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Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A vida venceu a morte. A liturgia deste domingo celebra a ressurreição e garante-nos que a vida em plenitude resulta de uma existência feita dom e serviço em favor dos irmãos. A ressurreição de Cristo é o exemplo concreto que confirma tudo isto. Em diálogo amoroso com o Ressuscitado, somos por Ele alimentados e, como novas criaturas, assumimos a missão de testemunhas da vida nova e da paz. INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Despontou o dia da salvação! A morte foi vencida! O Cordeiro ressuscitou! Para que o canto novo dos redimidos, entoado na liturgia, ecoe em todos os domingos e nos impulsione na fé, reconheçamos nossa fragilidade e revistamo-nos da força do Ressuscitado. INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Hoje ressoa na Igreja o anúncio Pascal: Cristo ressuscitou; ele vive para além da morte; é o Senhor dos vivos e dos mortos. Na "noite mais clara que o dia" a palavra onipotente de Deus, que criou os céus e a terra e formou p homem à sua imagem e semelhança, chama a uma vida imortal o homem novo, Jesus de Nazaré, filho de Deus e filho de Maria. Realiza-se assim a grande e secreta esperança da humanidade: Um povo de homens livres caminhando para a vida, um homem novo, segundo os Planos de Deus... Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, cantemos cânticos jubilosos ao Senhor! (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) PRIMEIRA LEITURA (At 10,34a. 37-43): - "Ele nos mandou pregar ao povo e testemunhar que é ele quem foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos." SALMO RESPONSORIAL (117/118): - "Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!" SEGUNDA LEITURA (Cl 3,1-4): - "Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele na glória." EVANGELHO (Jo 20, 1-9): - "Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram!" Homilia do Diácono José da Cruz – DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A "O SENTIDO VERDADEIRO DA PÁSCOA" A palavra Páscoa tem sua origem no hebraico “Pascha” que significa passagem, e no Judaísmo está contextualizada no fato histórico ocorrido em 1250 A.C que foi a libertação do povo hebreu da escravidão do Egito. A narrativa encontra-se no livro do Êxodo, que pertence ao Pentatêutico, conjunto dos cinco primeiros livros da Sagrada Escritura, cuja autoria é atribuída a Moisés. O ritual da páscoa judaica segue as determinações dadas pelo próprio Deus ao Sacerdote Aarão conforme Êxodo 12, 1-8.11-14 e o fato histórico, com esse caráter religioso, tornou-se para o Povo um memorial da noite em que Deus os libertou da escravidão do Egito, através de Moisés, derrotando o império do Faraó.Anteriormente a páscoa era uma Festa dos Pastores, que comemoravam a passagem do inverno para a primavera quando por ocasião do degelo, e surgindo a primeira vegetação à luz do sol, os animais deixavam suas tocas, sendo essa a origem do Coelhinho da Páscoa e do ovo, que ao ter a sua casca quebrada deixa romper a vida que há dentro dele. A libertação do Povo da escravidão do Egito é o acontecimento mais importante na tradição religiosa de Israel que o tornou um memorial celebrado no ritual judaico, preceito estabelecido pelo próprio Deus, muito rico em sua simbologia.Trata-se de uma refeição feita em pé, com os rins cingidos, sandálias nos pés e o cajado na mão, como quem está de partida “comereis as pressas, pois é Páscoa do Senhor”. O sangue do Cordeiro imolado irá marcar o batente das portas dos que iriam ser salvos do anjo exterminador, e as ervas amargas lembram a escravidão e o sofrimento que o povo passou. Jesus de Nazaré, filho de Maria e de José, tendo passado pelo rito iniciático do Judaísmo, freqüentava o templo e a sinagoga, como qualquer judeu fervoroso. Não era sua intenção fundar uma nova religião, mas sim resgatar a essência na relação dos homens para com Deus, que o judaísmo havia perdido por causa do rigorismo do seu preceito e dos seus ritos purificatórios. O fenômeno do messianismo era muito comum naquele tempo, como hoje quando surgem a cada dia novos pregadores em cada esquina, mas somente Jesus é o verdadeiro e único messias, aquele que fora anunciado pelos profetas, o Ungido de Deus, descendente da estirpe de Davi, o grande Rei porém, na medida em que Jesus vai manifestando quem ele é, e o seu modo de viver, convivendo com os pecadores impuros, curando em dia de Sábado e fazendo um ensinamento novo que estabelecia novas relações com Deus e com o próximo. Tudo isso foi gerando um descontentamento nas lideranças religiosas que de repente começaram a vê-lo como uma séria ameaça a estrutura religiosa existente, e a expulsão dos vendedores e cambistas do templo foi a gota dágua que faltava para à sua condenação, sendo dois os motivos que o levaram à morte: o primeiro de caráter religioso, pois ele se dizia Filho de Deus e isso constituía-se uma blasfêmia diante do judaísmo, o segundo de caráter político, Jesus veio para ser Rei dos Judeus, representando uma ameaça ao augusto Cezar Soberano do império Romano. O Povo esperava um Messias Libertador político para restaurar a realeza em Israel, que se encontrava sob a dominação dos romanos. É essa a moldura histórica dos fatos que marcaram a vida de Jesus, nos seus três anos de vida pública, desde que deixara a casa de seus pais em Nazaré e dera início as suas pregações tendo formado o Grupo dos discípulos.Logo após sua morte e ressurreição, nas primeiras comunidades apostólicas (dirigidas pelos apóstolos) se perguntava por que Jesus havia morrido? Nas reuniões que ocorriam aos domingos, porque Jesus havia ressuscitado na madrugada de um Domingo, os apóstolos faziam a Fração do Pão, recordando tudo o que Jesus fez e ensinou, concentrando suas pregações na morte e ressurreição. E assim começou-se a se fazer as primeiras anotações sobre Jesus e mais tarde, entre os anos 60 e 70, surgiram os evangelhos que revelavam, não só porque Jesus havia morrido, mas também como e onde havia nascido e de como vivera a sua vida fazendo o bem, anunciando um reino novo sempre na fidelidade e obediência ao Pai e no amor aos seus irmãos. A Ressurreição de Jesus é um fato apenas compreensível e aceitável à luz da Fé, que é um dom de Deus concedido aos homens, pois o momento da ressurreição não foi presenciado por ninguém e o que as mulheres viram, segundo o relato dos evangelhos sinópticos, foram os “sinais” da ressurreição: túmulo vazio, os panos dobrados e colocados de lado, e ainda um personagem que dialoga com Madalena, confundido por ela com um jardineiro, que anuncia que Jesus de Nazaré não estava mais entre os mortos porque havia ressuscitado.As mulheres tornaram-se desta forma as primeiras anunciadoras da ressurreição aos apóstolos. Outra evidência foram as aparições de Jesus Ressuscitado aos seus discípulos, reunidos em comunidade conforme relato do livro do Ato dos Apóstolos. Não se tratam de aparições sensacionalistas para causar impacto e evidenciar a vitória de Jesus sobre os que conspiraram a sua morte, mas sim de um Deus vivo e solidário com os que nele crêem, para encorajar a comunidade dos apóstolos, que tiveram a princípio muita dificuldade para vencer o medo e descrença, que abateu-se sobre eles com a morte de Jesus. A Ressurreição de Cristo está no centro da Fé cristã, que é, segundo o pensamento Paulino, a garantia de nossa ressurreição, que não pode e nem deve ser compreendida como uma simples volta a esta vida porque se trata de uma realidade sobrenatural entendida e aceita pela Fé, e não de um fato científico. O Cristo Ressurrecto apresenta um corpo glorioso! É este o destino feliz dos que crêem e vivem essa esperança que brota da Fé, pois a Vida venceu a morte! Celebrar a Páscoa é celebrar esta Vida Nova de toda a humanidade, que irrompeu da escuridão do túmulo com o homem Jesus de Nazaré. É a passagem do pecado para a graça de Deus, das trevas para a luz, da Morte para a Vida , porque o espírito Paráclito que Cristo deu à sua igreja no dia de Pentecostes, tudo renova e permite que, caminhando na Fé, já desfrutemos, ainda que de maneira imperfeita, dessa comunhão íntima com Deus, no Cristo glorioso que nos acompanha nessa jornada terrestre, e que nos acolherá um dia na plenitude da Vida Eterna. Uma feliz Páscoa a todos! José da Cruz é Diácono da Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A “Ele vive! Aleluia!”Não faz muito tempo, um conhecido