GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
            
             
            
              13.10.2019 
                28º DOMINGO DO TEMPO COMUM 
                — ANO C 
                ( VERDE, GLÓRIA, CREIO – IV SEMANA DO SALTÉRIO ) 
                __ "Não foram dez os curados?" __ 
              OUTUBRO - MÊS DAS MISSÕES 
              
             
            Ambientação:  
            Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! 
            INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Nossas comunidades são um espaço onde o Senhor da vida se manifesta. Não nos reunimos para “pagar graças”, e sim celebrar o Deus que dá gratuitamente a vida para todos. A gratidão é um ornamento da humildade. Por isso, o senso de gratidão revela o interior do ser humano e, somado à fé e ao amor, constitui o autêntico discípulo. 
            INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, a Igreja, reunida em nome do Senhor, dá graças e bendiz o Pai doador de todos os dons e de todas as bênçãos. Na sua infinita misericórdia, o Pai enviou seu Filho em missão para nos libertar, nos curar e nos salvar. A cada dia experimentamos a ação de Deus que nos salva e nos tira da morte, por seu Filho amado, o Cristo Senhor. Elevemos, pois, a Deus nosso hino de louvor e de ação de graças e, na oferta do seu Filho, ofereçamos a nós mesmos como ofertas vivas e agradáveis a Deus. 
            INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: O anúncio do reino de Deus é anúncio de salvação, proclamado não só com a palavra, mas também com ações. Os milagres confirmam o triunfo do Espírito sobre satanás, e é por isso que Jesus, investido do Espírito, entra em luta com satanás no deserto. O Cristo é o homem forte, que, lutando arduamente, tira o espírito do mal aquilo que ele usurpou. Jesus inaugura o reino messiânico destruindo a obra do adversário. 
            Sintamos em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo e entoemos alegres cânticos ao Senhor! 
             
            
               (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) 
             
             
            PRIMEIRA LEITURA (2 Reis 5, 14-17):   - "Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel!" 
            SALMO RESPONSORIAL 97(98):    - "O Senhor fez conhecer a salvação e às nações revelou sua justiça." 
            SEGUNDA LEITURA (2 Timóteo 2,8-13):    - "Merece fé esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos." 
            EVANGELHO (Lucas 17,11-19):   - "Levanta-te e vai! Tua fé te salvou." 
             
            
             
            Homilia do Diácono José da Cruz — 28º Domingo do Tempo Comum — ANO C 
            De novo Israel perde  para um estrangeiro... 
            Mateus, que escreve  para os Judeus, não provocaria dessa maneira seus leitores, mas estamos diante  de Lucas, para quem Jesus é o Salvador e a oferece gratuitamente a todos os  homens. Por isso o personagem em evidência é novamente um estrangeiro, um Samaritano,  mal visto pelos Judeus, considerado impuro e que por isso mesmo jamais iria ser  salvo, uma vez que não tinha acesso aos ritos de purificação e expiação dos  pecados. A palavra “Estrangeiro” com a qual Jesus se refere ao Samaritano nos  induz a pensar que os outros nove eram Judeus. Por que será que não voltaram? 
            A primeira leitura nos  dá uma dica importante quando Naamã, ao ver-se curado totalmente da lepra, como  predissera Eliseu que o mandou mergulhar sete vezes no rio Jordão, ele quer de  alguma forma retribuir ao profeta com presentes, que Eliseu recusa  veementemente. Naamã professa uma fé maravilhosa mas se vê na obrigação de “dar  algo em troca da cura”. O judeu pensa a mesma coisa “Deus faz, mas eu preciso  dar algo, eu preciso merecer, com minhas boas ações, rituais, holocaustos e a  prática da Lei. Eis aí porque os outros não voltaram, pensavam assim: se foram  curados,  é porque mereceram aquela ação  Divina a seu favor e agora o mais importante a fazer era apresentar-se diante  do Sacerdote do templo, que iria homologar a cura” .Depois certamente iriam  procurar Jesus para agradecê-lo. Mas o Samaritano não pensa assim, para ele, a  sua cura não está em nível institucional, mas físico e espiritual. Cura de  lepra, por aquele tempo, era algo fantástico, que somente o Poder Divino  poderia fazê-lo. Lepra significava pecado, e a Instituição apenas separava os  “Impuros”   dos  “puros” , os pecadores dos que estavam  salvos. Era a religião altamente excludente! 
            Compreender a Graça  como Dom realmente gratuito não é nada fácil, até mesmo para nós,pois,  quando alguém de nossas relações, recebe algum  ganho ou benefício, seja ele material ou espiritual, logo dizemos “Você  merece!”. Por que será que Deus atende a alguns, cura esses, e não cura  aqueles? Parece que atende mais a oração de alguém em especial. Isso me lembra “Súplica  Cearense” onde a certa altura da música, a letra diz “Desculpe, eu não rezei  direito o Senhor me perdoe, eu acho que a culpa foi, deste pobre que não sabe  fazer oração”. Existirá uma fórmula certa para se rezar? O Segredo está no mais  íntimo do ser humano, quando percebemos Deus e a sua Graça agindo em nossas  entranhas, somos impelidos a louvá-lo, manifestando assim nossa gratidão. 
            O Samaritano deixa que  o coração fale mais alto, não há nada com que possa retribuir aquela cura, que  para ele, diferente do modo de pensar dos outros nove, era imerecida! Só Deus  poderia manifestar um amor tão grande, gratuito e incondicional, por isso ele  volta e se prostra aos pés de Jesus, reconhecendo o seu messianismo,  possivelmente disposto a tornar-se um seguidor. Os outros nove como já o  dissemos anteriormente, também viriam agradecê-lo, mas certamente não iriam se  prostrar, pois a Ação Divina estava no templo e no sacerdote, que para eles  estava acima de qualquer coisa. 
            Não coloquemos a  Instituição, nossas virtudes e labutas pastorais, como uma paga á Deus pelos  inúmeros benefícios que Ele nos concede no dia a dia. Antes, sintamos a alegria  da sua Graça presente em nós, e que é muito maior que nossos pecados e  limitações. Gratidão e louvor que expressamos em nossas liturgias, por esse  Deus manifestado em Jesus, e que nos ama do jeito que somos agora. Dando  abertura a essa Graça, como aquele Samaritano, sentiremos sempre uma alegria  inexplicável, que um dia se tornará plena, quando o Reio de Deus for  manifestado á toda a Humanidade! 
            José da Cruz é Diácono da  
              Paróquia Nossa
              Senhora Consolata – Votorantim – SP 
              E-mail  jotacruz3051@gmail.com 
             
            Homilia do Padre Françoá Costa — 28º Domingo do Tempo Comum — ANO C 
            “Justificados pela fé” 
            Na semana passada, refletimos sobre a fé. Gostaria de continuar com o mesmo   tema, mas dessa vez desde outra perspectiva. O que acontece é que eu também,   como você, escutei na passagem do Evangelho oferecido pela liturgia de hoje o   seguinte: “Levanta-te a tua fé te salvou” (Lc 17,10). Ou seja, a fé salva! 
            Martinho Lutero foi um sacerdote agostiniano alemão que viveu no século XVI,   homem de grande inteligência e de uma fina sensibilidade. Atormentado pelos seus   escrúpulos de consciência e sentindo-se oprimido pelas normas da religião,   passou por uma experiência que mudaria a sua vida. Leu Rm 1,17: “o justo viverá   da fé”. Lutero entendeu que bastaria a fé, somente a fé, para salvar-se; as   obras não contariam para nada nesse processo de salvação. A partir daquele   momento, seria clássico o tripé luterano: Sola fides! Sola gratia! Sola   Scriptura! A tradução é fácil: Somente a fé! Somente a graça! Somente a Bíblia!   Com exclusão das obras, do esforço ascético e da Tradição da Igreja.   Logicamente, a partir daquele momento, Lutero já não se sentia ligado à   autoridade da Igreja Católica para interpretar a Sagrada Escritura.   Curiosamente, parece que Lutero não leu muito bem o seguinte capítulo da Carta   aos Romanos que, entre outras coisas, nos diz que Deus “retribuirá a cada um   segundo as suas obras” (Rm 2,6), nem tampouco o que escreveu o mesmo Apóstolo   aos gálatas: que a fé “opera pela caridade” (Gl 5,6). 
            Enfim, o Concilio de Trento teve que tratar dessa questão e fê-lo   magistralmente no ano 1547. O fruto daquela Sessão VI do Concilio foi o   valiosíssimo Decreto sobre a justificação. É interessante observar que, desde o   começo, o Concilio não se preocupou em dar uma interpretação imediata a uma   passagem concreta, como poderia ser Rm 1,17, mas primeiramente quis conhecer   profundamente o que significa ser justificado, ser justo, o que quer dizer   “justificação”. Depois de deixar claro até que ponto chegou o drama do ser   humano – pecador, imundo, separado de Deus, com uma vontade e uma liberdade   enfermas, incapaz de salvar-se a si mesmo –, nos explica que a salvação nos vem   de Jesus Cristo. Ele nos salvou, mas cada de um nós tem que deixar-se lavar pelo   seu sangue purificador. Finalmente, o Concilio nos diz que a justificação não é   somente remissão dos pecados, mas também santificação e renovação do homem   interior pela voluntária recepção da graças e dos dons. E qual é o papel da fé   na justificação já que a Escritura afirma que o somos justificados pela fé (cfr.   Rm 1,17; 3,28)? O Concilio interpreta essas palavras da Escritura com outras:   “sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que   se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11,6).   Ser justificado pela fé, ser salvado e santificado pela fé, significa que para   ser justo diante de Deus é preciso antes crer que ele existe e que é a causa da   nossa santificação. Com efeito, como estar inserido em Cristo se não cremos nele   e se não permitimos, livremente, que ele entre nas nossas vidas? Deus é muito   cortês, se nós não permitimos que ele entre na nossa casa, ele não entrará, mas   continuará insistindo. 
            “Levanta-te a tua fé te salvou” (Lc 17,10). Abracemos cada vez mais a   salvação doada por Cristo a cada um de nós, mas não nos esqueçamos de que é   importante voltar para agradecer com obras e na verdade. Aquele samaritano, que   antes era leproso como os outros, quis percorrer o caminho de volta para   agradecer a Jesus pessoalmente prostrando-se aos seus pés. A sua fé foi   acompanhada por umas quantas obras que mereceram um elogio e uma exclamação de   Jesus: “Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a   Deus?!” (Lc 17,18). Agradeçamos ao Senhor “opere et veritate”, com obras e na   verdade, pois, salvados em Cristo Jesus, “esforçai-vos quanto possível por unir   à vossa fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança   a paciência, à paciência a piedade, à piedade o amor fraterno, e ao amor   fraterno a caridade. (…) Portanto, irmãos, cuidai cada vez mais em assegurar a   vossa vocação e eleição” (2 Pd 1,5-10). Sim, a nossa fé nos salvou, mas é   preciso continuar cuidando – por uma vida santa – essa salvação para que aumente   em nós e para que um dia seja eterna e vejamos, face a face, a Deus Pai e Filho   e Espírito Santo. 
            Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa 
             
