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Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A Liturgia do Tempo Comum nos conduzirá a aprofundar ainda mais o conhecimento de Jesus Cristo. Mais do que sabermos da sua existência, este período, tem por objetivo colocar-nos em profundo contato com O Mestre. Hoje, o Senhor nos convidará a morar com Ele para que o conheçamos. Não basta, portanto, ter informaçõe sobre a vida de Jesus; é preciso conhecê-lo e isso só se dá a partir da convivência na vida diária. INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs em Cristo, após as santas festas do Tempo do Natal do Senhor, estamos iniciando o Tempo Comum. Entramos hoje no Segundo Domingo chamado Comum: comum do dia a dia, da vida miúda, vivida na presença do Senhor que está sempre presente na sua Igreja na potência do seu Espírito Santo, dando vigor à Palavra e eficácia aos sacramentos. Desejando percorrer com Jesus, o Cordeiro de Deus, seu caminho de cruz e salvação, disponhamo-nos a oferecer a nossa vida e, por esta celebração em que Jesus se oferece por nós todos, unamo-nos a Ele em sua oferta de amor ao Pai. INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Um novo tempo se inicia. Estamos no Tempo Comum. Encontrar o Messias é a maior descoberta que também nós poderemos fazer. Um encontro que se torna vocação, partilha de vida, solidez renovada. Pedra nova de um edifício que é a Igreja, que tem o seu fundamento em Cristo e, em Cristo, os Apóstolos. Quem se deixa encontrar por Cristo inicia uma história nova. "Vinde ver" e, vendo-o, descubramos a riqueza do seu amor. Em nossa Eucaristia dominical, fazemos nosso ato de fé e realizamos o encontro pessoal com o Messias. Envolver nossa vida com Jesus e conviver com Ele para sempre deve ser nosso projeto pessoal, diante do chamado que Ele nos faz. Sendo discípulos missionários, nossa vida inteira se resume numa grande missão: levar o Cristo a todos os corações. Nessa perspectiva, a Eucaristia fortalece nosso compromisso de anunciar Jesus nesta Cidade, que foi fundada para ser morada de Deus e terra da fraternidade. Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo entoemos alegres cânticos ao Senhor! (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) PRIMEIRA LEITURA (1 Samuel 3,3-10.19): - "Falai, Senhor; vosso servo escuta!" SALMO RESPONSORIAL 39(40): - "Eu disse: Eis que venho, Senhor! Com prazer faço a vossa vontade." SEGUNDA LEITURA (1 Coríntios 6,13-15.17-20): - "não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus" EVANGELHO (João 1,35-42): - "Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?." Homilia do Diácono José da Cruz – 2º Domingo do Tempo Comum "O QUE ESTAIS PROCURANDO?" A vida é marcada por muitos encontros, conseqüência de uma procura, um dos mais belos é quando alguém encontra o grande amor de sua vida! Há um momento solene e inesquecível na celebração de um casamento na igreja, é quando após a entrada da noiva, o noivo vai acolhê-la ainda no corredor, há muitos que vêem aquele momento como a uma despedida do pai que entrega filha para o futuro genro. No fundo é isso mesmo, porque aquele encontro é diferente de todos os demais que já tiveram, pois mesmo o primeiro encontro que é tão emocionante para muitos, não tem o significado deste, realizado aos pés do altar. Por quê? Porque se trata de um encontro definitivo, para sempre, por toda a vida, vão formar uma nova família, vão ser uma só carne, vão morar sob um mesmo teto. Não haverá mais, ou pelo menos, não é para haver, nenhuma separação, até que a morte os separe – afirma categoricamente o rito do casamento. O encontro que fazemos com Deus em nossa vida, através da experiência com Jesus, tem e precisa ser algo definitivo, como uma aliança de casamento, precisamos consentir que Jesus entre em nossa vida e ali permaneça, mas para isso é preciso que entremos na vida nova que ele nos oferece e ali permaneçamos. Talvez por isso o verbo permanecer é tão repetido no evangelho de João. O amor autentico e verdadeiro não se contenta com encontros casuais, que não geram compromisso de vida, os encontros do namoro e do noivado, embora importantes, nunca são definitivos, quem já não viu noivos que desistiram do casamento uma semana antes da cerimônia? Não há vínculo em tais encontros, embora sejam eles muito importantes porque exercitam o coração para a busca do verdadeiro amor que só será possível na comunhão de vida. Às vezes muitos cristãos vivem esse relacionamento com Jesus, se dizem apaixonados por ele, encantados com a sua pessoa, com suas palavras, com seu corpo e sangue, mas a vida de fé se resume em encontros ocasionais com o Senhor, sem muito compromisso de vida, em uma assembléia é difícil encontrar alguém que não se sinta fortemente atraído por Jesus Cristo, mas ao deixarem a igreja templo e voltarem para suas casas, seu trabalho, seu estudo, será que permanecem fiéis a este amor, ou vivem