Diante
de tantas injustiças, mortes desnecessárias,
guerras intermináveis, violência, maldades e
corrupção mostradas diariamente pelos meios
de comunicação, nós que cremos nas promessas
de Jesus Cristo, perguntamos: Afinal, quando se manifestará
o Reino de Deus no meio de nós?
Os contemporâneos de Jesus, frente
aos acontecimentos ruins daquela época, também
O questionaram sobre isso: “Os fariseus perguntaram
um dia a Jesus quando viria o Reino de Deus. Respondeu-lhes:
O Reino de Deus não virá de um modo ostensivo.
Nem se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo aí. Pois o
Reino de Deus já está no meio de vós”.
Lc 17, 20-21.
Ora, amigos e amigas, se o Reino já
está no meio de nós, onde estará, para
que, o encontrando, possamos instaurá-lo no mundo,
erradicando os inúmeros males que nos afligem? Além
disso, para nos ajudar nesta busca, podemos ainda perguntar:
O que é, especificamente, o Reino de Deus?
Jesus, por diversas vezes, se referiu ao
Reino, ao se dirigir publicamente aos sacerdotes, discípulos
e a todo o povo de Deus. Para cada grupo fez referências
específicas, relacionando o Reino com algo tangível.
Interessante é que ora Jesus se refere
ao Reino dizendo-o ser de Deus e outras vezes afirmando-o
ser dos céus, porém ambos têm o mesmo
significado, como veremos nas leituras que selecionamos para
nossa reflexão.
Diante de uma multidão atenta, sentada
às margens do lago de Genesaré para ouvi-Lo,
Ele assim falou do Reino, de cima de uma barca:
“O
Reino dos céus é semelhante a um homem que tinha
semeado boa semente em seu campo. Na hora, porém, em
que os homens repousavam, veio o seu inimigo, semeou joio
no meio do trigo e partiu. O trigo cresceu e deu frutos, mas
apareceu também o joio. Os servidores do pai de família
vieram e disseram-lhe: Senhor, não semeaste bom trigo
em teu campo? Donde vem, pois, o joio? Disse-lhes ele: Foi
um inimigo que fez isto! Replicaram-lhe: Queres que vamos
e o arranquemos? Não, disse ele; arrancando o joio,
arriscais a tirar também o trigo. Deixai-os crescer
juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi
aos ceifadores: arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes
para queimar. Recolhei depois o trigo no meu celeiro”.
Mt 13, 24-30.
O reino de Deus é uma boa semeadura,
feita conscientemente para se multiplicar indefinidamente,
gerando frutos que, por sua vez, alimentarão muitas
pessoas e, ao mesmo tempo, fornecerão novas sementes
para serem semeadas e produzirem mais frutos que alimentarão
mais pessoas e produzirão mais sementes, assim, sucessivamente,
num crescente contínuo!
Porém, apesar da boa vontade, boa
intenção e consciência reta dos semeadores,
o inimigo, sorrateiramente, aproveitando-se dos momentos de
vacilo destes trabalhadores, espalha a má semente do
joio entre a boa semeadura, na intenção de prejudicar
a produtividade da colheita.
O Senhor da messe deixa que ambos cresçam
no campo até que na hora da colheita possa separar
corretamente o joio do trigo, dando o destino justo para cada
um. Ora, isso acontecerá no Juízo Final! Porém,
o que interessa é compreendermos esta parábola,
para entendermos o que é o Reino dos céus.
Deus é o senhor, o campo é
o mundo, os semeadores são Jesus e seus seguidores:
todos aqueles que se comprometem a evangelizar o mundo com
a boa semente simbolizando a Palavra de Deus, Seus mandamentos
e todos os Seus ensinamentos. O joio é o mal e o inimigo
é o demônio.
Mas, e o Reino propriamente dito, o que seria
o Reino dos céus? Ora o reino, como dissemos, é
uma boa semeadura, algo que não pode ser entendido
como uma força única, mas sim como uma somatória
de forças conscientes com objetivos claros, definidos
e benignos, sempre tendo o mundo como o seu campo de ação
e Jesus como o seu principal semeador.