            Comentário Exegético — 28º Domingo do Tempo Comum — ANO C 
              (Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios) 
            EPÍSTOLA (2 Tm 2,8-13)  
            INTRODUÇÃO: Paulo exorta Timóteo a ser fiel à palavra do evangelho, que em   Jesus vê o Cristo Ressuscitado. Paulo espera que seus sofrimentos por ter sido   ministro dessa palavra, sejam a causa de sua glória com Cristo; pois declara que   compadecer com Cristo é a base de ser glorificado com Ele. E finaliza dizendo   que apesar de sermos desleais, Ele nunca pode ser igual a nós, pois não pode se   negar a si mesmo. Logo sua palavra permanece imutável e nela devemos   confiar. 
            JESUS CRISTO: Lembra-te de Jesus Cristo, tendo sido levantado dentre os   mortos, da semente de Davi, segundo o meu evangelho (8). Memor esto Iesum   Christum resurrexisse a mortuis ex semine David secundum evangelium meum.   LEMBRA-TE: O judaísmo era uma religião de lembranças, que tinha suas festas como   recordação dos fatos, em que a mão de Jahveh foi vista claramente em favor de   seu povo eleito. Tal é a Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos. Era também uma   religião de testemunhas, pois os profetas recebiam as visões e palavras de   Jahveh como declarações e atestados em que o povo devia acreditar para a sua   salvação. Assim mesmo o cristianismo é uma religião de memórias, a começar pela   Eucaristia [fazei isto em minha memória], de fatos em que o amor divino se   manifestou de modo insuperável em contra do ódio satânico como na cruz; e sua   onipotência triunfou sobre o poder supremo da morte com a ressurreição. Também é   uma religião de testemunhos em que visões e revelações têm existido em todos os   tempos, inclusive nos mais próximos, como Paray le Monial, Lourdes e Fátima para   citar os últimos, aceitos pela Igreja universal. Deus não é um Deus longínquo,   mas próximo do homem, que se revela e se apresenta em formas que o homem pode   ver e das quais ser testemunha a outros homens. A memória, pois, da revelação e   dos fatos experimentados constitui a base da fé e Paulo acentua de modo especial   a da Ressurreição como alvo derradeiro da vida: Se Cristo ressuscitou, nós   também poderemos ressuscitar com Ele, pois se a morte entrou por um homem,   também por um homem a ressurreição dos mortos (1 Cor 15, 21). E como todos   morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo (1 Cor 15, 22).   LEVANTADO: Assim o fato principal, do qual a memória tem sido a base testemunhal   fundamental, é a Ressurreição de Cristo. De maneira que se Cristo não   ressuscitou é vã a nossa fé e ainda permanecemos em nossos pecados (1 Cor   15,17). Nada de estranho que Paulo lembrasse a Timóteo desse fato essencial. Ao   traduzir em passiva o verbo egeirö [<1453>=surgere], a tradução seria ser   levantado o que implica a ação divina na ressurreição de Jesus. SEMENTE: [sperma   <4690>=semen] é a semente de uma planta; também o sêmen viril que, segundo   o pensar antigo, era como uma semente que continha o novo ser, semeado no ventre   materno que fazia ocasião de terra fértil até o nascimento. Daí que seja também   prole ou descendência, como é no caso atual. É a palavra usada por Lucas em 1,   55: como falou a nossos pais, para  Abraão e sua posteridade [spermati] para   sempre. 
            ACORRENTADO: No qual estou padecendo até correntes como um malfeitor; mas a   palavra de (o) Deus não está acorrentada (9). In quo laboro usque ad vincula   quasi male operans sed verbum Dei non est alligatum. CORRENTES   [desmoi<1199>=vincula] Uma das testemunhas fundamentais da ressurreição de   Cristo era Paulo. Sua autenticidade e veracidade tinham uma base facilmente   verificável: as correntes que todo preso especial carregava como testemunho de   sua culpabilidade. De Pedro lemos em At 12, 6-7 que estava preso com duas   cadeias, que à vista do anjo cairam-lhe das mãos. O latim vincula como o grego   desmoi significa ligações, e em particular, em plural, significa prisão ou   cárcere, pois nestes casos as ligações eram cadeias ou correntes de ferro [em   grego alusis<254>=catena] que nas mãos se traduz por algemas e nos pés no   plural por grilhões e em grego pedë [<3976>=compedes]. Temos o exemplo de   At 16, 24: Paulo estava sujeito aos pés por um cepo de madeira [seguros os pés   no madeiro é a tradução literal]. Num mundo em que o preso era encerrado com   duas correntes que amarravam as mãos à parede e por vezes com um cepo nos pés   numa cela sem luz, tudo por pensar que o detento era culpado até que se provasse   sua inocência, o carcereiro tomava todas as precauções para que o preso não   pudesse se soltar; pois a falha condenava o carcereiro a uma morte extremamente   dolorosa e humilhante. Foi por isso que, o carcereiro de Paulo em Filipos tentou   se matar ao ver as portas do xadrez abertas e pensar que os presos tinham   escapado  (At 16, 27). Que Paulo estava encadeado o sabemos por 2 Tm 1, 16 : O   Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes me recreou   e não se envergonhou das minhas cadeias [alusin]. A PALAVRA [o   logos<3056>=verbum] com artigo, pode significar a segunda pessoa da   Trindade, segundo João 1, 1; mas no NT em geral, é a palavra de Deus,   testemunhada pelos apóstolos e escrita nos evangelhos. Essa palavra é agora   também lida nos evangelhos e interpretada e testemunhada pelos novos sucessores   dos apóstolos, Papa,  bispos em comunhão e fiéis em observância. Essa palavra   não está acorrentada, e por isso, hoje a Igreja tem o direito e dever de   iluminar com a verdade revelada, o Cristo (Jo 14, 6), o destino final do homem e   a felicidade e modo de viver para obter a mesma na terra. Existem na Igreja duas   maneiras de evangelizar: ministerial e carismática. A tradição se complementa   com a ação do Espírito que age com poder [sobrenatural] como afirma Paulo. Porém   a pergunta essencial de todo homem é não tanto o para que, mas o para quem. Daí   que Paulo explica o porquê de sua prisão: a palavra não pode estar acorrentada,   embora seus propagadores o sejam. 
            A SALVAÇÃO: Por isso, todas as coisas suporto, por causa dos escolhidos, a   fim de que também eles obtenham a salvação, a de em Cristo Jesus com glória sem   fim (10). Ideo omnia sustineo propter electos ut et ipsi salutem consequantur   quae est in Christo Iesu cum gloria caelesti. SUPORTO   [ypomenö<5278>=sustineo] do grego significa permanecer, continuar,   tolerar, suportar, aguentar. É neste sentido de tolerar, padecer e sofrer sem se   render, que Paulo usa o verbo. E a razão é a SALVAÇÃO   [söteria<4991>=salus]. A tradução de söteria é libertação, resgate,   salvação, especialmente do inimigo, por uma ação de terceira pessoa. O inimigo é   o pecado e o seu instigador o diabo. A Escritura descreve quatro diferentes   modos de salvação do pecado: da pena, do poder, da presença e do prazer. A   moderna Teologia toma a libertação como um ato de salvação de condições   materiais escravizantes. A Teologia tradicional coloca o inimigo no pecado. É   verdade que temos em Lucas, capítulo 1, no cântico de Zacarias ambas as   interpretações: 1) A salvação dos inimigos materiais no versículo 69: levantou   uma força [corno no original] de salvação [söterias] na casa de e Davi, seu   servo, inimigos que declara no versículo 71: salvação [söterian] de todos os   nossos inimigos e da mão e todos os que nos odeiam. 2) E a salvação espiritual   do pecado no versículo 77: Para dar ao seu povo conhecimento da salvação   [söterias], na remissão dos seus pecados. Em todos os casos, a tradução latina   de söteria é salus,tis, de onde se origina a palavra salvação. Já em Paulo   unicamente encontramos a palavra söteria com o significado de remissão dos   pecados através da redenção [lytron<3083> ou apolytrösis<629>] (1 Tm   2, 6) que é o preço do sangue de Jesus em resgate nas palavras de Jesus: o filho   do homem não veio para ser servido mas para servir e dar sua vida em resgate   [lytron] de muitos (Mt 20, 28). A única diferença é que Paulo emprega   apolutrösis no lugar de lytron. E a mais clara citação sobre a redenção   [apolytrösis] é Ef 1, 7: Em quem [Jesus] temos a redenção [apolytrösin] pelo seu   sangue, a remissão das ofensas, segundo a riqueza da sua graça. Ideia que repete   em Cl 1, 14, de modo que não podemos afirmar seja um apax casualmente encontrado   em Efésios. Sem, pois, rejeitar a ideia do AT de uma salvação de inimigos   materiais, a verdadeira redenção é a salvação dos pecados mediante o sangue de   Jesus na cruz, fato confirmado por Lucas o escrevente do seu evangelho em 22,   20: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós, que   Mateus afirmará para remissão dos pecados (26, 23). GLÓRIA SEM FIM   [doxës<1391> aiöviou<166>=gloria coelesti]. Doxa é o esplendor,   magnificência e majestade divinas, das quais seremos partícipes, os salvados   pelo sangue de Jesus. Essa glória será sem fim, palavra que tem a mesma raiz que   aei [sempre] de modo que a tradução seja glória sempiterna, ou seja, definitiva,   sem fim. 
            UM CÂNTICO: Fiel a palavra: Se, pois, morremos com ele também viveremos com   ele (11). Fidelis sermo nam si conmortui sumus et convivemus. Parece que Paulo   cita um velho hino cristão que se inicia com a frase seguinte, que acompanha a   palavra. MORREMOS é o primeiro versículo. A palavra morrer com Cristo tem dois   significados; 1º) Comum a todos os cristãos como é ilustrado em Rm 6, 3-5:   todos  quantos fomos batizados em Cristo fomos batizados na sua morte, de sorte   que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte…porque se fomos plantados   juntamente com ele na semelhança de sua morte, também o seremos na da sua   ressurreição. 2º) O martírio que é provavelmente o significado com o qual Paulo   apresenta o hino, pois ele estava numa situação em que seu testemunho era vital   e que ele afirmaria mais tarde com a sua própria morte. 
