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Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Fazemos memória de Jesus que, como pequeno grão, aceitou ser lançado na terra pelo Pai e, na força amorosa do Espírito, por nós morreu e ressuscitou vitorioso no mistério de sua Páscoa. Supliquemos que o Senhor multiplique o pouco que somos segundo a medida de seu amor. INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, aqui estamos neste dia dedicado ao Senhor para nossa celebração memorial da entrega que Jesus fez de sua vida ao Pai, na força do Espírito Santo. Somos o povo santo de Deus, peregrino neste mundo, caminhantes na fé, parceiros da Aliança que Deus celebrou conosco mediante a oferta de Jesus. Agora que nos encontramos reunidos, juntemos nossas vozes para cantar o quanto Deus é bom e o quanto é bom agradecermos por tudo aquilo que Ele faz em nosso favor. INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Neste Domingo somos convidados a meditar sobre a força do amor de Deus, que, quando envolve a nossa realidade, faz a pequena árvore tornar-se tão majestosa como o cedro do Líbano. O amor é também como o grão de mostarda, que, embora sendo uma pequenina semente, quando germina e cresce, torna-se a maior das hortaliças. É assim que a força do Amor, dia após dia, se implanta na história. Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo e meditemos profundamente a liturgia de hoje! (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) PRIMEIRA LEITURA (Ezequiel 17,22-24): - "Então todas as árvores dos campos saberão que sou eu, o Senhor, que abate a árvore soberba, e exalta o humilde arbusto." SALMO RESPONSORIAL 91(92): - "Como é bom agradecermos ao Senhor." SEGUNDA LEITURA (2 Coríntios 5,6-10): - "Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo." EVANGELHO (Marcos 4,26-34): - "O Reino de Deus é como um homem que lança a semente à terra.." Homilia do Diácono José da Cruz – 11º Domingo do Tempo Comum — ANO B "O REINO É OBRA DE DEUS!" Nos meus tempos de criança na Vila Albertina, lembro-me que quando a antiga casa da família Develis foi demolida, para dar lugar a uma construção mais ampla e arrojada, costumávamos conversar com um servente de pedreiro que trabalhava na obra, e a pergunta era sempre a mesma “O que vão construir nesse lugar?”. Ele respondia que era uma casa bem maior do que a que fora demolida, e quando perguntávamos quando ela ficaria pronta, se seria bonita e luxuosa, como a gente pensava, o servente desconversava “olha, sei que é uma casa, mas sou apenas um servente, só o mestre de obras que conhece o projeto, saberia dizer. A gente apenas obedece e vai executando o serviço do jeito que ele pede, e só no final, quando tudo estiver pronto e acabado, é que teremos idéia, daquilo que ajudamos a construir”. O evangelho desse Décimo Primeiro Domingo do Tempo Comum ajuda a desfazer esse equívoco presente até nos dias de hoje, que é o da gente querer ser Mestre de Obras no Reino de Deus. Na minha caminhada de igreja já vi um pouco de tudo, conheci pessoas que se apresentavam como Engenheiros do Reino de Deus, com planos mirabolantes de ideologias humanas, belíssimas por sinal, mas achando que isso era o reino , grupos que desenvolveram uma espiritualidade muito forte e rigorosa, pensando que isso era o reino. E não faltam também os que inventam Doutrinas religiosas afirmando que se as mesmas não forem seguidas, o reino não acontecerá, e vem uma linha mais tradicional de ser igreja, outro mais clássico e institucional, outro mais liberal e até ensinamentos totalmente contrários ao cristianismo, onde o pregador “jura de pé junto” que está anunciando a Verdade, porque fala em nome de Jesus. Vi questionamentos até cômicos: será que Deus é Socialista, Marxista, ou tende mais para o Neoliberalismo? Provavelmente