foi à China e contava, entre outras, essa experiência impressionante. Um grupo de cristãos chineses, todos da Igreja Católica clandestina e fiel ao Papa, depois de muito viajar para chegar a um lugar deserto onde se reuniria a liderança dos fiéis perseguidos ainda hoje pelo comunismo chinês, o organizador, com grande pesar, teve que comunicar aos participantes que no gélido inverno de -9ºC o sistema de aquecimento não estava funcionando e, portanto, estariam sem calefação e sem água quente. Ninguém protestou! Todos os que ali estavam, já acostumados a sofrer por Cristo, estavam dispostos a sofrer sem queixas o frio daquela noite. Para esses cristãos, Jesus Cristo está vivo e eles não desejam outra coisa que servi-lo fielmente. Eles sabem que a quem nos entregou a própria vida não existe outra resposta a não ser entregando a nossa própria vida. No coração dos homens há um desejo de felicidade. Essa afirmação evidente nem sempre se evidencia na prática. O que acontece é que nos contentamos, frequentemente, em ir levando a vida e não pensamos em coisas mais profundas e que dizem respeito às nossas ânsias mais humanas. Esse desejo de felicidade é também uma espécie de nostalgia, de saudades do paraíso perdido acompanhadas de certa melancolia. Desde que o ser humano foi expulso do jardim do Éden, dedicou-se a vagar pelo mundo sem encontrar a paz e a segurança que só pode encontrar perto de Deus, jardim das nossas alegrias, ainda que em meio a tribulações. Quantas vezes também nós visitamos sepulcros? Nenhuma! Pensemos melhor. Não me refiro somente àquelas vezes que nós acompanhamos o cortejo fúnebre de algum amigo, familiar ou conhecido. Refiro-me àquelas visitas pessoais nas quais chegamos até mesmo a retirar as lápidas pensando que encontraríamos algo. Já sabíamos o que estava lá dentro, mas mesmo assim quisemos abrir aqueles túmulos: ossos ressequidos, mal cheiro e vermes a alimentar-se. A descrição pode ser verdadeiramente tétrica, mas é real. Cada vez que nós fomos cavando atrás dos pecados, dos vícios e das paixões, acaso não encontramos exatamente isso: mau cheiro, prazer passageiro, decepção, dor de consciência e sentimento de ruina? Também Pedro e o outro discípulo que o relato bíblico não nos diz o seu nome, mas pensamos que seja João, “foram ao sepulcro” (Jo 20,3). O interessante é que a história deles não foi semelhante à nossa. Eles não encontraram maus cheiros, nem dor de consciência ou coisas semelhantes. Não encontraram nada disso, mas também não encontraram o Senhor. Claro! Jesus já ressuscitara. Jesus ressuscitou! Essa é a mensagem bimilenária da Igreja. Nós não precisamos mais ir vagando pelo mundo em busca do paraíso perdido. O nosso paraíso é o Senhor que faz da nossa alma o seu paraíso, é aí onde ele pode novamente passear tomando a brisa da tarde. Nós não podemos mais viver uma vida lúgubre, como se fôssemos pessoas que andam quais mortos vivos. Jesus nos ressuscitou com ele para que vivamos nele e para ele. Nós, os cristãos, não seguimos a alguém que está morto. Como dizia aquela senhora de 45 anos, mãe de cinco filhos, numa discussão com algumas campesinas: “Jesus morreu por mim na cruz? O que Maomé fez por vocês?”. Asia Bibi, assim se chama essa valente confessora da fé, é do Paquistão, ela negou-se a converter-se ao islamismo em 2009, foi condenada a morte, mas, com grandes dificuldades, conseguiu a anistia. Para Bibi, Jesus está vivo! A morte e a ressureição de Jesus é para nós garantia de pertença a uma nova raça, a raça dos filhos de Deus. Jesus morreu e ressuscitou por mim, por cada um de nós. Ninguém jamais imaginou um amor tão forte que nem a morte pôde derrotar. Como diz o Cântico dos Cânticos: “As torrentes não poderiam extinguir o amor, nem os rios o poderiam submergir. Se alguém desse toda a riqueza de sua casa em troca do amor, só obteria desprezo” (Ct 8,7). Da parte de Deus é assim, nada nem ninguém pode extinguir o amor que ele tem por nós. Da nossa parte a coisa pode ser diferente. Poderíamos infelizmente seguir atrás de sepulcros, atrás do fedor e da feiura. Seria a nossa infelicidade. Paradoxalmente, pensamos que fazendo isso estamos sendo felizes. Às vezes podemos estar obcecados com uma quimera de felicidade. O Senhor ressuscitado nos dá a vida e nós, às vezes, buscamos a morte; ele nos dá as verdadeiras alegrias quais joias de ouro e nós vamos atrás de bijuterias; ele nos dá o céu e nós buscamos cair no inferno. Que absurdo! Ao menos a partir de hoje será diferente, pois Jesus ressuscitou para a nossa salvação. Aleluia, aleluia! Feliz Páscoa! Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa Comentário Exegético — DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A EPÍSTOLA (Cl 3, 1-4) INTRODUÇÃO: Neste trecho, Paulo chama a atenção dos colossenses para o fim fundamental que deve dirigir toda a vida de um cristão: ele está unido a Cristo, de modo que deve imitar a vida do Mestre e, conforme essa vida, passar por este mundo vivendo a esperança de uma ressurreição do Cristo místico e total que Paulo predica em suas epístolas. RESSUSCITADOS COM CRISTO: Se, pois, tendes ressuscitado com Cristo buscai as (coisas) do alto onde o Cristo está sentado na destra do Deus (1). Igitur si conresurrexistis Christo quae sursum sunt quaerite ubi Christus est in dextera Dei sedens. A epístola é um canto a Cristo como sendo o fundamento e raiz da vida e do pensamento dos fiéis [a sabedoria divina em nossas vidas] a quem é dirigida a carta. Essa ideia tem uma parte negativa: nada de uma Lei que ata e oprime, como eram as normas antigas em que os judeus fundamentavam sua salvação, que Paulo descreve com o não tomes, não proves, não toques como sendo mandamentos e doutrinas dos homens (Cl 2, 21-22) e que constitui a sabedoria humana para satisfazer a carne. Aqui começa o nosso trecho de hoje. TENDES RESSUSCITADO: para Paulo, o batismo é um morrer ao homem velho e um ressurgir com Cristo que é o novo Adão (1 Cor 15, 45), de onde nasce a nova humanidade. O grego Synegeirö [<4891>=conresurgere] está formado pela partícula syn [conjuntamente] e egeirö [levantar-se] que ao uni-lo com Cristo significa corressuscitar, ou seja, ressuscitar juntamente com ele. DO ALTO [Anö<507>=sursum] é um advérbio que indica acima, ou seja, segundo o pensar da época, do céu. Por isso Paulo acrescenta que é o lugar onde está sentado Cristo atualmente. E prossegue na DESTRA [<Dexios<1188>=dextera] de Deus. Na linguagem simbólica, ou metafórica, necessária para poder falar de coisas que não conhecemos, Deus habita um lugar próprio: o terceiro céu, embora saibamos que está em todo lugar, e entendamos a metáfora de sua destra como o lugar mais próximo e que exerce o maior poder, dentro de seus planos de criação e redenção. Cristo seria o primeiro ministro do rei universal que é Deus. Paulo emprega as palavras do salmo 110, 1 para esse seu simbolismo: Oráculo do Senhor ao meu senhor: senta-te à minha direita, até que eu faça de teus inimigos o escabelo de teus pés. A SABEDORIA VERDADEIRA: As do alto considerai não as sobre a terra (2). Quae sursum sunt sapite non quae supra terram. E como se fosse um poema em que predomina a repetição com palavras novas, mas respeitando a mesma ideia, dirá de novo que as coisas do alto [não as da terra] serão as que devem nos preocupar e dominar a nossa consideração. A morte mística é uma morte parcial: morte a tudo que na terra se considera vida de felicidade como riquezas, prazeres e honras e vida de escravos com Cristo, sempre servindo como ele deu exemplo em Jo 13, 15 dizendo que se isso praticarmos seremos felizes (idem 18). VIDA COM CRISTO: Já que morrestes e vossa vida está escondida com Cristo em Deus (3). Mortui enim estis et vita vestra abscondita est cum Christo in Deo. Paulo repete, mais uma vez, a ideia de que todo batizado está morto para toda atividade que não seja a vida com Cristo. Vida que ele declara está oculta. Não é uma vida para ser reconhecia pela fama do mundo, mas para ser ocultada em sua maior parte, como foi a vida de Jesus. Pode ser também que esse ocultismo seja devido a que a vida plena do Cristão só se manifestará na glória, glória que agora está escondida e que desconhece o sujeito da mesma como glória, no futuro. S. Teresa dizia que se pudéssemos ver a glória duma alma em graça, ficaríamos estonteados de sua maravilha. Porque essa alma é como um pequeno céu que guarda em seu interior o esplendor divino, da forma que o que viram os três apóstolos no