            SEGUNDO VERSÍCULO: Se suportamos, também reinaremos com ele; se negamos,   também ele nos negará (12). Si sustinemus et conregnabimus si negabimus et ille   negabit nos. SUPORTAR [ypomenö  <5278>= sustinere] permanecer, ficar,   tolerar, suportar, aguentar, esperar, resistir, manter-se firme, padecer,   aguentar, sofrer com perseverança. Este último significado é o que melhor se   acomoda às circunstâncias em que Paulo escreve a sua carta. O sofrimento de uma   prisão romana era particularmente grave: sem luz, sem movimento, acorrentado às   paredes da minúscula cela, malcheirosa e fria, como dá a entender ao pedir a   capa (4, 13). O sofrimento é causa de mérito, pois o Reino é a resposta dEle,   como indicou nas bemaventuranças (Mt 5, 10-12). NEGAR   [arneomai<720>=negare] negar, abjurar, rechaçar, recusar, renegar. Também   Jesus o afirmava: Qualquer que me negar diante dos homens eu o negarei diante de   meu Pai que está nos céus (Mt 10, 33). 
            FINAL: Se não somos fiéis, ele permanece fiel: não pode negar-se a si mesmo   (13). Si sustinemus et conregnabimus si negabimus et ille negabit nos. INFIEL   [apisteö<569>=não credere] com o significado de trair a confiança, infiel,   não acreditar. Não é o mesmo negar que ser infiel. Pedro negou e os outros   apóstolos foram infiéis.  A negação está no testemunho de boca; a infidelidade,   na conduta imprópria e na covardia de quem cala ante a maldade, que é contrária   à bondade para a qual fomos escolhidos. É o pecado de todo aquele que for   contrário à máxima que diz ama o próximo e tenta fazer agradável a vida do   mesmo. A vida verdadeira –cuja consequência é a vida eterna- só se logra lutando   por fazer profunda e limpamente o bem aos outros. NEGAR-SE   [arnësasthai<720>=negare se], Deus não pode negar-se a si mesmo: Ele é   puro amor, entrega, sem ódios nem rejeições. Isso implica que Deus sempre será   fiel como vemos em (Rm 3, 3): Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade   aniquilará a fidelidade de Deus? Estas palavras nos lembram a parábola do filho   pródigo. O pai abandonado não deixa de esperar a volta do pródigo e o recebe em   triunfo, como se nada tivesse acontecido. Essa fidelidade divina é a essência de   sua natureza. Deus é sempre fiel. Deus é sempre Amor. Porém é o homem que   voluntariamente se separa de Deus. É o homem que quer controlar Deus e ter assim   o poder de frear sua justiça quando se separa da ordem estabelecida. O homem que   pensa que Deus é só Pai e, portanto não existe o castigo, esquece que o maior   castigo é o da consciência, juiz que obriga o culpado a não aceitar o amor do   pai e rejeitar a misericórdia do ofendido, como vemos em Judas, após sua   traição. Pelo contrário, nunca melhor vivemos, mais felizes, que quando a   consciência está tranquila. O Inferno existe e é escolhido voluntariamente pelos   que não querem admitir o amor como supremo dirigente de suas vidas. Seremos   julgados [nos julgaremos a nós mesmos] pelo que temos sido capazes de amar, não   pelo que nos tenham amado os outros e especialmente o Outro que é Deus, cujo   amor [e perdão] é definitivamente rejeitado. Realmente a condenação, segundo   esta norma substancial, não depende de Deus, mas de nossa conduta errada e   consciência culpável. Um exemplo: Pode ser perdoado um ladrão que se nega a   devolver o roubado? A quem ajudará a justiça divina: ao ladrão, por ser pai, ou   ao espoliado, por ser justo? Poderá amar mais o ladrão que o injustamente   privado dos seus bens? Nossa conduta não é indiferente à sua justiça; porque o   amor não pode se opor ao injustamente ofendido. Sempre a conduta humana tem   consequências que implicam a justiça pelo mal feito ao próximo. 
            EVANGELHO (Lc 17, 11-19) 
              OS DEZ LEPROSOS 
            INTRODUÇÃO: Os milagres de Jesus são sinais da presença salvadora do Reino de   Deus e parte integrante da boa nova que o Cristo anunciou com suas palavras e   confirmou com suas obras. A limpeza dos leprosos, além do fato em si, tem um   simbolismo extra: Jesus não cura unicamente os corpos, mas limpa de impurezas as   almas, fato que no caso nosso aponta o sacramento da reconciliação por   intermédio do sacerdote. Ao mesmo tempo que Jesus cumpre a lei do Levítico,   exige a fé dos doentes, que devem abandonar sua aldeia, para se dirigir a   Jerusalém. Jesus sente o agradecimento do samaritano, ao mesmo tempo que nota,   com certa amargura, a falta de reconhecimento por parte dos outros nove que eram   galileus. Jesus expressa, como homem, um sentimento que poderíamos encontrar em   Deus, ao contemplar muitas condutas humanas que vivem esquecendo os muitos e   grandes benefícios recebidos do alto. 
            DE CAMINHO: Então sucedeu ao caminhar ele para Jerusalém que também ele   passava pelo meio da Samaria e da Galileia(11). Et factum est dum iret in   Hierusalem transiebat per mediam Samariam et Galilaeam. AO CAMINHAR: É a   terceira vez que, nesta parte do seu evangelho, Lucas cita, como circunstância   temporal e geográfica, Jerusalém (9, 51; 13, 22 e esta de hoje). É o ambiente de   viagem para seu último destino que dirige os atos e as palavras do grande   Mestre, segundo a forma de relato escolhido pelo evangelista. Parece, como se   quisesse pintar a vida humana de Deus, dependendo do seu último destino, que é   um sacrifício final, não sem antes fazer o bem e se mostrar como mestre único da   verdade e da solidariedade. TAMBÉM ELE: A frase é um pouco misteriosa.   Provavelmente se refere à rota comum que os peregrinos usavam para se trasladar   do Norte até Jerusalém, no Sul. PELO MEIO DA SAMARIA E DA GALILEIA: Como alguns   autores declaram, a frase é um caso típico da inaptidão geográfica de Lucas. A   tradução da vulgata per médium Samariam et Galilaeam é a escolhida pela VA   evangélica. A não ser que o grego seja usado de forma irregular e pudéssemos   traduzir através da Galileia e da Samaria (nessa ordem) ou atravessando a   Samaria e a Galileia, e não pelo meio delas na ordem em que as encontramos no   texto grego, como se a Samaria estivesse mais afastada de Jerusalém do que a   Galileia. A geografia não é tema dominado por Lucas. O texto português moderno   traduz: passava entre a Samaria e a Galileia. Das diferentes bíblias somente   três: a latino-americana, a francesa e a inglesa  traduzem pelos confins   [frontieres [Fr] ou border [Ing]} entre, a Samaria e a Galileia. Supostamente, a   menção imprecisa entre as duas regiões só serve para justificar a presença do   personagem principal entre os leprosos, ou seja, a daquele que era samaritano,   cuja presença só poderia ser possível por estar Jesus passando entre os limites   de ambos os territórios. 
            OS DEZ LEPROSOS: E,  entrando Ele numa vila, saíram ao seu encontro dez   homens leprosos os quais plantaram-se de longe(12). Et cum ingrederetur quoddam   castellum occurrerunt ei decem viri leprosi qui steterunt a longe. A LEPRA: Não   podemos logicamente obter da escritura e dos evangelhos uma definição, nem mesmo   uma descrição, tão acurada como as atuais, da doença de pele, que tanto   discriminava os enfermos nas sociedades antigas. A doença era um castigo tanto   social como religioso. Ela é descrita nos capítulos 13 e 14 do livro do   Levítico. Seu nome hebraico   tsaraat<06883>[3014 lepra] serve para   designar afecções impuras. Este termo foi traduzido por lepra, ou seu   equivalente, nos diferentes idiomas, apesar de não ser possível afirmar, com   certeza, o seu significado preciso no texto original. Naturalmente, em virtude   da falta de meios para um diagnóstico exato, eram provavelmente chamados   leprosos, não apenas os portadores da hanseníase, mas também portadores de   outras doenças crônicas de pele, muitas das quais, com certeza, não seriam menos   contagiosas para o que hoje chamamos de leucodermia [pele branca]. Também   existia a palavra      parah <06509>que podemos traduzir por surgir uma   erupção. Outrossim, encontramos a palavra negah <05061> significando   surto, erupção ou praga (Lv 13, 12). Pois não existia uma clara ideia do que era   a lepra. A sua descrição, a impureza a ela subsequente e o rito de sua cura com   os sacrifícios correspondentes, estão descritos no Levítico nos capítulos 13 e   14. Quem distinguia entre lepra e outra dermatose mais ou menos grave, como   herpes e até a tinha, era o sacerdote. Era um exame experimental. Se se formar   na pele um dartro [tipo de herpes] ou uma mancha e, no lugar enfermo, o pelo se   tornar branco e a enfermidade se tornar mais profunda na pele, o sacerdote   declarará a doença como lepra (Lv 13, 3). Em caso de dúvida, o doente deveria   permanecer em quarentena de sete a quatorze dias, que podia ser repetido até ter   certeza da natureza da doença.  