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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com

. Evangelho de 24/04/2016 - 5º Domingo de Páscoa
. Evangelho de 17/04/2016 - 4º Domingo de Páscoa


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

O PESO DE NOSSA CRUZ!
Clique para ver uma apresentação especial!

24.04.2016
5º Domingo de Páscoa — ANO C
( Branco, Glória, Creio – I Semana do Saltério )
__ Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros __

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

APRESENTAÇÃO ESPECIAL DA LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA
VÍDEO NO YOUTUBE
APRESENTAÇÃO POWERPOINT

Clique aqui para ver ou baixar o PPS.

(antes de clicar - desligue o som desta página clicando no player acima do menu à direita)

Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Está chegando o momento em que Jesus vai se despedir de seus discípulos. Reunindo-nos em nome de Cristo, Deus nos encoraja a concretizar o sonho do novo céu e da nova terra. Para isso, faz-se necessário que o Mestre continue presente em nosso meio. Nosso grande desafio consistirá em perseverar no amor. As solicitações do egoísmo brotam de todas as partes e acabam por contaminar as relações na comunidade cristã e, uma comunidade contaminada pelo egoísmo, é como um ramo seco. Aliás, será um contra-testemunho da fé cristã, pois o amor foi banido de seu meio. Fortaleçamos, nesta liturgia, os laços de amor que nos identificam como comunidade de discípulos e discípulas de Jesus.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Reunidos para celebrar o 5º Domingo da Páscoa, coloquemos em nossas orações uma intenção especial pela 116ª Romaria da Arquidiocese a Aparecida, que será realizada no próximo domingo, ocasião em que serão recebidas as imagens para peregrinação em nossa Arquidiocese. Peçamos à Virgem Maria que proteja nossos romeiros e os faça viver mais intensamente o Ano da Misericórdia.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Deus amou uma cidade, Jerusalém. Este amor conheceu vicissitudes, viveu uma história. A cidade de Jerusalém está intimamente ligada à história das relações entre Deus e os homens. A Igreja é cidade nova e está ligada à páscoa de Cristo, êxodo definitivo, com o qual Ele venceu o mal, e esta cidade purificada pelo sofrimento, encontra uma felicidade sem sombras na perfeita comunhão com Deus. A glória de Cristo, ligada à sua obediência ao Pai é partilhada por aqueles que obedecem ao mesmo mandamento de amar a Deus e ao próximo até o sacrifício de si. Céus novos e terra nova são hoje a aspiração que faz bater o coração de toda a humanidade empenhada em superar a atual ordem social tão cheia de injustiças. "Eis que faço novas todas as coisas" é a grande esperança cristã: um mundo novo.

Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Atos 14,21-27): - "Confirmavam as almas dos discípulos e exortavam-nos a perseverar na fé, dizendo que é necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações."

SALMO RESPONSORIAL (Sl 144/145): - "Bendirei o vosso nome, ó meu Deus, meu Senhor e meu rei para sempre."

SEGUNDA LEITURA (Apocalipse 21,1-5): - "Eis que eu renovo todas as coisas."

EVANGELHO (João 13,31-35): - "Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros."



Homilia do Diácono José da Cruz — 5º Domingo de Páscoa — ANO C

A Glória e o Amor

Podemos trocar neste evangelho, a palavra Glória por Sucesso, que significa ser bem sucedido em algum empreendimento humano, obtendo o reconhecimento de todos, recebendo as honras e os elogios, por ter sido o melhor, por ter sido um vencedor. É assim em uma carreira profissional ou política, é assim no mundo das artes, da ciência ou do esporte, onde o mais ágil, o mais forte, o mais bem dotado, sempre vence. Uma vitória traz algo muito buscado por todos que é o poder, e quem o alcança tem as pessoas á sua disposição, que irão manifestar sempre o apoio, em uma clara submissão ao seu ídolo. É a glória! Como exclamam felizes, os que a alcançaram. O ídolo se torna uma referência, uma marca, um estilo de vida que irá servir de modelo a todos.

Alimenta-se assim uma verdadeira veneração do Ego do vencedor, que pensa sempre em si mesmo, em seus interesses, em suas conveniências, que planeja e arquiteta sempre o que lhe favorece e lhe faz bem, ou em outras palavras; que tem um “mundo” girando ao seu redor. Em um sistema egoísta que favorece um só ou alguns felizardos, basta olharmos o modelo econômico corrompido pelo neoliberalismo, e que mantém na ponta da pirâmide quem chegou lá, por merecimento ou por mecanismos escusos porque sendo assim, cada irmão ou irmã torna-se um concorrente que deve e precisa ser eliminado, quando se busca o sucesso e a fama. O sistema nos faz pensar e agir desta forma e assim, simples adversários são transformados em inimigos!

Entretanto, a glória para Deus é o oposto do que é para os homens, porque não tem como fundamento o egoísmo, mas sim a solidariedade e um modo de amar que o homem nunca tinha visto ou experimentado antes. Um amor verdadeiro quer construir, renovar, ajudar o outro a crescer, quer a vida e o bem do próximo, quer vê-lo livre para tomar decisões sábias, para conquistar seus ideais, construir sua própria vida e fazer a própria história. Mas tudo isso poderá ter um preço muito alto, que nem sempre estamos dispostos a pagar, pois o sistema nos convence de que, qualquer investimento deverá sempre ser feito para nós mesmos e não para os outros, pois é perigoso ajudar as pessoas a crescerem em dignidade, amanhã elas poderão ser mais um concorrente.

Esse modo de pensar e de viver é sempre perigoso, pois pode representar a perda até da própria vida, é melhor pensar e viver como todos os outros, pois somos condicionados a vencer, ninguém quer perder, ninguém quer a derrota, ninguém deseja o fracasso. Não vale a pena dar a vida pelos outros, ninguém irá reconhecer!

Pois essa é a glória para Deus, quando pensamos e agimos diferente do mundo, por causa do evangelho, Deus é glorificado, porque pensamos e agimos exatamente como o Filho Jesus. Por essa razão que neste evangelho, exatamente quando começa a delinear-se um aparente fracasso do ideal do reino, proposto por Jesus, com a traição de Judas, o Mestre anuncia que o Filho do Homem foi glorificado e que Deus foi glorificado nele. Ao ser glorificado pelo Filho, que não pensa e não age conforme o sistema marcado pelo pecado do egoísmo, mas sim pelos valores do Reino, o Pai o glorificará quando chegar a sua hora, a hora da cruz, que será aparente fracasso para os homens, mas a gloria para Jesus, provavelmente é este o sentido do ensinamento que ele faz aos seus discípulos na citação “quem perder a sua vida por causa de mim, irá ganhá-la”.

Mas como percorrer um itinerário tão desafiador, que vai na contra mão do sistema opressor e explorador? Onde poderá o discípulo encontrar força para seguir o Mestre e trilhar esse mesmo caminho? Na segunda parte deste evangelho Jesus deixa\aos discípulos o seu legado e o seu testamento, que é dado na forma de um mandamento novo “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. Esse amor é muito mais que um sentimento, muito mais que uma virtude, esse amor é o próprio Deus, que tem a força renovadora, única capaz de transformar a tudo e a todos, dando-nos um novo céu e uma nova terra, levando o homem a seu destino glorioso junto a ele. Quem ama como Cristo nos amou, e não tem medo de perder, já antecipa em sua vida um pouco deste novo céu e desta nova terra! Que nossas comunidades sejam assim! Amém. (V Domingo da Páscoa Evangelho João 13,31 -33.. 34-35)

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Costa — 5º Domingo de Páscoa — ANO C

Caridade fraterna

“Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,34-35). Talvez um dos propósitos do dia de hoje seja mandar fazer um quadro com essas belas palavras e colocá-lo na nossa sala de estar e, dessa maneira, lê-las frequentemente pedindo a Deus a graça de que a caridade fraterna seja uma realidade na nossa vida. É muito bonito falar do amor ao próximo. Que difícil, porém, é vivê-lo!

É muito importante que não sejamos teóricos no que se refere ao amor ao próximo. O famoso romance de Fiodor Dostoievski, Os irmãos Karamázov, também relata como uma pessoa proclamava o seu amor pela humanidade em geral: “Eu amo a humanidade, mas fico admirado comigo mesmo porque quanto mais amo a humanidade em geral diminui o meu amor às pessoas em particular, ou seja, singularmente, como simples pessoas. Sonhando, com freqüência, fiz propósitos apaixonados de servir à humanidade e, talvez, teria caminhado rumo à cruz pelas pessoas, caso fosse necessário, em algum momento. Não obstante, sou incapaz de viver com outras pessoas durante dois dias seguidos compartindo o mesmo quarto, e sei-o por experiência. Quanto me vejo perto de alguém, percebo que a sua personalidade oprime o meu amor próprio e tira a minha liberdade. Em apenas 24 horas posso chegar a odiar, inclusive a melhor pessoa do mundo: às vezes porque fica muito tempo à mesa, outras porque está gripado e tosse sem cessar”. Ainda que o texto não seja literal, é possível perceber que não é verdadeira caridade a mera possibilidade de amar a humanidade em geral e desprezar o ser humano em particular.

Estamos fartos de discursos humanitários retóricos! Gostaríamos de ver solucionada a situação das pessoas com as quais convivemos: “esse vive num barracão, aquele passa fome, fulano não tem trabalho, o outro está com depressão, os grupos estão divididos na minha paróquia, no meu grupo há uma pessoa que sempre quer destacar-se mais que os outros, há críticas… um desastre!”

Será que os não-católicos conhecem os católicos pelo amor mútuo, pela atenção caridosa, pelo carinho, pela boa educação, pela generosidade e pela disponibilidade? Para saber como se vive a caridade é preciso olhar, em primeiro lugar, para Jesus. A regra, a medida da caridade, é ele: “como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”. Como Cristo amou-nos? Rebaixando-se a si mesmo, sofrendo na cruz e derramando todo o seu Sangue por nós, preocupando-se verdadeiramente com os nossos pequenos e grandes problemas etc. Assim deve ser o nosso amor aos irmãos: será preciso dedicar-lhes tempo, escutá-los, dispor-se para ajudá-los quando for preciso, ser agradecidos para com as pessoas, corrigir com fortaleza e gentileza quando necessário, viver as normas da educação e da prudência, ser discretos, compreendê-los, sorrir também quando não se tem vontade, sacrificar-se discretamente para que os outros passem bons momentos.