monte Tabor. Metamorfose que se realiza na alma em que Deus habita por graça. Porém, essa vida está escondida no momento presente na terra. Paulo dizia de si mesmo que não vivia ele, mas que era Cristo quem vivia sua vida nele por meio da fé (Gl 2, 20). Pouco antes, ele escrevia aos de Colossos: se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças? (Cl 2,20). De onde podemos intuir que essa sua preocupação com que as leis mosaicas não anulassem a lei da cruz de Cristo, entrava dentro dessa base terrena que não devia ser considerada como vida cristã. GLÓRIA FUTURA: Quando o Cristo se manifestar, nossa vida, então também vós com ele vos manifestareis em glória (4). Cum Christus apparuerit vita vestra tunc et vos apparebitis cum ipso in gloria. Na 1 Jo 3, 2, o apóstolo também fala de uma manifestação de Deus em nossas vidas e que então seremos semelhantes a Elepois o veremos como Ele é. Isto é entrar na glória divina. Quando Jesus se declara como caminho e vida (Jo 14, 6) pensamos nas coisas da terra e que ele nos guia e é vida durante nossa caminhada aqui embaixo; mas na realidade, está se referindo á vida final, a eterna, como ele proclama (Jo 3, 15). Pois não seria nossa condição muito melhor se só esperássemos Jesus para melhorar o mundo atual. O fracasso seria o resultado imediato. Essa vida que ele promete em abundância está oculta na terra e só será plena e visível no reino futuro, onde a fraqueza é substituída pelo poder e onde a ignomínia é transformada em glória (1Cor 15, 43), ou como declara aos filipenses, que transformará nosso corpo de reles condição em corpo de glória (3, 21). EVANGELHO (Jo 20, 1-8) A RESSURREIÇÃO DO SENHOR INTRODUÇÃO: Dos quatro evangelhos canônicos que a tradição identifica com Marcos, Mateus, Lucas e João, somente este último autor foi testemunha ocular (19, 35) que escreveu afirmando a verdade de seu testemunho (21, 24). Isso indica que ele esteve lá como testemunha de vista. Mas também seu testemunho poderia ser como ouvinte indireto, pois logicamente não ouviu as palavras entre Jesus e Pedro. Daí sua autoridade e importância como ouvinte de uma tradição imediata, reconhecida. É precisamente o que aconteceu com Marcos e Mateus (Lc 1,2). Lucas se apresenta como o investigador e ordenador dos fatos narrados por testemunhas oculares e espalhados por ministros [oficiais] da Palavra (Lc 1, 20). Se Marcos, Mateus e Lucas não são as testemunhas oculares, como é o quarto evangelho, são sim testemunhas oficiais de uma tradição que pode ter muitas lacunas e até importantes deficiências como todo relato humano de segunda mão; mas temos a certeza de que os fatos não são inventados. A tradição é a testemunha principal destes três evangelhos que chamamos sinóticos. Disso deduzimos que as conclusões são importantíssimas porque são de testemunhas auriculares nos quais a primitiva Igreja acreditava; e eram fatos reais aqueles em que essa fé estava fundamentada. Há dentro dessas narrações, interpretações que dependem do ambiente e das tradições do antigo Israel, que se fundam tanto na Torah [lei escrita] como na Mishná [lei falada]. Por isso escolhemos como linha essencial o evangelho de João, a única testemunha ocular e auricular dos fatos do Domingo da Ressurreição. DIA: Todos os evangelistas estão de acordo em que era o primeiro dia seguinte ao sábado [te mia ton sabbaton] A tradução literal seria no uno [dia entendido] da semana. Na realidade mia significa uma [dia é feminino em grego] e está implícita a palavra emera [dia], sendo possível a tradução primeira no lugar de uma; ou seja, o grego usa o numeral [um] pelo cardinal [primeiro]. Semana é a tradução de sabbaton dos sábados em plural. Não existe, pois, dificuldade em traduzir: no primeiro dia da semana. HORA: De manhã, ainda estando às escuras, diz João. Marcos dirá muito cedo, quando o sol estava saído, o que parece uma contradição. Lucas fala de uma alvorada profunda que o latim traduz por ao primeiro romper do dia. Unicamente Mateus discorda e assim podemos ler: Depois do sábado, no alvorecer do primeiro [dia] do sábado. O advérbio Opsé significa depois, muito tempo após, tarde no dia, no fim. O latim da Vulgata serviu para confundir, traduzindo vespere autem sabbati: na tarde do sábado; porque véspera significa a tarde do dia. As vésperas são as orações que se recitam na tarde do dia, mas sempre ao redor das cinco da tarde. Porém hoje todas as traduções dizem: passado o sábado. Logo todos coincidem no dia. E na hora. AS MULHERES: Marcos fala de Maria, a Madalena, Maria de Jacó e Salomé (16, 1). Mateus de Maria, a Madalena e a outra Maria (28, 1), expressão repetida de 27, 61. Sabemos que essa outra era a mãe de Tiago e de José (27, 56), os chamados irmãos de Jesus (Mt 13, 55). Para Lucas são muitas as mulheres; além da Madalena e Maria de Jacó, estava Joana e as demais mulheres com elas (24, 10). Evidentemente Lucas está se referindo às mulheres que acompanhavam Jesus com suas posses como diz em 8, 3: Joana, mulher de Cuza, o mordomo de Herodes, Susana e várias outras. Como vemos, eram ricas e nada diz das que eram parentes de Jesus como Maria de Jacó ou parentes dos discípulos como Salomé, a mãe dos filhos de Zebedeu que era ao mesmo tempo parente de Jesus. Já João fala unicamente de Maria, a Madalena, porque provavelmente seja a única que viu o Senhor ressuscitado (Jo 20, 117), embora as outras tenham visto os anjos (Lc 24, 23) e também porque ele afirma, no seu evangelho, que narra como testemunha os fatos que escreve. Só com a Madalena ele teve contato e por isso despreza, ou melhor, não pode contar fatos dos quais ele não foi testemunha. Assim podemos compaginar a singeleza da Madalena em João com a pluralidade e a riqueza dos detalhes dos outros evangelistas. O relato de João é, pois, muito pessoal e relativo, mas totalmente verídico. A MADALENA: Ela está incluída em todas as listas e de modo especial recebe um trato particular neste dia de domingo de Ressurreição. Mas quem foi na realidade Maria Madalena? Os evangelhos falam de Maria, a Madalena [‘e Magdalene em grego]. Este apelido sempre sai acompanhando o nome da mulher. Se fosse esposa de Jesus, como afirma o Códice da Vinci, teriam dito Maria de Jesus assim como nomeiam a Maria, mulher de Cléofas (Jo 19, 25). Mas é simplesmente Maria, a Madalena (sic). Mt 27, 56; e 28,1. Marcos 15, 40; 15, 47; 16, 1 e 16, 9; Lucas 8, 2 e 24, 10 e finalmente João 19, 25; 20, 1 e 20, 18. Em todos os versículos é Maria, a Madalena, exceto em Lc 8, 2 em que o evangelista explica Maria a chamada Madalena. Pelo seu nome podemos dizer que não era casada, nem tinha parentes próximos vivos, como filhos, tal como Maria de Cléopas ou Maria mãe de Tiago e José. O seu sobrenome não era patronímico, nem familiar, mas geográfico, o que indica ser uma mulher solteira ou viúva sem filhos. Magdala [também de nome Magadã] situava-se no lugar que hoje ocupa Tariqueia, a cinco quilômetros ao norte de Tiberíades, a cidade capital de Herodes Antipas. O nome primitivo talvez fosse Migdal-El [= torre de Deus]. A palavra Tariqueia é de origem grega e significa pesca salgada. Contava com uma frota de 230 barcas e uma população de 40 mil habitantes; mas parece exagerada e teremos que deduzí-la a 4 mil. Era a cidade mais importante do lago, incluindo Tiberíades. Esta foi fundada por Herodes Antipas nos anos 18 a 22 e chegou a ser a capital da Galileia, substituindo a Séforis. Tinha foro, estádio, um palácio real, templo pagão e sinagogas. Flávio Josefo a rendeu a Vespasiano. Após a guerra e queda de Jerusalém o sinédrio residiu nela e a escola rabínica que compilou o Talmud Jerosolimitano no século IV e os massoretas, que no século VIII, vocalizaram o texto das escrituras com pontos vocálicos chamados tiberienses. Uma exegese moderna liga Magdalena com uma palavra hebraica que significaria perfumista. Porém no pequeno dicionário de Sprong mais do que perfume a palavra meged e seu derivado migdanah significa coisa preciosa como uma gema ou um presente muito caro. Segundo o Talmud [o livro mais importante do judaísmo pos-bíblico, intérprete tradicional da Torah que compreende a Mishná e a Guemará], Magdalena significa cabelo crespo de mulher, embora na sua rivalidade com o cristianismo diz dela que era adúltera. Não são, pois, os evangelhos, mas o Talmud que denegriu a Madalena..De todos os relatos deduzimos: Maria Madalena era uma mulher da qual Jesus tinha expulsado sete demônios que em termos modernos diríamos uma