Mas se o sacerdote declarasse que a doença era   lepra, o doente era declarado impuro. Deveria, portanto, morar fora do   acampamento ou da aldeia, rasgar suas vestes, soltar seus cabelos, ou seja, sem   os cobrir e, no entanto, cobrir o bigode e gritar impuro cada vez que alguém se   aproximasse. A impureza era devida principalmente às úlceras que se formavam. O   rito de purificação, caso fosse declarado puro o sujeito, antes leproso, exigia   duas aves, madeira de cedro, púrpura carmesim  e hissopo. (Lv 14, 4). Temos   visto no domingo do pobre Lázaro, como existiam duas classes de púrpura: a   violácea, a mais cara, e a carmesim ou escarlata. O hissopo era uma planta ou   arbusto de até 60 cm de altura de folhas aromáticas. Vários pequenos galhos   juntos serviam para aspergir sangue ou água nos ritos religiosos. Atualmente   usa-se com o mesmo nome um instrumento de metal com buracos na parte oposta do   mango que serve para sugar água benta e aspergir com ela objetos e pessoas. O   rito da purificação do leproso era espetacular e parece que estava em vigor no   tempo de Jesus desde a época da construção do tabernáculo no deserto. LEPROSOS   CÉLEBRES: O primeiro foi Moisés a quem Javé mandou por a mão no peito e ao   retirá-la apareceu como coberta de neve, para depois reintroduzi-la e ficar   normal de novo (Ex 4, 6-7). Outro caso memorável foi o de Miriam, irmã de   Moisés, que, como castigo por sua murmuração, teve que se isolar por sete dias   até conseguir a cura por intercessão de seu irmão (Nm 12, 10). Leproso era Naamã   o sírio que foi curado por Eliseu (2 Rs 5) e Giezi,  tornado leproso por sua   avareza (2 Rs 5); e leproso era Simeão, hospedeiro de Jesus (Mt 26, 6). Mateus   no cap 8 e Marcos no cap 1, narram a cura de um leproso. Já o relato de hoje, em   número e circunstâncias, é próprio de Lucas. A LEPRA HOJE:  O nome científico é   Hanseníase. A doença era própria da Índia e da África. Os gregos a chamavam de   Elefantíase e o termo lepra foi introduzido por Hipócrates como doença com   lesões escamosas entre as quais podem estar a psoríase e os eczemas crônicos.   Durante a idade Média  a hanseníase prevalecia na Europa e no Oriente Médio. No   Concílio de Lião (1245) estabeleceram-se regras para lidar com a profilaxia   [medidas de prevenção] da doença: Isolar o doente da população sadia. Na França,   o isolamento era precedido de um ofício religioso semelhante ao ofício dos   mortos, após o qual o leproso era excluído da comunidade. O doente era obrigado   a usar vestimentas características que o identificavam como portador da doença e   fazer soar uma sineta ou matraca para avisar a gente sadia de sua doença. Data   também da idade Média (Séc XIII) a criação das primeiras associações religiosas,   dedicadas a prestar cuidados aos doentes de hanseníase. Essas associações foram   responsáveis pela criação de centenas de asilos para abrigar os acometidos pela   doença. Nesse século cerca de 19 mil leprosários existiam no continente. A   partir do século XVII foram desativados muitos desses asilos de modo que por   volta de 1870 a hanseníase já havia praticamente desaparecido em quase todos os   países com a exceção da Noruega onde ainda podia ser considerada endêmica   [permanente]. Mantinha-se, porém inalterada na Ásia e na África e tornou-se   gradativamente endêmica na América Latina. No Brasil foi em 1600 que se   notificaram os primeiros casos no Rio de Janeiro, onde anos mais tarde seria   criado o primeiro Lazareto. Sem tratamento eficiente e sendo uma enfermidade   contagiosa, o doente era considerado como uma cultura ambulante da doença e,   portanto, uma ameaça à sociedade. Assim como não se deixam cadáveres insepultos,   não se devem deixar leprosos desamparados. Era-lhes, pois, permitido viver em   asilos e até serem recolhidos em cadeias públicas. Pensemos na ilha de Molokai   em que só entravam os leprosos e dos quais foi apóstolo o Pe. Damião. Na década   de 40 do século XX, com a descoberta da Sulfona, mudou o tratamento, e o   isolamento passou a ser seletivo. Outros dois remédios, Clofazimina, nos anos   60, e Rifampicina,  nos anos 70, trouxeram a cura, muito embora o tratamento   demorasse 5 anos. Hoje em dia, o tratamento com PQT [poliquimioterapia] demora   apenas um dia, seis meses, ou doze meses e o diagnóstico precoce permite que   mais de 90% dos pacientes não apresentem nenhuma sequela. Atualmente, na   primeira dose de tratamento, 99% dos bacilos são eliminados e não há mais chance   de contaminação. O microbacilo de Hansen ataca normalmente a pele, os olhos e os   nervos. A doença é também conhecida como moreia, mal-de-Lázaro ou mal-do-sangue.   Não é uma doença hereditária. As vias de transmissão são pelas vias aéreas.   Porém a infecção dificilmente acontece depois de um simples encontro social. O   contato deve ser íntimo e frequente. A maioria das pessoas é resistente ao   bacilo e de 7 doentes apenas um oferece risco de contaminação. De 8 pessoas em   contato com o paciente, apenas 2 contraem a doença e desses 2, um torna-se   infetante. Ela se apresenta sob duas formas. O tratamento do tipo paucibalar   [poucos bacilos] é mais rápido: basta uma dose mensal [um coquetel], além da   ingestão de um comprimido diário durante 6 meses. Do tipo multibacilar [muitos   bacilos] o tempo para o tratamento é mais longo: são 12 doses uma por mês e a   ingestão de dois remédios diários durante 2 anos. A maioria da população adulta   é resistente à hanseníase, mas as crianças são mais susceptíveis, geralmente   adquirindo a doença quando há um paciente contaminante na família. O período de   incubação varia de 2 a 7 anos, e entre os fatores predisponentes estão o baixo   nível econômico, a desnutrição e a superpopulação doméstica. Por isso ainda tem   grande incidência nos países subdesenvolvidos. A hanseníase tem 4 formas de se   apresentar: Indeterminada, como forma inicial que evolui espontaneamente para a   cura na maioria dos casos e para outras formas da doença em 25% dos mesmos.   Geralmente encontra-se apenas uma lesão de cor mais clara que a pele normal, com   diminuição da sensibilidade. Mais comum em crianças. Tuberculoide: Forma mais   benigna e localizada, ocorre em pessoas com alta resistência ao bacilo. As   lesões são poucas [ou única] de limites bem definidos e um pouco elevados e com   ausência de sensibilidade [dormência]. Ocorrem alterações nos nervos próximos à   lesão, podendo causar dor, fraqueza e atrofia muscular. Dimorfa: forma   intermediária que é resultado de uma imunidade também intermediária. O número de   lesões é maior, formando manchas que podem atingir grandes áreas da pele,   envolvendo parte da pele sadia. O acometimento dos nervos é mais extenso.   Lepromatose: Nestes casos, a imunidade é nula e o bacilo se multiplica muito,   levando a um quadro mais grave, com anestesia dos pés e mãos que favorecem os   traumatismos e feridas que podem causar deformidades, atrofia muscular, inchaço   das pernas e surgimento de lesões elevadas na pele [nódulos]. Órgãos internos   também são acometidos pela doença. A IMPUREZA: A lepra não era tão temida como   doença, mas por ser causa de marginalidade total na sociedade antiga. Na   realidade, a impureza que a acompanhava por causa das chagas purulentas era   absoluta. Segundo o modo de pensar do AT, o sangue derramado era uma das fontes   de impureza. O sangue não podia ser derramado porque era considerado como base   da vida, que pertencia diretamente a Deus; daí que o contato com o sangue tinha   um sentido religioso como se fosse um  relacionamento íntimo com a divindade,   dona da vida. A perda do sangue era considerada como perda de vitalidade, a qual   deve ser restabelecida através de certos ritos alcançando sua integridade para   se unir com o Deus, fonte da vida. As leis da impureza estão no Levítico entre   os capítulos 11 a 15. Existem animais impuros no capítulo 11; há uma impureza de   nascimento no capítulo 12; fala-se da impureza da lepra nos capítulos 13 e 14 e   a menstruação merece um capítulo à parte como é o 15. A impureza de um leproso   durava toda a vida e o leproso deveria ser mandado fora do acampamento pois no   meio do povo só habitava o Senhor (Lv 15, 31). A razão para essa lei era a   santidade divina que podia ser maculada por certas ações entre as quais as   principais eram a idolatria e o derramamento de sangue, especialmente de   inocentes como eram as crianças oferecidas aos deuses ou Baals (Sl 106, 38). A   impureza legal, especialmente se ligada com o exercício sacerdotal, tomou conta   da impureza interior ou pecado, de modo que este último não fosse mais   considerado na sua intencionalidade interna, sendo que toda a lei e seu   cumprimento estavam em evitar a impureza externa da qual os fariseus fugiam como   essencialmente contagiante. O pecado estava também unido à miséria física e   econômica (Jo 9, 2). Não somente o leproso era considerado impuro, de modo que   deveria ser afastado e morar à parte; mas também os vestidos cobertos de mofo   eram considerados como tendo lepra e deveriam ser considerados impuros. Também o   mofo ou bolor das casas as tornava impuras e sujeitas à inspeção do sacerdote   como eram as pessoas (Lv 14, 33 ss). 
            O GRITO: Então eles elevaram a voz dizendo: Jesus, senhor, tende piedade de   nós (13). Et levaverunt vocem dicentes Iesu praeceptor miserere nostri. Segundo   a lei, o leproso não podia ter contato com as pessoas sãs, e devia chamar a   atenção das mesmas gritando: impuro, impuro. O grito indica que estavam longe e   deviam elevar a voz para serem escutados. SENHOR: A palavra é   epistatës   [<1988>=praeceptor], que significa presidente, ou seja, superior, amo,   dono, chefe, comandante, e que temos traduzido por senhor. O inglês tem máster   [dono, amo] que é a tradução mais apropriada da palavra grega. Na linguagem   atual seria Doutor, vocábulo com o qual é reconhecida a superioridade do   interlocutor. Eles sabem que Jesus tem o poder de cura. Por isso eles pedem que   olhe para eles com compaixão. 
