| GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
 
              20.01.20192º Domingo do Tempo Comum
                — ANO C
 ( VERDE, GLÓRIA, CREIO – II SEMANA DO SALTÉRIO )
 __ "Em Caná Jesus manifestou sua glória. Fazei tudo que ele vos disser! " __
 Ambientação:  Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!  INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A celebração de hoje continua sendo iluminada pela Epifania do Senhor. Com o milagre em Caná da Galiléia, Jesus começou a manifestar sua glória e a despertar a fé em seus seguidores. Depois desta manifestação divina, os discípulos são convidados a crescer na fé e participar da nova comunidade. Celebremos, alegremente.
 INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, após termos celebrado solenemente a epifania em que o Senhor se manifestou a todos os povos e nações pelo brilho da estrela; após termos celebrado festivamente o Batismo do Senhor em que o Pai manifestou seu Filho, ungindo-o com Espírito Santo para a missão; eis que neste domingo, em clima ainda de manifestação, o Cristo Senhor manifesta sua glória transformando água em vinho, oferecendo o vinho novo da Aliança selada por sua presença no meio de nós. Acolhamos, pois, o Senhor que se nos manifesta neste dia a Ele dedicado. INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Jesus é homem como nós; tem amigos e aceita o convite para um casamento, com sua mãe e seus primeiros discípulos. Esta semelhança torna-o "acessível", "conhecível" a nós. Mas Cristo é também "mistério", se ele não se revela, se não se manifesta sua identidade. Revelação que fará pouco a pouco, com sábia pedagogia. Cristo começa a revelar sua identidade não de modo verbal, explícito, como uma fórmula dogmática, mas faz isso através de uma linguagem de gestos. O sinal de Caná revela a glória de Jesus e desvela seu ser divino, através do pedido e da bondade de sua mãe ao interceder pelos noivos e a fé de Maria leva Jesus a "manifestar-se". Os discípulos crêem em Jesus; chegam de certo modo, até a fé de Maria. Não é esta também a missão da Igreja hoje, a missão de cada cristão, comunicar a fé? Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor! 
 
               (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) 
 PRIMEIRA LEITURA (Isaías 62,1-5):   - "Por amor a Sião, eu não me calarei, por amor de Jerusalém, não terei sossego, até que sua justiça brilhe como a aurora, e sua salvação como uma flama." SALMO RESPONSORIAL 95/96:    - "Cantai ao Senhor Deus um canto novo,  manifestai os seus prodígios entre os povos!" SEGUNDA LEITURA (1 Coríntios 12,4-11):    - "Há diversidade de dons, mas um só Espírito." EVANGELHO (João 2,1-11):   - "Tu és o meu Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição." 
 
 Homilia do Diácono José da Cruz — 2º Domingo do Tempo Comum - Bodas de Caná  — ANO C "Vinho Novo" Não sei dizer a razão pela qual faltou o  vinho nas Bodas de Cana, talvez a família não tivesse muitos recursos e fez uma  festa bem modesta, só para os mais íntimos. Também pode ser que o Encarregado  da cozinha, tenha errado no cálculo, ou então, porque havia um número excessivo  de “penetras”. Só sei que os convidados das bodas de Canaã ficaram admirados  com a qualidade e o sabor inigualável daquele vinho que serviram na última  hora, quando muitos já estavam até embriagados. Os discípulos e os que serviam  estavam de boca aberta, pois só eles sabiam que todo aquele vinho delicioso  fora tirado de seis talhas de barro, cheias de água. Um prodígio promissor para  Jesus iniciar seu ministério! Em Israel muita gente andava descontente  com a religião, porque transformaram o Deus da Aliança, tão rico em bondade e  misericórdia, em um legislador implacável, alguém frio que passava os dias  observando atentamente quem ousava desrespeitar a lei de Moisés. As pessoas iam  ao templo ou nas sinagogas com o coração pesado, por medo do que pudesse  acontecer, se deixassem de observar alguma das mais de seiscentas leis e  prescrições da religião. Existiam para os faltosos a possibilidade de se  livrarem da culpa, cumprindo os rituais de purificação feitos com água, mas que  também era complicado pois naquele tempo não se tinha a facilidade da água  encanada como hoje. Às vezes a prática da religião se torna  um peso quase insuportável, as vezes ao receber um sacramento, ou ao término de  alguma celebração, há quem dê um suspiro de alívio “Arre ! já cumpri minha  obrigação e estou livre!” para curtir o domingão. Certa ocasião depois da  celebração de crisma, um adolescente em frente a igreja dava pulos e esmurrava  o ar festejando quando alguém perguntou; “ feliz com a crisma recebida?” .  ---Muito feliz --- desabafou o jovem – pois agora não preciso mais vir à igreja  e estou livre! Para ir a uma festa, um dia antes já  estamos na expectativa, já para ir à igreja, chegamos na última hora e ás  vezes, se a celebração se alongar um pouco, saímos antes da bênção final pois  só temos paciência para agüentar a missa por uma hora. Precisamos rever o que  está errado, nossas liturgias não podem resumir-se ao “oba-oba” mas temos que  lhe dar vivacidade para que as pessoas saiam convencidas da graça de Deus e  cheias de coragem para dar testemunho. Não vale a pena praticar esse tipo de  religião meramente cultual ! Nas bodas de canã Jesus, ao transformar a água da  purificação em vinho da melhor qualidade, acabou com essa “chatice religiosa”  mas muitos ainda hoje insistem em beber desse vinho azedo de uma religião  angustiante, que bota freios no ser humano e coloca em seus olhos uma “viseira”  para somente enxergar na direção que aponta os dirigentes “iluminados” sendo  terminantemente proibido olhar em outra direção. A verdadeira religião supõe liberdade e  uma alegria incontida pelo fato de se tomar conhecimento de que Deus,  apaixonado pelo homem, manifestou o seu amor no seu filho Jesus, que ao chegar  a sua hora, a hora de mostrar a que veio, em um gesto de loucura aos olhos de  muitos, derramou até a última gota do seu sangue na cruz do calvário, para que  nós pudéssemos ser felizes e ter uma vida nova como homens livres. É este o pensamento que deve nortear a  nossa relação com Deus no âmbito da Igreja, uma alegria de saber que ele nos  ama tanto, que ele só quer o nosso bem em seu sentido mais pleno, um amor que  nos ama sem exigir nada, sem cara feia, sem mau humor, sem palavras amargas e  sem nenhuma censura – Deus é amor infinito, bondade eterna e misericórdia para  sempre! É essa, portanto, a novidade que Jesus traz ao mundo nas bodas de canã,  ele é na verdade o noivo apaixonado pela noiva que é a Igreja, assembléia de  todos os que crêem. Uma noiva não muito bela e nem sempre fiel, que às vezes se  deixa seduzir por outros “amantes” Entendida e aceita essa verdade, a Palavra de Deus celebrada e  proclamada em nossas comunidades, é uma carta de amor que ouvimos com o coração  aos pinotes, e a eucaristia se transforma em um jantar a luz de velas com  Cristo Jesus, o amado de nossa vida , ao sabor do vinho novo da graça  santificante que nos salva e liberta. Irradiar este amor a todos com o  testemunho de vida, é a única forma de transformar a sociedade e não adianta se  buscar outras alternativas, pois somente assim a glória de Cristo será  manifestada semeando a fé no coração dos descrentes! (2º.  Domingo do Tempo Comum João 2, 1-11) José da Cruz é Diácono da Paróquia Nossa
              Senhora Consolata – Votorantim – SP
 E-mail  jotacruz3051@gmail.com
 
