GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
29.07.2018
17º Domingo do Tempo Comum — ANO B
( Verde, Glória, Creio I Semana do Saltério )
__ "Eucaristia: dom da inefável caridade de Deus" __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Necessitados de força, de coragem e perseverança, participamos da ceia do Senhor, onde se realiza a multiplicação dos pães – Jesus, o Pão da vida, sacia nossa fome e nos convida a abrir nossas mãos e nosso coração para gestos de partilha e vencermos nossas dificuldades e a fome do mundo. Jesus saciou concretamente pessoas que tinham fome e se revelou como pão, levando-nos a um autêntico compromisso com a solidariedade. Estamos reunidos para a festa da partilha – da Palavra, do Pão e da vida.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, nesta Eucaristia somos o Povo Santo de Deus reunido em seu nome. Formamos um só corpo, unidos num só Espírito, e chamados a uma só esperança. Fomos reunidos por um só Senhor, por uma só fé e por um só batismo. Cremos em um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos. Nesta certeza da nossa fé transmitida pelos Apóstolos, glorifiquemos em ação de graças o Senhor que entrega a sua vida e parte o Pão para nós.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Necessitados de força, de coragem e perseverança, participamos da ceia do Senhor, onde se realiza entre nós a multiplicação dos pães – Jesus, o Pão da vida, sacia nossa fome e nos convida a abrir nossas mãos e nosso coração para gestos de partilha e solidariedade e vencermos nossas dificuldades e a fome do mundo. O desequilíbrio entre nações ricas e a multidão de pobres é assustador. Como cristãos, somos seguidores de Jesus que, a partir da realidade de seu tempo, saciou concretamente pessoas que tinham fome e se revelou como pão. A revelação de Jesus como pão só se realiza no compromisso com a solidariedade, partilha e engajamento em uma nova "multiplicação dos pães", em escala nacional e mundial. Estamos reunidos para a festa da partilha – da Palavra, do Pão e da vida. Preparemo-nos também para a abertura do Mes Vocacional, no próximo domingo. O tema das leituras de hoje alimenta nossa fé e nos faz mais unidos como Igreja, pois o pão eucarístico e um sinal do que devemos ser em nossa comunhão de vida. Foi por isso que o Senhor multiplicou os pães, alimentando a fome de vida e saciando a sede de comunhão.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo e meditemos profundamente a liturgia de hoje!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (2 Reis 4,42-44): - "E deu-os ao povo. Comeram e ainda sobrou, como o Senhor tinha dito."
SALMO RESPONSORIAL 144(145): - "Saciai os vossos filhos, ó Senhor!"
SEGUNDA LEITURA (Efésios 4,1-6-2): - "Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo."
EVANGELHO (João 6,1-15): - "Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes... mas que é isto para tanta gente?"
Homilia do Diácono José da Cruz – 17º Domingo do Tempo Comum – ANO B
"JESUS, O PÃO DOS POBRES"
Convoquei meu grupo de “teólogos” para refletir esse evangelho da multiplicação dos pães, pois com o evangelista João, todo cuidado é pouco, já que o seu escrito é rebuscado e nem sempre o ensinamento é o que parece. O “Mota”, que é aposentado na área administrativa e auxilia a nossa secretaria, abriu um enorme sorriso quando viu o texto “Está na cara que Jesus faz uma dura crítica ao capitalismo, é preciso repartir o pouco que se tem, para matar a fome de todos, sempre soube que esse Jesus é dos nossos....” concluiu Mota, que defende de unhas e dentes o socialismo, e briga quando se fala sobre a CEBs. Neste momento, o João Ernesto que trabalha de encarregado em uma grande empresa, balançou a cabeça e respondeu “Olhe, se for prá discutir nessa visão, eu desisto, o Mota pensa que só ele sabe de tudo”. Calma pessoal... Não vamos censurar o Mota, pois esse evangelho realmente nos faz a olhar questão da fome, e se não tocarmos nesse ponto, estaremos sendo omissos - comentei, tentando apaziguar os ânimos dos debatedores que começaram bastante exaltados.
Em uma visão bem simples, parece que o evangelho ensina que Jesus estando por perto, ninguém vai passar fome. “Ué, mas não é isso? Tinha só cinco pães e dois peixes, não ia dar nem pro cheiro, daí Jesus deu a bênção e mandou servir, todos comeram a vontade e ainda sobrou...” – exclamou Maneco, ao que Dona Maria, a doméstica, aparteou “Gente, isso me lembra dum ditado popular, o pouco com Deus é muito, mas o muito sem Deus é nada”.
“Vocês ficam brabos quando eu falo em CEBs, mas é um trabalho onde se valoriza muito a partilha e a comunhão de vida, exatamente como Jesus ensinou.” – retrucou Mota com mais calma, sem intenção de disparar farpas.
“Eu sei Mota, todos aqui sabem disso, mas é que você fala como se a CEBs representasse a salvação do mundo, e isso não é verdade” respondeu Roseli, nossa catequista, que continuou “A CEBs é uma eclesiologia, uma maneira de ver as coisas, mas não é a única, no cristianismo existe uma essência que é o eixo de tudo, perguntemos, por exemplo, qual a missão de Jesus entre nós, será que foi para resolver o problema da fome que ele veio? E se foi, por que não resolveu?”.
Roseli é muito inteligente e sabe como provocar o grupo, um rei que tivesse o poder de multiplicar os alimentos e saciar a fome de uma multidão, estava de bom tamanho para aquele povo, aliás, no final do evangelho é exatamente isso que quiseram fazer, mas Jesus “pulou fora”. A Salvação que ele oferece não se restringe a deixar o homem com a “barriga cheia”, saciado da fome material. É muito mais que isso!
“Mas a vida plena que ele veio nos dar, como diz em João, supõe o homem em sua totalidade, inclusive com suas necessidades vitais onde a fome é uma delas” - argumentou Mota. “Está certo, mas temos outras necessidades que não se encontram por aí em supermercados, como os alimentos.”. - retrucou Roseli.
“Esse João é um danado, escreveu uma coisa, mas no fundo está querendo dizer outra” – comentou o Maneco em sua simplicidade, acertando na “mosca”. Os milagres narrados por João são “iscas” para nos convencer de algo que está por trás de cada um deles.
O homem sempre terá necessidade de algo que lhe é essencial, e que somente Jesus de Nazaré poderá lhe oferecer. Todos os problemas humanos, consequentes do pecado, poderão de fato ser resolvidos, se o homem se dispuser a receber a Salvação que Jesus oferece, então é exatamente nesse sentido que está o ensinamento da multiplicação dos pães e peixes, Jesus apresenta o problema, Filipe alega que não têm recursos para resolvê-lo, o irmão de Simão Pedro diz que há um recurso, mas que ele é insuficiente em relação as necessidades da multidão. Na vida em comunidade acabamos sendo influenciados pela sociedade consumista que se move a partir do valor econômico, onde sempre é preciso ter “muito” para poder ser feliz, se esse conceito fosse verdadeiro, apenas uma minoria da população, considerada rica, seria feliz, mas sabemos que ao contrário, há pessoas pobres, muito felizes com a v ida que têm, enquanto por outro lado, há ricos infelizes, que às vezes recorrem até ao suicídio, insatisfeitos com o que são e têm. Isso mostra o quanto tal premissa é enganosa e falsa.
O acúmulo de bens financeiros e patrimoniais nas mãos de poucos, é no fundo uma tremenda ilusão, primeiro porque alimentam a mentira de que, com o dinheiro e a riqueza a gente tem tudo, e em segundo, porque da noite para o dia toda essa fortuna pode ir água abaixo se mal administrada, basta ver os grandes impérios econômicos que ruíram, e no demais, no final da vida, o rico irá descobrir que a morte o espera, para separá-lo eternamente de todos os seus bens, daí toda a sua riqueza de nada valerá.