E nas paróquias? Quantas rivalidades! Quantos ciúmes! Quanta inveja! Disse alguém que “Cristo mandou que nos amássemos, não que nos amassemos”. Há muitas reuniões, e pouca união! Os problemas na comunidade cristã não são novos, São Paulo escreveu aos Gálatas: “se vos mordeis e vos devorais, vede que não acabeis por vos destruirdes uns aos outros” (Gl 5,15). Porque será que os cristãos às vezes se mordem devorando-se uns aos outros? Pelo mesmo motivo que São Paulo identificou entre os gálatas: eram carnais. O que é necessário para viver a caridade? Deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e fazer as obras do Espírito: “caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gl 5,22-23). Hoje é o dia para que renovemos os bons propósitos de viver opere et veritate, com obras e na verdade, a virtude da caridade, não em geral e em abstrato, mas em particular e concretamente: na família, com o pai, com a mãe, com os irmãos, com os amigos, com o patrão, com o empregado, com o meu irmão de comunidade. Não é fácil porque as pessoas têm problemas, dificuldades, às vezes exalam mau olor, falam demasiado (e às vezes com a boca cheia) ou não falam quase nada, faz calor. Poderíamos enumerar mil e uma razões para não viver a caridade, nenhuma delas é consequente.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético — 5º Domingo de Páscoa — ANO C
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (Ap 21, 1-5ª)

A NOVA JERUSALÉM: Depois de ter descrito a ruína de seus inimigos e a desaparição do mundo do pecado, o vidente de Patmos passa a descrever o triunfo da Igreja, numa visão que contrasta com a destruição e humilhação da Babilônia, ou seja, a Roma imperial. A Igreja é a nova Jerusalém que desce do céu, vestida como noiva para esposar o Cordeiro. Terminou a fase terrestre e se inicia o tempo da eternidade. A esperança agora deixa seu turno à realidade eterna e triunfante dos planos divinos. A Jerusalém do AT, material, com seu templo de pedras mortas é substituída pela nova Jerusalém em que os fiéis são as pedras vivas que formam o santuário de Deus na terra. Daí que tenhamos um novo universo: novos céus e nova terra.

NOVOS CÉUS E TERRA: Então vi céu novo e nova terra; pois o primeiro céu e a primeira terra passaram  e o mar já não existe (1). Et vidi caelum novum et terram novam primum enim caelum et prima terra abiit et mare iam non est. Após o juízo final, em que a morte e o lugar dos mortos [o inferno] foram relegados ao lago de fogo, onde os que não estão escritos no livro da vida foram também lançados, a terra e os céus estão purificados e obedecem ao Senhor do trono completamente. É necessária uma renovação em que o mar, essas águas que eram a base do abismo [o poder das trevas] seja suprimido. Para entender isso, é necessário saber como era o conceito do Universo nos tempos do apóstolo. Na tríplice contextura do mesmo e no primeiro andar, estavam as águas inferiores, das quais, como abismo, era príncipe o senhor do mal, Satanás. No segundo altar está a terra, com os infernos como habitação dos mortos. No andar terceiro ou superior, temos os céus em que também se encontram as águas superiores. O mar, que não só ocupava a parte inferior da terra, mas também era visto na sua superfície e dele brotaram os reinos do mal como animais monstruosos (Dn 7, 3), será suprimido com seu monstro o Leviatã [=enrolado, como serpente], visão do príncipe do mal, Satanás. Era esta a besta marinha criada por Deus no Gn 1, 21, formando parte dos Taninim [=mostros marinhos] em hebraico. De acordo com a lenda, Deus criou o Leviatã como macho e fêmea e logo matou a fêmea, pois do contrário a sorte dos homens seria fatal, já que a geração dos monstros multiplicaria o mal  indefinidamente. A forma externa do Leviatã era como de uma enorme serpente. Em Is 27, 1 lemos: Naquele dia Jahveh castigará com sua espada grande e pesada a serpente Leviatã , que sempre sai fugindo e que é uma serpente astuta, e matará o dragão do mar. Na nova terra não pode existir nada de maldade, tanto espiritual como material. Suprimido o mar, acabará com a serpente do mal.

A JERUSALÉM CELESTE: E eu, João vi a cidade a sagrada Jerusalém nova descendendo da parte de Deus desde o céu, maquiada como noiva adornada para seu homem (2). Et civitatem sanctam Hierusalem novam vidi descendentem de caelo a Deo paratam sicut sponsam ornatam viro suo. Agora, já pode substituir a Babilônia, luxuriosa [idólatra em termos alegóricos] a mãe das meretrizes (Ap 17, 5) com a cidade de Jerusalém que sempre teve como Deus, o único. Por isso, a chama de SAGRADA [‘aguia<40>=sancta] pertencente à divindade, ou divina, muito mais do que santa, como hoje entendemos o sentido desta última palavra. Digna de veneração como era Jerusalém, porque dentro dela está o templo, como diz Mt 4, 5: o diabo o levou para a Cidade Veneranda [eis tën ágian polin]. Mas agora era NOVA [kainë<2537>=nova],porque a antiga já não existia, o que indica que escreve após a destruição da mesma em tempos de Tito. Não era uma cidade formada por arquitetos e operários humanos, mas DESCENDENDO [katabainousan<2597>=descendentem] particípio de presente do verbo Katabainö que significa descer e sua origem, onde foi construída, é o céu, lugar da perfeição, onde não existe ser algum com mancha ou imperfeição. Por isso acrescenta da parte de Deus; e a compara, pela sua beleza, com uma noiva MAQUIADA [ëtoimasmenë< 2090>=paratam] do verbo etoimazö, que significa preparar e que aponta ao antigo costume de aplainar e reparar os caminhos por onde o rei deveria passar (Mt 4, 3). No caso, a compara com uma noiva adornada para receber seu futuro esposo.  Em português,  essa preparação é descrita com o verbo maquiar. O texto fala de HOMEM [anër <435>=vir] que, se originalmente é homem másculo, é o vocábulo para designar também o esposo ou o noivo, como neste caso.

UM DEUS DE TODOS OS HOMENS: E ouvi grande voz do céu dizendo: Eis a tenda do Deus entre os homens e porá sua tenda entre eles e eles, seus povos, serão; e Ele, o Deus, será entre eles seu Deus (3). Et audivi vocem magnam de throno dicentem ecce tabernaculum Dei cum hominibus et habitabit cum eis et ipsi populus eius erunt et ipse Deus cum eis erit eorum Deus. A voz do céu significa a voz de Deus, ou simplesmente um oráculo, como o recebido pelos antigos profetas. A voz explica o significado da visão: Já não é a tenda, ou tabernáculo [mishkan], que no deserto era o símbolo que representava a realidade de Jahveh com seu povo de Israel. Em tempos de Salomão, essa tenda foi modificada pelo novo templo, construído em Jerusalém, donde a glória do Senhor também tomou conta do mesmo, de modo que a nuvem [shekinah] encheu a casa do Senhor de forma que os sacerdotes não puderam permanecer ali, para ministrar, por causa da nuvem; porque a glória do Senhor encheu a casa do Senhor (1 Rs 8, 11). SEUS POVOS está em plural indicando que agora não há um único povo escolhido, mas em geral, são todosos povos os que formam parte do reino de Deus. A tradução segue a ordem das palavras do grego, e talvez fosse melhor dizer: e eles serão seus povos, que o autor, como se fosse um verso paralelo, completa dizendo que ele, Deus, será seu Deus. Ou seja, haverá uma correspondência mútua entre os novos povos e Deus, como súditos de um rei que os defende, os cuida e principalmente os ama.

A FELICIDADE UNIVERSAL: E enxugará o Deus toda lágrima dos olhos deles e a morte na existirá mais; nem luto, nem pranto, nem pena haverá mais, porque as primeiras (coisas) passaram (4). Et absterget Deus omnem lacrimam ab oculis eorum et mors ultra non erit neque luctus neque clamor neque dolor erit ultra quae prima abierunt. LÁGRIMA: [dakry<1144>=lacrima] num sentido metafórico o apóstolo diz que tudo será felicidade e bem-estar. Por isso, retira dessa nova vida, uma nova criação, todo elemento que pudesse escurecer a felicidade dos súditos do eterno rei: lágrimas, em primeiro lugar. A morte, que causa o luto e o pranto, não será causa de lágrimas. Tampouco haverá pena [ponos<4192>=dolor] angústia, sofrimento, penalidade, tudo dependendo da morte. Essa morte que pende como espada de Dâmocles de todo ser humano e que leva consigo as penalidades da vida e os sofrimentos que causa nos seres queridos a desaparição do amado e consanguíneo. Os habitantes da nova Jerusalém nunca mais verão a morte dentro dos domínios do novo e eterno reino.

NOVO UNIVERSO: Então disse o sentado no trono: Eis que faço novas todas (as coisas). Et dixit qui sedebat in throno ecce nova facio omnia. São palavras de Deus, que é o sentado no trono. É o Jahveh [o Eterno, segundo a tradução dos Rabis de hoje] que de novo usa seu poder criador para fazer ou refazer de novo todas as coisas: um mundo novo, completamente diferente do antigo: sem fim, sem morte e sem dor, nem sofrimento. Hoje, em que novas ideologias querem criar um mundo novo, também de bem-estar universal, vemos que apenas podemos criar esse mundo dentro de nós mesmos e tão imperfeito que, nem corporalmente, nem espiritualmente, podemos falar de verdadeira felicidade, mas de resignação e/ou impotência. O marxismo quer formar um homem novo num mundo totalmente igualitário, mas decepcionante em fraternidade e liberdade. É a utopia da felicidade que promete um mundo feliz sem Deus. Também Jesus promete essa felicidade, aparentemente inalcançável na terra e por isso adianta a formação dum mundo novo: O homem nascido do batismo e da cruz é novo, se vive segundo a sua fé, da liberdade, ou seja, se serve no lugar de mandar; e Jesus promete que, se isso é feito, a felicidade entrará a formar parte de sua vida (Jo 13, 17). E será no mundo novo quando esse conselho será a prática total de todos, e o egoísmo humano deixará sua vez ao serviço e liturgia da koinonia celeste [=ministério sacerdotal no céu]. A felicidade será o fruto por Jesus prometido, uma vez que a morte, o último inimigo, seja destruído (1 Cor 15, 26).