 Homilia do Padre Françoá Costa — 2º Domingo do Tempo Comum - Bodas de Caná  — ANO C Eutrapelia Eutrapelia! Que palavra é essa? Hoje em dia quase ninguém conhece a virtude   da eutrapelia e por isso eu gostaria de apresentá-la. Apesar desse nome estranho   que ela tem, não deveria ser uma virtude desconhecida para nós. Sem a   eutrapelia, a pessoa correria o perigo ou de ficar sério demais ou de   divertir-se exageradamente. Foram Aristóteles e Santo Tomás de Aquino (cf. Suma   de Teologia, II-II, q. 149) que nos legaram essa palavrinha rara: a eutrapelia é   aquela disposição interior (virtude) que põe o justo meio entre a relaxação e a   seriedade excessivas em relação aos jogos e as diversões em geral. É evidente que o ser humano não pode viver trabalhando sem parar, nem se   divertindo sem cessar. O descanso sabático no Antigo Testamento e o dominical,   no Novo Testamento, condiz totalmente com a natureza humana. Necessitamos   descansar! Divertir-se é muito bom. Quem não gosta? A diversão revigora as   nossas forças e quando é feita em companhia dos outros nos torna mais generosos   e sociáveis. O cristianismo sempre valorizou o ócio santo, o descanso na   presença de Deus, e proíbe aquelas atividades desnecessárias que nos   distanciariam do gozo do domingo, do dia do Senhor. Efetivamente, um dos   mandamentos da Igreja é “guardar domingos e festas”, que inclui participar da   Missa todos os domingos e dias de preceito e descansar de acordo com as   possibilidades de cada um. Jesus, Maria e seus discípulos também participavam das festas de casamento;   Jesus descansava na casa de Lázaro, Marta e Maria; em várias ocasiões, diante   do esgotamento do trabalho apostólico, Jesus convidava os discípulos a descansar   um pouco. E – não se escandalize! – quando faltou o vinho na festa de Caná,   Jesus dedicou o seu primeiro milagre, pela intercessão de Nossa Senhora, a   transformar aproximadamente 600 litros de água em 600 litros do melhor vinho (e   era vinho com álcool, está claro!). A Igreja Católica, seguindo os passos do seu Divino Mestre, sempre defendeu a   bondade da criação. Lutou contra os gnósticos, os maniqueos e os cátaros de   todos os tempos, que afirmavam que a matéria e as realidades provenientes da   mesma foram criadas por um principio mau. A Igreja sempre afirmou a bondade do   matrimônio, a licitude das festas sadias e nunca proibiu o uso de bebidas   alcoólicas baseada em princípios doutrinais. A Igreja Católica é uma Igreja   alegre, bem-humorada e que transmite o gozo de ser filho e filha de Deus em   Cristo. A Igreja proíbe o pecado porque sabe que ele destrói o ser humano. Não   proíbe o uso da matéria e das coisas materiais postas pelo Criador ao serviço da   criatura. Depois que o Senhor Deus já havia criado quase tudo quis coroar a sua   obra ao fazer o ser humano à sua imagem e semelhança para que este pudesse   trabalhar, para que dominasse a criação, para que fosse fecundo em filhos, para   que fosse feliz (cf. Gn 1,26-28). Tudo isso poderia escandalizar a algum   católico cátaro ou algum evangélico albigense, e, no entanto, o Espírito Santo   quis deixar testificado na Sagrada Escritura que toda a realidade material é boa   e que somente quando a usamos fora do plano de Deus é que são ocasiões de   pecado. Para divertir-se segundo a vontade de Deus, o cristão necessita da virtude da   eutrapelia, como dizíamos. Essa virtude está relacionada com as virtudes da   modéstia e da temperança e ajuda a refrear os ímpetos da concupiscência – essa   desordem que permanece em nós e que nos leva a ofender a Deus – e a buscar o fim   para o qual fomos criados, que é Deus, enquanto nos divertimos. O homem que é um   animal racional precisa governar-se pela reta razão. Divertir-se excessivamente   mostra que a nossa sensibilidade não está subordinada à razão, daí a importância   de “saber divertir-se”. O cristão olhará sempre para o exemplo de   Cristo e dos seus seguidores, os santos, e se deixará conduzir pelo Espírito   Santo a cada momento. São Paulo também se preocupou com as diversões dos   cristãos de Éfeso e escreveu-lhes: “nada de obscenidades, de conversas tolas   ou levianas, porque tais coisas não convêm; em vez disto, ações de graças.   Porque sabei-o bem: nenhum dissoluto, ou impuro, ou avarento – verdadeiros   idólatras! – terá herança no Reino de Cristo e de Deus” (Ef 4,4-5). Para terminar, baste outra passagem muito conhecida onde o Espírito Santo nos   diz através de Paulo: “alegrai-vos sempre no Senhor. Repito. Alegrai-vos!” (Fl 4,4). Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo   Costa - 17/10/2010 
 Comentário Exegético — 2º Domingo do Tempo Comum - Bodas de Caná — ANO C(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
 Epístola - 1 Cor 12, 4-11DIVERSIDADE DE DONS: Existem, pois,   divergências [diairesis<1243>=disiones] de carismas [charismatön <5486> = gratiarum] , mas um mesmo Espírito [pneuma<4151>=Spiritus] (4). Dvisiones vero gratiarum sunt idem autem   Spiritus. DIVERGÊNCIAS: O Diairesis gregosignifica essencialmente divisão e daí   distinção, diferença, distinção por diferente distribuição em várias pessoas.   Sai unicamente nesta passagem, em três dos versículos com o significado de   diversos ou vários, significando falta de igualdade ou desigualdade.
 CARISMAS: A palavra grega Charisma tem o   significado de favor, presente, e, de modo especial bíblico, na economia divina   da graça, é o perdão dos pecados e a salvação [geralmente chamado de charis (=gratia) pelo apóstolo]; um outro significado bíblico é   o extraordinário poder de realizar obras supra-humanas sob o influxo do Espírito   Santo, atuante modo divino, por meio do ministério de homens escolhidos   livremente [é o que comummente chamamos de charisma =donum]. O   Carisma entra dentro das chamadas gratiae gratis datae e não gratiae santificantes. Estas últimas são divinas na origem, mas humanas   do ponto de vista de seus visíveis efeitos [modo humano]. As que denominamos   verdadeiros carismas são de origem divina e de resultados divinos [modo divino],   que Paulo chama manifestações do Espírito (1Cor 12, 7). Os autores   cristãos posteriores falam também de dörëma <1434> que   unicamente sai em Rm 5, 16 e Tg 1, 17 com o significado de presente [gift em inglês]. Com este mesmo significado de gift traduz a   bíblia NASB a palavra charisma, que sai 17 vezes no NT das quais 16 em   Paulo e uma em 1Pd 4, 10. Nem sempre carisma tem o significado de dom   extraordinário, mas de um dom de Deus como em Rm 5,15: Todavia não é assim a   ofensa como o dom [charisma=donum] pois pela ofensa de um só muitos   morreram; muitos mais a graça [charis=gratia] de Deus e o dom [dorea=donum] da graça [charis=graça]. Entre colchetes temos as   palavras em grego e latim para facilitar a exegese da passagem.Falando   dos carismas [gratis datae] ou dons extraordinários, temos em Paulo, 2 listas   diferentes: Rm 12, 6-8 [incompleta] e esta de 1 Cor 12, 4ss, em que trata de   como devem ser usados esses dons, especialmente do chamado dom de línguas no   capítulo 14. Estes dons, extraordinários em sua manifestação, foram prometidos   por Jesus a sua Igreja (Mc 16, 17-18) e no livro dos Atos vemos cumprida essa   promessa (At 2, 4;6.8;8,7 etc…). Dá a impressão de que os coríntios estavam   orgulhosos desses dons e de modo especial da impropriamente chamada glossolalia, que, na realidade, devia ser xenoglossia,   primeiramente observada no dia de Pentecostes, pelos diversos habitantes de   Jerusalém (At 2,4). Acredita-se que xenoglosssia era o dom de falar uma   língua desconhecida, mas real, que todo aquele que a falasse entendia. Assim,   aconteceu com os partos, medos … que se admiravam como simples galileus falavam   a língua em que os tais tinham nascido (At 2, 7-8). Já a glossolalia é   um fenômeno, muitas vezes completamente humano, em que se emitem sons, sem que   formem uma língua, devido em grande parte à emotividade da pessoa que as emite,   chegando até o canto mais ou menos rítmico. Outro fenômeno, que em vida de   certos santos foi possível comprovar, é que falando por exemplo em latim, eram   compreendidos por seus ouvintes que nada ou pouco podiam entender da língua do   Lácio, como dizem foi o caso de S. Bernardino, em Áustria. Nesta perícope, temos   o genë glössön [=genera linguarum], traduzido por famílias  ou   variedade de línguas, ou falar línguas, nas diversas bíblias vernáculas.
 UM MESMO ESPÍRITO: PNEUMA [=Spiritus] Pode ser   um poder derivado de Deus como em Maria achou-se grávida por obra do   Espírito Santo [ek pneumatos agiou=de spiritu sancto] (Mt 1, 18). Muitas   vezes, tem o artigo que corresponde, não a uma ação, mas a uma pessoa, como a   terceira pessoa da Sma. Trindade como é o Espírito, o divino, que Mateus chama   de Espírito de Deus [to pneuma tou Theou=Spiritum Dei]. Claramente o podemos ver   quando a blasfêmia contra o homem Jesus, é antagônicamente comparada com a   lançada contra o Espírito Santo [ kata tou pneumatos tou agiou=contra Spiritum   Sanctum]. Uma outra interpretação é o espírito humano, que comumente chamamos de   alma, como em Mt 26, 41: o espírito esta pronto, mas a carne é fraca (Mt 26, 41). Pode ser um ser espiritual, desprovido de corpo, como um anjo ou   diabo, como é o caso do espírito imundo [to akatharton pneuma = inmundus   spiritus] que sai do homem para voltar com outros piores do que ele (Mt 12, 43).   Para, finalmente, não falar do ar ou do alento do homem. Porém, neste versículo,   devemos entender como sendo o poder de Deus que atua livremente para dar aos   batizados, em seu nome, faculdades, tanto extraordinárias como comuns, para o   bem e edificação da Igreja.
 MINISTÉRIOS: Também há divergências de   ministéirios [diakoniön<1248>=ministrationum], mas um   mesmo Senhor [Kurios<2962>=Dominus] (5). Et divisiones   ministrationum sunt idem autem Dominus. Em termos profanos, DIAKONIA era um serviço de um homem livre, não escravo, ao   comando de um superior. Especialmente era o serviço da mesa como Marta em Lc 10,   40: que pode ser traduzido por serviço, ou ministério. Quando se trata de termos   bíblicos, é o serviço devido a Deus, proclamando e promovendo a revelação, como   era o ministério de profetas e apóstolos, evangelistas e presbíteros.SENHOR: Kurios [escrito muitas vezes como Kyrios, devido à   pronuncia ] é aquele a quem uma pessoa pertence, que tem o   poder de decidir, de mandar; é o dono de uma coisa ou pessoa como era um   escravo. No estado, é o soberano, o imperador. É o título dado a Deus; e   finalmente, Kurios é a tradução da Setenta no VT, de Adonai, Eliah, Elohim, Jahve, ou Jah, todas estas   vozes que eram usadas para Deus em hebraico. No NT, aparece 722 vezes e, delas,   25 nesta epístola aos de Corinto. Certamente, como no AT, Kurios é o título de   Deus, mas de modo especial é o título de Cristo ressuscitado, que, nesta carta,   Paulo chama de nosso Senhor [Kurios] Jesus Cristo (7 vezes);   ou Senhor [Kurios] Jesus (2 vezes); ou simplesmente Senhor   [Kurios] (13 vezes), inconfundível com o Pai; pois é quem deve vir a julgar, ou   é o crucificado, e especialmente de quem Paulo e outros são ministros; e outras   3 vezes em que não é definido o Senhor. Pelo versículo 3,5 [Apolo e Paulo, servos (diakonoi)...conforme o Senhor concedeu a cada um]   devemos pensar que esse Senhor/Kurios/Dominus deste versículo é Cristo.
 ATIVIDADES: E também divergências de trabalhos [energëmatön<1755>=operationum] mas um só é o Deus, quem obra   todas as coisas em todos (6). Et divisiones operationum sunt idem vero   Deus qui operatur omnia in omnibus.TRABALHOS: Energëma em   grego é o efeito de uma operação, o resultado de um trabalho, que é traduzido   por realização. Poderíamos traduzir por práticas ou realizações e que o latim   resume como operações. Atividades é a tradução do inglês. Se o carisma é   atribuído ao Espírito, o ministério ao Cristo, estes efeitos finais da atuação   são produtos do Pai, de Deus [Theos] que é o modo de nomear a primeira pessoa da   Trindade, que é a causa efetiva de tudo.
 MANIFESTAÇÕES: A cada um, portanto, é dada a   manifestação [fanerösis<5321>=manifestatio] do Espírito   para o (comum) proveito (7). Unicuique autem datur   manifestatio Spiritus ad utilitatem. MANIFESTAÇÃO:Fanerösis sai só duas vezes (1 Cor 12, 7 e 2Cor 4, 2); e   podemos traduzir por uma visível atuação divina [do Espírito] clara, como era a   palavra de Paulo em sua evangelização. Para isso era preciso um ato miraculoso   ou extraordinário. Mas esse ato era para o bem comum. Cristo curou a muitos, mas   não quis responder ao milagre que lhe pediam os seus inimigos: se és Filho   de Deus, desce da cruz (Mt 27, 40). Assim são também os santos: para si a   dor e a morte, para os outros o amor e a vida.
 O PODER DA PALAVRA: A alguém, pois, através do Espírito   é dada palavra de sabedoria [sofias <4678> =sapientiae],   a outro, porém, palavra de conhecimento [gnöseös<1108>=scientiae] segundo o mesmo Espírito (8). Alii quidem per Spiritum datur sermo sapientiae alii autem sermo scientiae   secundum eundem Spiritum.O ESPÍRITO é o poder divino que   se manifestava especialmente na palavra do profeta e no milagre do taumaturgo.   Logicamente neste versículo, temos o poder da palavra que não aparece como   revelação do futuro, mas como sabedoria e ciência. Que significa SOFIA [sapientia] em sentido bíblico? Em sentido clássico é um   conhecimento amplo de diversas matérias e eventos. Especialmente esse   conhecimento que dá a experiência dos acontecimentos, expressado em fórmulas   breves, como máximas e provérbios. Em termos bíblicos, é o poder de interpretar   sonhos e visões, como eram os sábios [chartumim, magoi, magi, wise men], que   acompanhavam os tronos reais. Em hebraico é chokhmah ou chakam<02451> como vemos em Is 29, 14: a sabedoria de   seus sábios [chakam] perecerá. Dentro destes sábios entram os   astrólogos ou magos [hartom<02748>=magos/magus], dos quais é exemplo Mt   2,1 que narra o relato dos magos do oriente, provavelmente nabateus, das   caravanas do deserto arábico. No NT temos Mt 11, 9: A sabedoria é justificada por suas obras. Ou por suas   consequências. Paulo fala frequentemente da palavra de Sabedoria, que para ele é   o evangelho de Jesus Cristo, completamente desconhecido dos sábios do mundo;   pois, apesar dos gregos buscarem a sabedoria [a razão do mistério da vida e da   existência do mundo] eles não a encontraram em Cristo que é a chave para   entender a sabedoria infinita de Deus (1 Cor 1, 24 e 1, 30). Sabedoria, em   termos bíblicos, era a ciência do bem e do mal (Gn 2,9) própria de Deus e que,   em termos humanos, significa saber o que devemos fazer na prática para nossa   felicidade. Alguns exegetas dizem que a ciência do bem e do mal representa a   totalidade dos conhecimentos possíveis.