Já os que são saciados pelo amor de Deus, manifestado na salvação que Jesus traz, podem esperar muito mais, os doze cestos que sobraram prenunciam a vida plena do novo povo de Deus, que se tornará perene -no exato momento em que, ao término da existência terrena, tudo parece ser um trágico fim. Sou então obrigado a concordar com a Dona Maria, que nos dizia lá no início da reflexão “O pouco com Deus é muito, e ainda sobra para a vida nova que Jesus nos deu, mas o “muito” que esta vida nos oferece, é nada, se a humanidade teimar em menosprezar a Salvação, da qual somente Jesus, o Filho de Deus, é portador. (17º. Domingo do Tempo Comum)
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 17º Domingo do Tempo Comum — ANO B
“Cinco pães e dois peixes”
Jesus, a partir de tão pouco, fez um milagre: aquele menino tinha tão somente cinco pães, Jesus fez com que fosse alimentada uma multidão composta de umas cinco mil pessoas! “Cinco pães e dois peixes” é o título de um livrinho muito interessante que narra o testemunho de fé de um bispo vietnamita na prisão. Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, logo após sua nomeação como arcebispo coadjutor de Saigón foi preso pelo governo comunista. Foram 13 anos na cadeia(1975-1988). Seu crime? Ser bispo da Igreja Católica. O citado livro nos fala que os cinco pães são: 1º) viver o momento presente: “todos os prisioneiros, incluindo eu, esperam cada minuto sua libertação. Mas depois decidi: “Eu não esperarei mais. Vou viver o momento presente enchendo-o de amor”. Quantas preocupações vagueiam em nossas mentes e em nossos corações sobre o passado e sobre o futuro. Perdemos tempo… Poderíamos aproveitar mais e melhor o momento presente, vivendo-o intensamente na dedicação a Deus e aos demais por amor de Deus; 2º) distinguir entre Deus e as obras de Deus. O mais importante é Deus e não fazer coisas por ele, ainda que também sejam muito importantes. “Quando digo: “ Por Deus e pela Igreja”, fico em silêncio na presença de Deus e pergunto-me honestamente: “Senhor, trabalho somente por ti? Tu és sempre o motivo essencial de tudo o que eu faço? Dar-me-ia vergonha admitir que tenho outros motivos mais fortes”. Precisamos constantemente ver se o que fazemos é realmente por Deus ou para a nossa glória pessoal (glória vã, vanglória). Para Deus toda a glória! Seja essa a nossa constante oração; 3º) a oração. São Josemaría Escrivá dizia: “Santo, sem oração?!… – Não acredito nessa santidade” (Caminho 107). Realmente, quem quiser ser santo, e essa é a nossa obrigação, precisa rezar muito; 4º) a Eucaristia: é nosso grande tesouro! 5º) amar até a unidade: “Era muito difícil para os meus guardas compreender como se pode perdoar, amar os inimigos, reconciliar-se com eles:
- O senhor nos ama de verdade?
- Sim, eu os amo sinceramente.
- Ainda que lhe façamos danos? Ainda sofrendo por ter passado tantos anos na prisão sem ter sido julgado?
- Pensai nos anos que temos vivido juntos. Realmente os amei!
- Quando receba a liberdade, não mandará os seus fazer-nos danos, a nós ou às nossas famílias?
- Não, continuarei amando-vos, ainda que me queirais matar.
- Mas, porquê?
- Porque Jesus ensinou-me a amar-vos. Se eu não o fizesse, não seria digno de chamar-me cristão.”
Os dois peixes são: 1º) Maria Imaculada: “Maria tem um papel especial na minha vida. Fui preso no dia 15 de agosto de 1975, festa da Assunção de Maria. Saí no carro da polícia, com as mãos vazias, sem um centavo no bolso, só com o rosário, e estava em paz. Essa noite, pela longa estrada de 450 km, recitei muitas vezes a oração Lembrai-vos, ó piedosíssima Virgem Maria.”; 2º) escolher Jesus: “Se das 24 horas vivemos 24 radicalmente por Jesus, seremos santos”. Como seria bom se esses fossem os nossos cinco pães e dois peixes. Como aquela criança, com simplicidade, queremos oferecer a Jesus o nosso esforço por sermos bons. Rezemos uns pelos outros para que possamos oferecer a Deus esses cinco pãezinhos e esses dois peixinhos, nossa luta por vivermos esses pontos acima mencionados, com os quais o Senhor pode fazer grandes milagres, alimentar muitos irmãos nossos: famintos de verdade e de amor, famintos do nosso testemunho de cristãos. Da nossa fidelidade dependem muitas coisas! Maria Imaculada abra os nossos corações ao amor de Deus e à oblação, à entrega generosa daquilo que temos. Se oferecermos água, a simples água, como outrora pela intercessão de Maria, Cristo a transformará em bom vinho. De novo, se lhe darmos, pela intercessão de Maria o nosso desejo de viver esse planos dos “cinco pães e dois peixes”, o nosso plano de vida espiritual, o Senhor fará grandes obras.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 17º Domingo do Tempo Comum — ANO B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
Como não foi publicado o Comentário Exegético desta semana, trazemos um artigo de Doutrina / Dogmática:
Síntese de Mariologia
Pe. Jair Cardoso Alves Neto
“Quando chegou a plenitude dos tempos, mandou o seu Filho, nascido de mulher… para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4,4-5). Constantemente na história da salvação, Deus manifesta o seu amor de Pai junto a seu povo. O amor é revelado por meio de uma eleição: uma jovem é separada para que por meio dela o Filho de Deus pudesse assumir a humanidade decaída com o pecado. Assim como por meio de uma mulher (Eva), o pecado “entrou” no mundo, Deus separa uma mulher para que por meio dela chegue a Salvação: dá-se uma nova criação. Há um novo Adão e, do seu lado é tirada a mulher, a nova Eva; um novo povo é constituído.
Maria é a Mulher do sim. O sim dado ao Amor. A obediência dada por amor. A entrega dada no amor. Desta maneira, Maria tem uma grande importância na história da salvação e na vida de muitos cristãos e sua figura é tradicionalmente reconhecida na Igreja Católica.
5.1 MARIA NO NOVO TESTAMENTO
Certamente, a Virgem tem na Bíblia um lugar discreto. Ela aí é representada toda em função de Cristo e não por si mesma. Mas sua importância consiste na estreiteza de seus laços com Cristo.
Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na história da salvação: não somente no princípio (cf. Lc 1 – 2) e no fim (cf. Jo 19,27) da vida de Cristo, mistérios da Encarnação e da morte redentora, mas na inauguração de seu ministério (cf. Jo 2) e no nascimento da Igreja (cf. At 1,14). Presença discreta, na maior parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura, e de um amor pronto a compreender e a servir aos desejos de Deus e dos homens (cf. Lc 1,38-39.46-56; Jo 2,3) (BOFF, 2004).
Esta presença revela seu sentido total, e com toda a Escritura se a recolocarmos nos grandes quadros e correntes da teologia bíblica onde eles se situam, Maria aparece no término da história do povo eleito como correspondente de Abraão: Ela se apossa, pela fé, da promessa que ele havia recebido na fé. Ela é o ponto culminante onde o povo eleito dá nascimento a seu Deus e se torna a Igreja. Se alagarmos a perspectiva da história de Israel à história cósmica, segundo as insinuações de João e de Lucas, se compreendermos que Cristo inaugura uma nova criação, Maria aparece no início da salvação, como restauração de Eva: Ela acolhe a promessa de vida onde a primeira mulher havia acolhido a palavra de morte e se torna perto da nova árvore da vida a mãe dos vivos (LAURENTIN, 1965).
5.1.1 Maria no Evangelho de Marcos
O Evangelho de Marcos se constitui em duas questões fundamentais: Quem é Jesus de Nazaré? Como ser discípulo de Jesus, o Cristo? Questões que Maria, mãe de Jesus, como todos de sua família e todos da comunidade cristã, inclusive Marcos buscam entender.
No Evangelho de Marcos a pessoa de Maria aparece em duas passagens: Mc 3,31-35 e Mc 6, 3-4. Nestes textos Maria é a mãe biológica de Jesus que busca entender o filho juntamente com seus familiares. A mulher maternalmente solícita pela sorte do filho. Mas, que também é convocada a ser discípula na busca de compreender Jesus e sua missão e acolher sua proposta. Ela também podia estar entre os primeiros a nutrir preocupações ainda muito humanas pela missão e a obra de Jesus.
Marcos indica que a verdadeira família de Jesus não é a de ordem carnal e que a ela pertencem todos os filhos do Reino. Assim, Maria, Mãe de Jesus é fundamental testemunho dos verdadeiros laços que criam comunhão com Jesus. Depois de ter levado Jesus, seu filho no ventre, era preciso que ela o gerasse no coração, cumprindo a vontade de Deus (cf. Mc 3,35), que se manifestava naquilo que Jesus dizia e realizava. Neste sentido, a figura de Maria “mãe” se harmoniza e se completa com a figura da “discípula” (SERRA, 1995).