doença mental grave como uma loucura ou esquizofrenia. Ela acompanhava Jesus, junto com outras mulheres que tinham sido curadas de espíritos malignos e também Joana mulher de Cuza, mordomo de Herodes [Antipas] e Susana e outras muitas, as quais o serviam com suas posses (Lc 8, 2-3). Joana era uma mulher de mais de 50 anos e todas as mulheres que acompanhavam Jesus tinham essa idade. Um exemplo é a própria mãe de Jesus, com Maria mãe de Tiago e José, e com Salomé, a mãe dos filhos de Zebedeu que estavam com a Madalena ao pé da cruz, como diz Mateus (27, 56). A Madalena era amiga de Maria, a mãe de Tiago e José, e é de supor da mesma idade, ou seja, conforme diz Paulo em 1 Tm 5, 9 das mulheres inscritas no grupo das viúvas com não menos de sessenta anos Era Maria Madalena uma pecadora ou a pecadora de Lc 7, 36-50? É difícil admiti-lo, pois, após narrar o caso da pecadora em casa de Simão, no seguinte capítulo, Lucas (8,2) fala de Maria Madalena sem indicar que se trata da mesma pessoa. Ser ou estar possessa não é o mesmo que ser pecadora. E como alguns intérpretes afirmam, a palavra pecadora em Lucas significa mulher pagã ou mulher judia, casada com um pagão, muito mais do que mulher pública. Tampouco se pode identificá-la com Maria de Betânia, pois o evangelho de João distingue perfeitamente ambas as pessoas. A nossa Maria tem o nome de a Madalena do lugar da Galileia, ou a perfumista caso se admita o apelido; mas a Galileia está no norte e Betânia é uma vila da Judeia, no Sul. Por outra parte Maria, a de Betânia, é chamada de irmã de Lázaro ou irmã de Marta. Poderíamos confundir a pecadora de Lucas 7, 36-50 com Maria de Betânia, porque ambas ungem os pés de Jesus com perfume e secam com seus cabelos. Parece que era um costume aceito na época. A mulher, no caso da pecadora na casa de Simão, teve lugar na Galileia e os convivas eram fariseus. O próprio Simão a considera como pecadora [pagã] e desconhecida de Jesus. Isso seria impossível para Maria de Betânia que é rodeada de amigos, que entram na casa onde estava sentada e a acompanham na dor. Pelo contrário, Maria fez a unção na Judeia em casa do Simão, o leproso, em Betânia com os discípulos como convivas e o aparente desperdício do rico nardo poucos dias antes da morte de Jesus. E Jesus não só a conhecia bem como era amigo de todos os seus familiares. Este fato da unção em Betânia, narrado por Mateus e Marcos, sem indicar o nome da mulher, tem alguns detalhes diferentes do descrito por João, como o de que o perfume foi derramado na cabeça de Jesus. Lucas fala de uma pecadora em casa de Simão e coincide com João em notar que ela ungiu os pés do Mestre. Ao máximo poderíamos deduzir que Maria de Betânia, a de João, era a pecadora de Lucas. Porém isto está fora de cogitação porque o mesmo Lucas fala de Maria de Betânia em 10, 39-42 sem falar da identidade das duas. E a pecadora de Lucas era uma desconhecida de Jesus, enquanto a Maria de Betânia era íntima amiga dele e dos discípulos. O próprio João distingue em seu relato entre Maria [a de Betânia] a quem chama simplesmente Maria em 20, 11 e 20, 16, e Maria a Madalena em 19, 25; 20, 1 e 20, 18. Nota: A pecadora da casa de Simão se fosse pagã, explicaria melhor o escândalo do fariseu porque o Talmud impedia todo contato com mulheres pagãs por ser causa de impureza. Os textos evangélicos nunca identificam Maria Madalena com a pecadora ou com Maria de Betânia. A Igreja grega celebra três festas diferentes, uma para cada mulher. A Igreja latina antes de S. Agostinho (+430) falava de três mulheres a exceção de uma única passagem. Foi S. Gregório Magno (590-604) que de fato identificou as três mulheres. A identificação foi muito posterior ao concílio de Niceia (325). Não houve, pois, na Igreja primitiva intenção alguma de sujar a imagem de Maria Madalena, como afirma também o Códice da Vinci. Era uma mulher que, agradecida, seguia Jesus e com suas posses ajudava o colégio apostólico. Nada mais nem nada menos podemos afirmar. A Koinonia com Jesus: De um trecho do evangelhoapócrifo de Filipe o logion [dito] 32: três eram as que caminhavam continuamente com o Senhor: sua mãe Maria, a irmã desta e Madalena a quem se designa como companheira [koinonós]. Maria é, com efeito, sua irmã, sua mãe e sua companheira. Que devemos dizer disto? Em primeiro lugar o texto é um papiro cópia do século IV, e o original é do fim do século II ou início do século III, bastante tardio. Segundo, a palavra koinonós tem o significado original de sócio, participante com outro de alguma coisa, não de mulher para a que se usa a palavra gyné. Koinonós só sai duas vezes nos evangelhos: uma com o significado de cúmplices, [os fariseus não queriam ser cúmplices dos que mataram os antigos profetas] (Mt 23, 20). A outra em Lc 5, 10 em que fala dos filhos de Zebedeu como sócios dos irmãos Pedro e André. Um exemplo da palavra gyné: Quem repudiar sua mulher [gyné], dirá Lucas o mais grego de todos os evangelistas em 16, 18. Evidentemente o evangelho gnóstico não identifica a Madalena com a mulher, esposa de Jesus. E pelo que diz respeito ao beijo na boca [número 55] não era um beijo carnal ou sensual, mas um beijo gnóstico pelo qual são fecundados os perfeitos e que estava em uso entre os gnósticos valentinianos, que por meio do beijo recebiam e transmitiam a semente pneumática. Com isso está declarada esta questão. QUE VIRAM AS MULHERES? Todas elas viram o sepulcro aberto ou se preferirmos a pedra removida (Mc 16, 4; Mt 28, 2; Lc 24, 2 e Jo 20, 1). Sobre a pedra da entrada do sepulcro há uma unanimidade: ela era grande e era uma roda que se rolava para tampar a boca do mesmo. Sobre esta pedra, há duas maneiras de interpretar sua remoção: estava rolada de novo como parece indicar Mc 16, 4, Mt 28, 2 e Lc 24, 1;[ pois todos usam o termo kylio grego] rolar e, no caso, apokylio. Distinguem entre pros- kylio rolar em direção a; e apo-kylio rolar a parte ou para fora. Porém João, o único que viu o sepulcro, usa o verbo airo [levantar] como se a pedra tivesse sido violentamente arrancada, o qual é traduzido por revolvida [port] removida [esp] ribaltata, virada [ital] e taken away, arrancada [ingl]. Evidentemente assim se explica melhor a passagem de Mateus que diz: O anjo do Senhor descendo do céu girou a pedra e sentou-se sobre ela (Mt 28, 2). Caso rolasse a pedra até o lugar primitivo dentro da cavidade da rocha seria impossível se assentar sobre ela, mas se a pedra fosse lançada fora como numa explosão desde o interior, ela ficava deitada, diante da boca do sepulcro e facilmente serviria de assento. Optamos por esta opção que o quarto evangelista nos oferece. O RECADO: A coisa estava feia para as mulheres. Ao ver o sepulcro aberto elas se perguntam: Quem ou como poderia ter rolado a pedra que era pesada e um problema para as forças de uma só pessoa? A Madalena voltou imediatamente para avisar os apóstolos de que alguma coisa terrível tinha acontecido com o corpo do Senhor. Que ela estava acompanhada no momento da visão da pedra removida podemos deduzir de suas palavras aos dois apóstolos: Tiraram do sepulcro o corpo do Senhor e não conhecemos onde o colocaram. O plural indica que ela fala em nome de todas, sem ser este o caso de um plural majestático. O sepulcro não estava muito longe dos muros e ao máximo seria um ou dois quilômetros de distância entre o sepulcro e o lugar onde estavam os dois apóstolos. Uma outra observação: a volta da Madalena seria a mais rápida possível, daí que ela não estivesse presente à aparição dos anjos às outras mulheres. Marcos (16, 5) dirá que entraram no monumento e viram um adolescente sentado à direita [às direitas em grego]. Mateus confusamente une a aparição do anjo aos soldados com a visão do mesmo pelas mulheres. Do relato de Mateus (28, 1-7) parece que as mulheres nem entraram no sepulcro [foram vê-lo], mas estavam perto do mesmo quase junto aos guardas que no momento ficaram desacordados como mortos; e então as mulheres ouviram o anúncio: Não está aqui… Ressuscitou. É um relato tão diferente que não parece provável ser historicamente certo, mas produto de uma apologética, cuja tradição Mateus redige em seu evangelho. Lucas (24, 3-4) afirma que entraram no monumento e não encontraram o corpo do Senhor. Durante um tempo elas ficaram sem saber o que pensar. Foi então que dois anjos se colocaram junto delas em roupas fulgurantes. Lucas, pois, admite um tempo entre a entrada no sepulcro, o encontro do corpo desaparecido e a aparição dos