 PALAVRA DE SABEDORIA: É   a disposição de falar sabiamente, como falava Jesus na sinagoga, de modo que os   presentes diziam de onde lhe vem tudo isto? Como tem tal sabedoria? (Mc   6, 2) É a promessa que Jesus deu aos seus discípulos: quando os levarem às   sinagogas ante os magistrados e autoridades não vos preocupeis com o que, ou   sobre como haveis de falar, ou que haveis de dizer. O Espírito Santo vos   ensinará, naquele momento, o que deveis dizer (Lc 12, 11-12). De fato,   Estêvão confundiu seus adversários, como narram Atos 7; e Paulo fala de modo tão   convincente, que o rei Agripa confessou: Pouco me falta para que, pelo teu   arrazoado, para fazeres de mim um cristão (At 26, 28).
 ENTENDIMENTO: ou Gnösis, é o conhecimento em   geral; No tempo de Paulo, ainda não existia a heresia que, no final do primeiro   século e inícios do segundo, constituiu o gnosticismo, em cujos princípios está   o de que a salvação depende do conhecimento [da gnösis] e  não é obra da graça e   misericórdia divinas. Distingue-se da sofia em que a gnosis é   o saber teórico e sofia é o saber prático, especialmente quando se trata dos   últimos princípios ou razões básicas. Diríamos que sofia é a aplicação prática   da gnösis. Das 28 vezes que encontramos a palavra gnosis no NT, na carta atual   sai 9 vezes. Na primeira parte, a gnosis trata sobre os ídolos e o problema dos   idolotitos [carnes anteriormente consagradas a um ídolo]. Na segunda parte,   Paulo diz que ele tem o dom do conhecimento, indicando a explicação de pontos de   moral difíceis, como dirá em 1 Cor 7, 12: aos outros digo eu, não o Senhor; e porque em virtude da   missão que Deus me encomendou,vos digo a cada um de vós (Rm 12, 3).
 PALAVRA DE CONHECIMENTO: Era, pois, um dom como de mestre e   guia dos espíritos em ordem ao bem dos ministrados, que estes aceitavam como   palavra correta a seguir. Na realidade não sabemos certamente em que consistia   esse dom de conhecimento e só através dos escritos podemos entrever uma solução,   sem termos total certeza da mesma. Segundo alguns, Jesus usou desse dom quando   pediu a Pedro que pescasse o peixe onde encontrar o didracma para pagar o   tributo (Mt 17, 24-27). E Paulo o praticou, pedindo que lançassem o carregamento   para salvar as vidas, na tempestade (At 27, 10). Umas vezes ouvimos como uma   palavra de um simples cristão encerra uma verdade que os próprios entendidos não   souberam descobrir. Um sacerdote contava como numa reunião alguém disse: Como um padre pode se declarar irmão de Jesus, se não aceita Maria como sua   mãe? Do cardeaL Tomasino diziam os calvinistas : cavete Tomasinum,   pois sua lógica era irrefutável.
 FÉ E CURA: A outro, porém, fé [pistis<4102>=fides] no mesmo Espírito, a outro, pois,   carismas de curas [iamatön<2386>=sanitatum] no mesmo   Espírito (9). Alteri fides in eodem Spiritu alii gratia sanitatum in   uno Spiritu. FÉ: Pistis, em grego, tem como significado   primário fidelidade, exatamente como fides em latim   não bíblico, em que encontramos fidem fallere [faltar à palavra]. É a   tradução de emeth<571> ou emunah <530>pela Setenta, preferindo aletheia para emeth e pistis para emunah.Famosa é a passagem de Habacuc   2, 4: O que não é honesto sucumbirá; mas o justo viverá por sua   fidelidade [emunah/pistis],  que no grego não é a fé ou   fidelidade do justo mas de Deus (minha   fidelidade=ek pisteös mou). Deste versículo fez Lutero seu princípio   fundamental, traduzindo pessimamente: o justo vive só (?, por ele acrescentado) pela fé, do texto grego de Rm 1, 17,  que deve ser traduzido: A   justiça  pois de Deus nEle se revela de fidelidade em fidelidade,como está   escrito:pois um justo viverá por meio da fidelidade [de Deus]. Em Habacuc a   Setenta traduz ek pisteös mou zësetai [da fidelidade de mim viverá] e   Paulo ek pisteös zësetai da fidelidade viverá]. No NT, a fé é pistis e   era precisamente a confiança na pessoa de Jesus como tendo o poder de   curar, que o Mestre exigia dos doentes, para curá-los (Mt 8, 10 e 9, 2 como   exemplos). Jesus repreende seus discípulos como homens de pouca fé, pois se   tivessem uma fé como um grão de mostarda poderiam remover montanhas (Mt 17,   20). Será Paulo quem opõe a Torah [Lei antiga] a fé em Cristo, em suas epístolas   e propõe, como resposta à misericórdia divina, a fé do batizado, e a chama de obediência da fé (Rm 1, 5) com a qual, além da fé,   Paulo implica implicitamente obras, como Tiago em sua epístola diz que ao   oferecer a seu filho Isaac sobre o altar cooperava com as obras, a   fé e que esta se tornou perfeita pelas obras,   cumprindo assim as escrituras que diziam: Abraão creu em Deus e isso lhe foi   contado como justiça e foi chamado amigo de Deus. Vede, pois que o homem é justificado pelas obras e não só pela fé (Tg 2, 21-24). Como vemos, não existe contradição entre os dois apóstolos se   traduzimos e interpretamos corretamente os textos de ambos. Mas qual é a fé   deste versículo paulino? Evidentemente, não é á fé passiva de um doente que   espera a cura, mas uma fé ativa que se traduz em obras. Exemplos temos na vida   dos santos: realizaram obras consideradas como impossíveis, do ponto de vista   humano, unicamente considerada a proteção divina. É a fé que Jesus encontrou   deficiente em Pedro quando este começou a afundar pela fúria das ondas (Mt 14,   30-31). Um exemplo dessa fé é a Piccola Casa Della Divina Provvidenza  de   Cottolengo. Vivendo apenas de esmolas, nessa casa vive-se pela fé, cumprindo a   promessa de Jeremias: Eis que lhes trarei saúde e cura e os sararei e lhes   revelarei abundância de paz e segurança (33, 6). Veremos isto no   exemplo.
 OUTROS DONS: Porém a um outro obras de milagres [dunameön<1411>=virtutum], a outro, pois, profecias [profëteia <4394.=prophetatio], a mais outro discernimento [diakriseis<1253>=discretio] de espíritos, a um outro   famílias [genë<1085>=genera] de línguas [glössön<1100>=linguarum], a um outro interpretação [ermëneia<2058>=interpretatio] de línguas (10). Alii   operatio virtutum alii prophetatio alii discretio spirituum alii genera   linguarum alii interpretatio sermonum. OBRAS DE MILAGRES: Em grego dunamis (força ou poder), que o latim traduz   literalmente por virtus [=força]. Obras do poder de   Deuscomo autor principal, que têm como mediadores os seus   santos. Atualmente não existe beato ou santo na igreja sem que seja antes   firmada sua vida heróica pelo milagre, que o distingue como amigo de Deus.
 PROFECIAS: é a voz de Deus numa circunstância especial,   manifestando sua mensagem, que, nem sempre, é desvendar o futuro. Para isso, usa   a voz de um de seus servidores. Exemplo: At 21, 10-11, quando Ágabo profetizou a   prisão de Paulo em Jerusalém.
 DISCERNIMENTO DE ESPÍRITOS: Dentro das comunidades, havia diferentes palavras que eram   pronunciadas como voz de Deus, mas podiam vir de outro espírito, aquele que   Jesus dizia ser o pai da mentira (Jo 8, 44). Em At 16, 18 vemos uma jovem que   tinha o espírito de adivinhação e que Paulo expulsou. Dentro da comunidade de   Corinto, Paulo dá uma norma para distinguir o falso espírito: ninguém que   fala pelo espírito de Deus afirma: Anátema Jesus. Por outro lado, ninguém pode   dizer Senhor Jesus senão pelo Espírito Santo (1 Cor 12, 3). Paulo dirá que   Satã pode se revestir como anjo de Luz (2 Cor 11, 14) e seus ministros em   ministros de justiça. Hoje, será a voz da Igreja que nos guiará através dos   bispos e do Papa; mas como saber qual a vontade de Deus em casos particulares e   concretos? A voz dos superiores e dos diretores espirituais, que sejam mais   sábios do que santos como dizia Tereza de Jesus. Santo Ignácio de  Loyola tinha   como norma: os desejos divinos produzem dor no início, mas logo se transformam   em paz. Os do inimigo são agradáveis no início e logo, produzem angústia e   depressão. S João da Cruz afirmava: escolhe sempre o menos conforme com tua   vontade. Estes eram grandes santos que indubitavelmente tinham o dom de   discernimento de espíritos.
 FAMÍLIAS DE LÍNGUAS: Os de língua   inglesa falam do dom de línguas como usado unicamente como prece em louvor de   Deus e Paulo o descreve com alguns detalhes em 1 Cor 14,14-15. Nesse momento, o   falante se deixa guiar pelos impulsos divinos, de modo que é o Espírito infuso   que com sons ininteligíveis  (14, 2) fala por nós. Tanto é assim, que o falante   em línguas nem a seu próprio entendimento edifica, porque não compreende o que   diz, segundo Paulo. O apóstolo ordena que, se não existe um intérprete, não se   fale em línguas, porque não edifica a comunidade. Não é um dom que indique o   estado de graça de uma pessoa. A jumenta de Balaão falou e era um animal sem   entendimento. No mundo atual, existem muitas simulações e imposturas e é difícil   se subtrair a seus aliciadores, porque quem não fala em línguas é considerado   como pobre de espírito e desprovido do mais elementar dom divino que a todos é   concedido. É um assunto delicado e sem uma solução clara, pois a maioria dos que   se dizem em línguas é um blá, blá, blá que não pertence a língua nenhuma e é só   um balbucio sem sentido.
 INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS: Só sai 2   vezes (1Cor 12, 10 e 14,26). É possível que nos primeiros tempos, a glossolalia fosse também, como no caso de Pentecostes, xenoglassia, ou seja, falar uma verdadeira língua estranha (caso de   Cornélio de Atos 10). Somente quando estiver um intérprete é que o tal podia   falar, segundo Paulo.
 DONS GRATUITOS: Porém, todas estas coisas opera o único   e o mesmo Espírito distribuindo os seus (dons) a cada um como lhe apraz (11). Haec autem omnia operatur unus atque idem Spiritus dividens   singulis prout vult. Paulo termina este trecho, afirmando que tudo procede   de uma única causa: o espírito, alento, sopro vital, faculdade, ou impulso que   tem como causa o próprio Deus e a quem Paulo chama de Espírito. Estes dons são   dados grátis e por isso, recebem o nome de gartiae gratis   datae [gracias dadas de gracia]. Deus reparte e é Ele quem escolhe   livremente. EvangelhoAS BODAS DE CANÁ - (Jo 2, 1-11) A cena evangélica é situada em Caná da Galileia no meio de uma boda. Mas os   protagonistas não são os noivos senão Jesus e Maria, especialmente esta parece   ser a dona do espetáculo. Daí que à parte o poder de Jesus interpretado em   termos cristológicos como Salvador do momento, vejamos em aspectos mariológicos   a súplica toda poderosa da intervenção de sua mãe, Maria. Ela adianta a hora de   Jesus manifestando-se sensível às necessidades dos seus conhecidos e devotos.   Maria é a onipotência suplicante enquanto Jesus é a onipotência por   essência. A BODA: Assim, no terceiro dia aconteceu uma boda [gamos<5154>nuptiae] em Caná da Galileia e estava a mãe   de Jesus ali (1). Et die tertio nuptiae factae sunt in Cana Galilaeae   et erat mater Iesu ibi NO TERCEIRO DIA:Segundo a   numeração, um tanto fictícia  de João, o evangelista, aconteceram três dias (?)   memoráveis na vida de Jesus: O primeiro dia, Jesus encontra o Batista (Jo 1,   29). O segundo, Jesus encontra seus primeiros discípulos (Jo 1, 35). O terceiro   dia, Jesus encontra Filipe a ponto de ir para a Galileia (Jo 1, 43). E agora o   evangelista fala do terceiro dia que propriamente seria o quarto. Ele não   enumera os dias como primeiro, segundo, terceiro, mas diz no dia seguinte, [tê   epaurion<1887>] altera die. Sem dúvida que esse outro dia não era   matematicamente o dia imediato, mas um outro dia ou um dia posterior, podendo   haver um intervalo maior entre os dias que as 24 horas. Por que, pois, o   evangelista está tão interessado em falar agora de no terceiro dia, que não admite outra   interpretação a não ser a matemática? Pois porque o evangelista quis mostrar   como a redenção era uma cópia da criação. Eis o comentário dos exegetas: in   tertia die porque este era o terceiro dia em que Deus estabelecia uma união   com os homens. Pois, no primeiro   dia do homem, na manhã original da criação de Adão e Eva, Deus os   abençoou e estabeleceu que eles deveriam crescer e multiplicar-se (Gn 2   ,28), a fim de que muitos participassem da vida e felicidade divinas. E   esta foi, em certo sentido, a primeira aliança de Deus com o homem. Num segundo dia, Deus firmou aliança com   Abraão (Gn 12, 2-3), prometendo-lhe uma grande descendência, assim como a sua   bênção e proteção. Foi dessa aliança que nasceu o povo eleito, com o qual Deus   firmou seu pacto no Sinai. Agora, in die tertia, Cristo instituía o   sacramento do matrimônio, imagem de suas núpcias eternas com a santa Igreja. S.   Tomás, comentando essa expressão – in die tertia – diz que o primeiro dia foi o   da lei natural; o segundo foi o da lei de Moisés; e o terceiro foi o dia da   graça. Caná significa zelo. E o nome Galileia tem raiz em Galut, que significa   exílio. Porque a Sabedoria divina, exilando-se do céu encarnou-se em Cristo,   para, ardendo em zelo, vir a esta nossa terra de exílio, a fim de salvar os   homens. Uma outra interpretação é que o casamento se deu no terceiro dia da   semana [tuesday em inglês e martes em espanhol], como vemos era costume entre os   judeus. Não era um dia terceiro após os dois anteriores, mas o dia terceiro da   semana.  OS NOIVOS: eram judeus, membros da Antiga Aliança. E   suas núpcias se davam de acordo com a Lei de Moisés e os costumes da sinagoga.   Eles representavam então as núpcias de Deus com a Sinagoga, que São Paulo   comparou com as núpcias de Abraão com sua escrava Agar. E a de Jacó com Lia.   