Evangelho (Jo 13, 31-35)
UM NOVO MANDAMENTO

INTRODUÇÃO: O discurso de hoje forma parte do extensíssimo sermão da ceia final de Jesus com os doze, dividido em duas partes pelo final do capítulo 14: Levantai-vos! Partamos daqui! Na primeira seção, da qual forma parte o evangelho de hoje, Jesus se despede, deixando um outro acompanhante, o Paráclito, para que não se sintam órfãos. Jesus afirma que a hora final de sua vida, a sua partida,  será de grande glória para Deus, coincidindo com sua própria glorificação, e por isso, ele também será o grande glorificado. Jesus relembra a seus discípulos o maior problema de sua vida: o amor; e por isso, dá a eles um novo mandamento na maneira de traduzir o mesmo: como eu vos tenho amado. Essa maneira nova de amar será o sinal distintivo de seus verdadeiros discípulos e, ao mesmo tempo, também a marca de sua presença invisível, mas real, entre os mesmos. Esse é o verdadeiro espírito que receberiam os que nEle acreditassem (Jo 7, 39). O amor a Deus não é diferente do amor que Ele tem por nós, especialmente demonstrado pelo seu Filho como homem. Este amor divino é a marca e modelo de nosso amor humano, amor que devemos uns para com os outros. Realmente é uma novidade que une, pelo amor, Deus e os homens e estes entre si. Esse amor constitui, pois, a base da vida eterna e o fundamento da mesma, nesta vida terrena.

QUANDO JUDAS SAIU: Quando saiu, diz Jesus: Agora foi glorificado o Filho do homem e o (sic) Deus foi glorificado nEle (31). Cum ergo exisset dicit Iesus nunc clarificatus est Filius hominis et Deus clarificatus est in eo. QUANDO SAIU:O sujeito era, sem dúvida, Judas, o traidor. A traição é um baldão que mancha, como nenhum outro motivo, a relação de amizade e estima entre duas pessoas. Judas impedia essa convivência e intimidade que de gozo e alegria se tornava tensamente dificultosa. Jesus esperou  que o traidor saísse para falar abertamente sobre os instantes finais de sua vida. Com isto, Jesus se dirige àqueles a quem pode transmitir, sem travas, suas palavras. Caso não as entendessem na ocasião, elas ficariam gravadas, de modo que constituíssem o testamento de Jesus. Por isso, era interessante que o evangelista falasse da saída: O discurso era para os verdadeiros discípulos. A saída de Judas abria o coração de Jesus de modo que Ele bem podia afirmar que era nessa mesma hora na qual começava seu momento de glória. Glória que se identificava com o amor que recebia de seus discípulos. Amor que era repassado ao Pai. AGORA [nun <3568>em grego]: Jesus estava esperando sua hora que chegaria nestes últimos momentos. Por isso, se despede dos doze. A hora de Jesus era a hora do Filho do Homem. Esta expressão, que basicamente significava uma pessoa humana, era usada na época indicando também o eu pessoal, à semelhança como se diz a gente em português, ou o uno em espanhol. Porém, em Jesus, tem um significado particular: É a expressão usada por Jesus para indicar a parte humana de sua personalidade; ou dito de outra maneira, o homem que formava parte dEle. Ao mesmo tempo é um título messiânico velado, não incluído na tradição judaica. Está tomado de Daniel 7, 13-14, em que o novo reino, permanente, está representado pela figura de um homem que procede do céu, de Deus, em oposição aos reinos que brotam do abismo, lugar do maligno. Representa o triunfo do monoteísmo, vinculado a um homem, Jesus, tornado o Cristo, contra o poder politeísta dos reinos dominantes na época, representados pelos reinos pagãos. A HORA tem um significado peculiar. É a hora da prisão, como vemos em Jo 7, 30 e 8, 30. É também a hora de seu sofrimento em Jo 12, 27, previsto como solitário, ao ser abandonado por todos, à exceção do Pai. Em Jo 16, 32, é o cálice que Jesus degustará em total abandono, segundo Mt 27, 56. Mas também é a hora em que isso tudo servirá para dar glória ao Pai, tal como está no evangelho de hoje (31) que constitui uma repetição do 12, 23. E por buscar unicamente a glória do Pai, também o Filho será, por sua vez, glorificado com a máxima glória, de modo que, perante sua pessoa, se dobre todo joelho [a proskinese como rei dos reis e senhor dos senhores] dos seres celestes, dos terrestres e dos que vivem sob a terra (Fp 2, 10). Assim ele é O Senhor (idem 11). Por isso ele foi constituído Filho de Deus, com poder, pela ressurreição dentre os mortos (Rm 1, 4). Ressurreição que estava prevista após a morte, segundo Rm 14,9 para se tornar Senhor dos vivos e dos mortos. Em Ef 1,20-21 Deus o fez sentar à sua direita muito acima de qualquer Principado (arkhés) e Autoridade (exousia) e Poder (dynamis) e Senhorio (Kyriostes). Palavras que se entendem melhor tendo como explicação as filosofias do tempo nas quais, entre Deus e os homens, existiam uma série de eons dominadores das esferas celestes. Como conclusão, podemos afirmar que Jesus deu mais glória a Deus com sua paixão e morte do que com os milagres que realizou. Estes serviram para sinais de sua divindade, mas a paixão e morte eram sinais de sua obediência ao Pai, de ser o verdadeiro Servo de Javé e era precisamente com elas que obteria o senhorio sobre todas as criaturas. GLORIFICADO: A palavra doxazö [<1392>] é traduzida ao latim por clarificatus, que propriamente significa ser manifestado. As traduções vernáculas usam glorificar, magnificar ou exaltar. No ANTIGO TESTAMENTO existem três palavras que podem significar glória no sentido de superioridade, de majestade. A) Se se trata de Javé o significado é de transcendência. A primeira é éder no sentido de superioridade. Javé é poderoso por libertar o povo do Egito e, portanto, glorificado em santidade ou magnificus in sanctitate (Vulgata) em Êx 15, 10. Por isso, sua majestade é conhecida pelos filisteus que falam das mãos destes grandiosos deuses (1 Sm 4,8), já que eles eram politeístas. O nome de Javé é glorioso em poder e majestade: quão magnífico é teu nome (= tua pessoa), pois expuseste nos céus a tua majestade ( Sl 8,1-2). Dessa palavra temos a derivada addir que significa poderoso, nobre, principal, grandioso. O messias era addir (=príncipe) que procedia do povo em Jr 30, 21. Existe uma frase muito interessante, derivada da raiz comum adr. Ela é hadret qadish traduzida por beleza de santidade ou como doxa tou onomatis autou (majestade de seu nome) em grego e na vulgata décor sanctus (Sl 29,2). A terceira palavra com conotações mais diretas com a divindade é kabod, usada como nome (glória) e como adjetivo (glorioso), que pode ser traduzida por reputação, admiração, reconhecimento. Esta é propriamente a palavra que é traduzida ao grego por doxa, palavra grega que nos clássicos significava boa fama, opinião favorável com respeito a uma pessoa. Logicamente, ao se referir a Javé, a palavra tem o significado de uma manifestação visível, relacionada principalmente com o Tabernáculo: a doxa do Senhor apareceu na nuvem (Êx 16, 10). É a auto-revelação divina que manifesta seu desejo de realizar sua obra ou estar presente (habitar) entre os homens por Ele escolhidos. Temos exemplos desta manifestação no fogo que consumiu o sacrifício de Abraão (Gn 15, 17); na sarça ardente de Moisés (Êx 3,3-5), porque o lugar sendo santo, os pés deveriam estar descalços como correspondia a um escravo. Glória que rodeou o templo de Salomão na sua inauguração (1 Rs 8, 10-11). O fogo que consumiu o sacrifício de Elias no monte Carmelo onde pede ao Senhor que manifeste ser Ele o condutor do povo (1 Rs 18, 37-38). A doxa-kabod está, pois relacionada com a santidade (= unicidade e transcendência) de Javé. Em resumo: Doxa identifica-se com a pessoa. B) Ao nível humano, a glória acompanha à pessoa do rei (Mt 6, 29). Também a glória era buscada como honra e distinção pelos grandes mestres de Israel (Jo 12, 43). A glória humana é o reconhecimento da superioridade de uma pessoa com respeito a outras de nível inferior. No NOVO TESTAMENTO a doxa do Pai é vista no seu Filho (Jo 1, 14): vimos sua glória, glória como do unigênito que (consistia) na plenitude de misericórdia e de fidelidade. Pois assim parece que deve ser traduzida a frase grega pleres kharitos kai aletheias [cheio de graça e de verdade]. Pois reflete o hesed (bondade, misericórdia, amor),  we emet (firmeza, verdade, fidelidade, veracidade) dos textos hebraicos referidos a Javé-Deus. E em 17, 1-5: Pai, é chegada a hora; glorifica teu Filho(…) como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que conceda a vida eterna a todos os que lhe deste (…) Eu te glorifiquei na terra consumando a obra que me confiaste. E agora glorifica-me ó Pai contigo mesmo com a glória que eu tive junto de ti antes que houvesse mundo. A Vulgata usa o verbo clarificare que em voz -ativa significa clarificar, tornar célebre. Quando se refere a Deus, a glória divina se manifesta nos seus atributos especiais: poder, sabedoria, fidelidade e misericórdia de modo especial, porque neles se manifesta a unívoca e peculiar unicidade da divindade. Esta glória de Deus se manifesta de modo especial em Jesus (Jo 1, 14), como unigênito do Pai. Glória que pela primeira vez manifestou a seus discípulos em Caná da Galileia, quando transformou a água em vinho (Jo 2, 11), porque assim revelou, com seu poder, quem realmente ele era. A glória do Filho foi vista de modo especial na transfiguração, quando apareceram envoltos em glória as três figuras, e que a Vulgata traduz in majestate. Mas a glória máxima é o seu triunfo sobre a morte como consequência da sua vitória contra o pecado, por meio de sua obediência até a morte e morte de cruz (Pela qual Deus o sobre-exaltou grandemente) (Fp 2, 9). Em resumo: Sem recorrer às palavras de Paulo, e somente usando expressões de João, a glória que Jesus pede nessa hora é a autoridade sobre a morte, pois o sarx (carne) representa a parte mortal do homem. Essa autoridade lhe dá o poder de dar a vida eterna aos que lhe seguem, vida que ele mesmo tinha, unido ao Pai, como glória antes que o mundo existisse. Chega, pois, o momento em que a obra do Deus único será reconhecida em seu Filho porque este, através de sua humilhante e dolorosa morte, se tornará Triunfador da mesma e Senhor da vida. A sua Ressurreição é a firma do Pai para esta nova etapa, totalmente gloriosa, do Filho. Nota:Temos traduzido um tanto livremente os parágrafos, visando antes as ide.ias do que a literalidade do texto.