5.1.2 Maria no Evangelho de Mateus
No Evangelho de Mateus a pessoa de Maria aparece em dois momentos: nos relatos da infância (cf. Mt 1-2) e no ministério apostólico de Jesus ( cf.Mt 12,46-50; 13,54-58). O primeiro é composto por relatos próprios de Mateus; o segundo está em dependência de Marcos, mas Mateus toma diante dele tal liberdade que é capaz de transformar seu sentido e seu ensinamento (ALVAREZ, 2005).
No Evangelho da Infância em Mateus, Jesus, como todos os meninos, não chega ao mundo sem um pai e uma mãe. Mateus fala de José, esposo de Maria (cf. Mt 1,16) e de Maria esposa de José (cf. Mt 1,24). Maria, por sua vez não tem existência sem José, do qual é esposa, e sem Jesus, do qual é mãe. Maria é aquela que gera e é mãe, ao passo que José é somente o pai legal.
Mt 1,3 fala sobre a concepção de Jesus, diz que esta se realizou “para que se cumpra o oráculo do Senhor, por meio do profeta [...]” e cita Is7, 14, aplicando a Jesus a realidade do “Emanuel” e a Maria a de “virgem”. (Mateus quando) Ao falar do nascimento de Jesus, Mateus recorrendo ao texto de Isaías, não somente assume a interpretação dos LXX, mas ele mesmo interpreta teologicamente esse nascimento: Jesus é o Emmanuel e nasce de Maria Virgem. Neles dois se realiza plenamente o oráculo do profeta: Jesus é o Messias, e Maria é a Mãe-Virgem e, este fato maravilhoso somente pode ser entendido como a obra do Espírito Santo (ALVAREZ, 2005).
A união de Maria com seu Filho é, então, íntima, total e permanente. Desde a concepção virginal, Maria está expressamente unida a Jesus e é inseparável dele. Por isso, os escritores eclesiásticos aprofundam nesta realidade, dizendo que não podemos entender Jesus sem Maria e entender Maria sem Jesus.
Podemos notar, finalmente, como que um contraste nas expressões de Mateus: Enquanto Jesus é o Emmanuel de Deus, Deus – conosco, Maria é a Mãe que está sempre junto do seu Filho. Ela é a resposta permanente à presença sempre atual do Senhor na história.
Quanto ao ser discípulos de Jesus significa cumprir a vontade do Pai no céu, realizar seu plano. Para Mateus, o discípulo integra, então, a escuta da Palavra e sua ação (cf. Mt 5,19;Mt7,24-25), o estar junto de Jesus e sob a sua proteção (cf. Mt 12,49-50). E Maria, com perfeita discípula e “família dele” em um nível muito mais forte e firme do que o dos laços físicos de geração (ALVAREZ, 2005).
Portanto, o Evangelho de Mateus nos fala que Maria está intimamente ligada ao seu Filho Jesus Cristo, desde antes do nascimento e, uma vez nascido para o mundo, está unida a ele nos momentos fundamentais de sua vida e de seu ministério. Assim, Maria aparece, mesmo sem palavras, como testemunha da graça abundante de Deus para seu povo, mas também como mãe que cuida e acompanha o Filho de suas entranhas (ALVAREZ, 2005).
5.1.3 Maria no Evangelho de Lucas
De todos os Evangelhos, Lucas é o que mais nos fala de Maria. Primeiramente nos relatos da infância, onde ela tem um papel mais ativo do que o que vimos em Mateus; em seguida, no marco da atividade apostólica de Jesus, com quatro textos, dois dos quais coincidem com as tradições de Marcos e de Mateus (cf. Lc 4,16-30 e 8,19-21) e outros dois que pertencem à tradição própria de Lucas (cf. Lc 3,23 e 11,27-28); por último, no começo dos Atos dos Apóstolos, quando se inicia a história da Igreja (cf. At 1,14) (ALVAREZ, 2005).
A primeira coisa que temos de afirmar, ao entrar na análise dos textos lucanos sobre Maria, dentro do chamado Evangelho da infância (Lc1-2), é que os textos são fundamentalmente cristológicos e mariológicos. Maria não tem uma identidade e uma vocação própria, mas dentro e a serviço da cristologia. Ela é tudo para Jesus e se transforma e se enriquece plenamente por e para Jesus. Para isto, temos alguns títulos que ilustram esta tão grandiosa discípula: Filha de Sião, Virgem e Mãe, Cheia de Graça, Morada de Deus, Cheia do Espírito, Serva e mulher de fé e Portadora da santa presença. Temos também textos bíblicos que falam da sua experiência como Mãe do Salvador: Lc1, 26-28 (o anúncio do Anjo); Lc1-39-45 (a visita a Isabel); Lc1, 46-55 (o cântico da libertação). Assim sendo, Maria surge em Lucas como a primeira mensageira do Evangelho de Deus: leva a Notícia da paz, da felicidade e da salvação, desde a Galiléia até a região de Judá. Mas Maria é a primeira mulher que acolhe o Evangelho e o comunica a seus irmãos, trazendo-lhes o gozo escatológico, quer dizer, a alegria e a segurança da salvação definitiva (cf. Lc 1,44) (ALVAREZ, 2005).
Em Lucas percebemos a participação e a cooperação de Maria no plano da salvação, desde a anunciação até o início da Igreja: “todos estes unânimes, perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e com seus irmãos” (At 1,14) (ALVAREZ, 2005).
Portanto, no Evangelho de Lucas vimos que Maria é apresentada como a Mãe do Salvador e esta em Atos exerce a função de Mãe da comunidade, pois, ela se encontra reunida com esta comunidade nascente para receber em oração a Promessa do Espírito; com esta comunidade reunida com os seus para orar e esperar de seu Filho o presente dos tempos novos. É, finalmente, irmã na comunidade e discípula do Senhor exaltada, que permanece em Jerusalém em cumprimento da Palavra do Mestre (cf. At 1,5-8) (ALVAREZ, 2005).
5.1.4 Maria no Evangelho de João
O quarto Evangelho oferece-nos a história de Cristo, num esforço de “memória viva” que parte da fé pascal (cf. Jo 2,17.22;12,16;13,7;20,9) e é realizada por obra do Espírito, o Paráclito, que é testemunha fiel e o hermeneuta qualificado da vida e da obra do Cristo joânico (cf. Jo 14,15-17;15,26;16,7-11.13.15). O quarto Evangelho é do final do século I e expressa a situação de duas igrejas, primeiro na Síria e depois na Ásia Menor (ALVAREZ, 2005).
A figura de Maria aparece no quarto Evangelho em duas ocasiões, no começo e no final do Evangelho. Em ambas, Maria é chamada “a Mãe de Jesus” (cf. Jo 2,1.3.5;19,26), e em ambas a palavra do Mestre vai dirigida a ela com o nome de “mulher” (cf. 2,3;19,26), mas nunca aparece o nome próprio de Maria. No Evangelho de João Maria é chamada por dois nomes: “Mãe de Jesus” e “Mulher”. Enquanto a expressão “Mãe de Jesus” é um título que contrasta com a outra afirmação, “filho de José”, o termo “mulher” é comum em Jesus para dirigir-se às mulheres (cf. Mt15, 28; Lc13, 12; Jo4, 21; 8,10; 20,13). Contudo aqui, dito à sua Mãe tem uma conotação especial: o termo “mulher” dirigido por Jesus é um termo joânico que aparece em duas ocasiões (em Caná e na cruz) e forma uma espécie de inclusão. A mulher está presente no começo e no fim da vida pública, no momento em que o Messias inicia suas obras e na hora da morte, quando consuma sua obra (ALVAREZ, 2005).
Maria aparece no Evangelho de João, sobretudo em 2,1-12 como intercessora e evangelizadora. Como intercessora Maria apresenta simplesmente a Jesus, a necessidade dos que participam da festa de bodas: “Não há mais vinho” (Jo 2,3). Já como evangelizadora, a segunda palavra de Maria que encontramos no quarto Evangelho é significativa não só pelo que diz, mas também por aqueles aos quais a diz: “Fazei o que ele disser” (Jo 2,5) (ALVAREZ, 2005).
Se em Caná, Jesus lhe disse que ainda não havia chegado sua “Hora” e iniciou seus sinais, aqui, na cruz, na Hora da Páscoa, Jesus realiza seu último e definitivo sinal da salvação, a morte por todos e a entrega do Espírito (cf. Jo 19,30). Assim, Maria é chamada novamente com dois títulos de Caná: a Mãe de Jesus e a Mulher. Maria também é a testemunha por excelência da Páscoa de Jesus diante da comunidade (cf. Jo 19,35; 21, 24). E esta comunidade, ao entender o gesto de seu Senhor, a recebe entre seus bens mais preciosos: Maria passa a ser um bem precioso com que Jesus Cristo presenteia a Comunidade, um dom da Páscoa de inapreciável valor; mas também a Mãe de todos acolhida como tal (ALVAREZ, 2005).
