Querido
Dermeval:
Você já imaginou se Papai Noel existisse de verdade?
Pois
é, como faço todos os anos, no Natal e em outras
festas cristãs, reflito sobre o sentido de tudo aquilo
que nos envolve neste tempo, procurando aprender algo novo
que possa me ajudar a ser um pouco mais cristão a cada
ano por mim vivido. Neste Natal decidi refletir sobre a mística
de Papai Noel, tirando algumas conclusões que gostaria
de partilhar com você Dermeval, que faz parte de um
grupo especial de amigos e amigas por quem tenho uma especial
consideração.
Espero
que o texto possa lhe ser útil e lhe ajude a iniciar
o ano de 2008 com mais esperança em Deus e em cada
criatura humana por Ele criada e muito amada.
Que
você tenha um Santo e Feliz Natal e que esta santidade
e felicidade se estendam por todo o ano de 2008!
Kater Filho
E SE PAPAI NOEL EXISTISSE?
Certamente, uma das fantasias
mais excitantes que povoam nossa infância (ao menos
no mundo ocidental) é a figura bondosa e enigmática
do velho Noel. Lembro-me de minhas conjecturas tentando descobrir
como é que ele dava conta de visitar todas as casas
onde houvessem crianças que tinham sido boazinhas durante
o ano, sem se esquecer de ninguém. Tudo no curto período
da noite de Natal... Que proeza fantástica, deduzia
eu, extasiado!
Ainda que alguns vejam nesta
figura mítica de Noel algo prejudicial, eu defendo
a tese de que esta inofensiva crença infantil é
profícua para a formação de nossa consciência
e nossa personalidade. Por ela aprendemos a administrar nossas
emoções, refreando nossos impulsos negativos
e, o mais importante: aprendemos a sonhar. Afinal sonhar é
bom e construtivo na infância, nos ajudando em nossas
ambições e realizações futuras,
na vida adulta. Sonhar faz bem, sempre! Quem sonha mantém
acesa suas esperanças!
Apesar de a história
mostrar que a lenda de Noel se criou a partir de uma pessoa
real que viveu na Grécia no século III - São
Nicolau, arcebispo católico que nas noites de Natal,
furtivamente jogava moedas de ouro pelas chaminés das
casas de famílias pobres para que pudessem pagar suas
dívidas - penso que a mística do bom velhinho
sempre existiu no coração das criaturas. Afinal
quem nunca desejou que o velho Noel existisse verdadeiramente?
A mística de Noel é
mágica e envolvente, porque nos apresenta alguém
sem preconceitos, verdadeiramente bom e justo, que presenteia
a todos sem exceção: pobres e ricos. Afinal
ganhar presentes é bom, e tão bom quanto isso
é ver “materializado” os conceitos de alegria,
pureza e amor em uma única criatura: sem defeitos e
querida por todos! Ora isso é um sonho, um desejo interior!
Algo almejado pela humanidade desde o início dos tempos...
Diria até que Noel
é, em síntese, um simulacro de Deus que na simples
e poética religiosidade popular (não, naturalmente
na dos teólogos) é alguém de barba longa
e cabelos brancos: paciente, generoso e misericordioso. Alguém
a quem podemos recorrer sempre que estivermos em dificuldade
e que nos responderá com presteza e amor, sem esperar
algo em troca.
Recordo-me do refrão
da música que há tempos os jovens cantarolavam
e que dizia: Deus é dez! Sim, amigos e amigas, na síntese
descomplicada do povo crente, Deus é alguém
que podemos definir como legal, bondoso, sorridente, carinhoso
e generoso, como Papai Noel o é para as crianças.
Alguém sem defeitos e sem necessidade de correções.
Alguém nota dez!
Agora, vamos imaginar se Papai
Noel existisse? Inicialmente as crianças não
se decepcionariam no Natal e veriam os seus sonhos realizados:
a boneca, a bicicleta, a bola oficial, o carrinho elétrico
e tantos outros brinquedos. Certamente, nos pedidos atuais,
não faltariam: celulares, computadores, i pods e outras
parafernálias digitais, mas, não importa...