Agar era a escrava e não a esposa legítima e primeira, e Lia tinha os olhos   doentes e por isso não via bem. Assim a sinagoga foi a escrava e não a   verdadeira esposa, e, quando chegou o Esposo, ela não o reconheceu, porque não   viu nEle a realização das profecias. Ela foi cega ao meio dia, hora em   que levantaram Cristo na cruz, no Calvário. Pois como o próprio Moisés   profetizara, caso Israel fosse infiel: O Senhor te fira de loucura e de   cegueira e de frenesi, de sorte que andes às apalpadelas ao meio dia como um   cego costuma andar às apalpadelas  nas trevas, e não acertes os teus caminhos   (Dt 28, 29). E Isaías confirmou isto ao profetizar: Tira para fora o   povo cego, apesar de ter olhos, o povo surdo, apesar de ter ouvidos (Is 47, 8).  A BODA: a Mishná (tradição escrita que contém a norma   autorizada e autoritária nas judiarias tanto de Israel como da diáspora ) no seu   tratado de Ketubá(documento matrimonial), afirma que uma virgem deve se casar na   quarta feira e uma viúva na quinta. Os judeus tinham em grande estima o   matrimônio, sobretudo relacionado com a descendência. Rabi Eliezer dizia: Todo aquele que não pratica a procriação é semelhante àquele que derrama   sangue. No comentário a Gn 1,18 Maimônides declara que a Torah condena o   celibato. O varão pode contrair matrimônio após a cerimônia do bar Mitzvá [13   anos] e a mulher após a primeira menstruação entre os doze e doze anos e meio.   Mas o homem é obrigado a contrair matrimônio desde a idade de dezoito até vinte   anos; com exceção de quem tem que abandonar o estudo da Torah para procurar   manutenção. Pois o homem deve primeiro preparar o lar, plantar uma vinha   (estabelecer trabalho digno de sua manutenção) para depois contrair matrimônio.   As meninas eram desposadas aos doze ou doze anos e meio, pois até essa idade o   pai tinha domínio sobre suas filhas. Os homens casavam aos dezoito até os vinte   e cinco anos. Pelo desposório a jovem passava do domínio do pai ao domínio do   esposo. Uma mulher é adquirida por dinheiro, documento (ketubá) e coito.   Geralmente entre o desposório e a boda transcorria um ano. Após o   enfraquecimento da fé por causa dos casamentos mistos com mulheres idólatras (Ex   34, 15-16), Esdras mandou expulsar as mulheres estrangeiras (10,1-17). Portanto,   os casamentos entre os judeus eram endogâmicos, e até dentro da mesma tribo,   especialmente entre os sacerdotes e os descendentes de Davi. Para demostrá-lo,   solicitava-se ao Chatán [noivo] e a Kalá [noiva] a apresentação do ketubá   [documento do contrato  de seus pais]. Segundo a Mishná uma virgem devia casar   na terça-quarta feira e uma viúva na Quarta/quinta. O costume foi iniciado,   segundo tradição, por Ezra, descendente de Judá conforme Crônicas 4,17. A razão   é que se a esposa não fosse virgem o assunto devia ser levado ao tribunal que se   reunia nas segundas e quintas feiras. Depois se inventou uma razão simbólica   afirmando que o terceiro dia da semana era o dia da criação no qual por duas   vezes Deus usou o estava bem, tanto ao ver a separação do seco e do   úmido, como ao ver o brote das árvores e sementes. Era, pois, um dia de sorte   por ser abençoado duas vezes por Deus. Uma boda não devia celebrar-se em Shabat   [sábado] ou durante as festas, incluídos os dias entre Páscoa e Sucoth   [pentecostes] devido ao mandato de que os judeus não devem misturar uma alegria   com outra. Os judeus sempre gostaram de festas e as bodas eram geralmente   celebradas no fim do outono, após a colheita, meses de outubro-novembro. O   casamento demorava até uma semana ou mais (Gn 29, 27; Jz 14,10.12.17;Tb 9,   12.10,1). Durante elas os parentes e amigos iam felicitar os esposos; nos   banquetes podiam participar até os transeuntes. O vinho era considerado elemento   indispensável às comidas e servia para criar um ambiente festivo. O vinho era   para a festa como o sal é para a comida. As mulheres intervinham nas tarefas da   casa; por isso Maria pode saber de que o vinho era escasso. As testemunhas,   tanto da parte da noiva como do noivo, eram em grande número. Amigos do esposo,   chama o evangelho a estes últimos. (Mt 9, 15). Dentre eles escolhia o noivo um   paraninfo ou padrinho ( Jz 14, 20) que João chama de amigo do esposo (Jo 3,29).  A CERIMÔNIA: Antes do casamento havia o cortejo nupcial. A   noiva saía de sua casa acompanhada das pessoas que formavam o seu grupo; O noivo   vinha de outro lugar por ele escolhido. O destino era a casa do pai do noivo. Os   dois grupos eram constituídos de amigos de cada um, que iam tocando instrumentos   musicais, cantando e espalhando flores pelo caminho. Quase sempre eles cantavam   as tradicionais músicas de casamento, das quais, às vezes, constavam versos de   amor dos Cantares (Ct 3,6). É a esse cortejo que Jesus se refere na parábola das   dez virgens (Mt 25, 1-13). A noiva era vestida com os melhores trajes e com as   mais belas joias. Seu rosto estava coberto por um véu, que retirava quando os   dois esposos estivessem a sós. Os convivas também luziam roupas festivas ou   vestes nupciais (Mt 22, 11). A cerimônia propriamente dita era chamada de Hupah   [=toldo] era o pálio nupcial que representava o próximo lar, e sob o qual se   assentavam os dois novos esposos durante as bênçãos rituais. Não parece ter   havido juiz ou rabi religioso no casamento (nessuin, era o nome para o   casamento religioso) sendo que a cerimônia tinha como modelo a prática observada   por Isaac e Rebeca (Gn cap 25). Por isso os casamentos não eram realizados na   sinagoga, mas na casa do pai do noivo. Talvez recitavam-se as sete bênçãos que   comparam o casamento com a dedicação entre Jahvé e seu povo de Israel, da qual o   matrimônio era figura (Jr cap 3). Os votos e os compromissos tinham sido feitos   anteriormente (Gn 24,67).  A CONSUMAÇÃO: Enquanto os amigos   cantavam e se divertiam, os esposos entravam numa tenda ou quarto, previamente   preparado para ser a câmara nupcial. No meio de instrumentos e cânticos o   matrimônio era consumado e algum tempo depois o casal saia da câmara trazendo as   provas de que a noiva virgem havia se unido ao esposo. Feito isso os   recém-casados uniam-se ao resto dos convidados e as comemorações continuavam   durante sete dias ou mais. Era num dos dias dessa festa que Jesus chegou a Caná   como convidado.  A MÃE DE JESUS: Assistir a um banquete era   considerado como um ato de beneficência e deferência por parte do convidado.   Entre os convivas estava Maria, não citada pelo nome, mas como a Mãe de Jesus.   Segundo alguns comentaristas Alfeu ou Cleofás cunhado de Maria por estar casado   com a sua irmã (Jo 19, 25), tinha sua morada em Caná e era portanto uma boda   familiar. Isso explicaria a intervenção e o protagonismo de Maria. Pois das três   Canás que conhecemos, a da Galileia parece estar a 4 km de Nazaré.NOTA: Atualmente celebra-se o matrimônio nessuim ou   seja como rito religioso na sinagoga. Embaixo da Hupá [pálio nupcial] que seguram quatro jovens solteiros, colocam-se os noivos. O   rabi abençoa um copo de vinho e dá de beber aos noivos. Estes utilizam o mesmo   copo como símbolo da partilha a que se comprometem. Depois o noivo coloca um   anel de ouro na mão da noiva, garantia de que irão conviver seguindo a Lei de   Moisés. Segue-se a leitura da Ketubá, contrato matrimonial, que   especifica as obrigações dos noivos e o dote da noiva. As sete bênçãos são, então, recitadas e, no fim, o noivo parte um copo   com o pé, recordando a dolorosa destruição do Templo de Jerusalém. Seguem-se   cânticos e música em redor dos noivos até que a alegria e a felicidade   transpareçam no rosto de ambos. A festa continua com uma boda oferecida aos   convidados.
 JESUS CONVIDADO: Ora, foi chamado também Jesus   e os seus discípulos ao casamento [gamon](2). vocatus est   autem ibi et Iesus et discipuli eius ad nuptias. Jesus entrou como   convidado e com ele seus novos cinco discípulos:  André, João, Simão, Filipe e   Natanael, este último de Caná. O convite indica que existia algum parentesco   entre Jesus e os noivos. Provavelmente, os esposos eram parentes de Maria e de   Jesus. Na festa entrou Jesus com os novos discípulos em número de cinco. Entre   os invitados não se cita S José, coisa que não é possível atribuir a um   esquecimento do evangelista. Isto supõe que o santo Patriarca tinha já morrido.   Para demonstrar a bondade de todos os estados da vida: Jesus se dignou nascer   nas entranhas de Maria; recém-nascido, recebeu os louvores de Simeão e Ana e,   invitado na sua idade madura, honrou com sua presença as bodas e com seu poder   as abençoou. Esta presença de Jesus nas bodas de Caná, é um sinal de que Jesus   abençoa o amor entre homem e mulher, carimbado no matrimônio como vínculo   social. Deus, com efeito, instituiu o matrimônio no princípio da criação (Gn 1,   27-28), e o confirmou e elevou à dignidade de Sacramento (Mt 19, 6). S. Tomás   diz que existe uma outra razão: para demonstrar que a matéria [o corpo e suas   finalidades] é boa, ao contrário do que ensinam os hereges [gnósticos, maniqueus   e cátaros]. Uma outra conclusão é a de que a atuação de Jesus nestas bodas é   totalmente contrária ao teetotalismo [total absentismo de bebidas   alcoólicas da letra T (t de total) em inglês]. Uma minoria de modernos leitores   [os da Wicca, neopaganismo de Gerald Gardner (Wicca significa bruxo [Witch] em   antigo saxon)] querem ver nestas bodas as do casamento de Jesus com Maria   Madalena, porque o casamento era originalmente este, mas o evangelista o coloca   em Caná e diz que Jesus era um invitado, para iludir, como igreja oficial, as   negativas consequências. O VINHO: E tendo faltado vinho, diz a mãe de Jesus a   ele: Não tem vinho [oinou<3631>=vinum] (3). Et   deficiente vino dicit mater Iesu ad eum vinum non habent. O   VINHO: era como o sal para a comida. Faltando o mesmo, o banquete de   bodas não tinha razão de ser. Era o fim. Maria, como mulher, estava atenta às   necessidades do banquete. Ela se deu conta do fato. Se como a tradição supõe, as   bodas eram entre um filho(a) de Clopas, irmão de José, o esposo de Maria, o   interesse desta última era evidente. Se Clopas e Cléofas são a mesma pessoa,   este era o pai de Tiago o Menor (Jo 19, 25), pois Alfeu e Clopas dizem ser a   mesma pessoa, já que João fala da mãe de Tiago como sendo mulher de Clopas.   Alfeu é nome grego,  derivado do Chelef hebraico, em que ch se pronuncia como j   espanhol ou como k. Alfeu significa mudança. Clopas é nome grego de Chelef como   indica o dicionário Key Word. Já Cléopas  é abreviado de Cleopatros [pai   ilustre]. Porém Clopas e Cléopas parecem ter a mesma raiz e se pronunciados por   judeus em que as vogais não eram fixas, talvez tenhamos a solução. É a anotada   por César Vidal no seu Dicionário de Jesus, e que implicitamente aponta a   Enciclopédia Bíblica de Orlando Boyer. Geralmente o vinho era acumulado como   presente dos convivas. Jesus e seus discípulos não o trouxeram e pode ser uma   das razões de sua falta. Daí que Maria fizesse a petição. A falta poderia ser   remediada com o aportamento de Jesus e dos discípulos, cujo presente estava em   falta. Esperava Maria um milagre? Segundo a tradição, o Messias não era   particularmente uma pessoa milagreira, embora para o povo existisse semelhante   carisma (Jo 7,31). Não era visto assim o profeta que esperavam os judeus no   tempo do Messias. Profeta semelhante a Moisés (Dt 18, 15). Seria semelhante a   Elias ou o próprio Elias (Mt 16, 14). Maria sabia que seu filho era o Messias   (Lc 1,32). A falta de vinho era total ou estava reduzido ao mínimo que com a   ausência dos acompanhantes de Jesus poderia se prolongar um tempinho a mais?   Porque a pergunta de Maria refletia uma circunstância semelhante à que Jesus fez   em Marcos em 8,2 : não tem o que comer.
 A MÃE DE JESUS: No quarto evangelho, a mãe de Jesus [é o título que dá o evangelista a   Nossa Senhora] aparece somente duas vezes: uma, neste episódio, a outra, no   Calvário (19, 25). Com isso, está insinuado a participação de Maria na Redenção.   Entre os dois acontecimentos, Caná e Calvário, existem várias analogias.   Situam-se uma no início e outra no final da vida pública, como para indicar que   toda a obra de Jesus está acompanhada pela presença de Maria. Seu título de Mãe   adquire ressonâncias especialíssimas: Maria atua como verdadeira mãe de Jesus   nesses dois momentos nos quais o Senhor manifesta a sua divindade. Ao mesmo   tempo, ambos os episódios, assinalam a solicitude de Maria como verdadeira mãe:   no primeiro dos esposos, no segundo de Jesus. No primeiro intercede ao filho. No   segundo oferece ao Pai a morte do Filho. E se torna mãe dos discípulos amados do   Filho ao recebê-la estes como própria. A RESPOSTA: Diz a ela Jesus: que há entre mim e ti,   mulher? Ainda não está presente minha hora(4). Et dicit ei Iesus quid   mihi et tibi est mulier nondum venit hora mea. QUE HÁ   ENTRE MIM E TI(sic)? A frase, exatamente igual em dois   lugares do grego dos setenta, tem dois sentidos: a) No caso de uma ofensa, o   ofendido dirá: Que coisa eu fiz para me tratar dessa forma? Um exemplo os   demônios tiëmin kai soi [que há entre nós e a ti]   (Mc 1, 24). b) Resposta a um solicitante, quando o interrogado não quer se   imiscuir no caso: Por que eu devo me incumbir de coisa que não me interessa? No   caso de Eliseu ao rei de Israel, idólatra em 2 Rs 3, 13 o profeta rejeita a   presença do rei de Israel, dizendo: “Que tenho eu a ver contigo, pois tu   tens os profetas de teu pai e tua mãe. Se não fosse pela presença do rei de   Judá, eu nem sequer olharia para ti”. Evidentemente é a segunda   interpretação a própria deste trecho. Davi a Abisai que queria matar Semei que o   amaldiçoava: Que tenho convosco filhos de Sárvia (2 Sm 16, 10). Em   ambos os casos a frase indica uma oposição ou independência.   Evidentemente esta última corresponde ao caso atual. Jesus afirma sua   independência aqui, quando se trata de usar seus poderes especiais como Filho de   Deus e não como filho de Maria. Esta não pode decidir quando e como ele deve   agir. Os evangélicos usam esta passagem para traduzir: Mulher, que tenho eu   que ver contigo? Que embora seja uma tradução lícita da frase, dá a   impressão falsa de uma rejeição total da intervenção e da pessoa de Maria, que   não está em conformidade com o contexto e a reação imediata de Maria e a   subsequente conduta de Jesus. Parece que Jesus recusa o milagre, porque este não   depende dele só, mas da vontade do Pai, como em Jo 12, 27 em que Jesus pede seja   glorificada a pessoa do Pai. A intenção de Jesus era mostrar seus dotes de   enviado em Jerusalém, como com SINAIS próprios de um profeta enviado por Deus   (Jo 2, 23).  