não faltou quem pensasse em filiar Jesus Cristo ao seu partido político, aliás, pregação política em nome dele é o que não falta. Confesso que nos anos 80 eu passei por um drama de consciência muito grande ,quando diziam que a gente não podia ficar em cima do muro, tinha que se definir ou pela direita ou pela esquerda. Surgiram novas igrejas e religiões que parecem mesmo ter procuração do Senhor, para falar do reino e do seu evangelho. Essa é uma realidade que não se pode ignorar, Jesus mesmo falou “muitos virão em meu nome dizendo: o Messias está aqui, o Reino está aqui, O Senhor já está voltando!” Nunca vi tanta bobagem junta! As igrejas cristãs anunciam o reino e são um sinal dele, entretanto o Dono do Projeto é Jesus Cristo, que vai fazendo o reino acontecer, independente de qualquer ideologia humana, política, social ou religiosa. É a primeira parábola do evangelho, onde tanto faz o homem dormir ou ficar acordado, a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. Podemos dizer que Jesus, não só é o semeador, como também a própria semente. O seu projeto, que se consolidou na cruz do calvário, parece ter sido um grande fracasso, até para os seus seguidores fiéis, foi muito difícil acreditar que o Reino que ele tanto falava, fosse vingar e dar certo, pois humanamente falando, o sistema religioso o havia desmascarado, o Nazareno parecia tão perigoso, pela liderança que exercia, pelos ensinamentos revolucionários que pregava, entretanto, a morte infame, vergonhosa e humilhante o havia calado para sempre. Ninguém diria que aquela pequenina semente, esmagada no calvário e depois escondida no sepulcro, fosse brotar e viria a se transformar na maior de todas as árvores. As palavras de Jesus nesse evangelho querem nos transmitir confiança na sua ação Divina, e isso parece algo difícil e desafiador para todos nós, é difícil acreditar no Reino, quando olhamos ao redor e só vemos o caos do pecado dominando o ser humano, é verdade que há pessoas que acreditam em um futuro melhor e o ajudam a construir no presente, mas a grande maioria não crê em mais nada, “não há igreja que seja boa, todas são pecadoras e eu não vou em nenhuma delas”, “não quero saber de política, pois não existe político honesto, eu não acredito em mais ninguém e não voto em ninguém, pode ser até da comunidade”, e assim, há os que não acreditam mais no casamento, na família, nas instituições, está tudo irremediavelmente perdido. Qualquer pessoa pode pensar, falar e até agir desta forma, mas nós cristãos não! Pois estaríamos negando o reino que Jesus plantou no coração do homem, estaríamos duvidando do seu poder de fazer germinar essa semente, estaríamos desconfiando que a sua graça não serve para nada, e o que é pior, estaríamos achando que o poder das forças do mal, presente na sociedade, é muito maior do que a Salvação, a graça e a redenção que Jesus realizou a nosso favor e nesse caso, participar da Santa Missa seria fazer memória desse grande fracasso que é o Cristianismo, impotente para transformar o coração humano. De quem somos discípulos e testemunhas afinal? De Jesus de Nazaré e do seu Reino, que está acontecendo misteriosamente e irá levar os homens de Boa Vontade á sua plenitude, ou dos projetos megalomaníacos do homem da modernidade, que insiste em construir um reino Antropocêntrico, deixando Deus em um segundo plano? E aqui retomo aquele hino que me provocava calafrios nos anos 80 : Hei você, de que lado está você? ( XI Domingo do Tempo Comum Mc 4, 26-34) José da Cruz é Diácono da Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 11º Domingo do Tempo Comum — ANO B “Apostolado de filhos de Deus” Você sabe como é um grande jogo de futebol. Antes do jogo, há uma concentração para os atletas e uma preparação psicológica para os torcedores. A televisão dá notícias da situação