A visão do quarto Evangelho é nitidamente teológica contribui para realçar o papel de Maria no mistério de Jesus. Assim, o Evangelho de João articula os três elementos, Maria – Mãe de Jesus, Maria – Mulher e Maria – Mãe dos discípulos, segundo uma graduação teológica: partindo de Maria – Mãe de Jesus para chegar a Maria – Mãe dos discípulos, com uma maternidade nova.
5.2 OS DOGMAS MARIANOS
Os quatro dogmas marianos: “Maternidade Divina” = “Mãe de Deus” (Theotókos), e “Maria Virgem” = Virgindade, são antigos e estão estreitamente ligados entre si e inseparáveis da fé em Jesus Cristo e a sua formulação histórico- dogmática. Os dogmas da “Imaculada Conceição” e “Assunção de Maria” são mais recentes e estão baseados na dignidade e no significado de Maria Virgem e Mãe de Deus.
5.2.1 A Maternidade Divina e Virginal
Julga-se que o título Theotókos, Mãe de Deus, aparece pela primeira vez, na literatura cristã, nos escritos de Orígenes (†250). Foi solenemente proclamado pelo Concílio de Éfeso (431) (BETTENCOURT, 2004).
Em que sentido Maria é a Mãe de Deus? Toda mãe é mãe de uma pessoa. A Pessoa que nasce de Maria é a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que dela assumiu a carne humana. Maria, porém, não é mãe apenas da carne humana, mas de toda a realidade do seu Filho, o Verbo encarnado. Daí dizer-se que Maria é Mãe de Deus, mas enquanto Deus feito homem.
Deus escolheu Maria, por benevolência ou gratuidade, para ser Mãe Santa. Portanto, encheu-a de graça. Maria correspondeu fielmente ao dom de Deus, dizendo-se e fazendo-se a serva do Senhor (cf. Lc 1,38. 44). Maria foi escolhida como filha de Sião ou como membro de um povo chamado a gerar o Messias. Isto quer dizer que o Sim de Maria é o Sim de uma coletividade; é o Sim de todo o gênero humano, chamado a se prolongar na Igreja através dos séculos (BETTENCOURT, 2004).
Maria concebeu o Filho de Deus de maneira livre e generosa. Para isto, devia ter certo conhecimento do dom e da missão que lhe eram propostos (não se tratava de conhecimento pleno; (cf. Lc 2,50). Maria é privilegiada, mas ela se intitula “servidora de Deus e dos homens” (cf. Lc 2,38. 48). O próprio Jesus ensinou que “o maior deve ser como aquele que serve” (cf. Lc 22,26; Jo 12,13-15).
Desde remota época a Igreja professa que Maria é sempre virgem (no sentido físico). Esta verdade pertence ao patrimônio da fé, como declarou, em conformidade com a Tradição, o Papa Paulo V (aos 7/08/1555): “A bem-aventurada Virgem Maria foi verdadeira Mãe de Deus, e guardou sempre íntegra a virgindade, antes do parto, no parto e constantemente depois do parto” (DS 1880 [993]).
A doutrina da concepção virginal de Maria começa a ter sentido quando abordada de modo contemplativo no contexto da encarnação. As narrativas da infância de Mateus e Lucas são as únicas fontes que falam da concepção virginal de Jesus. Elas testemunham que Maria concebeu Jesus pelo poder da sombra do Espírito Santo sem intervenção masculina (cf. Lc 1,26-38; Mt 1,18-25). Os dois autores estão indicando o interesse na concepção virginal como sinal de escolha e graça divinas. A descrição extraordinária do nascimento de Jesus entra no discernimento cristológico de que Jesus é Filho de Deus, o Messias, desde o nascimento.
Assim, a doutrina da virgindade de Maria é indicativo das origens de Jesus no mistério de Deus que não se explicita apenas por ascendência humana, mas pela iniciativa criadora de Deus. Maria é virgem e mãe. Maria Virgem porque se guardou íntegra para Deus. Virgem por guardar íntegra a Palavra de Deus: “Faça-se em mim…”. Por isso é também a “sempre virgem Maria”: avançou íntegra na “penumbra da não-visão”; avançou em “peregrinação de fé” (LG 58).
5.2.3 Imaculada Conceição
O dogma da Imaculada Conceição significa que, no primeiro instante de sua conceição, a Bem-aventurada Virgem Maria foi, por graça e privilégio singulares de Deus onipotente e em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, preservada de toda mancha da culpa original (DS 2803 [1641]).
Esta verdade, solenemente definida por Pio IX em 08/12/1854, foi aos poucos aflorando à consciência da Igreja. Durante muito tempo, os teólogos perguntavam como poderia Maria ter sido salva por Jesus Cristo se nunca tivesse pecado. Finalmente, João Duns Scoto, O.F.M. (†1308) propôs a fórmula decisiva: “pertence à perfeição do Redentor não somente purificar do pecado, mas preservar do pecado a mais dileta dentre as criaturas” (BETTENCOURT, 2004, p.06).
Maria, portanto, foi isenta do pecado original em previsão dos méritos de Cristo; assim, ela foi remida de maneira mais perfeita do que as outras criaturas.
Maria nunca contraiu pecado pessoal, nem a mais leve culpa. A razão pela qual o Senhor Deus quis outorgar tal privilégio a Maria, se deriva da graça da maternidade divina: não convinha que aquela mulher chamada a ser tabernáculo do Altíssimo ou Mãe de Deus feito homem estivesse, por um momento sequer, sujeita ao domínio do pecado e de Satanás. O anjo declarou Maria “cheia de graça” (Lc 1,26) – o que sugere que desde o início da sua existência ela gozou da plenitude do favor divino.
A riqueza de graças em Maria não impediu que ela vivesse de fé e de esperança, em meio a lutas e dores. A sua fé inspirou-lhe a obediência incondicional a Deus, que lhe pedia cada vez mais generosa. Maria não compreendeu desde o início a grandeza da obra que Deus nela realizaria; também se sentiu perplexa, mais de uma vez, diante do procedimento de seu Filho (cf. Lc 2,49s), mas abandonou-se a Deus sem reservas.
5.2.4 Assunção de Maria
Desde remota época (séculos IV e V), os autores cristãos julgaram que Maria teve um fim de vida terrestre singular; em seus sermões e em escritos apócrifos, professaram a glorificação corporal de Maria, logo após a sua morte na terra. Esta crença foi-se transmitindo até que o Papa Pio XII em 1950 houve por bem proclamá-la solenemente como dogma de fé (FIORES, 1995).
Com efeito, Maria, que não esteve sujeita ao império do pecado para poder ser a santa Mãe de Deus, não podia ficar sob o domínio da morte que entrou no mundo através do pecado (cf. Rm 5,12). Por isto, não conheceu a deterioração da sepultura, mas foi glorificada não somente em sua alma, mas também em seu corpo (FORTE, 1985).
A carne da mãe e a carne do filho são uma só carne. Por isto, a carne de Maria devia tocar a mesma sorte que tocou a carne de Jesus: ambas foram glorificadas no fim desta caminhada terrestre. Existe uma tendência a empalidecer o significado da glorificação corporal de Maria mediante a tese da ressurreição de todo indivíduo logo após a morte: o caso de Maria seria um entre outros pares (BETTENCOURT, 2004).
A Assunção da Virgem Maria é uma participação singular na Ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos (CIC 966).
5.3 MARIA NOS DOCUMENTOS DO VATICANO II: LUMEN GENTIUM E MARIALIS CULTUS
A figura de Maria foi de suma importância para o Vaticano II: o Papa João XXIII abriu o Concílio na festa da Maternidade Divina de Maria (11 de outubro de 1962) e o Papa Paulo VI o concluiu na vigília da Imaculada Conceição (07 de dezembro de 1965). O Concílio, todavia, abre perspectivas de um novo tempo, nos deixando o “Capítulo VIII” da Lumem Gentium. Depois do Concílio Vaticano II, temos a exortação de Paulo VI (02 de fevereiro de 1974) (FURLANI, 2005).
5.3.1 Maria no Capítulo VIII da Lumen Gentium
O capítulo VIII da Lumem Gentium integra o mistério da Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja. Este documento dá destaque à fundamentação bíblica e tradicional da doutrina mariana, levando em conta a exegese recente, os Padres da Igreja e dos teólogos posteriores.