procurando encontros fortuitos com outros amantes? A este respeito recordo-me dos encontros jovens do meu tempo, que eram denominados “Encontro com Cristo”, sempre muito comovedor onde a moçada se derretia em lágrimas nas reflexões, que eram muito profundas, mas depois... Ficava só nisso, amava-se o Cristo, mas não se amava a sua igreja, a família, os amigos, a esposa, os filhos, um amor que não gera compromisso de vida não pode se dizer que é verdadeiro. João Batista encontrou este amor que requer desprendimento, que nunca nos leva a nós, mas aos outros, por isso aponta a dois de seus discípulos aquele que é o “cordeiro de Deus”, isso é, o amor capaz de imolar-se pelo bem do homem. Os discípulos passam a seguir Jesus, pois o que procuravam não encontraram em João, mas agora a procura terminou. Querem saber onde Jesus mora, porque desejam com ele uma relação mais íntima e forte, o que sentem não é um entusiasmo passageiro, mas algo que é para sempre. Por isso vão e passam a morar com o Senhor. Nessa casa do Senhor, que é o nosso coração, Jesus não pode ser um simples inquilino ou visitante, ele terá que ser o dono da nossa vida, porque sem ele o nosso coração não passa de uma casa vazia e abandonada. Quando se está comprometido com o Senhor, tudo o que é nosso torna-se dele, e tudo o que é dele, torna-se nosso.suas palavras, seus ensinamentos, seu evangelho passa a ser as diretrizes de nossa vida. Daí o nosso testemunho coerente, que manifesta a alegria de quem encontrou o verdadeiro amor, é contagiante como o de André, que conduz Simão até Jesus. E Simão se torna Pedra, rocha firme capaz de abrigar e acolher o novo povo que está surgindo, povo da nova aliança, prefiguração da nova humanidade que terminou sua procura ao encontrar-se com Jesus. Assim como esses primeiros discípulos, a Igreja nada mais busca ou procura, mas apenas anuncia o Cristo, Messias, salvador e libertador do homem, único capaz de tirar o seu pecado e revesti-lo da sua graça operante e santificante. José da Cruz é Diácono da Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 2º Domingo do Tempo Comum “Domingo: permanecer com o Senhor!” André e João “foram e ficaram com ele aquele dia” (Jo 1,39). Também a nós foi dado um dia para que permaneçamos com Jesus, o domingo. Nós, os cristãos, precisamos redescobrir o domingo como o kyriaké, Dies Domini, Dia do Senhor. Não deixa de chamar a atenção como às vezes a Missa dominical é vista mais como um preceito do que como um encontro necessário à vida de um filho de Deus. O preceito de fato existe, pois a Igreja quis garantir um mínimo vital para o cristão: participar da Missa aos domingos e dias santos. A razão da lei da Igreja não é o preceito em si, mas esse mínimo vital do qual falávamos antes. Os primeiros cristãos compreendiam bem essa realidade quando, por exemplo, quarenta e nove cristãos da cidade de Abitene (na atual Tunísia) foram surpreendidos numa celebração dominical, apesar das ordens contrárias do imperador. Perguntados por que tinham desobedecido às ordens imperais, Emérito, um dos participantes daquela eucaristia, deu a seguinte resposta: sine domínico non possumus, ou seja, nós, os cristãos, não podemos ser, nem existir, nem viver sem a celebração da Eucaristia dominical. É-nos necessário o domingo! Esse foi o dia feito por Deus para que fiquemos bem perto dele. Como canta o Salmista: “Esse é o dia que o Senhor fez: seja para nós dia de alegria e de felicidade” (Sl 117,24). Antes, durante a antiga a aliança, foi o sábado; depois da Ressurreição de Jesus, os cristãos seguem o domingo. O sábado, celebração da criação e do repouso de Deus, era figura da realidade que o domingo significa: a nova criação e o repouso eterno iniciados com a ressurreição do Senhor Jesus. O apóstolo Paulo deixou bem claro que os cristãos já não devem sentir-se vinculados ao sábado: “ninguém, pois, vos critique por causa de comida ou bebida, ou espécies de festas ou de luas novas ou de sábados. Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir. A realidade é Cristo” (Cl 2,16-17). Santo Inácio de Antioquia (+110 d.C.) explicou aos cristãos de Magnésia a passagem do sábado para o domingo da seguinte maneira: “aqueles que viviam na antiga ordem das coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senhor, em que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte” (Aos Magn., 9,1). Obviamente, tais afirmações não resultam um desprezo para com as prescrições do Antigo Testamento, de fato o Catecismo diz o seguinte: “o culto dominical cumpre o preceito moral da Antiga Aliança, cujo ritmo e espírito retoma ao celebrar cada semana o Criador e o Redentor de seu povo” (Cat. 2176). O Antigo Testamento cumpriu a sua missão de preparação em relação ao Novo e, diria mais, continua cumprindo; mas quando chegou a realidade, Cristo, já não tem sentido continuar insistindo nas figuras antigas. O domingo é o dia para que também nós façamos como João