O Reino de Deus não é apenas
o homem, que na parábola faz o papel de semeador, nem
simplesmente a semente, simbolizada pela Palavra de Deus semeada
no mundo que, por sua vez é representado pelo campo.
O reino de Deus é isso e muito mais: é uma sinergia
que procuraremos entender.
Para aprofundarmos o entendimento sobre o
Reino, vejamos outras referências que Jesus fez a ele.
Assim reiterou Jesus, no discurso da barca: “O
reino dos céus é comparado a um grão
de mostarda que um homem toma e semeia em seu campo. É
esta a menor de todas as sementes, mas, quando cresce, torna-se
um arbusto maior que todas as hortaliças, de sorte
que os pássaros vêm aninhar-se em seus ramos”.
Mt 13, 31 -32.
Nesta segunda comparação, Jesus
ressalta o poder e a força latente do reino de Deus
que, apesar de sua aparente insignificância diante de
outras forças ostensivamente maiores, ao crescer, produz
uma estrutura tão forte e tão bem enraizada,
que é capaz de acolher, proteger e sustentar todos
aqueles que recorrem a ela nos momentos de calor, frio ou
tempestade.
Podemos interpretar esta árvore como
a Igreja que acolhe todos, indistintamente, nos momentos de
angústia, dúvida, injustiças, perseguição,
gratidão e outras razões que levam as pessoas
a procurá-la. A Igreja nasceu, cresceu e se mantém
em decorrência da semeadura do Reino no mundo.
“Disse-lhes, por fim, esta
outra parábola: O reino dos céus é comparado
ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas
de farinha e faz fermentar toda a massa”. Mt 13, 33.
Nesta comparação Jesus revela
a eficácia do Reino diante dos desafios do mundo. Para
a compreendermos, nos lembremos que a medida padrão,
no tempo de Jesus, era o efá que equivalia mais ou
menos a 36 quilos. Logo, ao citar três medidas,
Jesus se refere à cerca de cento e dez quilos de farinha!
Sua lógica é a de que não precisamos
da mesma quantia de fermento (mais de cem quilos) para levedar
toda a massa - antes de transformá-la em pão
para alimentar uma grande multidão - mas somente de
uma pequena porção dele!
Assim é a eficácia do Reino
de Deus: uma pequenina porção é suficiente
para transformar uma grande multidão de pessoas! O
reino de Deus guarda em si uma força latente tão
poderosa como a da semente ou a do fermento e, quando entra
em ação, surpreende por seu poder transformador!
Logo, podemos concluir que o Reino de Deus
não é algo ostensivamente grande, que cause
impacto aos que percebem sua presença; como Jesus afirmou
no trecho bíblico que abrimos esta reflexão:
O Reino de Deus não virá de um modo
ostensivo, porque é discreto e, aparentemente, pequeno.
Porém, se o deixarmos agir, mesmo
que discretamente - como o fermento na massa, ou a semente
no interior da terra - ele transformará tudo aquilo
que com ele interagir (como o fermento) e se constituirá
em algo muito maior (como a semente). Assim se propaga o Reino
de Deus no mundo: em pequenas, mas poderosas doses, cristianizando
o mundo, lentamente...
Algumas pessoas confundem o Reino com o fim
dos tempos, algo vindouro como o céu, onde os justos
viverão. Sim, realmente a vida eterna a nós
reservada é a plenitude do Reino dos céus, mas
como disse Jesus, antes da consumação dos tempos
ele já existe e está presente no meio de nós!
Certa vez visitando as aldeias de Cesaréia
de Filipe, reunindo os seus discípulos e toda a multidão
que O seguia, Jesus disse a eles: “Dos que aqui
se acham, alguns há que não experimentarão
a morte, enquanto não virem chegar o Reino de Deus
com poder”. Mc 9,1.