            A RESPOSTA DE JESUS: E tendo visto, disse-lhes: marchando, apresentai-vos aos   sacerdotes, e sucedeu ao irem eles, foram curados. A CURA: Não foi imediata como   quando disse ao leproso: quero, fica limpo (Mt 8,3), mas respeitando as regras   da lei, mandou que fossem aos sacerdotes para que estes os declarassem curados.   A reação dos leprosos foi diferente da de Naamã, que resistiu em obedecer; os   nossos doentes seguiram a ordem de Jesus e, no caminho, é que eles se sentiram   curados. O SACERDOTE: Como temos visto a impureza, que tem como razão o   derramamento do sangue, liga a lepra ao sentido religioso e por isso era o   sacerdote quem deveria declarar sua existência, da qual dependia a vida social   do indivíduo. Por isso a reintegração do leproso deveria ser feita com um   sacrifício semelhante ao sacrifício pelo pecado (Lv 14, 1-31. 49-53), pois era   um atentado à virtude vivificante do Deus de Israel. O rito de purificação   abrangia detalhes que hoje parecem ridículos, mas que, sem dúvida, tinham seu   significado nos costumes da época. Um detalhe importante é que assim como na   purificação do dia do Yom Kippur um dos dois bodes do sacrifício era deixado no   deserto para o demônio Azazel que com esse bode recebia as impurezas do povo,   também havia dois pássaros na purificação do leproso e um deles era solto após   receber a infusão do sangue do pássaro sacrificado. Assim ele levaria a impureza   longe do povo e do doente. Uma questão à parte é por que Jesus, neste caso, não   cura de imediato, mas manda respeitar a lei que nos outros casos não impõe.   Talvez seja pelo número dos enfermos que se curados de imediato, seria um fato   tão notável que poderia meter em uma enrascada o messiado de Jesus. Assim, longe   das turbas e de toda comoção social, os leprosos são curados enquanto se   dirigiam a Jerusalém. 
            O AGRADECIDO: Um, pois, dentre eles, tendo visto que fora curado, voltou com   grande voz louvando a(o) Deus(15). Unus autem ex illis ut vidit quia mundatus   est regressus est cum magna voce magnificans Deum. Um samaritano [único ou havia   mais da mesma etnia?] foi  o único que voltou dando graças a Deus, como veremos   no parágrafo seguinte. O nome de Deus era El, muitas vezes usado no plural   Elohim, e que receberá segundo situações determinadas diversos atributos como   El-Elyon= Deus Altíssimo (Gn 14, 22). El-Roi=Deus da visão (Gn 16, 13), El   Shadai= Deus da montanha (Gn 17, 1), El-Olam= Deus eterno (Gn 31, 33), El-   Betel=Deus de Betel (Gn 35, 7); mas, sem dúvida, o NOME [Hashem ou Hashem   Yitbarah, nome oculto] era o de JAVÉ [YHWH] (Êx 3, 13) que na língua hebraica é   traduzido por o Eterno e que alguns modernos traduzem por o que existe, o   vivente e daí o verdadeiro, o único. Os setenta traduziram por Ego eimi ho on=   eu sou o é [o que existe]. O apocalipse dirá: Aquele que é, aquele que era   Aquele que vem, o Todo-poderoso (Ap 1,8). Este Deus era a quem o samaritano dava   glória com grandes vozes. Sabia muito bem que um homem não podia realizar   semelhante cura e que, se ela se fazia através da ordem de um homem, era porque   o tal falava em nome de Deus, era sua voz, seu profeta. 
            O SAMARITANO: E caiu sobre o rosto aos pés dEle dando-lhe  graças. E o tal   era samaritano(16). Et cecidit in faciem ante pedes eius gratias agens et hic   erat Samaritanus. Ao chegar a Jesus, prostrou-se com o rosto em terra aos pés de   Jesus. É a proskynesis, forma de submissão ao rei oriental. O Grande, Rei dos   persas, que Alexandre o Grande quis exigir depois de seu regresso da Índia em   324 aC para ser reconhecido como deus. Jesus é, pois homenageado como Rei, no   mínimo (Mt 2,2) e talvez como representante de Deus (Jo 4, 20) e intermediário   da ação divina. Deu-lhe graças. É a única passagem dos evangelhos em que a   ação-de-graças (eucharisteuo) é dada a Jesus e não a Deus. O estrangeiro, como   Jesus o chama para evitar o sobrenome de samaritano que era um insulto porque   era sinônimo de herege, louva a Deus por sua cura e agradece a Jesus, causa   próxima da mesma, venerando-o como um profeta do Altíssimo, e representante do   poder deste último na terra. 
            A QUEIXA: Tendo respondido Jesus disse: não foram limpos os dez? Os nove,   pois, onde (estão)?(17). Não foram encontrados (sic) os que regressaram para dar   glória a(o ) Deus senão este estrangeiro?(18). Respondens autem Iesus dixit   nonne decem mundati sunt et novem ubi sunt. Non est inventus qui rediret et   daret gloriam Deo nisi hic alienígena. A queixa de Jesus é causada pela   repercussão de unicamente contemplar, como curado, um dos dez. Implicitamente   Ele afirma que também os ausentes foram limpos da lepra. E logo claramente   afirma que dar glória a Deus é agradecer sua pessoa. Esta parte é a nossa função   principal como cristãos ou discípulos de Jesus. Adorá-lo no verdadeiro sentido   de ver nEle a divindade, é a maior glória que uma criatura humana pode dar ao   Deus único. O versículo 18 é um tanto incorreto em grego e temos deixado assim   mesmo a tradução literal. Ao Deus: sempre que se referem a YHVH os evangelistas   usam o grego Theos <2316>  com artigo determinado, para distingui-lo dos   outros deuses pagãos. 
            A FÉ: E disse-lhe: Levanta, vai embora: tua fé te salvou (19). Et ait illi   surge vade quia fides tua te salvum fecit. O grego muito propriamente usa o   levanta em aoristo e o vai em presente para indicar uma ação passada pontual e a   outra atual contínua. A fé: É importante observar como todos os evangelistas   apresentam a fé como um requisito antes da cura. Mutatis mutandis podemos dizer   que é também o requisito para a salvação da alma. O maior e talvez único   obséquio que o homem pode oferecer ao Deus que deseja salvá-lo é a fé, a   entrega, com plena confiança, nas mãos que o podem ajudar como confia um filho   na bondade do pai. Nada temos a oferecer a um Deus absolutamente pleno que nada   necessita; mas deixamos que Ele atue livremente em nós: é aí onde estão   coincidindo as duas liberdades: a do homem que confia plenamente e se entrega, e   a de Deus que atua com total permissão. A obediência dos leprosos à palavra de   Jesus consegue a cura; mas aparentemente, sua falta de agradecimento os desvia   de quem foi seu salvador. Em Jesus, o samaritano, infiel e herege segundo os   judeus, encontrou o Deus verdadeiro e o seu representante na terra. Daí a   proskynesis como fez o cego a quem Jesus pediu fé em sua pessoa: Crês no Filho   do Homem? (Jo 9, 38). Por isso dirá Jesus ao samaritano: Tua fé te salvou (19).   Há, pois um contraste entre cura e salvação que o mundo atual não percebe,   porque os bens imediatos, embora não sejam tudo, são os únicos que interessam e   preocupam a maioria.  E uma vez obtidos estes, não nos preocupamos com a   salvação, que é a posse de Jesus como fim de nossas vidas. 
            PISTAS: 
            1) Os marginalizados se aproximam de Jesus. Apesar de sua total   culpabilidade perante Deus e os homens, eles têm esperança. Sua cura dependia   daquele Mestre [epistates= chefe, ou líder], de quem tinham ouvido falar como   grande médico e curandeiro. O seu grito pode ser também o nosso, quando a   esperança só tem como base a bondade divina: eleeson ymas, compadece-te de nós.   Como pensamos que Deus vê nossas vidas? Limpos e puros ou tão terrivelmente   marcados pelo mal que parecemos monstruosos leprosos cheios de imundície? Somos   diante de Deus malditos e assim se tornou seu Filho, não unicamente maldito, mas   maldição para nos salvar (Gl 3, 13). 
            2) O ponto de partida para a ação divina é a súplica. Jesus não os busca. São   eles que o buscam, que sabem que Jesus tem poder para curar. O resto é um   mandato: conformem-se com a lei se é que querem viver em sociedade de novo.   Naamã foi mandado a se lavar no Jordão. Os dez leprosos foram enviados para o   sacerdote. Nada há de anormal ou extraordinário em ambas as ocasiões. É a   obediência que atrai a ação de Deus e transforma o homem em seu filho amado no   qual encontra satisfação (Mt , 17). 
            3) O agradecimento é essencial nas relações com Deus. Todos nós somos   semelhantes aos nove leprosos curados. Incapazes de uma súplica que não seja uma   petição de ajuda. Uma vez obtida a mesma, esquecemos o louvor, o elogio, a   ação-de-graças. Nossa religiosidade tem muito de magia, de oportunismo, de   interesse, de ingratidão. Conformamo-nos com o nosso bem-estar e esquecemos o   muito que temos recebido como dom e como presente. O pouco mal que nos atinge   não nos permite enxergar o muito de bem que nos rodeia. Por isso, a queixa é   mais abundante do que o louvor. 
            4) Por esse egoísmo próprio de quem só olha seu próprio bem, esquecemos que   os bens são fruto de uma dádiva divina. Nos servimos de Deus, não servimos a   Deus. E a melhor maneira de servi-lo é agradecê-lo e obedecê-lo. Esquecemos que   os bens, agora possuídos, são uma simples amostra do que nos espera se a   gratidão tomar conta de nossas vidas. O canto às misericórdias de Deus nesta   vida é só o começo do canto sem fim que será o modus vivendi na eternidade.   Desde já devemos aprender a recitá-lo, caso queiramos vivê-lo como experiência   existencial. 
            5) Não temos lepra que nos separa socialmente, mas a Aids, etnia, e pobreza,   marginalizam muita gente neste mundo, que se gloria de sua globalização. Quem   não tem ouvido falar dos ciganos, dos negros, dos indígenas? E eles não são   contagiosos, o contágio, pelo contrário, é a ideia de que existem classes e   diferenças. 
             