e André: permanecer com o Senhor! Como? Em primeiro lugar, participando da Missa dominical em comunhão com os nossos irmãos. É na Eucaristia que nós encontramos o acontecimento fundacional do dia do Senhor, ou seja, o Mistério Pascal da Paixão, Morte e Glorificação de Jesus Cristo. Este também é o acontecimento fundacional da nossa nova vida em Cristo. Podemos entrar em contato com a grande Páscoa de Cristo na páscoa dominical. Daí que nós não podemos dizer: “ah, eu rezo em casa, não vou à igreja”. É na celebração eucarística que se atualiza de maneira misteriosa o acontecimento que nos deu nova vida e é no domingo que nós celebramos o triunfo de Cristo sobre o demônio, o pecado e a morte. São João Crisóstomo explicava aos cristãos do seu tempo: “não podes rezar em casa como na Igreja, onde se encontra o povo reunido, onde o grito é lançado a Deus de um só coração. Há ali algo mais, a união dos espíritos, a harmonia das almas, o vinculo da caridade, as orações dos presbíteros” (Incomprehens. 3,6). Em segundo lugar, podemos permanecer com o Senhor encontrando-o nos nossos semelhantes. O domingo é o dia da caridade, do serviço generoso e do descanso que também faz descansar os outros. “Durante o domingo e os outros dias de festa de preceito, os fiéis se absterão de se entregar aos trabalhos ou atividades que impedem o culto devido a Deus, a alegria própria ao dia do Senhor, a prática das obras de misericórdia e o descanso conveniente do espírito e do corpo” (Cat. 2185). Tudo isso, porque “Esse é o dia que o Senhor fez: seja para nós dia de alegria e de felicidade” (Sl 117,24). Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa Comentário Exegético – 2º Domingo do Tempo Comum - Ano B EPÍSTOLA (1 Cor 6, 13c-5a, 17-26) INTRODUÇÃO: Paulo tinha falado aos de Corinto sobre a liberdade cristã que alguns, com estas palavras da filosofia estóica usavam como lei evangélica: tudo me está permitido. E as rejeita com duas consequências de ordem natural: Porém, nem tudo é conveniente; e não posso me escravizar a desejos que me animalizam (v. 12). De fato está falando a cidadãos de uma polis em que o vício sexual era a coisa mais comum. As prostitutas sagradas tornavam a fornicação um hábito social que dominava mentes e costumes entre os habitantes de Corinto. Aqui se inicia a epístola de hoje. O FIM DO CORPO: O corpo não para a fornicação, mas para o Senhor; e o Senhor para o corpo (13). Corpus autem non fornicationi sed Domino et Dominus corpori. Ao argumento natural de que não é conveniente a fornicação e que ela leva a uma escravidão como acontece com todo vício, agora Paulo oferece uma nova razão do tipo teológico: o corpo de um cristão pertence a Cristo pois é parte de seus membros, como dirá na continuação no versículo 15: Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois, os membros de Cristo, e fá-los-ei membros de uma meretriz? Não, por certo. Como próprio da argumentação semítica a tese precede o silogismo. Paulo afirma o senhorio de Jesus no versículo 13, e nos 14 e 15 aduz as razões para validar o mesmo: a ressurreição que teve como causa tanto modelar como eficiente a de Cristo; e consequentemente que nossos corpos devem sua vida eterna e definitiva ao Senhor Jesus. Logo este é o Senhor dos corpos e a ele pertencem em definitivo, não podendo usar dos mesmos fora dos planos divinos. Numa outra ocasião, Paulo afirmará que o sacrifício dos que são sacerdotes leigos [sacerdócio real segundo 1 Pedro em 2, 4-6] é o de seu próprio corpo: Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional (Rm 12:1). A RESSURREIÇÃO: Pois o Deus tanto ressuscitou o Senhor como também vos ressuscitará por meio de seu poder (14). Deus vero et Dominum suscitavit et nos suscitabit per virtutem suam. A razão do princípio anterior [o corpo é para o Senhor] é que a nossa vida futura depende de Deus que será o que nos dará o novo corpo ressuscitado como o deu a Cristo, o Senhor. Ressurreição que devemos também a intercessão, melhor diríamos, mediação de Cristo; porque se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição (Rm 6,5) pois se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita (Rm 8, 11). Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também por Jesus, e nos apresentará convosco (2 Cor 4, 14). E efetivamente, esse Espírito que é PODER [dynamis<1411>=virtus] e que habita em nós é quem fará o milagre de nossa ressurreição como fez o milagre da ressurreição de Cristo, erguendo-o dos mortos pelo poder não de sua carne como homem, mas de seu Espírito, como Filho de Deus, ao ressuscitar Jesus Cristo da morte e ao dar-lhe o lugar de honra à sua direita, no céu (Ef 1, 20). Que, como diz Paulo no versículo anterior, é um poder extraordinário que ele nos dá, a nós os crentes. Porque foi esse grande e extraordinário poder que ele manifestou no mais alto grau, ao ressuscitar Jesus Cristo da morte (Ef 1, 19-20). De modo que a ressurreição é pelo poder