GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
11.10.2020
OUTUBRO: MÊS DAS MISSÕES
XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM — ANO A
( Verde, Glória, Creio, IV Semana do Saltério )
__ “A festa de casamento está pronta, mas os convidados não foram dignos dela” __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A palavra recorda que O Senhor prepara uma festa eterna à todos, quando não haverá morte, nem lágrimas, nem dores. Para se entrar é preciso obedecer à vontade do dono da casa: o próprio Deus. Rezemos para que não faltem missionários que levem a boa notícia do Evangelho a todos os cantos da terra.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, fomos convidados para o Banquete Eucarístico, memorial da Páscoa de Jesus e sinal permanente do amor de Deus por nós. Aceitamos o convite e aqui estamos para participar desta Ceia que nos alimentará com o pão e vinho de nossa salvação. Agradeçamos ao Bom Pastor que, a cada domingo, nos convida e nos reúne ao redor de sua Mesa Santa para nos nutrir e nos encher da Vida, no seu Espírito. Neste mês missionário, ofereçamos ao Senhor nossos esforços para que a Igreja de São Paulo seja, cada vez mais, testemunha do Evangelho da cidade.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: O tema da "convocação" e da "reunião" universais percorre a Escritura em todos os seus livros e define a experiência tanto de Israel como da Igreja. O povo eleito percebe a unidade como a de uma reunião continuamente provocada pela convocação de Javé. O quadro dessas reuniões é quase sempre cultural e sacrifical e se reporta à grande reunião na qual se concluiu a aliança, e preludia a reunião escatológica universal. Quando os profetas evocam o futuro messiânico, apelam para o tema da assembléia em que Javé reunirá não só as doze tribos de Israel, mas todas as nações da terra. A Igreja é a Assembléia de todas as Nações, pois o desígnio de reunião de todas as nações se realiza em Cristo. A reunião universal se fará em torno do Cristo Crucificado, que ressuscita dos mortos.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, cantemos cânticos jubilosos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Is 25,6-10): - "Este é o nosso Deus, esperamos nele, até que nos salvou; este é o Senhor, nele temos confiado: vamos alegrar-nos e exultar por nos ter salvo"
SALMO RESPONSORIAL 22(23): - "Na casa do Senhor habitarei, eternamente."
SEGUNDA LEITURA (Fl 4,12-14.19-20): - "O meu Deus proverá esplendidamente com sua riqueza a todas as vossas necessidades, em Cristo Jesus. Ao nosso Deus e Pai, a glória pelos séculos dos séculos. Amém."
EVANGELHO (Mt 22,1-14): - "Por que muitos são chamados, e poucos são escolhidos"
Homilia do Diácono José da Cruz – 28º Domingo do Tempo Comum – Ano A
"A hora da Festa..."
Quem é que tem coragem de recusar a um convite para uma festança, feito por uma pessoa muito especial? O churrasco já está no ponto, o chope geladinho e esperando para ser bombado para o copo, a comida especial, regada a iguarias já está nas panelas, cheirando a gostoso, a um canto uma mesinha com aquelas batidas deliciosas, e ainda mais, uma banda musical de primeira já está no palco, a espera da platéia... e como se não bastasse tudo isso, lá pelas tantas vai rolar um bailão que promete varar noite a dentro, e de madrugada será servido um café colonial. "Se perder uma festa assim, vou chorar três dias sem parar" dizia um amigo, naqueles tempos em que a gente dava uma de penetra... e depois se mandava de fininho na hora que a bendita gravata do noivo vinha vindo...
Deus preparou algo de maravilhoso para o ser humano, algo que os olhos jamais contemplaram como nos diz o apóstolo Paulo, nada há neste mundo que possa corresponder à beleza dessa vida plena em Deus. E tudo começou com a encarnação de Jesus Cristo a festança já começou aí... e teve alguns que não entenderam. E olhe que Deus não guardou segredo da surpresa que queria fazer á humanidade, desde o tempo mais antigo já vinha anunciando, dando sinais de que esse tempo chegaria. Os convidados especiais reagiram da pior maneira possível, porque tem mais essa ainda, no começo a Festa não era para todos, só para os privilegiados de Israel, eles foram os primeiros a quem Deus manifestou o seu amor, isso é inegável!
Mas quem diria, no tempo das promessas até que acreditaram, apesar dos percalços, mas quando chegou o tempo da feliz realização, quando a festa iria começar prá valer, uns foram trabalhar no campo, outros foram negociar, e outros mais estressados agrediram os servos e os mataram... E quem pensou que o Dono da Festa ia cancelar tudo, se enganou, se os "bacanas" e os "bonitões" não deram a mínima, o Senhor mandou abrir os portões da sua casa e convidou a todos os que estavam parados pelas esquinas, o convite continua sendo especial, mas agora, basta que o convidado aceite: "Por favor, venham na minha casa comer, beber, dançar, ouvir músicas e se divertir até o amanhecer, tem muita comida e bebida, quero que todos participem da minha alegria, pois meu Filho celebra suas núpcias...
Bom, os novos convidados atenderam rapidinho esse convite tão bom, parecia aquelas liquidação das grandes lojas, o povão invadiu mesmo, e a sala do banquete ficou lotada. Até aqui tudo bem, mas daí no versículo final parece que baixou o mau humor no Patrão, ele flagrou um sujeito que não estava vestido com a veste nupcial, e não só botou o cara prá correr como ainda mandou amarrar o coitado e jogá-lo lá fora na escuridão....E o evangelho conclui, "muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos"
Que negócio é esse? Se o coitado foi convidado em uma esquina, claro que estava vestido meio de qualquer jeito, ninguém falou que os convidados tinham de vestir alguma roupa especial... E parece que o evangelho termina sem graça... Com um final não muito feliz, pelo menos para o sujeito que não estava com a roupa adequada...
Bom; aqui vamos esquecer-nos do sentido literal do texto e da história da Festa, isso é só um modo das comunidades de Mateus refletirem que em Jesus Cristo, Deus chama a todos os homens, sem nenhuma distinção, para virem participar com ele, de uma vida em comunhão, que já começa nessa vida, e que um dia chegará a sua plenitude...Tentar viver uma forma de Cristianismo. que não tenha a Jesus Cristo e seu evangelho, como referência de vida, é dar uma de "bicão" nessa Festa, São Paulo em sua teologia Batismal, chama isso de "REVESTIR-SE do homem novo, revestir-se de Cristo, e sem essa roupa nova que nos transforma em outro Cristo, e que nos configura totalmente a ele, seu jeito de pensar e seu modo de agir, seremos sempre "Penetras" no Reino, e corremos o risco de ficar de fora, justo no melhor da Festa...
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 28º Domingo do Tempo Comum – Ano A
“O banquete do Cordeiro”
Ultimamente tenho indicado muito um livro de Scott Hahn, “O Banquete do Cordeiro – a Missa por um convertido” (Loyola, 2002), no qual o autor explica de maneira bastante envolvente vários aspectos do mistério da santa missa desde uma perspectiva apocalíptica. O livro é muito interessante e descortina várias realidades veladas aos nossos olhos acostumados a ver somente o que se nos mostra patentemente. Entre outras coisas, afirma o autor logo na “introdução”: “insisto que vamos realmente ao céu quando vamos à missa, e isso é verdade a respeito de toda missa de que participamos, independentemente da qualidade da música ou do fervor da homilia. Não é questão de aprender a “ver o lado brilhante” de liturgias desleixadas. Não se trata de adotar uma atitude mais caridosa para com vocalistas desafinados. Trata-se de algo que é objetivamente verdade, algo tão real quando o coração que bate dentro de você. A missa – e quero dizer toda missa – é o céu na terra”.
“Dizei aos convidados que já está preparado o meu banquete (…). Vinde às bodas!” (Mt 22,4). Jesus deixou-nos esse prodígio de amor, que é a eucaristia, para que participemos de suas alegrias eternas. Ele instituiu o sacramento do seu corpo e do seu sangue no contexto de uma ceia e se deu em alimento para que nós, fortalecidos, pudéssemos chegar à glória celestial. Mas a eucaristia não é somente um banquete, nem é um simples banquete. Trata-se de um banquete sacrificial. O Catecismo da Igreja Católica faz essa conexão – eucaristia-ceia – já que o Novo Testamento também o faz: “Jesus expressou de modo supremo a oferta livre de si mesmo na refeição que tomou com os Doze Apóstolos na “noite em que foi entregue” (1 Cor 11,23). Na véspera de sua Paixão, quando ainda estava em liberdade, Jesus fez desta Última Ceia com seus apóstolos o memorial de sua oferta voluntária ao Pai, pela salvação dos homens: “Isto é o meu corpo que é dado por vós” (Lc 22,19). “Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26,28)” (Cat. 610).
Fomos convidados para participar do banquete nupcial do Cordeiro. Quem é esse Cordeiro com letra maiúscula? Explica-nos o evangelista João: “Eu vi no meio do trono, dos quatro Animais e no meio dos Anciãos um Cordeiro de pé, como que imolado” (Ap 5,6). Tinha-se anunciado que o Leão abriria o livro selado (cfr. Ap 5,5), mas aparece um Cordeiro que, efetivamente, pode abrir os sete selos (cfr. Ap 6,1). Aparente contradição! O que tem a ver um leão com um cordeiro? Jesus tem a fortaleza de um leão e a mansidão de um cordeiro. O Cordeiro de Deus, Jesus, aparece “de pé, como que imolado”. Outra aparente contradição! Quem está de pé não está imolado, que está imolado não está de pé; mas, explica-nos a Bíblia de Jerusalém, trata-se do “cordeiro que foi imolado para a salvação do povo eleito (cf. Jo 1,29+; Is 53,7). Ele traz as marcas de seu suplício, mas está de pé, triunfante (cf. At 7,55), vencedor da morte (1,18) e por esta razão (…) senhor de toda a humanidade” (Bíblia de Jerusalém, Ap 5,6, nota z).
