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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com

. Evangelho de 25/11/2018 - Solenidade de Jesus Cristo - Rei do Universo
. Evangelho de 18/11/2018 - 33º Domingo do Tempo Comum


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

25.11.2018
SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO — ANO B
(BRANCO, GLÓRIA, CREIO, PREFÁCIO PRÓPRIO – OFÍCIO DA SOLENIDADE)
__ "O meu Reino não é deste mundo." __

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

CLIQUE AQUI E VEJA UMA APRESENTAÇÃO ESPECIAL SOBRE A LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA


(antes de clicar - desligue o som desta página clicando no player acima do menu à direita)

 

Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Na conclusão do ano litúrgico recordamos a centralidade de Cristo na história da Salvação e, exultantes em sermos contemplados no projeto divino, O proclamamos Senhor do Universo. Ele, princípio e fim último da existência, convida-nos a tomar lugar em seu reino de justiça e paz, vivenciando, agora, o início de Seu reinado, que experimentaremos plenamente na eternidade. Esta é a missão da Igreja, vivenciada por todos os seus membros, de modo muito particular pelos leigos, chamados a testemunhar tal realidade nos mais diversos ambientes da sociedade.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, com a solenidade de hoje, encerramos o ano litúrgico, aclamando Cristo como Rei e Senhor do Universo, centro de nossas vidas e de toda história. O reinado de Cristo é de paz e de justiça, de vida e de verdade, e nos compromete a todos para que assumamos nossa missão de sermos seus discípulos e discípulas. Nesta Eucaristia, agradeçamos ao Senhor a disponibilidade de tantos leigos e leigas que se colocam a serviço do Reino de Deus.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A Solenidade de Cristo Rei - Jesus Rei do Universo encerra o ano litúrgico - Ano B - e nos prepara solenemente para as festividades do Ciclo do Natal que se inicia no próximo domingo com o Primeiro Domingo do Advento. Jesus Cristo nos revela como devemos agir em nossas vidas com humildade e total aceitação de sermos servos de Deus. Como tal, precisamos estar sempre dispostos e abertos a servir aos nossos irmãos e irmãs, amando a todos incondicionalmente como Jesus nos ama.

Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Daniel 7,13-14): - "Seu domínio será eterno; nunca cessará e o seu reino jamais será destruído."

SALMO RESPONSORIAL 92(93): - "Deus é rei e se vestiu de majestade, glória ao Senhor!"

SEGUNDA LEITURA (Apocalipse 1,5-8): - "Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que vem, o Dominador."

EVANGELHO (João 18,33-37): - "Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz."



Homilia do Diácono José da Cruz — Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo — ANO B

"UM REINO QUE NÃO É DAQUI"

A resposta de Jesus à Pilatos, de que o seu reino não é deste mundo, poderá ser mal interpretado, se não se conhecer o contexto do evangelho e o mal entendimento poderá resultar em uma religião extremamente espiritualista, alienada e descomprometida com as realidades terrestres que nos cercam. O cristão sempre tem que ter os pés no chão da história e o olhar no paraíso onde o reino irá atingir a sua plenitude pois o reino de Jesus não é uma utopia mas realidade concreta.

A igreja celebra neste domingo a Festa de Cristo Rei que marca o encerramento do ano litúrgico e convida-nos a refletir sobre a realeza de Jesus porque muito mais que súditos, com ele reinamos e vamos construindo o reino já nesta vida. Importante entendermos que não se trata de dois reinos, um terrestre e um celeste, mas de um único reino que um dia se tornará visível para toda humanidade.

Em sua vida pública Jesus viveu momentos em que poderia declarar-se rei, aliás, o povo e os próprios discípulos em alguns desses momentos quiseram faze-lo um rei porém, Jesus sempre fugiu desse populismo que não leva a nada a não ser alimentar a vaidade humana.

A confirmação de sua realeza diante de Pilatos,se dá em um momento dramático quando Jesus está totalmente só e indefeso pois os amigos mais chegados o abandonaram, o povo, a quem ele saciou a fome, instigado pelas lideranças religiosas, haviam pedido a sua condenação, preferindo libertar Barrabás. É portanto um momento de fracasso total e vergonhosa humilhação sendo assim, nessas condições totalmente desfavoráveis, que Jesus confirma que é rei.

Portanto, podemos compreender em um primeiro momento, que reinar com Jesus significa percorrer o difícil caminho do discipulado que vai sempre na contra mão dos projetos humanos, que buscam o Poder e o Ter como as únicas alternativas se ter o domínio não só de um grupo mas de todas as nações da terra, em um absolutismo cruel que atropela e faz sucumbir todos os sonhos e ideais de um povo, desencadeando ódio e violência entre classes, levantando barreiras entre as nações.

Neste sentido Jesus é o único rei que une e congrega todas as nações da terra, no mandato dos seus discípulos sua ordem foi bem clara:”Ide a todas as nações”. Os grandes impérios humanos que existiram e que ainda vão existir, todos sem exceção irão se acabar porque só o Reino de Deus é eterno e jamais passará. Assim como no passado o rei Davi unificou o norte e o sul, Jesus unificou o mundo inteiro e o seu reino não terá fim.

A arma poderosa que Jesus usou, para expandir o seu reino e torna-lo conhecido no mundo inteiro, não foi o poder bélico de um exército grandioso, nem tão pouco a coragem e valentia dos seus seguidores, que no primeiro confronto com o poder, fugiram todos deixando o mestre entregue nas mãos dos seus perseguidores.

Também não fez uso do poder econômico já que nasceu, viveu e morreu pobre, muito menos utilizou o poder divino para impor à força o seu reino. Mas empregou a força do amor!

Amor que ele manifestou em tantos gestos de acolhimento e misericórdia com os pobres e pecadores pois Jesus nunca quis destruir os que se opuseram ao seu reino mas ao contrário, quis ganha-los oferecendo também a eles a salvação enquanto que os reinos do mundo destroem e eliminam quem se interpõe em caminho Jesus constrói, restaura,renova e edifica o homem todo, sem distinção de raça, cor ou religião.

Por isso como Igreja, sinal deste reino no meio dos homens, muito mais que súditos ou meros simpatizantes somos todos discípulos que devem ter o coração sempre aberto a Deus e aos irmãos, manifestando em nossos gestos e palavras aquele mesmo amor que na manhã de um domingo irrompeu da escuridão da morte derrotando para sempre todas as forças do mal, inaugurando um reino que é definitivo.

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do D. Henrique Soares da Costa — Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo — ANO B

Jesus, Nosso Salvador e Rei do Universo!

“O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A ele a glória e poder através dos séculos” (Ap 5,12; 1,6). Estas palavras são da Antífona de Entrada da Solenidade de hoje e dão o sentido profundo desta celebração de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo.

Uma pergunta que pode vir – deveria vir! – ao nosso coração é esta: Jesus é Rei? Como pode ser Rei, num mundo paganizado, num mundo pós-cristão, num mundo que esqueceu Deus, num mundo que ridiculariza a Igreja por pregar o Evangelho e suas exigências?… Pelo menos do Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo o mundo não quer saber… Como, então, Jesus pode ser Rei de um mundo que não aceita ser o seu reinado? E, no entanto, hoje, no último domingo deste ano litúrgico de 2003, ao final de um ciclo de tempo, voltamo-nos para o Cristo, e o proclamamos Rei: Rei de nossas vidas, Rei da história, Rei dos cosmo, Rei do universo. A Igreja canta, neste dia, na sua oração: “Cristo Rei, sois dos séculos Príncipe,/ Soberano e Senhor das nações!/ Ó Juiz, só a vós é devido/ julgar mentes, julgar corações”. O texto do Apocalipse citado no início desta meditação dá o sentido da realeza de Jesus: ele é o Cordeiro que foi imolado. É Rei não porque é prepotente, não porque manda em tudo, até suprimir nossa liberdade e nossa consciência. É Rei porque nos ama, Rei porque se fez um de nós, Rei porque por nós sofreu, morreu e ressuscitou, Rei porque nos dá a vida. Ele é aquele Filho do Homem da primeira leitura: “Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá”. Com efeito, o reinado de Cristo não tem as características dos reinados do mundo.

(1) Ele é Rei não porque se distancia de nós, mas precisamente porque se fez “Filho do homem”, solidário conosco em tudo. Ele experimentou nossas pobrezas e limitações; ele caminhou pelas nossas estradas, derramou o nosso suor, angustiou-se com nossas angústias e experimentou tantos dos nossos medos. Ele morreu como nós, de morte humana, tão igual à nossa. Ele reina pela solidariedade.

(2) Ele é Rei porque nos serviu: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Serviu com toda a sua existência, serviu dando sempre e em tudo a vida por nós, por amor de nós. Ele reina pelo amor.

(3) Ele é Rei porque tudo foi criado pelo Pai “através dele e para ele” (Cl 1,15); tudo caminha para ele e, nele, tudo aparecerá na sua verdade: “Quem é da verdade, ouve a minha voz”. É nele que o mundo será julgado. A televisão, os modismos, os sabichões de plantão podem dizer o que quiserem, ensinarem a verdade que lhes forem conveniente… mas, ao final, somente o que passar pelo teste de cruz do Senhor resistirá. O resto, é resto: não passa de palha. Ele reina pela verdade.

(4) Ele é Rei porque é o único que pode garantir nossa vida; pode fazer-nos felizes agora e pode nos dar a vitória sobre a morte por toda a eternidade: “Jesus Cristo é a testemunha fiel e verdadeira, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o soberano dos reis da terra”. Ele reina pela vida.

Sim, Jesus é Rei: “Eu sou Rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo!” Mas seu Reino nada tem a ver com o triunfalismo dos reinos humanos – de direita ou de esquerda! Nunca nos esqueçamos que aquele que entrou em Jerusalém como Rei, veio num burrico, símbolo de mansidão e serviço. Como coroa teve os espinhos; como cetro, uma cana; como manto, um farrapo escarlate; como trono, a cruz. Se quisermos compreender a realeza de Cristo, é necessário não esquecer isso! A marca e o critério da realeza de Cristo é e será sempre, a cruz!

Hoje, assistimos, impressionados, a paganização do mundo, e perguntamos: onde está a realeza do Cristo? – Onde sempre esteve: na cruz: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”. O Reino de Jesus não é segundo o modelo deste mundo, não se impõe por guardas, pela força, pelas armas: meu Reino não é daqui! É um Reino que vem do mundo do amor e da misericórdia de Deus, não das loucuras megalomaníacas dos seres humanos. E, no entanto, o Reino está no mundo: “Cumpriu-se o tempo; o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15); “Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou para vós” (Lc 11,20). O Reino que Jesus trouxe deve expandir-se no mundo! Onde ele está? Onde estiverem o amor, a verdade, a piedade, a justiça, a solidariedade, a paz. O Reino do Cristo deve penetrar todos os âmbitos de nossa existência: a economia, as relações comerciais, os mercados financeiros, as relações entre pessoas e povos, nossa vida afetiva, nossa moral pessoal e comunitária.

Celebrar Jesus Cristo Rei do Universo é proclamar diante do mundo que somente Cristo é o sentido último de tudo e de todos, que somente Cristo é definitivo e absoluto. Proclamá-lo Rei é dizer que não nos submetemos a nada nem a ninguém, a não ser ao Cristo; é afirmar que tudo o mais é relativo e menos importante quando confrontado com o único necessário, que é o Reino que Jesus veio trazer. Num mundo que deseja esvaziar o Evangelho, tornando Jesus alguém inofensivo e insípido, um deus de barro, vazio e sem utilidade, proclamar Jesus como Rei é rejeitar o projeto pagão do mundo atual e proclamar: “O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A ele a glória e poder através dos séculos”. Amém (Ap 5,12; 1,6).

D. Henrique Soares da Costa


Comentário Exegético — Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo — ANO B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (AP 1, 5-8)

INTRODUÇÃO: Nestes versículos da introdução do Apocalipse, João escreve um canto à realeza e poder de Cristo. Evoca a expressão bíblica de ele é o que é, própria de Jahveh. Cristo é  a testemunha fiel das promessas, agora feitas realidade nos últimos tempos. É o primogênito por sua ressurreição e constituído o chefe sacerdotal, por ser aquele que com seu sangue purificou dos pecados os seus discípulos que com ele oferecem o sacrifício de louvor em suas vidas, como representantes da criação inteira. Só falta o triunfo final de quem é o poder que já domina o mundo por meio de seus planos, ainda ocultos.