do Espírito que habitava em Cristo e habita em todo cristão batizado no seu nome. Espírito que é superior a toda carne. Daí que no versículo anterior Paulo podia afirmar que o corpo pertence ao Senhor e não à fornicação. COMO MEMBROS DE CRISTO: Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? (15). Nescitis quoniam corpora vestra membra Christi sunt. Essa identidade entre Cristo e os cristãos não é só como comunidade de Espírito, mas também como identidade de corpos. Paulo usa a palavra melë [<3196>=membra], plural neutro de melos, membro ou parte de um todo como em Mt 5, 25: É melhor que se perca um dos teus membros [tön melön sou] do que seja todo o teu corpo lançado ao inferno. Significado que vemos confirmado por Paulo em Rm 7, 5: Quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte. Esta afirmação paulina é de extraordinária valia: Estamos unidos a Cristo, não unicamente pelo Espírito de filhos, que nos foi dado (Rm 8, 16), mas também pelo corpo. Ou seja, todo nosso ser foi divinizado pelo batismo, de modo que entre nós e Cristo, como homem, a diferença é já de grau e não de substância. Essa união é melhor compreendida com a segunda parte deste versículo, em que Paulo compara a união Cristo-batizado com a união meretriz-parceiro, união esta íntima como a dada entre esposos, porém com fins puramente voluptuosos. Dirá Paulo: Tomarei, pois, os membros de Cristo, e fá-los-ei membros de uma meretriz? (v 15 b). Assim o explica Paulo, afirmando no versículo seguinte que não entra a formar parte da leitura da epístola de hoje: Não sabeis que o que se ajunta com a meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne (16). UNIÃO DE ESPÍRITOS: Quem, pois, está unido ao Senhor um só Espírito é (17). Qui autem adheret Domino unus spiritus est. Paulo retoma, após o pequeno exemplo da meretriz, o fio essencial de seu discurso: Estar unido a Cristo é ter o mesmo e único Espírito. Nele era pessoal como Filho único. Em nós é participativo como imbuídos. Mas o trabalho desse Espírito é o mesmo em ambos os sujeitos: a união com a pessoa do Verbo que nos santifica. Daí que a frase Christianus alter Christus seja tão real como verdadeira. A PROSTITUIÇÃO: Fugi da fornicação. É pecado tudo o que o homem fizer fora do corpo; mas o fornicador contra seu próprio corpo peca (18). Fugite fornicationem omne peccatum quodcumque fecerit homo extra corpus est qui autem fornicatur in corpus suum peccat. FORNICAÇÃO [porneia<4202>=fornicatio] em geral porneia é uma relação sexual ilícita. Distinto de moicheia [<3430>= adulterium] (Mt 15, 19) era a prostituição ou relação com uma meretriz, que pelo que Paulo escreve, era vício comum entre os de Corinto e seguido também pelos novos cristãos. Porneia é o termo usado por Mt 5, 32 repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério. E em Mc 7, 21 claramente se distingue do adultério: Do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios [moicheiai], as prostituições [porneiai], os homicídios. No caso de Mt 5, 32 parece que o evangelista, um magistrado, usa um termo legal indicando uma mulher não legítima como era uma segunda mulher ou uma parente próxima que era considerada como pornë [meretriz] pela lei. Na realidade a tradução mais correta de porneia seria prostituição, pois a palavra é derivada de pornë que segundo Mt 21, 31 era uma mulher pública como confirma Jo 8, 41 quando os judeus respondem a Jesus: Nós não somos nascidos de prostituição; temos um Pai, que é Deus. A prostituição era vício comum entre os pagãos e por isso no Concílio de Jerusalém se recomenda que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue (At 15, 20). Se no versículo anterior as razões eram de ordem transcendente, agora Paulo aduz uma outra que implica ser a prostituição pecado íntimo em que o corpo é tratado com impura desordem e degradação. De modo que a malícia é interna, depravando a santidade do corpo que pertence a Cristo (v 15) e que como dirá logo (v.19) é templo do Espírito Santo. O CORPO TEMPLO DE DEUS: Ou não sabeis que vosso corpo templo é do Santo Espírito que em vós (habitante) tendes (recebido) por parte de Deus e não sois de vós mesmos? (19). An nescitis quoniam membra vestra templum est Spiritus Sancti qui in vobis est quem habetis a Deo et non estis vestri. A primeira coisa a notar é que a Vulgata fala de membros quando o grego usa a palavra corpo, muito mais em conformidade com o contexto. Esta ideia paulina do corpo/templo é repetitiva de Paulo: Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós (1 Cor 3, 16). E para afirmar que não é uma invenção sua, Paulo citará um texto do AT: Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo(2 Cor 6, 16). O texto mais próximo do AT é Êx 29, 45: Habitarei no meio dos israelitas e serei seu Deus. Segundo a maneira de usar como citação o AT, este versículo e outros, como Ez 36, 28, são a base para uma interpretação livre e completa ao se referir a cada