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Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A Liturgia deste domingo nos confrontará com o ensinamento de Jesus sobre o amor fraterno. Ele, imagem visível do Deus invisível, aproximou-se de nossa humanidade tornando-nos verdadeiramente seus. Celebremos, portanto, a manifestação redentora do amor divino, e supliquemos a capacidade de sermos próximos aos mais necessitados. INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs em Cristo Jesus. Como assembleia eucarística, formamos o Corpo místico de Cristo na intimidade com o Pai. Cristo, o bom samaritano, vem até nós e, movido pela compaixão de Deus, cura nossas feridas, restitui-nos a dignidade humana e nos integra na convivência divina pela entrega de sua vida. Que esta celebração nos ajude a afirmar o nosso compromisso de sermos, como o Senhor Jesus, bons samaritanos, atentos, solidários e compassivos com quem sofre. INTRODUÇÃO DO WEBMASTER:O O homem da religião natural, experimentando "dentro" da existência a fragilidade da vida, pensa encontrar fora de sí, em Deus, a segurança. Procura então atingir a Deus, tornar-se como ele, divinizar-se através de ritos e do culto. A imitação do Pai deve ser feita através de Cristo. O cristão se configura a ele no batismo e nos outros sacramentos, mas essa configuração deve ser vivida plenamente nos acontecimentos, nos encontros da vida cotidiana. O sacrifício de sí e o amor gratuito e universal pelo próximo fazem resplandecer na face do cristão a própria face de Cristo e de Deus. Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor! (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) PRIMEIRA LEITURA (Deuteronômio 30,10-14): - "... essa palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração..." SALMO RESPONSORIAL (Sl 68/69): - "Humildes, buscai a Deus e alegrai-vos: o vosso coração reviverá!" SEGUNDA LEITURA (Colossenses 1,15-20): - "Cristo é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda a criação." EVANGELHO (Lucas 10,25-37): - "Vai, e faze tu o mesmo." Homilia do Diácono José da Cruz — 15º Domingo do Tempo Comum — ANO C Os Feridos à beira do caminho Nas nossas comunidades cristãs há um caminho igual a esse que descia de Jerusalém a Jericó, bastante movimentado e por onde passam pessoas importantes como o Sacerdote e o Levita, são nossos Ministros Ordenados, os Ministros leigos, os coordenadores, leitores, salmistas, líderes de pastorais, catequese e movimentos. Todos sempre muito ocupados com seus afazeres. Quase não se tem tempo de olhar para os lados, muitos há que olham para o seu “Ego”, inchados de orgulho, sempre vaidosos com aquilo que fazem na comunidade, e que chama atenção sobre si. Nem sempre prestamos atenção á beira do caminho onde estão os que, por alguma razão não podem caminhar, os feridos e machucados por neuroses, dores morais ou físicas, gente simples, ferida por certos acontecimentos que fogem ao nosso controle. Pessoas que são da comunidade, mas estão á margem. Casais recasados, mães solteiras, pessoas com má fama no campo da moral cristã. Irmãos e irmãs com quem ninguém quer perder tempo, estão ali mas não significam nada para os que se julgam importantes. Além do que, temos a maldita concorrência para ver quem faz melhor, quem se destaca nos eventos da comunidade, nas grandes celebrações. O veneno da concorrência desleal, que infecta o comércio e o mercado de trabalho, invade nossas comunidades cristãs trazendo as disputas de grupos, a eterna briga entre Pastorais e Movimentos que parece nunca chegar ao fim. Nas pequenas ou grandes comunidades os “Egos” de pessoas do Clero e do Laicato, se incham, e sempre brigam pelos primeiros lugares. Mas quem vai cuidar dos feridos á beira do caminho? O Doutor da Lei olhava para a Vida Eterna na ótica do Direito. Deveria haver algo que ele pudesse fazer para ter o Direito de Possuir a Vida Eterna. “Esse cargo é meu, me pertence, é coisa muito minha, tenho direito e ninguém pode me tirar” Confundem-se o Céu da Plenitude com os valores terrenos, cargos, funções, títulos e honrarias que o mundo pode nos dar. Jesus direciona a questão para a Palavra de Deus manifestada na Lei onde o ato de Amar a Deus e aos irmãos, exclui a palavra Direito colocando em seu lugar a Doação total de si mesmo, “amarás de todo teu coração, de toda tua alma e de Todo teu entendimento” isso é, de tudo o que somos e temos, deve ser dado a Deus e ao próximo em sua totalidade sem deter nada para si mesmo, ou seja, o Amor não é posse, mas doação, feita em uma total liberdade, independente de quem seja o outro, se ele mereça ou não o nosso amor. E diante disso, o Doutor da Lei perguntou a Jesus “E quem é o meu próximo?” Na parábola do Bom Samaritano, o homem caído á beira do caminho não tinha nada a oferecer, ao contrário, era um grande problema que iria exigir tempo, atenção e algumas providências. O Sacerdote e o Levita não tinham tempo, estavam muito ocupados com coisas super importantes a fazer no templo. Também os “Profissionais” das nossas pastorais e movimentos estão sempre ocupados e não tem tempo para parar e ver de perto os ferimentos dos irmãos e irmãs caídos à beira do caminho da comunidade. O Samaritano