova missão dada por Jesus aos discípulos está intimamente unida ao perdão dos pecados. Por isso Jesus repete de novo Shalom lekem [Eirene ymin grego, ou Pax vobis latino]. Mas esta paz não é uma saudação, mas uma doação, um presente divino que é um perdão pela conduta imprópria dos discípulos durante os dias de paixão e morte de Jesus. Jesus esquece e perdoa. Sua paz, que é felicidade e alegria por sua presença viva no meio deles, quer ser uma reconciliação sem recriminações nem censuras. O perdão é total. O desejo de Jesus vai além do simples perdão. Jesus pretende dar aos discípulos um novo ministério: uma função divina como dom totalmente extraordinário que requeria um ato solene, visível e simbólico; ou seja, uma ação sacramental em que o homem é instrumento visível da ação interior divina. A missão atual é totalmente diferente da dada aos doze (Mt 10, 1 +) e aos discípulos (Lc 10, 1+) que unicamente consiste em anunciar a Boa Nova e testemunhá-la com poder de curar e autoridade sobre os demônios. É uma missão nova que participa da missão fundamental do próprio Jesus, que vamos estudar na continuação. Jesus não só envia os discípulos, mas também o Paráclito (Jo 16, 7). E a missão dos discípulos está na mesma ordem da missão do Paráclito. É, pois uma missão muito importante. MISSÃO DE JESUS: Como o Pai me enviou, dirá Jesus. Com estas palavras Jesus afirma o sentido de sua vida: Ele é um enviado do Pai, um mensageiro que tem como finalidade o que a continuação descreve como doação aos seus discípulos: o perdão. Que Jesus era enviado do Pai temos clara confirmação em Jo 5, 30 e 36. Mas qual foi a missão fundamental de Jesus? O anjo anuncia um Salvador que será Cristo-Senhor (Lc 2, 11). No nome da pessoa estava escrita a missão de sua vida. Por-lhe-ás o nome de Jesus, pois ele salvará seu povo de seus pecados (Mt 1, 21). E o Batista descreve o futuro Messias declarando-o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1, 29). A missão de Jesus se cumpre no momento de sua morte quando pode exclamar: está consumado (Jo 19, 30). Pouco antes, ao ser elevado na cruz, reclama do Pai o perdão; e o mais admirável é que esse perdão não é para os amigos, mas para os inimigos: Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (Lc 23, 34). Foi para essa hora[de paixão] que ele veio (Jo 12, 27). O perdão é uma amostra de que Deus é Pai e de que a justiça de Deus é clemência para quem recebe o evangelho como a Boa Nova da graça: O ano de graça do Senhor (Lc 4, 19 e Is 61, 2). Na última ceia declara o mistério encerrado na cruz como o sangue a ser derramado em prol da multidão para o perdão dos pecados (Mt 26, 28) e João na sua primeira carta resumirá esta missão afirmando: o sangue de seu Filho nos limpa de todo pecado (1 Jo 1, 7). MISSÃO DOS DISCÍPULOS: 1)Jesus a identifica com a sua: como o Pai me enviou assim eu vos envio (21). Um favor deve ser tomado em sentido o mais amplo possível, sem restrição, como dizem os letrados em Direito. Perdoar não é só usar palavras, mas contribuir com ações, unindo-se à sua paixão para que os novos sofrimentos atuem como causa segunda do perdão, o qual Paulo já expressava numa frase de difícil interpretação: Em minha carne estou completando o que falta às tribulações de Cristo em favor de seu corpo que é a Igreja (Cl 1, 24). E como tal corpo de Cristo, também ele (sendo parte da Igreja) sofre e adquire méritos para a conversão dos pecadores, como muitos santos sofreram e S. Agostinho confirma em seus escritos. A Deus só podemos dar o nosso sofrimento de quem entrega sua vida, perdendo-a como prova do amor (Rm 5, 8). E nisso consiste precisamente o sacrifício (Ef 5, 2). 2) Jesus realiza uma ação que relembra pelo verbo usado a mesma de Gênesis 2, 7, segundo a setenta, quando Deus soprou sobre o barro para dar vida ao corpo inerte. Logo teremos uma vida nova dada aos discípulos. Até agora Jesus nunca fez gesto semelhante que implicava modo diferente de ser discípulo. 