MULHER: A palavra MULHER (guinê)   responde a Senhora em português. A palavra mulher significa uma pessoa do gênero   feminino; a esposa de um homem; e, como vocativo, é usada 8 vezes nos   evangelhos, desde Mateus 15, 28 em que Jesus se dirige a uma sírio-fenícia,   Pedro se dirige à empregada que o delata em Lc 22, 27 e em João sai 5 vezes uma   a Nossa Senhora que comentamos, outra à samaritana (4, 21) e duas a Madalena em   20, 13 e 20, 15. No Calvário, de novo, Jesus se dirige a sua mãe com o mesmo   apelativo (19, 26). Nestes casos podemos dizer que no português usaríamos   Senhora. É a palavra que Jesus usa ao se dirigir a sua mãe na cruz (Jo 19, 26).   Não há nada de desprezo. É uma simples saudação amigável. Somente temos um   vocativo diferente em Mateus 9, 22 quando Jesus se dirige à hemorroíssa   chamando-a filha (thigater), o que não era possível ao se dirigir à sua mãe.  NÃO CHEGOU MINHA HORA: A Hora de Jesus é o tempo de sua   manifestação como Messias ( Jo 7, 6), tanto como o de sua paixão (Jo 8, 20) ou   de sua glorificação pelo Pai (Jo 12,23). Especialmente em Jo 7,6 são seus   parentes os que pedem uma manifestação do poder de Jesus. E é agora que sua mãe   pede também essa manifestação. Um ato de poder especial, um milagre. O que é   confirmado pela escusa de Jesus. Sendo, porém a sua resposta uma negativa, Maria   sabe que essa negativa não pode ser absoluta; e por isso deixa nas mãos do Filho   a solução do problema. Ela pede para atuar e não admite recusa alguma: Fazei   o que ele vos disser. Temos um outro caso da insistência de outra mulher   ante a negativa de Jesus. É a sirio-fenícia de Mt 15, 27. Elas sabem que a   rejeição inicial pode ser vencida pela insistência feminina, tal e qual vemos na   parábola do juiz imoral (Lc 18, 1-5). Um comentário católico afirma que a Virgem   Santíssima é tão poderosa em sua intercessão que Deus atenderá todas as petições   por mediação de Maria. Por isso, a piedade cristã, com precisão teológica, tem   chamado Nossa senhora ONIPOTÊNCIA SUPLICANTE (Grignon de Monfort). À parte estes   comentários, podemos muito bem afirmar que a intervenção de Maria foi, neste   caso, fundamental para a realização de uma atuação imediata e até sobrenatural   de seu Filho. A mãe ordena e o Filho obedece. Essa é a conclusão exata do   episódio de Caná. REAÇÃO DE MARIA: Diz a mãe dEle aos servidores: o que   vos disser fazei (5). Dicit mater eius ministris quodcumque dixerit   vobis facite.Amãe de Jesus, como boa mãe, conhece   perfeitamente o valor da resposta de seu Filho que para nós resulta ambígua, e   não duvida de sua obediência [era-lhes submisso de Lc 2, 51] que ela conservava   bem na sua memória (Lc idem). Por isso, não duvida em responder com um mandato   explícito aos servidores e implícito a seu Filho. Descartada a ideia de que   Jesus interviria com um fato extraordinário, Maria conhece o seu Filho e pensa   que ele teria uma solução de um jeito ou de outro, ela não sabe como, e por isso   pede aos serventes que obedeçam o que lhes ordenar seu Filho, fosse qual fosse a   ordem dada. Como diz S. Tomás podemos considerar as palavras de Nossa Senhora   como um convite permanente para cada um de nós. É o sentido espiritual ou plenior. O mandato de Maria serve para todos nós como via perfeita da   santidade cristã: obedecer Cristo em tudo que Ele mandar. AS TALHAS: Estavam, porém, ali seis talhas [udriai<5201>=hydriae] de pedra [lythinai <3035>   =lapidae] em ordem depositadas [keimenai<2749>= positae] segundo a purificação dos judeus contendo cada, duas ou   três metretas [metrëtas<3355>=metretas] (6). Erant autem ibi lapideae hydriae sex positae secundum purificationem Iudaeorum   capientes singulae metretas binas vel ternas. Eram seis talhas de pedra   para a purificação. As de barro cozido ou cerâmica, deviam ser quebradas caso   entrasse nelas alguma impureza (Lv 11, 33). As de pedra, especialmente nomeadas   por Moisés na transformação de água em sangue (o que seria impureza, Êx 7,19),   não se tornavam impuras e eram as mais apropriadas para a purificação das mãos,   segundo a Mishná. A metreta correspondia aproximadamente a 36 litros. Seu nome   grego, que também significa “medidor“, deriva-se do verbo metreö, metreo, “medir”, “contar”, calcular”.  Na Septuaginta é a tradução do bato (bath) hebraico. Naquelas bodas, haviam seis talhas de   pedra (lithinai udriai) de duas ou três metretas. A   primeira menção desta medida é em Daniel 14, 3 quando os babilônios ofereciam 6   metretas diárias ao seu ídolo Bel, que as consumia, junto com um grande número   de outras viandas. Tendo o quarto evangelista um alto sentido simbólico, talvez   por isso destaca o número seis, das metretas. No AT eram dedicadas ao ídolo Bel,   mas serviam de bebida para seus sacerdotes e mulheres. No NT as metretas servem   para alegrar umas bodas em que o Filho do verdadeiro Deus está presente e   demonstra sua verdadeira personalidade. A capacidade total seria aproximadamente   de 500 a 700 litros. João destaca com esse número extraordinário a abundância do   dom, pois um dos sinais messiânicos era a abundância de dons, segundo a   profecia: o mesmo Javé dará a felicidade e a terra dará seus frutos (Sl   54, 13). As eiras estarão cheias de trigo, as tinas trasbordarão de mosto e   de azeite puro (Jl 2, 24). Essa abundância de bens materiais era um símbolo   dos bens sobrenaturais que Cristo alcançaria com sua redenção; por isso, João   destaca as palavra de Jesus: Vim para que tenham vida e a tenham em   abundância (Jo 10, 10). O número e a capacidade das mesmas indica também   que a família não era totalmente pobre, mas, pelo contrário, de classe abastada   por não dizer rica.  DEPOSITADAS: É a melhor tradução do grego Keimenai [positae latino]; é a mesma palavra usada para narrar   a posição dos panos após a ressurreição. Quando se referia às coisas materiais   significava arrumadas, arranjadas em certa ordem.   PURIFICAÇÃO: Os judeus eram muito estritos com seus ritos de purificação. Lavavam as mãos   antes de cada comida e entre cada prato. Primeiro levantavam as mãos e jogavam   água de modo que esta corresse até os punhos; Logo, abaixando as mãos de novo   jogavam água desde os punhos até a ponta dos dedos. Se alguém não seguia este   procedimento se considerava que comia com mãos impuras ( Mt 15, 2 e 20). A   purificação dominava a Lei. A sua necessidade contínua procede da consciência de   impureza, de indignidade, criada pela mesma Lei. Nestas purificações externas   estava baseada toda a ética do AT. A ORDEM: Diz-lhes Jesus: Enchei as talhas de água. E as   encheram até o topo (7).Então lhes diz: Sacai agora e levai ao   arquitriclino [architriklinö<755>=architriclino]. E   levaram (8). dicit eis Iesus implete hydrias aqua et impleverunt eas   usque ad summum.  Et dicit eis Iesus haurite nunc et ferte architriclino et   tulerunt. Para não haver dúvidas, sobre o resultado e o líquido   que estava nas ânforas, Jesus manda que sejam enchidas até o bocal das mesmas.   Todos podiam ver que era água o líquido que as transbordava. O   MESTRE-SALA: O texto grego emprega uma palavra (arkhitriklinos,   =presidente da mesa do banquete), que significa o escravo encarregado de   organizar um banquete. Daí a tradução de mestre-sala ou mordomo. Este não era um   mero diretor da ordem e distribuição dos pratos ou viandas a serem servidos, mas   também uma espécie de ministro sacro, pois os judeus tinham prescritas seis ou   sete bênçãos sobre os alimentos e especialmente uma da copa de vinho a ser   servida em primeiro lugar antes que o resto dos comensais o provassem. Feita a   bênção, o mestre-sala comprovou que o vinho novo era de superior qualidade. Isso   indica que a cor do mesmo era possivelmente branca, porque os serventes pensavam   ser água o que serviam ao chefe de cerimônias, e que no instante de despejar o   líquido na copa do mestre-sala, é quando apareceu a transformação efetuada.   Logicamente seriam os serventes os que notificariam a todos o que realmente   tinha acontecido. Cada ânfora tinha uma capacidade um pouco menor de 100 litros.   O vinho tinha cor branca ou era tinto? Não sabemos. Mas quem deu a última   palavra foi o mestre-sala: Era o melhor vinho que ele tinha experimentado na   festa. A TRANSFORMAÇÃO: Como degustasse o arquitriclino a água   feita vinho, e como não tinha conhecido de onde é – porém os serventes tinham   conhecimento, os que tinham sacado a água – o arquiticlino chama o esposo(9), e   diz-lhe: Todo homem primeiro põe o bom vinho e quando estão embriagados então   servem o pior; tu tens reservado o bom vinho até agora(10). Ut autem   gustavit architriclinus aquam vinum factam et non sciebat unde esset ministri   autem sciebant qui haurierant aquam vocat sponsum architriclinus, Et dicit ei   omnis homo primum bonum vinum ponit et cum inebriati fuerint tunc id quod   deterius est tu servasti bonum vinum usque adhuc. O parêntese   sobre os serventes indica que não houve mágica nem truco algum, pois os   serventes sabiam bem qual era a procedência do vinho. Jesus não fez nada e tudo   foi feito sob suas ordens pelos serventes que eram as melhores testemunhas. Até   que o arquitriclino degustasse, ninguém sabia o que era o que estava sendo   servido. A surpresa do mordomo foi também a surpresa dos serventes. E foi tal o   gosto do vinho que o mordomo viu-se obrigado a repreender o noivo, que também   nada sabia da questão. Como no caso do cego de nascença, João não deixa   resquício a qualquer dúvida possível e apresenta o milagre com todos os   requisitos para deixar claro que não houve artimanha ou ardil nessa matéria.   Este, como o milagre da multiplicação,  é uma garantia de que as palavras da   Eucaristia são de verdade uma transformação real e não simbólica. COMENTÁRIO: Este, o princípio dos sinais [sëmeiön<4592>=signorum], Jesus fez em Caná da Galileia e   manifestou sua glória e creram nele os seus discípulos(11). Hoc fecit   initium signorum Iesus in Cana Galilaeae et manifestavit gloriam suam et   crediderunt in eum discipuli eius.  SINAL: Para João, o   milagre mais do que um fato sobrenatural é um sinal de que o poder de Jesus é um   poder divino e, portanto que obrando dessa forma está mostrando sua glória, isto   é, seu divino poder. Daí que logicamente os discípulos vissem Jesus como alguém   unido intimamente à divindade. Um enviado de Deus. E isso significa fé na sua   obra e na sua palavra. Jesus manifestou sua glória [doxa=majestade   própria da divindade], mostrando seu poder maravilhoso que demonstrava sua   missão como tendo origem divina. Por isso os discípulos, cinco deles, creram   nele como representante da autoridade de Deus na terra. PISTAS: 1) Jesus garante com sua presença não só o   matrimônio (detestado pelos encratistas). Esta heresia acentua o   pessimismo quanto à queda do homem, despreza a matéria, tem o matrimônio como   fornicação e prega a abstinência da carne e do vinho. Seu rigorismo na   observância desta abstinência levou-a a substituir o vinho pela água na   celebração da eucaristia. Esse costume levou seus seguidores a receberem o   apelido de aquáticos. Mas também a alegre festa que o culmina (contra os   ebionitas antigos e muitos evangélicos modernos). Os ebionitas de ebion pobre, eram os primeiros hereges que afirmavam que Jesus não derrogou o AT e,   portanto todas as normas dadas por Moisés e a tradição eram obrigatórias.  As   festas, especialmente as familiares e comemorativas, são como a delícia e o   sabor da comida e da bebida, coisas que Deus quer e aprova, mesmo sabendo que   pode existir uma certa falta de temperança por parte dos comensais. 2) O vinho, tão difamado por certas seitas modernas que se dizem cristãs,   aqui serve como critério último de uma transformação, pois é a causa final, a   mais importante dentro do plano de realização de um projeto. O vinho que   significava alegria e convivência, se transformará em matéria escolhida, na qual   a vida de Cristo dar-se-nos-á como bebida para alimento e união com o   Senhor. 3) A intercessão de Maria: ela sabe que seu Filho pode transformar uma   situação de vergonha e desespero em estado de alegria e paz. Ela é a   intercessora por excelência. Sua súplica é de um poder inigualável, pois mais do   que um apelo, é um mandato à misericórdia de Jesus, o Filho. Esta solicitação   está sempre presente diante das dificuldades humanas. Constitui um confronto,   aparentemente estranho à vontade de seu Filho, porque reflete a vontade maternal   de uma mãe com dois filhos entre si opostos. Ela escolhe o mais débil para, como   diz um comentarista, ser a mulher humilde que sentiu no seu ombro a mão de Deus,   Senhor do impossível. 
 EXCURSUS:  NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa  nova. -  Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor  misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus  na vida humana. -  Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que  não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua  condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no  dia de natal: é o Deus da eudokias,  dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
 Interpretação  errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma  predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará  destas pedras filhos de Abraão).
 Consequências: -  O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus  [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como  filho que é amado.- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou  jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
 - O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua  pelo amor.
 - O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele  é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
 -  Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do  Pai  e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro  definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo  infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
 