histórica das duas equipes: pontos ganhos e pontos perdidos, titulares que vão começar jogando e reservas que vão para o banco. De repente, as equipes entram em campo. Muitas palmas, rojões, bandeiras se agitam e a emoção toma conta de todos. Começa a partida. Bola na trave, a torcida vibra, grita, pula. Alguém aproveita o rebote, enche o pé… é gooool! Um mar humano se levanta e delira, agitando as mãos e gritando em coro. O artilheiro dá cambalhotas, cai de joelhos, jogadores se abraçam. É festa! Uma grande “celebração”, num rito solene de alegria expressado por todos os gestos. Caso seja o fim de campeonato, pode haver alguém atravessando o estádio de joelhos com as mãos erguidas para o céu, o povão invadindo o gramado e carregando os heróis. Quanta emoção! Tudo aqui é esplendor, é festa. Parece bastante diferente do que acontece com a semente lançada à terra, comparada ao Reino de Deus, que o Senhor nos conta hoje. No entanto, apesar de a semente não crescer com um espetáculo comparado a um jogo de futebol, nós, apóstolos do Reino de Deus precisamos ter um entusiasmo semelhante para anunciá-Lo. Fá-lo-emos com grande alegria, com todo o entusiasmo, pois sabemos que essa semente vai crescer e produzir muitos frutos, frutos abundantes, frutos de vida eterna. São Jerônimo explicava a parábola do grão que germina dizendo que a semente simboliza o Verbo da vida, Jesus Cristo; a terra, os corações dos homens. A semente cai na terra. O dormir do semeador é comparado à morte de Jesus Cristo, pois depois da morte de Cristo o número de fiéis cresce cada vez mais entre adversidades e bonanças. A semente de mostarda, que tem um diâmetro aproximado de 1,6 milímetros, resultava numa árvore que às margens do lago da Galileia media entre 2 a 4 metros. Os primeiros cristãos começaram a lançar a semente do Reino de Deus. Curioso! Enquanto mais perseguidos, mais aumentava o número de cristãos. Tanto é assim que Tertuliano, um advogado que se converteu ao cristianismo no ano 197 e que depois passou a ser catequista na Igreja, dizia que “o sangue dos mártires é a semente de novos cristãos”. Hoje como outrora, não somos a maioria da população, mas continuamos chamados a conquistar o mundo para Cristo. Olhemos mais uma vez para os nossos irmãos da aurora do cristianismo, agora através da epístola a Diogneto, um dos primeiros escritos cristãos: “Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em casas gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. Pelos judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, a aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio”. Talvez o que impede sermos apóstolos entusiasmados da Boa-Nova seja o nosso comodismo: já têm muitas pessoas falando de Jesus, eu… para quê? Minha mãe já reza bastante, desse jeito todo o mundo se converterá, inclusive eu. Meu irmão já vai à Missa todos os domingos, para que irei eu? Também a falta de fé impede a evangelização que devemos, como cristãos, realizar. Muitos católicos vivem aburguesados, estão tranquilos por falta de fé. Se a fé fosse viva, se a caridade ardesse em seus corações quereriam conquistar todos para Deus, fazendo apostolado com a sua vida e com a sua palavra de fogo em todos os ambientes dessa nossa sociedade. A falta de estratégia as vezes nos deixa na inatividade: conversas vulgares, sempre as mesmas (além das piadas malsonantes, vocabulário baixo). É preciso saber elevar o nível, fazer-nos amigos de nossos conhecidos, atrai-los através da mansidão. Mãe, um segredo: não se consegue a conversão dos filhos aos gritos. Jovem, você não conseguirá a conversão daquele seu amigo sem rezar e sem se sacrificar por ele. É preciso viver a caridade através dos serviços que prestamos; fazer com que eles, através da nossa amizade, abram o coração; enfim, precisamos fazer um apostolado de amizade, esse dá certo em qualquer ambiente: no trabalho, na escola, na faculdade, nas fábricas, nos laboratórios etc. Como apóstolos dos tempos modernos, o que precisamos é ter uma grande confiança no Senhor. Com fé, esperança e caridade, seguiremos avante, por Cristo e com Cristo. Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa Comentário Exegético – 11º Domingo do Tempo Comum — ANO B EPÍSTOLA (2 Cor 5, 6-10) PELA FÉ: Estando, pois, confiantes e sabendo que residentes no corpo vivemos ausentes do Senhor (6), porque por fé estamos andando, não por visão (7). Audentes igitur semper et scientes quoniam dum sumus in corpore peregrinamur a Domino per fidem enim ambulamus et non per speciem. CONFIANTES [tharrountes<2292> =audentes] é o particípio presente do verbo tharreö com o significado de ter confiança, se atrever como no versículo 8 e com o significado de confiança ou ter confiança em alguma pessoa como em 2 Cor 7, 16: Regozijo-me de em tudo poder confiar em vós. Também falar audazmente como em Hb 13, 6: E assim ousemos [tharrountes] dizer: O SENHOR é o meu ajudador. Finalmente, vemos em 2 Cor 10, 1: Quando presente entre vós, sou humilde, mas ausente, ousado [tharrö]/ para convosco. Temos, pois, optado pela confiança. RESIDENTES [endëmountes<1736>=sumus]. Do verbo endëmeö temos endëmos, como pessoa que habita entre os de sua terra e que não viajou ao exterior. Daí estar em casa, e logicamente viver no corpo [en tö sömati] que será o oposto a pros ton Kyrion [unir-se e ao Senhor no céu (2 Cor 6, 9). VIVEMOS AUSENTES [ekdëmoumen<1553>= peregrinamur] É o presente do indicativo do verbo ekdëmeö, de significado emigrar, ir ao estrangeiro, viver em terra estranha, estar exilado, que aparece nos escritos paulinos junto com ek tou sömatos [fora do corpo] (2 Cor 5, 8), como se o corpo fosse o natural habitáculo do Espírito; ou apo tou Kyriou [fora do Senhor] (que vemos neste versículo). Ambos os termos são opostos: um com o prefixo en [dentro] e outro com ek [fora] e a palavra demos [povo]. A maioria traduz as duas palavras por presentes e ausentes. Na TEB a tradução é: habitar no corpo e fora de nossa morada. A razão é que vivemos [estamos andando] ou caminhamos pela fé e não temos ainda a visão própria da bem-aventurança. É PREFERÍVEL MORRER: Estamos confiantes, portanto, e nos alegramos mais, estando ausentes do corpo e presentes diante do Senhor (8). Audemus autem et bonam volunotatem habemus magis peregrinari a corpore et praesentes esse ad Deum. NOS ALEGRAMOS [eudokoumen<2106>=habemus bonam voluntatem]. O verbo eudokeö tem como significado primordial considerar bom, agradar, como em Lc 12, 32: Não temais, ó pequeno rebanho, porque o vosso Pai agradou dar-vos o reino. Mas também um segundo significado é comprazer-se, estar satisfeito, como em Mt 3, 17: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. É neste sentido que podemos traduzir que nos alegramos mais, se ausentes do corpo [abandonado o corpo] estivéssemos presentes diante do Senhor. De um modo mais explícito, vemos este mesmo sentimento paulino em Fp 1, 23: De ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Podemos dizer que Teresa de Jesus magnificamente dá estribilho a estas palavras de Paulo em sua letrinha : “Vivo sin vivir en mí,y tan alta vida espero, que muero porque no muero”. AGRADÁVEIS A DEUS: Por isso também aspiramos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis (9). Et ideo contendimus sive absentes sive praesentes placere illi. A tradução menos literal e mais inteligível é dada por SBP: Contudo, quer estejamos na presença do Senhor, quer vivamos exilados dele, o que nos interessa é agradar a Deus. ASPIRAMOS [filotimeomai <5389>=contendere]: o verbo grego em voz média indica considerar uma honra, ambicionar, aspirar como em Rm 15, 20: Desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo foi nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio. Com o significado de procurar em 1 Ts 4, 11: Procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios. É, pois, um esforço que aspira a um objetivo considerado como bem apetecível. E esse objetivo é o fim de toda vida cristã: agradar a Deus. AGRADÁVEL [euarestos<2101>=placere]: o latim traduz por um infinitivo o que no texto grego é um adjetivo de forma que ser aceitável é traduzido por agradar. É o conselho que Paulo dá aos efésios: Procurem sempre aquilo que mais agrada ao Senhor (Ef 5, 10). E por isso, na sua opção de viver ou encontrar-se com o Senhor, Paulo escolhe a vontade divina como a melhor opção de sua vida. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que devo escolher (Fp 1, 21-22) O TRIBUNAL: Porque a todos nós é necessário apresentarmos perante o tribunal do Cristo, para receber cada um as merecidas [consequências] do corpo segundo as que praticou, quer de bom quer de mal (10). Omnes enim nos manifestari oportet ante tribunal Christi ut referat unusquisque propria corporis prout gessit sive bonum sive malum. TRIBUNAL [bëma<968>=tribunal]: degrau, um passo, extensão de um pé, como em At 7, 5: E não lhe deu nela herança, nem ainda o espaço de um pé [bëma]. Mas especialmente Bëma é a cadeira do juiz ou tribunal de justiça: Estando ele [Pilatos] assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo. É o significado que Paulo usa em Rm 14, 10: Todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo. É o mesmo tribunal que Paulo apresenta neste versículo. Cristo é o primeiro juiz de nossa existência do qual nós temos sido durante a vida do corpo, que Paulo diz como coisas MERECIDAS não tanto dos merecimentos, mas das deficiências também. Destas atuações devemos dar conta, tanto do bem feito como do mal causado. O juízo particular no fim da vida determinará o nosso eterno destino. Assim o cremos e o aclamamos no Credo no qual o juízo é universal no fim do mundo, que ratificará a sentença dada pessoalmente no fim de cada vida. EVANGELHO (Mc 4, 26-34) 1ª parte: A SEMENTE COM VIDA PRÓPRIA Começa de novo o tempo comum. Marcos mostra Jesus como Mestre do Reino ensinando às multidões desde a barca de Pedro (4, 1). Seu ensino é na base das parábolas ou exemplos. A parábola é uma narração que, sob o aspecto de uma comparação, está destinada a ilustrar o sentido de um ensino religioso. Quando todos os detalhes têm um sentido e significado real, a parábola se transforma em alegoria. Como em Jo 10, 1-16, no caso do bom pastor. No AT as parábolas são escassas [um exemplo é 2 Sm 12, 1-4 em que Natã dá a conhecer seu crime a Davi] Porém no NT Jesus usa frequentemente as parábolas especialmente como parte de seu ensino do Reino dos Céus, para iluminar certos aspectos do mesmo. No dia de hoje temos duas pequenas parábolas, a primeira própria de Marcos e a segunda compartida por Mateus (13, 21+) e Lucas (13, 18). Na parábola da semente, Jesus indica que o Reino tem uma força intrínseca que independe dos trabalhadores. Na segunda que o Reino, minúsculo nos tempos de Jesus, expandir-se-á de modo a se estender pelo mundo inteiro. Vejamos versículo por versículo as palavras de Jesus. O REINO DE DEUS: E dizia: assim é o Reino de Deus, como se um homem lançasse a semente sobre a terra (26). Et dicebat sic est regnum Dei quemadmodum si homo iaciat sementem. Que significa Reino de Deus? No AT Jahvé, o Deus de Israel, era o verdadeiro rei e seu reino abrangia todo o Universo. Os juízes eram praticamente os seus representantes. Por isso, o seu profeta Samuel, último juiz, escutou estas palavras: Não é a ti que te rejeitam, mas a mim, porque não querem mais que eu reine sobre eles (I Sam 8, 7). A partir de Davi o reino de Deus tem como