3) As palavras que explicam a ação de Jesus formam um só conjunto com a missão e o sopro, que tem como significado o perdão dos pecados. Aqui não encontramos menção do Evangelho, não aparece o Reino, não deixa os efeitos salutares aos ouvintes da palavra, mas os efeitos são dirigidos aos presentes, todos eles alegres e com viva fé no Senhor: Se perdoais serão os pecados [dos outros] perdoados, se não os perdoais [os retiverdes forçosamente, segundo o grego] não estarão perdoados. Os hemistíquios finais de cada frase estão na voz passiva o que significa uma ação direita de Deus. Poderíamos traduzir livre, mas literalmente a nova missão apostólica desta forma: Deus perdoará a quem perdoardes; e Deus não perdoará a quem não perdoardes. O melhor comentário é o do Beato Isaac della Stella: A Igreja nada pode perdoar sem Cristo e Cristo nada quer perdoar sem a Igreja. A Igreja não pode perdoar senão a quem é penitente, isto é, a quem Cristo tocou com sua graça; e Cristo nada quer considerar como perdoado a quem despreza a sua Igreja.4) Por issoa condição indispensável do penitenteé seu amor por Cristo, segundoas palavras do próprio Jesus: Eu vim chamar os pecadores ao arrependimento (Lc 5, 32) e seus muitos pecados lhe são perdoados porque amou muito; mas aquele a quem pouco se perdoa ama pouco (Lc 7, 47) ou em termos mais ocidentais: A quem pouco ama, pouco se perdoa. INTERPRETAÇÃO: Que podemos dizer desta segunda missão dos discípulos chamados a perdoar os pecados? ANTES do século XVI todas as Igrejas admitiam que os apóstolos e seus sucessores tinham o poder ministerial de perdoar os pecados dos fiéis em nome de Cristo. DEPOIS, com a vinda da Reforma, os evangélicos afirmam que este poder e este encargo são entregues a todos os discípulos; de fato a todos os fiéis de todos os tempos (Jo 17, 20) e não a Pedro em particular (Mt 16, 19) ou a um ordo sacerdotal (Lc 24, 48). O perdão não é dado por meio de um poder ministerial causado por uma recepção do Espírito; porém, escutando o testemunho dos fiéis, os homens acreditarão (seus pecados lhes serão perdoados) ou se escandalizarão (seus pecados lhes serão retidos). Estas são as novas afirmações dos chamados evangélicos. A igreja Romana admite como certo que o poder dado por Cristo de perdoar os pecados se exerce também no Batismo e na pregação da palavra (Mc 15, 16). Todo sacerdote no final da leitura do evangelho diz: Pelos vocábulos ditos, sejam perdoados nossos delitos. O teólogo Bruce Vawter declara que este dom do Espírito está aqui relacionado explicitamente com o poder outorgado à Igreja para continuar ostentando o caráter judicial de Cristo no referente ao pecado. Mas há algo mais: especialmente da passagem atual temos duas definições dogmáticas que interpretam a Escrituras em sentido histórico ou literal: A PRIMEIRA definição é do Concílio de Constantinopla (ano 553) proclamando que quando o Senhor insuflou sobre os apóstolos, estes recebem realmente e não figurativamente o Espírito Santo. A SEGUNDA é do Concílio de Trento, declarando anátema do ponto de vista católico, a interpretação desta passagem como não se referindo à potestade de perdoar e reter os pecados no sacramento da penitência, mas somente restringida à autoridade de pregar o evangelho. LUGARES PARALELOS: Em primeiro lugar temos a passagem da confissão de Pedro: E te darei as chaves do Reino dos Céus: E se alguma coisa ligares sobre a terra, estará ligada nos céus. E se alguma coisa desatares sobre a terra estará desatada nos céus (Mt 16, 19). Pedro recebe de Jesus uma autoridade que é jurídica como chefe do conjunto apostólico. É definitivamente o poder de admitir ou rejeitar dentro da comunidade homens e ideias como fundamentalmente afins ou inimigas às mensagens verdadeiras do evangelho. Uma outra passagem é: Em verdade vos digo que tudo que por quaisquer motivos ligares sobre a terra estará ligado no céu. E tudo que por qualquer causa desligares sobre a terra estará desligado no céu (Mt 18, 18). Trata-se do mesmo direito de admitir ou rejeitar homens e doutrinas, porque este versículo é a conclusão de como tratar aquele que não querem se arrepender, uma vez que rejeita a voz da Igreja. Nesse caso será tratado como gentio ou publicano. Uma terceira passagem está em Tiago 5, 16: Confessai, pois, uns aos outros os vossos pecados e orai uns pelos outros para que sejais curados. O contexto indica que é nos momentos de doença em que o doente chama os presbíteros da Igreja para ser ungido e a oração da fé salvará o doente e o Senhor o porá de pé; e se tiver cometido pecados, estes serão perdoados (15). Uma quarta passagem é encontrada em 1 Jo 9: Se confessarmos os nossos pecados, ele (Deus) é fiel e justo de modo que demita nossos pecados e nos limpe de todas as maldades. Finalmente Pedro, à pergunta dos ouvintes, que devemos fazer, dirá: Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados (At 2, 18). Destes textos deduzimos: 1o) Que Cristo realmente tem poder para entregar sua autoridade como faculdade a ser exercida visível e externamente sobre os homens . 