TESTEMUNHA E PRÍNCIPE: E da parte de Jesus Cristo, a testemunha [martys<3144>=testis], a fiel [pistos<4103>=fidelis], o primogênito [prötotokos<4416>=primogenitus] dos mortos e o príncipe [archön <758>=princeps] dos reis da terra a quem nos amou e nos lavou [lousanti<3068>=lavit] dos pecados em seu sangue (5). Et ab Iesu Christo qui est testis fidelis primogenitus mortuorum et princeps regum terrae qui dilexit nos et lavit nos a peccatis nostris in sanguine suo. TESTEMUNHA: A Palavra Martys [ou martir] significa testemunha, como em Mt 18,16: se não te ouve, toma contigo uma ou mais testemunhas. No Apocalipse Jesus é a testemunha fiel [pistos]. Minha testemunha é o título dado a Antipas, em Pérgamo, que foi queimado dentro de um boi de bronze no tempo de Domiciano, por não querer reconhecer o título de Kyrios [Senhor] dado ao imperador, numa cidade que, por seu culto ao mesmo, será chamada de sede de Satanás (Ap 2, 13). O título de testemunha fiel é repetido em 3, 14 e ainda acrescenta veraz. Nos clássicos, testemunha é também a palavra de quem atesta ou testifica o fato. Testemunha é aqui o próprio Cristo como princípio da criação de Deus em oposição ao primogênito dos mortos. Pois diz João em 1, 18: Também é o Amém como o imutável, que completa a política de Deus de modo perfeito. Em Jesus encontramos a máxima certeza de que quanto fala é a verdade que ouviu do Pai (Jo 8, 40). É, pois, uma testemunha constituída desde a eternidade, como quem estava presente no mais íntimo [no seio] da vida e atuação divina para manifestar publicamente seus planos (Jo 1, 18). E diante do tribunal de Pilatos confirmará seu testemunho, afirmando que nasceu e veio ao mundo para dar testemunho da verdade. De modo que todo aquele que é da verdade [busca ou pretende a mesma] ouve a sua voz (Jo 18, 37). Por outra parte, não só é suficiente que seja testemunha [martyr], mas que seja veraz, ou seja, que não altere o que viu e ouviu. E daí a palavra pistos que significa fiel, exato. Neste livro encontramos fiel unido a veraz 3 vezes (19, 11; 21, 5 e 22, 6). Ele em si mesmo é fiel e veraz ou verdadeiro, como atributo intrínseco à sua natureza e como qualidade essencial de sua palavra (21, 5 e 22, 6) por ser verídica e oposta à mentira. PRIMOGÊNITO DOS MORTOS: significa muito mais do que ser o primeiro ressuscitado; mas como todo primogênito, a ele se deve uma relação especial de quem são as promessas e ao que todos os irmãos devem reverenciar, como o representante vivo do Pai, ou como diz Paulo, o primeiro concebido [prototokos] entre muitos irmãos (Rm 5, 29) que em Cl 1, 18 explicará como o princípio, primogênito dentre os mortos [archë, prototokos ek tön vekrön] para ser em tudo ele o que tem a preeminência [pröteuön]. Princípio de uma nova era em que todos devem se assimilar a Cristo, o novo homem (Gl 6, 15) que restitui a semelhança com Deus (Cl 3, 10), perdida no velho Adão, pois foi criado como espírito que dá vida (1 Cor 15, 14); o qual é Cristo e do qual devemos nos revestir como de um homem novo (Ef 4, 23). Os antigos rabinos falavam de Jahveh como do primogênito do mundo e do primogênito como sendo um título messiânico. Jahveh disse: Como eu fiz Jacó um primogênito assim farei o rei Messias um primogênito (Sl 89, 28). PRÍNCIPE: Nesse mesmo salmo lemos a continuação que o fará o altíssimo [ypsëlon] entre os reis da terra. Agora temos a palavra archön que significa líder, comandante, soberano. Na realidade, antes que termine o livro do Apocalipse, Jesus tomará o domínio sobre todo reino na terra. Será o rei dos reis. A palavra príncipe significa primeiro, principal, chefe, cabeça. Por isso dEle deriva todo poder, como Ele afirmou em Mt 28, 18: A mim foi dado todo poder no céu e na terra. Por isso será chamado rei dos reis e senhor dos senhores (1 Tm 6, 15).  DEle recebem os outros senhores sua autoridade e por Ele seus poderes são limitados e sua fúria restringida, seus desígnios estão contidos e a Ele devem dar contas. LAVOU: O verbo Louö  é lavar como em Jo 13, 10 e usa-se como lavagem de todo o corpo em oposição a niptö que é usado para lavar partes do corpo como mãos, pés, etc. Na realidade para lavar objetos usa-se o verbo plunö <4150> que sai uma única vez em Ap 7, 14: são os que lavaram suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro. Usando o verbo louö prece que o pecado é uma pessoa como comenta Paulo e não uma noção abstrata, como podemos ver em: Por um homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte   (Rm 5, 12). Para que o corpo do pecado seja destruído a fim de que já não sejamos escravos do pecado (Rm 6, 6). EM SEU SANGUE: O lavado é uma limpeza de impurezas. Aqui  a impureza é o pecado e só com o sangue de Cristo ele é totalmente lavado. Temos o texto de Ap 7, 14 em que os perseguidos como mártires recebem os vestidos brancos, sinal de pureza e as palmas, sinal dos vencedores, segundo a linguagem simbólica do livro. As vestes brancas eram as dos sacerdotes que ministravam no santuário. No NT vemos o aspecto do anjo no sepulcro, ao rolar a pedra, como o do relâmpago e sua vestimenta branca como neve (Mt 28, 3) indicando sua procedência do reino da luz e junto ao trono do Altíssimo. Os dois anjos que anunciaram a subida de Jesus, estavam vestidos de branco (At 1, 10). Os 24 anciãos perto do trono divino com coroas de ouro na cabeça, estavam vestidos de branco (Ap 4, 4)  e branco  era o cavalo vencedor do capítulo 6, 2 e sobre cavalos brancos, como ginetes vestidos de linho fino branco, era o exército celeste (Ap 19, 14).

SACERDOTES PARA O LOUVOR: E nos fez reis e sacerdotes para Deus e Pai dele. A ele a glória [doxa<1391>=gloria] e o poder [kratos<2904>=imperium] pelos séculos [aiönas<165>=saecula] dos séculos. Amém [amën<281>=amen] (6). Et fecit nostrum regnum sacerdotes Deo et Patri suo ipsi gloria et imperium in saecula saeculorum amen. REIS E SACERDOTES: Depois de absolver-nos e limpar-nos de nossos pecados, Jesus nos  constituiu numa classe especial, que antigamente estava formada por reis que eram os sacerdotes principais do deus nacional, como foi Melquisedec, rei de Salém, (Gn 14, 18), citado em Hebreus como protótipo de Jesus Cristo (5, 6; 10 e 6, 20). Sendo nós cristãos da família de Jesus pelo batismo, a lógica impele a encontrarmos dentro da classe sacerdotal e real como era o antecessor comum, à semelhança do que aconteceu com a tribo de Levi e a classe sacerdotal de Aarão que lhes pertencia em propriedade (Êx 29, 9) perpetuamente por todas as suas gerações (Êx 40, 15). A Igreja é a continuação do antigo Israel a quem Jahveh consagrou como reino de sacerdotes e povo santo (Êx 19, 6) para seu culto e, enquanto tal, para exercer o sacerdócio em nome de todos os povos da terra. Isaías 62, 12 confirma o título de povo santo como nome que pertence aos resgatados do Senhor. Por isso, Pedro em sua primeira carta 2, 9 afirma:  Vós sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus. Este sacerdócio é exercido individualmente por cada um dos membros da Igreja como culto racional, apresentado o corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm 12, 1). Precisamente o novo Adão foi feito rei segundo Lucas 1, 33:  Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. E sacerdote como lemos em Hb 4, 14: Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Como Jesus, que veio fazer a vontade do Pai, todos temos uma hóstia a oferecer a Deus, dependente completamente de nossa vontade; é oferecer a nossa vida como um ato de conformidade, não com o mundo, mas com a vontade boa, agradável e perfeita de Deus. Esse é o nosso sacrifício, distinto do ministerial, oferecido pelo sacerdote ordenado em nome de todo o povo, que é o sangue e o corpo de Cristo, realizado em seu nome [isto é meu corpo, este é o meu sangue] sob seu  mandato: Fazei isto em minha memória (1 Cor 11, 24). Assim lemos em Hebreus 13, 15:  Por meio de Jesus, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome. GLÓRIA: Doxa em grego tem vários significados: honra, reputação, honorabilidade, todas correspondente ao modo de pensar humano. Mas a doxa bíblica, tradução grega da palavra Kabod<03519> é própria de Deus que se manifesta como majestade, glória e resplendor. Deus é chamado de Rei da majestade [melek ha-Kabod] em Sl 24, 7-8-9, que a Vulgata traduz por rex gloriae. A glória de Jahveh [doxa kyriou] é a manifestação gloriosa com a qual Deus aparecia aos antigos, como em Êxodo 24, 16 em que a glória de Jahveh apareceu sobre o Sinai em forma de relâmpagos e trovões. Em Lc 2, 9 a glória [claridade] do Senhor brilhou ao redor de Zacarias e o anjo. Logicamente aqui significa a honra devida a Jesus Cristo como Filho de Deus. PODER: A palavra é Kratos, que significa força, poder, vigor, energia, domínio. Lemos em Lc 1, 51: Usou de força [potentiam] com seu braço. E no canto do Cordeiro: A ele o louvor, a honra, e a glória e o domínio [potestas] pelos séculos dos séculos (Ap 5, 13). PELOS SÉCULOS: Eis tous aiönas  [in saecula]. E em outras ocasiões eis tous aiönas tön aiönön [in saecula saecularum], a palavra chave é Aiön, que está relacionado com aiei [sempre]; em latim aevum [tempo longo, idade, vida, século, perpetuidade] daí a tradução in saecula ou in saecula seculorum. No AT sai pela primeira vez em grego eis ton aiöna [leolan em hebraico] em Gn 6, 3 com o significado para sempre. No NT temos Jo 6, 51: quem comer deste pão viverá eternamente [eis ton aiona, in aeternum]. O plural indica o conjunto dos tempos ou idades e significa sempre, como será o reinado de Cristo: eis tous aiönas [para os séculos] ou in aeternum da Vulgata. A combinação dupla [eis tous aiönas tön aiönön] parece ser a preferida no NT  após Gl 1, 5, especialmente no Apocalipse em que sai 14 vezes e sempre traduzida como per saecula saeculorum ou pelos séculos dos séculos. A esta fórmula neotestamentária une-se frequentemente o AMÉM, com o significado de assim é, como parte de uma pequena oração, em geral de louvor, à qual nós, os orantes, admitimos dar nosso consentimento. Exemplo: no Apocalipse neste trecho e em 7, 12 como parte de um canto de louvor ao Cordeiro por parte dos escolhidos. De modo semelhante este meio versículo de hoje é um pequeno hino de louvor a esse Jesus, cujo sacerdócio ministerial nos salvou por meio de seu sangue, como acaba de declarar no versículo anterior.

TRIUNFO CELESTE: Eis que vem no meio das nuvens [nefelön<3507>=nubibus] e o verá todo olho  e todos os que o traspassaram [exekentësan<1574>=pupugerunt] e choraram [kopsontai <2875>=plangent] por ele: Todas  as tribos [fylai<5443>=tribus] da terra. Sim, amém. (7). Ecce venit cum nubibus et videbit eum omnis oculus et qui eum pupugerunt et plangent se super eum omnes tribus terrae etiam amen. NUVENS: A palavra Nefelë tem o sentido comum geográfico de nuvem; mas na bíblia, é aquela nuvem sobre a qual Jahveh precedia aos israelitas na sua marcha no deserto e que Paulo dizia estar pairando sobre eles, protegendo-os (1 Cor 10, 1). Essa nuvem era chamada de Shekinah. Em hebraico é Anan com o significado primitivo de cubrir. Shekinah é de origem caldeia, significando lugar de repouso e não encontrada nas escrituras, mas usada pelos judeus tardios para denominar o símbolo da presença de Deus no Tabernáculo ou tenda do testemunho [mishcam] (Êx 13, 21). Era, pois, o símbolo da presença de Deus com seu povo. Já no livro de Daniel aparece uma figura de homem nas nuvens do céu que era tipo do Messias (Dn 7, 13) para receber o Reino e Senhorio eterno; e seu reino não terá fim (Dn 7, 14). Esta visão escatológica [final] e ao mesmo tempo apocalíptica [em termos de imagem] será a que Jesus empregará em seu sermão diante de Jerusalém (Mt 24, 30), quando chora sua ruína,  e perante o Sumo Pontífice no Sinédrio (Mt 26, 64). Já sabemos que é um estilo na base de imagens que não são reais, mas simbólicas e metafóricas. Seu triunfo já se cumpriu e continuará até o fim dos tempos históricos. Porém, há o relato de At 1, 9-11 em que os anjos dizem que ele virá como o viram os apóstolos, testemunhas de sua Ascensão. Ambas as interpretações podem ser verdadeiras se temos em conta que o triunfo de Jesus tem pontos álgidos na História, como é a destruição do templo ou a destruição do muro de Berlim em nossa época. Uma interpretação talvez com base em que os exércitos eram considerados como nuvem em batalha, diz que a nuvem de Cristo é a multidão de seus crentes. Eles formam sua nuvem de glória, sua Shekinah. TRASPASSARAM: Todo olho o verá, significa que não será um segredo, mas fato patente. Sua vida não foi conhecida; em grande parte da mesma, viveu ocultamente em Nazaré; e mesmo no curto tempo de sua vida pública, ele não foi reconhecido por todos. Agora, nos últimos tempos, será reconhecido. Esse reconhecimento deu-se em tempos dos romanos, quando em 313 o edito de Milão reconheceu a legalidade do cristianismo, que deixou de ser perseguido como inimigo do povo romano, representado precisamente pelo soldado que o traspassou na cruz por meio da lança, soldado que pertencia as suas legiões. Aqui, como no momento da cruz, temos uma alusão à profecia de Zacarias 12, 10: Olharão para aquele que traspassaram pranteá-lo-ão como quem pranteia por um unigênito e chorarão por ele como se chora amargamente pelo primogênito. Quando? Só temos certeza que um dia o povo de Israel, como nação, terá que exclamar: Bendito o que vem em nome do Senhor (Mt 29, 39) e que Paulo diz será o que precede o fim, visto que, aparentemente, Israel será o último a reconhecer e entrar para formar parte do reino de Jesus (Rm 11, 25-26). TODAS AS TRIBOS DA TERRA: A salvação, que tem como base principal o reconhecimento de Jesus na cruz [in hoc ligno regnat] como Senhor, é um admitir como diz o poeta que “todos nele pusemos nossas mãos”. É um arrependimento que veio profetizado por Mt 24, 30: Então o sinal do Filho do Homem aparecerá no céu, e então todas as tribos da terra lamentarão e verão o filho do Homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. AMÉM: é a palavra final de uma oração ou um louvor, que diz sim, assim se cumprirá.