            EXCURSUS:  NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA 
            - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa  nova. 
            -  Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor  misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus  na vida humana.  
              -  Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que  não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua  condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no  dia de natal: é o Deus da eudokias,  dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama. 
            Interpretação  errada do evangelho: 
            - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma  predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. 
              - Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará  destas pedras filhos de Abraão). 
            Consequências: 
            -  O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus  [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como  filho que é amado. 
              - O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou  jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio. 
              - O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua  pelo amor. 
              - O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele  é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele. 
              -  Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do  Pai  e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro  definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo  infinito por cima de qualquer fragilidade humana. 
             
            
                  
                    
                    
                     
             
            
              06.10.2019 
                27º DOMINGO DO TEMPO COMUM 
                — ANO C 
                ( VERDE, GLÓRIA, CREIO – III SEMANA DO SALTÉRIO ) 
                __ "O justo vive da fé" __ 
              OUTUBRO - MÊS DAS MISSÕES 
              
             
            Ambientação:  
            Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! 
            INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: O Senhor aqui nos reúne. É ele que nos chama. Mais uma vez, somos convidados a tomar parte na Ceia do Senhor. Buscando nosso aperfeiçoamento, somos chamados a encontrar, no Pão da vida eterna, força e alimento para nossa vida de fé. Na escuta da Palavra de Deus, confiamos a Ele nossas aflições e dificuldades, na certeza de sua presença junto de nós. Estamos iniciando o mês de outubro, mês missionário e dedicado a Nossa Senhora e à recitação do Rosário. O testemunho de fé de Maria, junto à cruz, nos mostra o real valor da fé para aquele que crê. Sua esperança nos mostra o verdadeiro significado da espera e da confiança daquele que nos chama à vida em plenitude. 
            INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, nesta Ceia participamos do Mistério de Cristo e assumimos a sua páscoa como nossa páscoa. Iniciando o mês Missionário Extraordinário, como discípulos e servidores, animados pela vitória do Senhor sobre o pecado e a morte, queremos que esta Eucaristia nos devolva para nossas casas e para o mundo, com uma renovada fé e um grande desejo de anunciar tudo aquilo que aqui vamos experimentar. 
            INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: O evangelho de hoje nos oferece um ensinamento sobre a fé, provocado por uma súplica dos discípulos. Eles compreenderam bem que só se tivessem fé, se estivessem convencidos de que vale a pena deixar tudo para seguir o Mestre, é que poderão guardar distância das riquezas e se decidir pelo Reino. Jesus aprova essa convicção e declara implicitamente como tal decisão só pode ser fruto da fé. Temos também um ensinamento sobre a humildade, pois o cristão não deve jamais orgulhar-se de ter cumprido o seu dever. 
            Sintamos em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo e entoemos alegres cânticos ao Senhor! 
             
            
               (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) 
             
             
            PRIMEIRA LEITURA (Hab 1,2-3; 2,2-4):   - "Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé" 
            SALMO RESPONSORIAL 95(94):    - "Não fecheis o coração, ouvi vosso Deus!" 
            SEGUNDA LEITURA (2Tm 1,6-8.13-14):    - "Exorto-te a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste" 
            EVANGELHO (Lc 17,5-10):   - "Aumenta a nossa fé!" 
             
            
             
            Homilia do Diácono José da Cruz — 27º Domingo do Tempo Comum — ANO C 
            O que é a Fé? 
            Eis um evangelho onde,  se o leitor não prestar muita atenção, irá pensar que são dois assuntos  diferentes que Jesus está tratando. Os apóstolos lhe fazem um pedido que nós  todos sempre fazemos: Para que Deus aumente a nossa Fé! Jesus acolhe o pedido,  mas vai lhes dizer que “Se a Fé que eles tinham fosse tão pequenina como o de  um grão de mostarda, conseguiriam até arrancar uma amoreira e fazê-la sozinha  plantar-se ao mar”, ou seja, com um pouco se faz muito além do que se pode. 
            Arrancar qualquer  árvore adulta, usando as próprias mãos, já requer um grande esforço, uma  amoreira mais ainda, pois sua raiz é grande e muito entrelaçada, exatamente  como suas ramagens se apresentam. Arrancá-la dando uma simples ordem verbal,  sem por as mãos, e ainda fazê-la plantar-se ao mar, ora, a amoreira teria que  afundar, atingir o solo do fundo do mar e penetrar na terra. Mesmo estando em  um contexto longe da narrativa do evangelho, do Jesus Histórico e seus  seguidores, a gente conclui que essa seria uma ação impossível humanamente  falando. 
            Se a reflexão parasse  por aqui a conclusão seria essa: Os apóstolos não tinham nenhuma Fé, pois se  tivessem, poderiam fazer grandes proezas, como aquela que Jesus lhes propôs  como exemplo. Se a Fé fosse isso, seria tão bom para todos nós. Faríamos  grandes proezas e não passaríamos mais nenhuma necessidade. Essa é a Fé Mágica  que muitos querem ter pois sempre diante de algo difícil de se conseguir, não  falta quem diga “Você precisa ter mais Fé” 
            Mas a reflexão tem  sequência quando Jesus lhes fala da relação entre servo e seu Senhor. Mudou o  assunto? Não. Jesus agora irá aprofundar o ensinamento. Os apóstolos, embora  seguidores de Jesus, ainda não tinham conseguido mudar a mentalidade sobre o  Messias e no fundo pensavam como a Comunidade Judaica, principalmente os  Fariseus e Doutores da Lei, para os quais, Deus estava á sua inteira  disposição, desde que cumprissem toda Lei de Moisés, atendendo rigorosamente a  todas as prescrições e determinações. Com uma conduta e procedimento de um  Justo, Deus era obrigado a atendê-los concedendo todas as bênçãos e promessas  feitas a Abraão e sua descendência, pois tornavam-se merecedores. 
            Entre nós, quando  alguém recebe algum benefício, ou acontece algo de bom que vai lhe trazer  vantagens, principalmente financeiras e materiais, os mais próximos o saúdam e  o cumprimentam, dizendo “Olha, você merece!”. Essa mentalidade Farisaica  perpassa o tempo e o espaço, e ainda contamina nosso coração diante de Deus,  pois, quando peco mereço o castigo, quando me confesso e procuro viver bem, na  Graça de Deus, então sou merecedor das bênçãos e do Céu, que um dia Deus me  dará, porque sou realmente muito bom, como Cristão. 
            Fé consistente, não é  aquela que faz coisas prodigiosas, sem explicação, mas sim aquela que consegue  transformar a nossa mentalidade religiosa, e consequentemente a nossa relação  com Deus! Algo tão difícil como arrancar uma amoreira com raiz e tudo e fazê-la  plantar ao mar... Os Dons maravilhosos que o Senhor nos concede, são todos  imerecidos. 
            Um coração contaminado pelo orgulho, vaidade e prepotência, nem  sempre aceita o que é de graça, porque isso seria reconhecer a superioridade de  quem nos concede, por isso os pobres e pequenos sempre foram os preferidos de  Deus. 
            De igual forma os que se julgam pecadores e estão afastados da  comunidade, em geral estão sempre abertos para essa experiência impar com a  gratuidade do grandioso Amor Divino, que na sua Graça nos transforma por  inteiro, arrancando de nosso coração as raízes entrelaçadas de pensamentos  egoístas, que nos impedem de nos abrir á Deus. 
            José da Cruz é Diácono da  
              Paróquia Nossa
              Senhora Consolata – Votorantim – SP 
              E-mail  jotacruz3051@gmail.com 
             