Neste caso, ele se referia ao “fertilizante”
do Reino, o Espírito Santo que seria derramado sobre
a terra após Sua ressurreição e o Seu
retorno ao céu. Força que impulsionaria, de
maneira sobrenatural (acompanhada de dons extraordinários),
a difusão da Boa Nova por toda a face da terra.
O evangelista Marcos, ao fim de seu Evangelho,
conta-nos que antes de Sua ascensão ao céu,
Jesus apareceu aos onze discípulos: “...
censurou-lhes a incredulidade e a dureza de seus corações
por não acreditarem nos que o tinham visto ressuscitado,
e disse-lhes: Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda
criatura”. Mc 16, 14-15.
São Lucas nos conta, no início
dos Atos dos Apóstolos, o mesmo fato, complementando-o
com maiores detalhes: “E comendo com eles (Jesus)
ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém,
mas que esperassem aí o cumprimento da promessa de
Seu Pai, que ouviste, disse Ele, de minha boca; porque João
batizou na água, mas vós sereis batizados no
Espírito Santo daqui a poucos dias (...) Descerá
sobre vós o Espírito Santo e vos dará
força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém,
em toda a Judéia e Samaria e até os confins
do mundo.” At 1, 4 -5.8.
O Reino de Deus chegaria realmente com poder
após a vinda do Espírito Santo, no dia de Pentecostes,
como podemos verificar na narrativa de Lucas no mesmo livro
dos Atos, no capítulo 2 (At 2,ss) que conta com detalhes
este batismo e, em seguida, narra o discurso de Pedro a uma
grande multidão.
Após Pedro ter falado, o Reino começaria
a se expandir de maneira vertiginosa, pois assim nos conta
o evangelista que, após a pregação de
Pedro: “... Os que receberam a sua palavra foram
batizados. E naquele dia elevou-se a mais ou menos três
mil o número de adeptos.” At 2, 41.
Este fenômeno, iniciado há mais
de dois mil anos, expandiu de forma incomensurável
o Cristianismo até os nossos dias, mas o início
do Reino ocorreu antes de Pentecostes e Jesus já o
anunciava antes de Sua morte.
Certa vez, quando Jesus desceu a Cafarnaum,
para ensinar o povo aos sábados na sinagoga, as pessoas,
maravilhadas com os Seus ensinamentos e com o Seu poder contra
espíritos malignos que os atormentavam e os deixavam
enfermos, tentaram segurá-Lo para que não mais
as deixasse:
“Mas, Ele disse-lhes: É
necessário que eu anuncie a Boa Nova do reino de Deus
também às outras cidades, pois essa é
a minha missão. E andava pregando nas sinagogas da
Galiléia.” Lc 4,43 -44.
Em todos os lugares Jesus anunciava a presença
do Reino, mas as pessoas não conseguiam percebê-lo.
Foi preciso que Ele o manifestasse de maneira concreta e visível,
curando coxos, cegos, paralíticos e leprosos que, de
acordo com os “preceitos religiosos vigentes”,
eram pessoas amaldiçoadas porque pagavam em seu próprio
corpo os pecados de seus antepassados.
As leis religiosas do judaísmo consideravam
que quem nascesse com algum defeito físico ou qualquer
outra deficiência, estaria pagando na própria
carne os pecados cometidos por seus ancestrais, por isso deveria
ser desprezado e alijado do meio de todos. Também os
que contraíssem a lepra, considerada o mal dos impuros,
deveriam ser tratados da mesma maneira.
Para fazê-los compreender que seriam
os enfermos, os inválidos, os deficientes e leprosos
que mais precisavam de amor, carinho, afeto, cuidados e convivência
com amigos e familiares, Jesus, com Seu poder, tirava deles
esta “maldição” devolvendo-lhes
a saúde. E, para que entendessem o sentido do Reino
de Deus, dizia-lhes: “Os sãos não
precisam de médico, mas os enfermos; não vim
chamar os justos, mas sim os pecadores”. Mc 2, 17.