A GLÓRIA DIVINA: Se Deus foi glorificado nEle, também (o) Deus O Glorificará em si mesmo e imediatamente [euthys] O  glorificará (32). Si Deus clarificatus est in eo et Deus clarificabit eum in semet  ipso et continuo clarificabit eum. A glorificação divina feita por meio de Jesusnão consistia precisamente, sem descartá-los, nos milagres de Jesus (os semeiai, sinais), mas também e principalmente, na sua paixão e morte em obediência. Jesus não atribuía a si mesmo sua vida e sua obra, mas as declarava oferecidas como obediência ao Pai, como deve ser toda obra e vida cristã. Como resultado desse serviço ao Pai que o constituía Servo de Javé, este se obrigava a glorificar por sua vez o Filho, como diretamente unido ao poder e glória da divindade [em si mesmo], poder de dar vida e ser Senhor da morte e isso seria conhecido de imediato [euthys, ou continuo latino]. A exemplo do Senhor Jesus, nós temos a obrigação de glorificar o Pai. Paulo dirá selados pelo Espírito Santo para o seu louvor e glória (Ef 1, 14). S. Ignácio coloca como objetivo de sua obra Ad majorem Dei gloriam, que S José de Calasanz completará com et pietatis incrementum [aumento do amor filial como tradução direta]. E quando damos maior glória a Deus e demonstramos maior amor filial ao mesmo? S. Camilo de Lellis consolava seus moribundos, declarando que a aceitação das dores e da morte era a maior contrição pelos pecados, que serviria para o perdão dos mesmos. É uma visão que se funda tanto nas palavras de um santo como nas verdades evangélicas que acabamos de explicar. Se terminamos a vida oferecendo-a a Deus como e quando Ele quiser, em obediência e submissão, temos a certeza de que Ele nos receberá como Pai e não como Juiz. Assim, entendemos melhor a postura da Igreja que impede encurtar propositadamente a vida [eutanásia ativa] mesmo que essa vida seja aparentemente vegetativa.

NÃO PODEIS ME ACOMPANHAR: Filhinhos! Até pouco convosco estou. Buscar-me-eis e, como disse aos judeus, que onde vou eu vós não podeis vir; por isso vos digo agora(33). Filioli adhuc modicum vobiscum sum quaeretis me et sicut dixi Iudaeis quo ego vado vos non potestis venire et vobis dico modo. FILHINHOS: Existem em grego três palavras para filho: Teknon (de tikto gerar) é o filho gerado pelos pais. Uios, com um significado mais geral, pois pode se referir até aos filhotes de animais, e Pais que em geral significa criança e, por amplitude, filho ou escravo. A palavra que agora estudamos, um diminutivo de teknon, seria traduzida por filhinhos, com um significado de ternura muito peculiar. Filhos muito amados talvez. Provavelmente era a palavra com a qual os Rabis, considerados verdadeiros pais, se dirigiam àqueles que eram seus discípulos. Jesus usa o teknon [filho] para se dirigir ao paralítico,  afirmando que seus pecados estavam perdoados (Mt 9, 2). Usa o teknoi em plural, referido aos discípulos, para afirmar a dificuldade de um rico entrar no Reino (Mc 10, 24). Mas é a única vez que desta forma, em diminutivo e carinhosamente, aparece nos evangelhos, pronunciada por Jesus pouco antes de sua morte. UM POUCO: O versículo, um tanto escuro, pode ser completado com 14, 19. Um pouco e o mundo não me verá, mas vós me vereis porque eu vivo e vós me vereis. Quer dizer que ele promete se tornar visível após a morte e que a morte dos discípulos não será obstáculo para estar na companhia de Jesus porque também eles estarão vivos após a morte dos mesmos. É a despedida da morte, que para os discípulos não será total e final, como seria para os judeus, seus inimigos, pois promete que os verá [aos apóstolos] após um pouco de tempo. Essa impossibilidade de acompanhar Jesus, este a declara desde o momento atual.

NOVO MANDATO: Mandato novo vos dou: Que vos ameis mutuamente como eu vos amei, para que também vós reciprocamente vos ameis (34). Mandatum novum do vobis ut diligatis invicem sicut dilexi vos ut et vos diligatis invicem. Distinguimos em grego Nomos (=lei, como a mosaica), Dogma (=decreto como os civis) e Entolê (=preceito). João usa aqui entolê indicando que não é uma lei completa, mas um preceito particular, embora seja distintivo para seus discípulos. O velho mandato de amar o próximo como a nós mesmos (Lv 19, 18) é substituído por amar como Jesus amou. Qual a diferença? No amor,  estilo AT do levítico, entre o próximo e meu ego posso optar por mim. Mas com o exemplo do que Jesus fez por todos, especialmente por seus discípulos, o próximo ocupa o lugar preeminente: primeiro ele, logo eu; de modo que a vida deve ser dada por ele, pelo outro. Nisto conhecerão que sois meus discípulos. A identidade do discípulo é a de saber amar como Cristo nos amou. O amor de Jesus se manifesta em duas vertentes: 1) Com respeito a seus amigos: ninguém tem maior amor que o que dá sua vida por seus amigos (Jo 15, 13). 2) E por parte dos inimigos: Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores (Rm 5, 8). Por isso, não existe pecado maior do que a falta de amor entre os discípulos de Cristo.

OS VERDADEIROS DISCÍPULOS: Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: Se tiverdes amor mútuo(35). In hoc cognoscent omnes quia mei discipuli estis si dilectionem habueritis ad invicem. Geralmente distinguimos os cristãos, discípulos de Jesus, pela sua profissão de fé: pelo dogma da Encarnação que se apoia na Trindade. Mas isso só basta? Aparentemente, segundo alguns, é suficiente. Nós, os católicos, pensamos com este versículo: os verdadeiros cristãos são os que vivem sua crença centrada no amor, que para ser verdadeiro amor a Deus deve ter como sinal visível o amor ao próximo. Assim o expressa João em sua primeira carta  4, 20: Quem não ama seu irmão a quem vê, a Deus, a quem não vê, não pode amar. Paulo mesmo, esse que muitos apresentam como modelo da fé salvífica, afirma que o que vale em Cristo Jesus é a fé atuante através do amor[pistis dia ágape energoumene] (Gl 5, 6) e que Tiago declara que a fé sem obras está morta em seu isolamento (Tg 2, 17). Porque a verdadeira fé se demonstra pelas obras, como dirá o mesmo apóstolo. E essas obras, que todos podem ver, derivam do mandato novo de Jesus, que implica um amor verdadeiro ao próximo. Na Igreja atual, a única forma de sermos reconhecidos como realidade positiva humana e cristã é a caridade, que se manifesta nas inúmeras obras mantidas pelos membros da mesma. Isso nos diferencia das outras religiões que centram sua fé na salvação individual como parte de um imanentismo egocêntrico.

PISTAS:
1) Partimos da palavra glorificar. Que significa nos lábios de Jesus? Não é certamente um louvor externo, devido a uma fama adquirida por fatos meritórios, reconhecidos por todos. A glorificação tem, como meta final, a exaltação sobre toda a obra da criação. Esta é como a base material sobre a qual opera a obra redentora de Jesus, dando-lhe uma vida nova que se prolongará na eternidade para assim ser uma matéria diferente da inerte e mortal que conhecemos. A redenção ou salvação, é entendida como uma nova orientação de toda a natureza (Rm 8, 21) para ter como mestre e chefe o Filho do Homem, Jesus de Nazaré, que passa a ter, como Cristo, a mesma categoria e majestade que a do Javé, Deus de Israel.

2) Porém, antes da glorificação final, como ressurreição e vida nova do Universo, Jesus glorificará o Pai pela obediência estrita, dolorosa e solitária. Como pela desobediência de um, o pecado entrou no mundo,  e os muitos (todos) se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só (até a morte e morte de cruz) os muitos (todos) se tornarão justificados (Rm 5, 17-19). Sua paixão e morte como pecado, mas não como pecador, trouxe sobre si a culpa e a pena do pecado em forma substancial, justificando os verdadeiros pecadores (2 Cor 5, 21). Nesse se tornar pecado está a sua máxima humilhação. Por isso, ele será levantado (glorificado). Primeiro na cruz, que só através da fé o contemplamos como verdadeiramente exaltado, como o contempla o Pai, tornando-se a cruz símbolo de sua exaltação. E logo, na sua ressurreição feito primícias e obra suprema da nova Natureza por ele renovada e revitalizada.