O que importa é que os sonhos das crianças seriam
realizados e isso seria muito bom, não?
Depois poderíamos imaginar
que os adultos também, de uma maneira mágica
e excitante, realizassem os seus sonhos de consumo como: a
casa própria, o carro zero e muitos outros desejos
alimentados no coração de tantos filhos e filhas
de Deus. Mas, alguém poderia objetar dizendo: - Ora
isso seria apenas uma alienação consumista,
sem sentido e sem esforço de todos.
Não! A regra da mística
do Natal seria mantida, ou seja, os presentes seriam dados
aos que verdadeiramente justificassem a visita do bom velhinho,
àqueles que se comportassem direitinho no decorrer
do ano. Bem, isso seria, no mínimo, um estímulo
para todos se esforçarem para praticar o bem, a justiça
e a caridade no dia a dia. O que certamente faria o mundo
melhor!
Mas, poderíamos ampliar
a ação do velho Noel aos que não aspiram
presentes caros, mas que necessitam, por exemplo, de saúde
porque estão doentes e não têm como se
tratar; de trabalho porque estão desempregados, falidos
e morando nas ruas; de um lar porque são órfãos
ou foram abandonados por seus pais; de esperança porque
não crêem em mais nada ou ainda de paz, por viverem
envoltos e atormentados em seus problemas. Não seria
bom se estas criaturas se sentissem atendidas, amadas e acolhidas?
Ah, se Noel existisse, muitas
lágrimas não seriam derramadas porque muitos
lares seriam preservados e muitas famílias não
teriam se dissolvido, deixando um rastro de dor, medo e insegurança
no coração dos filhos: crianças ou adolescentes.
Isso porque a ação eficaz e bondosa do bom velhinho
interviria de uma maneira objetiva nestas situações,
resolvendo-as!
Lembro-me de um adolescente
que atendi, em um retiro que preguei para jovens há
anos, no início do mês de dezembro. Este jovem,
profundamente emocionado com a experiência de Deus que
teve naquele encontro, em prantos me disse: - Sabe qual o
presente de Natal que mais me faria feliz neste ano? Que os
meus pais separados voltassem a viver juntos, procurando suportar
um ao outro, restaurando a nossa família e o nosso
lar...
Se Papai Noel existisse, muitos
abortos seriam evitados e com isso, muitas vidas ceifadas
no ventre teriam a oportunidade de se manifestar, revelando
à humanidade talentos como Einstein, Bach, João
Paulo II, Madre Tereza de Calcutá, e tantas outras
criaturas talentosas, cujos pais e mães passaram por
dificuldades por ocasião de sua gestação,
nascimento e infância. Que falta faz um Papai Noel de
verdade em nossas vidas, você não acha?
Como seria bom se, de alguma
maneira, pudéssemos dar vida ao velho Noel (como Gepetto
o fez, por meio de uma fada, com o “seu filho”
Pinóquio) permitindo assim que ele, de forma rápida
e objetiva - como na entrega dos presentes em todas as casas
do mundo, na Noite de Natal - resolvesse uma grande parte
dos problemas que hoje afligem a nós e a toda a sociedade...
Mas, infelizmente, Gepetto,
Pinóquio, Papai Noel, fadas e tantas outras fantásticas
concepções humanas, fazem parte apenas do mundo
da fantasia e, portanto, fora de nossa dura realidade. Porém,
nos resta uma esperança, algo difícil de realizar,
mas que, ainda assim, nos é possível sonhar:
deixar-nos envolver pelo espírito de Papai Noel, assumindo
cada um de nós o seu papel.
Na verdade, este “espírito
de Papai Noel” a que me refiro nada mais é do
que o verdadeiro espírito natalino materializado na
figura do bom velhinho. Espírito que foi engolido gradualmente
pela força da mídia que, por razões econômicas,
propaga mais a figura de Noel do que a do menino Jesus.