No seu conteúdo, representa a doutrina clássica em termos modernos: Maria, a Mãe de Deus e tipo de Igreja é vista como pessoa que se oferece livre e conscientemente à graça de Deus.
A devoção aparece como incentivo para a fé e amor de Jesus. E favorece ao diálogo ecumênico, assumido no Concílio. O Papa Paulo VI na promulgação da Constituição Lumem Gentium, terminou sua alocução proclamando Maria Mãe da Igreja, título que não aparece no documento conciliar, mas foi acrescido às “Ladainhas lauretanas” (FIORES, 1995).
5.3.2 Marialis Cultus
A Exortação Apostólica do Papa Paulo VI (02/02/ 1974), parte da renovação litúrgica, decidida pelo Concílio Vaticano II, para explicar o lugar de Maria no ciclo geral e o sentido das festas propriamente marianas (FIORES, 1995).
A Exortação segue o que orienta o Concílio: [...] promovam generosamente o culto, sobretudo o litúrgico, para com a Bem-Aventurada Virgem Maria; dêem grande valor às práticas e aos exercícios de piedade recomendados pelo magistério [...] (LG 67). Neste ensinamento, Paulo VI articula a questão da cultura e da inculturação do culto devido a Maria, como a Mulher que soube viver no seu contexto e inserir-se no mistério de Cristo, porque foi uma mulher que acreditou naquilo que o Senhor lhe disse.
A Exortação especifica as características e evidencia elementos teológicos e espirituais do culto e de uma devoção mariana para o nosso tempo. Portanto, no seu conteúdo doutrinal, o mistério de Maria deve ser compreendido como um mistério trinitário, cristológico, pneumatológico e eclesial; em relação à devoção mariana deverá seguir quatro orientações: “bíblica, litúrgica, ecumênica e antropológica, para tornar mais vivo e mais inteligível o vínculo que nos une a mãe de Cristo e mãe nossa na comunhão dos santos” (MC 29).
O cunho bíblico em toda forma de culto é princípio e fato reconhecido pela piedade cristã e também pela piedade mariana. O conteúdo bíblico, portanto é referencial para alimentar o amor para com Maria e o culto que a ela se presta (MC 30).
Na característica antropológica, mostra que o mundo moderno requer uma nova imagem de Maria. Os cristãos devem fazer ver em Maria o modelo de pessoa humana, da mulher responsável e co-responsável, em conformidade com a realidade bíblica e levando em conta as exigências do fenômeno da libertação da mulher e do reconhecimento dos seus direitos na sociedade moderna (MC 35).
Na questão do ecumenismo a Marialis Cultos orienta que se mantenham os sentimentos de unidade de todos os cristãos pois: “[...] todos aqueles que confessamabertamente que o filho de Maria é o Filho de Deus e Senhor nosso, Salvador e único Mediador (cf. 11Tm 2,5), são chamados a serem uma só coisa entre si, com Ele e com o Pai, na unidade do espírito Santo” (MC 32).
O lugar de Maria na liturgia se insere na celebração da obra salvífica do Pai: o Mistério de Cristo. Neste mistério inseriu-se a memória de Maria como Mãe de Cristo, celebrando-se de forma explícita a íntima ligação que a Mãe tem com o Filho de Deus (MC 3-4). Na celebração dos eventos dos mistérios da salvação, Maria aparece associada ao Filho em primeiro lugar na Celebração Eucarística, quando se invoca a memória da “sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor Jesus Cristo” (Oração Eucarística I) e as memórias incorporadas pela liturgia da Igreja e aquelas que nascem da experiência de fé das comunidades cristãs. Da tradição perene e viva da fé da Igreja colhem-se as mais significativas expressões da piedade e devoção marianas (MC 9-15).
Referências Bibliográficas
ALVAREZ, Carlos G. Maria Discípula e Mensageira do Evangelho. São Paulo: Paulus, 2005. (Coleção do Celam).
BETTENCOURT, Estevão Tavares. Escola “Mater Ecclesiae”: curso de iniciação teológica por correspondência. – Rio de Janeiro.
DENZIGER, Hünermann. Compêndio dos Símbolos, definições e declarações de fé e moral. São Paulo: Paulinas/Loyola,2007.
FORTE, Bruno. Maria, a mulher ícone do Mistério. São Paulo, Paulinas, 1985.
FURLANI, Maria Aparecida. Apostila de Mariologia”: “ad usum studentium”.- Várzea Grande, MT,2006.
Lumen Gentium. In: Documentos do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997.
PAULO VI, Papa. Marialis Cultus. In Documentos de Paulo VI. São Paulo: Paulus, 1997.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
22.07.2018
16º Domingo do Tempo Comum — ANO B
( Verde, Glória, Creio IV Semana do Saltério )
__ "Urgência da Missão" __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Como rebanho, nos encontramos no redil de nosso Pastor para refazer nossas forças, ouvir sua Palavra e, na comunhão de sua aliança, nos deixarmos tomar de compaixão pela multidão faminta e sofrida ao nosso redor. O amor e a solicitude pelas “ovelhas sem pastor” são marcas de um Deus que nunca nos abandona. Esse amor traduz-se, naturalmente, na oferta de vida nova e plena que Deus faz a todos os homens, convidando-nos a também fazermos o mesmo com nosso testemunho.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, aqui nos encontramos, reunidos por Cristo, o Bom Pastor. Somos a Igreja nascida da entrega amorosa do Senhor. É Ele que sempre nos convoca e nos reúne para nos oferecer o alimento que restaura nossas forças. Por isso, nós que somos seu rebanho, atendemos ao seu convite e aqui estamos. Daqui sairemos enviados por Ele para dar testemunho do seu amor, fazendo o que Ele fez, oferecendo a sua vida por nós.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Celebramos neste domingo a urgência da missão, por isso, reunidos em torno do celeste Pastor, façamos nosso ato de fé para receber dele a alegria e o sustento no discipulado e na missão. Jesus nos alimenta com sua Palavra e com seu próprio Corpo e Sangue. Cheios de fé e esperança, participemos desta celebracão eucarística, cantando glórias ao Senhor.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo e meditemos profundamente a liturgia de hoje!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Jeremias 23,1-6): - "Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho miúdo de minha pastagem!"
SALMO RESPONSORIAL 22(23): - "O Senhor é o pastor que me conduz: felicidade e todo bem hão de seguir-me!"
SEGUNDA LEITURA (Efésios 2,13-18): - "Agora, porém, graças a Jesus Cristo, vós que antes estáveis longe, vos tornastes presentes, pelo sangue de Cristo."
EVANGELHO (Marcos 6,30-34): - "Vinde à parte, para algum lugar deserto, e descansai um pouco"
Homilia do Diácono José da Cruz – 16º Domingo do Tempo Comum – ANO B
"A SÓS COM O SENHOR..."
Sempre ouço uma crítica contundente em nossa Igreja, de que, “no dia em que Jesus voltar, não vai nos encontrar unidos, mas reunidos”. Há de fato um excesso de reuniões, as vezes sem pauta e nem assunto determinado, e o que é pior, sem horário para terminar, onde patina-se em assuntos pessoais, troca-se muitas farpas, seria necessário refletirmos sobre a qualidade de nossas reuniões, avaliando-se os resultados. Lembro-me da primeira vez em que fui convocado para uma reunião na igreja, isso já faz tempo, e senti-me muito importante, hoje o entusiasmo já não é tanto.
Pelo jeito, os apóstolos também gostavam de uma reunião, haviam sido enviados em missão, e no evangelho de hoje voltam para Jesus, querendo fazer uma reunião de avaliação, mas ao que parece, o Mestre não era muito chegado em reunião, pois assim que os apóstolos começaram a expor o relatório de tudo o que tinham feito, ele os convidou a irem para um lugar á parte: “Vamos descansar um pouco em um lugar á parte!” – Prestemos atenção nesse verbo, “descansar”, que tem muitos significados: descontrair, fazer algo diferente, jogar um pouco de conversa fora, dar boas risadas de coisas engraçadas que aconteceram na missão, rir dos próprios erros e enganos “Imagine Senhor, que eu por engano bati na porta de um ateu, e quando comecei a falar em teu nome, pensei que o homem ia ter um “saracotico”!, fico imaginando o grupo todo caindo na risada com aquele apóstolo distraído, e Jesus exclamando bem humorado “Mas você é uma anta mesmo!” e tome mais risada e até o sisudo Pedro quase se engasga de tanto rir, e me dirão os extremamente conservadores, que isso não está no evangelho, e nem precisaria.