3) O preceito novo: A novidade do mandamento é o novo conceito de amor, não reservado unicamente aos amigos, mas ampliado aos inimigos. Eu, porém vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem (Mt 5,44). Novidade, por estar na linha do mandato recebido do Pai por Jesus de dar a vida como mandato do Pai (Jo 10, 18 e 14, 31). Dar a vida não somente no momento da cruz, mas desde sua conceição e nascimento, de modo que a vida de Jesus é um ato de obediência ao Pai. Novidade, porque o amor provém da relação com Jesus como modelo da relação com o Pai. Novidade, porque introduz um elemento comparativo e lógico para exigir semelhante amor: Deus nos ama assim, e nós devemos corresponder, porque Paulo afirma: Deus demonstrou seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando ainda éramos pecadores (Rm 5, 8). Novidade, porque é esse amor que revela se realmente somos discípulos do mestre e não outra forma de adesão e seguimento.


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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17.04.2016
4º Domingo de Páscoa — ANO C

DOMINGO DO BOM PASTOR E
JORNADA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES SACERDOTAIS E RELIGIOSAS

(BRANCO, GLÓRIA, CREIO – IV SEMANA DO SALTÉRIO)

__ Eu sou o Bom Pastor: Eu conheço as minhas ovelhas e elas me seguem! __

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

APRESENTAÇÃO ESPECIAL DA LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA
VÍDEO NO YOUTUBE
APRESENTAÇÃO POWERPOINT

Clique aqui para ver ou baixar o PPS.

(antes de clicar - desligue o som desta página clicando no player acima do menu à direita)

Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Celebramos hoje o “Domingo do Bom Pastor” e também o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. A oração pelas vocações é um pedido e um convite insistente de Jesus. Quer vocação? Reze. Não quer vocação? Deixe então de rezar! O Papa Francisco nos lembra que “as vocações nascem na oração e da oração; e só na oração podem perseverar e dar fruto”. A liturgia nos convida, mais uma vez, fazer de Jesus o Pastor de nossa vida, configurando toda a nossa existência à dele e tornando-o centro para onde convergem nossos pensamentos, palavras e atitudes. Assim, todo aquele que vive a vocação, vive também aquela unidade desejada por Jesus: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30).

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Celebramos o Domingo do Bom Pastor e a Jornada Mundial pelas Vocações Sacerdotais e Religiosas, que neste ano têm um sentido especial para os jovens, por causa da XXXI Jornada Mundial da Juventude, de 26 a 31 de julho de 2016, em Cracóvia, na Polônia, cujo lema e: “Bem aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). Além disso, nos preparamos para a 116ª Romaria da Arquidiocese a Aparecida, no dia 01 de maio próximo, ocasião em que serão recebidas as imagens jubilares que peregrinarão em nossa Arquidiocese.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Na realidade da pessoa do Cristo se identificam as imagens do cordeiro-servo de Javé e do pastor-guia do povo em seu contínuo êxodo religioso. Na primeira imagem é expressa a proximidade conosco, pela qual o Filho de Deus quer assemelhar-se em tudo a seus irmãos, partilhar seu destino até à morte, derramando seu sangue inocente para nos resgatar. Na outra, é expresso o amor misericordioso de Deus que o Cristo nos deu a conhecer, vivo em sua pessoa, diversamente dos outros chefes religiosos e políticos do povo, que também se apresentavam como pastores em nome de Deus. O pastor supremo das nossas almas percorreu pessoalmente o itinerário que nos indica: a "grande tribulação" que tem como termo - dom gratuito de Deus - uma felicidade paradisíaca simbolizada nas "fontes das águas da vida".

Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Atos 13,14.43-52): - "Eu te estabeleci para seres luz das nações, e levares a salvação até os confins da terra."

SALMO RESPONSORIAL (Sl 99/100): - "Sabei que o Senhor, só ele, é Deus, nós somos seu povo e seu rebanho."

SEGUNDA LEITURA (Apocalipse 7,9.14-17): - "O Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os levará às fontes das águas vivas"

EVANGELHO (João 10,27-30): - "As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem."



Homilia do Diácono José da Cruz — 4º Domingo de Páscoa — ANO C

NINGUÉM VAI ARRANCÁ-LAS DE MIM...

Vivemos em um tempo em que infelizmente somos muitas vezes dominados pelo medo e a insegurança porque vemos a ação do mal por todos os cantos.

Olhamos para nós mesmos e sentimos que embora nos esforcemos por viver bem, inúmeras vezes pecamos, por falta de amor, de fidelidade, de perseverança, de confiança em Deus, na própria igreja só olhamos a instituição, a igreja humana e às vezes o desânimo é tanto que não enxergamos a igreja divina, instituída por Jesus, e da qual participamos pelo nosso Batismo, apesar de sermos indignos. Sentimo-nos ameaçados a todo o momento e o medo de sucumbir no mal, é muito grande e diante do avanço das forças do mal, sentimo-nos impotentes.

Possivelmente era também esse o estado de espírito das comunidades de João no primeiro século da era cristã, por causa das intensas perseguições do império romano e dos próprios judeus ao cristianismo. O medo e a insegurança podem fazer–nos render diante do mal.

“Elas jamais hão de perecer e ninguém as roubará de minha mão. Meu pai que mas deu, é maior que todos; e ninguém as poderá arrebatar do meu pai. Eu e o pai somos um” - é uma afirmativa de Jesus no evangelho desse domingo, que refletido em profundidade irá nos tirar a todos desse marasmo, do comodismo e conformismo diante do mal.

A primeira idéia é de proteção, estamos nas mãos do Pai e do seu Filho Jesus e nada de mal irá nos ocorrer, podemos ficar tranqüilos e basta apenas que cumpramos nossas obrigações religiosas para com Deus e a igreja de Cristo. Esse pensamento é nefasto porque nos conduz a passividade e perdemos a capacidade de nos indignar diante de fatos ocasionados pelo mal. A outra idéia errada que podemos ter, é de que o nosso Deus é possessivo quando fala que ninguém nos arrancará de suas mãos.

Mas a mensagem é bem outra e aqui podemos nos lembrar das narrativas do livro dos reis, que enfoca a bravura e a coragem de Davi quando ainda pastor, que quando via o seu rebanho atacado pelo lobo, se atirava sobre ele e o estraçalhava com a força do seu braço e dos seus dentes. Talvez nos falte hoje essa bravura e esta coragem diante das forças do mal, temos medo do que vemos e assistimos no dia a dia, não queremos nos envolver ou nos comprometer com algum posicionamento mais radical contra a maldade presente no coração de muitos que matam, roubam, enganam, manipulam.

Temos medo de testemunhar o evangelho e sermos taxados de antiquados, retrógrados, preferimos muitas vezes nos deixar levar pela onda, “é melhor não falar, é melhor não dar a minha opinião, alguém pode não gostar”. Agimos assim no trabalho, na política, no ensino, na comunidade e na família. Preferimos ficar rezando para que Deus toque no coração dos que estão dominados pelo mal, fazemos a nossa parte rezando.

O evangelho de hoje é um incentivo e um grito de esperança e de ânimo para quem quiser ir à luta, combatendo abertamente o mal, não as pessoas, presente em todos os lugares. Cristo Jesus nosso único pastor nos deu a vida eterna, nos libertou e nos redimiu com seu sangue, fomos assim resgatados das forças do mal, pertencemos a Deus e o Pai nos confiou a seu Filho Jesus, “ninguém conseguirá nos arrebatar de suas mãos poderosas” , Jesus e o Pai são um, e com ele nós somos a Igreja, com a missão de evangelizar, de anunciar a verdade, a justiça e a paz, o Shalom que evoca a presença de Jesus em nosso meio. Não há o que temer! Mas é preciso ser discípulo, seguidor de Jesus, não tremer, não vacilar e nem recuar diante do mal.

É preciso conhecer a sua voz, sua palavra de ordem do evangelho, diante de tantas falsas palavras que nos iludem, oferecendo-nos um mundo novo que não passa de uma fantasia. Só Jesus é o nosso pastor e mais ninguém.

Ele é a nossa rocha, nossa fortaleza e segurança, o mal presente em nós, o pecado dos nossos irmãos, o mal presente na sociedade de tanta morte e violência, não conseguirá nos arrancar de suas mãos. Basta crer e se comprometer com o seu reino. E assim podermos rezar na firmeza do salmo 99 “sabei que o Senhor, só ele é Deus, nós somos seu povo e seu rebanho”.

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Costa — 4º Domingo de Páscoa — ANO C

Escutar no silêncio

"Vejam se vocês são as suas ovelhas, vejam se o conhecem". Assim exortava São Gregório Magno numa homilia. Depois o mesmo Papa e Santo continuava dizendo que há duas maneiras de conhecer: pela fé e pelo amor, pela inteligência iluminada pela fé e pelo coração aquecido pela caridade.

O conhecimento que vem da fé diz respeito a verdades como a existência de um só Deus em três Pessoas realmente distintas: Pai e Filho e Espírito Santo; a encarnação do Filho de Deus, ou seja, o fato do Filho, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, ter se tornado homem por obra do Espírito Santo nas entranhas puríssimas da Virgem Maria para a nossa salvação; a vinda gloriosa de Jesus Cristo na consumação dos tempos, chamada Parusia; entre outras verdades. Mais a fé não é só um conhecimento intelectual, em primeiro lugar ela é uma entrega amorosa de todo nosso ser a Deus porque ele se mostra como é, Amor, porque a sua Palavra arrebatou o nosso coração, porque percebemos que não podemos ser felizes longe dele. A fé e o amor são virtudes que vão, portanto, juntas.

No entanto, enquanto o conhecimento que vem da fé se encontra mais relacionado com a nossa inteligência, o conhecimento que vem do amor eleva a nossa vontade, o nosso querer. Humanamente falando, quando nós sentimos alguma simpatia por uma determinada pessoa é muito mais fácil conhecê-la e saber por intuição aquilo que ela deseja. Uma mãe, por exemplo, sem estudar medicina, é capaz de detectar uma dor de ouvido do seu filhinho de poucos meses que não fala e apenas chora. As mães têm um amor que intui, elas sabem que quando a criança chora ou quer comer ou mamar ou tem alguma dor. Nós também, quando amamos a Deus, temos-lhe simpatia, sabemos por co-naturalidade o que ele quer de nós, qual é a sua vontade para a nossa vida. Nós também intuímos aquilo que Deus quer que façamos.