anjos. Foi o tempo suficiente para que a Madalena voltasse pedindo ajuda aos apóstolos. A VISÃO DE PEDRO E JOÃO: Os detalhes apontam a testemunha ocular presente aos fatos. Unicamente João fala do encontro dos panos mortuários. Totalmente crível, pois; máxime que não narra fato sobrenatural algum que, em últimas instâncias, poderia ser produto de fantasias. Tentaremos traduzir da melhor maneira possível o relato de João. João ou o discípulo preferido por Jesus, chegou e se inclinou e sem entrar viu os panos deitados. Mas o mais importantes é o que João declara mais adiante, como testemunha ocular. Pedro entra e então João tem uma visão mais detalhada do que tinha acontecido. Os versículos 6 e 7 têm sido traduzidos de formas diferentes. (6) Pedro entrou dentro do monumento [sepulcro] e vê os othonia [panos de linho] keimena [postos ordenadamente]. Vamos explicar detalhadamente o significado das palavras e depois traduzir livre, mas corretamente a frase. Entrou em aoristo. Vê em presente, indicando um presente histórico que realça a veracidade do testemunho pessoal. O sepulcro recebe o nome de mneméion, ou seja, monumento funerário, que podemos traduzir por mausoléu, ou tumba sepulcral monumental. Uma outra palavra é othonia que o latim traduz por linteamina [roupa de linho]. No singular pode significar qualquer pano de linho desde uma vela de barco, um vestido e até panos mortuários. A lã era considerada imprópria para vestimentas puras como eram as dos sacerdotes e logicamente também para cobrir os cadáveres, impedindo que objetos de procedência animal poluíssem os mortos por contato direto. A palavra está, pois, em perfeita consonância com a relíquia que conhecemos como Santo Sudário de Turim. Mas a palavra que tem dado lugar a maior número de polêmicas é Keimena. É o particípio de presente da voz média do verbo Keimai que podemos traduzir por estando deitados. Podemos encontrar dois significados diferentes desta palavra no texto grego dos evangelhos: 1) Tratando-se de coisas inanimadas keimenon [singular] significa colocados, ordenados, postos aí, como traduz propriamente a vulgata: posita [posto, situado, colocado com certa ordem sem estar tirado]. Assim em Jo 2, 6: estavam keimenai as talhas de pedra das bodas de Caná. 2) Com respeito a pessoas, significa a postura jacente, deitado, em oposição a de pé ou sentado. Um exemplo é Lc 2, 12 quando o anjo anuncia aos pastores que veriam o menino deitado na manjedoura. Assim Mateus 28, 6 o anjo anuncia às mulheres: Vede o lugar onde jazia. CONCLUSÃO: No caso, pois, optaremos pelo significado dispostos em ordem. Não creio que possamos traduzir por desinflados, aplanados como disse meu antigo e queridíssimo professor de grego, hebraico e bíblia, o Pe. Balaguer (qepd). Alude o professor a que uma cidade conquistada é também keimene, ou seja, arrasada, as muralhas tendo desabado. Porém os que estudamos são textos evangélicos. E existe uma outra forma de ver as cidades keimenai, como cidades mortas, como um morto jaz inerte, sem vida, sem pensar em muralhas desmoronadas. E os dois exemplos evangélicos podem ser perfeitamente traduzidos como ordenadamente postos. Assim será nossa tradução: vê os panos mortuários depositados ordenadamente. O SUDÁRIO: Vejamos o significado de soudarion grego. Geralmente era o lenço próprio para tirar o suor do corpo. Era o lenço de grande tamanho que cobria o rosto dos mortos. Ele estava sobre sua cabeça (7). Isto indica que cobria rosto e nuca como se fosse um capuz, que aliás era veste mandatária dos condenados à morte como diz Cícero: I lictor, colliga manus, caput obnubito, arbore infelice suspendito. Vai, lictor, ata as mãos, tampa a cabeça, pendura-o da árvore infeliz. Parece que os mortos de morte natural tinham um sudário que era atado ao redor do rosto [opsis autou soudario periededeto, traduzido ao latim por fácies illius erat ligata], como eram ligados os pés e também as mãos, porém com faixas [keiriais grego]. Encontramos no mesmo evangelista duas descrições diferentes de cadáveres: Lázaro, e Jesus. Um deles de morte natural, em que um sudário foi usado para cobrir o rosto e atado ou redor do mesmo. No outro um sudário também foi colocado sobre a cabeça; cremos que poderia ser o capuz. O corpo de Jesus foi envolto num lençol, segundo Lucas 23, 53 e mais explicitamente João dirá que eram panos de linho [othonia], os mesmos que ele encontrou dispostos em ordem. Temos uma prova de como os corpos eram sepultados ao vermos no dia de hoje os enterros dos mortos no Oriente: Envoltos num lençol e com três ataduras. Uma no pescoço, outra nas mãos e a terceira nos pés. Dentro desse sarcófago (?) de linho teremos o rosto coberto de um lenço que foi o que João viu ou meta ton othonion keimenon, allá khoris entetyligmenon eis ena topon. A tradução latina é:non cum linteamínibus pósitum, sed separátim involútum in unum locum. A tradução latina, como sempre, é literal e precisa. De ambas as frases deduzimos: o sudário, que estava [anteriormente] cobrindo a cabeça, não estava posto junto aos lençóis, mas fora [dos mesmos], enrolado [do latim podemos traduzir tirado] a um único lugar [numa posição única]. É esquisito que o eis ena topon seja um acusativo de movimento, que dificilmente pode ser traduzido como estando [verbo estático] em um [outro] lugar, mas deveríamos traduzir como jogado [tomado do latim] para um lugar diferente. Esta é a única maneira de entender o texto que é traduzido de tantas maneiras. Como interpretá-lo? Não posso assegurar nada como certo. Porém dado o assombro de Pedro e a decisão de João de acreditar na ressurreição, podemos dizer que naquele sepulcro havia dados suficientes para evitar o roubo e pensar numa coisa sem explicação natural. Isso não tanto pelo modo como estavam os panos, mas pelo jeito como eles viram o sudário. Se o corpo não estava dentro, é lógico que a mortalha estivesse aplainada como vazia. Mas se o sudário não estava dentro da mortalha e era visto como jogado fora da mesma em lugar visível, isso quer dizer que saiu de dentro das ataduras exatamente como o corpo, de modo incrível. Vamos explicá-lo com um exemplo: imaginemos que enterramos um familiar. Na preparação do morto, ao vesti-lo, colocamos uma gravata no defunto. Logo, dentro do caixão, fechado com pregos, o enterramos. Dois dias após, nessa tumba comum, vamos enterrar uma outra pessoa. Ao abrir a tampa do sepulcro vemos que a gravata que estava no pescoço do defunto está fora do caixão, sendo que este está fechado com pregos como no tempo em que o enterramos e ao abri-lo nos deparamos que o corpo não está lá. Que pensaríamos? Pois de modo semelhante encontrou João o corpo que ele tinha ajudado a amortalhar e no lugar da gravata o que estava fora da mortalha [fora do caixão para nosso caso] era o sudário. Por isso, Pedro voltou para casa, muito surpreso com o que acontecera (Lc 24, 12). João, conforme seu propósito, nada diz sobre os sentimentos de Pedro, mas escreve sobre o que ele viu e acreditou. Porém deixa entender que Pedro estava confuso ao terminar o relato aclarando: Ainda não tinham compreendido que, conforme as escrituras, ele deveria ressuscitar dos mortos (9). Que delicadeza para com seu amigo e companheiro! PISTAS: 1) Nos relatos da ressurreição vemos a descrição de um verdadeiro milagre. Em todo fato sobrenatural existem dois fatores independentes: Um deles é o fato humano, que todos podem ver e do qual podem ser testemunhas. No caso, a pedra rolada ou bruscamente jogada fora [o sepulcro aberto], a ausência do cadáver que a Madalena atribui a roubo: pegaram o corpo do Senhor e não sabemos onde o levaram (2). A disposição da mortalha que mesmo aceitando traduções menos comprometidas, indicava alguma coisa de anormal. E está aí o outro fator que é a causa de um fato sem explicação humana nem científica: Como pode acontecer? E é precisamente nesta inexplicável causa que encontramos um poder transcendente, se finalmente cremos, ou um mistério, que pensamos é produto do acaso ou de uma causa que deixamos para o futuro poder descobrir, se o agnosticismo domina nosso pensamento. 