indivíduo o que em Êx 25, 8 diz Jahveh do seu santuário: Me harán un santuario y habitaré en medio de ellos. De um templo matéria, Paulo passa ao templo corporal de cada cristão, pois é aí onde o Espírito tomou posse no batismo. Sendo, pois a casa de Deus, o corpo não pertence a cada um, mas é propriedade do Deus que nele habita. Deve ser considerado sagrado, como todo templo era, e toda impureza deve ser evitada como era na época toda comida impura. Ainda mais: se a prostituição era em Corinto especialmente sagrada por causa das prostitutas, Paulo poderá clamar com razão: Que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? (2 Cor 6, 16). A consequência é clara: como templos de Deus, podemos assegurar com Paulo que nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Nenhum de nós vive para si, porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor (Rm 14, 7-8). O PREÇO: Fostes, pois, comprados por um (bom) preço; glorificai, portanto, a Deus em vossos corpos(20). Empti enim estis pretio magno glorificate et portate Deum in corpore vestro. PREÇO [timë<5092>=pretium] como diz 1 Pd 1, 18-19: Não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais; mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado. Por isso, Paulo adverte aos de Corinto: Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens. O preço da cruz nos torna escravos de Cristo e como não podemos servir a dois senhores (Lc 16, 13), daí a conclusão de Paulo: devemos glorificar a Deus em nossos corpos, do modo que o Apocalipse declara em 5, 9: Cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação. O cristão em corpo e alma se deve ao seu Senhor que o resgatou a preço muito alto e deve viver para servi-lo e glorifica-lo. EVANGELHO (Jo 1, 35-42) - O CORDEIRO DE DEUS No dia seguinte, de novo, estava João e de seus discípulos, dois (35). Altera die iterum stabat Iohannes et ex discipulis eius duo. NO DIA SEGUINTE: Este e a outra concretização cronológica [4 da tarde] indicam uma memória testemunhal que conserva palavras e detalhes de maneira pessoal, como quem esteve presente a toda a narração. DISCÍPULOS: É a primeira vez que o evangelista fala dos discípulos de João. Serão logo nomeados em 3, 25 na disputa entre um judeu de Jerusalém e os discípulos do Batista. Este é um episódio de difícil interpretação, que não corresponde a este evangelho. CORDEIRO DE DEUS: E tendo olhado para Jesus, estando deambulando, diz: Eis o cordeiro de(o) Deus! (36). Et respiciens Iesum ambulantem dicit ecce agnus Dei. O evangelista usa um presente histórico, misturado com o aoristo inicial de ter descoberto Jesus, que caminhava nesse instante perto de onde se encontrava. CORDEIRO DE DEUS: Os títulos messiânicos conhecidos são: Messias, Cristo, Ungido, Eleito de Deus, Amado de Deus, Rei de Israel, Filho de Davi e Filho do homem (=título este, que Jesus se dá a si mesmo, interpretando Daniel 7,15+). Mas por que o título de Cordeiro de Deus? Somente em outra ocasião, e unicamente o quarto evangelista, aponta Jesus como tal cordeiro (1,19). Vamos explicar esse título que se torna messiânico no quarto evangelho. Sabemos como João foi considerado novo Elias, semelhante no vestir (II Rs 1,8) e cujo espírito batalhou contra a nova Jezabel (I Rs 16,31), neste caso Herodiades, e as práticas antiéticas dos dirigentes do povo (Mt 3,7). No versículo 19 o Cordeiro de Deus está unido a quem tira o pecado do mundo. E finalmente no versículo 34 temos o testemunho claro, messiânico de João ao declarar Jesus como o Eleito de Deus, leitura hoje preferida à de outros códices que trazem Filho de Deus. Os outros 3 evangelistas falam da palavra ouvida por João após o batismo de Jesus: Tu és o meu Filho, bem amado; Aprouve-me escolher-te.(Mc 1,11). Ou em Lucas Tu és o meu filho, eu, hoje te gerei (Lc 3,22). Em Lucas, claramente, temos uma alusão ao salmo 2,7 como sendo o batismo de Jesus o dia da coroação do novo rei. A palavra Cordeiro, amnoj <286>[amnos] em latim agnus, que também admite o arnion [cordeirinho] diminutivo de aren provém de uma tradução grega da palavra TALEH [<0294>]. Os modernos, desde J. Jeremias, explicam a palavra Cordeiro como sendo uma tradução grega da palavra Talya, que pode significar tanto servo, como menino, ou cordeiro [pessoalmente não tenho encontrado a tal palavra talya nos dicionários, só nos comentários]. Jeremias, o intérprete da palavra, diz que Talye Jahveh não tem significado algum como servo de Jahveh {só ebed Jahve, ou ebed elohim como é chamado Moisés pais tou theou, oiketes ou doulos (Dt 34, 5 e Dn 9, 11 respectivamente) e Davi (Sl 18, 1)} e, portanto, deveria ser traduzido como cordeiro de Deus. Em Dn 9, 10 os profetas são chamados de servos do Senhor. Por isso, é possível que João, o Batista, esteja interpretando a passagem de Isaías do 4o canto do servo, desde 52,13 até 53,12. Este canto, chamado de quinto evangelho, é uma profecia de como, através do sofrimento, o