O sacrifício do Cordeiro foi oferecido ao Pai, mas também foi oferecido a nós. Pelo poder desse Cordeiro salvador, Jesus, e pela ação do Espírito Santo, atualiza-se em cada missa o mistério da sua Páscoa. Em cada missa nos encontramos com o mistério do Cristo morto e ressuscitado, e, ao encontrar-nos com esses fatos diante de nós, somos transportados à eternidade. Explico-me: o sacrifício de Cristo oferecido ao Pai foi aceito eternamente pelo Pai que o tem sempre diante dos seus olhos. Pois bem, esse mesmo sacrifício que o Pai tem diante de si se nos torna presente em cada santa missa: o céu desce à terra e a terra entra em contato com o céu. Mais ainda, para que a nossa participação seja mais intensa, Deus ofereceu-se em comida, isto é, Jesus na comunhão nos faz participar do banquete que ele mesmo preparou para nós.
Que triste seria se desprezássemos tanto amor de Deus! Como eu participo da santa missa? Desejo, de verdade, que chegue o momento de participar da próxima missa? Procuro ir bem preparado para participar do banquete que o Senhor fez para mim, para a minha salvação e para o fortalecimento do meu apostolado? Encontro na santa missa o centro da minha vida espiritual?
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético — 28º Domingo do Tempo Comum – ANO A
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (Fp 4, 12-14)
A VIDA DE PAULO COMO MINISTRO DO EVANGELHO: Experimentei pois, ser humilhado, experimentei também ter abundância em tudo; e em todas (as circunstâncias) estar iniciado e tanto para estar saciado como para ter fome, tanto para ter abundância como para estar necessitado(12). Scio et humiliari scio et abundare ubique et in omnibus institutus sum et satiari et esurire et abundare et penuriam pati. Paulo considera a sua vida apostólica como um serviço sem remuneração. Por isso, ele viveu tanto na pobreza como na abundância, sem pretender molestar a ninguém. Uma exceção a essa regra foi a conduta dos filipenses, que o ajudaram na sua estadia em Tessalônica. No versículo 10 ele já expôs seu agradecimento. Porém o que lhe impulsa a falar não é puro agradecimento; pois ele, Paulo, sabe viver em necessidade tanto como em abundância. Assim inicia este parágrafo com o grego OIDA [<1492>=scio] é o perfeito do verbo eidö [ver] que pode ser traduzido por conheço, ou sei por ter visto. Temos preferido uma tradução mais literal e, no lugar de ter visto, EXPERIMENTEI como mais apropriado com as circunstâncias em que teve que padecer de tudo: SER HUMILHADO [tapeinousthai <5013>=humliari] infinitivo passivo do verbo tapeinoö com o significado de humilhar, rebaixar, diminuir. O significado é que Paulo experimentou ser anulado e desprezado, talvez aludindo à fofoca de que não era verdadeiro apóstolo (1 Cor 2, 9). TER ABUNDÂNCIA:[perisseuein<4052>=abundare] ou abundar, infinitivo do verbo perisseuö, com o significado de ser extremadamente rico, nadar em abundância como em Rm 3, 7: Mas, se pela minha mentira abundou mais a verdade de Deus para glória sua, ou como em 2 Cor 1, 5: como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo. ESTAR INICIADO [memuënai<3453>=institutus sum] é o particípio passivo do verbo mueö com o significado de ser iniciado em passiva, nos mistérios de uma religião. Talvez a melhor tradução fosse estar treinado ou exercitado o que implica em estar consciente ou saber praticamente do que na continuação escreve: o que é ESTAR SACIADO [chortazesthai<5526>=satiari] tanto como seu oposto TER FOME [peinav<3983>=esurire] também em infinitivo do verbo peinaö, ter fome. TER ABUNDÂNCIA [perisseuein <4052>= abundare] em que Paulo repete o verbo anterior. E finalmente ESTAR NECESSITADO [ystereisthai <5302>=penuriam pati] do verbo ystereö com o significado de chegar tarde, estar excluído; estar falto de, como em Lc 22, 35: Quando vos mandei sem bolsa, alforje, ou sandálias, faltou-vos porventura alguma coisa? Eles responderam: Nada. Paulo aqui repete sua defesa como ministro do apostolado evangélico, mas unicamente com respeito à circunstância monetária, que é uma de suas defesas mais sólida, de que trabalha por amor de Cristo e não é um vulgar aproveitador. Aqui ele repete o que disse aos corintianos: Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa (1 Cor 4, 11). Ele repete essa sua pobreza voluntária em 2 Cor 6, 10: como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo, que amplia em 11, 27 da mesma carta: Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez. Logo ele dirá em 1 Cor 9, 18: que prêmio tenho? Que, evangelizando, proponha de graça o evangelho de Cristo para não abusar do meu poder no evangelho. Tudo porque eu de nenhuma destas coisas [materiais como dinheiro e alojamento, benefícios etc] usei, e não escrevi isto para que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, do que alguém fazer vã esta minha glória.
SUA FORÇA: Todas as coisas posso em quem me dá força, Cristo(13). Omnia possum in eo qui me confortat. Unicamente sofreu todas essas penalidades REFORÇADO [endynamounti <1743>=confortat] pela energia que lhe emprestou Cristo. Paulo, na sua debilidade, rogou ao Senhor e este lhe respondeu: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza (2 Cor 12, 9), de modo que, como disse Jesus, Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer (Jo 15, 5).
COMPARTICIPANTES: Todavia, bem fizestes, sendo comparticipantes de minha tribulação (14). Verumtamen bene fecistis communicantes tribulationi meae. Alude com isto a Epafrodito que foi enviado pelos filipenses para prover às necessidades de Paulo no xadrez (Fl 2, 25), como uma participação nas minhas prisões (Fl 1,17). Paulo dava bens espirituais às igrejas por ele fundadas e era oposto a receber delas bens materiais para não se tornar em obstáculo à difusão do evangelho, como se este fosse um comércio. Porém, houve algumas exceções como foi a dos filipenses, de cuja boa ação, quando Paulo estava em Corinto, temos constância em 2 Cor 11, 8-9: Outras igrejas despojei eu para vos servir, recebendo delas salário; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado porque os irmãos que vieram da Macedônia [terra dos filipenses] é que me socorreram dando-me o que faltava. Não vos quis ser pesado, nem o quero vir a ser. Diante do passado e frente às ajudas presentes, Paulo confessa que os filipenses são participantes de sua tribulação.
DEUS PAGARÁ: Mas o meu Deus preencherá toda vossa necessidade, segundo a sua riqueza, em glória em Cristo Jesus (19). Deus autem meus impleat omne desiderium vestrum secundum divitias suas in gloria in Christo Iesu. Nas atuais circunstâncias, Paulo não tem como pagar pessoalmente e por isso apela à bondade de Deus que não deixa sem prêmio um copo d’água fria, dado a um de seus discípulos (Mt 10, 42). O prêmio [misthos] é que Deus pagará com abundância as necessidades dos filipenses, pois é um Deus de riqueza e pode fazê-lo para a glória de Cristo, porque Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam (Sl 24, 1). Já que como escreve aos de Corinto, Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra (2 Cor 9, 8). Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder, pelo seu Espírito, no homem interior (Ef 3, 16). E é aí onde se manifesta precisamente a glória de Cristo; pois o Reino está em que a vontade de Deus seja feita na terra como é feita no céu (Mt 6, 10).
DOXOLOGIA: Ao Deus e nosso Pai a glória para os séculos dos séculos. Amém (20). Deo autem et Patri nostro gloria in saecula saeculorum amen. Esta é uma louvação com a qual Paulo adorna suas cartas. Exemplos: Ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo, para todo o sempre. Amém (Rm 16, 27) e ao qual seja dada glória para todo o sempre. Amém (Gl 1, 5). GLÓRIA [doxa<139>=gloria] entre os semitas designa o valor real de uma coisa ou pessoa. Valor que pode estar nas riquezas, no valor social, no poder e influência, na beleza. Daí que seja patrimônio especial do rei. Mas a glória humana é frágil e caduca. Só a glória de Deus é consistente e eterna, pois se identifica com seu próprio ser e atributos: poder, sabedoria, beleza, fidelidade, misericórdia. Como diz Paulo em Rm 1, 23: Em vez de darem glória ao Deus imortal, adoraram imagens do homem mortal e até adoraram imagens de aves, serpentes e outros animais. Paulo fala das riquezas de sua glória (3, 16) e da força de sua glória (Cl 1, 11). Esta glória do Pai se torna presente em Jesus, especialmente na sua Transfiguração (viram a sua glória – Pd 9, 32). Esse Jesus, que seria luz das nações e glória de seu povo Israel (Lc 2, 32) que manifestou sua glória [poder divino] através de seus milagres (Jo 2, 11). Mas especialmente na sua ressurreição: Não era necessário que Cristo sofresse tudo isso para entrar em sua glória? (Lc 24, 26). E de modo especial, no advento final como Senhor de todo o Universo: o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras (Mt 16, 27). Como vemos, especialmente a glória de Deus é a sua majestade que está acima de todo poder e influência humana. Deus, Senhor do Universo, tem uma sublimidade sobre toda criatura que deve ser reconhecida como transcendência de poder e mando. OS SÉCULOS DOS SÉCULOS: a frase eis ton aiöna significa para sempre, como em Jo 6, 51 promete Jesus: se alguém comer deste pão viverá para sempre. Frase que pode ser no plural: eis tous aiönnas, e que, em redundância, pode tomar a forma de eis tous aiönas tön aiönön (Hb 13, 21). A tradução latina, in saecula saeculorum, toma o grego aiön no seu sentido literal primário: um tempo muito longo que o latim traduz como século quando talvez seria melhor traduzir por era, época, ou idade. AMÉM do hebraico, com o significado de certamente, em verdade vos digo (Mt 5, 18) ou assim seja se tu bendizeres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de indouto, o Amém, [assim seja] sobre a tua ação de graças, visto que não sabe o que dizes ? (1 Cor 14,16).
EVANGELHO (Mt 22, 1-14)
Lugar paralelo Lc 14, 15-24
O BANQUETE E OS CONVIVAS
INTRODUÇÃO: Se a parábola do domingo anterior, dos vinhateiros homicidas, se refere ao passado histórico, esta de hoje, narra um presente real. O reino já atuante [Lc 17, 21] é traduzido como um convite de Bodas Reais, ao qual é chamado o antigo Israel. As bodas são do filho do rei, ou seja, as mais importantes de todas as bodas e que devem receber consequentemente prioridade nas respostas. Já o fato da recusa constitui um grande despropósito, por não dizer falta de consideração imperdoável. Porém o trato dado aos emissários do Rei aumenta a culpabilidade dos convidados. À parte o fato da falta de atenção aos requerimentos, feitos pessoal e diretamente, muitos dos criados do rei foram ridiculamente desprezados e outros até arrogantemente assassinados (6). Lucas, no lugar paralelo, rebaixa um pouco o tom da parábola ao substituir o rei por um homem [anthropos] e as bodas por um banquete formal (16). Os numerosos escravos são reduzidos a um só, e as escusas parecem óbvias do ponto de vista dos que rejeitam o convite (18-21). Com tudo isso, a parábola em Lucas perde o estilo alegorizante de Mateus para reduzi-la a uma comparação em que unicamente interessam os últimos parágrafos (23-24).