estava de passagem, talvez aquela pessoa que participa das celebrações mas não está engajada em nenhuma pastoral ou trabalho da comunidade, alguém que até é mal visto porque nada faz. Mas tem um coração generoso, repleto do Amor de Deus, capaz de encher-se de compaixão por aqueles que estão á margem do caminho. Ele não pensa em encaminhar o Ferido a alguma pastoral de assistência, e nem pensa em fazer apenas a sua parte, perguntando ao homem o que lhe aconteceu, e verificando se os ferimentos são muito sérios, para buscar alguma assistência. Isso não é Cristianismo! Cristianismo é compromisso total com os Feridos da Comunidade, é estar com eles o tempo todo, é cuidar de suas feridas, é providenciar para que sejam acolhidos e muito bem hospedados na comunidade ou na pastoral. Enfim, é ir além do procedimento habitual, é dar-se de si, tudo o que tem. Podemos aqui, pensar nos marginalizados e excluídos da sociedade, mas penso que primeiramente devemos cuidar, sempre movidos pela compaixão, dos feridos e marginalizados da nossa Igreja, começando pela nossa comunidade. José da Cruz é Diácono da Homilia do Padre Françoá Costa — 15º Domingo do Tempo Comum — ANO C Mentalidade universalQuantas vezes nós escutamos que a palavra “católico” significa “universal”? Várias. A Igreja de Cristo nasceu selada pela universalidade. Ela não devia estar restringida aos judeus. “Ide por todo o mundo” – disse Jesus. Ninguém nasce cristão, é feito cristão no sacramento do batismo. Quando somos gerados para essa vida nova em Cristo, recebemos imediatamente essa nota característica: universalidade. Nesse sentido, o coração do católico abraça a todos, a começar pelos católicos. Não se pode viver um amor universal desvinculado do amor às pessoas com as quais convivemos. Fico impressionado com algumas atitudes, por exemplo, em relação ao ecumenismo: somos muito tolerantes com os irmãos chamados evangélicos e pouco tolerantes com irmãos católicos caso tenham outra maneira de ver as coisas. Que tenhamos por certo: é totalmente lícito pertencer a distintas manifestações da catolicidade, a esse ou àquele movimento, a essa ou àquela pastoral, a essa ou àquela organização. Também é lícito e maravilhoso que entre os católicos haja várias opções temporais: esse ou aquele partido político, esse ou o outro time de futebol, essa ou aquela filosofia. A catolicidade admite a unidade formada pela variedade. Unidade na fé, nos sacramentos, na moral, na obediência ao Papa e aos bispos em comunhão com ele; variedade em todas as outras coisas. Não estou fugindo da passagem do evangelho de hoje ao fazer essas afirmações tão amigas da liberdade. O samaritano, a diferença do sacerdote e do levita, “fez o bem sem olhar a quem”, simplesmente moveu-se de compaixão e começou a agir pelo bem daquele pobre homem que tinha caído na mão de malfeitores. O samaritano era um homem de coração e deixava que a compaixão o movesse a ajudar o próximo. Aprendamos desse homem: tenhamos um coração compassivo, a começar pelos nossos irmãos. Peçamos a Deus a graça de não ficarmos insensíveis diante das misérias da humanidade, das vicissitudes dos nossos irmãos, da pobreza, da falta de educação, da falta de vida espiritual. O bom samaritano, estando de viagem, soube atrasar os seus próprios projetos para realizar uma obra de misericórdia; não só viu as feridas daquele pobre homem, mas dedicou-lhe tempo e pôs-se a curá-las; não só o levou a uma hospedaria, mas até pagou as despesas. Jesus nos quer ensinar uma caridade que não é simplesmente uma espécie de filantropia, já que brota de um coração compadecido que faz ver quais são as verdadeiras necessidades dos nossos irmãos, ou seja, nos faz compreender os outros. Às vezes, o coração compassivo, movido pela caridade, nos dirá que em lugar de dar alguma moeda a um mendigo, o escutemos com carinho; outras vezes, a caridade que vem de Deus e que habita nossos corações nos dirá que não é só dar atenção e dizer que vai rezar por essa pessoa, mas também ajudá-la economicamente; outras ainda, o amor compassivo nos mandará fazer ambas as coisas. Quando estamos atentos ao que amor pede de nós em cada momento, não nos perguntaremos por uma suposta obrigação de caridade, mas a grande questão será a necessidade do outro. A pergunta não é “estou obrigado ou não a fazer isso?”, mas “o que essa pessoa necessita nesse momento?”. Na primeira pergunta está o nosso “eu”, na segunda está o “tu” dos outros. A caridade vai ao encontro, não é egoísta. A caridade alarga as nossas perspectivas e nos faz ter uma mentalidade universal. Por outro lado, uma visão “católica” das coisas nos oferece uma percepção aprimorada das distintas situações e nos faz ser mais eficazes à hora de ajudar os outros. Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa Comentário Exegético — 15º Domingo do Tempo Comum — ANO C Epístola (Cl 1, 15-20) INTRODUÇÃO: Cristo, como fim do mundo criado por Deus, primeiro na intenção e último no alcance e consecução é a trama sobre a qual Paulo raciocina neste trecho de sua carta aos colossenses. Cristo como imagem visível de Deus, como primogênito dentre os mortos de modo especial, constituiu princípio e plenitude de tudo, especialmente cabeça de um corpo que é a Igreja. Finalmente Cristo como reconciliador e instrumento da paz com Deus e com os homens. Cristo que deve ser tudo em todos. Esse é o motivo deste início da carta aos colossenses. CRISTO IMAGEM: O qual é imagem do Deus o invisível, primogênito de toda criatura (15). Qui est imago Dei invisibilis primogenitus omnis creaturae. IMAGEM DE DEUS: Paulo, certamente, como rabino judeu, sabia do fato que, no Gênesis, 1, 26 Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem [Betselamonu <6754>= eis eikona ëmeteran] conforme a nossa semelhança [kidmutenu < 1823> = kath’omoiösin]. TSELEM [<06754>= imago] é propriamente sombra. De onde imagem, forma, retrato, aparência. Quando Adão concebeu Set o fez conforme a sua imagem [betsalmu], usando o mesmo substantivo (a imagem dele) que quando Deus formou o corpo de Adão, indicando a correspondência entre pai/filho. Em Gênesis, o autor indica, de um modo poético, que essa identidade é uma DEMUTH<01823>, semelhança, modelo, aparência. Um exemplo é Is 13, 4: A gritaria da multidão sobre os montes semelhante [demuth] à de um grande povo. É possível que a ideia de Elohim [Deus] fosse antropomórfica, nos tempos primitivos, de modo que, inicialmente, fosse uma figura humana com as duas propriedades divinas dadas pelos frutos das duas árvores [da vida e do bem e do mal] ? Da leitura direta de Gn 3, 5, vemos como a serpente diz à mulher: se comerdes da árvore do bem e do mal sereis como deuses [ kelohim =esesthe ‘ös theoi] conhecedores do bem e do mal. Que no significado concreto do autor sagrado, indicava a sabedoria correspondente à divindade. E temos a outra passagem em 3, 22: eis que o homem é como um de nós [kiahad=´ös eis ëx ëmön], sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão e tome também da árvore da vida e coma e viva eternamente… De tudo isto podemos deduzir: 1) Nos tempos em que foi escrita, a passagem pertencia a uma cultura francamente monoteísta, mas imperfeita, que podemos chamar de monoteísmo relativo: Havia muitos deuses, e entre eles Jahveh era único para o povo judeu. Esse Deus-Jahveh tinha um corpo como os homens e pertencia a um gênero divino em que sua sabedoria era fruto de uma árvore e sua imortalidade de outra. Jahveh Elohim poderia ser assim traduzido como o existente entre os deuses o Deus vivo, ou finalmente o verdadeiro Deus. Os outros eram secundários, de categoria inferior, sendo suas estátuas vãs ou inconsistentes. Pois Jahveh era o Deus dos deuses que podia mais do que todos juntos. 2) Adão, uma vez comido o fruto proibido, era como um deus, claro que de categoria inferior mas muito semelhante ao Deus que o formou e de quem dependia como uma obra depende de seu criador. 3) O antropomorfismo do capítulo 3, 8 , em que Jahveh Elohim passeava pela viração do dia no jardim, indica que a ideia de Deus era a de um ser com corpo humano, ou semelhante, que tinha como elementos distintivos de sua essência a sabedoria e a imortalidade. 4) Também temos, neste conceito primitivo da essência divina, uma fonte de explicação para os versos do capítulo 6,: os filhos de Deus tomando mulheres das filhas do homem suscita a ideia de que deuses e homens são semelhantes (3) e os filhos nascidos como mestiços, dentre deuses e mulheres humanas, foram os gigantes (4), pois seus corpos de alguma maneira tinham que se distinguir dos puros homens. Esta interpretação tem como base a inspiração rudimentária do AT que só seria aperfeiçoada com o decorrer dos tempos; e finalmente, com a vinda do Verbo feito carne, em que claramente Jesus diz que Deus é espírito (Jo 4, 24). Porém, submeto esta minha interpretação ao juízo da Igreja, mas creio que não contém valor dogmático algum e só cultural, querendo, através da cultura, iluminar passagens escuras do AT. Já no NT, a ideia de que Deus é puro espírito pertence ao mundo revelado tanto como ao cultural. Portanto a IMAGEM [Eikön<1504>=imago] de que aqui Paulo fala é de um Deus que não tem forma humana [invisível ou em grego aoratos]. Nos evangelhos eikön aparece no caso em que Jesus pergunta sobre um denário de prata: de quem é esta imagem? (Lc 20, 24). Paulo usa eikön em diversas ocasiões: em Rm 1, 23 em que a glória de Deus [sua maneira de se manifestar] foi mudada em imagens de homem, de aves, quadrúpedes e de répteis. O varão é imagem de Deus, como glória ou majestade, não como forma visível do mesmo (1 Cor 11, 7). Pois assim deve ser interpretado o texto. Mas especialmente pelo que diz respeito a este versículo, Cristo é a imagem visível do Deus invisível, quer dizer que o homem-Cristo, visto e ouvido pelos seus conterrâneos, era como se Deus se fizesse homem e fosse visto e ouvido pelos homens que com ele conviveram. NOTA: Vamos explicar isso de que o varão é imagem da glória de Deus. Paulo afirma em 1 Cor 11, 7: O homem não deve cobrir a cabeça por ser ele imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem. Segundo a tradição rabínica, o homem é imagem da kabod Hasham [glória do Nome], em que Nome está no lugar de Jahveh. Rabi Hunah ben Joshua nunca andou 2 m com sua cabeça descoberta, porque a divina presença –dizia ele – está sempre presente sobre a minha cabeça. É um ato de kiddush Hashem [louvor do Nome (de Jahveh)]. Já no NT onde Cristo, como temos visto, é imagem visível do Deus invisível, um homem qualquer é imagem ou cópia de Cristo no corpo e alma por ser o corpo cópia do corpo de Cristo e na alma principalmente, segundo os rabinos pelo, poder e dominação que o homem tem sobre todas as criaturas e sobre a mulher que como auxiliar [ezer <05828>=boëthos <998>] lhe é comparável [neged<05048>= omoios <3664>]. Outros traduzem por idôneo e que na setenta se traduz por kata’ auton, segundo ele [o varão] (Gn 2, 18 e 20). Em tempos de Paulo, os libertos usavam o gorro frígio símbolo de liberdade, provavelmente para cobrir o estigma [carimbo] de ferro, feito pelo senhores que foram seus donos. Os romanos cobriam com um véu a cabeça quando realizavam atos de culto como pontífices. Porém, sabemos como os hebreus cobriam a cabeça para lembrar que o que temos acima de nós é Deus no céu, sempre presente sobre nós, observando-nos. O Kippah é um meio de lembrar-nos que acima de nós devemos respeitar alguém que é nosso superior. Que estamos submetidos aos seus desígnios sempre. Daí que Paulo, seguindo a tradição cultural da época, que sujeitava a mulher ao homem, diga que a modo de Kippah cívico esta devia cobrir a sua cabeça por respeito ao seu marido ao qual estava submetida. O que Paulo afirma em 1 Cor 11, 7 é pois, tradição e cultura e não preceito dogmático ou religioso. CRISTO PRIMAZIA DA CRIAÇÃO: Porque nele foram criadas todas as coisas as que (estão) nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam senhorios, sejam principados, sejam potestades: todas as coisas por meio dele e nele foram criadas (16). Quia in ipso condita sunt universa in caelis et in terra visibilia et invisibilia sive throni sive dominationes sive principatus sive potestates omnia per ipsum et in ipso creata sunt. Aqui Paulo explica o modo como o Cristo é glória de Deus: porque ele foi a causa de toda a criação, tanto da visível ou terrena, como da angélica ou invsível. Ou seja, céus e terra. E como essa causa se manifesta como doxa [majestade ou domínio], Paulo descreve, numa lista praticamente completa, os diversos domínios que na época se encontravam na terra: sejam estes Tronos [Thronoi=throni], senhorios [kyriotës =dominationes], principados [archai=principatus], potestades [exousiai=potestates]. Paulo termina declarando que tudo foi feito por meio dEle e nEle, ou seja, para que Ele dominasse céus e terra. Com isto se explica em que consiste a glória [domínio] que representa tanto Cristo como imagem visível de Deus como o homem em sua qualidade de imagem de Deus [de sua glória ou domínio] como da glória [domínio] da mulher. CRISTO UNIFICAÇÃO DO UNIVERSO: E ele é ante todas as coisas e todas nele estão constituídas (17). Et ipse est ante omnes et omnia in ipso constant. E Paulo, remata a descrição do poder de Cristo ao propô-lo como primeiro de tudo e como base desse mesmo tudo que existia; ou, como diz o grego sunestëken [<4921>=constant] que do verbo sunystëmi, com o significado de reunir, aglutinar, reunificar, sintetizar. Além de recomendar, estar da parte de alguém. Com o primeiro significado, temos também 2Pd 3, 5: houve céus bem como terra, a qual surgiu [synestösa] da água. Ou com o segundo: não é aprovado quem a si mesmo se louva [synistön]. Logicamente aqui é o primeiro significado o que prevalece. CRISTO CABEÇA: E ele é a cabeça do corpo da Igreja o qual é princípio primogênito dentre os mortos para ser em todos primazia (18). Et ipse est caput corporis ecclesiae qui est principium primogenitus ex mortuis ut sit in omnibus ipse primatum tenens. CABEÇA: [kefalë<2776>=caput] Paulo em 1 Cor 12, 12-14 descreve a Igreja como um corpo, cuja cabeça é Cristo. Quando falamos do corpo [soma] pensamos sempre num corpo místico em que o principal é a fé e o amor como unidade em espírito. Mas para Paulo o corpo é muito mais do que uma analogia. Segundo ele, a Igreja é a esposa, e, portanto, ele dirá que ambos, Jesus e a Igreja constituem um só corpo, de modo que a eles se pode aplicar o que diz o Gênesis: a Igreja será osso dos meus ossos e carne de minha carne (Gn 2, 23). A comunhão com o corpo e sangue de Cristo na Eucaristia nos dá também base para essa identificação de Cristo com o corpo eclesial, que constitui o pleroma de seu corpo biológico. Daí que Paulo tira o argumento de que é necessária a ressurreição de Cristo para que nós ressuscitemos, pois formamos um só corpo com Ele ao modo como uma esposa forma um só corpo com o esposo. E tanto é assim que não somos dois corpos, mas um só, no qual todos somos membros (1Cor 12, 12). A frase christianus alter Christus [o cristão, outro Cristo] não tem só um sentido espiritual [o Espírito sendo o mesmo] mas também sentido somático e corporal, de modo que todo corpo de um batizado é sagrado [agios] e não só representa, mas forma parte do corpo de Cristo, sem se confundir com ele, mas como uma esposa se une a um esposo para formar um só corpo. Desse corpo, Cristo é cabeça e nós somos os diferentes membros, com diferentes dons, atividades e ministérios (1 Cor 12, 4-6). PRINCÍPIO: [archë<746>=princípium] o começo e a origem como fundador e primeiro membro dessa Igreja que é o novo