Modéstia á parte, nossas reuniões de diáconos da diocese de Sorocaba, são um pouco assim, as vezes o Dirigente tem que dar um “breque” para acalmar os faladores e piadistas, e não pensem que os mais idosos não gostam, até eles fazem rodinhas para contar suas anedotas ou coisas engraçadas do seu ministério. Faz muito bem a alma, ao coração e à nossa “psique”, esses momentos de pura alegria por estarmos juntos, e graças a Deus, nossos irmãos maiores no ministério, os sacerdotes, estão resgatando esses encontros, com a valiosa ajuda da psicanálise, pois não se conhece arma mais poderosa do que o isolamento, para destruir por completo uma vocação, agente de pastoral que se isola dos demais, catequistas, ministros, padres e diáconos, começou a ficar sozinho, está dando “sopa” para a derrota e o fracasso na sua vocação, daí vêm certas tristezas, angústias e desvios de conduta, por falta de apoio.
Na correria dos trabalhos pastorais e ministérios, é preciso parar de vez em quando, e aqui há outro sentido belíssimo nessa reflexão, pois, descansar com o Senhor, significa abastecer-se, na intimidade da oração, no mistério da Eucaristia, onde Deus é um frágil pedacinho de pão, na palma da minha mão, ou ainda como Maria, irmã de Marta, sentar-se confortavelmente aos pés do Senhor, para ouvir a sua palavra. De que me adianta não ter tempo para mais nada, nem para mim mesmo, nem para os amigos, nem para a família, nem para comer, por conta de uma agenda lotadíssima de compromissos, se vou aos poucos me distanciando daquilo que é essencial?
O ativismo exacerbado das atividades pastorais e ministeriais começa a nos fazer sentir que somos Donos do Reino e da igreja, querendo nos colocar no centro das atenções, quando na verdade apenas trabalhamos para o Mestre Jesus, é ele quem nos envia, quem nos confia a missão, é portanto ele, que no “intervalo” do jogo, como fazem os técnicos de futebol, irá nos dar as instruções, fazer as correções necessárias, mostrando-nos a melhor estratégia para sermos bem sucedidos na missão.
Não tenho nenhuma dúvida que, sem essa intimidade dos bastidores, com Nosso Senhor, retirados em um lugar á parte, sem essa descontração com o grupo todo, que solidifica a amizade e o carinho entre os membros, qualificando as relações pessoais, corre-se o risco de estressar-se diante do volume de trabalho a ser feito na comunidade e na evangelização fora da Igreja, a multidão que temos que servir é muito grande, as pessoas buscam desesperadamente algo que o cristianismo tem de sobra, que é a esperança, presente na palavra da qual somos portadores.
Mas é perigoso esse “corre-corre” nos tornar insensíveis a dor, ao sofrimento e as necessidades das pessoas, tornando-nos profissionais da palavra, realizando trabalhos belíssimos e ações arrojadas, mas não movidos por essa COMPAIXÃO, que Jesus tem pelas pessoas que o procuram, mas apenas levados por nossos interesses mesquinhos, pela nossa vaidade, prepotência e arrogância, manifestando de vez em quando o nosso mau humor e azedume naquilo que fazemos, e de Agentes de Pastoral ou ministros da igreja, com essa característica, longe de atrair as pessoas, como o Mestre fazia, as vezes é melhor manter a devida distância, porque nunca se sabe em que hora que o “Rei ou a Rainha da Cocada”, vai dar o seu terrível “coice”, que magoa, machuca e gera tantas divisões e intrigas na comunidade, perdendo de vista a compaixão, vivida por Jesus. (16º. Domingo do Tempo Comum)
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 16º Domingo do Tempo Comum — ANO B
“O pastoreio de Jesus Cristo”
"Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque era como ovelhas que não tem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas" (Mc 6,34).
Que as pessoas reúnam-se em torno de um mestre é um fenômeno normal. Sentimos verdadeira necessidade de ter alguma pessoa em quem apoiar-nos:
Em casa, nos apoiamos em nossos pais e em nossos avós. Eles têm experiência de vida e podem ensinar-nos muitas coisas;
Na escola, acreditamos nos professores, que é verdade o que eles nos ensinam;
No trabalho, especialmente no começo, sempre olhamos para os que têm mais experiência, pedimos conselhos etc.
Quando se trata das coisas de Deus, também procuramos um apoio sólido. O mesmo Cristo, Bom Pastor, quis colocar à frente de sua Igreja pastores que a governasse: os apóstolos e, depois deles, seus sucessores, os Bispos. Tanto os Apóstolos quanto os Bispos uniram a si colaboradores, os Presbíteros. Já nos começos da Igreja, os mesmos Apóstolos viram a necessidade dos diáconos para que pudessem dedicar-se ao serviço. A hierarquia da Igreja – bispos, presbíteros e diáconos – está posta na Igreja para pastoreá-la, para guardá-la.
Ao pensar num pastor pensamos logo no rebanho – talvez menos, já que nos encontramos numa sociedade não agrícola – e no que pode danar esse rebanho, nos lobos. Para defender o rebanho e guardar a sua unidade, precisamos de muitos e bons pastores. Rezemos pelas vocações sacerdotais: que o Senhor envie muitos operários para a sua messe: sacerdotes bons e fiéis. Talvez algum jovem que me lê sente-se chamado a entregar-se totalmente a Deus no sacerdócio, que não tenha medo. Avante!
Como reconhecer o verdadeiro pastor? É verdadeiro pastor aquele que anuncia a Palavra de Deus na íntegra, o que fala de oração, de penitência, da cruz, o que se preocupa com o rebanho. Os falsos pastores, ao contrário, fogem quando chega o lobo, desvirtuam o Evangelho de Cristo e não dão a verdade às almas, são bajuladores, falam apenas o que agrada às pessoas, diminuem as exigências do Evangelho, interessam-se pelo dinheiro e pelos demais bens do rebanho.
Nós, os sacerdotes de Jesus Cristo, há vinte séculos, falamos sobre as mesmas verdades, e não nos cansaremos de anunciá-las. O que eu lhes falo não são coisas da minha cabeça, são palavras do próprio Deus, para isso fui feito sacerdote: para anunciar a fé, para celebrá-la e para pastorear segundo os critérios que a fé nos dá.
O ser humano deseja saciar-se com as coisas eternas. Foi Deus quem fez a pessoa humana e colocou no seu coração o desejo de Deus, esse desejo faz parte da nossa natureza humana. Homens e mulheres buscam matar a fome de Deus indo atrás de quaisquer propostas religiosas sem examinar se são ou não verdadeiras. Um dos maiores males de nossa sociedade atual é a ignorância religiosa. E quando não, a resistência de uma vontade endurecida.
Conta-se de uma família que estava lutando para que o pai deixasse de fumar. O homem chegou a casa e disse à sua filha: "- li há pouco na revista "Seleções" um artigo terrível sobre o fumo e já tomei uma resolução". A jovem disse-lhe então: "- Que bom, pai! Você vai deixar de fumar? Ao que pai respondeu imediatamente: "- Não. Vou deixar de ler".
Pode parecer incrível, mas tem pessoas que insistem em permanecer nas próprias posturas ainda quando sabem que estas são erradas. Mas também há pessoas que não deixam o erro porque não sabem que estão no erro. Escutemos a voz do profeta Oséias: "Morre o meu povo por falta de doutrina" (Os 4,6). Dizia São Josemaría Escrivá: "A fome e a dor comovem Jesus, mas sobretudo comove-o a ignorância" (É Cristo que passa, nº109). Muitos correm atrás do espiritismo, da maçonaria, da Nova Era, de seitas as mais variadas, até da Bola de Neve Church (vi reportagem da Veja!), pensando que serão felizes. Só serão felizes quando seguirem o Senhor como Ele quer ser seguido. Não adianta enganar-se! Todas essas pessoas são boas, muitas são honestas (mais do que muitos católicos), eu os amo a todos; é preciso, porém, dizer: essas coisas não estão de acordo com o Evangelho, com a Verdade de Deus. Rezemos por todos! Amemos a todos! Não julguemos a ninguém!