            Homilia do Padre Françoá Costa — 27º Domingo do Tempo Comum — ANO C 
            Tesouro da fé 
            Há poucas palavras de apenas duas letras que contenham tanta densidade como essa: Fé. Os apóstolos, ao compreender algo dessa realidade, pediram ao Senhor: “aumenta-nos a fé!” (Lc 17,5). O Catecismo da Igreja Católica diz que a fé é uma resposta a Deus (cfr. Cat. 26). Trata-se de uma resposta afirmativa: dizemos “sim” ao seu plano de salvação e começamos a viver de fé (cfr. Rm 1,17). Toda a Igreja vive de fé e o Catecismo o expressa na sua estrutura: na primeira parte trata a fé professada: o Credo; na segunda, a fé celebrada: a liturgia; na terceira, a fé vivida: a moral católica; a quarta e última, a fé interiorizada na oração cristã, cujo resumo se encontra no Pai-nosso. 
            Pelo menos, desde S. Agostinho, é comum falar de três aspectos da fé. O primeiro deles é o subjetivo (credere in Deum), a entrega pessoal a Deus que cada um faz ao acreditar nele e nas suas promessas. Não se trata de ter fé como se tem um carro ou uma casa. Não! A fé impregna toda a nossa existência e, a partir do encontro com Deus, nós, fiéis de Cristo, não podemos explicar a nós mesmos sem a fé. Crer em Deus marca um antes e um depois na nossa vida: as nossas relações familiares, laborais, sociais, econômicas, políticas, etc., recebem um novo sentido, uma nova visão; simplesmente, vemos à maneira de Deus. Nós, crentes em Deus, não podemos permitir uma espécie de divórcio entre a fé e a vida, entre as convicções religiosas e as científicas, entre a maneira de atuar na presença de Deus e a de atuar, por exemplo, na política. Nós, os filhos de Deus, vivemos a unidade de vida. Cremos em Deus e lutamos pelo bem da humanidade e de cada pessoa que temos ao nosso lado, conscientes de que podemos e devemos oferecer aos nossos amigos o nosso tesouro, o que mais vale: a fé em Deus, a amizade com Cristo, o sentido para a vida e… para a morte. 
            O segundo aspecto da fé é o objetivo (Credere Deum). Qual é o objeto da nossa fé? “Corramos com perseverança ao combate proposto, com o olhar fixo no autor e consumador de nossa fé, Jesus” (Hb 12,1). Como é importante manter o olhar fixo naquele que é fonte e meta, o único Salvador e Senhor do gênero humano: Jesus Cristo! Cremos em Deus, mas esse único Deus é três Pessoas: Pai e Filho e Espírito Santo. Cremos que Deus fez-se homem para a nossa salvação: o Filho único do Pai eterno fez-se carne, pela ação do Espírito Santo, nas entranhas puríssimas da Virgem Maria. A nova criação é a humanidade de Jesus e todos os que querem fazer parte dessa nova realidade têm que entrar em Cristo. Não podemos sequer ofuscar as verdades da nossa fé. São Paulo era tão consciente disso que deixou escrito que “ainda que alguém – nós ou um anjo baixado do céu – vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema” (Gl 1,8). 
            Além do mais, ainda que sejamos compreensivos com aqueles que nunca creram, que são ateus, não podemos deixar de sentir um grande pesar por essas pessoas e pedir para elas o dom da fé. Em 1942 fundou-se em Inglaterra o Clube Socrático da Universidade de Oxford. Lewis, famoso literata, era o presidente do Clube. Em determinado momento um conferencista relativista terminava a sua intervenção afirmando: “O mundo não existe, Inglaterra não existe, Oxford não existe e estou seguro de que eu não existo!” Lewis, que era um mestre em respostas rápidas, disse-lhe: “E como vou dirigir-me a um homem que não está aqui?” O absurdo é ridículo! De fato, a Sagrada Escritura chega a afirmar que quem não acredita em Deus é insensato, isto é, falta-lhe o bom senso (cfr. Sl 13,1). 
            O terceiro aspecto é o motivo pelo qual cremos: a autoridade de Deus que se revela (Credere Deo). Não acreditamos porque estudamos muito ou temos muitos argumentos racionais, nem mesmo porque nos sentimos bem, nem muito menos porque a família sempre foi católica. Esses motivos são insuficientes. Cremos por Jesus Cristo nosso Senhor! O Amém da nossa fé está fundado em Deus que não se engana, nem pode enganar-se. A certeza da fé é mais segura que qualquer certeza científica. É interessante como algumas verdades científicas, certas noutros tempos, foram já totalmente descartadas. A ciência progride continuamente, Jesus Cristo, ao contrário, “é sempre o mesmo: ontem, hoje e por toda a eternidade” (Hb 13,8). É verdade, pode crescer a nossa compreensão do mistério de Cristo, mas ele é sempre o mesmo. 
            Os apóstolos realmente souberam apreciar o grande dom da fé e por isso não somente pedem-no, mas suplicam um aumento desse dom. Fé! Fé! Fé! Peçamos insistentemente ao Senhor que aumente a nossa fé e não descuidemos esse tesouro, por exemplo, lendo coisas perigosas, cheias de falácias; não nos deixemos levar da malsã curiosidade em escutar teorias de supostos teólogos que – em lugar de servir à fé e explicá-la – minam os seus fundamentos e arrancam as raízes da salvação do coração das pessoas. Atentar contra a fé dos outros, máxime quando se trata de pessoas simples, é uma impiedade tão grande que Jesus advertiu utilizando uma expressão que soa dura aos nossos ouvidos: “se alguém fizer cair em pecado um desses pequenos que crêem em mim, melhor seria que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar” (Mt 18,6). 
            Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa 
             