servo toma sobre si as iniquidades do povo. Nele encontramos o versículo 7 que, na tradução RA, diz: Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro [taleh], foi levado ao matadouro, e, como ovelha [she], muda perante os seus tosquiadores ele não abriu a boca. Neste trecho, o servo é levado ao matadouro como um cordeiro; o que unido ao versículo 12, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores fez intercessão, pode ser suficiente para o Batista chamá-lo de Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. De todas as formas, será o mesmo evangelista que, tanto no fim do evangelho como no Apocalipse, retomará a ideia de Cristo como cordeiro sacrificado. Ele mesmo, ao se referir à lança que transpassou o corpo morto de Jesus, testemunha que nenhum osso fora quebrado, referência clara ao cordeiro pascal. Paulo também se torna solidário desta ideia em I Cor 5,7. Já no Apocalipse o símbolo base de Cristo é o Cordeiro imolado (5,6). Se os judeus foram excluídos do castigo no dia da páscoa no Egito, ao ver o exterminador o sangue nas portas, esse sangue de Jesus também é salvação para quem o invoca como proteção. Daí que o pecado do mundo é por ele tirado. PECADO DO MUNDO: Vamos explicar o pecado do mundo pelas palavras do mesmo escritor do evangelho. Em 1 Jo 3, 5-6 lemos: Sabeis também que ele (Jesus) se manifestou para tirar os pecados e nele não existe pecado. Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu. E em 1 Jo 3, 9: Quem nasceu de Deus não peca, porque a semente de Deus está nele. A diferença entre o singular [pecado] e o plural [pecados] é que estes últimos são os atos pecaminosos das pessoas e o singular se refere à condição pecaminosa à qual estava submetido o mundo antes de Cristo. Existe alguma tradição anterior ao Batista para que este, e não o evangelista, atribua a frase completa a Jesus? Sim. Na apocalíptica judaica, no começo do juízo final, aparece a imagem de um cordeiro vitorioso que aniquilará o mal que existe no mundo. O Testamento de José fala de um cordeiro [amnos] que derrota as bestas do mal e as pisoteia. E a figura encaixa muito bem na pregação do Batista que fala da ira vindoura como final de uma época e início da messiânica. Portanto, não é difícil imaginar que o Batista definisse ‘aquele que vem’ como o Cordeiro apocalíptico de Deus. Tirar o pecado do mundo é paralelo, por outra parte, a destruir a obra do diabo, do mesmo autor (Jo 3, 8). A esta interpretação de Raymond Brown, podemos acrescentar uma outra de Jeremias, Cullman e De la Potterie: O fundamento é que a palavra Taleh [hebraica por cordeiro] é em aramaico Talyâ que pode significar também servo, embora a palavra usada por Isaías para designar servo seja ‘ebed [aramico ‘abdâ]. Uma terceira posição é a dos que veem o cordeiro como pascal. 1 Pd 1, 18-19 fala do resgatados da vida fútil …pelo sangue precioso de Cristo como de um cordeiro sem defeito e sem mácula. Todas têm sua força, mas inclino-me pela primeira, a de Isaías, que tem como base interpretativa o Testamento de José, parte do livro apócrifo do Testamento dos doze patriarcas, escrito na última metade do século aC.! O SEGUIRAM: E ouviram os dois discípulos ele falando e seguiram Jesus(37). Et audierunt eum duo discipuli loquentem et secuti sunt Iesum. O texto grego usa o genitivo absoluto [falando ele] e o verbo ouvir em impessoal, construção que tenho tentado conservar. A rapidez da resposta dos dois discípulos de João indica que eles compreenderam perfeitamente o ministério subordinado de seu Mestre. RABBI, ONDE MORAS? Tendo-se voltado, pois, Jesus e olhado a eles acompanhantes, diz-lhes: Que buscais? Eles, então, disseram-lhe: Rabbi, o que é interpretado Mestre, onde moras? (38). Conversus autem Iesus et videns eos sequentes dicit eis quid quaeritis qui dixerunt ei rabbi quod dicitur interpretatum magister ubi habitas RABBÍ: De origem semita, composta de Rab [excelente, grande] e o sufixo pessoal I [meu] de primeira pessoa. Seria traduzido por minha excelência. Hoje nós falamos de sua Excelência, abstraindo o título que anteriormente aportávamos, referindo-o à pessoa do falante. Porém, nos tempos de Jesus, significava o título com o qual designava a pessoa do mestre [didáskalos grego], instrutor ou professor [ magister latino]. Oposto a didáskalos está o mathetês [estudante, aluno, discípulo]. Quando referido a Jesus, Rabbí indica um termo de respeito, que era dado aos escribas judeus (Lc 2,46), os didaskaloi aos quais o menino Jesus perguntava no átrio de Salomão, no templo. Eram esses mestres que os evangelhos chamam de grammates, intérpretes da Lei ou da Tonak [letras iniciais dos três componentes: Torah (Lei), Neviim (profetas) e Ketuvim (hagiógrafos)]. O apóstolo, escritor do evangelho, testemunha ainda viva dos fatos, recorda bem a palavra semítica inicial do diálogo [rabbí] e como não era corrente no mundo greco-romano, a traduz imediatamente, se é que essa tradução