Como
posso encontrar a minha unidade e sentir-me inteiro, indivisível
como pessoa, naquilo que faço? Qual o motivo pelo qual
– (o porquê), na maioria das vezes, isso não
acontece e fragmentados e estressados interiormente, temos
a sensação de estarmos sendo “puxados”
de um lado para outro, não conseguindo sentir o benefício
da calma e da paz interior?
Quantos de nós não
sabemos responder a essa pergunta!
Sentimo-nos fragmentados,
interiormente, por uma série de motivos, mas de maneira
acentuada isso fica visível ao nos utilizarmos de nossas
“máscaras” – (que sustentam nossos
“papéis sociais”) e fazem irromper de dentro
de nós reações que nos dispersam, alterando
nosso propósitos e nosso “humor” .
Nos vivenciamos sempre
de forma diferente – Nunca somos o mesmo o
dia todo. Às vezes, nos sentimos bem, para logo em
seguida nos sentirmos mal. Alegria e tristeza se alternam
dentro de nós, modificando nossos propósitos
e alterando nosso humor.
Quantas vezes nos sentimos
plenos, cheios de gratidão, solícitos, fraternos,
achando que a vida é bela e porque compartilhamos nossos
bons sentimentos com o próximo aumentamos em nós
a certeza de que nascemos para sermos felizes e estaremos
mais próximos de Deus. – (1Jo 4,16b)-
Noutras vezes, entretanto,
e sem percebermos somos invadidos por uma onda de nostalgia,
que nos faz experimentar o medo, gerador de incertezas; o
medo da doença, da morte e de todas as nossas impossibilidades.
Tememos pelo presente e pelo futuro. Nesse clima nossa confiança
se esvai e porque caem por terra nossas certezas achamos que
a vida é má, que as pessoas, por não
nos compreenderem devem ser evitadas, tornam-se chatas e aborrecidas
e nos isolamos, buscando soluções, nem sempre
acertadas.
Essa contundência de
reações, muitas delas até para nos defender,
fazem parte de nossa natureza humana, como fruto de nossas
projeções e do aprendizado que fizemos ao longo
da vida.
Consideradas essas questões
– perguntamos – “temos alguma idéia
de quem somos?”
Desde muito cedo as várias ciências procuram
respostas. A filosofia grega ao se interessar por esse problema
afirma que “nos desmanchamos em diversas partes,
desligadas umas das outras”.
Convencionou-se, com o tempo,
que somos feitos de diversas partes, que por estarem lado
a lado, necessitam funcionar de forma equilibrada, permitindo
que sintamos a nossa unidade interna. Essa multiplicidade
que está dentro de nós, sem inter-relacionar-se,
coloca-nos a questão de quem realmente somos... Somos
aqueles que sentem medo ou somos aqueles que crêem na
vida porque sabem interligar suas Quem somos realmente?
Saber viver com nossos
extremos
- Ah! como isso se torna difícil, justo quando o nosso
emocional quer tudo no tempo e na hora.
Para o pensador Romano Guardini
tudo o que é vivo, aparece sob a forma de “opostos”,
a exemplo da oposição entre vazio e
cheio, de totalidade e unidade, imanência e transcendência
e interligação e separação.
Para ele tudo que é material, concreto e está
vivo se mostra nos opostos. A vida tem sempre dois lados,
mas ao mesmo tempo ela é uma unidade; unidade que só
é possível aceitar, quando compreendemos e admitimos
o contraditório. Obviamente o homem está dividido
dentro de si. De um lado a razão e de outro, de forma
muito forte, a sua emocionalidade que estimula a cisão
entre o corpo e a alma. O nosso coração procura
sempre as suas preferências (seus vícios, seus
sonhos, suas projeções) muito embora nem sempre
elas sejam legítimas. Também aqui há
dualidade.
Aprendendo com o Apóstolo
Paulo – Para o Apóstolo Paulo, que enfrentou
também esse problema - um dos caminhos para se buscar
a unidade da nossa fragmentação é entregá-la
a Cristo, recuperando-nos. Não se trata aqui de assumir
um comportamento passivo e condescendente com as nossas fraquezas,
mas sim, assumir uma atitude de quem sabe e quer depositar
em mãos qualificadas a sua miséria e a sua impotência,
já que não consigo modificar o que identifico
como fraqueza, usando apenas a força da minha vontade.
Felizmente,reconhece aquele apóstolo, podemos entregar
para Jesus Cristo, também e, principalmente, a nossa
fragmentação. As graças de Deus não
nos vêm porque as merecemos como resultado de nossos
próprios méritos, mas, porque necessitamos e
Ele as quer dar...
Só quando eu me apresentar
a Deus, colocando de maneira humilde em Suas mãos minhas
impossibilidades e minha fragmentação –
só então sentir-me-ei livre e receberei a cura
para o meu estado de fragmentação interior.
Esse gesto cria uma forte harmonia comigo mesmo, reabilitando-me
e dando como conseqüência um sentido mais objetivo
à minha vida. E, livre e nas mãos do Criador,
sobrará – agora sim - tempo e espaço em
meu coração para amá-Lo e às suas
criaturas. São Paulo descobriu isso, ampliando o diálogo
entre os nossos “dois eus”
numa conversa a três,
ocasião em que eu percebo que estou colocando o meu
lado sombrio, minha incapacidade e meu estresse, sob a proteção
amorosa do Criador.
Mario Eugenio Nogueira
Membro “Aliança” da Com. Anuncia-Me
nogueiramario@terra.com.br |