PRINCÍPIO E FIM: Eu sou o alfa e o ômega o princípio e o fim – diz o Senhor – o que é e o que era e o que virá, o Todo-poderoso (8). Ego sum Alpha et Omega principium et finis dicit Dominus Deus qui est et qui erat et qui venturus est Omnipotens ALFA é a primeira  letra do alfabeto grego e Ömega a última de modo que dizer eu sou o alfa e o ömega é o mesmo que o princípio e o fim [ë archë kai to telos] ou o primeiro e o último [o prötos kai o eschatos] de 22, 13. Isaías 41, 4 é a chave no AT: Quem fez e executou tudo isso? Aquele que desde o princípio tem chamado as gerações à existência, eu, o Senhor, o primeiro [rishon<07223>] e também com os últimos [acharon<0314>]. João acaba de terminar sua introdução. Agora Jesus se apresenta como tomando a palavra diretamente. Como temos visto em Isaías, o conceito não é novo e é o próprio Jahveh que pessoalmente o usa. Serão estas as palavras do Pai ou é Jesus, o Filho, quem as pronuncia? Esta segunda hipótese parece a única admissível. O livro se intitula A Revelação de Jesus Cristo (Ap 1, 1). Em Ap 22, 13 claramente o Alfa e Omega, o Princípio e Fim, são títulos que Jesus reclama para si mesmo. Se ele é o início e o fim, ele tem autoridade sobre todas as coisas no intervalo. Isto significa que ele tem um plano para a História e que tem o domínio para dirigir os eventos humanos a um fim que é Ele mesmo. Não existe nem o acaso nem uma causa evolutiva fora do que podemos chamar o triunfo de Cristo: até que todos os inimigos sejam postos embaixo de seus pés (1 Cor 15, 25). O QUE É: estas são as palavras do vidente perante a revelação formal de Cristo. Ao unir o tempo passado e futuro com o presente, indica-se uma estabilidade e imutabilidade do ser e das potencias do mesmo: uma presença inalterável e contínua como eram os preceitos de Jahveh segundo o salmo 111, 8: imutáveis pelos séculos dos séculos, fundamentados no direito e na verdade. Do Messias, o profeta Miqueias disse que reinará em Israel e cujas origens são desde os tempos antigos desde os dias da eternidade (5, 2). E em Hebreus: Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre (13, 8). TODO-PODEROSO: É a tradução do Pantokratör grego que tudo pode, ou controla sob seu domínio e que aparece em Sb 7, 25 e Eclo 42, 17 com esse nome, pois ambos os livros têm como língua origem o grego. Os intérpretes modernos dizem que é a tradução grega do hebraico Jahveh Sabaoth [Deus dos exércitos] ou El Shadday [Deus da montanha, ou Deus destruidor]. Este nome [Pantocratör] aparece 10 vezes no  NT das quais nove em Apocalipse e a outra em 2 Cor 6, 18. Precisamente neste último livro o poder de Cristo prevalece diante do poder do maligno, representado principalmente pelo poder dos outros Kyrios, como eram os imperadores de Roma. Sabemos como na Idade Média o Pantokrator era a figura majestosa de Cristo no trono, abençoando o mundo com a mão direita, e tendo na esquerda o livro dos evangelhos. Seus dedos abertos representam as letra IC, X e C do chamado Cristograma por JesuC XristoC no meio da amêndoa mística ou mandorla [vesica piscis] que significava ventre do peixe, sendo o IXTHYS o símbolo de I esus X ristos T heou Y ios S oter [Jesus Cristo, Deus  Filho, Salvador].

EVANGELHO (Jo 18, 33-37) -  CRISTO REI
Lugares Paralelos: (Mt 27, 11-14; 1 Tm 6, 13; Dn 2, 44; Jo 6, 15 )

INTRODUÇÃO: Os sinóticos tratam do Reino a ser fundado e difundido. João tem como objetivo a divindade de Jesus, mas não abandona a terra e, dentro dela, Jesus tem um papel único: ser rei de um reino especial. O último dia de Jesus está dedicado ao REI, tanto na acusação perante Pilatos como na sentença e causa da mesma, na cruz. O evangelista se apoia no julgamento oficial de Pilatos para declarar por boca da verdade [eu vim para dar testemunha da verdade] que Jesus era o Rei esperado pelos judeus e que por defender sua causa, ele, não a multidão ou os soldados que formam seu exército, morre como condenado. Mas vejamos os detalhes.

    A PERGUNTA: Entrou, pois, de novo, Pilatos no pretório e chamou Jesus e disse-lhe: És tu o Rei dos Judeus? (33). Introivit ergo iterum in praetorium Pilatus et vocavit Iesum et dixit ei tu es rex Iudaeorum. O diálogo agora está entre duas únicas personagens:  Pilatos e Jesus. PILATOS: Segundo a tradição, Pontius Pilatos pertencia ao clã dos Pontii. Seu segundo nome, derivado de pilum [javalina ou dardo], significa armado de dardo. O pilum era uma haste de madeira de 2,0m de comprimento que terminava no seu último terço numa ponta metálica branda, de modo que com o impacto se curvava e não podia ser usada de novo pelo inimigo que o recebia. O pilum foi abandonado no século XVI. Pilatos foi nomeado prefeito de Judeia através da influência de Sejano (Lúcio Aélio), administrador-chefe de Tibério e prefeito de sua guarda pessoal. Sejano conseguiu o consulado e logrou que Tibério se refugiasse em Capri, ilha perto de Nápoles, para assim ser dono do poder. Acusado de ter matado Druso, o único filho de Tibério e de intentar um golpe de Estado, Sejano foi decapitado no ano 31 e seu corpo arrastado pelas ruas de Roma, onde se tornara odiado. Após a destituição de Arquelau, filho de Herodes, o Grande, a região compreendida pela Judeia, Samaria e Idumeia foi diretamente governada por Roma através de representantes diretos do imperador, por praetores legati, [epítropoi <2012> em grego] ou praefecti [de eparchia <1885> [província], eparchos, o presidente desse território] funcionários com atribuições variáveis. Em geral, eram administradores dos bens públicos ou finanças, como membros da classe dos equestres [équites]. Mas em tempos de Augusto, além da administração, tinham verdadeira exousia ou autoridade, tanto militar como judicial, até o jus gladii, ou direito de morte; mas estavam sujeitos à autoridade do seu chefe superior que era o legatus da província principal, neste caso da Síria, administrada por um procônsul da ordem senatorial. O legado da Síria dispunha de três legiões (36 mil homens) e o procurador da Judeia só de forças auxiliares (praticamente policiais), geralmente de origem samaritana ou síria. Parece que essas forças de Pilatos eram duas coortes. Cada coorte equivalia a um batalhão de 420 homens comandado por um tribuno militar, mas seu número foi reduzido a 360 homens no tempo do império. Pilatos comandava as duas: uma em Cesareia, porto de mar; e a outra em Jerusalém. Nos evangelhos, Pilatos é chamado de hëguemön <2232> (Lc 3, 1), traduzido ao latim por praeses, ou procurator e nas línguas romances por governador ou presidente. Sem dúvida que o latim é mais preciso do que o grego, pois os evangelhos são, neste ponto, bastante imprecisos. Nos Atos temos uma maior precisão, ao falar de Paulo Sérgio como anthypatos (latim proconsul) de Creta, e da Judeia como eparkheia (província) da qual era hëguemon Festo. A palavra hëguemön é usada indistintamente para todo poder superior numa região em que o governador tivesse poder judicial representado pela BEMA ou tribuna judicial, de modo que sentar-se no tribunal era a frase comum para indicar que se estava presidindo um julgamento, como no caso de Pilatos com Jesus (Mt 27, 19 e Jo 19, 13).  NOTA: Não posso deixar de apontar uma péssima tradução da bíblia de Jerusalém portuguesa  que diz em Jo 19, 13: Pilatos trouxe Jesus para fora, fê-lo sentar-se no tribunal, no lugar chamado pavimento,em hebraico Gábata. Quem realmente se sentou no tribunal [bema] foi Pilatos, pois o bema, que podemos traduzir por rostrum em latim, significava o estrado. A autoridade de Pilatos era o chamado Imperium, ou suprema, dentro da região que governava, porque os judeus tinham certa autoridade no tribunal do grande conselho ou sinédrio. O nome técnico latino para o ofício de Pilatos era o de procurator. Dele sabemos que governava sem se importar muito com os privilégios dos judeus ao quais profundamente desprezava: primeiro introduzindo as insígnias imperiais em Jerusalém, logo tomando dinheiro do Korban do templo para construir um aqueduto; e finalmente, com a matança dos galileus no templo, fato narrado pelo evangelista (Lc 13, 1). A lenda diz que estava casada com Pórcia, filha de Tibério e que, chamado a Roma, foi desterrado às Gálias onde terminou sua vida suicidando-se. A história diz que, devido à matança dos samaritanos no monte Garizim, foi deposto pelo legado da Síria, Vitélio, e chamado a Roma. Seu mandato durou 10 anos, de 26 a 36. NOTA: Korban [plural korbanoth] nome geral significando sacrifício, era a palavra com que se designavam os sacrifícios de animais ritualmente mortos e usualmente assados e comidos pelo oferente e os sacerdotes, sendo uma parte queimada no altar. Korbanot podiam ser outras oferendas como farinha, azeite, etc para o templo. O propósito dos sacrifícios era venerar, pedir favores ou perdão a Deus.   PRETÓRIO: Em grego praitörion <4232> de praetor, o antigo magistrado com autoridade judicial e que era responsável pelos jogos de Roma e, na ausência do cônsul (suprema autoridade), exercia poder amplo no governo da mesma. Como em 242 AC os peregrini (estrangeiros) eram muitos, ao praetor urbanus (pretor da urbe) foi acrescentado um praetor peregrinus (pretor dos estrangeiros). Este número foi aumentado com as conquistas de Sicília, Cerdanha, Espanha, etc., de modo que o número dos praetores peregrini no século I AC era de oito. Dentre eles, dois exerciam autoridade sobre matéria civil e os outros seis para casos particulares como extorsão, suborno, desfalques, traição, assalto, assassinato e falsificação. Após um ano de serviço, eles se tornavam governadores provinciais. Foi o caso de Pilatos? Ao ser nomeado praetor, o magistrado publicava um edito que seria sua norma de serviço ou conduta. Estes editos serviam para a adaptação da lei romana às novas condições e princípios de convivência entre os diversos povos do Império. Nos últimos anos do mesmo só o praetor urbanus permaneceu, com o único poder de organizar os jogos públicos. Como vemos, Roma foi declarada com toda razão como o império da lei, baseado na justiça, mesmo que esta justiça fosse só a instrumentalizada pelos agentes puramente legais. Na Judeia, o hegemones [governador] romano recebeu o nome de praetor até o ano 42 e desde esse ano seu título era procurator [que toma cuidado de]. Geralmente os ricos romanos tinham procuradores que sempre eram homens livres. Quando Augusto organizou o império, no início de nossa era, usou de procuradores para administrar seus grandes domínios tanto privados como públicos. Nas províncias, diretamente sob seus domínios, Augusto não podia empregar questores [da classe senatorial com menos de 32 anos e encarregados de cobrar os impostos] porque nenhum senador se prestaria a servir sob alguém que praticamente era seu igual. Assim nomeou procuradores como responsáveis pelas taxas. Os procuradores que serviam nas províncias senatoriais receberam poderes judiciais, coisa que se converteu em lei com Cláudio em 53. Nesse reinado, os procuradores se transformaram em governadores com poder total, como aconteceu na Judeia totalmente anexada no ano 41 quando o procurador era o governador unicamente responsável ao imperador. Desde o tempo de Tibério pertenciam aos equestres. Tácito chama Pôncio Pilatos de procurator, que de fato era um prefeito, como era o título do presidente do Egito, província do imperador.  Dentre os prefeitos, temos o praefectus civitatium, ou seja, o designado pelo governador de uma província para governar parte dela. O exemplo mais famoso é o prefeito da Judeia entre 26 e 36: Pôncio Pilatos. Voltando, porém, ao PRETÓRIO, este era, em tempos antigos, a tenda do comandante, como chefe de um acampamento romano. Depois passou a designar o palácio do governador de uma província. Esses palácios foram em muitos casos edificados pelos antigos reis ou príncipes das mesmas. No casso de Pilatos, o pretório ocupava o palácio de Herodes, o Grande, em Cesareia. Mas quando se trasladava durante as festas a Jerusalém, ocupava o palácio de Herodes (ano 23 AC) perto da colina ocidental, atualmente perto da porta de Jafa. Também poderia ser a torre Antônia (ano 35 AC), bastião asmoneu que o mesmo rei utilizou como castelo e como palácio durante 12 anos. Estava situada na colina oriental, encostado ao norte do recinto do templo, sendo ao mesmo tempo quartel da coorte. Umas escavações mostraram um pátio de lousas que corresponde ao lithóstrotos [literalmente pavimento de pedras] de Jo 19, 13. Desde o século XII os cruzados viram, nesta torre, o palácio onde Jesus foi julgado por Pilatos e a tradição chegou assim aos nossos dias. OS EQUESTRES: Os membros da ordem equestre (equites), pertencentes a uma categoria de cidadãos romanos que, por suas riquezas, estava em inferioridade à dos senadores (optimates) e superior à dos plebeus (populares). Entre os habitantes de Roma de categoria inferior aos últimos, plebeus sem patrimônio, podemos contar os estrangeiros livres, mas sem cidadania (peregrini), os libertos e os escravos. Na antiga Roma os equestres eram da classe senatorial e eram chamados equites equo publico [cavaleiros de cavalo público] porque as montarias eram pagas com erário público. Mas desde o século IV AC os que não eram senadores foram enrolados na cavalaria de tal modo que tinham de pagar suas montarias e eram chamados de equites equo privato [cavaleiros de cavalo particular]. Como no século I a cavalaria era formada por estrangeiros, os equestres foram empregados em postos de responsabilidade: no exército, como oficiais; e, na vida civil, como publicanos ou administradores dos impostos, das minas, pedreiras e propriedades do Estado. Assim formaram uma classe especial, diferente dos optimates e dos populares. Augusto (+14) organizou a ordem equestre como uma classe militar, removendo-a assim da arena política. As qualificações para ser membro da mesma eram: nascimento livre, riquezas, boa saúde e boa conduta. Na carreira equestre era obrigatório ocupar um número de postos subordinados antes de alcançar os mais desejados, sempre sob a dependência da designação do imperador. Na vida civil os equestres tinham opção a cargos elevados como funcionários civis, especialmente na administração das províncias. Os equestres tinham também cargos militares no Egito e nas províncias de classe inferior, como era o caso de Pilatos. O TRIBUNAL:  O espaço do foro romano para os debates públicos e tribunal de causas, estava formado em forma de proa de um barco. Era o rostrum, a plataforma da qual se serviam os oradores  e advogados para falar em público. Na realidade, rostrum era a proa em forma de esporão dos barcos de guerra, que terminava em aríete ou carneiro. Seu plural, rostra é o nome da plataforma no Forum romano, da qual os oradores se dirigiam ao povo; e desta plataforma muitos e famosos oradores da história romana pronunciaram seus discursos. Inicialmente foi construída uma plataforma [suggestum, tribuna, ou púlpito] formando parte do Comitium [área na frente da Cúria onde os oradores examinavam as causas e o povo se reunia para as curiatas reuniões das 36 partes em que se dividia Roma]. Tipicamente essa plataforma era chamada tribunal, mas depois da vitória de Duílio em Milae [perto da Sicília] em 260 aC sobre os cartagineses, seis proas de bronze de barcos inimigos foram colocadas na fronte do tribunal. Como rostra é o nome plural de proa com esse nome foi conhecido o tribunal ao fundo do Forum. Esse estrado era a tribuna, cópia da Bema grega, a plataforma do tribunal de justiça. CADEIRA CURUL: Em latim era a sella curulis [sella é assento, (silla em espanhol) e curulis de carro, o carro triunfal]. Era a cadeira dobrável que os magistrados levavam no carro para assentar-se quando se apresentavam em público. Somente três cargos tinham o direito à cadeira curul: os cônsules, os tribunos e os pretores, que também tinham o jus imaginum [direito a ter estátuas], que entre os gregos só tinham os vencedores dos 100 m olímpicos e os mortos por um raio [o instrumento de Júpiter (Zeus)], pois se considerava escolhido pelo Deus supremo. Mais tarde se tornou o trono dos magistrados que possuíam o impérium, que além dos citados eram o magister equitum e o edil curul, junto com o flamen dialis [o pontífice máximo de Júpiter]. A cadeira curul estava construída ou forrada de marfim com patas curvadas formando um ampliado X. Não possuía respaldo e seus braços eram relativamente baixos. Júlio César assentava-se numa curul de ouro, como correspondia a um ditador vitalício. Podemos afirmar que a curul era o substitutivo do trono dos reis orientais. Os romanos, amantes do direito e de suas normas, jamais condenariam um réu sem os formalismos pertinentes: a curul, o rescrito e o título que devia pendurar do pescoço do condenado e da cruz em última instância. Não faltava  ao magistrado Pilatos a toga praetexta o amplo manto com bordas roxas próprio dos magistrados e sem o qual eles não podiam se apresentar em público ou realizar suas funções.  Como equivalente ao trono temos uma descrição de Paulo que alguns intérpretes ligam com o bema ou assento curul em  1 Cor  3, 12-15. É desta forma que Pilatos, o procurador, julgou Jesus, segundo Mt 27, 19 e Jo 19, 13, segundo vemos neste primeiro versículo. ÉS TU O REI DOS JUDEUS?: Aqui começa o interrogatório, sempre necessário, dando pé a uma defesa do acusado. Além desta acusação Pilatos tinha mais outras; algumas de ordem religiosa, pelas quais Jesus foi condenado segundo a lei dos judeus (Jo  18, 7) por se dizer filho de Deus. Lucas nos diz que também o acusaram de impedir que se pagassem os impostos ao César. E de sublevar o povo (Lc 23, 2 e 23, 5). Mas a acusação principal era de que Jesus se intitulava rei dos judeus (Mt 27, 11; Mc 15, 2 e 12; Lc 23, 2 e Jo 18, 33). De fato, a acusação só aparece na pergunta de Pilatos, pois vemos que João diz: se não fosse malfeitor, não O entregaríamos a ti. (Jo 18, 30). A palavra malfeitor kakopoios <2555> é traduzida por malefactor, com propriedade, pela Vulgata. Mateus fala de bandidos, lëstai <3027>[latrones latino], términos que vemos em Marcos. Lucas fala de  kakourgoi <2557> [latrones latino e malfeitores na B J].  Voltando às acusações, a principal e pela qual Jesus foi condenado é por dizer de si ser Cristo Rei (Lc 23, 2) Christon <5547> basilea <935> einai. Por isso, na tabuinha da cruz estava escrito rex iudeorum [rei dos judeus]. A pergunta de Pilatos reponde à acusação de lesa maiestas, da lex Iulia de maiestate. A qual afirma que é um crime próximo ao sacrilégio o que é chamado de majestade. E entre os artigos em que entra este cabeçalho está o de formar juntas ou reuniões ou convocar homens à sedição [quove coetus conventusve fiat hominesve ad seditionem convocentur ]. Esta era precisamente a acusação inicial dos membros do Sinédrio (Lc 23, 2) seguida pela de impedir os impostos a César.