 
                    
                    
                     
 
              13.01.2019Solenidade do Batismo de Jesus — ANO C
 (BRANCO, GLÓRIA, PREFÁCIO PRÓPRIO – OFÍCIO DA FESTA)
 __ "Um novo relacionamento
                entre o céu e a terra: Este é meu Filho Amado!" __
 Ambientação:  Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!  INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: O Batismo de Jesus marca o início de sua vida pública, de sua missão redentora no mundo. Também o batismo marca a entrada na comunidade cristã e o início de nossa colaboração com Cristo. Celebremos, alegremente, renovando nossa adesão à Jesus, cientes de que somos corresponsáveis pela salvação de toda a humanidade.
 INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, a festa de hoje encerra o sagrado tempo do Natal: o Pai apresenta, manifesta a Israel o Salvador que ele nos deu, o Menino que nasceu para nós. Jesus, o Filho Amado do Pai é também o Servo anunciado por Isaías que deverá cumprir sua missão de modo humilde e doloroso. Hoje, às margens do Jordão, Ele foi ungido com o Espírito Santo como o Messias, o Cristo, que Israel esperava. Agora, ele começará publicamente a missão de anunciar e inaugurar o Reino de Deus e nós, seus discípulos e discípulas, batizados, caminharemos na estrada de Jesus. Recordando hoje o Batismo do Senhor, demos graças pelo dia do nosso Santo Batismo e reavivemos a nossa consagração a serviço da Igreja e do Evangelho. INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Jesus ao ser batizado por João Batista mostra a sua humildade e total entrega à sua ação missionária. Ungido pelo Espírito Santo, no momento do Batismo, sua origem é revelada por Deus Pai que surge e declara "Este é o meu Filho Amado!". Às margens do Rio Jordão, João Batista prega a conversão dos pecadores como meio para se receber o reino de Deus que está próximo. Jesus entra na água, como todo o povo, para ser batizado. Para os judeus, o batismo era um rito penitencial; por isso, aproximavam-se dele confessando seus pecados. Entretanto, o que Jesus recebe não é só um batismo de penitência; a manifestação do Pai e do Espírito Santo dão-lhe um significado preciso: Jesus é proclamado "filho bem-amado" e sobre ele desce o Espírito que o investe da missão de profeta - anúncio da mensagem da salvação, sacerdote - o único sacrifício agradável ao Pai; Rei - Messias esperado como Salvador. Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor! 
 