2o) Que pelo menos de duas formas desde os tempos apostólicos essa potestade era usada: no batismo e na doença. Temos como confirmação os casos de Ananias (At 5, 1-11) e do incestuoso de Corinto (1Cor cap 5) em que o pecado é retido e punido. 2ª PARTE: SEGUNDA APARIÇÃO OITO DIAS: E dentro de oito dias, de novo estavam dentro os discípulos dele e Tomé junto com eles. Vem o Jesus, trancadas as portas, e ficou de pé no meio e disse: paz convosco (26). Et post dies octo iterum erant discipuli eius intus et Thomas cum eis venit Iesus ianuis clausis et stetit in medio et dixit pax vobis. TOMÉ: Seu nome hebraico significa o mesmo que Dídimo em grego: gêmeo, como o evangelista João diz em 11, 16. Somente João dá alguns detalhes de sua presença entre os apóstolos. Vamos e morramos com ele dirá em Betânia do outro lado do Jordão (Jo 11, 16). Era um homem que não se acalma com meias verdades e quer saber o significado próprio das palavras: Senhor, não sabemos aonde vais, como vamos saber o caminho? (Jo 20, 14). Ele estava com os outros pescadores na beira do mar quando Jesus aparece aos sete discípulos que intentavam pescar (Jo 21, 2). Este último evento indica que Tomé era também de Betsaida, amigo de Pedro e de João. Seu desejo de conhecer a verdade foi sem dúvida a base para o chamado evangelho de Judas Tomé, o Gêmeo, que teve uma inusitada influência entre eruditos desde a descoberta de Nag Hammadi. Num programa de History Chanel o dito evangelho é tomado como mais antigo do que os evangelhos da cruz como apelidam os canônicos que retraem [não sei com que critérios] até 40 ou mais anos após a morte de Jesus, ou seja, após o ano 70, ano da destruição de Jerusalém. Aproveito para dizer um fato incontestável: No capítulo 15 da primeira carta aos de Corinto temos em essência o evangelho: Transmiti-vos em primeiro lugar aquilo que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as escrituras. Foi sepultado; ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas e depois aos doze (1 Cor 15, 3-5). Porém todos afirmam que esta carta foi escrita três anos após a visita de Paulo aos de Corinto, que sucedeu entre 52-53 de nossa era. Em definitivo 20 anos após a morte de Jesus. Podemos dizer com a mesma segurança que o evangelho de Tomé foi escrito antes desse evangelho básico dos primeiros cristãos? Porque o dito evangelho só é um evangelho em que Jesus é Mestre de Sabedoria e não redentor e vítima pelos pecados, que ressuscita no terceiro dia. Ou será que a dúvida de Tomé a respeito da ressurreição de Jesus se tornou certeza e por isso, só os ditos do mestre valiam a pena de serem escritos? A FÉ DE TOMÉ: Ela veio de uma visão direta do Ressuscitado: Estavam de novo reunidos, oito dias depois, os discípulos e desta vez estava Tomé com eles. De novo as portas estavam fechadas. Atravessar as paredes é um fenômeno que modernamente vemos como parte da parapsicologia e não do milagre. É o fenômeno chamado aporte, definido como aparições de objetos que atravessam obstáculos como paredes, muros e corpos opacos de todo gênero ou mesmo vindos de longe. Encontramos exemplos em Edivino A Friderichs no livro <Panorama da Psicologia ao alcance de todos> paginas 162-167. O aporte é um fenômeno físico comprovável e até certo ponto experimental, não porque saibamos as causas e possamos explicar o fenômeno em si, mas porque, sem truques, podemos observá-lo e pode ser objeto das experiências de nossos sentidos, ou seja, da ciência experimental. Ora bem: se não sabemos explicar um fenômeno que acontece sem outra intervenção aparente que a mente humana, e não podemos duvidar de sua existência, como poderemos afirmar que o que a ciência não explica não pode existir como realidade e será, portanto fantasia, mito ou crendice? O aporte também? A ciência moderna desvendou muitos