Quando Jesus preparou 72 discípulos,
para ajudá-lo a difundir o Reino no meio do povo, deu-lhes
a seguinte ordem, antes de partirem, dois a dois, para os
lugares onde, em seguida, Ele iria visitar: “Curai
os enfermos que nela houver e dizei-lhes: O reino de Deus
está próximo”. Lc 10, 9.
Sabemos hoje que 70% das doenças que
afligem a humanidade são psicossomáticas e que
sua cura depende muito mais de nos ajustarmos afetiva e socialmente
do que dos remédios. Da mesma forma, naquele tempo,
as pessoas que eram afastadas do convívio social e
familiar, desenvolviam muitas enfermidades psicossomáticas
que agravavam ainda mais a sua saúde.
O amor, o respeito e o carinho demonstrado
por Jesus e por seus discípulos a estas pessoas, enfermas
e marginalizadas, lhes devolvia a dignidade, a saúde
e a vida. Jesus, de diversas formas e maneiras, tentou nos
mostrar a importância e a necessidade do Reino de Deus
para todos nós, capaz até de curar as nossas
enfermidades, físicas e psíquicas.
Certa vez, ao perceber o povo e os discípulos
muito preocupados com o que iriam comer, beber ou vestir,
depois de repreendê-los, Jesus concluiu dizendo-lhes:
“Buscai antes o Reino de Deus e a sua justiça
e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo.
Não temais pequeno rebanho, porque foi do agrado de
vosso Pai dar-vos o Reino.” Lc 12, 31-32.
O Reino de Deus deveria estar em primeiro
plano em nossas vidas, antes mesmo de nossas preocupações
com o que comer, o que beber ou o que vestir. Buscá-lo
para nós deveria ser prioridade. Aos que deixam de
procurá-lo, gastando o seu precioso tempo de vida amealhando
bens e riquezas, Ele alertou: “Como é
difícil aos ricos entrar no Reino de Deus!” Lc
18, 24.
Afirmava isso não para condenar os
ricos, mas para nos alertar que a busca desmedida por bens
e pelo dinheiro e os excessivos cuidados materiais, não
nos permitem encontrar o Reino de Deus! Dizia: “Ninguém
pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um
e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará
o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza”.
Mt 6, 24.
Como exemplo, Ele nos apontava as crianças
que, em sua pureza, ingenuidade e simplicidade e sem se prenderem
às coisas materiais, eram muito mais disponíveis
e mais acessíveis ao Reino de Deus que Ele propagava,
dizendo-nos: “Em verdade em verdade vos declaro:
quem não receber o Reino de Deus como uma criancinha
nele não entrará”. Lc 18, 17.
Diante disso, perguntamos novamente: afinal
o que é o Reino de Deus? Ora, amigos e amigas, o reino
somos nós mesmos, todos aqueles que, obedecendo a Deus
e aos Seus mandamentos, procuram conduzir suas vidas de acordo
com Sua vontade, expressa no mandamento maior ensinado por
Jesus: “Amai-vos uns aos outros como também
eu vos amo”. Jo 15, 12.
Nós somos o Reino de Deus! Nós
só não conseguimos vê-lo porque o buscamos
fora de nós! Ele está mais do que próximo
de nós, ele está em nós e se manifesta
ao mundo por nossos gestos de amor, carinho, perdão,
caridade, boa vontade, solidariedade, compaixão, bondade,
amizade, honestidade, compreensão, obediência,
humildade, simplicidade, união, comunhão, etc.
O Reino, amigos e amigas, nada mais é
do que o amor de Deus espalhado pelo mundo e que em Jesus
estava em plenitude. Amor que só pode ser manifestado
ao mundo por meio de nós, criaturas de Deus que vivemos
nesse mundo. Esta foi uma das razões de Deus se encarnar,
por meio de Seu Filho Jesus. Por meio d Ele, este Seu Amor
poderia se manifestar plenamente!