               (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) 
 PRIMEIRA LEITURA (Isaías 42,1-4.6-7):   - "Eis meu Servo que eu amparo, meu eleito ao qual dou toda a minha afeição, faço repousar sobre ele meu espírito, para que leve às nações a verdadeira religião." SALMO RESPONSORIAL 28/29:    - "Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!" SEGUNDA LEITURA (Atos 10,34-38):    - "Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o poder, como ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com ele." EVANGELHO (Lucas 3,15-16.21-22):   - "Tu és o meu Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição." 
 
 Homilia do Diácono José da Cruz — Solenidade da Epifania de Jesus — ANO C "No Amado do Pai, somos todos Filhos" Uma das maiores aventuras da minha  adolescência foi ir a pé até a “Light”, como chamávamos a Usina Itupararanga,  com um grupo de amigos, fazer uma pescaria de três dias. Planejamos tudo, a  barraca, recipientes com água, as varas de pesca, facões e canivetes, roupas e  calçados leves, bonés e óculos escuros para proteger o rosto do sol, e até uma  caixinha de primeiros socorros, nossa turma andava encantada com o escotismo e  queríamos imitar os escoteiros nessa aventura. Pensamos em cada detalhe e bem de  madrugada, antes de iniciarmos a caminhada, o mais velho da turma, a quem  delegamos o papel de “Comandante”, após conferir todo o material, e revistar  nossas roupas e calçados, disse solenemente: “Vocês estão prontos, podemos  partir!”. Não o escolhemos como nosso chefe por acaso, ele  conhecia bem o percurso e estava “calejado” para enfrentar a árdua jornada,  ajudando-nos a enfrentar os desafios que viriam... Estar pronto – significa estar preparado  para tudo, mas principalmente ter muita coragem para o confronto, não se vai a  uma batalha ou a uma aventura arriscada, sem um preparo, sem um treino ou  exercício, se não houver da parte do enviado, a determinação, a força ferrenha  de vontade, o objetivo poderá não ser alcançado e a desistência dominará aquele  que está em missão. No caso do cristão, estar preparado para o confronto é  estar ungido e apossar-se da força de Deus, presente na vida daquele que crê,  esta unção nós a recebemos no Santo Batismo. O Homem, feito a imagem e semelhança de  Deus, é chamado a viver a vocação plena do amor, para atingir o auge da sua  existência, superando seus limites. Deus o fez para grandes conquistas e o  revestiu com a sua força. Jesus Cristo é o primogênito das criaturas, ao  encarnar-se em nosso meio, ele aceitou o desafio de ir à frente da humanidade  para mostrar o caminho, nesse itinerário cheio de desafios como a trilha de  Indiana Jones, que requer do aventureiro muita habilidade, prontidão e  persistência. No evangelho desse Domingo do Batismo do  Senhor, Lucas apresenta-nos o Filho Amado do Pai, Aquele com quem o Pai se  alegra, aquele que está pronto para o confronto definitivo com as forças do  mal. O Antigo Testamento é todo esse longo tempo de preparação, de exercício e  treinamento, o homem é estimulado e encorajado por Deus para o combate e a  vitória, Deus lhes empresta sua coragem e sua força, presente no seu espírito,  que se apodera daqueles que ele chama, profetas e reis, juízes, nenhum deles  agiu sozinho mas deixaram-se conduzir pelo Espírito de Deus. Mas é em Jesus de Nazaré que todas as  promessas serão cumpridas, é ele o verdadeiro ungido do Senhor, o Servo  escolhido, o predileto e amado, aquele que não sucumbirá diante do mal, mas  será persistente e fiel até que todo mal seja aniquilado e o Reino impere por  todo sempre. É este homem forte, perfeito e santo, preparado para a missão, sem  tremer ou vacilar, é o Jesus que emerge das águas após receber a força do Espírito  Santo e ouvir a voz do Pai que o confirma – “Tu és o meu filho amado, em ti  ponho o meu bem querer”. Ele é mais forte do que João e todos os  profetas que o anunciaram, ele é mais Poderoso que todos os reis que governaram  o Povo de Israel, simplesmente não porque fala em nome de Deus, mas porque é o  próprio Deus, que em Jesus vem dar a cada homem o seu espírito de força,  coragem, determinação, empenho, ou seja, ele restituiu a cada homem aquilo que  Adão havia perdido, resgatando a humanidade do fracasso, direcionando para a  vitória, mudando o rumo da trajetória humana, e tudo começa no dia do nosso  Batismo...  O Batismo penitencial de João era apenas  um sinal exterior, que mostrava a vontade e o desejo que o homem tinha, de  mudar de vida, o Batismo de Jesus, é o momento em que Deus se abre para esse  homem que demonstra ter consciência do seu erro e fracasso, Deus se inclina  para ouvir este homem que agora quer vencer, e ao chamar a Jesus de Filho  amado, Deus esta dizendo a todo homem, que ele aprova essa decisão tomada, e  que mais do que isso, ele colocará nas entranhas do homem o poder do seu  Espírito, a força poderosa que conduzirá o homem á vitória. Mas o Batismo de Jesus, além de tudo isso, tem um significado ainda mais  profundo, ele caminha à frente de todos os batizados, e como aquele companheiro  mais velho do meu grupo de adolescentes, Ele afirma com muita propriedade, que  agora o homem está realmente preparado para o confronto, pois ao ser ungido,  ele também nos ungiu e nos capacitou, dando-nos todos os dons necessários para  atingirmos nosso objetivo que é alcançar a vida plena, pois, embora por adoção,  nós também somos em Cristo, os Filhos e Filhas amados, com quem Deus se alegra,  e o Batismo é o dia em que Deus, oficialmente reconhece cada homem como seu  Filho.... ( BATISMO DO SENHOR – Lucas 3,15-16.21-22 ) José da Cruz é Diácono da Paróquia Nossa
              Senhora Consolata – Votorantim – SP
 E-mail  jotacruz3051@gmail.com
 