mistérios, mas também descobriu muitos mais ainda por explicar, que antes eram desconhecidos. Estamos entre a luz e as trevas. Não podemos negar a existência da lua por termos nascido cegos; portanto não podemos negar muitos fatos que acontecem ou podem acontecer por não tê-los visto. Entre eles os milagres, que não são de séculos muito distantes sem testemunhas contemporâneas; mas que contêm testemunhos oficiais desde o momento de sua realização, como o caso do coxo de Calanda. Por que não aceitá-los? A INCREDULIDADE: Não é só a de Tomé, donde vemos que não era suficiente a afirmação de seus condiscípulos e amigos. Era um cabeçudo, que só podia crer em semelhante acontecimento que ultrapassava seu íntimo convencimento, vendo e tocando por seus próprios olhos e suas próprias mãos. Não aceitava testemunhos imparciais, mesmo amigos, que por outra parte nada tinham a ocultar e nenhuma vantagem em afirmar. Tomé é o símbolo e o tipo de muitas pessoas modernas que não negam a evidência, mas que, como os antigos fariseus, atribuem ao acaso e a insuficiência científica hoje em dia, explicações que requereriam uma causa transcendente. Isso porque os levaria a retratar suas convicções e humilhar suas pretensas certezas. Como Tomé, são capazes de repetir: Se eu não vir, se eu não tocar não posso crer (Jo 20, 25) A RENDIÇÃO: Depois diz a Tomé: traz teu dedo aqui e vê minhas mãos e traz tua mão e introduz no meu lado e não te tornes incrédulo mas fiel (27). Deinde dicit Thomae infer digitum tuum huc et vide manus meas et adfer manum tuam et mitte in latus meum et noli esse incredulus sed fidelis O ato de Jesus foi de uma delicadeza total: Um milagre só para que seu discípulo pudesse crer. A fé que, segundo João, nasce da vontade do Pai e consiste em ver o Filho e nele crer para obter a vida eterna e ser ressuscitado no último dia (6,40) foi dada a Tomé como um verdadeiro presente, devido à sua oração [de Jesus]: por eles te rogo pelos que me deste, porque são teus (17, 9) de modo que não se perca nada do que ele me deu, mas o ressuscite no último dia (6, 39) a não ser o filho da perdição (17, 12). Tomé se rende ante a evidência. A dúvida de Tomé é também para nós um esclarecimento de que hoje podemos tirar uma ideia esclarecedora: o lado de Jesus está aberto. Esse lado onde brotou sangue e água (19, 34) ainda está aberto. Porque é aquele Jesus Cristo que veio por meio de água e sangue (1Jo 5, 6). Porque são três os que testemunham na terra: O Espírito, a água e o sangue; e os três a um [só objetivo] se unem (1 Jo 5, 8). É o lado da morte que se torna fonte de vida para nós: de perdão pela água do batismo e de vida pelo sangue da Aliança, que representa a vida. Esse lado que se tornou imagem, não da morte, mas da vida para os que o contemplam como vivo, mas crucificado. Duas são as expressões do primitivo cristianismo que hoje apelam a nossa fé: Jesus é o Senhor e ele é o Crucificado. E podemos contemplar, como João mostra, o Crucificado como o traspassado, que exige de nós água e sangue, Batismo e Eucaristia. Água que lava o pecado e o sangue como aspergido desde a cruz à semelhança do que acontecia no AT no dia do Yom Kippur em que o sangue do bode era aspergido sobre o altar. Atualmente entre os judeus modernos é o dia da reconciliação, dia em que se deve estender ao inimigo a mão da reconciliação, esquecer as ofensas recebidas e desculpar-se pelas feitas aos outros. Este ofício da expiação, na epístola aos Hebreus, no capítulo 9, tem uma perfeita réplica no NT com o Crucificado como vítima de expiação. MEU SENHOR E MEU DEUS: Então responde o Tomé e disse-lhe: O Senhor meu e o Deus meu! (28). Respondit Thomas et dixit ei Dominus meus et Deus meus. É a palavra da fé mais vibrante e mais pessoal. Que mais poderíamos dizer da figura de Jesus que é Deus e, portanto Senhor, e que melhor de sua relação conosco que declará-lo meu como uma possessão tão pessoal como íntima? Entramos dentro da divindade e nos deixamos impregnar de sua transcendência. Por isso, a Igreja não encontrou outra melhor expressão de fé através dos séculos que esta de Tomé: Meu Senhor e meu Deus! BEMAVENTURADOS: Diz-lhe o Jesus:porque me viste, Tomé, tendes acreditado. Ditosos os que não vendo e acreditaram (29). Dicit ei Iesus quia vidisti me credidisti