Agora podemos voltar às palavras de São Gregório: Será que nós somos, de fato, as suas ovelhas? Nós escutamos na passagem do Evangelho de hoje: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem" (Jo 10, 27). Jesus Cristo, Bom Pastor, conhece a cada um de nós pelo nome, ele sabe o que há de mais íntimo em cada um de nós e que nem nós mesmos chegamos a conhecer. O conhecimento que Jesus tem de cada um de nós é perfeito. Nós, ao contrário, não o conhecemos perfeitamente. O que fazer? Ouvir a voz do Pastor e segui-lo!

É preciso ouvir! Mas, há tanto barulho ao nosso redor! Por outro lado, por mais que admiremos o silêncio, quando temos oportunidade de fazer um pouco de silêncio, fazemo-lo com música. Que pena! Há pessoas que não podem estar sequer cinco minutos em silêncio. Você já observou como algumas pessoas ficam inquietas quando o sacerdote guarda uns minutinhos de silêncio depois da proclamação do Evangelho ou depois da homilia, outras não sabem o que fazer na ação de graças depois da comunhão caso não haja um canto. O silêncio às vezes parece que nos incomoda! Outra coisa: você já notou que às vezes numa discussão todo mundo está de acordo, mas não se entende? Finalmente, quando chega alguém e diz que todos estão dizendo a mesma coisa e que a única diferença está na ordem dos fatores, então talvez alguns percebam que o problema é que eles não se escutavam.

Nós queremos seguir o Senhor e fazer a sua vontade. Não a realizaremos, porém, se não o escutarmos atenciosamente. Como? Com alguns propósitos concretos: escutar atentamente as leituras da Missa e a homilia, ler a Sagrada Escritura procurando entendê-la, evitar tanto barulho quando possível, fazer uns minutinhos de oração mental todos os dias. A oração mental não é nenhum bicho de sete cabeças, basta ler um trecho do Evangelho, por exemplo, e depois ficar uns minutinhos em silêncio conversando com Deus: pense naquela passagem, imagine-a, converse com Jesus sobre a cena do Evangelho, sobre a sua vida e a dos seus amigos, escute-o já que ele nos fala nesses momentos. Uma outra coisa: se soubermos escutar, também descobriremos a voz de Deus nas circunstâncias mais ordinárias da nossa vida: você vai ver como ele vai pedir que a sua ajuda para animar aquele companheiro de trabalho que está triste, para conversar um pouco com aquela pessoa que ninguém dá atenção, para sorrir para aquela outra que parece que está sempre amargurada. Esse conhecimento vem da fé e do amor; efetivamente, a fé atua pela caridade (cf. Gl 5,6).

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético — 4º Domingo de Páscoa — ANO C
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (Ap7, 09, 14b-17)

INTRODUÇÃO: Há uma festa no céu, que pode ser comparada à festa dos tabernáculos ou das Sucoth à qual está chamado a participar o povo que representa a Igreja perseguida e que confirmou a fé com seus mártires, durante essa tribulação, que é considerada como grande, por não dizer a máxima, em que os amigos dão a vida fiéis à memória do amigo. Uma outra consequência: a multidão era composta de todas as etnias do mundo, indicando a universalidade da Redenção.

A MULTIDÃO: Depois destas coisas vi, e eis que grande multidão que ninguém pode enumerar de toda raça e tribos e povos e línguas, estava de pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de estolas brancas e palmas em suas mãos (9). Post haec vidi turbam magnam quam dinumerare nemo poterat ex omnibus gentibus et tribubus et populis et linguis stantes ante thronum et in conspectu agni amicti stolas albas et palmae in manibus eorum.Continua João, o presbítero, com suas visões. Desta vez é a multidão dos mártires, que suportara a grande tribulação, isto é, a perseguição de Domiciano. RAÇA [Ethnos <1484>=gens]: a palavra grega é usada como multidão, companhia, tribo, nação, sendo que no AT significava nações pagãs ou gentios [Goim<01471>=gentes], como em Is 42, 1. Paulo no NT usa o termo para designar os cristãos provindo dos gentios, ou do paganismo (Rm 11, 13). E é neste sentido que temos o ethnos do versículo atual. Logicamente, também nos tempos finais do século I, os cristãos e os mártires pertenciam à humanidade sem distinção de nações [como eram os israelitas, nação escolhida], de povos [Fylë <5443>=tribus] como a distinção dos filhos da tribo de Levi, especialmente escolhida para o serviço divino, povos [Laos<2992>=populus] que no AT era ‘am <05971> indicando um conjunto de gente unida por tradição, língua e costumes. Finalmente, línguas [Glössa <1100>=língua] que eram sinais de divisão como vemos em Gn 11, 9 em que Deus confundiu as línguas e por isso chamou a torre de Babel, ou confusão. A passagem é uma réplica moderna de Dn 7, 14 em que as pessoas de todos os povos e línguas serviam o Ancião, que representava Jahveh. Estavam de pé diante do TRONO [Thronos <2362>=thronus]. Era este o assento de Deus, como rei supremo de toda criação e magistrado para julgar toda criatura. Mas junto dele como seu maior representante estava o Cordeiro Imolado; e era aqui que a multidão estava de pé revestida de ESTOLAS [Stola <4749>=stola] que eram os vestidos talares próprios dos oficiais e das mulheres que chegavam até os calcanhares; pois talares eram chamadas as asas de que estavam dotadas, para melhor correr, as sandálias de Mercúrio, o deus grego do comércio e mensageiro dos outros deuses. Oposto da estola, e vestido dos humildes, era o Chiton ao qual todo o mundo tinha direito de modo a ser devolvido antes da noite (Êx 22, 26). Embora não tenhamos no AT uma palavra própria para chiton, o vestido feito para José por Jacob [Kethoneth<03801>= túnica Pas<06446>=colorida], traduzido por túnica talar na Nova Vulgata latina.  Estavam, pois, vestidos em traje de cerimônia. A cor era BRANCA [Leukë<3022>=alba], cor que pode ser brilhante  e que significava a túnica branca dos sacerdotes do AT que de Aarão passariam a seus filhos e que são begedi hakodesh [vestidos sagrados] em Êx 29, 29. Pois segundo Ap 5, 10, fizeste deles [hombres de toda raza,lengua, pueblo y nación].um reino de sacerdotes que reinarão sobre a terra. Ou em 20, 6:ditoso e santo quem tem parte na primeira ressurreição: serão sacerdotes de Deus e de seu Cristo com quem reinarão mil anos. PALMAS [Foinikes <5404>=palmae] de fato foinix é a árvore chamada de palmeira o tamar hebraico e em plural são as palmas ou galhos de palmeira. Há uma passagem evangélica em Jo 13, 13, quando o povo tomou ramos de palmeiras no dia de Ramos para sair ao encontro de Jesus como messias. Em Jeremias 10, 5 lemos: os ídolos são como espantalhos no palmeiral e em Sl 92, 12: o justo florescerá como a palmeira. Mas principalmente era o símbolo da vitória e do triunfo sobre os inimigos, como era o mundo hostil dos imperadores romanos. Fílon fala da palmeira como symbolon nikës [símbolo de vitória]. Assim os conquistadores usualmente levavam palma em suas mãos. Os gregos se adornavam com coroas de palmas após a vitória nos combates; e os romanos usavam a toga palmata, um vestido talar com figuras de palmas bordadas nele. A medalha que Tito mandou cunhar, após sua conquista de Jerusalém, tinha uma palmeira e uma mulher cativa, sentada na base da mesma, com a inscrição: Judaea capta. Na festa dos tabernáculos, os judeus, na procissão, portavam lulavs, em cuja composição era básico um galho de palmeira (Lv 23, 40). E temos o provérbio: pois se um homem leva um galho de palmeira em sua mão conhecemos que ele é um homem vitorioso (Rabi Bajikra).

QUEM ERAM: E um dos anciãos me disse:estes são os que vem da tribulação, a grande, e lavaram suas estolas e branquearam suas estolas no sangue do Cordeiro (14). Et dixi illi domine mi tu scis et dixit mihi hii sunt qui veniunt de tribulatione magna et laverunt stolas suas et dealbaverunt eas in sanguine agni. ANCIÃO: A tradição judaica era a que provinha dos anciãos, segundo Mt 15, 2. Eram, pois, extremamente respeitados. Mas principalmente o grupo dos anciãos era uma das três partes em  que estava composto o Sinédrio ou grande tribunal judaico (Mt 16, 21). Eram os anciãos os que presidiam e governavam as igrejas particulares (1 Tm 5, 17). Porém, no Apocalipse, constituíam a corte de honra do trono e do Cordeiro em número de 24, como as horas do dia, ou como as classes sacerdotais do AT. Estavam vestidos de roupas brancas, como sacerdotes, e tinham coroas de ouro na cabeça, como príncipes reais, pois eram os escolhidos da nova classe sacerdotal e real do cordeiro (1Pd 2, 9). Um deles, pois, explica como mestre e intérprete da vontade de Deus (At 15, 22) quem eram os que constituíam a grande multidão. TRIBULAÇÃO [Thlipsis <2347>=tribulatio] era a grande, ou seja, máxima, segundo o sentir semítico que não tem superlativos e com certeza que se referia à perseguição de Domiciano, ainda presente quando o apóstolo escreve estas linhas. ESTOLAS [Stola <4749>=estola] era a veste sacerdotal talar [até o calcanhar]; era de linho branco e por isso fala de branquear ou torná-las brancas para o serviço sacerdotal que não é unicamente o sacrifício mas o louvor no santuário, como João vê o espetáculo do céu. Este louvor fora descrito no versículo 12; O louvor e a glória e a sabedoria e as ações de graças e a honra e o poder e a força sejam ao nosso Deus pelos séculos dos séculos. Amém. Parece uma transcrição cristã da grande festa dos Tabernáculos. Como era de preceito, antes de exercer seu ofício sacerdotal, todo sacerdote deveria se purificar e tomar sua estola  branca, recém-lavada. Só que a purificação da água, totalmente externa, é agora substituída pelo sangue do Cordeiro, segundo vemos em Rm 5, 9: justificados pelo seu sangue seremos por ele salvos da ira. Precisamente no batismo, com água representando a Igreja, se dava o mistério de purificação total [justificação] por causa do sangue de Cristo, quem, segundo o Batista, tira o pecado do mundo (Jo 1, 29).