2) A fé: Foi necessário o encontro pessoal para que os discípulos cressem em Jesus ressuscitado, com a exceção de João. O sepulcro aberto e a disposição dos panos mortuários foram suficientes para que, desses indícios, João acreditasse. Daí sua informação que parece sem importância, mas que foi para ele o início de uma vida nova e da qual nós podemos aprender uma lição extraordinária. Nós também temos unicamente indícios sem que exista o encontro pessoal com Jesus. Porém deve existir uma vontade de crer para que esses indícios não sejam um desperdício. É essa vontade que precede a fé e que será motivo de nossa justificação como Paulo afirma (Rm 4, 3) 3) Os evangelhos recolhem informações, indícios e testemunhas que apontam à transcendência de Jesus e a transcendência de nossas vidas, dependentes de Jesus. Todas as demais religiões se apoiam em valores humanos ou humanizados da divindade. Não existe um homem-Deus. A nossa, em valores divinos que são humanos em Cristo, especialmente na sua ressurreição que não é unicamente a de Jesus, mas também nossa, como afirma Paulo. E sem esta fé na ressurreição é vã a nossa fé (1 Cor 15, 17) e sem essa esperança somos os mais dignos de compaixão de todos os homens (idem 15, 19). 4) Diante do encontro pessoal de Cristo com seus apóstolos, o sepulcro vazio, os lençóis e sua disposição passam a ser secundários. Eles passaram do Jesus de Nazaré ao Cristo Senhor pela visão que tiveram de sua pessoa ressuscitada. Por isso que nos outros três evangelhos as aparições são tão importantes e que os detalhes do sepulcro se tornam vagos e imprecisos. Somente João os descreve minuciosamente porque foi neles que ele encontrou a sua fé. Foi o único que acreditou sem ter visto o Senhor [o ressuscitado]. E neste sentido, João é o discípulo que melhor se assemelha a nós, porque, sem ter visto, acreditamos por indícios e informações de testemunhas oculares. Por isso somos bemaventurados (Jo 20, 29). EVANGELHO ALTERNATIVO (Lc 24, 13-35) OS DISCÍPULOS DE EMAÚS EMAÚS: Ora, eis que dois deles estavam caminhando nesse dia a uma vila, distante sessenta estádios de Jerusalém, de nome Emaús (13). Et ecce duo ex illis ibant ipsa die in castellum quod erat in spatio stadiorum sexaginta ab Hierusalem nomine Emmaus. EMAÚS: Seu nome significa banhos quentes e era uma vila [komes], ou seja, um conglomerado de casas rústicas para servir de habitações para os camponeses e outros, chamados teknos [marceneiro, pedreiro e ferreiro numa só pessoa] com uma população talvez inferior a 400 habitantes. Na atualidade, existe um local a 60 estádios ou aproximadamente 10 Km de distância de Jerusalém, que corresponde ao relato de Lucas. O Emaús bíblico [El- Qubeibah] está situado ao lado de uma via romana que ia de Jerusalém ao mar. Perto existe uma fonte que diz era onde Jesus lavou os pés após a caminhada com os dois discípulos. A CONVERSA:E eles conversavam entre si acerca de todas as coisas acontecidas (14). E sucedeu que, enquanto eles conservavam e discorriam, também ele, (o) Jesus, tendo-se aproximado, caminhava com eles (15). Et ipsi loquebantur ad invicem de his omnibus quae acciderant Et factum est dum fabularentur et secum quaererent et ipse Iesus adpropinquans ibat cum illis.ACONTECIDAS [Symbebëkotön <4819>=acciderant]: Evidentemente eram os sucessos da morte de Jesus e de sua desaparição, tendo como sinal de discussão o sepulcro vazio. Era o domingo e o acontecido estava recente em suas mentes. Disso falavam entre si enquanto caminhavam. DISCORRIAM [Syzëtein <4802>=quaererent]: O verbo grego significa buscar, inspecionar, examinar e também debater, comentar. Temos optado por um verbo neutro como discorrer, ou seja, comentar em sentido de querer compreender o que tinha sucedido, pois para eles, os fatos não tinham uma razão compreensível. Nesse momento, Jesus, que no grego tem o artigo determinante para indicar que era Ele precisamente, uniu-se a eles, como nova companhia. OLHOS IMPOSSIBILITADOS: Porém, os olhos deles estavam travados de modo a não o reconhecerem (16). oculi autem illorum tenebantur ne eum agnoscerent. TRAVADOS [Ekratounto <2902>=tenebantur]: Segundo o sentir da época, os olhos tinham dentro uma espécie de lanterna ou lâmpada, que se iluminava e assim podiam ver as coisas (Mt 6, 22 e Lc 11, 34). O verbo grego Krateö significa agarrar, se manter firme, resistir, conter, e por isso, optamos por travar; daí entupir, estar fechado. Os seus olhos estavam atenazados, segurados; o latim diz tenebantur [estavam retidos ou reprimidos]. A consequência é que Jesus não foi reconhecido. NÃO O RECONHECERAM: Muitos falam de que na ressurreição existe uma diferença corporal que transforma a aparência natural, como viram os apóstolos o rosto de Jesus no monte Tabor. Ou melhor, como foi a aparência que tomou Jesus ao aparecer a Maria Madalena (Jo 20, 14) ou aos discípulos na margem do lago (Jo 21, 4-7). Sem dúvida que Jesus não tomou a aparência usual de seu rosto terreno, para não causar pânico ou medo, como devia ser, caso visse um morto ressuscitado que seria tomado por um fantasma (Lc 24, 37). A PERGUNTA: Então lhes disse: Quais as palavras essas que discorríeis entre vós, caminhando; e (por que) estais tristes?(17). Et ait ad illos qui sunt hii sermones quos confertis ad invicem ambulantes et estis tristes. Sem dúvida que Jesus fala sobre o que pode escutar deles entrando na conversa sem produzir sobressalto algum. Foi um encontro normal entre caminhantes. No versículo 21 explica a causa da tristeza como sendo perda de uma grande esperança que a morte tinha defraudado. A RESPOSTA: Tendo respondido então, um deles, de nome Cléopas, disse-lhe: tu só dos que moras em Jerusalém e não conheces as (coisas) acontecidas nela nestes dias? (18). Et respondens unus cui nomen Cleopas dixit ei tu solus peregrinus es in Hierusalem et non cognovisti quae facta sunt in illa his diebus.CLÉOPAS: O grego diz Kleopas<2810> que o latim traduz por Cléophas e que aparentemente pode ser uma abreviatura de Cleopatros nome grego que significa [filho] de pai ilustre. Alguns distinguem entre este Kléopas e um outro que em grego tem um nome parecido, Klöpas[<2832>=Cleophas], mas que o latim traduz da mesma forma. Este Cleophas [latino] é o esposo da irmã de Nossa Senhora, também chamada Maria, a de Klöpas, e que estava ao pé da cruz, segundo João 19, 25: a irmã de sua mãe, Maria a de Köplas [Cleophas emlatim, Cléofas português e Cleofás castelhano]. Klöplas tem a mesma origem que o aramaico Achab<0256> e significa tio. Como a mulher tinha o mesmo nome de Maria, [a da mãe de Jesus] daí deduzimos que Klöpas era realmente o irmão de José, esposo de Nossa Senhora e que a sua mulher era cunhada e ao mesmo tempo era a mãe de Tiago, chamado o menor e irmão de Jesus. Klöpas é a tradução aramaica de Cleopas. Kleopas e Klöpas eram, pois, a mesma pessoa, ou seja, tio de Jesus por parte de pai. Há quem, por esta circunstância, identifica Kleofas com Alfeu ou Alfaios, que em Mt 10, 3 se diz ser o pai de Jacob ou Tiago. Em todo caso ao indicar um nome, Lucas quer nos dizer que o relato tem uma boa fonte testemunhal. Que é uma narração de primeira mão. Então lhes disse: Quais? Eles, pois, lhe disseram: as coisas acerca de Jesus o Nazoraio (sic), que se tornou homem profeta poderoso em obra e palavra diante de (o) Deus e de todo o povo (19). E como os chefes dos sacerdotes e os dirigentes [civis] o entregaram a um juízo de morte e o crucificaram (20).Quibus ille dixit quae et dixerunt de Iesu Nazareno qui fuit vir propheta potens in opere et sermone coram Deo et omni populo. Et quomodo eum tradiderunt summi sacerdotum et principes nostri in damnationem mortis et crucifixerunt eum.NAZORAIO [Nazöraios<3480>=nazarenus]: Qual é a diferença entre Nazareno e Nazoraio?. Sem dúvida que nazareno significa oriundo de Nazaret. Mas que Significa nazoraio? Segundo alguns a distinção está em que nazoraio vem de Naziyr [<05139>=sanctificentur] e que se traduz como Nazirado em português (nazireato em espanhol e italiano) em Nm 6, 2; era o nome dado aos consagrados a Deus com voto especial, tanto homens como mulheres. Podia ser perpétuo como o caso do João, o Batista (Lc 1, 15); ou temporário, como em Paulo (At 18, 18). Pouco sabemos de como se fazia e temos muito maior conhecimento dos ritos para terminar esse estado especial. A Setenta usa o Euchë [<2171>=votum] voto, sem usar uma palavra para o Nazir. O voto impedia toda bebida de vinho ou fermentada, o corte de cabelo e o afastamento de todo cadáver mesmo do pai ou mãe. Não parece que Jesus tivesse feito esse voto, pois bebia e comia (Mt 20, 22) e não teve inconveniente em tocar um cadáver (Mc 5, 41 e Lc 7, 31). Nazarenos [<3479>=nazarenus] é propriamente latim e Nazöraios é grego. Temos o exemplo em João 19, 19 no título da cruz em que usa o grego Nazöraios. Mateus em 2. 