povo de Deus, constituindo o Reino dele aqui na terra. PRIMOGÊNITO: [Prötotokos <4416> =primogenitus] era o primogênito em sentido legal, que correspondia geralmente ao primeiro varão nascido de um matrimônio legítimo e que, como tal, tinha direito à primogenitura, ou seja, a herança correspondente. Como tal, o primogênito estava dedicado ao serviço divino e só podia ser resgatado por meio de cinco siclos, na realidade o preço de um escravo na idade infantil. Segundo as Escrituras, Jesus é primogênito de toda a criação (Cl1, 15), primogênito entre muitos irmãos que levam a sua imagem (Rm 8, 29) e finalmente, primogênito dentre os mortos com sua ressurreição (Cl 1, 18). Segundo Hebreus 12, 23, todos os salvos no céu são também primogênitos porque herdeiros da mesma fortuna (12, 23), basicamente a filiação divina. PRIMAZIA: [pröteuön<4409>=primatum] é a única vez que sai e significa preeminência, a preferência no que diz respeito a outra pessoa por razão ou mérito especial. De modo que aos olhos de Deus, Cristo está sobre toda criatura como afirma Paulo, pois é a razão de toda a criação e o fim da mesma (Vers 16). PLENITUDE DE CRISTO: Porque nele aprouve habitar toda a plenitude (19). Quia in ipso conplacuit omnem plenitudinem habitare. São duas as razões que Paulo aduz para essa primacia: a primeira é a PLENITUDE [plëröma <4138> =plenitudo] O pleroma grego era o barco completo ou só a totalidade da mercadoria nele embarcada. Dai pleroma como a plenitude de uma coisa ou ser. Cristo é a plenitude da criação como um completo compêndio de tudo o que foi criado. RECONCILIADOR E PACIFICADOR: E por meio dEle reconciliar todas as coisas nEle, fazendo a paz por meio do sangue de sua cruz tanto das coisas sobre a terra como das nos céus (20). Et per eum reconciliare omnia in ipsum pacificans per sanguinem crucis eius sive quae in terris sive quae in caelis sunt. Neste versículo encontramos a segunda razão da hegemonia de Cristo: A reconciliação que foi substancial nEle ao ser como a lente através da qual Deus olha o mundo, pois ele foi a causa, com seu sangue na cruz, de trazer a paz entre a terra e o céu. Ou melhor, de apaziguar terra e céu. O andar inferior do universo, que é o inferno, está submetido, mas não aceita a paz porque se opõe ao seu [de Cristo] reino de amor e pretende viver no ódio. Porém sempre se cumpre a palavra do apóstolo: todo joelho se dobrará nos céus, na terra e debaixo da terra ao nome de Jesus (Fp 2, 10). Evangelho (Lc 10, 25-37) O evangelho pode ser dividido em duas partes diferentes: 1o A pergunta do nomikós [advogado, ou intérprete da lei] sobre a obtenção da via eterna. 2o A resposta de Jesus sobre quem deve ser considerado o nosso próximo. Vamos estudar cada um dos dois pontos extremamente interessantes. A PERGUNTA A PERGUNTA DO ESCRIBA: E eis que um intérprete da lei levantou-se tentando-o e dizendo: Mestre, que fazendo herdadarei a vida eterna? (25). Et ecce quidam legis peritus surrexit temptans illum et dicens magister quid faciendo vitam aeternam possidebo. A perícope é narrada também pelos outros dois sinóticos, Mt 22, 34-40 e Mc 12, 28-31. Segundo Marcos e Mateus, mais próximos da cultura semítica, parece que Jesus estava ensinando. Daí o levantou-se (23) e o título de Didáskale (magister ou mestre). Pelas circunstâncias narradas pelos outros dois evangelistas, sabemos que estamos em momentos de discussão e que os primeiros a brandir uma lança foram os saduceus, que tiveram que se retirar emudecidos (Mt 12, 28); e foi então que os fariseus entraram na lide com a pergunta, também capciosa, do nosso jurista. A palavra Nomikós significa um jurista ou jurisconsulto, perito em dar solução a problemas sobre a lei [nomos]. Como a lei jurídica dos judeus era a Torá, daí que o nosso jurista era um perito na lei mosaica. Segundo os outros dois evangelistas, o jurista pergunta qual é o primeiro (Mc) mandamento, ou grande (Mt) no sentido de superlativo que o hebraico não tem. Era a disputa de sempre entre as diversas escolas que deviam escolher dentre os mandatos maiores, qual deles era o mais importante. RESPOSTA DE JESUS: Ele portanto lhe disse: Que está escrito na Lei? Como interpretas? (26). At ille dixit ad eum in lege quid scriptum est quomodo legis. Para Lucas o problema era de justificação, como diz Paulo, e por isso a pergunta é diferente: Que devo fazer para herdar a vida eterna? Vamos fazer uma distinção: Nomos era a tradução de Torá, a Lei de Moisés, que tinha 613 mandatos ou entolai dos quais 248 eram positivos e 365 negativos. Os rabinos diziam que o Santo só revelou a recompensa para dois deles, o mais importantes entre os importantes, como era honra teus pais (Êx 20,12) e o menor entre os pequenos que era deixa livre a mãe quando apanhares os passarinhos (Dt 22,7). A Torá não era problema entre os gentios de Lucas, que talvez nem a conhecessem. Daí que a pergunta do nomikós fosse referente à salvação. Precisamente o problema mais angustioso entre os gentios era como obter a vida eterna. E a pergunta do jurista entrava dentro de seu anseio essencial. Um jurista judeu ensinava a lei e a interpretava. E um dos problemas que devia solucionar era precisamente esse: Que deve ser feito para herdar