Procuremos conhecer mais a nossa fé e ser-lhe fiéis. Da nossa fidelidade dependem muitas coisas! Encontramo-nos num período de férias (saibamos aproveitá-las!), estas não significam ociosidade. Férias não é ficar sem fazer nada, é mudar de atividade: crescer na intimidade com Deus através da oração, estar mais tempo com a família, ler mais as Sagradas Escrituras e livros que me falam da fé (especialmente o Catecismo da Igreja Católica), ler um bom livro de literatura, visitar e fazer apostolado com os amigos etc.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 16º Domingo do Tempo Comum — ANO B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
Como não foi publicado o Comentário Exegético desta semana, trazemos um artigo de Doutrina / Dogmática:
A natureza de Deus e seu agir
Diante da palavra de Deus que se revela somente cabe ao homem a adoração e o agradecimento; o homem cai de joelhos diante de um Deus que sendo transcendente é mais interior a mim que eu mesmo.
1. Quem é Deus?
Ao longo da história, todas as culturas se fizeram esta pergunta; tanto é assim que os primeiros sinais de civilização se encontram geralmente no âmbito religioso e cultural. Crer em Deus está em primeiro lugar para o homem de qualquer época [1]. A diferença essencial está em qual Deus se crê? De fato, em algumas religiões pagãs o homem adorava as forças da natureza, enquanto manifestações concretas do sagrado, e contavam com uma pluralidade de deuses, ordenada hierarquicamente. Na Grécia antiga, por exemplo, também a divindade suprema, em um panteão de deuses, era regida, por sua vez, por uma necessidade absoluta, que abarcava o mundo e os próprios deuses [2]. Para muitos estudiosos da história das religiões, em muitos povos ocorreu uma progressiva perda, a partir de uma “revelação originária”, do único Deus; mas, em todo caso, inclusive nos cultos mais degradados, podem ser encontradas chispas ou indícios em seus costumes da verdadeira religiosidade: a adoração, o sacrifício, o sacerdócio, o oferecimento, a oração, a ação de graças, etc.
A razão, tanto na Grécia como em outros lugares, tratou de purificar a religião, mostrando que a divindade suprema devia identificar-se com o Bem, a Beleza e o próprio Ser, enquanto fonte de todo bem, de todo o belo e de tudo o que existe. Mas isto sugere outros problemas, concretamente o afastamento de Deus por parte do fiel, pois desse modo a divindade suprema ficava isolada em uma perfeita autarquia, já que a mesma possibilidade de estabelecer relações com a divindade era vista como um sinal de fraqueza. Além disso, tampouco fica solucionada a presença do mal, que aparece de algum modo como necessária, pois o princípio supremo está unido por uma cadeia de seres intermediários, sem solução de continuidade, ao mundo.
A revelação judaico-cristã mudou radicalmente este quadro: Deus é representado na Escritura como criador de tudo o que existe e origem de toda força natural. A existência divina precede absolutamente a existência do mundo, que é radicalmente dependente de Deus. Aqui está contida a idéia de transcendência: entre Deus e o mundo a distância é infinita e não existe uma conexão necessária entre eles. O homem e todo o criado poderiam não ser, e naquilo que são dependem sempre de outro; ao passo que Deus é, e é por si mesmo. Esta distância infinita, esta absoluta pequenez do homem diante de Deus, mostra que tudo o que existe é querido por Deus com toda sua vontade e sua liberdade: tudo o que existe é bom e fruto do amor (cfr.Gn 1). O poder de Deus não é limitado nem no espaço nem no tempo, e por isso sua ação criadora é dom absoluto: é amor. Seu poder é tão grande que quer manter sua relação com as criaturas; e inclusive salvá-las se, por causa de sua liberdade, se afastarem do Criador. Portanto, a origem do mal deve ser situada em relação com o eventual uso equivocado da liberdade por parte do homem – coisa que de fato ocorreu, como narra o Gênesis: vid. Gn 3 -, e não com algo intrínseco à matéria.
Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que, em razão do que se acaba de mencionar, Deus é pessoa que atua com liberdade e amor. As religiões e a filosofia se perguntavam o quê é Deus; ao invés, pela revelação, o homem é levado a se perguntar quem é Deus (cfr. Compêndio, 37); um Deus que sai ao seu encontro e busca o homem para falar-lhe como a um amigo (cfr. Ex 33, 11). Tanto é assim que Deus revela a Moisés o seu nome, “Eu sou aquele que sou” (Ex 3, 14), como prova de sua fidelidade à aliança e de que o acompanhará no deserto, símbolo das tentações da vida. É um nome misterioso[3] que, em todo caso, nos dá a conhecer as riquezas contidas em seu mistério inefável: somente Ele é, desde sempre e para sempre, aquele que transcende o mundo e a história, mas que também se preocupa com o mundo e conduz a história. Ele foi quem fez o céu e a terra, e os conserva. Ele é o Deus fiel e providente, sempre junto a seu povo para salvá-lo. Ele é o Santo por excelência, “rico em misericórdia” (Ef 2, 4), sempre disposto ao perdão. Deus é o ser espiritual, transcendente, onipotente, eterno, pessoal e perfeito. Ele é a verdade e o amor” (Compêndio, 40).
Assim, pois, a revelação se apresenta como uma novidade absoluta, um dom que o homem recebe do alto e que deve aceitar com reconhecimento de ação de graças e um obsequio religioso. Portanto a revelação não pode ser reduzida a meras expectativas humanas, vai muito mais além: ante a Palavra de Deus que se revela só cabe a adoração e o agradecimento, o homem cai de joelhos ante o assombro de um Deus, que, sendo transcendente, se faz interior intimo meo [4], mais próximo de mim que eu mesmo e que busca o homem em todas as situações de sua existência: “O criador do céu e da terra, o único Deus que é fonte de todo ser, este único Logos criador, esta Razão criadora, ama pessoalmente ao homem, mais ainda, ama-o apaixonadamente e quer, por sua vez, ser amado. Por isso, esta Razão criadora, que ao mesmo tempo ama, dá vida a uma história de amor (…), amor [que] se manifesta cheio de inesgotável fidelidade e misericórdia; é um amor que perdoa além de todo e qualquer limite” [5].
2. Como é Deus?
O Deus da Sagrada Escritura não é uma projeção do homem, pois sua absoluta transcendência só pode ser descoberta a partir de fora do mundo, e por isso, como fruto de uma revelação; quer dizer, não há propriamente uma revelação intramundana. Ou, dito de outro modo, a natureza, como lugar da revelação de Deus [6] remete sempre para um Deus transcendente. Sem esta perspectiva, não seria possível para o homem, chegar a estas verdades. Deus é, ao mesmo tempo, exigente [7] e amante, muito mais do que o homem se atreveria a esperar. De fato, podemos imaginar facilmente a um Deus onipotente, mas custa-nos reconhecer que essa onipotência possa nos amar [8]. Entre a concepção humana e a imagem de Deus revelada há, ao mesmo tempo, continuidade e descontinuidade, porque Deus é o Bem, a Beleza, o Ser, como diz a filosofia, mas, ao mesmo tempo, esse Deus ama-me a mim, que nada sou em comparação com Ele. O eterno busca o temporal e isso muda radicalmente nossas expectativas e nossa perspectiva de Deus.
Em primeiro lugar Deus é Uno, mas não em sentido matemático como um ponto, mas é Uno no sentido absoluto desse Bem, essa Beleza e esse Ser de quem tudo procede. Pode-se dizer que é Uno porque não há outro deus e porque não tem partes; mas ao mesmo tempo deve-se dizer que é Uno porque é fonte de toda unidade. De fato, sem Ele tudo se decompõe e volta ao não-ser: sua unidade é a unidade de um Amor que também é vida e dá a vida. Assim, pois, esta unidade é infinitamente mais que uma simples negação da multiplicidade.
A unidade leva a reconhecer a Deus como o único verdadeiro. Mais do que isso, Ele é a Verdade e a medida e fonte de tudo o que é verdadeiro (cfr. Compêndio, 41); e isto porque justamente Ele é o Ser. Às vezes, tem-se medo desta identificação, pois parece que, dizendo que a verdade é una, faz-se impossível todo diálogo. Por isso é tão necessário considerar que Deus não é verdadeiro no sentido humano do termo, que é sempre parcial. Senão que n’Ele a Verdade se identifica com o Ser, com o Bem e com a Beleza. Não se trata de uma verdade meramente lógica e formal, mas de uma verdade que se identifica com o Amor que é Comunicação, em sentido pleno: efusão criativa, ao mesmo tempo exclusivo e universal, vida íntima divina partilhada e participada pelo homem. Não estamos falando da verdade das fórmulas ou das idéias, que sempre são insuficientes, mas da verdade do real, que no caso de Deus coincide com o Amor. Além disso, dizer que Deus é a Verdade quer dizer que Deus é o Amor. De modo que, a imutabilidade de Deus e sua unicidade coincidem com sua Verdade, enquanto é a verdade de um Amor que não pode passar.
