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PENSANDO A RELIGIÃO

"A INFÂNCIA DE JESUS"
(Ensaio)

Texto enviado pelo amigo Mário Eugênio Nogueira


A Bíblia e, de modo especial os Evangelhos, não descrevem certos detalhes acerca de Jesus, como por exemplo: Ele era alto? Qual a cor de seus olhos? Esses pormenores não interessavam aos autores daqueles livros.

Todavia, a fé possui dentro dela um dinamismo interno que – algumas vezes – pode nos pressionar, levando-nos ao desejo de conhecer também pelo imaginário, detalhes como os descritos acima.

Quantas vezes – damos asas à sensibilidade - tentando imaginar o rosto de Jesus, a cor de seus cabelos, ou então, a intensidade de seu olhar, fitando-nos...

Essa situação – quando acontece – pode dar a dimensão do nosso afeto e do nosso desejo de estar – cada vez mais próximo de Jesus, (uma espécie de intimidade) - embora esses arroubos de sensibilidade não sejam necessários para sustentar um clima de oração ou “para medir” nossa fé e nossa interioridade.

De Jesus - homem feito – muito poucos sabemos. E a respeito de Jesus menino? Como terá sido sua infância?

Vamos tomar como referência o que diz o Evangelho de Lucas, no capítulo 2, 40-52:

“O menino crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava com ele.

Jesus aos doze anos no Templo. - Todos os anos, na festa da Páscoa, seus pais iam a Jerusalém. Quando ele completou doze anos, subiram a Jerusalém segundo o costume da festa. Acabados os dias de festa, quando voltaram, o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que os pais o percebessem. Pensando que estivesse na caravana, andaram o caminho de um dia e o procuraram entre os parentes e conhecidos. Não o achando, voltaram a Jerusalém à procura dele. Três dias depois o encontraram no Templo sentado no meio dos doutores, ouvindo e fazendo perguntas. Todos que o escutavam maravilhavam-se de sua inteligência e de suas respostas.

Quando o viram, ficaram admirados e sua mãe lhe disse: “Filho, por que agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu, aflitos, te procurávamos”. Ele respondeu-lhes: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia estar na casa do meu Pai? Eles não entenderam o que lhes dizia. Depois desceu com eles e foi para Nazaré, e lhes era submisso. Sua mãe conservava a lembrança de tudo isso no coração”. Jesus crescia em sabedoria, idade e graça diante de Deus e das pessoas”.

Nesse trecho do seu Evangelho, Lucas nos informa que Jesus acompanhou seus pais até a cidade de Jerusalém, por ocasião da festa da Páscoa. No caminho de volta, perceberam que Jesus não estava na comitiva e os pais, retornando a Jerusalém, encontram-no à porta do Templo, conversando com os doutores da Lei, respondendo perguntas.

O Evangelista acrescenta que todos se maravilhavam com suas respostas.

Segundo a cultura judaica da época - “só é perfeito o homem que observa a Lei Divina - e a criança – porque desprovida do uso da razão – ainda não está em condições de fazê-lo e por isso a criança é perfeita.

É exatamente na sua capacidade de assimilar e praticar os preceitos divinos que ela será valorizada.

Assim, será digno de louvor e estima – a criança – na medida em que antecipar, na infância, as práticas religiosas da idade adulta. E para que se chegue – a essa situação desejável - o principal encarregado da formação religiosa dos pequenos, será o Pai que irá introduzir o menino na observância dos diversos aspectos da Lei.

Logo que começar a falar – portanto bem cedo - o Pai lhes ensinará a recitação diária do Shemá e da prece das Dezoito Bençãos e, quando puderem caminhar, os levará consigo à sinagoga e, anualmente, ao Templo de Jerusalém.

Duas vezes por dia o israelita piedoso devia recitar essa declaração de crença num só Deus único. A prece das Dezoito Bênçãos devia ser recitada três vezes ao dia – pela manhã, ao meio-dia e à tarde e não apenas pelas pessoas do sexo masculino - como prescrito na Shemá, mas também pelas mulheres – pelas crianças e escravos. Por isso essa oração podia ser feita nos mais diferentes locais, como na sinagoga, em casa, na rua e nos campos.

Vendo isso à sua volta o garotinho israelita - de maneira persuasiva e passo à passo, será conduzido ao pleno cumprimento da Lei.