            Comentário Exegético — 27º Domingo do Tempo Comum — ANO C 
              (Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios) 
            EPÍSTOLA (2 Tm 1, 6-8. 13-14) 
            INTRODUÇÃO: Paulo está preso em Roma pela segunda vez, cerca do ano 67. Encontra-se só e sem certas prendas de vestir e de pergaminhos, que pede a Timóteo e entre suas recordações fala de Trófimo, um fiel cristão de Éfeso que era seu amigo e que deixou doente em Mileto, perto de Éfeso. Paulo pede a Timóteo que venha antes do inverno, pois nessas circunstâncias a navegação era extremamente perigosa. Na carta exorta Timóteo a perseverar na verdadeira doutrina e a se afastar dos que ele chama de falsos doutores. No trecho de hoje, diante do fato de Paulo viver sob o peso da justiça, muitos pensariam que alguma coisa errada teria feito e desanimariam. Paulo exorta Timóteo a não desesperar, mas pelo contrário a dar testemunho da fé recebida e da atuação de Paulo como testemunha da mesma, pois o trabalho de evangelizar é difícil e a situação de Paulo assim o confirma. Timóteo deve conservar as palavras de Paulo e seu exemplo como paradigma de um verdadeiro discípulo de Cristo, que recebeu a missão pela imposição das mãos. 
O CARISMA: Por esta razão lembro-te a reavivar o carisma de Deus que em ti está por meio da imposição das minhas mãos (6). Propter quam causam admoneo te ut resuscites gratiam Dei quae est in te per inpositionem manuum mearum. LEMBRO-TE: [anamimniskö<363>=admoneo] recordar e também avisar, alertar. Ambas as traduções parecem válidas. É um aviso a Timóteo sobre as falsas doutrinas e falsos mestres, que logicamente estavam contrários aos ensinamentos de Paulo a respeito da eleição dos gentios. Era seu evangelho particular, que até o fim de sua vida, muitos se opunham contemplando seus ancestrais judeus como únicos, com méritos, a entrarem no evangelho de Cristo. REAVIVAR [anazöpyrein<329>=resuscitare] palavra composta de ana [no meio] zöon [vivo] e pyr [fogo] cujo significado é reacender, e em se tratando da mente, é melhor falar de reavivar. CARISMA [charisma<5486>=gratia] dom divino gratuito, que confere poder sobrenatural pela infusão do Espírito que dirige e completa as faculdades humanas. O carisma é devido a IMPOSIÇÃO DAS MÃOS de Paulo que assim o nomeia como seu sucessor na igreja de Éfeso. Timóteo é assim o presbítero, ou melhor, o bispo [epíscopos=supervisor] da igreja de Éfeso. Aqui encontramos a primitiva fórmula de consagração de um presbítero ou bispo de uma Igreja particular. A eleição foi feita por Paulo, como escolhido e  enviado de modo profético pelo Espírito Santo. Não é uma fórmula democrática de eleição e menos de transmissão de poder que unicamente provém de quem anteriormente tinha o carisma ou dom divino de confirmar as igrejas. 
            NOVO ESPÍRITO: Pois não nos deu (o) Deus um espírito de timidez mas de poder e de amor e de moderação (7). Non enim dedit nobis Deus spiritum timoris sed virtutis et dilectionis et sobrietatis. TIMIDEZ [deilia<1167>=timor] é o mesmo que covardia, com o qual Paulo opõe a parresia <3954> ou intrepidez, destemor e coragem com que o evangelho foi anunciado após o dia de Pentecostes (At 4, 31) e que foi a nota de ministério paulino (Ef 6, 19). PODER [dynamis<1411>=virtus] força proveniente do Espírito Santo, que muitas vezes se traduzia em milagres [semeia] e profecia e que tinha o poder da Verdade, anunciada como testemunho. AMOR [agapë <26>=dilectio] é o amor proveniente de Deus que impregna toda alma por ele santificada. Traduzido muitas vezes por charitas, que Paulo diz ser a realização, cumprimento ou perfeição da lei (Rm 13, 10). MODERAÇÃO [söfronismos<4995>=sobrietas] moderação, disciplina, controle. A palavra é apax no NT, mas indica uma mente e conduta suave, calma que representa a humildade e mansidão de Cristo (Mt 1, 9). 
            O TESTEMUNHO: Portanto não te envergonhes do testemunho do nosso Senhor nem de mim, o acorrentado (por causa) dEle; mas coparticipa nos sofrimentos no evangelho segundo (o) poder de Deus (8). Noli itaque erubescere testimonium Domini nostri neque me vinctum eius sed conlabora evangelio secundum virtutem Dei. TESTEMUNHO [martyrion<3142>=testimonium], ou seja, o atestado e declaração feitos pelo discípulo sobre o Senhor [Jesus], de como ele morreu na cruz e ressuscitou, segundo as Escrituras e que existem testemunhas de tudo isso (1Cor 15, 3-5). DE MIM. Ao estar acorrentado como um vil ladrão e tendo a justiça romana fama de ser rigorosa, mas correta, muitos poderiam pensar na culpabilidade de Paulo e, portanto ser um trapaceiro que propalava uma fraude monumental. Mas Timóteo, discípulo de longos anos de Paulo, podia dar um atestado exato de quem era Paulo e de que doutrina era ministro e evangelizador. Unicamente a pregação de Cristo era a causa de sua prisão. Fazendo isso, Timóteo entrava a ser participante da difusão do evangelho junto com Paulo, tomando sobre si os sofrimentos e penalidades próprias de um arauto do evangelho. 
            FIDELIDADE: Segura o padrão das palavras sadias que de mim escutaste em fé e amor,  em Cristo Jesus (13). Formam habe sanorum verborum quae a me audisti in fide et dilectione in Christo Iesu. PADRÃO [ypotypösis<5296>=forma] que em grego é desenho, esboço, planilha, plano, e até exemplo, padrão, modelo, pauta e forma. SADIAS [ygiainontos<5198>=sanus] particípio do verbo ygiainö cujo significado é estar em boa saúde, estar sano, que metaforicamente significará sem erro ou verdadeiras. Paulo está ciente de que o que ele plantou era a verdade sem mistura de erro ou mistificação. Essas palavras eram as que Timóteo escutou da boca de Paulo como discípulo, cuja fé no Mestre era absoluta e a que professava em Cristo, cujo amor era nEle o guia de salvação. 
            O DEPÓSITO: O bom depósito guarda por meio do Espírito Santo que em nós habita (14). bonum depositum custodi per Spiritum Sanctum qui habitat in nobis. DEPÓSITO [parakatathëkë<3872>=depositum] é tanto um depósito material, como uma confiança, um legado espiritual, hoje diríamos o credo. Com essa recomendação Paulo afirma duas coisas: 1ª) que a fé é um  depósito de verdades a serem mantidas; 2ª) que esse depósito deve ser transmitido na integridade, ou seja, Paulo salienta o valor da tradição, exatamente como é mantida na Igreja Católica. E finalmente, uma última afirmação preciosa: o Espírito Santo habita em nós e, como Mestre interior, Ele nos ensina e nos ajuda na guarda do depósito da fé. 
            EVANGELHO-(Lc 17, 5-10) - FÉ E SERVIÇO 
INTRODUÇÃO: Aparentemente os dois ensinamentos de hoje nada têm a ver com o eixo central desta parte que é a subida à Jerusalém. Eles são uma resposta de Jesus ante a petição dos discípulos sobre a fé e um ensinamento não pedido sobre o serviço como nota distintiva do discipulado. 
A PETIÇÃO: E disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta nossa fé (5). Et dixerunt apostoli Domino adauge nobis fidem. Após a parábola, Lázaro e o rico, Lucas inicia um parêntesis em que entram alguns aspectos de doutrina como norma para os  discípulos: O escândalo, a correção fraterna, a fé, o serviço. Hoje vamos tratar das duas últimas. Apóstolos são os doze e, portanto é uma lição particular dada aos íntimos que seguem Jesus. Deles parte a pergunta. Não sabemos que tipo de fé pedem, pois os intérpretes distinguem entre fé teológica e fé carismática. A primeira era necessária para a entrada no Reino e dirigia-se principalmente à pessoa de Jesus. É a fé que Jesus pede que Pedro mantenha sem desfalecer (Lc 22, 32). É a fé que salva o pecador ante a figura de Jesus como libertador do pecado por meio de sua morte vicária. Por isso ele pode assegurar que a encontra na pecadora: tua fé te salvou; vai em paz (7, 50). Podemos também afirmar que é a fé confidencial como filhos na providência do Pai (Lc 12, 28). E é precisamente aqui que Jesus depara que a fé dos discípulos é fraca. Diante das preocupações da vida pela comida e pelos vestidos, dirá Jesus que seus seguidores são homens de pouca fé (Lc 12, 28).  A segunda está unida a atos de cura.  A fé que Jesus exigia para curar, como em Lucas 8, 48: Jesus disse à mulher hemorroísa: Minha filha, tua fé te salvou (Mc 5, 34). Por que os discípulos pedem que aumente a fé dos mesmos? Vejamos os momentos em que esta fé é deficiente. No meio da tempestade que Jesus acalma teve que recriminar a sua pouca fé: Onde está a vossa fé? (Lc 8, 25). Pedro será a figura emblemática que duvida num momento de perigo e a quem Jesus terá que segurar, ao mesmo tempo em que o recrimina: Homem de pouca fé, por que duvidaste? (Mt 14, 31). Parece lógico que a fé que os discípulos pedem que aumente, é esta última, segundo o que Marcos  relata sobre o epiléptico que os discípulos não conseguiram curar. Jesus recrimina os discípulos como geração incrédula. O pai deve exclamar: Eu creio! Ajuda a minha incredulidade! (Mc 9, 24). Eles pedem, pois, uma fé que fosse capaz de fazer os milagres que Jesus fazia sem limitação de poderes. 
            A RESPOSTA: Disse então o Senhor: se tiverdes fé como um grão de mostarda, dirias a este sicômoro: Arranca-te e planta-te no mar. E vos obedecerá (6). Dixit autem Dominus si haberetis fidem sicut granum sinapis diceretis huic arbori moro eradicare et transplantare in mare et oboediret vobis. A MOSTARDA: Era uma pequena semente de um arbusto próprio da Palestina. Da semente da árvore se extrai um óleo de gosto picante usado como condimento; é o nome comum de várias plantas do gênero sinapis; podem ser anuais ou perenes formando um arbusto de alturas entre 80 e 50 cm. Parece que na Palestina no vale do Jordão e perto do lago da Galileia, o arbusto tem até 3 m de altura com base lenhosa, comparável com uma árvore. Os árabes a consideram árvore, e seus frutos são alimento preferido dos pequenos pássaros granívoros. No fim do século 19 havia até 90 tipos de condimentos cuja base era a mostarda. Suas sementes são de fato muito pequenas como afirma Jesus em Marcos 4, 31 e eram simbolicamente figura das coisas pequenas. Jesus afirma que não é necessária muita fé para realizar grandes milagres. O SICÔMORO: O grego sykaminos é a tradução do hebraico sikmah que é uma árvore semelhante a uma amoreira, mas cujos frutos se assemelham a figos. Era árvore de fortes raízes e grande envergadura; tudo contribui para uma maior dificuldade em sua remoção. Em passagem paralela Mateus fala de montanha  (Mt 17, 20). 
            A PARÁBOLA: Quem de vós, tendo um escravo que ara ou cuida do gado, o qual voltando do campo diz de imediato: vem, reclina na mesa? (7). Quis autem vestrum habens servum arantem aut pascentem qui regresso de agro dicet illi statim transi recumbe. Porém não lhe diz: prepara o jantar e cingindo(te) serve-me enquanto como e bebo e depois disso comerás e beberás tu? (8). Temos que observar os antigos costumes e saber distinguir entre o ofício de um escravo e a autoridade de seu senhor. Este último era precisamente o dono de campos que precisavam ser arados, e gado ou ovelhas que deveriam ser pastoreados. O trabalho dos escravos era de sol a sol. Embora a lei judaica mandasse que fossem tratados o mais humanamente possível, existia uma diferença de classe, que diferenciava o mandante do servidor. A parábola o indica de modo concreto: Depois de um dia de trabalho árduo, ao voltar, era o escravo que devia servir e obedecer, não o amo. Somente após o amo ter satisfeito suas necessidades é que eles poderão comer e beber a mesma comida e bebida que o dono. 
            CONCLUSÃO: por acaso não teria que agradecer aquele servo porque fez o ordenado? Não penso (9), Assim também vós quando fizerdes todas as coisas as ordenadas, vós dizeis: somos servos, sem prêmio, que fizemos o que devíamos fazer (10). Numquid gratiam habet servo illi quia fecit quae sibi imperaverat non puto. sic et vos cum feceritis omnia quae praecepta sunt vobis dicite servi inutiles sumus quod debuimus facere fecimus.  Um serviço como o de um escravo não merece nem louvor nem recompensa. O escravo é um simples servidor. Nisso está sua vida e disso depende sua existência: obedecer aos mandatos e caprichos do seu senhor. O grego usa a palavra achreios [desnecessário] sem utilidade, para indicar a posição do escravo, que os modernos traduzem por ao qual nada se deve, sem prêmio ou salário. Isso porque havia servos aos quais o amo dava uma paga ou recompensa para que trabalhassem melhor abrigando a esperança de que sua poupança poderia, no futuro, comprar sua liberdade.  Por isso os discípulos devem estar dispostos a obedecer aos mandatos sem esperar recompensas ou aplausos e aclamações pelo serviço feito. 
            PISTAS: 
            1) A fé: Seu sentido primeiro e principal é uma adesão vital a Deus, um abandonar-se nas mãos de Deus, enquanto o homem renuncia a si mesmo e confia totalmente na palavra divina. Dessa fé confidencial Abraão é o modelo, de modo que esteve disposto a sacrificar o filho único, confiado na palavra de Deus. Por isso é a fonte e fundamento religioso da vida toda. Embora seja um dom do Pai (Ef 2, 8), a fé requer a não resistência por parte do homem e essa falta de oposição tem um ponto positivo: colaboração (Mt 7, 21). 
            2) Por isso, somente os servos que obedecem exatamente os mandatos do Senhor são os que realmente têm fé e poderão realizar obras portentosas. Ao querer humano se deve somar o poder divino que é Quem, em definitivo, realiza a obra. 
            3) O traslado miraculoso do sicômoro pela fé já é efetuado desde o momento em que o homem traslada seu mundo ao plano espiritual desde o plano puramente consumista e temporal. O maior milagre não é o do sicômoro, mas a conversão que a fé efetua no homem. A fé transforma um cego num homem de luz (Mt 15, 14), um morto num homem de vida (Cl 2, 13), 
            4) A paga que pensamos Deus nos deve, por nossas boas obras, transformaria nossa religião em um mercado de compra-venda. Deus não nos deve nada; nem pela lei do nascimento, como pensavam os judeus, nem pela lei da compensação pelas boas obras realizadas. Serão precisamente os homens ao quais temos feito o bem que se considerarão impelidos a pedir e solicitar uma recompensa por nós, como os hebreus pediram em favor do centurião (Lc 7, 4), ou como os pobres o farão como amigos na vida futura. 
            5) Por ser a lei do amor a que deve guiar nossa relação com Deus não podemos negar nada a sua vontade e esperamos que Ele recompense, muito mais do que pensamos, pedimos ou esperamos, o pouco de bem que temos feito em Seu Nome. 
             
            EXCURSUS:  NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA 
            - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa  nova. 
            -  Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor  misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus  na vida humana.  
              -  Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que  não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua  condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no  dia de natal: é o Deus da eudokias,  dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama. 
            Interpretação  errada do evangelho: 
            - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma  predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. 
              - Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará  destas pedras filhos de Abraão). 
            Consequências: 
            -  O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus  [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como  filho que é amado. 
              - O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou  jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio. 
              - O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua  pelo amor. 
              - O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele  é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele. 
              -  Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do  Pai  e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro  definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo  infinito por cima de qualquer fragilidade humana. 
             
            
                  
                    
                    
                     
             
              
              CAMPANHA DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA 
               
              CLIQUE AQUI, acenda uma vela virtual, faça seu pedido e agradecimento a Nossa Senhora Aparecida pela sagrada intercessão em nossas vidas! 
             
             
            
             
            
              QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!  
             
            Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, 
              levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente 
              as que mais precisarem! 
            Graças e louvores se dê a todo momento: 
              ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento! 
              
            
              
                
                    Mensagem: 
                      "O Senhor é meu pastor, nada me faltará!" 
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!". 
                    ( Salmos ) 
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