23 usa o mesmo Nazöraios como apodo próprio de Jesus. Uma única vez, em Lucas, vemos o Nazarene [de Nazaré] em 4, 34: Que a mim e a ti Iësou Nazarëne? Dirá o demônio. É Marcos quem usa o Nazarenos (grego latinizado) com o qual temos uma prova de que ele escreveu para os gregos de Roma. Cremos que nas três passagens de Marcos (1, 24; 14, 67 e 26, 6) o nome Nazarenos, tem um final latinizado e, portanto equivale ao grego geográfico Nazöraios. Pois a terminção os é própria do patronímico grego, enquanto a nus é própria do latim. Estavam tristes, porque esse Jesus era PROFETA [ profëtës <4396>=propheta]. Tanto o grego como o latim acrescentam homem (anër/vir) de modo a ser a tradução varão profeta a mais exata. Fundamentalmente profeta é quem fala em nome de Deus, iluminando e orientando a vida e a história do povo, denunciando tudo que seja ruptura com a aliança. Jesus reivindica para si mesmo essa condição de profeta (Mt 13, 57, Lc 13, 33 ; Jo 6, 14 e 7, 40). Poderoso em obra e palavra. Dos profetas do AT sabemos que pelo menos Elias e Eliseu realizaram milagres além de falar em nome de Jahveh. E este poder extraordinário foi em Jesus testemunho de sua palavra como procedente de Deus: Se não credes em mim, crede nas obras (Jo 10, 38). Por isso, era profeta diante de Deus e de todo o povo. Como muitas vezes, a palavra Deus está acompanhada do artigo determinante o que ressalta o verdadeiro Deus dos muitos deuses pagãos da época. Os chefes dos sacerdotes [archiereis <749> = summi sacerdotum]. A maioria das versões vernáculas traduzem por sumos sacerdotes (exemplo TEB). É verdade que um sumo sacerdote mantinha o título por vida e que em tempos de Jesus houveram muitos que obtiveram o título porque o cargo era venal e mudava quase anualmente; Josefo fala que houve 28 sumos pontífices entre Herodes e os anos 64, um total de 170 anos, o que dá um a cada dois anos e meio. Mas, neste caso, significa chefes dos sacerdotes (príncipes de los sacerdotes –diz Nácar Colunga e a KJB fala de chief priests), como parece indicar o latim [summi sacerdotum], que segundo Josefo eram os chefes das principais famílias além dos que tinham sido sumos pontífices e o atual chamado Nasi, que presidia a tribuna, o Sagan, o tesoureiro do templo e outros. E os nossos dirigentes [archontes <75,8> = príncipes], que também eram chamados de bouletes [conselheiros] ou dygnatoi, [dignatários] que eram os aristocratas das famílias mais ricas da cidade. Lucas, que em 9, 22, claramente alude aos três componentes do sinédrio, aqui não diz nada sobre a terceira parte do mesmo que era formada pelos escribas. Sem dúvida que estes últimos, como respeitados pelo povo, tinham entre seus membros Nicodemos que se opôs à condena de Jesus (Jo 7, 50). O entregaram [.paredökan <3860>=tradiderunt] O verbo tem como significado entregar uma pessoa ou coisa nas mãos de outra. Daí atraiçoar como em Mt 5, 25 te entregue nas mãos do juiz. A entrega terminou com a morte em cruz, a mais horrível e humilhante para um romano e a mais maldita para um judeu. Deus não podia permitir semelhante morte para um profeta seu. Morrer nas mãos do príncipe inimigo, como o Batista nas de Herodes Antipas, era um martírio; mas na cruz era uma maldição. ESPERANÇA VÃ: Já que nós esperávamos que viesse libertar Israel. Mas já sobre estas coisas prevalece o terceiro dia desde que passaram elas (21). Nos autem sperabamus quia ipse esset redempturus Israhel et nunc super haec omnia tertia dies hodie quod haec facta sunt. E explicam a causa de sua tristeza que, em definitivo, é uma perda de esperança: Jesus tinha fomentado a esperança messiânica [libertação de Israel] e agora tudo acabou.Nestas palavras está resumido o sentimento mais profundo e a alma de todos os discípulos de Jesus. Tanto esforço, tanta ilusão perdida. Tudo foi um sonho bonito que agora se transforma em dolorosa desilusão. Eram três dias de profunda tristeza, como o Mestre tinha anunciado Klausete [plorabitis=lamentareis] e thrënësete [flebitis= chorareis] (Jo 16, 20), como faziam as plangentes na morte dos que pranteavam. OS RUMORES: Mas também certas mulheres das nossas nos deixaram surpresos havendo estado muito de manhã sobre o túmulo (22). E não tendo encontrado o corpo dele, voltaram dizendo também ter visto uma visão de anjos os quais dizem que ele está vivo (23). E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro e encontraram assim como as mulheres falaram, mas a ele não viram (24). sed et mulieres quaedam ex nostris terruerunt nos quae ante lucem fuerunt ad monumentum et non invento corpore eius venerunt dicentes se etiam visionem angelorum vidisse qui dicunt eum vivere et abierunt quidam ex nostris ad monumentum et ita invenerunt sicut mulieres dixerunt ipsum vero non viderunt. Havia, porém uma coisa estranha que eles duvidavam fosse realidade interessante: Temos traduzido o mais literalmente possível, respeitando tempos de verbos e significado das palavras. O caso é que os dois discípulos se mostraram tão céticos como hoje muitos dos leitores do evangelho, que só admitem como históricos o sepulcro vazio e a ausência do corpo. As visões e aparições são tidas como imaginárias, sem fundamento real. Jesus não aparece como apareceu Nossa Senhora aos pastorinhos de Fátima. A Virgem não era vista pelos assistentes. Era, pois, uma aparição interna sem que uma máquina fotográfica pudesse recordar a cena. Mas no evangelho de hoje temos a resposta: ele tinha um corpo como um homem qualquer. Precisamente a ¨cegueira¨dos dois discípulos de Emaús, indica que ele não foi uma aparição do tipo que certos teólogos indicam: ele, para todos os efeitos, era de carne e osso, indistinguível como se fosse um homem comum. Os evangelistas distinguem perfeitamente a visão dos anjos [vestes resplandecentes], que podem ser semelhantes às aparições de Fátima, das aparições de Jesus durante os 40 dias: é o mesmo Jesus de sempre, o Jesus ainda não transformado porque não tinha ido ao Pai (Jo 20, 17). Quer dizer que só depois da Ascensão ele tomou o corpo espiritual que dirá Paulo (1 Cor 15, 43-45)? É uma hipótese que não tem nada contra a teologia e que não pode ser descartada, já que a visão de Paulo de Jesus Ressuscitado parece ser uma visão, cuja fonte era a luz (At 9, 3). Neste trecho, escrito muito antes do evangelho de João segundo o que nos diz a tradição, temos um resumo das primeiras aparições de Jesus que concorda plenamente com o relato joanino. Estes dois evangelistas devem ser tomados como base real do sucedido e não como descrição catequética do mesmo. APOLOGIA DE JESUS: Então ele lhes disse: Ó sem inteligência e tardos no coração para crer em todas (as coisas) que falaram os profetas! (25). Et ipse dixit ad eos o stulti et tardi corde ad credendum in omnibus quae locuti sunt prophetae. Começa censurando-os: Sem entendimento e tardos de mente [coração no original]. Usando termos mais claros poderíamos traduzir por tontos e estúpidos, não no sentido de um insulto, mas de um fato certamente real e comprovável. A compreensão das Escrituras não depende unicamente da graça de Deus, mas também da disposição de ânimo do leitor. Com uma mente perturbada por prejuízos como a dos saduceus, que não admitiam a ressurreição, era impossível admitir a de Cristo. Com uma mente como a moderna em que o milagre é menosprezado, é lógico que os relatos dos evangelhos sejam tomados exatamente como os das mulheres foram aceitos pelos discípulos: lendas, fantasias. A INTERPRETAÇÃO: Certamente, não convinha Cristo padecer essas coisas e entrar na sua glória? (26). E começando desde Moisés e desde todos os profetas interpretava-lhes em todas as Escrituras os (acontecimentos) acerca dEle (28). Nonne haec oportuit pati Christum et ita intrare in gloriam suam. Et incipiens a Mose et omnibus prophetis interpretabatur illis in omnibus scripturis quae de ipso erant. Jesus, como companheiro de viagem, se torna agora mestre de sabedoria para interpretar as Escrituras, fazendo apologia de sua paixão: Era necessário que o Ungido [Messias] padecesse, para assim entrar na sua glória [a posse do seu reino]. O verbo Deo [<1163>=oportuit] significa atar, e em termos teóricos obrigar, por estar sujeito a uma lei. O singular impessoal dei significa uma obrigação iniludível, porque estava escrito isto é: era um plano de Deus transmitido através dos profetas (25). E começando por Moisés, diz Lucas. Na realidade, Moisés diretamente não fala do Messias a não ser em Dt 18, 15: Javé, teu