A ADORAÇÃO: Por isso estão diante do trono do Deus e adoram-no dia e noite em seu santuário e quem está sentado sobre o trono pôs o tabernáculo sobre eles (15). Ideo sunt ante thronum Dei et serviunt ei die ac nocte in templo eius et qui sedet in throno habitabit super illos. Com estas palavras está o autor transformando o céu num gigante santuário em que os sacerdotes, os únicos que podem entrar no átrio do naós [santuário] exercem o mais sublime ministério sacerdotal: o louvor e adoração do único Deus, com um holocausto de eterno culto para glória do mesmo. Para isso, como diz o Salmo 24, 4, deve se ter as mãos limpas e puro o coração. TABERNÁCULO [Skënösei <4637>=habitabit]: Na realidade é armou o tabernáculo, que era a tenda da presença divina entre o povo, onde se manifestava por meio da Shekinah [habitação], tudo era anualmente recordado na festa dos tabernáculos. O texto grego fala que Deus [quem está sentado sobre o trono] pôs o tabernáculo, ou seja, sua tenda sobre eles. Como no deserto, Deus será seu Deus e eles serão seu povo (Lv 26, 12).

A FELICIDADE: Não terão fome, nem tampouco terão sede, nem também cairá o sol sobre eles, nem calor algum (16). Non esurient neque sitient amplius neque cadet super illos sol neque ullus aestus. Claramente temos uma imagem do deserto em que Jahveh alimentou com o maná o povo e com a água de Meriba apagou a sede do mesmo. E como estamos no deserto, o sol não cairá sobre eles e o calor  do  estio  não  se  deixará  sentir. É  um  ambiente  de claro bem-estar corporal, dirigido por Deus, para a felicidade do povo eleito. Sua shekinah, como no deserto, protegia do sol durante o dia como nuvem (Êx 13, 21). A shekinah era como um Chupah, o sólio ou dossel que cobria os esposos no dia das bodas.  E como não haverá noite, daí que não se use outro modelo metafórico para indicar a felicidade dos escolhidos. A revelação do Tabor entra dentro do olhar profético do autor, com as tendas que Pedro queria montar. Esse Pedro que fala em 2 Pd 1, 13,  de seu corpo como um tabernáculo.

O PASTOR: Já que o Cordeiro, o do meio do trono, os apascentará e os conduzirá sobre fontes vivas de águas e Deus enxugará toda lágrima (17). Quoniam agnus qui in medio throni est reget illos et deducet eos ad vitae fontes aquarum et absterget Deus omnem lacrimam ex oculis forum. APASCENTARÁ [Poimanei<5692>=deducet]: Seguindo a alegoria do deserto, Moisés é substituído pelo Cordeiro, que sabemos é Jesus, como degolado, ou seja, Cristo. Agora ele se transforma em pastor e como tal, seu principal ofício é conduzir as ovelhas para as nascentes de água, que serão puras. FONTES VIVAS [Zösas <2198> pëgas <4077>=vitae fontes]: A palavra Zösas é o particípio de presente do verbo Zaö [viver] cuja tradução seria viventes, ou melhor, vivas. Os antigos israelitas distinguiam entre águas de poço e águas vivas de manancial. Jesus mesmo disse à samaritana: aquele que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, pois a água que eu lhe der se tornará uma fonte que jorrará para a vida eterna (Jo 4, 15). Eram as águas que a Escritura chama rios de águas vivas (Jo 7, 38). Sem dúvida que o autor do quarto evangelho, aqui também como autor,  desenvolve a festa dos tabernáculos em que o oitavo dia significava o primeiro dia  da nova semana da eternidade. Semana que não tem fim. Era o dia mais gozoso da festa. Divididos os sacerdotes em três grupos, o grupo do Sumo sacerdote [Kohen ha-Gadol] saia pela porta conhecida como porta da água e ia ao estanque de Siloé que significa suave corrente de águas. Lá, o Sumo Sacerdote, com uma jarra de ouro, tirava a água conhecida como águas vivas [mayim chayim]. Seu ajudante tinha uma jarra de prata com vinho e juntos, marchavam ao templo, O segundo grupo tinha cortado salgueiros que eram levados em procissão e entravam pela porta oriental. No templo se uniam ambos os grupos, os sacerdotes que agitavam árvores de Salgueiro e os que acompanhavam os dois jarros de líquido. Assim entravam no santuário onde esperava o terceiro grupo que tinha preparado o altar. O vinho e a água eram derramados nos cantos do altar e logo, com os salgueiros, os sacerdotes do turno correspondente formavam uma cabana com a qual cobriam o altar. O povo cantava o grande Hillel [Salmos 113 e 114] em que o hosanna [vem, salva] era repetido, ao mesmo tempo que os sacerdotes agitavam os salgueiros, rodeando o altar sete vezes. Este era o maior dia de festa em Israel. Como vemos, temos suficientes elementos para uma alegoria da festa do dia eterno no reino dos céus onde a cabana do cordeiro cobria seus eleitos. LÁGRIMA : É o que Is 25, 8 profetiza: Tragará a morte para sempre e assim enxugará Deus as lágrimas de todos os rostos e tirará de toda a terra o opróbio do seu povo.

Evangelho (Jo 10, 27-30)
AS VERDADEIRAS OVELHAS

PREFÁCIO: Os quatro versículos do domingo atual pertencem a um discurso de Jesus pronunciado durante a festa da Dedicação (Chanucá com ch=jota espanhol, ou encénias em grego) no pórtico de Salomão (Jo 10, 23), resguardado do vento invernal por ser o único fechado do lado do oriente de onde provinha o vento frio nessa época (novembro – dezembro). Poucos meses antes, na festa das Tendas,  (sukoth) ou tabernáculos (Jo 7,2), Jesus tinha pronunciado duas parábolas que indicavam sua função perante o povo de Israel: Ele era a porta (Jo 10, 7) e ele era o pastor verdadeiro de um rebanho que se supunha ser o povo escolhido por descendência ( Jo 10, 11). Mas, nesta ocasião, os judeus, formando um círculo como se fossem discípulos do novo Mestre, dirigem-lhe duas perguntas importantes: És tu Messias? És tu Filho de Deus? (sic no grego). São as mesmas perguntas que servirão para condená-lo no Sinédrio, presidido por Caifás. A primeira foi clara e especificamente perguntada (Jo, 10, 24). A segunda será implicitamente introduzida no versículo 33. Na resposta à primeira das mesmas, Jesus declara ironicamente que não vê nos seus interrogadores suas ovelhas; e com isso reclama da sinceridade dos mesmos de ouvirem uma voz que deveriam escutar como a voz verdadeira do pastor (27). Com esta afirmação se inicia o evangelho de hoje, onde encontramos a conclusão da parábola do bom pastor. O evangelho destaca a comunhão de vida entre Cristo e seus seguidores, sua ovelhas. Duas são as disposições fundamentais para entrar dentro do seu domínio e receber a vida plena e eterna como ovelhas fiéis: reconhecer o pastor e escutar a sua voz como único mandato.  Como comenta o Papa atual é a escuta da Palavra para saber a vontade do Senhor. Como prêmio a esta obediência, Jesus reconhece unicamente essas ovelhas e lhes dá a vida eterna de modo a viver uma vida sem fim, sem que nada nem ninguém possa arrebatá-las das mãos do pastor porque ele, não unicamente representa o Pai-Deus, mas é uma mesma coisa com Ele.

AS MINHAS OVELHAS: As ovelhas, as minhas, ouvem a minha voz e eu conheço as mesmas e me seguem (27). Oves meae vocem meam audiunt et ego cognosco eas et sequuntur me. Jesus claramente esclarece que existem dois tipos de ouvintes: os que constituem ou formarão parte de seu rebanho (suas ovelhas) e os que vendo suas obras, os sinais, que dirá o evangelista, fecham seus ouvidos à voz de quem deveria ser seu pastor e por isso se desgarram de seu rebanho desde o início. Ao afirmar que tem um rebanho a cuidar e pastorear, Jesus se apresenta como Pastor, mas um pastor do qual depende a vida do rebanho. Ele tem como fim a vida dessas ovelhas a ele encomendadas pelo Pai. A própria vida pessoal não é tão importante como a vida do rebanho pelo qual ele dará sua vida (10, 11). Porém o tema principal da metáfora do trecho de hoje é a distinção entre o seu rebanho e o grupo dos desgarrados que não querem ou não escutam a voz do verdadeiro e único pastor. Jesus afirma ter um verdadeiro conhecimento de quem são suas ovelhas (a palavra probaton indica gado menor como ovelhas e cabras) e que distingui-las não é difícil, pois são aquelas que escutam sua voz. É por isso que os judeus sentados à sua frente, aparentemente como discípulos, não formam parte de seu rebanho. Não vieram para escutar a sua voz mas para interrogar sobre seu ministério como pastor. Quem hoje lê os evangelhos buscando outra coisa que não seja a voz do Pastor, não pode ser chamado discípulo de Cristo, mas estudioso da História das religiões, crítico radical do evangelho, ou político que se serve de uma propaganda emprestada, na qual ele nem acredita nem conforma sua vida, mas dela extrai seus interesses. Tal é a atitude que reduz Jesus a um subversivo, ou sua mensagem como dirigida unicamente aos operários contra os donos do capital, em nome da evangelização dos pobres. A voz deve ser escutada com humildade e obediência em todas as suas partes, sem omitir parágrafos, considerados duros, como aconteceu em Cafarnaum (Jo 6, 60). O seguimento de Cristo é a melhor prova de que suas palavras não foram voz, mas mandato que traz como consequência uma vida nova. Por isso, dirá Jesus: Dou-lhes a vida eterna ou vida sem fim.

