* por Luciano Pires
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Luciano Pires, formado em Comunicação
Social, diretor de Comunicação Corporativa da Dana, cartunista
premiado duas vezes no Salão de Humor de Piracicaba, colaborador
de várias revistas, jornais e sites, conferencista e escritor.
E-mail:
luciano@lucianopires.com.br
Internet:
http://www.lucianopires.com.br
Um amigo me explica como está sendo desenvolvido
o processo de "lean manufacturing", ou "manufatura enxuta"
na sua empresa. Essa é a moda da hora, um processo que prevê
produzir mais com menos recursos. Tem resultados assombrosos, obtendo
índices de produtividade crescente com menos gente, menos máquinas,
menos operações, menos espaço, menos tempo.
O que chamou a atenção foi quando ele
me contou que criaram um time apelidado de "swat", para analisar
as mudanças necessárias e implementa-as imediatamente.
O grupo não usa o processo de compras normal, não espera
para mudar as coisas, resolve os problemas imediatamente. Quebra as
normas burocráticas para obter o resultado necessário.
Imediatamente.
O irônico é que a empresa passa, neste
momento por um processo de burocratização insano. Depois
dos escândalos fiscais das grandes corporações,
foram criados procedimentos para garantir a integridade fiscal do negócio
que exigem um nível de documentação que está
engessando as empresas. Uma compra que era feita na hora, hoje leva
uma semana. Uma contratação resolvida em minutos, hoje
leva dias.
A pressão pela transparência das transações
está fazendo com que as responsabilidades sejam pulverizadas.
A tomada de decisão que ontem era feita por uma pessoa hoje é
de um departamento. Tem gente no jurídico, no RH, na auditoria,
na contabilidade, especializando-se em garantir que as normas sejam
seguidas à risca. Normas...
E os processos começam a ficar complicados,
demorados. O senso de urgência desaparece. A eficiência
operacional cresce, mas a capacidade de resposta ao mercado, aos clientes
e à concorrência, é pulverizada.
É então que o sistema começa
a criar soluções como a tal "swat", feita para
driblar os processos paquidérmicos que o mesmo sistema criou.
Não é o samba do crioulo doido?
Normas...
Lembrei-me daquela placa com limite de velocidade
de 40 por hora num lugar onde perfeitamente podemos chegar a 80. Normas.
Lembrei-me das operações-padrão nos aeroportos
ou na polícia federal. Todos os vôos atrasam. As filas
ficam quilométricas. Gasta-se horas num processo que normalmente
leva minutos. A razão?
Normas seguidas à risca... Sempre as normas...
Quem é que vai ganhar esse jogo, hein?
A burocracia selvagem e burra baseada na desconfiança
mútua? Ou o discurso do "foco no cliente", da velocidade
de decisão e da inovação?
Não sei. Mas talvez seja hora de entender que
o controle é inimigo da imaginação.