Deus suscitará um profeta como eu, no meio de ti, dentre os teus irmãos, e vós o ouvireis. Temos uma outra citação em Gn 3, 15: A descendência da mulher esmagará tua cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar. Porque o Pentateuco era o livro escrito por Moisés, ao menos substancialmente. Além destas profecias que podemos chamar diretas e que são as únicas que nos tempos modernos aceitamos como verdadeiras, não podemos esquecer que, muitas vezes, os antigos viam na Escritura tipos e imagens do futuro como verdadeiras profecias. Entre esses tipos temos Isaac levando a lenha para o sacrifício que ia ser executado pelo pai, mas que no último momento foi substituído por um carneiro ( Gn 22, 6-14). Temos a serpente de bronze, da qual o próprio Jesus comentou que era sua figura (Nm 21, 8 e Jo 3, 14). Também podemos ver nos sacrifícios ordenados por Moisés, figuras do sacrifício de expiação pelos pecados da Nova Aliança de Jesus, especialmente no dia do Yom Kippur pelo holocausto do bode expiatório (Lv cap 9), que a epístola aos hebreus, no capítulo 9, afirma ser figura imperfeita de Jesus. Pelo que diz respeito aos outros profetas, tais como Davi nos salmos 22, 1-31, Isaías 53, 1-12 e Daniel 9, 1-27 as referências são muito notáveis. Por isso Jesus interpretava as Escrituras, embora não saibamos em que termos, pois o evangelista não o declara. FICA CONOSCO: Então se aproximaram da vila para a qual caminhavam e Ele pareceu passar adiante (28). E o coagiram dizendo: fica conosco já que é a tarde e o dia declina. Então entrou para ficar com eles (29). Et adpropinquaverunt castello quo ibant et ipse se finxit longius ire. Et coegerunt illum dicentes mane nobiscum quoniam advesperascit et inclinata est iam dies et intravit cum illis. Só devido a uma pequena dificuldade para a volta, vamos explicar o vocábulo grego por TARDE [espera <2073> =advesperascit]. De fato, o original diz que é a tarde [substantivo] e não que é tarde [adjetivo, fora do tempo]. A Vulgata com o verbo advesperascit indica que já chegou a tarde. Esta começava às três horas, e era o momento do almoço.O dia, ou melhor, a luz do dia acabava às seis horas. AO PARTIR O PÃO: E sucedeu ao se recostar ele com eles, tomando o pão, (o) abençoou e tendo (o) partido (o) dava a eles (30). Et factum est dum recumberet cum illis accepit panem et benedixit ac fregit et porrigebat illis. Segundo a Mishná, se são três os que devem comer juntos, são obrigados a benzer a mesa, porque se são três os que comem juntos não podem separar-se para a bênção (Berajot 7, 4). Segundo a tradição judaica, na liturgia da Páscoa após a segunda copa, copa de Haggadá [das narrações da tradição] se iniciava o banquete com a bênção da mesa, feita pelo pater-famílias sobre o pão ázimo: tomava o pão e o abençoava com estas palavras: Louvado sejas tu, Senhor nosso Deus, Rei do mundo que fazes sair o pão da terra. Os comensais respondiam Amém; e, na continuação, o pai de família repartia o pão. O pai da casa tomava o último pedaço e começava a comer; com isso ele dava o sinal para todos de que o banquete tinha começado. OS OLHOS SE ABRIRAM: Os seus olhos então se abriram e conheceram-no e Ele se tornou invisível para eles (31). Et aperti sunt oculi eorum et cognoverunt eum et ipse evanuit ex oculis eorum. É precisamente nesta bênção e no partir o pão que os dois discípulos reconhecem a pessoa de Jesus. Os olhos se abriram e o reconheceram. Os três sinóticos falam de como Jesus, erguendo os olhos ao céu (exemplo Lc 9, 18) e abençoando o pão partiu-o e o entregou a seus discípulos.A oração, entre os judeus, sempre se fazia com o olhar baixo, em sinal de submissão; e Jesus pronunciava o nome de Pai no lugar do Adonai usual entre os conterrâneos. Os olhos, que estavam travados, agora reconheceram o Mestre; mas não puderam gozar da visão por muito tempo, porque a figura que foi seu acompanhante no caminho, agora se desvaneceu. Ele se tornou invisível [afantos] a eles. A palavra grega indica um não ser visto, um desvanecer ou desaparecer. Indica que é assim que nós vamos encontrar o Cristo: desvanecido nas Escrituras, e sem poder ver seu rosto, que pela fé encontramos no partir o pão, como os dois contaram aos onze [que na realidade eram dez] após a volta de Emaús. OS DISCÍPULOS: Então disseram entre si: não estava ardendo nosso coração dentro de nós enquanto falava conosco no caminho e nos abria as Escrituras?(32). E tendo se levantado na mesma hora, voltaram para Jerusalém e encontraram reunidos os onze e os que (estavam) com eles (33). dizendo que ressuscitou o Senhor verdadeiramente e foi visto por Simão (34). Et dixerunt ad invicem nonne cor nostrum ardens erat in nobis dum loqueretur in via et aperiret nobis scripturas. et surgentes eadem hora regressi sunt in Hierusalem et invenerunt congregatos undecim et eos qui cum ipsis erant dicentes quod surrexit Dominus vere et apparuit Simoni. Somente eram dez mas como Lucas não narra a aparição particular a Tomé, daí que ele o inclua entre os apóstolos e fala dos onze. Quando chegam os de Emaús que particularmente não pertenciam aos onze, encontram junto com estes, outros discípulos congregados e falando de que realmente Jesus tinha ressuscitado e tinha sido visto por Simão [Pedro]. Esta aparição é confirmada por Paulo: Apareceu a Cefas e depois aos doze (1 Cor 15, 5). Vemos como aqui também o número 12 é usado como uma relação genérica, sem incluir no caso a Judas e Tomé. SEU TESTEMUNHO: Então eles contaram as coisas no caminho e como foi por eles conhecido ao partir o pão (35). Et ipsi narrabant quae gesta erant in via et quomodo cognoverunt eum in fractione panis. Então eles acrescentaram sua história que, além de vê-lo vivo, continha uma lição de como interpretar as Escrituras. Jesus não olvidava seu ministério de Rabi, como Mestre de seus discípulos. É um fato, que muitos exegetas apresentam como significativo, que Ele fosse reconhecido ao partir o pão. Ele foi pela primeira vez reconhecido como rei após a primeira multiplicação dos pães, quando os abençoou e partiu (Mt 14, 19) e depois mandou que os discípulos os dessem à multidão. Esse foi o momento em que a multidão o declarou como o profeta que deveria vir ao mundo e alguns até queriam torná-lo rei (Jo 6, 14-15). Foi também ao partir o pão que Ele foi reconhecido pelos dois discípulos. PISTAS: 1) A pergunta inicial: Por que a vida é sempre vencida pela morte? Por que o mal sempre triunfa do bem? O Pai abandona o Filho Jesus, ou este era simplesmente um impostor? Essencialmente as perguntas que se faziam os dois discípulos eram estas. Jesus não usa o raciocínio humano para responder, mas os escritos sagrados. Sem Jesus, as Escrituras não têm mais sentido que o dado pela comemoração de uma História particular e parcial do povo hebreu. Em Jesus encontraremos a culminação da História e a razão de nossa história porque em Jesus encontramos a justificação de como o mal deve ser vencido pelo bem: pelo sacrifício da própria vida para que, perdendo-a, outros a encontrem e a vivam melhor. 2) S. Agostinho afirma que o Senhor foi conhecido ao partir o pão; e também o conheceremos hoje ao partir o pão: a) O pão da Eucaristia onde o encontramos substancialmente b) O pão repartido entre os necessitados, com os quais ele quis se identificar. 3) A vida, como uma dádiva de Deus, está se tornando uma circunstância para gozar da mesma sem sentido de solidariedade. Os cristãos não param na dádiva, mas no Senhor da mesma e vemos, como sendo Ele amor e ela produto do amor, devemos responder com amor. Ou seja, como entrega e não como posse definitiva. Por isso o padecer temporal é a base para a glória definitiva. 4) Apareceu a Simão: ele era o irmão que devia manter a fé dos irmãos (Lc 22, 32). A contrariedade e o sofrimento nos tornam fracos em nossa fé. Mas é aí onde a fortaleza de Deus se manifesta (2 Cor 12, 10). Os judeus pediam milagres e profecias (Lc 22, 64 e 23, 8) e os romanos poder, porque, quando Pilatos ouviu que Jesus veio a dar testemunho da verdade, o desprezou (Jo 18, 38). Mas é essa verdade que Jesus afirma: o Messias deve sofrer e assim unicamente entrar na glória do seu reino (25). EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova. - Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana. Interpretação errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. Consequências: - O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
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