VIDA ETERNA: Já que eu dou-lhes vida sem fim, e de modo que não pereçam para sempre; e ninguém as arrebatará de minha mão (28). Et ego vitam aeternam do eis et non peribunt in aeternum et non rapiet eas quisquam de manu mea.ZOÉ AIÔNIOS (vita aeterna em latim) é o termo usado várias vezes pelo evangelista. Vamos explicar o significado começando pelo aiônios. A palavra tem sua origem em aion derivado de aiei ou aei de significado sempre, inalterado. No inglês seria o everlasting, que dura sempre, ou perpétuo. Sem fim, seria talvez a melhor tradução, preferida à eterna, usada nas línguas vernáculas latinas. Zoé derivada de Zaô, estar vivo, não teria conotação especial de não estar acompanhada pelo adjetivo que a qualifica e determina. É, portanto, uma vida especial em que a qualidade tem tanta importância como a duração. Nos evangelhos temos várias citações sobre a vida eterna: João a define como constituída pelo conhecimento do único Deus verdadeiro e daquele que foi por Ele enviado, Jesus Cristo (Jo 17, 3). Este versículo é um parêntese do evangelista que segue a invocação de Jesus pedindo o poder para dar a vida eterna a todos os que foram a Ele confiados pelo Pai. Esse conhecimento, em sentido bíblico, de ser tanto intelectual como amoroso, só será perfeito no além, mas é antecipado neste mundo, mediante a fé e a união com Cristo: Quem crê no Filho tem a vida eterna. Quem recusa crer no filho não verá a vida. Pelo contrário, a ira de Deus permanece sobre ele (Jo 3, 36). Já que Jesus assegura: Quem escuta minhas palavras e crê em quem me enviou tem vida eterna e não será condenado, pois passou da morte para a vida (Jo 5, 24). Porque ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11, 27). Os evangelhos falam de conhecimento ginosko (João), ou melhor, de reconhecimento epiginosko (Mateus) não no sentido de volver a conhecer, mas de admitir e entender plenamente o que estamos vendo ou sentindo. S. Tomás dirá que a bemaventurança consistirá em contemplar a essência divina como visão beatífica, ou seja, como contemplação-causa de nossa felicidade; porque algo disso terão também os proscritos em certo grado, mas como visão oposta, causante de temor, dos quais se pode afirmar o que dizia o apóstolo Tiago dos demônios: que também acreditam mas tremem (Tg 2, 19). Muito se fala de que Deus castiga, mas na realidade, Ele se mostra como é, bondade e verdade, que os condenados rejeitaram durante sua vida; e agora se contemplam tão distantes que não aguentam essa visão ou conhecimento intelectual puro e direto. Contava uma pessoa que teve uma visão da presença do anjo do mal e sentiu tal perturbação interior como presença mórbida do mal que seu corpo tremia de temor e sobressalto. Pois bem, o que aquela pessoa sentiu diante da presença do Mal, os condenados sentirão diante da presença do Bem. Acostumados a escolher-se a si mesmos em puro egoísmo de paixões e orgulho, o amor e a bondade divina, agora manifestados como inalcançáveis, serão seu maior tormento, porque serão causa de se ver representados como opostos frontalmente ao que eles escolheram e viveram. Todos nós sabemos o quanto é desagradável a presença de uma pessoa com a qual tivemos uma duríssima discussão ou foi motivo de uma morte de um familiar. Por isso, a presença divina, que será motivo de felicidade para os que não rejeitaram o bem e a verdade, será motivo de profunda mágoa e rejeição para os que sempre optaram pela mentira e a maldade como fontes de sua vida. O mal dos outros, que eles escolheram como bem próprio, será agora visto como MAL em si mesmo que eles escolherão definitivamente, sabendo que é BEM para os outros e mal para eles mesmos. Tornar-se-ão PECADO não para remi-lo, como Jesus nos outros (2 Cor 5,21) mas para ver em si mesmos a justiça divina que, como dizem almas místicas, é terrível quando é vista sem ter como sombra a sua misericórdia (Hb 10, 31). E os salvados por Jesus, as suas ovelhas, possuirão a verdadeira vida definitiva, ou seja, viver plenamente a bondade humana sem mistura de êrro nem transgressão, ao contrário da vivência dos proscritos, que experimentarão a mentira e a desobediência como fundamento de sua vida que o Apocalipse chama, com propriedade, segunda morte (Ap 21, 8) já que Paulo dirá que o salário do pecado é a morte, e a graça de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 6, 23). A angústia de Jesus e a tristeza do Getsêmani, eles a experimentarão, não como redenção, mas como desesperação. Pois a (verdadeira) vida era a luz dos homens, já que o que foi feito nele era a vida (Jo 1,4). Por isso, a fé, que é entrega e submissão à verdade divina em Jesus, claramente manifestada pelas obras extraordinárias de sua vida pública, é a resposta à luz que veio aos seus e estes, em seu conjunto, não a receberam (1,11). DOU A ELES: Jesus, pastor, não é unicamente o guia, mas o que outorga a vida de suas ovelhas, de modo a que não possam perecer para sempre. E é tal a autoridade e poder de Jesus, que ninguém poderá arrebatar de sua mão as ovelhas que lhe seguem.

O PAI: O meu Pai, que me deu é maior do que todos (todas as coisas) e ninguém pode arrebatar da mão do meu Pai (29). Pater meus quod dedit mihi maius omnibus est et nemo potest rapere de manu Patris mei. O MEU PAI: É uma afirmação verdadeiramente de um valor teológico indubitável. O artigo e o adjetivo possessivo determinam de um modo muito particular tanto o Pai como o Filho. Exclui a paternidade de origem de outros homens ou criaturas e a fixa em Jesus de modo particular. O MAIOR DE TODOS: Há duas interpretações diferentes: 1ª) Meu Pai que me deu é maior do que todos. 2ª) Pelo que respeita a meu Pai, o que me deu é maior do que todas as coisas. Neste ponto a Vulgata opta pela segunda, pelo fato de que traduz o meizon [comparativo de megas=grande] neutro [e não o meizôn, como outros manuscritos no masculino],  pelo neutro maius [não maior masculino], que se refere ao objeto dado.A primeira está em conformidade com o versículo anterior que afirma que ninguém tem poder para arrebatar essas ovelhas dele, e aduz como razões, duas absolutamente essenciais: 1ª) São gado que o Pai encomendou e 2ª) O poder do mesmo é superior a qualquer força oposta, pois não existe maior. A segunda opção é também a preferida pela tradução evangélica RA: Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo. A segunda hipótese realça o valor que para ele têm as ovelhas como máximo bem a ele encomendado pelo Pai. Cremos que a primeira hipótese é a mais correta, pois até o final deste versículo adapta-se melhor à mesma: Por isso (kai =e) ninguém as poderá arrebatar da mão do meu Pai. A vontade do Pai é que não se percam essas ovelhas, mas que sejam ressuscitadas no último dia (Jo 6, 39).

SOMOS UM: Eu e o Pai uma só coisa somos(30). Ego et Pater unum sumus, O grego ‘en <1520> [Hen] é neutro de modo que deveríamos traduzir eu e o Pai somos uma única coisa. Este texto serviu como chave para as controvérsias trinitárias dos primeiros séculos do cristianismo. Por uma parte, os sabelianos ou monarquistas viram nele a identidade total do Filho com o Pai, de modo que não havia distinção, e por outra parte, os arianos só encontravam nele a união de vontades e não de substância. Um comentarista, seguindo S. Agostinho escreve: Pela palavra somos, fica refutado Sabélio e pela palavra um, acontece o mesmo com Ário.

PISTAS:

1) Se em versículos anteriores, Jesus se afirma como porta única e pastor verdadeiro, agora nos encontramos com uma definição que demarca suas ovelhas, separando-as daquelas do rebanho que não é o seu próprio. Quem são elas? São as que escutam sua voz e o obedecem. Mas esta voz está determinada pelos evangelhos, que a conservam escrita, e pela tradição, que a preserva transmitida.

2) A incumbência do pastor é cuidar delas, de modo que não pereçam, nem sejam arrebatadas do rebanho por mãos estranhas e tenham a vida eterna. Qual é, pois, no dia de hoje, a base da segurança de estarmos no verdadeiro rebanho, ou de sermos verdadeiras ovelhas, já que sempre existiram heresias de separação (2Pd 2,1)? Dado que a Escritura é tão diversa e erroneamente interpretada ( 2 Pd 3, 16) mais do que o escrito em si é a interpretação que avalia o sentido da palavra. Portanto essa interpretação não pode ser deixada ao gosto e arbítrio pessoal (2 Pd 1, 20) mas feita por aqueles a quem Jesus declara: Quem a vós ouve é a mim que ouve (Lc 10, 16). Por isso, o magistério universal constitui a base da segurança de que nós escutamos a verdadeira voz do Senhor Jesus.

3) A vida eterna da qual Jesus fala e que não explica aqui, é o oposto à morte eterna. Como Jesus e o Pai são um, assim os discípulos devem ser um também ( Jo 17,11) entre si e com Jesus. Para essa unidade, a melhor ascese (=prática) é se desprender do que egoisticamente procuramos, começando a repartir nossa riqueza, tanto material como espiritual, com os que são mais pobres. Isso que os pais fazem com seus filhos, deve ser feito com todos, pois todos somos irmãos em Cristo e filhos de Deus. O exame de consciência que realizamos é falho demais; pois sempre nos detemos no mal que causamos. Devemos nos interrogar pelo bem que não compartimos; pois há maior mal que causar inveja ou deixar famintos a quem poderíamos saciar? Então veremos a raiz do mal que dentro de nós existe e veremos como nossas vidas são bastante deficientes e pecadoras. Olhar pelo bem que devemos realizar é sentire cum Christo, é abundar em suas riquezas disponíveis, é aprender a amar que, em definitivo, é entrega e sacrifício. É perder a vida para encontrar a eternidade (Mc 8, 35); porque se a verdadeira vida consiste, com diz Paulo, na fé, na esperança e no amor (1 Cor 13,13) é este, que não perece, que a determina na eternidade (ibidem 13, 8).


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!

Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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