AS BODAS DO FILHO: E, tendo respondido, Jesus novamente falou-lhes em parábolas, dizendo (1). Assemelha-se o Reino dos céus, a um homem rei que fez festas de bodas a seu filho. Et respondens Iesus dixit iterum in parabolis eis dicens. Simile factum est regnum caelorum homini regi qui fecit nuptias filio suo. O grego fala de GAMOUS, acusativo plural de gamos que significa matrimônio, boda, e em plural, festas de boda. Acostumavam durar estas festas uma semana. Tomando a parábola em grande parte como alegoria, sabemos que as bodas eram um símbolo da união entre Jahweh e Israel. Para os profetas bíblicos, a eleição/aliança entre Deus e Israel comporta uma união tão íntima e profunda, que para expressá-la não encontram outra imagem melhor que a do matrimônio. Vejamos alguns trechos do AT. Lemos em Isaías: Teu esposo serás tu criador cujo nome é Senhor Todo-poderoso, teu redentor o Santo de Israel que se denomina Deus de toda a terra. Sim, como a uma mulher abandonada e desolada, Jahweh te chamou. A esposa tomada na juventude pode ser rejeitada? (54, 5-6). E numa outra página: Como um jovem desposa uma virgem, assim te desposará o teu edificador (62, 5). Ezequiel: Comprometi-me contigo por juramento e fiz aliança contigo e tu te tornaste minha.- Oráculo do Senhor (16, 8). Oseias: Sim naquele dia – diz o Senhor – ela me chamará marido meu e não me chamará Baal [senhor] meu (2, 18). Eu te desposarei a mim para sempre; eu te desposarei a mim na justiça e no direito, no amor e na ternura. Eu te desposarei a mim na fidelidade e conhecerás a Jahweh (2, 21-22). Está claro que no AT existia uma relação Deus-povo que os profetas assimilavam a um casamento. Mas no NT comemoramos um novo casamento que é o do Verbo com o homem Jesus: serão uma só carne (Gn 2, 27). Poderemos aplicar o dito à Encarnação em que a divindade toma como própria a humanidade de Jesus de Nazaré numa união tão íntima que a Igreja chamou de pessoal, de modo que os atos humanos são atos, que podemos chamar assumidos pela divindade. Não é só a palavra, como nos profetas, que provém de Deus como última causa, mas é toda a vida de um homem que, ligada à divindade, está sob a atuação última de Deus, não só como criador, mas também como sujeito da ação constante por Jesus efetuada. De modo que podemos dizer que tudo o que por Jesus é feito é o Verbo quem o faz e tudo que a Jesus é feito é ao Verbo que fazemos. Matrimônio também de Jesus-Igreja, entendida a Igreja como o conjunto dos discípulos que em Jesus encontram o Mestre e Senhor. Vejamos os textos do Novo Testamento. O esposo era Jesus, como Cristo, segundo Mateus 9, 15: Por acaso podem os amigos do noivo estar de luto, quando o noivo está com eles? Logicamente os amigos são os discípulos e o noivo é o próprio Jesus. Já no início dirá o Batista sobre Jesus: Quem tem a esposa é o esposo [Jesus], mas o amigo do esposo [João] que está presente e ouve, é tomado de alegria à voz do esposo (Jo 3, 29). Mas muito mais diretamente dirá Paulo aos de Corinto: Desposei-vos a um esposo a quem devo apresentar-vos como virgem pura (2 Cor 11, 2). E finalmente no último livro, no Apocalipse, como confirmação do trecho de hoje, temos: Alegremo-nos e exultemos, demos glória a Deus, porque estão para realizar-se as núpcias do cordeiro, e sua esposa já está pronta (Ap 19, 7) O anjo me disse: Felizes aqueles que foram convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro (Ap 19 9). Essas núpcias simbolizam o estabelecimento definitivo do reino, nos céus, já iniciado na terra com a vida de Jesus. Como vemos por Paulo em Coríntios 2, os desposados são cada um dos fiéis que prometem fidelidade a Cristo, e não unicamente a Igreja como sociedade fiel à sua doutrina. E a melhor maneira do desposório cristão é o sacramento da Eucaristia em que os dois serão uma só carne (Gn 2, 24) e do qual Jesus dirá: Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna… Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue é verdadeiramente uma bebida (Jo 6, 33-36). Este banquete não é só de Jesus como esposo, mas também como cordeiro pascal que é comido. Daí o rito da Eucaristia ser iniciado, precisamente, na ceia do cordeiro pascal como rito judaico, ao qual substituem o corpo e o sangue de Cristo, realmente comida e bebida, segundo acabamos de anotar. Uma nota importante é que os judeus distinguiam os esponsais das bodas propriamente ditas. Nestas últimas, o encarregado de preparar o banquete e de cobrir os gastos era o pai do noivo (Mishná Shebiit 7, 4), tal e qual vemos na parábola. A parábola está relacionada com a dos vinhateiros do domingo anterior. O banquete era, desde tempos antigos, a maneira de festejar uma data religiosa [as três grandes festas eram celebradas com banquetes], ou um acontecimento social [aniversários como o de Herodes em Mc 6, 21, ou casamentos em Jo 2, 2]. O banquete tinha como prato principal uma refeição na base de reses cevadas (Mt 22, 4 e Lc 15, 23) e como bebida vinhos velhos. Assim Isaías 25, 6: O Senhor dos exércitos dará neste monte a todos os povos um banquete de carnes gordas, um banquete de vinhos velhos [finos traduzem outros], pratos gordurosos com tutanos e vinhos velhos bem classificados. Sem dúvida que foi este banquete a base de nossa parábola. Os tempos messiânicos são, pois, tempos de boda real, pois Jahweh casa seu filho com a humanidade tal como fez na Encarnação.
OS SERVOS (3 e 4): E enviou seus escravos a chamar seus convidados para as festas de bodas; não quiseram vir (3). De novo enviou outros escravos, dizendo: dizei aos convidados: Eis que minha janta [banquete] preparei. Meus bois e meus cevados [animais] têm sido mortos e todas as coisas estão preparadas. Vinde a minhas festas de boda (4). Et misit servos suos vocare invitatos ad nuptias et nolebant venire. Iterum misit alios servos dicens dicite invitatis ecce prandium meum paravi tauri mei et altilia occisa et omnia parata venite ad nuptias. Foram enviados em duas levas diferentes, pois os convites eram dados em duplicata. Primeiro um convite, e logo um segundo, para estar seguros da presença do convidado. Evidentemente os servos eram os profetas. Temos as palavras de Isaías (41,8) em que vemos que todo o povo de Israel era considerado como servo: Mas tu Israel, servo meu, tu Jacó a quem elegi descendente de Abraão, meu amigo. Porém como enviados, não como acolhidos ou escolhidos, os verdadeiros servos são os profetas, segundo Jeremias 7, 25: Desde o dia em que vossos pais saíram da terra do Egito até hoje, enviei-vos todos os meus servos, os profetas, todos os dias, começando de madrugada, eu os enviei. O versículo é esclarecedor no que diz respeito ao evangelho de hoje e também ao dos operários da vinha. Quais foram os primeiros e quais os segundos enviados? As duas levas respondem aos profetas do AT de modo especial ao de João, o Batista, que começou declarando o Reino está à vista (Mt 3,2) enviado como mensageiro segundo Marcos (1, 2). Como segunda leva temos o próprio Jesus e seus apóstolos a quem Jesus enviou em missão (Mt 10, 1; Mc 3, 13 e Lc 9, 2). Tanto num caso como noutro os convivas não aceitaram o banquete. Na parábola anterior dos vinhateiros homicidas demos uma reposta ampla a esta pergunta. (Mt 21, 33-43). Eram os Keklëmenoi [os chamados] inclusive nome por nome, como o texto grego indica com seu significado. As línguas modernas traduzem por convidados ou invitados. Quem eram eles? Evidentemente era o povo judeu, representado pelos seus dirigentes. Deduzimos isto pelo próprio comentário de Jesus sobre a conduta dos fariseus e escribas: Não entrais nem deixais entrar os que querem fazê-lo (Mt 23, 13).
OS CONVIVAS (5,6): Eles, pois, tendo desatendido, foram um a seu próprio campo, e um outro a seu comércio (5). Porém o resto, agarrando os escravos dele, (os) maltrataram e (os) mataram (6). Illi autem neglexerunt et abierunt alius in villam suam alius vero ad negotiationem suam. Reliqui vero tenuerunt servos eius et contumelia adfectos occiderunt. Os fatos, ajustando-nos ao tempo histórico de Jesus, dão a razão ao desenvolvimento da parábola: João, o primeiro arauto do Reino, foi decapitado pelo tetrarca da Galileia e os chefes dos sacerdotes e os anciãos não reconheceram sua função profética (Mt 21, 27 e 32). O próprio Jesus, em cuja pessoa radicava o Reino, foi rejeitado e morto por instigação dos dirigentes, o Grande Sinédrio (Mt 29, 16-19). Os discípulos também foram perseguidos, como Estêvão e Santiago o Maior e até Pedro que se livrou de modo especial da morte (At cap 12).
O CASTIGO (7): Tendo, portanto, ouvido o rei irritou-se; e tendo enviado seus guardas, destruiu aqueles assassinos e incendiou sua cidade (7). Rex autem cum audisset iratus est et missis exercitibus suis perdidit homicidas illos et civitatem illorum succendit. Ao saber o Rei como foram tratados os seus servos, montou em cólera e enviando os soldados, na realidade, tropas ou guardas, seria a tradução melhor de strateuma, destruiu aqueles homicidas e queimou a sua cidade. Jesus descreve o castigo brutal que era devido a uma cidade rebelde, segundo os costumes da época. Os homens eram mortos ou escravizados. A cidade era entregue às chamas. Evidentemente é o que aconteceu com Jerusalém diante da qual Jesus chorou, exclamando: Deitarão por terra a ti e a teus filhos no meio de ti, e não deixarás de ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste o tempo em que foste visitada (Lc 18, 44).