Todavia, esta postura “noelina”
que assumiríamos, não deveria se restringir
ao período do Natal, mas durante o ano todo. Assim
seria possível que muitas das dificuldades, que a maioria
das pessoas enfrenta por toda a face da terra, fossem minimizadas
ou, quem sabe até, eliminadas, estabelecendo entre
nós um clima de paz, amor, justiça e direito,
capaz de espalhar pelo mundo: alegria, segurança e
felicidade que tanto necessitamos.
Ser Noel nos dias atuais,
nada mais é do que viver o que Deus nos propõe
desde o início dos tempos, ao criar o homem e a mulher
e conceder a eles o livre arbítrio para conduzir as
suas vidas com toda a liberdade. Porém, ciente de que
esta liberdade - se mal utilizada - poderia se transformar
em escravidão, Deus tomou uma providência, como
lemos em sua Palavra:
“No princípio
Deus criou o homem, e o entregou ao seu próprio juízo,
deu-lhe ainda os mandamentos e os preceitos. Se quiseres guardar
os mandamentos, e praticar sempre fielmente o que é
agradável a Deus, eles te guardarão. Ele pôs
diante de ti a água e o fogo, estende a mão
para aquilo que desejares. A vida e a morte, o bem e o mal
estão diante do homem; o que ele escolher isto lhe
será dado.” Eclo 15, 14 – 18.
Ora, queridos amigos e amigas,
ao nos estabelecer alguns limites pelos mandamentos e preceitos
de Sua lei, Deus nada mais fez do que nos proteger das conseqüências
do mau uso de nossa liberdade. Mau uso que provoca males,
desgraças e injustiças ao redor do mundo que,
por sua vez, geram medo, dor, insegurança, crimes,
desvios enfim: que nos levam à morte.
Como nos fala a palavra acima,
Deus colocou diante do homem e da mulher: a vida
e a morte, o bem e o mal e complementou: o
que eles escolherem isto lhes será dado.
Pelo que vemos acontecendo pelo mundo com o clima, a natureza,
os pequenos e indefesos e com os mais pobres, parece que a
escolha tem recaído mais sobre a morte e do que sobre
a vida.
Da mesma maneira tem acontecido
com nossas mãos frente a: água e
o fogo. Elas vivem queimadas ou, ao menos, sapecadas.
Sapecadas pelo fogo e sujas pelos muitos pecados de corrupção,
omissões, egoísmo, hedonismo, inveja, gula,
entre tantos, que conscientemente cometemos sem nos preocuparmos
muito com a vida eterna e as conseqüências destes
nossos atos.
Agir como Papai Noel agiria
seria optar pela vida, promovendo
somente o bem neste mundo. Assim,
a água viva do amor, de que
nos fala Jesus, jorraria de nossos corações,
aplacando a sede de muitos e, ao mesmo tempo, apagando os
incêndios que o ódio, o egoísmo, a inveja,
a ganância e tantos outros comportamentos contrários
ao projeto de Deus, provocam, causando dor, tristeza, revolta
e tantos danos irreversíveis nas criaturas humanas.
Neste Natal, pense nisso...
Mais do que nos fantasiarmos de Papai Noel, vamos assumir
o seu espírito de amor e bondade (que na verdade é
o espírito natalino latente em nós e que provém
de Deus), assimilando-o e adotando-o como postura nossa ao
longo do ano de 2008. Assim provocaremos lágrimas,
não de dor, mas de alegria e gratidão nas pessoas
com as quais conviveremos no dia a dia, e também nas
que porventura cruzarem os nossos caminhos.
Feliz Natal e que você
no decorrer de todo o ano de 2008, como a fada, possa dar
vida ao Papai Noel, espalhando pelo mundo: alegria, paz e
amor!
Antonio Miguel Kater
Filho |