RESPONDE JESUS: Respondeu-lhe Jesus: De ti dizes isto, ou outros te disseram sobre mim? (34). Et respondit Iesus a temet ipso hoc dicis an alii tibi dixerunt de me. Segundo os três sinóticos, a resposta de Jesus à pergunta de Pilatos de se era o rei dos judeus, é um simples tu (o) dizes, que  deve ser entendido em sentido afirmativo, a respeito de ser Ele, Jesus, o rei dos judeus. Porém em João, Jesus responde com uma pergunta e essa pergunta de Pilatos. É uma clara advertência ao juiz que tinha na sua frente: Se ele –Pilatos- tinha chegado a essa conclusão na base de suas informações, políticas e policiais próprias; neste caso, o acusado aceitava o julgamento correspondente, pois implicava numa certeza objetiva.  Mas, se Pilatos aceitava as acusações de outros –o Sinédrio, composto por inimigos- Pilatos devia pensar que a verdade estava camuflada e pervertida por interesses ocultos e partidários.

 RESPOSTA DO JUIZ: Respondeu Pilatos: Por acaso sou eu judeu? A nação, a tua e os chefes sacerdotais te entregaram a mim. Que fizeste? (35). Respondit Pilatus numquid ego Iudaeus sum gens tua et pontifices tradiderunt te mihi quid fecisti. Pilatos responde que ele não tinha procurado Jesus, porque não era judeu para se imiscuir em problemas de crenças que não lhe interessavam. Mas se o povo e os principais dirigentes acusavam Jesus, não podia ser totalmente gratuita essa imputação. Devia existir uma causa e, portanto, pergunta: que fizeste? Ou o mesmo que dizer de que te acusam e por que te imputam.

  JESUS SE DEFENDE: Respondeu Jesus: O Reino, o meu, não é deste mundo; se deste mundo fosse o Reino, o meu, os subalternos meus não teriam lutado para que não fosse entregue aos judeus? Agora, portanto, o Reino, o meu, não é daqui (36). Respondit Iesus regnum meum non est de mundo hoc si ex hoc mundo esset regnum meum ministri mei decertarent ut non traderer Iudaeis nunc autem meum regnum non est hinc. Com essa resposta, Jesus se defende e afirma estas três coisas: 1º) Que Ele é rei, pois três vezes declara que tem um reino próprio. 2º) Que esse reino não é como os reinos geográficos, territoriais, em que o poder impera sobre os súditos de modo que estes estão a serviço do rei para defendê-lo. 3º) Que se essa luta não se deu, é que seu reino não vai contra ninguém, nem pretende dominar;  e, portanto, Pilatos não deve se preocupar com a realeza de seu imputado. Vejamos em que consiste, pois, o reinado melhor do que o reino de Jesus, o Cristo. O REINO: O tema do reino é essencial nos sinópticos. Constitui a base para uma maioria de parábolas que se iniciam com o reino de Deus é semelhante, como em Mt 13, 20 na parábola do joio ou da mostarda (Mt 13, 24-34). As palavras de Jesus são um anúncio desse reino como são as do anúncio dos apóstolos (Mt 10, 7). A vinda do Reino forma parte de nossa oração diária (Mt 6, 10) e das ambições dos discípulos (Mt 18, 1). Para entrar nele é preciso nascer de novo (Jo 3, 3). É um reino basicamente presente na atuação da pessoa de Jesus (Mt 12, 28) com a Igreja, como fundamental mediadora em relação a Deus (Mt 16, 29). O reino exige uma santidade especial (Mt 5,20) e tem uma dimensão transcendente a consumar-se na perfeição, unicamente no além (Mt 25, 34 e Lc 2, 16). Por isso dirá Jesus que meu reino não é deste mundo: nem pela sua origem, nem pela sua constituição. A origem dos reinos deste mundo era, segundo Daniel, maléfica (bestas nascidas do abismo em 7, 3). Porém o quinto reino, tinha uma origem celestial, divina, pois estava representado por um Filho de Homem descendo das nuvens do céu (Dn 7, 13+), nuvens sobre as quais se assentava o próprio Deus. A principal diferença com os reinos comuns da terra consiste em que os súditos são servidos e as autoridades são servidores ou diáconos (Mt 20, 25-26). Pilatos mal podia adivinhar que aquele homem na sua frente ia morrer para que todos os que nele cressem tivessem vida, o que constituía o melhor ato de amor para os que seriam, não seus servos, mas seus amigos (Jo 15, 13 e 15).

DIÁLOGO FINAL: Por isso lhe disse Pilatos: logo tu és rei? Respondeu Jesus: tu dizes; porque Eu sou rei. Eu para isso tenho nascido e para isso tenho vindo ao mundo: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve minha voz (37). Dixit itaque ei Pilatus ergo rex es tu respondit Iesus tu dicis quia rex sum ego ego in hoc natus sum et ad hoc veni in mundum ut testimonium perhibeam veritati omnis qui est ex veritate audit meam vocem. O TESTEMUNHO: Em que sentido Jesus é o rei do seu novo e singular reino? Ele é o mártir que serve de testemunha a uma verdade absoluta e total, a ALETHEIA divina. Por isso é descrito como a luz divina que ilumina todo homem (Jo 1, 9), como o olho ilumina a quem não quer ficar cego (Jo 9, 39). João, o Batista, também foi uma testemunha que veio dar testemunho da luz, embora ele não fosse essa luz (Jo 1, 8). Jesus era a luz para que os cegos até então (Jo 9, 39) recobrassem a faculdade de caminhar sem tropeçar (Jo 8, 12 e 12, 35) e recebessem o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1, 12). Jesus, em si mesmo, é a lente com a qual o Pai olha os homens e o espelho em que os homens devem se olhar para encontrar a verdade de suas vidas e com a verdade o caminho e viver como vidas verdadeiras (Jo 14, 6). Como verdade última convém recordar especialmente a boa nova que ele revela a Nicodemos: “Tanto amou Deus o mundo que entregou seu Filho único a fim de que todo aquele que crer tenha nele a vida eterna” (3, 16). É para demonstrar esse amor de Deus que o Verbo, como canta Paulo, rebaixou-se a si mesmo (como se fosse um escravo) e (assim rebaixado) foi obediente até a morte e morte de cruz (Fp 2,8). Pilatos ia ser o instrumento legal de semelhante morte testemunhal. A VERDADE BÍBLICA: ALETHEIA. A verdade na bíblia é sinônimo de fidelidade (Dt 32, 4). O EMET hebraico com que é designada, provém de uma raiz que significa inspirar confiança, aplicada sobretudo a Deus, indicando fidelidade às suas promessas por parte de Jahveh. Unida a HESED, indica que junto com a ternura determina as qualidades divinas com as quais Jahveh cuida da vida dos seus adoradores (Êx 34, 6+). No Novo Testamento ALETHEIA (verdade em grego) significa também reta conduta por parte do homem, o qual é sinônimo de justiça. Paulo fala de chegar ao conhecimento da verdade, ou seja, da palavra de Deus como evangelho, não como filosofia humana, frente às fábulas dos doutores que são pregadores de mentiras (I Tm 2, 4). Devemos, portanto, rejeitar as fábulas profanas (I Tm 4, 7) tanto quanto as judaicas (Tt 1, 7), indicando com isso a facilidade com que o homem erra ao querer ser dono da verdade. Para ele a Igreja é coluna da verdade (I Tm 3, 15) que em definitivo, não é outra senão sua mensagem sobre Cristo morto e ressuscitado e, portanto, tem a Cristo como verdade salvífica. Em João, a verdade procede do Pai como palavra que Cristo veio proclamar (8, 40). Se a lei chegou por Moisés, a verdade apareceu em Jesus, pois o revelador é o revelado revestido com a gratuidade do amor que o Pai nos tem (amor e verdade de que o Filho é revestido em 1, 14). Jesus promete enviar o Espírito da verdade para que seus discípulos sempre compreendam plenamente suas palavras (Jo 14, 17 e 26) como memória exata do evangelho por ele ensinado. O discípulo deve andar sempre na verdade, isto é, se deixar guiar pela verdade de Cristo. Seguramente Pilatos não era daqueles que buscavam a verdade, porque sua resposta foi uma interrogação completamente incrédula: que coisa é a verdade?

PISTAS:

1) O ano litúrgico termina com o anúncio de uma nova escatologia: Jerusalém, a cidade santa, o templo, lugar de residência de Jahveh com seu povo, não mais são necessários. Serão destruídos como inúteis; mais, como contrários aos desígnios divinos. O profeta que o anunciou é Jesus que chora sobre esse duplo sino decretado pelo Pai, que ao mesmo tempo constitui sua dor e seu triunfo como Filho do Homem, isto é, como Senhor do novo Reino, o definitivo. As qualidades deste reino tão pessoal que não o distinguem da pessoa que o representa, estão definidas no evangelho de hoje. A forma de representá-lo é também um juízo: O poder mais importante na época, representado por Pilatos com o imperium interroga o poder futuro, representado na pessoa de Jesus. Este declara ser verdadeiro rei de um reino completamente diferente ao conhecido até então no mundo. Esse reino tem como base e fundamento a verdade, não o lucro ou a conveniência, ou o bem-estar; é por essa verdade que ele, suprema autoridade do mesmo, sofrerá a morte, padecendo-a como mártir da mesma.

2) A escatologia evangélica não é a última em termos absolutos, mas é um fim relativo: significa a ruptura da aliança mosaica, da qual estavam excluídos os povos gentílicos, ao mesmo tempo que era uma verdadeira escravidão para os judeus com suas leis rituais e de pureza (Gl 5, 1). Cristo nos liberou dessa escravidão e iniciou uma nova Aliança com Deus, o Pai, em que a fidelidade divina se transforma em ternura para aqueles que ama como filhos e não como escravos (Gl 4, 7).