 Homilia do Padre Françoá Costa — Solenidade da Epifania de Jesus — ANO C Uma aventura divina Há tempo comentou-se que “O Senhor dos Anéis”, de J. R. R. Tolkien, é a melhor literatura inglesa do século XX. Entre nós, na minha lista de boa literatura é também uma das obras que ocupa um lugar privilegiado. O livro, como se sabe, está publicado em três partes, cada uma delas bem voluminosas e tituladas, respectivamente, “a comunidade do anel”, “as duas torres” e “o retorno do rei”. Frodo tem como missão destruir o anel do poderoso senhor da escuridão que mora na terra de Mordor. No livro fica bem claro que Frodo, ainda que seja o escolhido para essa missão, não está obrigado; ele é livre para realizá-la ou não. A resposta do personagem citado é positiva, ainda que sofra muito, deixe a comodidade da sua terra e parta com poucas coisas. Mas a sua missão salvará o seu povoado, Bolsão, cujos habitantes nem sempre são simpáticos. Muitos deles desconhecerão por completo as façanhas do pequeno hobbit. Antes de sair do seu povoado, Frodo diz: “tenho que sair de Bolsão, abandonar a comarca, deixar tudo e ir… Eu gostaria de salvar a minha comarca se pudesse, ainda que alguma vez eu chegasse a pensar que os habitantes eram tão estúpidos que um terremoto ou uma invasão de dragões poderia acabar com todos, e seria um bem para eles. Mas agora eu não sinto a mesma coisa. Ao contrario, sinto que enquanto a comarca esteja a salvo, em paz e tranquila, as minhas peregrinações far-se-ão mais suportáveis. Saberei que nalguma parte há algo firme, ainda que eu nunca volte a pisá-lo”. Mas, o que tem a ver tudo isso com o Batismo do Senhor? Em principio, nada. No entanto, depois de escutar as palavras de Jesus a João e que dizem que “convém que cumpramos a justiça completa” (Mt 3,15), a historinha anterior começa a ser iluminada. A justiça, na Sagrada Escritura, é o cumprimento dos desígnios de Deus em Jesus Cristo. O plano de Deus para o mundo, para a humanidade e para cada ser humano em particular é um plano salvador. É impressionante: ainda que o mundo se posicione contra Deus, que a história mostre e demonstre que os homens desprezaram os planos de Deus e que nós pirracemos o Senhor e não o queiramos, Ele não responde aniquilando-nos, mas amando-nos, buscando-nos e dando-nos o valioso e incalculável presente da salvação, que é a nossa santificação total. O batismo de Jesus foi útil para nós: Jesus nos estava salvado enquanto era batizado. O batismo do Senhor foi uma poderosa epifania, manifestação, do Filho de Deus e o começo da sua vida pública. E o que tem a ver tudo isso com Frodo e “O Senhor dos anéis”? É simples! Frodo tinha uma missão a cumprir em favor de um povo que ele mesmo julgava que nem sempre era grato e simpático. Deus também. E nós também. Não obstante, eu não estou comparando Frodo com Jesus, mas conosco, com cada um de nós. Nós recebemos a missão e às vezes nos parece tão pesada que por um momento poderíamos pensar que é mais fácil que venha um terremoto ou alguns dragões para acabar com tudo. Não nos assustemos, há precedentes. Também os filhos do trovão disseram um dia ao Senhor em contra dum povoado de samaritanos: “Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os consuma?” (Lc 9,54). Logicamente, Jesus os colocou no seu lugar e proclamou a salvação que ele veio trazer à terra. A missão tem as suas dificuldades, incompreensões e ingratidões. Contudo, é tão belo que nós descobrimos a cada momento que vale a pena lutar para destruir o poder da escuridão com a luz de Cristo que nós irradiamos. Para isso, vamos pedir que sobre nós, mais uma vez, desça o Espírito Santo e que evangelizemos no poder do Espírito. No dia de hoje, recordemos também o nosso batismo, demos graças a Deus por essa santificação poderosíssima que aconteceu no nosso ser: que cada dia haja uma nova infusão do Espírito Santo em nossa alma. No dia de hoje, saibamos apreciar a beleza da vida em graça e odiemos cada vez mais o pecado, amando com o amor de Cristo a todas as pessoas, por mais pecadoras que pareçam. Olhemos para nós mesmos e supliquemos a misericórdia de Deus porque nem sempre soubemos corresponder a graça do batismo, nem sempre fomos consequentes com a nossa vocação à santidade e ao apostolado que deriva do Batismo e nem sempre fomos fiéis à missão. A justiça tem que ser cumprida, ou seja, todos podem ser salvos. Vale a pena arriscar tudo nessa aventura salvífica e emocionante. Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo   Costa - 06/01/2013 
 Comentário Exegético — O Batismo de Jesus — ANO C(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
 O BATISMO DO SENHOR EPÍSTOLA: AT (Lc 3, 15-16.21-22) INTRODUÇÃO: O testemunho de João, o Batista, é duplo:  Primeiro ele afirma o que não é para depois apontar que é a voz que prepara o  que realmente importa e que deve iniciar o tempo futuro,o tempo do Senhor.  Porém temos além do testemunho humano de João o testemunho do próprio Deus. A  voz veio após a abertura do céu e em forma corporal, o Espírito posou sobre  Jesus que recebeu o batismo de João. A voz de João era de preparação e  conversão. A voz do Espírito de Deus e sua presença foi um consequência dessa preparação  e dessa humilde confissão. Também em nós é necessária essa conversão que o  evangelho chama metanoia para que o Espírito habite dentro de nós.  NEGATIVA DE JOÁO: Estando, pois, em expectativa  [prosdoköntos<4328>=existimante] a multidão, e meditando  [dialogizomenön<1260>=cogitantibus] todos em seus corações sobre o João,  se não era ele o Cristo (15), respondeu o João a todos dizendo: Eu certamente  vos batizo [baptizö<907>=baptizo] em água; vem, porém, o mais forte  [ischuroteris<2478>=fortior]do que eu do qual não sou digno de desatar  [lusai<3089>=solvere] a correia [imanta<2438>=corrigia] das  sandálias. Ele vos batizará em espírito sagrado [agiö<40>=sancto] e em  fogo (16). Existimante autem populo et cogitantibus omnibus in cordibus suis de  Iohanne ne forte ipse esset Christus. Respondit Iohannes dicens omnibus ego  quidem aqua baptizo vos venit autem fortior me cuius non sum dignus solvere  corrigiam calciamentorum eius ipse vos baptizabit in Spiritu Sancto et igni. EM  EXPECTATIVA: A frase grega é um particípio de presente do verbo Prosdokaö como  significado de estar a espera de, ou na expectativa. Eram os tempos em que  Israel esperava o Rei-Messias como Salvador. Lucas usa um termo geral, falando  das suposições e rumores da época. João, testemunha dos fatos e que foi  discípulo do Batista, concretiza mais a pergunta e por ele, sabemos que a  pergunta foi feita de modo formal por sacerdotes e levitas, especialistas em  questões de purificação ritual, da classe dos fariseus ( 1, 19-25). Tenhamos em  conta que João, o Batista, era filho de um sacerdote e que os levitas eram  geralmente os guardas do templo. A pergunta era dupla: Quem és tu? E qual o teu  direito para batizar? A reposta de João indica que os judeus, na época,  esperavam três eventos em particular: um ou vários Messias, Elias de volta, e  um profeta. PRIMEIRA OPÇÃO: O Messias era o título de um rei davídico  esperado na época. Elias porque também era esperado como precursor. Finalmente  o profeta, pois era voz comum que com o Messias proposto por Malaquias em 3, 1  e 23, viria Elias, o profeta: Os envio o meu mensageiro(…) e vos  enviarei Elias, o profeta, antes que venha o dia grande e terrível do  Senhor. Do texto, podemos deduzir que a vinda do Messias (o mensageiro) era um  ato de juízo divino, pois o dia do Senhor é como anteriormente demonstramos  (ver comentário 1o Domingo do Advento no Dia do Senhor) um dia terrível. Isso  mesmo afirmará o Batista ao afirmar quem vos ensinou a fugir da ira que está  por vir?(Lc 3,7). Sabemos que a PALAVRA Massiyah significa ungido (lambuzado)  com óleo, traduzida ao grego por Xristós ou Cristo. A palavra sai 40 vezes no  AT. Inicialmente, o Ungido era o sacerdote, como podemos ver no livro do  Levítico. Logo, passou a designar o Rei, nos livros de Samuel, Crônicas e Salmos;  algumas vezes o povo de Israel (1 Cr 16,22 e Sl 105, 15) e, unicamente, em Is  45,1 é Ciro, o ungido ( como para designar que devia ser respeitado como rei de  Israel?). Finalmente, a palavra Messias tem em Dn 9, 25-26 um significado no  NT, que é o de Xristós grego, empregado por João em 1, 41. Segundo a profecia  de Natã “Tua casa e tua realeza serão para sempre estáveis diante de ti, e teu  trono, confirmado para sempre”(2 Sm 7, 10). Por isso, o Messias, como ungido do  Senhor, viria quando o rei de Israel não fosse de origem davídica. E,  precisamente, estes eram os tempos. O Messias seria um rei que administrasse  justiça, governasse todos os homens e seria a salvação do povo. AS OUTRAS DUAS OPÇÕES são também rejeitadas por João, o  Batista. Vejamos: SERIA ELIAS? Seu nome significa cujo deus é Jahveh. Elias foi  o restaurador do javismo ao exterminar os profetas dos “Baalim” no monte  Carmelo (1 Rs cap 18). Milagroso e solitário, vestia uma túnica feita de pelos  com os lombos cingidos com um cinto de couro (2 Rs 1,8) à semelhança do  Batista. Sua vida não terminou com a morte comum, mas foi elevado ao céu num  carro com cavalos de fogo (2 Rs 2, 11). Devido a este último sucesso, os judeus  esperavam sua volta nos tempos messiânicos (Ml 4,5). Jesus identifica Elias com  o Batista(Mt 11, 12-14) O próprio João o nega em sua humilde confissão. O  PROFETA? A palavra significa aquele que fala em nome de Deus. Em hebraico é  geralmente usada a palavra NAVI em plural naviim. De Aarão diz-se que era  o profeta de Moisés (Êx 4, 10-16). Este terceiro personagem, esperado nos  tempos messiânicos, era sem dúvida devido às palavras de Moisés em Dt 18, 17-22  : ”Um profeta como tu suscitarei do meio de teus irmãos’. João nega também esta  suposição que aparece implícita nas palavras de Jesus: (Mt 11, 9-10) louvando a  figura do Batista. É mais que um profeta porque não unicamente revela a  palavra, mas a pessoa que é a mesma palavra de Deus. A VOZ: João justifica sua  norma de atuação declarando que é a voz que brada no deserto, como disse o profeta  Isaías (40, 3-4 ). A finalidade dessa voz era preparar os caminhos para o  Senhor. Uma volta dos corações dos filhos à crença dos pais e conduzir os  rebeldes a pensar como homens honestos a fim de formar um povo digno do Senhor  (Lc 1, 17). Em definitivo, um reformador do verdadeiro Javinismo, como foi  Elias, o profeta. O BATISMO DE JOÃO: Eu vos batizo em água: Batizo, ou melhor,  seria submergir em água. No grego clássico havia dois verbos para indicar um  mergulho em água: Bapto e Baptizo. O médico Lisander que viveu perto do  ano 200 aC os distingue perfeitamente: para fazer picles deve primeiro  mergulhar (bapto) o vegetal em água fervente e depois submergi-lo (baptizo) em  vinagre. Desse modo o batismo não deve ser um ato casual, mas um processo permanente.  É uma conversão e, portanto, significa uma mudança continuada. Lucas fala da  mudança que João exige do povo comum, dos coletores de taxas e dos policiais.  Isso entre os judeus. Para os gentios é só abrir as páginas de Paulo aos  romanos em 1, 25-31 para ver em que devia consistir a methanoia  [conversão] entre eles. O batismo, segundo Paulo, é para se despojar do velho  homem, corrompido com concupiscências enganosas, para se vestir do homem novo,  criado segundo Deus em justiça e retidão, procedentes da verdade (Ef 4,22-24).  Podemos afirmar que, diante destas reflexões, os batizados são menores que os  lavados pela água inicial. O MAIS FORTE: João acrescenta um ponto final: Virá um mais  forte (maior) do que ele do qual não é digno de levar as sandálias, como  escravo. AS SANDÁLIAS: O Hypodema grego (atado em baixo literalmente; em latim  calceamentum) indica qualquer tipo de calçado, especialmente uma sola de  couro, casca de palmeira ou caniço, na planta dos pés que era depois atada  com correias de couro (o imas grego, em latim corrigia). Esse calçado era usado  para as viagens ou trabalho da lavoura da terra. Era próprio da mulher ou do  escravo mais humilde receber o dono após voltar de uma viagem, desatar os  cordéis das sandálias e lavar seus pés. Esta lavagem se fazia sempre que um  hóspede entrava numa casa para um banquete (Gn 18,4 e Lc 7,38). Jesus lavou os  pés dos discípulos antes da última ceia (Jo 13, 5). Na igreja primitiva, as  viúvas lavavam os pés dos santos (=cristãos)( 1 Tm 5, 10). Compreende-se o costume  pela razão de que os comensais se deitavam praticamente no chão sobre  travesseiros, para os banquetes, entre os quais devemos incluir a Ceia do  Senhor (1 Cor 11,20). O Batista se rebaixa até dizer que, como servo, nem é  digno de fazer o que o último dos tais faria ao seu senhor. EM ESPÍRITO SANTO E FOGO: Ou seja, uma imersãono espírito  divino [pneumati agiö] em que os profetas e os homens santos escolhidos por  Deus estavam habitualmente imersos, ao mesmo tempo que uma simbólica  purificação pelo fogo, ou seja a máxima pureza que um metal podia obter através  de métodos de limpeza de escórias e contaminações. Logicamente, o Batista não  conhecia a ação do Espírito como terceira pessoa da Trindade; mas nós temos  textos de Qumrã que ele poderia conhecer, e que dizem: “Então (quando aparecer  para sempre a verdade sobre a terra) Jahvé purificará em sua verdade todas as  ações do homem e depurará (por meio do fogo) para si, o corpo de cada um; a fim  de eliminar todo espírito de iniquidade de sua carne e limpá-lo pelo espírito  de santidade de todos os atos de impiedade. E ele derramará sobre o homem o  espírito de verdade como água lustral”.( água obtida pela imersão de um tição  aceso trazido do altar dos sacrifícios ). No AT existiam várias lavagens com  água que se consideravam ritos, e numa delas misturavam-se cinzas do sacrifício  como é o caso da novilha vermelha para a água purificadora da oferta pelo  pecado (Nm 19, 9). Era o chamado Korban para Aduma (sacrifício da vaca  vermelha) em que se prescreve a Juka (estatuto) da Torah (lei) como uma coisa  especial, embora não se saiba o porquê de uma vaca vermelha. Talvez por  representar a cor do sangue da menstruação feminina que constituía com a morte  a principal causa de impureza. O fogo era também instrumento de purificação (Nm  31,23) O mensageiro do Senhor purificará como o fogo do ourives e a potassa dos  lavandeiros. Purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata  (Ml 3,2-3).Qual acrisolador te estabelecerei entre o meu povo…em vão continua o  depurador porque os iníquos não são separados (Jr 6, 27-29). Com estes textos  do AT podemos deduzir que, sem dúvida, o batismo ao qual se referia João era um  batismo de purificação. O dele era em água lustral para preparar o batismo mais  completo do Messias, que apresentava duas partes diferentes: 1a). A parte  principal era o espírito novo a receber os que se submergiam no novo batismo de  verdade e santidade. 2a) Ao mesmo tempo pelo batismo em fogo referia-se João a  esse sinal de contradição (Lc 2, 34) que foi a vinda do Messias, e que  imediatamente expressará com o símbolo da pá para separar bons e maus. É o  batismo na ira divina. Por isso no início clamará: Raça de víboras, quem vos  induziu a fugir da ira vindoura? O Batismo do Messias era, pois, uma imersão no  espírito divino da verdade para quem estivesse preparado pela mente da  conversão, ou no fogo destruidor para quem não tivesse preparado o caminho da  verdade, que não se admite sem uma pureza de mente e limpeza de sentimentos. A  alusão ao Batismo sacramental é como diz um autor, um estágio tardio (o 3o) da  tradição, uma vez sabida a força do Espírito Santo em Pentecostes. BATISMO DE JESUS: Sucedeu, pois, que ao ser batizado todo o  povo, também Jesus sendo batizado e orando, foi aberto  [aneöchthënai<455>=apertum] o céu (21), e desce o Espírito, o Divino  [agion<40>=sanctrus], em forma corporal [sömatikös<4984>=corporali]  como pomba sobre ele e uma voz do céu surgir dizendo: Tu és meu filho ,o dileto  [agapëtos<27>=dilectus em ti me agradei.[ëudokësa<2106>=conplacuit]  (22). Factum est autem cum baptizaretur omnis populus et Iesu baptizato et  orante apertum est caelum, et descendit Spiritus Sanctus corporali specie sicut  columba in ipsum et vox de caelo facta est tu es Filius meus dilectus in te  conplacuit mihi.  A EPIFANIA: Usando os tempos do verbo de modo correto, podemos  traduzir: e aconteceu que quando Jesus foi batizado e estando em oração;o  primeiro é um passado e o segundo um presente. Houve, pois dois tempos  diferentes. Uma vez batizado (em latim Jesu baptizato), e estando orando  (orante) é quando se abriu o céu, ou seja, a abóbada ou teto arqueado [o  firmamento do Gênesis] do qual pendiam as estrelas e que segurava as águas  superiores, separando o terceiro céu, morada esta do Altíssimo. Esse abrir-se  indica um relâmpago (Deus é luz) com o correspondente trovão, como descreve  João evangelista a voz da epifania aos gregos (Jo 12, 28). Testemunha deste  sucesso extraordinário foi o Batista, porque como ele afirmou em testemunho:  tenho visto o Espírito descendendo como uma pomba do céu e permaneceu sobre ele  (Jo 1, 32). Esse Espírito será sagrado [agios] para Lucas e será o Espírito, o  de Deus (sic) para Mateus. Em nenhum caso se afirma taxativamente que era  figura de pomba ou como pomba, mas que a sua descida era suave como a de uma  pomba que está pousando. A VOZ: Tu és o meu Filho, o amado, em ti encontrei  satisfação. O adjetivo, o amado, é propriamente um epíteto, um cognome que o  distingue perfeitamente dos outros filhos e estabelece uma relação especial  entre Jahveh e Jesus, acrescentada por que em Ti tenho meu agrado, que  poderíamos traduzir por em ti encontro meu enlevo, tu és minha maravilha, o  desejo cumprido de meus planos. Seria esta a tradução direta do texto hebraico  de Is 42,1 : “Aqui está meu servo a quem protejo; meu escolhido em quem minha  alma se agrada. Pus nele meu espírito para que traga a justiça às nações”.  Porém o texto grego diz: Jacó, meu servo, eu o assistirei; Israel, meu  escolhido, eu o aceitei. Não obstante, Mateus traz uma versão em 12,  18 citando o profeta Isaías que confirma um texto grego próximo ao  hebraico original: “Eis o meu servo [pais] (em grego pais significa filho ou  servo) a quem eu escolhi, o meu bem amado [agapetos] em quem se alegrou minha  alma. Sobre ele porei o meu Espírito e ele anunciará o julgamento às nações”.  Com isso o filho se transforma em servo. O servo de Jahveh e a sua incumbência  será proclamar um juízo às nações ou uma sentença contra os gentios. Se  comparamos o texto de hoje com os outros dois das epifanias evangélicas, o do  Tabor (Lc 9, 35;Mt 17,5 e Mc 9,7) e o do João 12, 28, vemos como o Filho é  louvado e agrada plenamente o Pai por se transformar em servo (escravo)(At 3,  13) e vemos como o servo (Maria e Israel, Lc 1,54) se transforma em filho  precisamente pela sua obediência, e assim agrada plenamente o Pai. Ver Jo  15, 10. 
 EXCURSUS:  NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa  nova. -  Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor  misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus  na vida humana. -  Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que  não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua  condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no  dia de natal: é o Deus da eudokias,  dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
 Interpretação  errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma  predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará  destas pedras filhos de Abraão).
 Consequências: -  O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus  [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como  filho que é amado.- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou  jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
 - O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua  pelo amor.
 - O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele  é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
 -  Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do  Pai  e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro  definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo  infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
 
 
                    
                    
                     
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              QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!  Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
 as que mais precisarem!
 Graças e louvores se dê a todo momento:ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
 
 
              
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                    Mensagem:"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
 "O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
 ( Salmos ) |  |  |