representante um rei humano, mas a experiência terminou em fracasso, e o reino de Deus acabou por ser um reino futuro escatológico como final dos tempos e transcendente, como sendo Deus mesmo o que seria ou escolheria o novo rei. Esse reino está chegando e tem seu representante na pessoa de Jesus e dos apóstolos. Nada tem de material ou geográfico, e é formado pelos que aceitam Jesus como Senhor, caminho, verdade e vida. Por isso dirá Jesus que o reino está dentro de vocês. A Igreja fundada por Jesus é a parte visível desse reino, que não é como os do mundo, mas tem sua base em servir e não em ser servido (Lc 22, 27). O oposto do amor, que é serviço no reino, é o amor ao dinheiro ou mammona (Mt 6, 24), de modo que podemos afirmar que o dinheiro é o verdadeiro deus deste mundo. A primeira comparação que revela como atua o Reino é esta parábola de Jesus, facilmente entendida como tipo, e que finalmente veremos como protótipo nas observações. O CRESCIMENTO: E durma e se levante noite e dia; e a semente germine e cresça de um modo que ele não tem conhecido (27). Et dormiat et exsurgat nocte ac die et semen germinet et increscat dum nescit ille. É importante unir este versículo ao anterior para obter o sentido completo da parábola. O agricultor faz sua vida independente e a semente nasce e cresce sem ter nada que ver com o agricultor fora o fato de ser semeada por ele no início. Deste modo Paulo pode afirmar: Eu plantei, Apolo regou; mas era Deus quem fazia crescer. Aquele que planta nada é; aquele que rega nada é; mas importa somente Deus, que dá o crescimento (1 Cor 3, 6-7). Assim, na continuação dirá Jesus: Pois por si mesma a terra frutifica primeiramente a erva, depois a espiga, depois o trigo pleno na espiga (28). Ultro enim terra fructificat primum herbam deinde spicam deinde plenum frumentum in spica. O latim ultro expressa a boa vontade, sem coação; o trigo é chamado de pleno e o latim traduz com bom critério como sendo o fruto total ou final. A COLHEITA: Quando, porém, tiver aparecido o fruto, rapidamente ele [o agricultor] envia a foice porque tem aparecido a ceifa (29). Et cum se produxerit fructus statim mittit falcem quoniam adest messis. Não há nada a comentar a não ser o trabalho do agricultor, que como vemos se reduz a semear e ceifar. A terra e a semente fazem o resto. SEGUNDA PARÁBOLA: A MOSTARDA. A OUTRA COMPARAÇÃO: E dizia: a que compararíamos o Reino de Deus, ou em que parábola o assemelharíamos?(30). Et dicebat cui adsimilabimus regnum Dei aut cui parabolae conparabimus illud. Parece que Jesus medita antes de afirmar ou escolher uma comparação apropriada. Seu estilo é de chamar a atenção dos ouvintes, um simples recurso oratório que indica por outra parte uma memória viva dos ouvintes e não uma posterior reconstrução. É possível que estas palavras formem parte do método de ensino de Jesus. A MOSTARDA: Assim como a semente da mostarda, a qual quando sendo semeada na terra é a menor de todas as sementes sobre a terra (31). Sicut granum sinapis quod cum seminatum fuerit in terra minus est omnibus seminibus quae sunt in terra. A mostarda é uma planta da família da couve ou repolho, de grandes folhas, flores amarelas e pequenas sementes, que tem duas espécies principais: branca e preta. A branca chega até atingir 1,2 m de altura e a preta pode chegar até 3m e 4 m de altura. A negra é comum nas margens do lago de Tiberíades e seu tronco se torna lenhoso. Por isso os árabes falam de árvores de mostarda. Esta variedade só cresce ao longo do lago e nas margens do Jordão. Os pintassilgos, gulosos de suas sementes chegam em bandos para pousar nos seus galhos e comer os grãos. As sementes não são as menores entre as conhecidas, mas parece que eram modelo, na época, de coisas insignificantes. O nome grego é sinapis e passou às línguas vernáculas porque