3) Geralmente no 1o Domingo do Advento a Igreja manifesta a vinda definitiva do Senhor Jesus como juiz de vivos e mortos. Vivemos tempos que, segundo Teresa de Ávila, podem ser definidos como “recios” (fortes) em que o destino do homem individual e coletivo não entra como projeto de vida. O importante é o presente, porque a vida é breve, e como tal queremos aproveitá-la ao máximo. Falta a vigilância, produto de que não somos donos de nossa existência e devemos dar conta, como servos, do que fizemos quando o Senhor estava ausente. Sua presença é para pedir contas da administração dos bens recebidos em encomenda. Quid hoc ad aeternitatem [que implicação tem isto com a eternidade] era a pergunta que transformou a vida de Francisco Xavier e será também o motivo de nossa metamorfose.

4) Que significa o Reino para nós? Porque muitos dizem que esta festa está fora de lugar.  Caso pensemos num reino tipo histórico, sem dúvida; mas o reino de Cristo é diferente. Regis ad exemplum totus componitur orbis [ao exemplo do rei todo o orbe é ordenado] e o exemplo de Jesus, o nosso rei, é um exemplo de serviço, de diaconia. Ele escolheu a cruz e com ela a humilhação para salvar o que estava perdido. Não existe outra moeda com a qual possamos salvar este mundo, aparentemente tão injusto e tão inumano.


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Concluindo mais um ano litúrgico, o Senhor recorda-nos que somos peregrinos rumo a sua morada eterna. Ele aponta para o modo como devemos nos portar nesta caminhada, permanecendo vigilantes, prudentes e serenos. Desta forma antecipamos o encontro definitivo com Cristo e, no cotidiano da vida, somos por ele nutridos.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, o Senhor hoje nos reúne e nos convida a assumirmos uma atitude de vigilância, pois a nossa vida neste mundo passa rapidamente e é preciso que não vivamos distraídos sem nos dar conta do destino que nos aguarda. Nossa vida tem futuro! Nossa história tem futuro! O mundo tem futuro! Um futuro bendito que se conclui em Cristo glorioso que por sua morte e ressurreição, tornou-se Senhor e Juiz de todas as coisas.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Jesus nos revela que em sua vinda gloriosa todo o poder de Deus resplandecerá sobre a Terra e seu amor será eterno para todos os que seguiram suas leis. Precisamos estar preparados para a vinda do Reino dos Céus que tanto pedimos em nossa orações.

Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Daniel 12,1-3): - "Os que tiverem sido inteligentes fulgirão como o brilho do firmamento, e os que tiverem introduzido muitos (nos caminhos) da justiça luzirão como as estrelas, com um perpétuo resplendor"

SALMO RESPONSORIAL 15(16): - "Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!"

SEGUNDA LEITURA (Hebreus 10,11-14.18): - "Cristo ofereceu pelos pecados um único sacrifício e logo em seguida tomou lugar para sempre à direita de Deus."

EVANGELHO (Marcos 13,24-32): - "Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão."



Homilia do Diácono José da Cruz — 33º Domingo do Tempo Comum — ANO B

"JUIZO FINAL"

Novamente recorro á imaginação para fazer algumas perguntas ao texto, como ensinou um dos meus professores de Teologia, só que de maneira mais ousada, abordei o próprio autor do evangelho, que é o nosso conhecidíssimo São Marcos. Disse a ele que, alguém menos desavisado, ou que fizer uma leitura fundamentalista, por certo vai entrar em pânico com as palavras que Jesus diz logo no início do evangelho desse Domingo, “depois de uma tribulação o sol vai escurecer, a lua não dará o seu resplendor ( acho que naquele tempo ainda não sabiam que a lua é um satélite, sem luz própria), os astros que estão no céu despencarão cá prá baixo e as potestades serão abaladas ”Convenhamos que é um cenário terrível, uma catástrofe igual aquele filme do Armagedon. Com uma narrativa dessas, os cardíacos e os que têm problemas emocionais, , vão morrer na véspera, de susto!

Ainda no meu imaginário, Marcos esboça um sorriso e balança a cabeça explicando-me que esse é um modo de dizer as coisas, e que os estudiosos chamam de linguagem literária, e nesse caso é denominado de “Apocalíptica” e interpretá-la literalmente seria grande idiotice, porque então, o nosso Deus Criador, rico de amor e misericórdia por todos os séculos, em um determinado momento da história, vai estar mal humorado, e como um garotinho temperamental, destruirá a Obra da criação, que ele fez com tanto gosto e amor?Para quem conhece bem o nosso Deus, revelado em Jesus Cristo, basta fazer essa pergunta, cuja resposta desfaz qualquer mal entendido. Mas então, o ser humano nunca será cobrado pelos seus atos de maldade, vai ficar assim, elas por elas? Claro que não!

Todo homem, após a morte, terá um juízo particular diante de Deus, na linguagem futebolística, vai ficar no “mano a mano” com o Onipotente, Poderoso, Onipresente e Onisciente e depois de conhecer a sua sorte, irá aguardar pelo último dia, como ensina a Doutrina da Santa Igreja. Para dizer isso, e chamar a atenção dos seus ouvintes, os Mestres no tempo de Jesus, costumavam usar um estilo de comunicação, que causava impacto, obrigando seus ouvintes a refletirem e voltarem-se para Deus. É um alerta, um aviso, de que a Vida que Deus nos deu, não é só o que vemos, apontando-nos assim para uma realidade escatológica ( final dos tempos) . Infelizmente nos dias de hoje, certos pregadores de “araque” usam essa literatura apocalíptica, também presente n o A.T, para fazerem o chamado “terrorismo religioso”.

Prestemos atenção no versículo que se segue a catástrofe anunciada “Então verão o Filho do Homem voltar sobre as nuvens com grande poder e glória... A chegada de alguém poderoso e importante é sempre anunciada de maneira solene e ruidosa, batidas da lança no chão, toque de trombeta, rufar de tambores, aliás, dia desses ouvi um anúncio em um carro de som, sobre um evento, e o sujeito dizia que “O chão vai tremer”, e nem por isso alguém entrou em pânico por causa disso, mas quando de trata da palavra de Deus revelada, esquecemos o gênero literário e interpretamos literalmente, essa literatura tem este modo próprio de dizer que no final da História da Humanidade, algo de grandioso irá ocorrer, e para os que creem, é exatamente o que esperam, afinal há em todos nós uma interrogativa sempre presente: Até quando o mal vai imperar?

Para o nosso Deus presente em Jesus, com todo o seu resplendor e glória, Senhor absoluto de todas as coisas e todas as criaturas, a gente não ia querer que no dia da sua volta, ele caísse de pára-quedas na humanidade e dissesse, “Olha aí meu povo, eu voltei viu, vim para confirmar tudo o que ensinei lá no início, aos meus discípulos que depois formaram a minha igreja. O Evangelho não fala de um momento qualquer na história da humanidade, mas tenta narrar como será este segundo julgamento, quando o Reino de Deus, desacreditado por muitos, se tornará visível e real, para sempre e toda a humanidade, do passado, desde os primórdios da história, estará diante de Jesus, para o capítulo final.

Para quem apostou suas fichas nas forças do mal, contrárias a Jesus e seu Reino, claro que esse dia será terrível, mas não é esta a mensagem principal do nosso evangelho, Marcos não quer que a comunidade entre em pânico, ao contrário, diante de discípulos abatidos e desanimados, é como se Jesus estivesse falando “Olha meus irmãos, no final tudo vai dar certo, e a glória do Pai envolverá a todos os homens, no início de um tempo novo, de uma nova realidade de alegria e felicidade plena na comunhão com o Pai”.

Claro que nem toda humanidade irá desfrutar desse tempo novo, os anjos irão pelos quatro cantos da terra para reunir os escolhidos. Que critério Deus usa para essa escolha? O amor, que respeita o Livre Arbítrio de cada homem, criado á sua imagem e semelhança, que toma decisões e faz escolhas todo dia, na liberdade que Jesus concedeu. Essas decisões e escolhas que se faz a todo dia e a cada momento, não deverá prescindir dos sinais do reino, presente em nosso meio, são sinais que pertencem a uma ordem - sobrenatural e que, portanto supõe um testemunho de Fé, pois todos eles convergem para Jesus e a sua igreja, esse Jesus que nos visitou com o mistério da encarnação, mostrou-nos o caminho, a verdade e a vida, que é ele próprio.

Ele é nosso Deus e Único Senhor, edificou o seu Reino em nosso meio e no momento oportuno, que só o Pai sabe, voltará para a grande festa e nesse dia, o mal enraizado no coração do homem, será arrancado com raiz e tudo, e o Bem Supremo reinará para sempre, soberano e majestoso em Jesus Cristo, e todos os que fizeram a opção por ele, nesta vida terrena, diante de quem tudo é transitório e passageiro, até o céu e a terra... (33º. Domingo do Tempo Comum)

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do D. Henrique Soares da Costa — 33º Domingo do Tempo Comum — ANO B

A vinda de Jesus

Estamos no penúltimo Domingo do Ano Litúrgico. No Domingo próximo, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo encerrará este ano da Igreja. Pois bem, hoje a Palavra de Deus, nos recorda que, como o ano, também a nossa vida passa, e passa veloz… Assim, o Senhor nos convida à vigilância e nos exorta a que não percamos de vista o nosso caminho neste mundo e o destino que nos espera. Nossa vida tem um rumo, caríssimos; o mundo e a história humana têm uma direção, meus irmãos!

A nossa fé nos ensina, amados no Senhor, que toda a criação e toda a história humana caminham para um ponto final. Este fim não será simplesmente o término do caminho, mas a sua plenitude, a sua finalidade, sua bendita consumação. O universo vai evoluindo, a história vai caminhando… Onde o caminho vai dar? Com palavras e idéias figuradas, a Escritura Sagrada nos ensina que tudo terminará em Jesus, o Cristo glorioso que, por sua morte e ressurreição, tornou-se Senhor e Juiz de todas as coisas. Vede bem: a criação não vai para o nada; a história humana não caminha para o absurdo! Eis aqui o essencial, que o evangelho de hoje nos coloca com palavras impressionantes: “Então verão o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória!” Ou seja: tudo quanto existe caminha para Cristo, aquele que vem sobre as nuvens como Deus, aquele que é nosso Juiz porque, como Filho do Homem, experimentou nossa fraqueza e se ofereceu uma vez por todas em sacrifício por nós! Vede, irmãos: o nosso Salvador será também o nosso Juiz! Aquele que está à Direita do Pai e de lá virá em glória para levar à consumação todas as coisas é o mesmo que se ofereceu todo ao Pai por nós para nos santificar e nos levar à perfeição! Repito: nosso Juiz é o nosso Salvador! Quanta esperança isso nos causa, mas também quanta responsabilidade! Que faremos diante do seu amor? Que diremos àquele que por nós deu tudo, até entregar a própria vida para nossa salvação? Que amor apresentaremos a quem tanto e tanto nos amou? Pensai bem!

Hoje, a Palavra de Deus adverte: tudo estará debaixo do senhorio de Cristo! Por isso, numa linguagem de cores fortes e figuras impressionantes, Jesus diz que a criação será abalada pela sua Vinda: “O sol vai escurecer e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas”. Que significa isso? Que toda a criação será palco dessa Revelação da glória do Senhor, toda a criação será transfigurada e alcançará a plenitude no parto de um novo céu e uma nova terra onde a glória de Deus brilhará para sempre! O Senhor afirma ainda que também a história chegará ao fim e será passada a limpo. Cristo fala disso usando a imagem da grande tribulação, isto é, as dores e contradições do tempo presente, que vão, em certo sentido se intensificando neste mundo. Por isso mesmo, a primeira leitura, do Profeta Daniel, fala em combate e em tempo de angústia… É o nosso tempo, este tempo presente, que se chama “hoje”.

Amados em Cristo, estas leituras são muito atuais e consoladoras, sobretudo nos dias atuais, quando vemos o Cristo enxovalhado, o cristianismo perseguido e desprezado, a santa Igreja católica caluniada… Pensem no Código da Vinci, pensem nas obras de arte blasfemas e sacrílegas frequentemente expostas sem nome de uma pérfida liberdade, pensem nas freiras das porcas novelas da Globo, pensem no ridículo a que os cristãos são expostos aqui e ali, com cínicas desculpas e camufladas intenções, pensem nos valores cristãos que vão sendo destruídos, nas famílias destruídas pelo divórcio, pela infidelidade, pela imoralidade, pensem nos jovens desorientados pela falta de Deus, pela negação de todas as certezas e o desprezo de todos os valores, pensem, por fim, na vida humana desrespeitada pelo aborto, pela manipulação genética, pelas imorais e inaceitáveis experiências com células-tronco embrionárias com pretextos e desculpas absolutamente imorais… Não é de hoje, caríssimos, que a Igreja sofre e que os cristãos são perseguidos, ora aberta, ora veladamente… Já no longínquo século V, Santo Agostinho afirmava que a Igreja peregrina neste tempo, avançando entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus… O perigo é a gente perder de vista o caminho, perder o sentido do nosso destino, esfriar na vigilância, perder a esperança, abandonar a fé…

Caminhamos para o Senhor, caríssimos – tende certeza disto! O mudo vai terminar no Cristo, como um rio termina no mar; a história vai encontrar o Cristo, tão certo quanto a noite encontra o dia; nossa vida estará diante do Senhor, tão garantido quanto o vigia cada manhã está diante da aurora! Por isso mesmo, é indispensável vigiar e trazer sempre no coração a bendita memória do Salvador, a firme esperança nas suas promessas, a segura certeza da sua salvação! Vede bem: na Manifestação do nosso Senhor, ele nos julgará! Na sua luz, tudo será posto às claras: se é verdade que sua Vinda é para a salvação, também é verdade que todos quantos se fecharam para ele, perderão essa salvação. Caríssimos, nosso destino é o céu, mas estejamos atentos: o inferno, a condenação eterna, a danação sem fim, o fogo que devora para sempre, são uma real possibilidade para todos nós! Haverá um Juízo de Deus em Jesus Cristo, meus amados no Senhor: “Muitos dos que dormem no pó a terra despertarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbrio eterno. Nesse tempo, teu povo será salvo, todos os que se acharem escritos no Livro”. Caríssimos, não brinquemos de viver, não vivamos em vão, não sejamos fúteis e levianos, não corramos a toa a corrida da vida! É o nosso modo de viver agora que decidirá nosso destino para sempre! Por isso mesmo, Jesus nos previne: “Em verdade vos digo: esta geração não passará até que tudo isto aconteça!” Em outras palavras: não importa quando ele virá – ele mesmo diz: “Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” -; importa, sim, que estejamos atentos, importa que vivamos de tal modo que, quando ele vier no momento de nossa morte, estejamos prontos para comparecer diante dele e diante dele estar no último Dia, quando tudo for julgado! O juízo que nos espera é um processo: começa logo após a nossa morte, quando, em nossa alma, estaremos diante do Cristo e receberemos nossa recompensa: o céu ou o inferno! E no final dos tempos, quando Cristo se manifestar em sua glória, nosso destino também será manifestado com toda a criação e o nosso corpo, ressuscitado no fim de tudo, receberá também a mesma recompensa de nossa alma: o céu ou o inferno, de acordo com o nosso procedimento nesta vida!