SEGUNDOS INVITADOS (8-9): Então disse a seus servos (escravos): O banquete de boda está preparado. Os convivas não foram dignos (8). Portanto ide às saídas dos caminhos e chamai a quantos encontrardes para as bodas (9). SERVOS: O grego usa o douloi que é a palavra para escravo e que o latim expressa como servi com um significado mais amplo, podendo ser traduzida por criados. SAÍDAS: Temos traduzido saídas quando a versão portuguesa traduz por encruzilhadas, tradução que não se entende bem. Somente a tradução francesa sorties de la ville [saídas da cidade] nos dá uma tradução que se assemelha à da vulgata latina: exitus viarum, tradução bastante exata do grego [diexodous tön ‘odön = saídas das ruas, onde a roça começa], Quer dizer que saíram fora da cidade, pelos caminhos, para buscar novos convivas. Tendo em conta que estamos dentro de uma alegoria, podemos pensar que a cidade representa o povo escolhido de Israel e os caminhos, povos não israelitas, fora do pacto antigo da Aliança. Agora o convite é dado a todos, uma vez que os primeiros e a sua cidade foram destruídos. Não existem mais diferenças entre os antigos convidados e os novos escolhidos. Pois o banquete está ainda esperando e preparado.
MAUS E BONS (10): E tendo saído aqueles escravos aos caminhos reuniram todos os que acharam, tanto maus como bons e encheu-se a festa de bodas de comensais (de reclinados) (10).TODOS: A expressão, bons e maus, indica que não é a justiça ou a santidade de costumes, nem o mérito de uma vida virtuosa mas todos são chamados sem distinção; e todos podem entrar no banquete. Basta não recusar o convite e atender ao chamado. No lugar paralelo de Lucas serão os pobres, os aleijados, cegos e coxos das praças e das ruas. Eram estes os lugares em que os incapacitados do tempo pediam esmolas que era a única maneira deles ganharem a vida. Cegos, aleijados e coxos eram considerados pecadores e afastados de Deus como gente impura e castigada pelos pecados próprios ou de seus pais. (Jo 9, 2). E a pobreza era a maior maldição de Javé.
A VESTE NUPCIAL (11): Tendo entrado, então, o Rei a ver os reclinados à mesa, viu ali um homem não trajado com a veste de bodas (11). Intravit autem rex ut videret discumbentes et vidit ibi hominem non vestitum veste nuptiali. Esta parte é própria de Mateus. É o rei [basileos] que entra na sala do banquete para ver os deitados à mesa e descobre um dos participantes sem a veste de bodas [veste nuptiali do latim]. A palavra endyma significa a roupa externa. Não se exigia um vestido especial para as bodas; bastava que estivesse limpo. Será que como mendigo não trocou suas vestes sujas e pensou que era suficiente assim mesmo para entrar na sala e participar do banquete? Nesse caso teremos um dos maus convivas que não quer mudar de atitude e consequentemente continua a ser mau? É uma suposição, porque a parábola nada diz a respeito. Só temos uma resposta apropriada nas cartas de Paulo, especialmente na escrita aos colossenses: Revestistes-vos [endysamenoi] do novo homem que se refaz para o conhecimento e a imagem de quem o criou (Cl 3, 10). E a continuação explica qual deve ser esse revestimento: Revesti-vos [endysasthe], pois, como eleitos [ekletoi] de Deus, consagrados e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência. Diante das explicações dos biblistas, nem sempre afortunadas, preferimos deixar a palavra hermenêutica a Paulo, que é a palavra do mesmo Espírito que dirige toda a Escritura. Temos escrito em negrito as palavras correspondentes à eleição e ao vestido novo que têm exatamente a mesma raiz que as do grego da parábola que estamos explicando. Só temos uma outra passagem em Apocalipse 19, 8 em que a esposa do cordeiro ao realizar as núpcias foi-lhe dado vestir-se de linho finíssimo resplandecente que são os atos de justiça dos santos. Evidentemente o vestido não é dos convivas, mas da esposa. Porém ela representa os santos ou consagrados e seu vestido representa os atos de honestidade [dikaiomata] que são as boas obras ou atos de probidade, de retidão.
AMIGO (12): Então diz-lhe: Companheiro, como entrastes aqui não tendo veste nupcial? Mas ele ficou calado (12). Et ait illi amice quomodo huc intrasti non habens vestem nuptialem at ille obmutuit. COMPANHEIRO: A palavra usada é Etaire, a mesma que usou Jesus quando recebeu o beijo de Judas no Getsêmani (Mt 26, 50). Era a palavra com a qual um general se dirigia aos seus subordinados: camarada, companheiro, sócio, colega mais do que amigo. Num sentido mais íntimo e restrito seria amigo. Como entraste aqui sem veste nupcial? E ele ficou sem palavra.
OS SERVIDORES (13): Então disse o rei aos serventes: Tendo amarrado seus pés e mãos, agarrai-o e lançai na escuridão de fora. Lá será o choro e o ranger dos dentes (13). Tunc dixit rex ministris ligatis pedibus eius et manibus mittite eum in tenebras exteriores ibi erit fletus et stridor dentium. SERVENTES: há uma diferença entre os servos ou escravos [douloi] que recrutam os novos convidados e os serventes [diakonoi] aos quais agora entrega o culpado, como se fosse um criminoso, atado de pés e mãos. Era assim que os prisioneiros entravam no xadrez. E manda que o joguem fora da sala do banquete. TREVAS, CHORO E RANGER DE DENTES. As trevas se compreendem, porque os banquetes se realizavam à noite e, saindo da sala, só se podia encontrar um mundo sem iluminação e consequentemente sem luz alguma. As trevas eram o reino do maligno (Lc 22, 35) e Jesus se apresenta como a luz que veio iluminar os gentios (Lc 1, 79), luz que servirá como base do julgamento (Jo 3, 19), porque sendo as obras dos homens más, as trevas foram mais amadas do que a luz. O choro e o ranger de dentes é próprio de Mateus, (6 vezes) e uma só em Lucas (13, 28). A frase está mal traduzida como choro e ranger de dentes quando devia ser: o choro e o ranger de dentes, como indicando uma situação bem conhecida dos leitores: esse choro e esse ranger que todos conhecem pelas Escrituras como castigo. O choro e o ranger de dentes é uma frase típica que sai em boca de Jesus como castigo e que exige uma explicação. O choro é uma lamentação por um fato de consequências nefastas ou uma perda irreparável. O ranger de dentes, como vemos nos diversos textos do AT, significa uma grande animosidade. O objeto é o inimigo (Jó 16, 9), a causa é a raiva (Sl 112, 10) e a demonstração é o ranger de dentes, acompanhado pelo assobio, o insulto e a maldição (Lm 2, 16). Tanto o pranto como o ranger de dentes terão sua máxima manifestação na Geenna ou na fornalha de fogo, dos réprobos do além (Mt 13, 50 e Lc 13, 28). Assim o choro, ou lamento é a expressão de grande aflição; e o ranger de dentes indica a fúria e a raiva de uma grande animosidade.
A SENTENÇA (14): Porque muitos são chamados, poucos, porém, escolhidos (14).Multi autem sunt vocati pauci vero electi. Unicamente em três ocasiões temos kletoi [chamados] junto a ekletoi [escolhidos]: Mateus 20, 16 como conclusão de alguns manuscritos da parábola dos assalariados da vinha; Mt 22,14 no trecho de hoje; e finalmente em Ap 17, 14 chamados e escolhidos e fiéis que vencerão com o Senhor dos senhores e Rei dos céus. A diferença entre chamados e escolhidos é dada por Paulo: Ele foi chamado para o apostolado (Rm 1,1) e todos os romanos foram chamados de Jesus Cristo (Rm 1,6), dos quais Paulo dirá serem chamados segundo sua [de Deus] intenção (Rm 8, 28). Finalmente, no Apocalipse temos que vencerão junto com o Cordeiro os chamados e eleitos e fiéis. Como vemos, a noção de eleitos está unido à fidelidade. Como explicamos no texto, no parágrafo da Veste Nupcial, o conhecimento do Verdadeiro Deus como Criador, é o primeiro vestido do novo homem e como virtudes essenciais a misericórdia, a bondade, a humildade, a mansidão e a paciência. Todas elas não precisam de grande fortaleza e de excelsas determinações, mas estão magnificamente acompanhadas desse espírito de pobreza que é necessário para entrar no Reino.
PISTAS: 1) Há duas partes na parábola, que devemos distinguir e diferenciar, para entendê-la melhor: a primeira é sobre a rejeição dos judeus, especialmente de seus dirigentes, que ainda perdura, como referência atual [o holocausto] de que as palavras de Jesus têm força total: Nenhum dos convivas provará meu jantar (Lc 13, 24).
2a) A segunda: No reino haverá sempre pessoas indignas, a mistura do joio com o trigo do capítulo 13 de Mateus. Nem todos terão a veste limpa que era exigida nas bodas, que significa que a bondade deve ser a marca dos convivas novos, como também é a marca de Deus. Pois essa bondade divina nos atinge não só como um exemplo a imitar, mas também como um mandato a cumprir. Por isso dirá Jesus: sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso (Lc 6, 36).
3) Talvez, a melhor explicação sobre a veste nupcial seja a dada por Paulo em 1 Cor 6, 9 sobre os herdeiros do reino, aqueles que entraram, mas não podem permanecer no mesmo: Nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os pederastas, nem os ladrões, nem os gananciosos, nem os beberrões, nem os caluniadores, nem os rapaces herdarão o reino de Deus.
4) Outra passagem que não podemos esquecer é a que vimos anteriormente sobre os eleitos do Cordeiro. O amor está como motor último dessas virtudes que alguns chamam passivas, mas que exigem uma fortaleza inusitada. Com elas imitamos a Deus rico em misericórdia (Ef 2, 4) e o Verbo que, sendo rico, se despojou da glória de sua divindade, mostrando a humilde condição humana; e humilhou-se, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz (Fp 2, 6-8).