a vida eterna? A pergunta surge com a leitura de Daniel 12, 2-3. O profeta prediz tempos difíceis em que haverá uma ressurreição dos que dormem [mortos]: Estes para a vida eterna, aqueles para o opróbrio, para o horror eterno. A Setenta tem eis aiónion zoén [para a vida eterna]. De um intérprete, pois, da Escritura podemos esperar essa problemática que considera essencial, assim como a samaritana perguntava sobre o lugar mais apropriado para adorar o Senhor (Jo 4, 20). O ESCRIBA: Ele, pois, respondendo, disse: amarás o Senhor teu Deus com todo teu coração, e com toda tua alma e com toda tua força e com toda tua mente; e ao próximo como a ti mesmo (27). ille respondens dixit diliges Dominum Deum tuum ex toto corde tuo et ex tota anima tua et ex omnibus viribus tuis et ex omni mente tua et proximum tuum sicut te ipsum. Marcos cita textualmente o Shemá a oração que duas vezes ao dia deviam recitar ou entoar os israelitas maiores de idade. Essa prece reconhece o Senhor como único e manda amá-lo de todo o teu coração [kardia] de toda a tua alma [psyché] e de toda a tua força [dýnamis](Dt 6,5, cita direta da Setenta). Marcos acrescenta mais uma potência a dianóia [mente ou pensamento]. Mateus usa só três termos mas substitui a força pela dianóia. Vejamos as faculdades com as quais devemos amar. A bíblia usa o leb [kardia, cor, coração] em sentido figurado principalmente,e significa muito mais do que pretendemos nas línguas modernas. Designa a personalidade consciente, inteligente e livre, a vontade e os desejos, as emoções e os sentimentos: no fim, o homem na sua mais profunda intimidade. Em especial no nosso caso, é a sede do entendimento, fonte do pensamento, da vontade e dos desejos. Nefesh: A segunda faculdade humana é a nefesh [psyché, anima, alma (traduzimos para o grego, latim e português)] que embora em termos bíblicos designa todo o homem enquanto vivo, como faculdade, podemos dizer que é seu alento vital, que anima o corpo e se mostra principalmente na respiração. É o elemento que não desaparece com a morte. MEOD: O terceiro elemento é meod [dýnamis, fortitudo, posses ou forças]. Marcos e Lucas acrescentam ou dividem o meod em duas faculdades: Dianóia [mens, mente] e ischyos [virtus (vires em Lc) , força]. Que dizer de toda esta abundância de detalhes? Tanto o Deuteronômio como os evangelistas usam uma fartura propositada de faculdades humanas para afirmar que o amor que devemos a Deus não tem limites e é com tudo que devemos amá-lo, ou melhor, servi-lo. Como sendo o único Senhor que dispõe e propõe de nossa existência; pois o sentido do amor que a Ele devemos, está determinado, tanto pelas faculdades a Ele submetidas como pelo atributo que acompanha a palavra chave de Deus: Ele é Senhor e as faculdades que formam o homem completo, como composto das mesmas [kardia, psyché,ischys e dýnamis] estão todas subordinadas ao seu serviço total [ex holes, ex toto, de todo]. O homem depende do que Deus quer e como Deus quer. E até quando Deus quer ( S. Maravillas). Mais um detalhe: na reposta de Lucas, Jesus usa o método socrático de responder perguntando e nessa pergunta ele pede ao escriba que lembre do que está escrito na Lei e que ele reconhece bem, ou recita como Keriat Shema; recitação que era obrigatória desde que se possa distinguir entre o azul e o branco, segundo a Mishná. O PRÓXIMO: RÉA ou REYA é a palavra que usa o Pentateuco para designar o próximo. Com o número de Strong <07453> aparece inúmeras vezes no AT. Sua tradução originária é ASSOCIADO; mas aparece com os significados de irmão, companheiro, camarada, amigo, esposo, amante e vizinho, segundo os diversos textos. Como mandato dentro da lei, aparece em Dt 5, 20: Não dirás falso testemunho contra teu próximo. Com o significado de amigo lemos: teu amigo que amas como à tua alma (Dt 13, 6). A passagem que o nomikós cita é Lv 19, 18: Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. O famoso Hilel, o ancião, ditou este preceito em outras palavras: Não faças a teu companheiro o que não queres que te façam. Segundo o comentário bíblico moderno do rabino Meir Matziliah, as palavras que designam companheiro, próximo e irmão são réa – amith- ben- am- ah. Ah é irmão e era usado para todo israelita. Em Lv 19, 17-18 saem esses quatro termos [ ah (irmão) amith (companheiro), bem (filho) am (povo) e réa (próximo) A citação será: Não odiarás o teu irmão [ah 0251] no teu coração; repreenderás a teu companheiro [amith 05997] e por causa dele não levarás sobre ti pecado(17) . Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos [ben 01121] do teu povo [am 05971]; mas amarás o teu próximo [reya 07453] como a ti mesmo. Marcos e Mateus, após terminar a exposição do Shemá como mandato primordial, acrescentam umas palavras de Jesus: o segundo é semelhante: amarás o próximo como a ti mesmo. Marcos dirá que não existe outro mandamento maior (12, 31). E Mateus, que nestes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas ( 22, 40) Lucas é o único dos três evangelistas que narra a parábola como resposta à pergunta imediata do nomikós: A quem devo considerar meu próximo? A resposta da lei [Torá] era clara: Não levantarás uma acusação que faça derramar o sangue de teu próximo (Lv 19, 16) e tratarás o migrante que mora entre vós como um de vós; ama-lo-ás como a ti mesmo (Lv 19, 34) Mas Jesus com uma parábola que é uma página das mais belas da literatura universal, e com detalhes se não reais, pelo menos verossímeis no estilo de hagadá [narração] nos oferece um mashal [exemplo ou parábola] em que o importante é a moral da história embora possam existir pormenores que sejam utilizados alegoricamente. A parábola tem muitos detalhes que foram tomados da realidade do tempo. Vamos explicar alguns deles. COMENTÁRIO DE JESUS:: Disse-lhe então Jesus: Corretamente respondeste. Faze isso e viverás (28). Dixitque illi recte respondisti hoc fac et vives.Jesus confirma o bom-senso do escriba, e afirma que realmente a vida verdadeira consiste em cumprir esse mandato supremo em suas duas ordenações. Hoje em que o mundo busca com maior ímpeto a felicidade é bom lembrar que esta só pode ser encontrada no cumprimento do mandato do amor em sua dupla finalidade. A PERGUNTA FINAL: Ele, pois, querendo se justificar disse a Jesus: E quem é meu próximo? (29). ille autem volens iustificare se ipsum dixit ad Iesum et quis est meus proximus. Jahveh era o único Deus e não existia dúvida sobre o objeto do primeiro e máximo amor. Mas quem realmente era ou é nosso próximo? Jesus responde com uma parábola, que hoje denominamos do Bom Samaritano. A PARÁBOLA DESCIA DE JERUSALÉM A JERICÓ: Jesus prosseguiu dizendo: Certo homem descia de Jerusalém a Jericó e veio cair em mãos de salteadores, os quais depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos retiraram-se, deixando-o semimorto (30). Suscipiens autem Iesus dixit homo quidam descendebat ab Hierusalem in Hiericho et incidit in latrones qui etiam despoliaverunt eum et plagis inpositis abierunt semivivo relicto. Na realidade, Jerusalém está a 800m sobre o nível do Mediterrâneo e Jericó a 300m sob o mesmo nível, havendo pois, uma diferença de 1100 m e sendo o caminho descendente. Jerusalém era a cidade sacra por excelência e Jericó uma cidade que Herodes o Grande tinha como lugar de prazer. Em Jericó estava também uma colônia de sacerdotes, de modo que era uma cidade dormitório dos mesmos. A distância entre Jerusalém e Jericó era de aproximadamente 150 estádios ou 28 Km. O caminho era praticamente desértico e pedregoso, como era o deserto de Judá do qual forma parte. OS BANDIDOS: O grego distingue entre Kleptes [ladrão às escondidas] e lestes [bandido ou salteador]. Estes últimos eram frequentes nos tempos de Jesus em forma de salteadores de caminhos ou piratas do mar. Ambos eram condenados à morte na cruz. Assim eram os dois que acompanharam Jesus segundo Mt 27, 38 que Lucas 22, 33, chamará de malfeitores [kakourgos]. Seriam zelotas que, devido à sua vida fora da lei, se tornavam de revoltosos em bandidos como atualmente acontece, por exemplo, na Colômbia? É provável. O caso é que despojaram o nosso homem de tudo, deixando-o nu e coberto de feridas, como morto. Não era infrequente este fato e precisamente num trecho do caminho chamado subida de Adummim [dos vermelhos] que parece indicar sangue. Aí deixaram, como se fosse um cadáver, o infeliz assaltado. O SACERDOTE E O LEVITA: Casualmente descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e tendo-o visto, passou de largo (31). Accidit autem ut sacerdos quidam descenderet eadem via et viso illo praeterivit. Semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e tendo-o visto, também passou pelo outro lado (32). Similiter et Levita cum esset secus locum et videret eum pertransit. Como temos visto, Jericó era uma cidade dormitório de sacerdotes e levitas. Talvez existisse uma outra razão para que Jesus colocasse estes personagens: a impureza que, como servos do templo, deviam evitar a contaminação com um cadáver, que era uma das impurezas mais graves (Nm 5,2) e até o templo do Senhor estaria impuro se o sacerdote ou levita não fizessem antes a sua purificação. Um sacerdote ou um levita só podiam contaminar-se com um cadáver no caso deste ser um parente dos mais próximos (Ez 44, 25). E sabemos como a lei da impureza era de suma importância entre os judeus. Até a aproximação com um cadáver podia ser causa de tal impureza, como era entrar na tenda onde estava o morto (Nm 19, 14). Especialmente era impuro aquele que tocar um cadáver, morto pela espada no campo (19, 16). Daí que ambos deram um rodeio para evitar semelhante impureza, pois consideravam que o homem estava morto. Sem dúvida que Jesus escolheu as circunstâncias e os atores para indicar que a lei não devia estar por cima da misericórdia (Mt 9, 13). O SAMARITANO: Porém um samaritano de caminho, veio perto dele e tendo-o visto moveu-se a compaixão (33). Samaritanus autem quidam iter faciens venit secus eum et videns eum misericordia motus est. E aproximando-se, vendou-lhe os ferimentos aplicando óleo e vinho e colocando-o sobre a sua cavalgadura levou-o a uma hospedaria e tratou dele (34). And coming near, he bound up his wounds, pouring on oil and wine. And putting him on his own animal, he brought him to an inn and cared for him. No dia seguinte tirou dois denários e entregou ao hospedeiro dizendo: Cuida deste homem e se alguma coisa gastares a