Meus caros, quando a Escritura Sagrada nos fala do fim dos tempos não é para descrever como as coisas acontecerão. Isso seria impossível, pois aqui se tratam de realidades que nos ultrapassam e que já não pertencem a este nosso mundo. Portanto, palavras deste mundo não podem descrever o que pertence ao mundo que há de vir… O que a Escritura deseja é nos alertar a que vivamos na verdade, vivamos na fé, vivamos na fidelidade ao Senhor… vivamos de tal modo esta nossa vida, que possamos, de fé em fé, de esperança em esperança, alcançar a vida eterna que o Senhor nos prepara, vida que já experimentamos hoje, agora, nesta santíssima Eucaristia, sacrifício único e santo do nosso Salvador que, à Direita do Pai nos espera como Juiz e Santificador. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

D. Henrique Soares da Costa


Comentário Exegético — 33º Domingo do Tempo Comum — ANO B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (Hb 10, 11-14.18)

INTRODUÇÃO: O trecho é um contraste entre o AT e seus sacerdotes e o NT e o único sacerdote Cristo Jesus. A eficácia absoluta do sacrifício único de Cristo é  posta em relevo contra a prática de inutilidade dos sacrifícios antigos. Contra a diária atuação dos holocaustos que indicam não perdoar totalmente o pecado, precisamente por sua repetição, está o único sacrifício pessoal de Cristo que não precisa estar de pé continuamente como oficiante diante do santuário e que agora só espera a consumação com a vitória contra os inimigos que não o admitem como seu Senhor. A remissão do pecado foi obtida; logo só falta a derrota dos inimigos como o ato final do drama humano entre o bem e o mal.

O SACERDÓCIO ANTIGO: Pois todo sacerdote estava estabelecido [estëken<2476>=praesto est] todo dia como ministro e a oferecer muitas vezes [pollakis<4178>=cotidie] os mesmos sacrifícios [thysias<2378>=hostias] os quais em modo algum [oudepote<3763>=numquam] podem remover [perielein<4014>=auferre] pecados (11).  Et omnis quidem sacerdos praesto est cotidie ministrans et easdem saepe offerens hostias quae numquam possunt auferre peccata. ESTABELECIDO: O verbo histëmi <2746>pode ser usado como simples estar, ou estar presente. Assim os fariseus gostavam de estar diante da assembleia e rezar nas sinagogas (Mt 6, 5). Outro significado é colocar, designar, como em Mt 25, 33: o rei colocará as ovelhas à sua direita e as cabras à esquerda. Neste sentido de colocar ou estabelecer, está Mc 9, 36: Tomando uma criança a colocou diante deles. No sentido de estabelecer temos a passagem de Hb 10, 9: Com isto abriga o primeiro e estabelece o segundo; argumentação que emprega o autor para anular sacrifícios e sacerdócio antigo e substituí-los pelo único sacerdote e sacrifício do NT: Cristo Jesus. Esta passagem é, pois, paralela ao do versículo que estamos interpretando e nos dá o sentido próprio do verbo histemi: estabelecer. MUITAS VEZES: Não se entende a tradução latina cotidie [todos os dias] a não ser que o copista, levado pelo costume, tenha interpretado o grego muitas vezes pelo quotidiano do uso do sacerdócio em tempos de Jesus. O Kohan [sacerdote] oferece Korbanot [sacrifícios ou oferendas]. Os rabinos afirmam que esta palavra provém de uma raiz que significa aproximar-se de Deus, objeto principal da oferenda. Os rituais realizavam-se somente no templo de Jerusalém e eram exclusivos dos sacerdotes [kohanim]. No conceito de Korban [ofertas] existem três diferentes acepções: dar, substituir e acercar. Um korban exige a renúncia de alguma coisa que forma parte da pessoa que oferece. Por isso, a oferenda de animais selvagens, sem dono, era inválida. Assim também as oferendas de viandas deviam ser em forma de produtos elaborados: farinha ou vinho. A segunda condição é o elemento de substituição: a oferenda substitui a pessoa e a oferta é castigada [consumida] no lugar da pessoa. É interessante observar que quando o tema de korbanot é abordado na Torah, o nome de Deus tem 4 letras que são símbolo da misericórdia de Deus. A última condição é a de atrair a pessoa mais perto de Deus, como quem é satisfeito pela adoração e a dádiva do súdito. Dentre os ritos do sacrifício cruento, como expiação, a imposição das mãos [semija] sobre a vítima era o essencial. Se o sacrifício era oferecido por toda a comunidade, eram os anciãos que realizavam a imposição das mãos (Lv 4, 15), cerimônia que era precedida pela confissão dos pecados [como nas missas católicas] (Lv 16, 21; 5. 5) e que, segundo a tradição rabínica, era confissão verbal. A imolação era sempre feita por sacerdotes quando o sacrifício era oferecido por todo o povo (II Cr 29, 22). Logo se procedia à aspersão com o sangue, realizada só por sacerdotes. Outro ministério próprio dos sacerdotes era a bênção sacerdotal ou Birkat Kohanim (Nm 6). Como nota curiosa, devido ao fato de que os sacerdotes eram uma casta especial e que só entre eles existia uma espécie de endogamia, hoje se fala do gene sacerdotal, ou cromossoma kohen, comum aos 70% dos que hoje se consideram filhos de sacerdotes e que também existe na tribo Lemba [África do Sul], que constitui o grupo dos chamados judeus negros africanos, com costumes igualmente semelhantes aos determinados pela Halaká [leis faladas], como a circuncisão, o descanso semanal e a proibição de comer carne de porco.  Dizem ter sua origem em Senna, Yemen, e o gene sacerdotal é comum a um dos 12 clãs dos Lemba [12 tribos de Israel], o clã Buba. Nenhum outro grupo judeu ou Lemba, tem este gene em proporção maior de 5%. Sabemos que 45% dos sacerdotes [dos que se dizem descendentes de sacerdotes] Askenazis [orientais] e 50% dos Sefardies [de origem hispânica] têm esse gene ou fator kohen. Tudo indica que os sacerdotes eram uma classe escolhida e ordenada ao culto: a oferecer sacrifícios, mais propriamente holocaustos, dos quais fala a carta. O holocausto era chamado de ascendente [olah] porque a vítima completa, exceto a pele e o músculo da cadeira ascende ao céu em forma de fumo e vapor. O objetivo é expressar total submissão do homem a Deus. O olah era um sacrifício contínuo, sendo oferecido duas vezes ao dia: de manhã e ao anoitecer (Êx 29, 38 s). Era o sacrifício de adoração por excelência, que incluía todas as formas de sacrifício. Ele estava acompanhado da queima do incenso no altar de ouro. Enquanto subia o incenso do altar de ouro, as orações dos israelitas ascendiam com ele para Deus (Apocalipse 8, 3 e 4), rogando por si mesmos e por sua nação em diária consagração. Neste serviço, o sacerdote oficiante implorava o perdão dos pecados de Israel e rogava pela vinda do Messias. Algumas vezes estava acompanhado por oferendas de farinha, ou óleo aos quais se acrescentava sal e incenso e que recebiam o nome de Minjah [oferenda]. O pão devia ser sem levedura, pois esta representava o pecado, o orgulho que infla o ego, sendo queimada uma parte sobre o altar e a outra entregue para reparti-la entre os sacerdotes. A Minjah pública mais importante era o pão da Presença colocado na mesa do Santo, que permanecia toda a semana em presença de Deus até ser consumido pelos sacerdotes. Eram os doze pães oferecidos no sábado de manhã no momento de retirar os oferecidos no sábado anterior, significando o pacto entre Deus e seu povo (Lv 24, 8). Para  melhor compreender a Eucaristia como sacrifício pacífico, este, entre os judeus, era constituído por três formas de sacrifício: louvor, por um voto e oferenda voluntária.

 REMOVER PECADOS: O holocausto pelos pecados [Hattat] era para pedir a absolvição, segundo o pensamento da época de que a oferta era castigada  no lugar do oferente, vemos que a remoção dos pecados pelo hattat era frequente, de modo a se realizarem duas vezes, todos os dias. Isso indicava que o pecado não era totalmente removido, entendendo por pecado o débito que o povo tinha para com Deus por sua conduta imprópria. Esse pecado essencial é o retirado pelo Cordeiro de Deus segundo o Batista (Jo 1, 29) e precisamente por sua imolação na hora do hattat vespertino, hora sexta (Jo 19, 13), ou três da tarde (Mc 15, 34).

 CRISTO SACERDOTE: Porque ele, uma vez [mian<3391>=unam], oferecendo sacrifício pelos pecados, para sempre [diënekes <1336>=sempiternum] sentou-se à destra [dexia<1188>=dextera] de (o) Deus (12). Hic autem unam pro peccatis offerens hostiam in sempiternum sedit in dextera Dei. UMA VEZ: O autor compara o sacerdócio de Cristo com o dos antigos sacerdotes hebreus e além do tempo, encontra o efeito como diferentes circunstâncias a favor do primeiro. Bastou uma única vez no lugar da frequência que a Vulgata traduz impropriamente quanto ao léxico, mas exatamente do ponto de vista real como diária [cotidie]. Porém, o mais importante é que este novo sacerdote está como que exercendo continuamente seu ministério porque agora tem o poder que lhe concede seu estado de dispensador da economia divina: SENTADO À DIREITA: A frase sai 5 vezes nesta epístola a começar pelo primeiro capítulo no versículo 3 em que o autor afirma ser Cristo o verdadeiro Filho de Deus a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e, como tal, está sentado à direita da Majestade nos céus. E esse seu assento é como Sumo sacerdote (Hb 8, 1), porque ofereceu um sacrifício pelos pecados (10, 12), precisamente por ter desprezado a glória [humana] e sofrido a dureza da cruz (12, 2). A direita de Deus é a que esmaga os reis em sua cólera (Sl 110, 5). E é ela a que, como sombra, se transforma em guardiã de seus seguidores (Sl 121, 5). Zorobabel era como o sinete na mão direita (Sl 49, 11). Por isso, o sentido do salmo dirigindo-se ao Messias, Palavra do Senhor ao meu Senhor: Senta-te à minha direita até que faça de teus inimigos o escabelo de teus pés (Sl 110, 1) e Hb 1, 3 como sentado no alto à direita da Majestade significa que sua posição está acima de todos os anjos que não estão sentados, mas voam ao seu redor, como servidores. Estar sentado é tomar uma posse e um estado e ministério, que tinha como resultado a execução dos planos e da vontade de Deus. Vontade que principalmente consistia no uso da misericórdia divina: ou seja, o perdão do pecado e a remissão da culpa. Por esta razão, a Igreja canta no início da Eucaristia: Tu que estás sentado à direita do Pai, tem piedade de nós (Glória).

 ATUAÇÃO DESSE SACERDÓCIO: Em adiante [to loipon<3063>=de cetero], aguardando [ekdechomenos <1551>=expectans] até que sejam postos [tethösin<5087>=ponantur] os inimigos dele como estrado [ypopodion<5286>=scabillum] dos pés (13). De cetero expectans donec ponantur inimici eius scabillum pedum eius. EM ADIANTE: To loipon é uma frase adverbial que significa o resto do tempo, ou seja, de agora em diante. A frase sai em Mt 26, 45 e Mc 14, 41 quando Jesus encontra os discípulos dormindo no horto e lhes disse: de agora em diante [to loipon] descansai e dormi, pois, vem agora e o Filho do Homem será entregue nas mãos dos pecadores. O sentido do versículo é uma continuação do anterior: Está sentado à direita de Deus, e desde esse momento só está à espera de que seus inimigos sejam derrotados. Porque a frase de pôr os inimigos como escabelo está tomado do costume da época, seguido após uma vitória. Vamos explicar este último conceito. Estrado: era um tablado pouco acima do chão para nele colocar uma mesa ou uma cadeira, como podia ser um trono (2 Rs 11, 14). Assim o rei aparecia como ser superior ao povo comum. A Arca da Aliança é precisamente o estrado dos pés do Senhor (1 Cr 28, 2), ante o qual deve se ajoelhar o povo (Sl 99, 5). Em Mt 5, 35 é a terra  que é o estrado dos pés do Senhor, enquanto os céus são seu trono. Quando o estrado era pequeno, unicamente para descansar os pés, então recebe o nome de escabelo. Nas batalhas, quando o inimigo era batido para reduzi-lo ao estado de escravo, acostumavam os vencedores prostrar na terra os vencidos e passar sobre seus corpos, assim humilhados. A este fato de estar sob os pés do vencedor como um escabelo, refere-se tanto o Salmo 110, como as passagens que o citam no NT.  Em Hebreus, temos a citação do salmo 110 duas vezes: 1, 13 e 10, 13. Nesta última citação, a vitória está ainda por vir e estamos no momento de uma expectante confiança.