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
04.10.2020
OUTUBRO: MÊS DAS MISSÕES
27º Domingo do Tempo Comum — ANO A
( VERDE, GLÓRIA, CREIO – III SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Por isso eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos" __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Iniciamos o mês missionário refletindo sobre nossa participação na edificação do Reino de Deus. Somos humildes trabalhadores na vinha do Senhor, Ele confia aos discípulos a missão de produzir abundantes frutos de justiça e santidade.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo! Somos a Igreja de Deus, a Vinha amada do Senhor aqui reunida para a Eucaristia. Somos a Vinha por vezes ameaçada de devastação, seja pela perseguição por causa do anúncio do Reino, seja pelos nossos próprios pecados, que azedam os frutos que deveriam ser doces! Pouco a pouco, aproxima-se o fim do ano litúrgico e o Senhor faz ressoar seu forte convite para que nos convertamos e assim possamos produzir frutos em nossa vida! Coloquemos no altar do Senhor todo esforço da Igreja para viver sua vocação missionária.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A alegoria da vinha inaugura o tema das núpcias de Javé com Israel, tema que voltará frequentemente na literatura bíblica. Às vezes, Israel é designado como vinha, outras vezes, como a esposa acariciada e depois repudiada. Nesse cântico de Iasaías, as duas linhas se misturam perfeitamente, através de uma como que superposição de imagens. A intervenção do profeta lembra o papel do amigo do esposo. A figura da vinha, como aliás a da esposa, se tornam como que um exemplo da história da salvação, do modo de agir de Deus perante seu povo e o mundo inteiro. O amor de Deus pelos homens se revela de modo dramático, mas por fim é sempre o amor que triunfa sobre a recusa e a infidelidade do homem.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, entoemos cânticos jubilosos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Is 5,1-7): - "...eu esperava deles frutos de justiça – e eis injustiça; esperava obras de bondade – e eis iniqüidade."
SALMO RESPONSORIAL 79(80): - "A vinha do Senhor é a casa de Israel."
SEGUNDA LEITURA (Fl 4,6-9): - "Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças."
EVANGELHO (Mt 21,33-43): - "A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos."
Homilia do Diácono José da Cruz – 27º Domingo do Tempo Comum – Ano A
"OS FRUTOS DA VINHA"
Recorro a lembranças da minha adolescência ao iniciar esta reflexão, tínhamos no fundo do quintal um belo caramanchão de maracujá que meu pai zelava com carinho, lembro que as flores muito bonitas e perfumosas, pareciam os cravos com que Jesus foi crucificado. Na época dos frutos nos deliciávamos com o suco que era uma gostosura e isso sem contar com a sombra fresca em dia de muito calor, onde tínhamos um velho banco de madeira sendo o local preferido para um descanso ou uma leitura.
Lendo esse evangelho e lembrando-se do meu pai, nas manhãs de verão, cavocando, podando, fazendo limpeza nas folhas do maracujeiro, reflito que é isso que Deus espera de cada um a quem, através do seu Filho, confiou a missão de cuidar do seu reino no meio dos homens. A liderança religiosa daquele tempo se esquivava dessa missão, e ainda aproveitava-se dela, para levar vantagem, isso é como se tivéssemos no quintal um maracujeiro, que nos desse flores, folhas, sombra e frutos, sem que lhe déssemos qualquer atenção. Benefício sem dar nada em troca chama-se exploração.
É um pouco isso que acontece nos chamados crimes ambientais, onde o homem explora a natureza, tira dela todo lucro possível, e nada faz para restaurar a perda, daquilo que consumiu. Jesus confiou à igreja a missão de anunciar, e ser expressão do Reino de Deus, ele a arrendou, para que todos os batizados tomassem conta dela, cuidassem com carinho e produzisse os frutos que o mundo precisa.
A comunidade é essa vinha, como igreja ela é sinal e expressão do reino de Deus, a parábola fala que os vinhateiros homicidas, não só negaram dar os frutos aos enviados pelo proprietário, como também foram violentos para com eles, e quando acolheram acolherem o Filho, o fizeram com a intenção de matá-lo para se apossar da sua herança. “Em nossas comunidades cristãs, não espancamos ninguém, e muito menos matamos quem quer que seja” devem estar pensando os leitores, míngüem na comunidade quer apossar-se de algo que pertence a outro. Será que não?
Mas dá para se pensar que, matar alguém, nem sempre significa por um fim a sua vida biológica, podemos matar de muitas formas, desprezo, indiferença, preconceito, divisões, intrigas, calúnias, falta de paciência, compreensão, moralismo exagerado com os que erram. Deus confiou-nos a Igreja para que, como aquele maracujeiro do fundo do meu quintal, ela produza frutos doces, dê sombra, acolhendo e abrigando as pessoas, exale o perfume do amor verdadeiro, da retidão e da justiça, para que a comunidade seja um Oasis no meio desse imenso deserto quente e íngreme, que às vezes é a vida das pessoas, por conta de tantos fatores sociais, econômicos e familiares.
Nesse sentido, olhando por esse ângulo, a palavra de Deus nos questiona se em nossas comunidades as pessoas saem saciadas e felizes. Será que, pertencer a comunidade ou ir a nossas celebrações, é para as pessoas motivo de alegria e prazer? E trazendo a reflexão em nível pessoal, será que nós próprios somos uma videira viçosa, onde as pessoas encontram abrigo e refúgio? Nossos frutos são saborosos, as pessoas comentam sobre a doçura deles, ou trazem um azedume que gera maledicência e até reclamação?
Matar o Filho do Dono da vinha, é não anunciá-lo, não testemunhá-lo, esquecer seus ensinamentos e colocar em nossa vida outros valores e tendências ditadas pelo egoísmo. Na sexta feira santa da paixão, uma grande multidão sempre lota as igrejas e acompanha o Cristo morto, a gente se pergunta por que, e nesse evangelho encontramos a resposta, as vezes somos também meio homicidas e anunciamos um Cristo morto, em nome da modernidade, da ciência, da tecnologia, um Cristo morto pelo relativismo, em lugar de ser simples arrendatários muitas vezes nos achamos donos da vinha que é a igreja, é como se o cristianismo fosse apenas uma filosofia de vida, um pensamento e uma ideologia muito bonita, mas que logo é sufocada pelas ideologias que o mundo nos propõe.
O proprietário enviou servos para buscarem os frutos que lhe pertencem, enviou seu próprio Filho que veio para ser acolhido e nos ensinar como produzir os frutos. Estamos em um aprendizado constante com a sua palavra e a eucaristia, temos aulas práticas e o manual de como cuidar da Vinha, que é a Palavra de Deus. Esforcemo-nos para corresponder, e não deixemos que as pragas do pecado destruam ou torne inexpressiva a Vinha do Senhor, pois disso, nós todos, enquanto povo de Deus, iremos um dia prestar contas ao proprietário, que nos confiou sua vinha, seu reino, plantado por Jesus no meio dos homens.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 27º Domingo do Tempo Comum – Ano A
“Agraciados e desgraçados”
A palavra “agraciado” soa bem aos nossos ouvidos, não posso afirmar a mesma coisa do seu antônimo. Mas não se erra ao afirmar-se que des-graçado significa sem-graça. Os lavradores da parábola que nós escutamos eram agraciados: eram dignos da estima do seu senhor que lhes confiara a sua vinha. Mas caíram na desgraça: perderam a vinha e morreram por causa da própria ambição. Grande contradição a da vida daqueles homens: querendo a herança, perderam a vida, perderam até mesmo a possibilidade de ambicionar a herança.
Aqueles lavradores tinham uma ambição desleal. Eles eram invejosos. Não estou falando mal deles, simplesmente tento glosar o que eles mesmos disseram: “eis o herdeiro! Matemo-lo e teremos a sua herança” (Mt 21,38). É fato que os lavradores não suspeitavam duma coisa: o filho queria fazer deles participantes da sua herança. Mas, pobres coitados! Os lavradores, que poderiam ser uns ricos herdeiros por graça do seu senhor, acabariam sendo homicidas e exterminados sem piedade. Eram uns homens miseráveis porque eram egoístas e invejosos. Temos que ter cuidado: poderíamos ser uns desgraçados, inclusive ambicionando coisas boas.
Mais ainda, provavelmente, se tivessem ficado com a herança teriam se matado entre eles, cada um defendendo os próprios “direitos”. Como a estória daqueles três “amigos” que eram assaltantes. Conta-se que na hora de dividir o produto do roubo resolveram “comemorar”. Sendo assim, um deles foi comprar uma garrafa de whisky para fazer a festa. Este, muito esperto, resolve ficar com tudo só para ele e coloca veneno na garrafa para que os outros morram. Enquanto isso os outros dois “amigos” planejam o seguinte: ficar com tudo para eles. Quando chega o que fora comprar o whisky, os outros dois o matam e, para comemorar tomam o whisky… Péssimo resultado! Morreram todos! É fato: quem não sabe partilhar não serve para ter.
A parábola que o Senhor Jesus nos contou no dia de hoje é um resumo de toda a história da salvação com os seus progressos e os seus regressos. Da parte de Deus, ele sempre a fez progredir. No que diz respeito ao ser humano, havia progresso quando ele correspondia à vontade de Deus; regresso, quando as pessoas se rebelavam contra o querer de Deus. Finalmente, “Deus enviou o seu próprio Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei, a fim de remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a sua adoção” (Gl 4,4-5). Desta maneira, o homem pôde corresponder perfeitamente à vontade do Pai. Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, viveu intensamente a vontade do seu Pai do céu.
“Hão de respeitar o meu filho” (Mt 21,37). Mas não! Mas será que hoje em dia se respeita o Filho de Deus que morreu e ressuscitou pela nossa salvação? A ingratidão é uma coisa penosa, machuca o coração e fere os sentimentos mais profundos. Às vezes, a ingratidão é mais dolorosa que um ato de violência física. O Coração do nosso Pai do céu é alvo de constantes ingratidões. Deus nos oferece a felicidade e nós pensamos que as suas exigências santas são como uma espécie de moral de escravos ou de infelizes. Deus oferece o que é bom, o que constrói o ser humano, mas nós continuamos com a “cabeça dura” e o “nariz empinado” querendo construir a própria felicidade à margem de Deus. Dá a impressão que às vezes o homem quer colocar-se no lugar de Deus. O certo é que há várias tentativas de construir um espaço sem Deus, sem religião, sem valores; enfim, um mundo que se encaminharia à destruição por mãos do próprio homem. A pessoa humana é um ser maravilhoso, mas pode transformar-se num pobre desgraçado.