Deus é espírito e precisa de
um corpo para Se tornar visível. Ele precisa de nossas
mãos, de nossos pés, de nossa boca, de nosso
sorriso e demais partes do nosso corpo para se manifestar
a cada filho ou filha que d Ele precisar. São nossos
atos e gestos que expressam o amor de Deus ao mundo!
Era isso que Jesus tentava insistentemente
nos ensinar com o Seu testemunho, Suas palavras e Seus ensinamentos.
Por isso Ele insistia tanto para que O ouvíssemos e
O imitássemos. O Reino está em cada um de nós
como uma semente que recebemos, quando somos concebidos pelas
células de nossos pais acrescidas de nossa alma que
emana do amor de Deus.
Nossas almas são fertilizadas ao longo
de nossas vidas pelo Espírito Santo de Deus para que
possam produzir os bons frutos do Reino. Porém o maligno
consegue, por causa de nossos cochilos, semear o joio em nós,
gerando o pecado. Como não nos esforçamos para
eliminar o pecado, ele viceja e sufoca o Reino em nós,
por meio dos muitos males por ele gerados.
João Batista, o último dos
profetas que precederam Jesus, convocado por Deus para: “preparar
os caminhos do Senhor e endireitar as suas veredas”
Is, 40,3; em sua pregação dizia: “Fazei
penitência porque está próximo o Reino
dos céus.” Mt 3, 2. Ele tinha ciência
de que seu papel era o de preparar o caminho para Jesus. Por
isso que nos conta o evangelho:
“Pessoas de toda Jerusalém,
de toda a Judéia e de toda a circunvizinhança
do Jordão vinham a ele. Confessavam seus pecados e
eram batizados por ele nas águas do Jordão.”
Mt 3, 5 -6. João os batizava, mas já
os advertia: “Eu vos batizo com água,
em sinal de penitência, mas aquele que virá depois
de mim é mais poderoso do que eu e nem sou digno de
carregar seus calçados. Ele vos batizará no
Espírito Santo e em fogo. Tem na mão a pá,
limpará sua eira e recolherá o trigo ao celeiro.
As palhas (o joio), porém, as queimará num fogo
inextinguível”. Mt 3, 11-12.
Jesus retomará esta advertência
de João em dois momentos: um ao se despedir dos discípulos,
conforme a narrativa de Lucas nos Atos dos Apóstolos:
“Vós sereis batizados com o Espírito
Santo nos próximos dias.”At 1,5. Outro
na parábola do trigo e do joio, ao nos falar do Reino
a confirmando: No tempo da colheita, direi aos ceifadores:
arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para queimar.
Recolhei depois o trigo no meu celeiro.” Mt 13,30.
O joio é a raiz do pecado que gera todos os males do
mundo.
Portanto amigos e amigas, se queremos erradicar
o mal que se expande pelo mundo, que nos atormenta, nos intimida
e nos faz sofrer, precisamos, antes, erradicar definitivamente
o mal enraizado em nossos corações que se manifesta
e se propaga pelo mundo por meio de nossos muitos pecados.
Para isso é necessário que
busquemos nossa conversão, nos arrependendo de nossos
pecados e os confessando, para combatermos o mal que viceja
no mundo. O pecado nos cega e nos sufoca, abafando a semente
do Reino em nós, como o joio na seara do trigo. O joio
em nós semeado é o mal.
O joio do pecado precisa ser arrancado de
nossos corações pela raiz, para que não
volte a brotar e gerar seus frutos maus. Foi isso que Jesus
tentou nos ensinar quando disse a Nicodemos: “Quem
não nascer de novo não poderá ver o Reino
de Deus.” Jo 3, 3. Ora, ver o Reino nada mais
é do que “abrirmos os nossos olhos”
para o percebermos presente no mundo!
Por isso precisamos “nascer de novo”,
aliás, renascermos como Jesus reforçou a Nicodemos,
que não entendeu “como” nasceria de novo:
“Em verdade te digo: quem não renascer
da água e do Espírito, não poderá
entrar no Reino de Deus. Necessário vos é nascer
de novo.” Jo 3,5.7.