A PERFEIÇÃO: Já que com uma só oferta [prosföra<4376>=oblatione] tem levado à perfeição [teteleiöken <5048> =consumavit] para sempre [diënekes<1336>=in sempiternum] os santificados [agiazomenos<37>=sanctificatos] (14). Una enim oblatione consummavit in sempiternum sanctificatos. O autor prossegue em seu argumento de afirmar que uma só ação bastava para cumprir o seu sacerdócio e que agora é só esperar até que a consumação do mesmo se efetue no tempo. Por isso, só fala de uma única oferta [mia gar prosföra] e da perfeição que ela conseguiu totalmente a todos os que por meio dela foram consagrados ou santificados em termos modernos. Devemos distinguir entre o perdão, como um absoluto divino concedido ao gênero humano [o Cordeiro que tira o pecado do mundo] e o perdão em particular, que em última instância depende da vontade de cada um. O mistério da divina graça [o dom gratuito] e da liberdade humana é um dos grandes problemas da Teologia que não tem solução aparente neste mundo. Só diremos uma coisa: se o mal se encerrar em si mesmo, de modo que dele não possa resultar bem algum, então teríamos um mundo cruel, impróprio de um Deus que fez tudo bem. Mas se do mal se pode extrair um bem maior, bendito seja o mal passageiro, porque então poderemos exclamar com S. Paulo: onde abundou o pecado superabundou a graça (Rm 5, 20). UMA SÓ OFERTA: Foi a oferta na cruz de sua vida de modo a derramar seu sangue [a vida] até a última gota como narra João em 19, 34. LEVADO À PERFEIÇÃO: o verbo Teleioö significa realizar, cumprir, finalizar, lograr, e também chegar à perfeição, chegar à maturidade. Como exemplos: Quando se completaram os dias (Lc 2, 24); e para que eles sejam perfeitos na unidade (Jo 17, 23). Este verbo sai 9 vezes em Hebreus e temos: para trazer muitos filhos à glória, para fazer o chefe de sua salvação perfeito através de sofrimentos (2, 10). Esse mesmo que tendo ficado perfeito, tornou-se o autor da salvação para todos os que lhe obedecem (5, 9). De modo que o sofrimento  [paixão e morte de Cristo] tornou perfeito o agente da salvação e ao mesmo tempo essa sua imolação aperfeiçoa os que a ele são consagrados [agiazomenoi], ou como diz 5, 9 os que lhe obedecem.

REMISSÃO TOTAL DO PECADO: Onde, portanto, (há) remissão [afesis<859>=remissio] de tais, em modo algum [ouketi<3765>=iam non] (há) oferta [prosfora<4376>=oblatio] por pecados (18). Ubi autem horum remissio iam non oblatio pro peccato. O autor continua na mesma base dialética. É provável que seus interlocutores fossem judeus que estavam nostálgicos do templo e dos sacrifícios nele oferecidos. Por que não existiam no cristianismo? E a razão é dada neste trecho: Uma única vez foi oferecido esse sacrifício e foi tão perfeito, que tirou todo pecado, de modo que, não existindo pecado, tornam-se inúteis os sacrifícios pelo mesmo.

EVANGELHO (Mc 13, 24-32) - 2ª VINDA DE CRISTO
(Lugares paralelos: Mt 24, 29-31 e Lc 21, 25-28)

INTRODUÇÃO: O evangelho de hoje é parte do discurso, chamado escatológico, de Jesus. Ele está frente a Jerusalém olhando o templo e responde à admiração dos discípulos diante da magnífica visão do templo. Tudo será destruído – disse-lhes Jesus. Como é natural,  os discípulos pedem a hora e os sinais. Jesus fala então da abominação da desolação [bdélygma tës eremöseös, abominatio desolatiónis].

EXCURSUS:

 ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇÃO- Que significa isso? A primeira vez que encontramos a tal frase é em Daniel. O texto de Daniel (9, 27) fala originalmente de shikutsim meshimim, que deriva de duas palavras: shikuts<08251>, abominável e shamem<08074>, devastar, de onde se deriva meshimaim, que os peritos em hebraico dizem ser um particípio de piel [modo repetitivo do verbo] e significaria devastador e não devastante. A tradução hebraica direta em inglês é: upon the wing of detestable things shall be that which causeth appalment; and that until the extermination wholly determined be poured out upon that which causeth appalment.’ [sobre a asa de coisas detestáveis estará aquilo que causou horror; e isso até que a devastação totalmente determinada seja derramada sobre aquilo que causou horror]. A frase é traduzida ao grego dos setenta por bdélygma tön erëmöseön, que podemos traduzir por abominação das devastações  (em plural) e ao latim por abominatio desolationis.  Segundo, pois, os LXX teremos: No meio da semana serão tirados meu sacrifício e libação, e sobre o lugar sagrado (estará) a abominação das devastações. E até a conclusão do tempo oportuno, o fim será dado sobre a devastação.  A Vulgata traduz: In dimidio ebdomadis deficiet hostia et sacrificium et in templo erit abominatio desolationis et usque ad consummationem et finem perseverabit desolatio. A tradução, dada pelo comentário da BAC de professores de Salamanca, é: E sobre a asa, horrores, devastações até que a  consumação decretada se derrame sobre o desolador. Nácar Colunga traduz: En la mitad de la semana cesará el sacrifício y la oblación y habrá en el santuario una abominación desoladora, hasta que la ruina decretada venga sobre el devastador. [Em nota diz que os sacrifícios pagãos no templo duraram três anos; mas antes de sua inauguração tinha transcorrido meio ano (metade da semana)]. A Bíblia de Jerusalém: Sobre a asa será a abominação até o fim, até o término designado ao desolador. Finalmente a tradução moderna espanhola diz: A la mitad de la semana pondrá fin a los sacrificios y a las ofrendas. Y en el templo se cometerá un sacrilégio horrible, hasta que la ruina decretada caiga sobre o devastador.  Bastam estes exemplos para  ver que o texto é de difícil interpretação. Mas, qual era a abominação das devastações? Segundo os intérpretes, a última semana se abre com a morte de um ungido [o sumo sacerdote Onias III] e se encerra com a morte de um príncipe perseguidor [o rei Antíoco Epífanes]. A obra perseguidora deste príncipe [Antíoco IV Epífanes] terminou com a profanação do santuário, colocando sobre o altar do templo [asa?] a estátua de Júpiter Olimpo, que será a abominação desoladora ou do semitismo abominação das desolações (LXX). Esta situação durará até que seja aniquilado o devastador. Segundo o Pe. Abel haveria uma inscrição dedicatória: Baal Shamayim [Senhor dos céus] que faria jogo com Shomem [devastar]. A frase abominação desoladora  aparece também em Dn 11, 31 e 12, 11. Nestes dois últimos textos, aparece mais claro que essa abominação desoladora é a estátua de Júpiter Olimpo com o qual Antíoco chegou a igualar-se. Uma outra vez aparece a mesma expressão em 1 Mc 54 só que aqui eremoseos está em singular. E evidentemente se trata da estátua de Júpiter Olimpo, um ídolo pagão que transformou o templo num lugar devastado para o culto de Jahweh. Era o deserto, pois Jahweh não habitava no templo do qual tinha sido expulso para no seu lugar colocar um ídolo pagão. É o que a tradução espanhola moderna diz com a expressão: en el templo se cometerá un sacrilegio horrible, ou um ídolo repugnante. Por isso Marcos (13, 14) e Mateus (24, 15) dão como sinal da destruição de Israel a abominação da desolação anotada pelo profeta Daniel. Na realidade, não houve nenhum ídolo colocado no templo de Herodes. Segundo S. Efrém, foi uma estátua com cabeça de porco que Pilatos introduziu sub-repticiamente no templo; uma imagem do César, segundo outros; finalmente,  as profanações dos zelotas, ou o exército romano e seus estandartes. O fato mais próximo é o decreto de Calígula no ano 40 de colocar sua própria estátua no templo de Jerusalém. A ordem não foi executada, mas desde aquele decreto fatal, nunca cessou a ansiedade de que outro César mandasse a mesma coisa. Outros pensam que o sinal de Daniel foi a tremenda profanação do ano 69 em que os zelotas de Simão bar Giora assassinaram no templo a Eleazar ben Simão, um moderado que se opunha tanto a Simão [que tinha às suas ordens 10 mil homens], como a João de Gíscala,  com 6 mil homens à sua disposição. Efetivamente, na Páscoa do ano 70, o povo, que tinha se reunido no Templo para purificar-se e oferecer sacrifícios foi atacado pelos partidários de João de Gíscala, os quais assassinaram a Eliezer. Tito tinha chegado e começava o sítio da cidade. Já Lucas aponta ao cerco das tropas romanas (21, 20) como sinal da abominação. O fato é que os cristãos fugiram de Jerusalém e se refugiaram no outro lado do Jordão. Começado o ataque, Tito, diante do primeiro fracasso das máquinas de assalto, decidiu tomar a cidade pela fome. E construiu um muro de circunvalação para evitar que seus habitantes tivessem ajuda exterior. Os romanos talaram, pois, e destruíram tudo ao redor da cidade, num círculo de 18 km de raio, deixando a rocha pura e nua, coisa que hoje é possível conhecer por estudos arqueológicos. Assim se apoderou da torre Antônia e da esplanada do templo. O templo caiu entre julho-agosto e a cidade alta um mês mais tarde. A conquista de Jerusalém demorou de 3 a 4 meses.

ESTILO APOCALÍPTICO

SINAIS CÓSMICOS: Porém nesses dias após a tribulação essa, o sol escurecer-se-á e a lua não dará sua luz (24). E os astros do céu serão cadentes e as forças, as dos céus, serão sacudidas (25). Sed in illis diebus post tribulationem illam sol contenebrabitur et luna non dabit splendorem suum. Et erunt stellae caeli decidentes et virtutes quae sunt in caelis movebuntur. SINAIS APOCALÍPTICOS: Derivada, esta palavra, de APOCALIPSE que significa revelação, de tal modo que é com este título que os evangélicos denominam o último dos livros da Bíblia. A palavra é utilizada para designar a revelação dos desígnios mais profundos de Deus (Dn 2, 23 no AT e Ap 1, 1 no NT), e principalmente para manifestar a gloriosa presença e vitória de Deus e de seu enviado, Jesus Cristo, ao termo de um período da História Humana (Rm 2, 5 e I Cor 1, 7). Como os livros dessa revelação foram escritos em tempos de perseguição, daí o estilo simbólico e metafórico para evitar que fossem compreendidos pela polícia profana que os perseguia (Mc 13, 14) e daí também as exagerações e hipérboles próprias do mesmo (estilo apocalíptico). O castigo, as catástrofes tanto naturais, como típicas da guerra, os sinais celestes que precedem e acompanham as mesmas, são próprios de tal estilo. Acreditavam os antigos que a História humana estava antes descrita nos fenômenos celestes. Daí a Astrologia, que é admitida pela Bíblia (Mt 2, 2). Entre estes fenômenos, devemos destacar os eclipses do Sol (se escurecerá), da lua (aparecerá vermelha, como no último eclipse total, vista na TV porque a luz do sol se difunde ao atravessar a atmosfera terrestre, ou se apagará) e as estrelas cadentes (os anjos cairão) (Mt 24, 29 e Mc 13, 24-25). Por isso, Lucas fala só de que haverá “sinais” no sol, na lua e nas estrelas (21,25). As forças, ou poderes do céu que mantinham o firmamento, [a cúpula sólida que separava o primeiro do segundo céu] serão agitados (as colunas da terra serão abaladas), as enchentes (água transformada em sangue), erupções vulcânicas (o fogo) junto às tempestades violentas (o mar alvorotado) (Lc 21, 25-27). Tudo sem distinção de lugar e tempo definidos, como se o mundo estivesse todo centrado em Jerusalém e sua vizinhança, de modo que a terra global pequenininha, que vemos hoje pela TV a centenas de kilômetros de altura, estivesse presente na mente do profeta de forma que a terra, todo o mar e todos os céus fossem comovidos num único instante que está próximo e numa única região da qual o centro fosse Jerusalém. Um exemplo deste estilo no AT está na profecia sobre a destruição de Babilônia (Is 13, 10 e 13). Uma pergunta: A que se refere o evangelista quando fala das forças dynameis<1411>, ou poderes do céu, como sendo abaladas? Com as mesmas palavras Mateus  (24, 29) e Lucas (Lc 21, 26) se referem aos mesmos fenômenos. Além do exposto anteriormente sobre as colunas do céu [as colunas de Hércules no fim do mundo conhecido é um paradigma] devemos também unir essas forças com as diversas funções de anjos. Paulo em Rm 8, 38 fala de anjos, principados e potestades [dynameis]. A palavra dynamis significa força e, em termos bíblicos, capacidade de realizar uma coisa, bem por possibilidade física [virtus], bem por autoridade moral [potestas]; em 1 Cor 15, 24, Paulo dá uma lista parcial dos poderes celestes: principados, potestades e poderes, aos quais em Efésios 1, 21 acrescenta senhorios, kyriotetos<2963>. São diversas categorias de anjos, usadas na angeologia judaica da época, sem excluir os anjos maus. São nomeados, não pelo nome, mas pelo poder de governo a eles atribuído. Não podemos excluir esta última interpretação, embora seja a primeira a que melhor combina com nossa maneira de pensar atual. Nesse caso, as forças celestes que dominam as terrestres, são abaladas antes, de modo que o desastre na terra é uma consequência do que anteriormente passava no céu; pois como diz Lucas, os homens ficarão cheios de temor pelas coisas que sobrevirão ao universo, pois as forças do céu serão sacudidas (Lc 21, 26). A linguagem bíblica que introduz desse modo as potências celestes indica que o próprio Deus está implicado diretamente nos sucessos relatados.