Não estou sendo pessimista se afirmo que se a vinha não está nas mãos de Deus, as uvas apodrecerão os dentes de quem as comer. Isto é, qualquer felicidade que deixa a Deus de fora é uma fantasia. Como poderia ser verdadeiramente feliz alguém que renuncia a algo que lhe é tão próprio como a dimensão religiosa da vida? Como pode alcançar a felicidade alguém que era escravo, foi libertado, mas não quer viver segundo aquilo que é tão próprio do seu ser: a liberdade? Como pode ser feliz alguém que opta por desprezar aquele que quer fazê-lo feliz dando-lhe a herança dos filhos?
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético — 27º Domingo do Tempo Comum – ANO A
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (Fl 4, 6-9)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
SEM ANSIEDADE: Nada vos perturbe, mas em toda oração e petição com ação de graças, vossos pedidos sejam conhecidos por Deus (6). Nihil solliciti sitis sed in omni oratione et obsecratione cum gratiarum actione petitiones vestrae innotescant apud Deum. Paulo escreve da prisão e, não obstante, a recomendação de alegria é própria desta carta. Por isso, termina a primeira parte pedindo: resta, irmãos meus, que vos regozijeis no Senhor (3, 1). A alegria cristã nasce de fontes mais profundas que as alegrias das categorias humanas. É um elemento, esta alegria, integrante da vida de um cristão, pois está formando parte das petições -fazendo sempre com alegria oração por vós em todas as minhas súplicas- e na iminência da morte Paulo tem uma palavra alegre: folgo e me regozijo com todos vós. São os amados e queridos, que constituem, como ele diz, minha alegria e coroa. Nesta carta, Paulo se preocupa de que todos vivam unidos; e para isso recomenda tanto as virtudes cristãs, com o exemplo da humildade de Cristo, como as virtudes humanas que enumera no versículo 8 deste trecho: verdade, honestidade, justiça, pureza. O cristão deve ser perfeito, de modo que os próprios pagãos estimem sua conduta como uma consequência de uma filosofia que nada tem a desejar da dos estóicos e cínicos do momento. Nada vos PERTURBE [merimnatelo<3309>=solliciti sitis] é o imperativo do verbo merimnö com o significado de ter ansiedade, estar preocupado, perturbado, como em Mt 6, 25: Por isso vos digo: Não andeis preocupados quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Entre as diversas recomendações, Paulo em primeiro lugar cita a oração, que não deve ser um pedido de bens materiais ou espirituais, mas antes uma ação de graças. ORAÇÃO [proseuchë <4335>=oratio] é a oração de petição como em Mt 17, 21: esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum. PETIÇÃO [deësis<1162>=obsecratio] com o significado de rogo, súplica, solicitação. O exemplo é Lc 1, 13: Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida. Em grego, temos a simples oração [proseuchë] como ato de devoção e de religiosidade, súplica [deësis] como expressão de uma necessidade pessoal, que pode ser dirigida até a um homem; e finalmente, intercessão [enteuxis] que indica uma conversação filial do homem com Deus, como um filho com seu pai. Sai duas vezes em 1Tm 2.1.: Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações [deëseis= obsecrationes], orações [proseuchas=orationes, intercessões [enteuxeis = postulatones], e ações de graças, por todos os homens. Na outra vez que enteuxis sai é em 1Tm 4,5 em que enteuxis está unida a palavra [logos] de Deus: Porque pela palavra de Deus e pela oração [enteusis] é santificada. PEDIDOS [aitëmata<156>=petitiones] em grego, uma demanda, uma solicitação, um pedido formal como em Lc 23, 24: Pilatos julgou que devia fazer o que eles demandavam.
A PAZ: E a paz de Deus a que supera todo entendimento, guardará vossos corações e vossas mentes em Cristo Jesus (7). Et pax Dei quae exsuperat omnem sensum custodiat corda vestra et intellegentias vestras in Christo Iesu. A PAZ [eirënë<1515>=pax] de Deus é diferente da paz humana. É a bênção divina que traz descanso, esperança de salvação e felicidade a quem se encontra nos braços de Deus como filho amado. Tudo provém de que Cristo é o príncipe da paz e com ela se identifica, pois justificados pela fé, estamos em paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5, 1). GUARDARÁ [frourësei <5432> =custodiat] futuro de froreuö de significado proteger, guardar, conservar, reservar, manter, sustentar e, finalmente, preservar. Paulo usa este verbo em Gl 3, 23: Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. O CORAÇÃO, [kardia<2588>=cordum] segundo o pensar da época era o centro da vida espiritual, fonte dos pensamentos, paixões, desejos, apetites, afetos, propósitos e empenhos. É o Leb do AT. A MENTE [noëma <3540>=intelligentia] a inteligência ou o pensamento. Paulo usa o termo em 2 Cor 3, 14 falando dos judeus: Eles tinham o entendimento fechado. Ainda hoje, quando leem os livros da antiga aliança, esse mesmo véu continua por levantar, pois só com Cristo é que ele desaparece. Diante desta última frase, entendemos que Paulo ensina como pela oração podemos descobrir o verdadeiro sentido da presença de Cristo em nossas vidas.
VALORES DESEJÁVEIS: Do resto, irmãos, quantas são verdade, quantas honestas, quantas justas, quantas puras, quantas agradáveis, quantas dignas de encômio, se algo virtuoso, se algo digno de louvor, essas coisas pensai (8). De cetero fratres quaecumque sunt vera quaecumque pudica quaecumque iusta quaecumque sancta quaecumque amabilia quaecumque bonae famae si qua virtus si qua laus haec cogitate. Uma vez firme a fé em Cristo Jesus, Paulo dirige sua doutrina aos valores humanos que devem adornar todo cristão, que por ser tal, não deixa de ser homem e viver entre os homens e como tal, dele se espera uma conduta irrepreensível. O que é VERDADEIRO [alethë<227>=vera] embora o grego use o plural neutro que o latim respeita, nas línguas vernáculas é melhor usar o singular. Assim diremos: tudo o que é verdadeiro. RESPEITÁVEL [semna <4586> =pudica] coisas dignas, honoráveis, dignas de respeito. JUSTO [dikaia<1342>iusta] também em plural, como coisas conformes à lei. SEM IMPUREZA [agna<53>=sancta] ou limpas e puras. AGRADÁVEL [prosfilë<4375>=amabilia] coisas agradáveis ou amáveis, DIGNO DE APLAUSO [eufëma<2163>=bonae famae] dignas de aprovação, de boa fama. Se existe alguma VIRTUDE [aretë<703>=virtus] no sentido bíblico, poder divino; no sentido humano, conduta excelente que chamamos hoje de virtude. Se alguma coisa é LOUVÁVEL [epainos<1868>=laus] plausível, reconhecível como digna de aplauso. PENSAI [logisesthe<3049>=cogitate] imperativo do verbo logizomai, de significado considerar, avaliar, se propor, intentar, almejar. Paulo, no contato com o mundo, escolhe a verdade e o bem que claramente dominam a conduta da maioria dos homens.
A TRADIÇÃO: As que também aprendestes e recebestes e ouvistes e vistes em mim, essas praticai e o Deus da paz estará convosco (9). Quae et didicistis et accepistis et audistis et vidistis in me haec agite et Deus pacis erit vobiscum. Paulo agora propõe como modelo de vida os seus ensinamentos –aprendestes, recebestes e ouvistes – e a sua conduta pessoal – vistes. APRENDESTES [emathete<3129>=didicistis] do verbo manthanö com o significado de aprender. RECEBESTES [parelabete<3880>=accepistis] é o receber da tradição, transmitido oralmente, como indica pelo OUVISTES [ëkousate<194>=audistis] aoristo do verbo akouö, ouvir. Essas palavras indicam a força da tradição que a Igreja Católica sempre tem proposto como acompanhante da escrita bíblica que é interpretada essencialmente por essa tradição como fonte da exegese da Escritura. Finalmente Paulo apresenta sua vida como modelo, escrevendo VISTES [<eidete>=vidistes] EM MIM. Oxalá todo evangelizador pudesse apresentar sua vida como modelo a ser seguido pelos evangelizados! Não é a primeira vez que Paulo se propõe como modelo. Ver Fl 3, 17: Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam A consequência é que se isso é praticado, o Deus da paz estará com eles. DEUS DA PAZ [‘o Theos tës eirënës] é uma frase que Paulo usa como saudação final em suas cartas. Assim em Rm 15, 33 e 16, 20, 2 Cor 13, 11 e 1 Ts 5, 23. Em 1 Cor 14, 33 podemos ver uma explicação desta frase paulina: Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. Paulo estima a união dos fiéis como um fato extremamente importante, como Jesus pedia ao Pai: E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para Ti. Pai santo guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós (Jo 17, 11). Seguindo, pois, os ensinamentos de Paulo e imitando sua conduta, haverá entre os filipenses união e paz, que Paulo deseja de todo o coração.
EVANGELHO (Mc 12, 1-12; Lc 20, 9-19)
OS ARRENDATÁRIOS INDIGNOS
INTRODUÇÃO: É a terceira parábola de Jesus dirigida contra os representantes da autoridade em Israel (Mt 20, 1-16 [dos trabalhadores da vinha]; 21, 28-32 [dos dois filhos] e 21, 33-43 [esta de hoje]). Na parábola de hoje, com alguns momentos de alegoria, podemos distinguir a razão pela qual foi retirado o Reino aos judeus. Encontramos nela, Jesus como a pedra angular do novo edifício, que será o próximo Reino. Também o particular conceito eclesiológico de Mateus, refletido no versículo 43: o Reino deve dar frutos como a vinha da parábola; do contrário, os dirigentes do mesmo serão reprovados. Daí o traspasso do Reino de Deus como nação escolhida, a um novo povo que, no caso, serão os gentios. A Nova Igreja não terá como fundador Moisés, mas Jesus, que é constituído pedra angular como remate do edifício. A parábola tem rasgos alegóricos e conecta com o canto da vinha da primeira leitura. Esta parábola dos vinhateiros homicidas constitui um compêndio da história da salvação desde a Aliança do Sinai até a pessoa de Cristo, o Filho assassinado pelos arrendatários homicidas fora da cidade. E a vinha que representava o antigo Israel, agora significa o novo Israel, a igreja como Reino de Deus.