não fosse devida ao amanuense circunstancial da cópia. Uma outra palavra, usada para indicar a posição de superioridade de Jesus é epistatês, com o significado de chefe, comandante, ou mestre. Como em Lc 5, 5, Simão disse: Epistata [chefe] toda a noite nada apanhamos. É a tradução que Lucas dá ao Rabbí dos outros evangelistas, que não usam o epistatês, mas unicamente Rabbí ou Kyrios. De fato, também Lucas usa o Kyrios, porém jamais emprega o vocábulo Rabbí. ONDE MORAS: O grego usa o verbo Menô, que, inicialmente, significa permanecer, ficar, e daí, podemos traduzir por morar, residir [ubi habitas, latino]. Os antigos mestres moravam junto com os alunos, constituídos em verdadeiros discípulos. Isto indica o propósito de serem não meros ouvintes ou alunos, mas verdadeiros discípulos do novo mestre, apontado como tal por um profeta, o Batista. Na vida pública de Jesus vemos como os discípulos o acompanhavam e formavam uma família nova, segundo as palavras de Jesus: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E estendendo a mão para seus discípulos, disse: Eis minha mãe e meus irmãos (Mt 12, 48-49). A RESPOSTA: Diz-lhes: Vinde e vede. Vieram e viram onde está morando e permaneceram junto a ele naquele dia; pois a hora era como décima (39). Dicit eis venite et videte venerunt et viderunt ubi maneret et apud eum manserunt die illo hora autem erat quasi décima. Discípulos: Pelo que sabemos em outras passagens, entre as normas dos discípulos de João estavam os jejuns (Mc 2, 18) e algumas orações particulares (Lc 5, 33). À parte, como batizados por João, tinham feito a sua metânoia [conversão] própria da preparação para os novos tempos. Dispostos, como clamava o Batista, a repartir comida e vestidos (Lc 3, 10) com os que nada tinham. O desprendimento dos bens externos é sinal de interior abnegação que responde perfeitamente ao que Jesus exigia de seus seguidores: negar-se a si mesmo para estar disposto a tomar a cruz. Nada de jejuns, que viriam após sua morte e por outra parte só anunciou a oração comum a pedido dos discípulos (Lc 11, 1). Realmente o que Jesus pediu como sinal de seu discipulado era se negar a si mesmo e tomar a cruz, para o seguir (Mt 16, 24), fato que abrange toda a vida do discípulo. HORA DÉCIMA: Como Judeu, o evangelista, conta as horas , doze e doze, tendo como origem as 6 da manhã para as horas do dia e as 6 da tarde para as da noite. Consequentemente, seriam as 4 da tarde. O detalhe não parece ter simbolismo algum, mas é um dado que nos indica que o narrador estava presente como testemunha. ANDRÉ: Era André, o irmão de Simão Pedro, um dos dois que escutaram de João e o acompanharam (40). Erat autem Andreas frater Simonis Petri unus ex duobus qui audierant ab Iohanne et secuti fuerant eum. Dos dois discípulos, sabemos a identidade de um deles e seu nome inconfundível: André, o irmão de Simão Pedro. André, nome de origem grega que significa varonil, e que sabemos era, como seu irmão, pescador, natural de Betsaida, mas morando em Cafarnaum. Apesar de ser um dos primeiros discípulos do Senhor, não foi preferido de modo especial como seu irmão e os dois filhos de Zebedeu. Quem era o outro discípulo? E, como sendo galilleus, se encontravam morando com o Batista? Vamos responder a estas perguntas a começar pela última. Porque João batizava em Betabara, ou a chamada Betânia do outro lado do Jordão [Bethany beyond the Jordan]. Betabara estava na Decápolis muito perto de Pela e de Citópolis [antiga Betsan] distante 35 km de Caná em linha reta. A isso contribuem os dias a contar para chegar a Caná e os personagens, todos da Galileia: tudo isso não seria possível caso identificássemos Betânia como uma cidade que estava perto de Jericó. O mapa da bíblia KJ Key Word o confirma, assim como a narração de Jo 3, 23 em que se diz que João batizava em Enon [as fontes] a alguns quilômetros de Citópolis. Respondendo agora à primeira pergunta, quem era o outro discípulo devemos pensar que muito provavelmente João o evangelista, o irmão de Tiago e filho do Zebedeu. Foi o discípulo preferido [que Jesus amava] e seu nome sai 3 vezes em Mateus, 10 em Marcos e 6 em Lucas. Mas não sai no quarto evangelho. Quando junto com Tiago, seu irmão, o nome deste o precede como precedeu seu nascimento. Unicamente em Jo 21, 22 aparecem os dois filhos do Zebedeu, mas sem nome próprio e mais dois discípulos [também sem nome] que são testemunhas, junto com Tomé e Natanael [o de Caná] da aparição de Jesus ressuscitado no lago da Galileia. Dentre estes três está o discípulo preferido pelo Senhor, testemunha viva do quarto evangelho e quem o escreveu (Jo 21, 24). Porém, nenhuma vez aparece o nome de João como discípulo do Senhor neste quarto evangelho. Por isso, a tradição aponta a João, o filho do Zebedeu e irmão menor de Tiago, como tal testemunha e discípulo predileto de Jesus. Não temos, pois, razões válidas para desconfiar dessa crença, praticamente universal. O