A PARUSIA: E então verão o Filho do Homem vindo nas nuvens com muito poder e glória (26). Et tunc videbunt Filium hominis venientem in nubibus cum virtute multa et gloria. PARUSIA: Derivada do verbo pareimi [estar perto], significa vinda gloriosa de Jesus no fim da História Humana. A primeira comunidade não distinguiu bem entre proximidade teológica e proximidade cronológica, pela qual, durante algum tempo, se pensou que fosse iminente esta última. “Já é hora de despertar do sono, porque agora está mais perto de nós a salvação que quando abraçamos a fé. A noite está avançada e o dia está perto, portanto deixemos de lado as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz” (Rm 13, 11-12). Os primeiros cristãos não entendiam o atraso da Parusia. Em 2Pd 2, 8-10 temos uma explicação desta demora: “Ló, no meio de gente dissoluta, se afligia diariamente à espera do dia do julgamento”. O Senhor sabe livrar os piedosos da tentação e reservar os criminosos para serem castigados no dia do julgamento. Existem duas interpretações sobre estas palavras de Jesus no versículo 26: 1ª) A que tem como base a história final da humanidade. Tal foi o último capítulo da Didaqué que fala expressamente de éschatos kairós [o tempo final] e que S. Irineu aceita, aplicando junto com Hilário, ao Anti-Cristo as palavras abominação da desolação. Porém tem uma dificuldade nos textos que podemos chamar judaicos como são: Mc 13, 30, Mt 24, 16 e 24, 20 e Lc 21, 28, donde o tempo é próximo, antes de acabar a geração presente. 2ª)  Baseada na História da época, defendida por S João Crisóstomo e seus seguidores. Não se trata da consummatio orbis [mundo], mas da consummatio urbis [Jerusalém]. Em seu favor temos as palavras de Jesus: Não passará esta geração sem que tudo isso aconteça (30). Pelo estilo apocalíptico podemos explicar os exageros de forma, que encontramos na redação. Nesta segunda interpretação podemos admitir que o fim do mundo seja semelhante ao fim de Jerusalém, pois a História é cíclica e repete sempre suas circunstâncias extremas.  FILHO DO HOMEM: É uma expressão semita, que significa uma pessoa humana, sobretudo como ser frágil e mortal em oposição ao ser divino (Is 51, 12). A passagem do AT, da qual é tomada esta imagem, é Dn 7, 13: Notei vindo das nuvens do céu um como filho do homem [bar nashá em aramaico e ben adam em hebraico]. No livro de Daniel descreve-se o quinto reino, posterior ao de Antíoco Epífanes, como tendo a figura de um homem, ou Filho do Homem, provindo das nuvens do céu (Dn 7, 13-14). Inicialmente, esse Filho do Homem significa o povo escolhido dos santos (Dn 7, 18; 22 e 27). Porém como o reino era identificado com o seu rei, daí que a expressão Filho do Homem tenha também um valor individual, glorioso e transcendente. É o que vemos na literatura intertestamentária, especialmente no apócrifo de Henoc. Com este sentido, Jesus o admite para si como único título messiânico, dentre as setenta vezes que aparece nos evangelhos. Assim aparece umas vezes, para sublinhar seu poder e condição transcendente (Mt 9, 6 e 12, 8); outras, para destacar o momento de sua paixão e ressurreição (Mc 8, 3); outras, para aludir ao fato de seu triunfo e sua parusia (Mc 8, 38) e finalmente, ao se referir a si mesmo, como substituto de “a gente” [eu humilde] em português (Mt 8, 20 e 16, 13). De novo estamos dentro de uma forma literária que é poética e apocalíptica, em que a imagem substitui a realidade. Surge daí uma forma nova de interpretar o que se tem chamado ESCATOLOGIA: O termo é de origem grega e significa discurso ou tratado sobre as coisas últimas e definitivas que devem suceder ao homem e ao mundo. Somente o adjetivo, Eskhatós (=último) se encontra na Bíblia para evocar a irrupção definitiva do reino e os acontecimentos que a acompanham. Estes acontecimentos e a irrupção final, foram anunciados pelos profetas, sem distinguir entre o tempo de Cristo, como tempo último, posterior à aliança mosaica, e o tempo da consumação final (Ez 38-39 e especialmente 39, 23). Daí que temos distinguido entre escatologia teológica e escatologia cronológica. O NT distingue os dois tempos, com o Cristo inaugurando dentro do tempo último ou escatológico, um que podemos chamar teológico (Hb 1, 2), mas ainda esperando o fim, a consumação definitiva e última; e outro, o tempo cronológico, quando submetidos todos os inimigos ao Cristo, este vence o último de todos, a morte, e entrega o Reino ao Pai (I Cor 15, 25-28). Assim, os modernos distinguem entre o reino de Cristo, que se inicia com a sua ressurreição e tem um impacto forte, quando da destruição de Jerusalém, e o Reino do Pai que se inicia definitivamente com o julgamento do dia final (Mt 25, 34-46). O texto será interpretado por Ap 1, 7: Eis que vem com as nuvens e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Podemos dizer que reina como Jahweh, entronizado sobre as nuvens (Sl 104, 3), que não necessariamente devem aparecer, mas são símbolos da origem de seu poder e glória.

 A SEPARAÇÃO: E então enviará seus mensageiros e congregará seus escolhidos dos quatro ventos do limite da terra até o último extremo do céu (27). Et tunc mittet angelos suos et congregabit electos suos a quattuor ventis a summo terrae usque ad summum caeli. Mateus acrescenta que a reunião será conhecida pelo toque da trombeta e a grande voz. Uma outra divergência é que parece que os escolhidos para Mateus, são seres que estão no céu, pois Mateus diz que os reunirá desde os quatro ventos,[quatro ângulos] a começar dos últimos céus até os limites dos mesmos (Mt 24, 31). Temos traduzido akron [o último confim, o extremo, e em referência ao céu, o horizonte] por limite ou final. Os leitores ficam em espera de qual seria o propósito dessa reunião. O evangelista nada diz. E logicamente isso dá lugar a diversas interpretações. Sobre os escolhidos, há quem os reduza a termos judaicos do tempo de Jesus, segundo a segunda das interpretações, ou seja, a cronologicamente histórica sobre o fim de Jerusalém. Acreditamos que aqui encontramos a diferença essencial com os desígnios divinos do AT: contrariamente ao povo de Israel e aos levitas e sacerdotes, filhos de Levi, escolhidos de uma única etnia, O NT escolhe seus eleitos [o novo povo de Cristo] de todos os cantos da terra: dos quatro ventos da terra até o confim do horizonte [o último extremo do céu]. Este versículo não indica, pois, o final, mas o início de uma nova era ou eón. É o mistério que Paulo diz lhe foi revelado: os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da Promessa em Cristo Jesus, por meio do evangelho (Ef 2, 6). Também em Paulo encontramos esta  explicação, que indica ser essa vinda um triunfo do cristianismo contra seus inimigos: Quando se revelar o Senhor Jesus, vindo do céu, com os anjos do seu poder, no meio de uma chama ardente [o sinal do Filho do Homem, semelhante ao de Jahweh no Sinai(?)], para vingar-se daqueles que não conhecem a Deus e que não obedecem ao evangelho do Senhor Jesus (2 Ts 1, 7-8). Porém, se queremos uma explicação sobre o eschaton, o fim dos tempos, a encontramos em 1 Ts 4, 16-18: Os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; em seguida, nós, os vivos que estivermos lá, seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o Senhor, nos ares. E assim estaremos para sempre com o Senhor. Porque Paulo dá a entender em 1 Cor 15, 51-52: Eis que vos dou a conhecer um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados, num instante, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final; sim, a trombeta tocará, e os mortos ressurgirão incorruptos, e nós seremos transformados. A trombeta, desde o Sinai, faz parte do simbolismo das manifestações divinas (ver Mt 24, 31). Ela assinala o ritmo das etapas do desígnio final de Deus (ver as sete trombetas do Apocalipse, cap 8). Talvez estes textos, não incluídos em Marcos ou Lucas, mas que vemos em Mateus 24, 31, serviram para transformar uma profecia sobre a destruição de Jerusalém [consummatio urbis], ou melhor, do templo e da Antiga Aliança,  em profecia escatológica [consummatio orbis]. De fato, em Lucas, temos uma referência que indica ser esse dia e hora – desconhecidos pelo Filho enquanto homem – um triunfo de Jesus sobre seus inimigos, pois pede aos discípulos para se levantarem e alçarem a cabeça, não como derrotados, submissos e com a cabeça em terra, pois esse é o dia de sua libertação.

EXEMPLO DA FIGUEIRA

A PARÁBOLA: Por isso, aprendei da figueira o exemplo: quando na hora em que o galho se tenha tornado tenro e tenham germinado as folhas, conheceis que o verão está próximo (28). Assim também vós, quando estas coisas tenhais visto que acontecem, sabei que está perto, às portas (29).  A ficu autem discite parabolam cum iam ramus eius tener fuerit et nata fuerint folia cognoscitis quia in proximo sit aestas. Sic et vos cum videritis haec fieri scitote quod in proximo sit in ostiis. Com estas palavras, Jesus anuncia duas coisas: que os ouvintes estarão presentes quando os sinais anunciadores aparecerem; e segundo, que eles conhecerão   perfeitamente o tempo do evento final, ou seja, o tempo do triunfo de Jesus. O mundo do templo, muito mais do que o mundo de Jerusalém, seria destruído e chegaria o verão, o tempo da colheita, em que os bons serão separados dos maus (Mt 13, 30). Logicamente os bons são os israelitas que acreditaram no evangelho. A figueira é uma das poucas árvores que perdem suas folhas no inverno palestino e começa a se revestir de folhas em abril, quando não há que temer as inclemências do frio invernal. Na época só se distinguiam na Palestina duas estações: inverno e verão. Os rabinos calculavam entre 80 e 100 dias desde a aparição das folhas até a aparição dos primeiros frutos. Daí a figura clássica da figueira que prognostica a época da colheita, colheita que seria a aparição do triunfo de Jesus como Cristo, o Ungido único do Senhor, o único Messias dado ao povo de Israel, que não deveria esperar outro, pois o templo ficaria devastado definitivamente, indicando a dissolução do pacto divino. Sabei que está perto: Marcos não diz que coisa está para se cumprir. Mas dados os sinais anteriores, dos quais a figueira é um paradigma, temos que recorrer ao versículo primeiro, fonte do discurso: está perto: Não ficará pedra sobre pedra que não seja demolida (Mc 13, 2).

ANTES DO TÉRMINO DESTA GERAÇÃO: Amém (verdadeiramente) digo-lhes, que de maneira nenhuma estará concluída esta geração até que todas estas coisas tenham sucedido (30). O céu e a terra perecerão, mas as minhas palavras jamais serão mudadas (31).). Amen dico vobis quoniam non transiet generatio haec donec omnia ista fiant. Caelum et terra transibunt verba autem mea non transibunt.  O amém é uma confirmação de que toda a força da verdade está na afirmação a seguir. Jesus afirma que tudo estará cumprido antes da geração ter acabado. As afirmações estão em sentido negativo e forte, empregando dois termos gregos [ou e më] que podemos traduzir por jamais ou nunca, muito melhor que por um simples não. O tempo de uma geração era de 30 anos, segundo Plutarco, mas o verbo usado, parelthe<3928>, indica preferentemente o tempo de uma vida humana, ou seja, que ainda haveria pessoas, atualmente presentes, vivas no triunfo de Jesus. Todas estas coisas, que significa? Os sinais, a abominação, o triunfo? Cremos que Jesus responde à pergunta: dize-nos quando será isso e qual o sinal de que todas estas coisas estarão para acontecer? A pergunta foi uma interrogação sobre a destruição do templo, predita por Jesus e com ela o pacto com o antigo Israel: Não ficará pedra sobre pedra (Mc 13, 2). Esta deve ser a reposta interpretativa,  essencial, das palavras de Jesus. Realmente, do templo não ficou nada e unicamente hoje temos um trecho do muro oeste, que podemos afirmar que formava parte do fundamento do templo e que ainda está conservado. Da época temos ruínas dos diversos templos, mas do templo de Jerusalém só podemos ver os fundamentos e alguns túneis subterrâneos, agora descobertos. O triunfo de Jesus será indicado pela destruição do templo de modo que agora os olhos da esperança messiânica só poderão enxergar o traspassado e não haverá outro templo (Jo 19, 37).

O DIA E A HORA: Mas a respeito daquele dia e da hora ninguém tem visto; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai (32). De die autem illo vel hora nemo scit neque angeli in caelo neque Filius nisi Pater. Com o dia e hora pretende Jesus que ninguém podia saber, nesse momento em que falava, o instante exato do evento. Os anjos são citados, pois se acreditava que eles conheciam muitos dos secretos ou mistérios de Deus. Num processo crescente, como se ele, Jesus, tivesse conhecimento superior ao dos próprios anjos, também se declara ignorante desse detalhe. O Filho está em substituição de Filho de Deus, não de filho do homem, pois nunca [‘uios <5207>, filho] sozinho, é usado como equivalente ao título de Filho do homem e sim como abreviação de Filho de Deus. A palavra Pai inclui toda a Trindade, pois em toda ela se dá uma única essentia, voluntas et notitia [essência, vontade e saber]. A solução é que a natureza divina de Jesus conhecia o momento, mas a natureza humana não, porque aquele que assumiu todos os elementos da fraqueza humana, também assumiu o saber e a ignorância que aumentam ou diminuem com o tempo. O vere homo [verdadeiramente homem] sempre foi subordinado ao vere Deus [verdadeiramente Deus], e este versículo pode ser interpretado como parte da solidariedade de Jesus com a impotência humana. Jesus confessa que como homem não tem uma ciência total. E como os fatos anteriores são da grande tribulação com respeito a Jerusalém, o que significa sofrimentos e morte, de forma que, se os dias não fossem abreviados, ninguém se salvaria (13, 2), Jesus pede além da vigilância, a oração.

PISTAS:

1) Talvez seja esta a página mais sombria de um evangelho que se traduz como boa nova. Mas devemos pensar que as tintas negras são para um povo que, vendo em primeira mão a luz não quis enxergar, e ouvindo diretamente as palavras da salvação, se obstinou em não escutá-las (Lc 8, 10). Por isso a nossa oração deve ser como a do cego de Jericó: Senhor, que eu veja! (Mc 10,51).

2)Não devemos temer o encontro com Jesus no dia final de nossa vida (a nossa parusia em particular) se temos o costume de encontrá-lo cada dia como Mestre e Senhor, porque as palavras que ouviremos nesse dia serão sem dúvida: Muito bem, servo bom e fiel. Vem alegrar-te com teu senhor! (Mt 25, 21).

3) A centralização de nossa vivência religiosa está em Cristo, pois a sua presença já está viva entre nós. O Reino lhe pertence, já tem chegado, e seu anúncio é uma convocação universal da qual somos partes e arautos, especialmente os consagrados a Ele ou ordenados como seus ministros (anjos).

4) Toda religião que promete um tempo imediato de parusia é falsa. Porque a parusia já está atuando desde a ruína do templo. Haverá momentos em que essa parusia (presença) se manifesta mais claramente como na queda do muro de Berlim, para citar um exemplo moderno. Mas Jesus está sempre presente e atuando na história. Assim como os judeus acreditavam na presença de Jahvé no templo, porque ele se manifestou no deserto, também temos o direito de ver Jesus na história, máxime quando sua presença é real na Eucaristia e Ele a promete profeticamente: Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt 28, 20).


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!

Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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