beati qui non viderunt et crediderunt. A Bênção é para todos os que, sem terem visto, não obstante creem. Sem dúvida que Deus e Jesus, como fiel seguidor de seus planos, escolhem o melhor caminho para a fé. Não é a submissão a uma aparição sobrenatural, mas a um fato não experimentado e difícil de acreditar, portanto. Sobre as conclusões da ciência, sempre experimentais, e sobre a lógica da razão sempre humana, está o poder divino e a coerência de quem aceita a palavra como norma de vida. Se confessares com tua boca que Jesus é Senhor e creres em teu coração [mente] que Deus o ressuscitou dentre os mortos serás salvo (Rm 10, 9). Esta é a Bênção que Jesus promete aos que nele crêem, sem terem visto. MUITAS OUTRAS COISAS: Porém estas estão escritas para que acrediteis que o Jesus é o Cristo o Filho do Deus e para que crendo tenhais vida em seu nome (31). Haec autem scripta sunt ut credatis quia Iesus est Christus Filius Dei et ut credentes vitam habeatis in nomine eius. Com esta frase João declara que seu evangelho tem o defeito de toda obra humana: a limitação. Porque apesar de ser inspirada também tem características de obra humana como estilo, língua e métodos. João não pretendia escrever tudo, mas aquelas coisas que eram mais apropriadas a sua finalidade: Para que os leitores creiam que Jesus é o Ungido [Messias], o Filho do Deus [verdadeiro] e para que crendo tenhais vida em seu nome(31). Com isso se cumpria a declaração de Jesus a Marta: Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim ainda que morra viverá e quem vive e crê em mim jamais morrerá. E ele poderá perguntar a cada um de nós como a Marta: Crês nisso? (Jo 11, 25-26). PISTAS: 2) Uma nova relação surge entre Jesus e seus discípulos: Os pecados podem ser perdoados e o saberemos ao escutar a palavra de perdão, como sabemos o fim de um julgamento ao escutar a sentença definitiva de um juiz. A paz reina de novo entre céu e terra. Tudo é fruto de uma entrega, a de Jesus, que termina em sacrifício, o mais humilhante e bárbaro de toda a antiguidade. A cruz agora é salvação e o sofrimento tem essas suas mesmas qualidades: entrega e sacrifício. E Ele embora seja ainda o crucificado, se tornará Senhor e se tornarão benditos todos os que, sem tê-lo visto, acreditem que está vivo e que como Senhor da morte é também Senhor da vida. 3) A fé não é um produto do raciocínio e da lógica científica após laboriosa investigação. Um e outra não levam à fé, mas sugerem a dúvida. A fé é um dom de Deus que propõe vida após a morte, perdão após o pecado. Porém a nossa fé está baseada no testemunho dos que o viram e ouviram como ressuscitado. Pois a fé provém da pregação (Rm 10, 17). Ou seja, está avaliada por uma tradição que se tornou anúncio e escuta; tradição inicial como de origem apostólica. Na base, pois, da fé está a tradição antes do que a palavra escrita. 4) O evangelho, como livro ou Escritura, nasceu de um testemunho que foi escrito, uma vez ouvido. E tanto valor tem essa escrita quanto mais fiel é ao testemunho que recolhe e que ouviram os anunciados. A Escritura foi e ainda é tradição, enquanto esta a interpreta com a autoridade de quem primeiro a ouviu como palavra. E como livro, a palavra é sempre limitada, por não poder explicar-se a si mesma e por não conter tudo o que poderia ter sido ouvido e escrito. Como diz João nesta primeira conclusão, seu livro não tem outra finalidade além da fé. Seu livro estará mais completo com os outros livros que chamamos evangelhos. 5) Por ser uma passagem para a fé não deverá ser lido com curiosidade, nem como uma história em que buscamos tempo, lugar, circunstâncias e detalhes que são de interesse humano, mas como fundamento da fé; desta buscamos conhecimentos que devemos aceitar como verdades divinas: como devemos pensar diante dos grandes problemas da vida, como passar da fé ao amor para ajustar nossa vida, porque encontramos diante de nós a figura do ressuscitado como Senhor e Deus da nossa vida. EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova. - Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana. Interpretação errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. Consequências: - O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
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