OUTRA PARÁBOLA: Escutai outra parábola. Certo homem era dono da casa, que plantou uma vinha e a rodeou com uma cerca e cavou nela um lagar e edificou uma torre e a arrendou a agricultores e ausentou-se (33). aliam parabolam audite homo erat pater familias qui plantavit vineam et sepem circumdedit ei et fodit in ea torcular et aedificavit turrem et locavit eam agricolis et peregre profectus est. OIKODESPOTËS Mateus fala de um homem que era OIKODESPOTËS, ou seja, dono da casa ou como traduz o latim pater famílias; a bíblia de Jerusalém traduz por proprietário. Marcos e Lucas, em lugares paralelos só falam de um certo homem. Nas vezes que esta palavra aparece sempre é para se referir a um chefe de família que tem bens e pode usar os serviços de servos ou empregados. Um verdadeiro proprietário duma casa e de bens que exigem o serviço de empregados. A VINHA: A palavra AMPELON é traduzida por vinha, mas hoje dificilmente entendemos o verdadeiro significado da palavra. Como vemos nos relatos de Marcos e Mateus, o trabalho não se reduzia a plantar, mas também era o de construir uma cerca ou muro, o lagar e a torre de vigilância. Parece que isto não era infrequente na época, pois a vinha era com os olivais, a base da economia de mercado na época. Em Isaías (5, 10), falando da infertilidade da terra por castigo divino, temos: dez jeiras [espaço de terra que uma junta de bois pode arar num dia] da vinha produzirão 45 litros de vinho [uma metreta]. E um coro [450 litros] de sementes só dá um efá [45]. As vinhas eram mais produtivas que os campos de cereais de trigo e cevada. A vinha era símbolo do povo de Israel, cuidado com esmero por Jahweh como vemos no salmo 80, 9: Arrancaste uma vinha do Egito e para transplantá-la expulsaste as nações. Isaías 3, 14, fala dos dirigentes de Israel como sendo não guardadores, mas devastadores da vinha: Vós sois os que consumistes esta vinha; o que roubastes do pobre está em vossa casa. Mas muito mais que essas anteriores citações é importante o início do capítulo V de Isaías, que diz: Vou cantar a meu amado o cântico do meu amigo para a sua vinha. O meu amado tinha uma vinha em uma encosta fértil. Ele cavou-a, removeu a pedra e plantou nela uma vinha de uvas vermelhas. No meio delas construiu uma torre e cavou um lagar. Com isso, esperava que ela produzisse uvas boas, mas só produziu uvas azedas. Agora, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, servi de juízes entre mim e minha vinha. Que me restava ainda fazer à minha vinha que eu não tenha feito? Por que quando eu esperava que ela desse uvas boas, deu apenas uvas azedas? Agora vos farei saber o que vou fazer de minha vinha! Arrancarei a sua cerca para que sirva de pasto. Derrubarei o seu muro para que seja pisada; reduzi-la-ei a um matagal: ela não será mais podada, nem cavada: espinheiros e ervas daninha crescerão no meio dela. Quanto às nuvens, ordenar-lhes-ei que não derramem a sua chuva sobre ela. Pois bem, a vinha de Jahweh dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a sua plantação preciosa. Deles esperava o direito, mas o que produziram foi a transgressão; esperava a justiça, mas o que apareceu foram gritos de desespero. (5,1-7).
O FRUTO: Quando, pois, se aproximou o tempo dos frutos enviou seus escravos aos agricultores para receberem seus frutos (34). Cum autem tempus fructuum adpropinquasset misit servos suos ad agricolas ut acciperent fructus eius. Na vida real, o fruto era recolhido pelo proprietário em dinheiro, após a vindima. Temos o relato de um dono que enviou seu servo para recolher mil denários de uma vinha. A vinha tem como base as vides ou videiras, que são plantas lenhosas e, portanto, muito perduráveis de até 100 anos. Uma nova videira precisa de 3 a 4 anos para dar frutos. Por isso, segundo a lei (Lv 19, 23-25), os frutos dos três primeiros anos serão considerados como frutos de um incircunciso e os frutos do quarto ano serão entregues como primícias, como sagrados, numa festa de louvor a Jahweh. No inverno ela deve ser adubada e também no início da floração deve ser podada tirando sarmentos velhos para não carregar o tronco ou cepa com incrementos que produziriam galhos menos produtivos. Entre os brotos de primavera estão as gemas e filamentos que são apreciados pelo gado caprino e até pelos humanos, como comida esquisita. Os sarmentos são úteis, do ponto de vista de lenha, para um fogo sem fumo e com bastante intensidade calórica. Regiões existem onde esta maneira de fazer churrascos ou assar pimentões é tradicional em terras em que as vinhas constituem cultivos normais. As traduções vernáculas falam de servos [do latim servi], mas o grego douloi deve ser traduzido por escravos, como faz a literal de Green. A espanhola fala de criados. Mas, no tempo de Jesus, os criados das casas ricas eram escravos. Sendo os enviados escravos compreende-se melhor, embora seja injusta, a conduta dos arrendatários.
OS ENVIOS: E os agricultores tendo tomado os escravos dele, a um espancaram e a outro mataram e a outro apedrejaram (35). Et agricolae adprehensis servis eius alium ceciderunt alium occiderunt alium vero lapidaverunt. PRIMEIRO ENVIO: Chegada a hora da colheita, enviou seus escravos [doulos] para receberem os frutos que lhe correspondiam. Os lavradores, agarrando os servos, espancaram um, mataram outro e o terceiro apedrejaram (Mt 34-35). Porém, tanto Marcos (3) como Lucas (10) reduzem o número a um só servo, que foi espancado e despachado vazio. É este um lugar em que Mateus, nem sempre estritamente histórico especialmente nas parábolas, enriquece os ditos de Jesus para transformar a parábola numa alegoria mais em conformidade com os fatos históricos do passado? Como explicarmos essas diferenças que não são essenciais e não mudam a parábola quod ad sensum? Não existe inconveniente num relato em que a ideia central é mantida e até reforçada para melhor entendimento dos leitores. Mas estas diferenças devem ter uma correspondente razão nos escritos dos outros evangelistas. E encontrar a razão dessas diferenças é evidentemente exegese verdadeira. Mas dizer sem motivo que uma narração é trabalho do evangelista e não pertence aos fatos ou ditos de Jesus só porque não concorda com nosso modo ideológico de pensar, isso não é método histórico nem rigor exegético.
SEGUNDO ENVIO: De novo, enviou outros escravos em maior número dos primeiros, e lhes fizeram de modo semelhante (36). Iterum misit alios servos plures prioribus et fecerunt illis similiter. Outros escravos, em maior número, foram tratados do mesmo modo (Mt 36). De novo (Mc), ou em vista disso (Lc) enviou-lhes outro escravo ao qual esbordoaram na cabeça, e insultaram (Mc 4), ou segundo Lucas (11), o espancaram e insultando-o o enviaram vazio.
TERCEIRO ENVIO: Mais tarde, enviou-lhes o seu filho, dizendo: respeitarão meu filho (37). Porém os agricultores, tendo visto o filho, disseram entre eles: este é o herdeiro. Vamos, matemo-lo e possuiremos a herdade dele (38). E, tendo o agarrado, jogaram fora da vinha e o mataram (39). Novissime autem misit ad eos filium suum dicens verebuntur filium meum. Agricolae autem videntes filium dixerunt intra se hic est heres venite occidamus eum et habebimus hereditatem eius, et adprehensum eum eiecerunt extra vineam et occiderunt. Marcos dirá que o terceiro envio foi depois de outros muitos, e a uns espancaram e a outros mataram (12, 5). Lucas limita o número do terceiro a um só indivíduo (20, 17) e eles, após feri-lo, o arrojaram. Como vemos, não existe uma ordem clara nos envios e nos tratamentos dos servos pelos arrendatários. É o que parece ser produto da redação dos diversos evangelistas que tinham um respeito supremo pelas palavras diretas de Jesus, mas que sabiam que era impossível recordar os detalhes das parábolas que eles ordenavam segundo normas de redação mais conformes às suas maneiras de relatá-las. A moderna edição da bíblia de King James distingue perfeitamente as palavras de Jesus em vermelho, da redação do evangelho em letra negra comum. Se esta interpretação vale para as introduções como egeneto [sucedeu] de Lucas, ou levantou-se e disse de Mateus, podemos sem dúvida ampliar a redação para parágrafos que nada dizem à essência do evangelho. ALEGORIA DOS SERVOS-ESCRAVOS? Já falamos no comentário do domingo XXIV como os administradores eram em geral escravos domésticos. Como a parábola tem elementos alegóricos, fundados precisamente no parágrafo anterior, sabemos que a vinha representa o povo de Israel, que o dono da vinha é Javé-Deus e que os arrendatários eram os dirigentes do povo, especialmente os religiosos. Logo os servos são evidentemente os profetas. De fato, os judeus distinguiam entre antigos profetas como Moisés, Josué, Juízes, Samuel, Davi e os profetas compreendidos no reinado de Davi; e os últimos profetas, a começar por Isaías e terminar com Malaquias. Isso poderia explicar as duas levas de douloi [escravos] da parábola, segundo Mateus. A primeira antes do exílio (586 a.C.) e a segunda, após o mesmo (539 a.C.). De fato, sabemos que muitos dos profetas foram rejeitados e até perseguidos pelos reis, tanto de Israel como de Judá. Elias teve que fugir por sua vida (1 Rs 19, 3), e lemos de Jeremias que provavelmente, após ser jogado numa cisterna, foi levado ao Egito para morrer lá, segundo alguns, de modo discutível (Jr 43,1-7). Temos Miqueias que foi esbofeteado por Sedecias falso profeta (2 Cr 18, 23). Alguns dos profetas foram mortos à espada como vemos em 1Rs 19, 14 ou Dn 111, 33. Finalmente temos Zacarias que foi apedrejado no pátio do templo segundo 2 Cr 24, 21 por ordem do rei Joás. Vemos como a palavra profeta tem um sentido muito mais amplo que o do enviado diretamente por Deus: é o sentido do justo, do santo, diríamos nós. Temos também dois textos de Jesus sobre a sorte dos profetas nas mãos dos antigos dirigentes de Israel: vós que sois filhos dos que mataram os profetas (Mt 23, 31) ou na lamentação de Jesus em Mt 23, 37 sobre Jerusalém que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados; por isso, pedirão contas do sangue de todos os profetas …do sangue de Abel até o sangue de Zacarias que pereceu entre o altar e o santuário (Lc 11, 50-51). E em Hebreus 11, 36-37: escárnios, açoites, prisões, lapidações, serramentos e mortes com a espada. O FILHO (37-39): Após a terceira leva inútil, o dono da vinha apela para a distinção e excelência do filho. Não era um escravo comum, mas o filho único, o herdeiro. Mateus só fala do filho, mas Marcos (6) e Lucas (13) falam do filho amado ou o amado, que logicamente indica o herdeiro. Mesmo que Mateus só fala do filho sabemos, com certeza, que era único porque os agricultores falam de matá-lo para herdar a propriedade. Isto era lógico já que não tendo herdeiros diretos, segundo a lei, os bens pertenciam aos que cultivavam os mesmos, quando faltasse o dono. Foi o caso de Abraão que, ao não ter filhos, disse ao Senhor que um dos servos de minha casa será meu herdeiro (Gn 15, 3). Era o uso capientis. Eles se apoderam do filho herdeiro, o expulsam da vinha como se não fosse sua propriedade, e o matam fora dela. Em Marcos o crime é ainda mais repugnante; pois, morto dentro da vinha, o cadáver é lançado fora aparentemente sem sepultá-lo, o que constituía, segundo os costumes da época, um ato de maldição, porque os cadáveres insepultos se deixavam propositadamente para serem comida de cães e aves de rapina. Assim vemos na maldição de Elias sobre a casa de Acab (1 Rs 21, 24). Por isso, Tobias arrisca sua vida para enterrar os mortos de Israel (2, 7). Além disso, um cadáver tornava impuro o lugar e isso impedia se aproveitar dos frutos da vinha. Tomando esta passagem como alegórica, vemos como Jesus foi morto fora dos muros de Jerusalém, que precisamente era, segundo os profetas, a vinha particularmente amada de Jahveh, como vemos em Isaías 5, 3.