mais, eu to endenizarei quando voltar (35). Et altera die protulit duos denarios et dedit stabulario et ait curam illius habe et quodcumque supererogaveris ego cum rediero reddam tibi. Jesus escolhe o homem mais odiado pelos judeus, um herege, que do ponto de vista de um jurista era pior do que um pagão. E este homem tão desprezado foi o que realmente atuou como próximo [vizinho-amigo] de um outro a quem devemos amor. O que fez o samaritano não era comum na época. Também eles tinham as leis de impureza. Mas a compaixão (33) o obriga a cuidar de um estranho que estava em perigo de morte. O verbo usado por Lucas é o mesmo que usa quando Jesus se move a compaixão por doentes ou necessitados (Lc 7, 13). A primeira coisa que o samaritano fez foi vendar as feridas, após aplicar óleo e vinho, remédios da época. Misturados, serviam para curar feridas e até a chaga da circuncisão como está escrito na Mishná. Pois até em sábado se podia executar o rito, só que não se podia misturar óleo e vinho, cuja mistura devia ser feita antes, para não infringir o descanso prescrito nesse dia. Por isso estava prescrito que se aplicassem por separado. Após vendar as feridas, o samaritano montou o ferido na besta; o asno era a montaria permitida pois o cavalo era usado só pelos homens de guerra. E o levou a uma hospedaria [pandocheion] de pan [todo] e dechomai [receber] e o cuidou. No dia seguinte pagou dois denários ao hospedeiro dizendo que na sua volta pagaria tudo quanto fosse devido. O denário era a moeda com a qual se pagava o trabalho de um dia. Visto o que temos escrito sobre próximo, é evidente que o feito pelo samaritano é o que se espera de um amigo ou de um parente. Por isso não é uma conduta irreal ou extremamente fora do comum. A PERGUNTA: Qual destes três te parece que foi o próximo do homem ferido pelos bandidos? (36). Quis horum trium videtur tibi proximus fuisse illi qui incidit in latrones. Aquele que se comportou com o ferido como um réa [próximo] que, segundo a Lei do AT, era um ah [irmão], um do am [povo], ou amith [companheiro]. CONCLUSÃO: Ele então disse: quem fez misericórdia com ele. Disse pois Jesus vá e faz tu da mesma maneira (37). At ille dixit qui fecit misericordiam in illum et ait illi Iesus vade et tu fac similiter. Logicamente o escriba teve que responder que o samaritano. Porém, ele usa um circunlóquio: o que usou de misericórdia. Dizer a palavra maldita para um judeu que correspondia a um herege não entrava dentro dos costumes lógicos de um escriba, que além do mais, correspondia ao seu ofício, era um fariseu. Aqui encontramos mais um detalhe da autenticidade do texto e da sua veracidade. Jesus, então, responde: vai e procede tu de igual modo. E Jesus parece que igualmente nos está demandando agora: procede tu do mesmo modo. OBSERVAÇÕES: Jesus não muda a lei, a antiga, Torah, mas explica o significado da mesma indicando quem deve ser considerado como próximo, ou melhor, quem atua ou ama como próximo. É uma lição de amor mais do que uma lição semântica de quem deve ser considerado como próximo. O amor é o que nos salva ou em palavras do jurista nos dá o direito de herdar a vida eterna. O samaritano é a figura chave de como devemos nos comportar para que a lei do Levítico seja norma de nossa vida: amarás o próximo como a ti mesmo. Por isso o samaritano cuida com perfeita lógica de um aparentemente estranho, como ele mesmo queria ser tratado: Sem poupar qualquer cuidado ou solicitude. E neste trato não existe diferença por causa de religião ou etnia. Todos devemos tratar o outro, qualquer que seja, como queremos ser tratados, especialmente os mais necessitados. Deste modo seremos verdadeiros próximos dos que convivem conosco. PISTAS: 1) A lição do evangelho de hoje é uma lição de amor. De como devemos viver evangelicamente nossas vidas para que os nossos deveres com Deus e o próximo sejam devidamente cumpridos. A frase de Madre Maravillas, anteriormente citada, é a que nos indica de maneira prática o exercício do amor a Deus. 2) A lição de Jesus é dificilmente explicada nos comentários da parábola. Sem saber o significado de próximo nos tempos de Jesus, dificilmente poderíamos entender a moral da história. Próximo não é o necessitado, mas aquele que trata os outros como ele quer ser tratado, até com mordomias que parecem desnecessárias, como vemos na parábola. Quando eu encontrar um médico, um amigo que por mim faz tudo o que eu pediria que fosse feito, eu encontro o verdadeiro próximo como uma dádiva de Deus. 3) Diante dessa prescrição final de Jesus faz isso e viverás, temos que aceitar com humildade que somos extremamente falhos na vivência do amor para com os outros homens. Sempre, ou quase sempre, nos aproveitamos deles e praticamente nunca pensamos como Paulo servi uns aos outros por causa do amor (Gl 5,13). Desta última forma perderemos a nossa liberdade [vida] mas ganharemos a nossa eternidade. EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova. - Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana. Interpretação errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. Consequências: - O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
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