O
Evangelho de São João informa que Pilatos perguntou
a Jesus: “És portanto Rei”?
Respondeu Jesus: “Sim,
Eu sou Rei. É para dar testemunho da verdade que eu
nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade, ouve
a minha voz”.
“O que é a verdade?”
– retrucou Pilatos - (Jo.18,38)
Mantendo-se calado Jesus não teria
sido indelicado com Pilatos, que parecia vivamente interessado
em saber - o que é a Verdade?
Uma leitura mais atenta desse trecho do Evangelho,
sugere que Pilatos não estava perguntando para Jesus
– nada do que ele Pilatos - já não soubesse
em seu coração!
Pilatos sabia - que sabia - o que era a Verdade!
O Concílio Vaticano II - reconheceu
que “na intimidade da sua consciência o homem
descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo –
mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar e fazer
o bem, evitando o mal, no momento oportuno, a voz dessa lei
lhe soa nos ouvidos do coração”, dizendo-lhe:
“Faze isto, evita aquilo”.
De fato, o homem tem uma lei escrita por
Deus em seu coração. Obedecer a ela é
a própria dignidade do homem – que será
julgado de acordo com essa lei - A consciência - é
pois - o núcleo secretíssimo - o sacrário
do homem - onde ele está sozinho com Deus e, onde ressoa
Sua voz – (Gaudium Spes – 16 - ).
Há, pois então, uma lei moral
natural – colocada por Deus - desde a criação
- no coração do homem.
“O homem participa da soberania e da
bondade do Criador, que lhe confere o domínio de seus
atos e a capacidade de governar em vista da Verdade e do bem.
A lei natural exprime o sentido moral original, que permite
ao homem discernir, pela razão, o que é o bem
e o mal, a verdade, a mentira. - (Catecismo Católico
– (número 1954).
Essa lei – divina e natural –
mostra e aponta para o homem o caminho que ele deve seguir,
fazendo a opção correta - entre a verdade e
a mentira.
Não há então porque
se perguntar – como se não soubéssemos:
“Onde se acham escritas essas leis? Elas estão
escritas no livro desta luz que se chama verdade” -
(Sto Agostinho – Trin. 14,15,21).
São Tomás de Aquino - nesse
particular - nos ensina quando diz que: “A lei natural,
outra coisa não é – senão a luz
da inteligência, posta em nós por Deus. Por ela
conhecemos o que se deve fazer e o que se deve evitar. Esta
luz, ou esta lei, deu-a Deus à criação”
À luz do que vimos, ficamos com a
impressão que Jesus se manteve em silêncio –
face à pergunta de Pilatos – porque Jesus sabia
que Pilatos sabia que a Verdade estava gravada em seu coração.
Como político carreirista que era
Pilatos – sabia formular perguntas – não
porque desejava aprender – mas para embaralhar as coisas,
um tipo de “estratégia”, de evasiva que
usamos, para desviar o assunto que nos incomoda, desnudando-nos.
A pergunta feita por Pilatos também
soa como se ele estivesse “contestando” Jesus,
uma vez que a presença do Filho de Deus, parecia “usurpar
o poder das verdades de Pilatos”, em confronto com a
Verdade de Deus, em seu coração.
Isso ocorre quase sempre!
Porque estamos comprometidos com o jogo do
poder, com o egoísmo, com os privilégios de
classe, com o crime, com a espoliação, com o
uso das drogas, com a intemperança da sexualidade,
necessitamos nos justificar, escondendo-nos atrás de
“nossas verdades”, em detrimento da Verdade que
mora em nosso coração.
Estaria Pilatos comprometido com “outras verdades”?
Quantas seriam suas verdades? Uma, duas, cem – ou “as
verdades” do Sinédrio, que Pilatos conhecia muito
bem. Seria a “verdade de Roma”, a quem servia
politicamente? Que pena!
Como fica difícil ou até impossível
experimentar a sugestão de Jesus: - “Conhecereis
a verdade e a verdade vos libertará” - (João
–8,32) - É por ela (a Verdade colocada por Deus
em nosso coração) que seremos julgados...
Mario Eugenio Nogueira
Membro “Aliança” da Com. Anuncia-Me
nogueiramario@terra.com.br |