MESSIAS: Encontra este primeiro, seu próprio irmão Simão e diz-lhe: Encontramos o Messias o qual é interpretado o Cristo (41). Invenit hic primum fratrem suum Simonem et dicit ei invenimus Messiam quod est interpretatum Christus. SIMÃO é o nome grego, e Simeão [=ouvinte] o nome semita do apóstolo. O nosso evangelista prefere o nome grego. Isso indica que este era o comum, por ser, como seu irmão, oriundo de uma cidade, Betsaida, que, em grande parte, era formada por pessoas helenizadas. Sabemos que, segundo nos dizem os outros evangelhos, ambos eram irmãos (Mt 10, 2 e Lc 6, 14) e filhos de Jonas (Mt 16, 17) ou de João (Jo 1, 42 e 21, 15). A translação ao grego de João pode dar lugar à escrita de Jonas [=pomba] no lugar de João [=Deus é bondoso]. MESSIAS: Em grego messias<3323>, do aramaico que traduz o hebraico mashiah <04899> que significa ungido e que em grego, se traduz por Christós <5547>, donde a palavra Cristo. PEDRO: E o levou para junto de Jesus. Tendo lhe olhado, Jesus disse: Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Kefas, o qual é interpretado Rocha [petrov <4074>] (42). Et adduxit eum ad Iesum intuitus autem eum Iesus dixit tu es Simon filius Iohanna tu vocaberis Cephas quod interpretatur Petrus. KEFAS: Em aramaico significa rocha e o grego petra também significa rocha, penhasco, ou rochedo e não pedra, pois esta é líthos. Esta mudança de nome está relacionada com Mateus 16, 18. Como compaginar este relato de João com os relatos dos sinóticos que dizem serem os discípulos escolhidos por Jesus nas margens do lago de Genesaré, sem intervenção do Batista e sem saber certamente quem era Jesus? Os intérpretes modernos falam de uma composição tardia de João para ressaltar a figura de Jesus, como aquele a quem João apontava como seu sucessor e superior, que não podia ser outro que o Messias. O nome de Kefas dado a Pedro é confirmado também por Mateus (16, 18). Marcos em 8, 29 também confirma o título de Messias dado a Jesus, mas desta vez não por André, mas por seu irmão Pedro. O apelido de Kefas é também o usado por Paulo em suas cartas aos Coríntios (1, 12; 3, 22; 9, 5e 13, 5) e em Gálatas (2, 9). PISTAS: 1) Como vemos, o motivo da aproximação de Jesus com os novos discípulos é a amizade com outros que o tinham experimentado como mestre. André atrai Simão, seu irmão. E Filipe convida seu amigo Natanael. Encontramos o Messias – dirá André, e aquele de quem escreveram Moisés, a Lei e os profetas – será o convite de Filipe a Natanael. E mesmo que este último fosse descrente, porque o apontado como Ungido era de uma miserável aldeia, mais detestável por ser vizinha {Natanael era de Caná}. Ambos, os novos discípulos, foram dirigidos até Jesus por seus amigos. 2) Não existe melhor conduto nem melhor amigo do que a Igreja. Ela faz o papel do Batista, indicando quem é o verdadeiro Messias ou Salvador, pois os livros sagrados dão origem a tantas interpretações que já nos tempos apostólicos Pedro podia afirmar que os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras, para a sua própria perdição (2 Pd 3, 16). A segurança de que interpretamos corretamente os evangelhos é dada pela Igreja. O seu magistério é como a Estrela que indicou aos magos onde estava o rei que eles esperavam adorar. 3) Além da Igreja e os amigos, será a família quem nos aproxima de Cristo. Uma família que vive sua fé na oração e na assistência à missa dominical, é a melhor aproximação do Salvador nos primeiros anos de nossa vida. 3) Finalmente, na idade madura, o melhor contato com Jesus, pessoal e individual, é a Eucaristia. Nos tempos modernos temos demasiadas proclamas para reduzir esse contato aos livros santos. Porém, para nós católicos, a Eucaristia segue sendo o melhor contato com Jesus. Ele não disse quem me ler terá a vida, mas se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós (Jo 6, 54). Temos que voltar mais para a Eucaristia e saber conversar com Jesus nesses momentos íntimos em que ele habita dentro de nós. 4) Só dois dos discípulos do Batista, entre outros muitos, escutaram a sua palavra. Os outros a ouviram, mas não a acompanharam. É um paradigma do que acontece na vida real, hoje também. Jesus é cada vez mais conhecido; mas também preterido; porque, aparentemente, corta liberdades e se torna um desmancha-prazeres neste nosso mundo, em que tanto a liberdade como as diversões são os deuses novos a serem desejados e adorados. Porém, tanto o Papa anterior como o atual Pontífice, nos dizem [eles o sabem experimentalmente]: Não tenhais medo! A alegria cristã não pode ser confundida com as farras das discotecas e as folias dos carnavais. EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova. - Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana. Interpretação errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. Consequências: - O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
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