a semente era usada junto com o mosto de uva para formar o mustum ardens [mosto ardente]. A mais comum é a branca não tão ardente como a preta, precisamente por sua maior facilidade em recolher os frutos. E quando está semeada surge e se torna maior do que todas as hortaliças e produz galhos grandes de modo que podem, sob sua sombra, as aves do céu habitar (32). Et cum seminatum fuerit ascendit et fit maius omnibus holeribus et facit ramos magnos ita ut possint sub umbra eius aves caeli habitare. Temos visto como chegam até 3 ou 4 m de altura, suficientes para aninhar os pássaros em seus galhos. O verbo kataskenoô<2681> significa descansar, estabelecer-se, como temos visto anteriormente. A RAZÃO DAS PARÁBOLAS: E com muitas parábolas semelhantes falava a eles a palavra do modo que podiam ouvir (33). Et talibus multis parabolis loquebatur eis verbum prout poterant audire. Vamos traduzir o último versículo que completa este para depois intentar a interpretação. Pois fora de comparação [parábola] não falava a eles; em particular, porém, aos discípulos explicava todas as coisas (34). Sine parabola autem non loquebatur eis seorsum autem discipulis suis disserebat omnia. Temos aqui uma discriminação feita sem saber a razão do por que foi escolhida por Jesus. Os discípulos tinham ocasião de saber o significado verdadeiro das comparações, por vezes não muito claras para o ouvinte geral. O caso mais evidente é o do semeador e os diversos terrenos em que a semente cai. O público em geral podia ficar com a ideia de que a semente da palavra era recebida de formas mui diversas pelos ouvintes, mas a razão destas diferenças só era explicada aos que, interessados, perguntaram junto aos doze pela explicação da mesma (Mc 4, 13-20). O encontro com a palavra é um dom de Deus, mas a resposta à mesma depende da vontade e do interesse de cada um. A explicação correspondente sempre a receberá quem esteja interessado em saber a verdade. PISTAS: 1) Nas parábolas, Jesus geralmente não define o Reino, mas só alguns atributos do mesmo. Na primeira destas parábolas do dia de hoje temos a exposição de como o Reino se expande com uma força que não depende dos homens, mas do próprio Deus. Poderíamos dizer que descreve a força interna do Reino. 2) Na segunda parábola encontramos a visão externa do Reino. Seu crescimento seria espetacular desde um pequeno grupo insignificante como é a semente da mostarda que se parece com a cabeça de um alfinete, até uma árvore que nada tem a invejar os carrascais da Palestina. 3) Uma certeza é evidente: o Reino é uma realidade que não se pode ignorar. Em que consiste? Jesus não revela sua essência, mas devido ao nome estamos inclinados a afirmar que o Reino como nova instituição é uma irrupção da presença de Deus na História humana, que seria uma revolução e uma conquista, não violenta, mas interior do homem, e que deveria mudar a religião em primeiro lugar e as relações sociais em segundo termo. Numa época em que revoluções externas e lutas pelo poder estavam unidas a uma teocracia religiosa era perigoso anunciar a natureza verdadeira do Reino. Daí que só as externas qualidades do Reino tenham sido descritas e de modo a não levantar reações violentas. O reino sofrerá violências, mas não será o violentador (Mt 11, 12). 4) Se quisermos apurar as coisas, poderíamos atribuir ao Reino uma universalidade que não tinha a Antiga Aliança. Mas isto é esticar as coisas além do estado natural das coisas e da narração de hoje no evangelho de Marcos. EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova. - Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana. Interpretação errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. Consequências: - O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
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