PERGUNTA E RESPOSTA (40-41): Portanto, quando vier o dono da vinha que fará àqueles agricultores? (40). Disseram-lhe: De modo ignominioso os destruirá e arrendará a vinha a outros agricultores os quais lhe entregarão os frutos nos seus tempos próprios (41). Cum ergo venerit dominus vineae quid faciet agricolis illis. Aiunt illi malos male perdet et vineam locabit aliis agricolis qui reddant ei fructum temporibus suis. Que vos parece? (21, 28) Está dirigida aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo (21, 23). E agora também pergunta aos mesmos que irá fazer o dono com esses vinhateiros? (40). Logicamente a resposta não podia ser outra, dadas as leis do olho por olho do tempo: Destruirá de maneira ignominiosa esses infames e arrendará a vinha a outros vinhateiros que entregarão os frutos no tempo devido (41). Marcos dirá que o dono virá e destruirá os vinhateiros para dar a vinha a outros. Em Lucas é o próprio Jesus que responde a si mesmo usando as palavras de Marcos (16). Ante esta proposição de Jesus os ouvintes exclamaram: Não seja [assim] (16). Isso indica que eles entenderam muito bem o significado oculto da parábola. Nesta conclusão há duas proposições que podemos considerar como complementares: a destruição dos assassinos e a entrega da vinha a outros arrendatários que sirvam melhor aos propósitos do dono, que são, em definitivo, obter os frutos devidos de sua propriedade.
O COMENTÁRIO DE JESUS (42-43): Diz-lhes Jesus: Nunca leste nas Escrituras: (A) pedra que os construtores rejeitaram, esta se tornou em cabeça de ângulo; da parte de (o) Senhor foi feita e é admirável aos nossos olhos? (42). Por isso, vos digo que será arrebatado de vós o Reino d(o) Deus e será dado a uma nação que produza os frutos dele. Dicit illis Iesus numquam legistis in scripturis lapidem quem reprobaverunt aedificantes hic factus est in caput anguli a Domino factum est istud et est mirabile in oculis nostris. Ideo dico vobis quia auferetur a vobis regnum Dei et dabitur genti facienti fructus eius. Marcos traz a sentença íntegra que em Lucas é mais breve. Que significa CABEÇA DE ÂNGULO? Os três evangelistas falam com o mesmo termo cabeça de ângulo [Kefalê gonias]. Vejamos os dois textos do AT. Salmo 144, 12: Que nossos filhos sejam na sua mocidade como plantas viçosas e nossas filhas como pedras angulares lavradas como colunas de palácio. E o Salmo 118,22: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra angular. Isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos. Como vemos até palavra por palavra os dois textos gregos coincidem. Que era a pedra cabeça de ângulo? Provavelmente havia uma pedra para cada um dos quatro ângulos da casa sobre os alicerces da mesma. Daí a principal [uma das quatro]. As quatro eram escolhidas e lavradas [como colunas Sl 14, 12] para dirigir toda a obra desde o início, como balizas da mesma. Delas, poderiam se tirar as cordas de alinhamento para a construção. Jeremias profetiza uma tal destruição de Jerusalém que dela não se poderiam tirar pedras nem para o ângulo nem para os fundamentos (52, 26). Parece que o resto da casa era de material que podemos chamar tipo argamassa. Por isso as pedras angulares eram especialmente lavradas e escolhidas, pesadas e especialmente desenhadas. Isaías 28, 16 diz: Eis que firmo em Sião uma pedra, uma pedra a toda prova, uma pedra angular preciosa, estabelecida para sua fundação. No NT temos textos sobre esta pedra base. At 4, 11: Ele (Jesus) é a pedra rejeitada por vós, os construtores, mas que se tornou a pedra angular. E 1 Pd 2, 6: Eis que ponho em Sião uma pedra angular [akrogöniaion], eleita e preciosa: quem nela crê não será confundido. Os judeus sabiam que na construção das sinagogas, casas de pedra, havia diferença em relação a construção das casas comuns de adobes. No entanto, existiam duas pedras importantes: uma era a que ocupava o ângulo da edificação nos fundamentos e era a que servia de base para a construção. A outra era a pedra remate do arco de entrada do edifício. O salmo 118 fala de Israel que como povo foi desprezado, oprimido e quase aniquilado pelos povos e reis pagãos, mas que foi escolhido por Deus como base das promessas messiânicas. Como vemos em Atos e na carta de Pedro a pedra angular é a pedra sobre a qual todo o edifício era planificado. Paulo fala de que o único fundamento é Jesus Cristo (1 Cor 3, 11). Os judeus costumavam chamar seus rabis e doutores de construtores, porque eles estudavam continuamente os fundamentos do mundo que era a lei. Quem é a pedra rejeitada pelos construtores em tempos de Jesus? Evidentemente é ele mesmo. O costume do mestre da construção de revisar as pedras e aceitar, ou rejeitar as mesmas, está na frase de Pedro em At 4, 11 que temos citado acima. Como afirmava Lucas por meio da palavra profética de Simeão seria alvo de contradição (Lc 2, 34). Por isso, o mesmo evangelista registra um parágrafo próprio dele que diz: Quem tropeçar nessa pedra ficará quebrado e sobre quem cair essa pedra será esmagado. Por esta última frase alguns comentaristas falam da pedra angular como sendo a pedra remate superior do arco da entrada. Porém podemos explicar o fato da pedra cair porque aqui estamos dentro de uma linguagem metafórica em que não devemos abranger como realistas todos os requisitos da comparação. A TRANSFERÊNCIA: O reino, que era a grande promessa de Israel, será arrebatado dos dirigentes do povo e será dado a uma nação que produza os frutos esperados. Qual é a nova nação? Evidentemente, pela História, devemos pensar em Roma. E os frutos é a aceitação de Jesus como o novo Senhor. É uma profecia que, em tempos dos escritos evangélicos, ainda não podia ser confirmada. Somente com o Imperador Teodósio (379-394) o cristianismo foi declarado religião do Estado. A separação entre o Cristianismo e o Judaísmo, efetivada teologicamente em 325 no Primeiro Concílio de Niceia, era agora lei (388) sob os imperadores romanos.
REFLEXÃO:
1) Qual foi a razão última pela qual os dirigentes de Israel não entraram no novo Reino como povo escolhido? Diríamos que a razão imediata era o seu interesse material na religião que a transformava numa fonte de rendas e, portanto, numa visão espúria da espiritualidade religiosa.
2) Em segundo lugar, seu orgulho que não permitia que alguém interpretasse a lei de modo diferente do seu. Segundo sua interpretação, os pobres estavam longe de Deus, considerando a pobreza como uma espécie de rejeição e castigo divinos, como era interpretada a doença. Quem pecou, este ou os pais para nascer cego? Perguntarão os discípulos (Jo 9,2). Do mesmo modo, a pobreza era considerada como o pior dos castigos divinos e a riqueza como o melhor dos benefícios. Nós vemos no evangelho uma clara alusão a esta cosmovisão, quando, após Jesus declarar que um rico dificilmente entrará no Reino dos céus, a pergunta dos discípulos será de um desânimo total: Então quem poderá se salvar? (Mt 19,25). A doutrina de Jesus devia escandalizar os legistas e peritos da lei, quando em suas bemaventuranças declara o Reino como herança dos pobres.
3) Com respeito à razão última, é Paulo quem o explica na sua epístola aos romanos: Tanto judeus como gentios se tornaram pecadores. Na frase de Paulo estão sob o império do pecado (9,13). Mas Deus, gratuitamente pela fé em Cristo, salva o homem; porque se a lei veio para que proliferasse a falta, porém onde proliferou o pecado superabundou a graça (5,21). E logicamente a graça foi maior ao admitir os pagãos ao Reino.
4) Podemos perguntar: e nós? Qual é a razão para que o Reino não seja o valor principal – o tesouro, a pérola – em nossas vidas? Cada um de nós poderá dar uma resposta particular, mas existe uma geral e comum nos tempos modernos: o estado de bem-estar, confundido com a felicidade final, que nos transforma em verdadeiros ricos, num mundo de quase absoluta pobreza espiritual. E no lugar das bemaventuranças, dirigidas aos pobres, aos que sofrem, aos que choram, aos que são perseguidos, encontramos as censuras de Jesus que atingem os ricos, os fartos, os que aparentemente são felizes.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
CAMPANHA DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA
CLIQUE AQUI, acenda uma vela virtual, faça seu pedido e agradecimento a Nossa Senhora Aparecida pela sagrada intercessão em nossas vidas!
QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus! Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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