Podemos (por que não?) imaginar o mesmo caminho de iniciação para o menino de nome Jesus, filho de Maria e de José, uma vez que sua experiência de vida em família deve ter sido excepcional. Não só ele era filho único, nascido milagrosamente de Maria, como seus pais foram se conscientizando do destino misterioso reservado àquela criança.

Quem tiver, nos dias de hoje, a oportunidade de dirigir-se a Israel, visitando pela manhã qualquer vilarejo perdido na Samaria, percorrendo suas vielas tortuosas e empoeiradas – fatalmente ouvirá – uma cantilena longínqua saída de um daqueles casebres. É um falar cadenciado e incessante – proferido pelas crianças na escola, que repetem, destacando bem as sílabas, frases declamadas, a exemplo do tempo de Jesus. O vozerio dos meninos nas escolas... clima bem parecido com aquele que Jesus respirou e viveu – no seu tempo – A sua personalidade deve ter sido plasmada no mesmo compasso – no vilarejo de Nazaré. Também ali havia uma sinagoga que acolhia a comunidade em oração aos sábados e que, durante a semana, se transformava em escola para os meninos do local. Como todos os meninos de sua idade - aos cinco ou seis anos - Jesus se afastava da intimidade familiar – para freqüentar a escola – que já naquele tempo era obrigatória. Ali, era entregue pela mãe e confiado a austeros mestres. Um texto rabínico registra as repercussões domésticas da freqüência à escola, dizendo: “a mãe se levanta de manhã cedo, lava o rosto dos meninos antes de apresentá-lo ao professor; depois, à Sexta hora (meio-dia) vai buscar os filhos que deixam a escola” (Pesika R.43).

Os alunos, a exemplo do que deve ter acontecido com Jesus, eram introduzidos desde cedo no conhecimento do alfabeto hebraico. O professor, com um estilete, escrevia letra após letra sobre uma pequena tábua recoberta de cera, pronunciando distintamente o nome de cada uma delas. Aprendidas as letras, passava-se aos exercícios iniciais da leitura sobre o texto da Bíblia: o professor lia cada palavra de algum versículo do Levítico - (de fato era ali que todos deviam começar) – e solicitava que os alunos o repetissem, em voz alta. Poucas semanas depois , os meninos recém-acolhidos na escola já se sentiam integrados ao grupo dos veteranos e seguiam com estes o ciclo semanal das lições.

Durante cinco anos as aulas consistiam – basicamente – na leitura declamada – e repetido inúmeras vezes – da Bíblia hebraica. O professor mostrava um versículo no manuscrito e pedia aos alunos que o repetissem, em coro, inúmeras vezes. Com esse sistema simples e direto em cinco anos se aprendia toda a Bíblia. Jesus como seus contemporâneos aprendeu, praticamente de cor, toda a Bíblia.

O escritor Flávio Josefo - posterior a Cristo – se expressou: "Se um de nós for perguntado sobre a Lei, está pronto a recitá-la de cor. Na verdade nós aprendemô-la logo que temos acesso ao uso da razão e a levamos como que gravada na alma" – (Contra Apião – II 18,178).

Transcorrido o período de cinco anos – e agora os alunos com 10 e doze anos – continuavam freqüentando a escola - também no período da tarde – quando então a matéria abordada era mais árida – que compreendiam o estudo de muitas tradições e a leitura do Livro de Moisés.

Uma antiga tradição fixava as etapas da vida do rapaz, a saber:
A – aos cinco anos começa o estudo da Bíblia;
B – aos dez anos ele se inicia no estudo da Michna (que é uma espécie de tradição oral
integrada à Lei escrita);
C – aos treze anos começa a observar os preceitos da Lei;
D – aos dezoito anos tem lugar a Chuppah – que é a celebração do matrimônio.

Aquilo que o israelita experimentava em si, nos primeiros anos de sua vida, devia fazer-se cada vez mais presente à sua consciência, durante toda a vida, como incumbência e uma interpelação.

Essa entrega física e espiritual de Jesus – talvez seja o que Lucas expressou quando afirmou no Evangelho descrito acima que “Jesus crescia e se fortificava, cheio de sabedoria”.

Mario Eugenio Nogueira
nogueiramario@terra.com.br



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Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
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( Salmos )

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