Assim se vê que, para entender o sentido propriamente cristão dos atributos divinos, é necessário unir a afirmação de onipotência com a bondade e a misericórdia. Somente depois de ter entendido que Deus é onipotente e eterno, alguém pode abrir-se à verdade esmagadora de que esse mesmo Deus é Amor, vontade de Bem, fonte de toda Beleza e todo dom [9]. Por isso, os dados oferecidos pela reflexão filosófica são essenciais, ainda que, de algum modo, insuficientes. Seguindo este percurso desde as características que se reconhecem como primeiras até as que se podem compreender só mediante o encontro pessoal com Deus que se revela, chega-se a entrever como estes atributos são expressos com termos distintos só em nossa linguagem, enquanto que, na realidade de Deus coincidem e se identificam. O Uno é o Verdadeiro, e o Verdadeiro se identifica com o Bem e com o Amor. Usando outra imagem, pode-se dizer que nossa razão limitada atua um pouco como um prisma que decompõe a luz nas diversas cores, cada uma das quais é um atributo divino; porém em Deus coincidem com seu próprio Ser, que é Vida e fonte de toda vida.
3. Como conhecemos a Deus?
Pelo que foi dito acima, podemos conhecer a Deus a partir de suas obras: somente o encontro com Deus que cria e que salva o homem pode revelar-nos que o Único é, ao mesmo tempo, o Amor e a origem de todo Bem. Assim Deus é reconhecido não só como intelecto – Logossegundo os gregos – que outorga racionalidade ao mundo (a ponto de alguns o terem confundido com o mundo, como acontecia na filosofia grega e como volta a acontecer em algumas filosofias modernas), mas que também é reconhecido como vontade pessoal que cria e que ama. Trata-se assim de um Deus vivo: mais
ainda, de um Deus que é a própria Vida. Assim, enquanto Ser vivo dotado de vontade, vida e liberdade, em sua infinita perfeição, Deus permanece sempre incompreensível; ou seja, irredutível a conceitos humanos.
A partir do que existe, do movimento, das perfeições, etc. pode-se chegar a demonstrar a existência de um Ser supremo, fonte desse movimento, das perfeições, etc. Porém, para conhecer o Deus pessoal, que é Amor, deve-se buscá-lo em sua atuação na história a favor dos homens, e por isso, faz falta a revelação. Olhando para seu atuar salvífico, descobre-se seu Ser, do mesmo modo que, pouco a pouco, se conhece a uma pessoa através do relacionamento com ela.
Neste sentido, conhecer a Deus consiste sempre e apenas em reconhecê-lo, pois Ele é infinitamente maior do que nós. Todo conhecimento sobre Ele, procede d’Ele, e é dom seu, fruto de seu abrir-se, de sua iniciativa. A atitude para aproximar-se deste conhecimento deve ser, então, de profunda humildade. Nenhuma inteligência finita pode abarcar Aquele que é Infinito, nenhuma potência pode sujeitar ao Onipotente. Só podemos conhecê-lo por aquilo que Ele nos dá, isto é, pela participação que temos em seus bens, fundamentada pelos seus atos de amor por cada um.
Por isso, nosso conhecimento d’Ele é sempre analógico: enquanto afirmamos algo sobre Ele, simultaneamente temos que negar que essa perfeição se dê n’Ele segundo as limitações que vemos nos seres criados. A tradição fala de uma tríplice via: de afirmação, de negação e de eminência, de onde o último movimento da razão consiste em afirmar a perfeição de Deus para além daquilo que o homem pode pensar, e que é origem de todas as realizações dessa perfeição que se vêem no mundo. Por exemplo, é fácil reconhecer que Deus é grande, mas é mais difícil dar-se conta de que Ele é também pequeno, porque no criado, o grande e o pequeno se contradizem. Não obstante, se pensamos que ser pequeno pode ser uma perfeição, como se vê no fenômeno da nanotecnologia, então Deus tem que ser fonte também, dessa perfeição e, n’Ele, essa perfeição deve identificar-se com a grandeza. Por isso, temos que negar que é pequeno (ou grande) no sentido limitado que se dá no mundo criado, para purificar essa atribuição passando à eminência. Um aspecto especialmente relevante é a virtude da humildade, que os gregos não consideravam virtude. Por ser uma perfeição, a virtude da humildade não somente é possuída por Deus, mas que Deus se identifica com ela. Chegamos assim à surpreendente conclusão de que Deus é a Humildade; de tal modo que só podemos conhecê-lo em uma atitude de humildade, que não é outra coisa que a participação no dom de Si mesmo.
Tudo isso implica que se pode conhecer ao Deus cristão mediante os sacramentos e através da oração na Igreja, que torna presente seu agir salvífico para os homens de todos os tempos.
Giulio Maspero
Bibliografia básica
Catecismo da Igreja Católica, 199-231; 268-274.
Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 36-43; 50.
Leituras recomendadas
São Josemaria, Homilía Humildade, Amigos de Dios, 104-109.
J. Ratzinger, El Dios de los cristianos. Meditaciones, Ed. Sígueme, Salamanca 2005.
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[1] O ateísmo é um fenômeno moderno que tem raízes religiosas, enquanto nega a verdade absoluta de Deus, apoiando-se em uma verdade que é igualmente absoluta, isto é, a negação de sua existência. Precisamente por isso, o ateísmo é um fenômeno secundário em relação à religião, e pode também entender-se como uma “fé” de sinal negativo. O mesmo pode ser dito do relativismo contemporâneo. Sem a revelação, estes fenômenos de negação absoluta seriam inconcebíveis.
[2] Os deuses estavam sujeitos ao Hado, que tudo dirigia com uma necessidade muitas vezes sem sentido: daí o sentimento trágico da existência, que caracteriza o pensamento e a literatura gregos.
[3] “Deus se revela a Moisés como o Deus vivo: ‘Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’ (ex 3, 6). Ao próprio Moisés Deus revela seu nome misterioso:‘Eu sou aquele que sou’ (YHWH) (Ex 3, 14). O nome inefável de Deus, já nos tempos do Antigo Testamento, foi substituído pela palavra Senhor. Deste modo, no Novo Testamento, Jesus, chamado o Senhor, aparece como verdadeiro Deus” (Compêndio, 38). O nome de Deus admite três possíveis interpretações: 1) Deus revela que não é possível conhecê-lo, afastando do homem tentação de aproveitar-se de sua amizade com Ele como se fazia com divindades pagãs mediante as práticas mágicas, e afirmando sua própria transcendência ; 2) segundo a expressão hebraica utilizada, Deus afirma que estará sempre com Moisés, porque é fiel e está ao lado de quem confia n’Ele; 3) segundo a tradição grega da Bíblia, Deus se manifesta como o próprio Ser (cfr. Compêndio, 39), em harmonia com as intuições da filosofia.
[4] Santo Agostinho, Confissões, 3, 6, 11.
[5] Bento XVI, Discurso na IV Assembléia Eclesial Nacional Italiana, 19-10-2006.
[6] João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 14-09-1998 , 19.
[7] Deus pede ao homem – a Abraão – que saia da terra prometida, que deixe suas seguranças, confie nos pequenos, pede coisas segundo uma lógica distinta da humana, como no caso de Oséias. É claro que não pode ser uma projeção das aspirações ou dos desejos humanos.
[8] “Como é possível perceber tudo isso, reparar que Deus nos ama, e não enlouquecer também de amor? É necessário deixar que essas verdades da nossa fé calem na alma, até mudarem toda a nossa vida. Deus nos ama: o Onipotente, o Todo-Poderoso, o que fez os céus e a terra!” (São Josemaria, É Cristo que passa, 144).
[9] “Deus se revela a Israel como Aquele que tem um amor mais forte do que o amor de um pai ou uma mãe por seus filhos ou de um esposo por sua esposa. Deus em si mesmo, “é amor” (1 Jo 4, 8), que se dá completa e gratuitamente; que “tanto amou o mundo que enviou seu Filho único para que o mundo fosse salvo por Ele” (Jo 3, 16-17). Ao enviar a seu filho e ao Espírito Santo, Deus revela que Ele próprio é eterna comunicação de amor” (Compêndio, 42).
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
CAMPANHA DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA
CLIQUE AQUI, acenda uma vela virtual, faça seu pedido e agradecimento a Nossa Senhora Aparecida pela sagrada intercessão em nossas vidas!
QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus! Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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