Renascemos da água quando no passado
fomos batizados e renascemos do Espírito sempre que,
arrependidos, nos convertermos a Deus, recebendo o Espírito
Santo pelos sacramentos da reconciliação e da
comunhão.
São Paulo, na carta ao Efésios,
definiu claramente o que Jesus nos quis dizer com “nascer
de novo”, ao se referir ao homem velho e ao homem novo
dizendo: “Renunciai à vida passada, despojai-vos
do homem velho, corrompido pelas concupiscências enganadoras.
Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos
do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira
justiça e santidade.” Ef 4, 22.
O homem novo não só conseguirá
ver o Reino como também será o Reino no meio
da humanidade tão sofrida por tantas injustiças
e maldades praticadas por homens e mulheres que germinam,
gestam e frutificam, em abundância, o joio semeado pelo
maligno e concebido em tantos males.
Renasceremos sempre que percebermos os males
por nós praticados - por meio de nossos muitos pecados
– os reconhecendo, nos arrependendo e os confessando
a um sacerdote. Quando me perguntam por que precisamos acusar
os nossos pecados a um padre, respondo imediatamente: Ora
para eliminarmos as trevas precisamos obrigatoriamente de
uma fonte de luz.
Na confissão, o sacerdote, por sua
ordenação, traz em si a luz de Cristo. Ao tirarmos
os nossos pecados das trevas de nossa consciência os
trazendo à luz, na presença de Jesus, na pessoa
do sacerdote, nós o dissipamos, como as trevas são
dissipadas naturalmente diante da luz.
Insisto: se quisermos erradicar definitivamente
o mal da face da terra, precisamos antes erradicar o mal dos
nossos corações. Assim como Deus precisa dos
homens para manifestar Seu amor ao mundo, constituindo aquilo
que Jesus chamou de Reino de Deus, o mal, para se disseminar
pela face da terra precisa da aquiescência dos homens,
pois não brota do nada.
No livro de Jó, a Sabedoria divina
presente em Elifaz de Tema, um de seus três amigos que
o visitaram para consolá-lo, depois de ouvir Jó
desabafando, murmurando e amaldiçoando o dia de seu
nascimento diz à ele: “.. o mal não
sai do pó, e o sofrimento não brota da terra:
é o homem quem causa o sofrimento, como as faíscam
voam no ar.” Jó 5, 6 – 7.
Verdadeiramente, como fagulhas que saem do
coração dos maus, o mal vai incendiando o mundo
e se propagando rapidamente, como as labaredas que alimentadas
pelo vento vão devorando as florestas, aniquilando
toda forma de vida que encontrarem pela frente. Nós
somos os propagadores do mal, da mesma forma que somos os
propagadores do bem, constituindo assim o que Jesus chama
de Reino de Deus ou Reino dos céus.
Que neste Natal cada um de nós possa
ser o Reino de Deus na face da terra. Para isso façamos
um bom exame de consciência nos arrependendo de nossos
pecados conscientemente cometidos que disseminaram o mal pelo
mundo e, diante de um sacerdote, possamos trazer à
luz estes atos, pensamentos e omissões dissimulados
nas trevas dos nossos corações, para que possam
ser dissipados diante da luz de Cristo que brilha nos padres.
Assim, renovados como o homem novo seremos Natal na face da
terra.
Que da pobre manjedoura de seu coração,
neste Natal Jesus possa nascer concretamente em forma de amor,
perdão, misericórdia, caridade, humildade e
tantos outros gestos que transformam este mundo no Reino de
Deus. Se todos nós, ou ao menos os cristãos
ao redor da terra, fizerem isso, o Reino de Deus se manifestará
verdadeiramente no meio de nós e o mundo enfim conseguirá
vê-lo! Feliz Reino de Deus!
Antonio Miguel Kater Filho |