* por Luciano Pires
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Luciano Pires, formado em Comunicação
Social, diretor de Comunicação Corporativa da Dana, cartunista
premiado duas vezes no Salão de Humor de Piracicaba, colaborador
de várias revistas, jornais e sites, conferencista e escritor.
E-mail:
luciano@lucianopires.com.br
Internet:
http://www.lucianopires.com.br
O Timo era meu vizinho de apartamento em 1984, ao lado
do Shopping Ibirapuera, em São Paulo. Eu nunca soube seu nome,
mas o apelido era Timo. Tinha uns trinta e poucos anos.
O Timo vivia com uma moça linda e magérrima,
cujo nome não me lembro mais. Ela era modelo fotográfico
e de passarela. Formavam um belo casal.
Uma manhã, um falatório no corredor
me acordou. Levantei meio grogue e espiei pelo olho mágico. Vi
uma agitação, pessoas estranhas pra lá e pra cá,
vestindo fardas.
Era a polícia. E estavam apressados, apavorados
até.
Refeito do susto, corri para a janela. Lá embaixo,
uma ambulância. Em segundos uma maca é colocada em seu
interior e ela arranca apressada. Assustado, me vesti e fui falar com
o zelador.
- "O ´seu´ Timo se atirou" foi
a resposta também assustada.
Demorei a entender o "se atirou". O zelador
quis dizer que o Timo havia se suicidado. Desesperado após uma
briga com a companheira, entrou no quarto e deu um tiro em si mesmo.
Portanto, "se atirou".
Vinte anos depois, não me esqueci do "seu
Timo se atirou".
Aquele lance de humor involuntário num momento
trágico me marcou profundamente, para o resto da vida.
Que poder o humor tem de causar tal impacto mesmo quando
coisas muitíssimo mais importantes estão à nossa
frente, não é? E se o humor tem esse poder, devemos usá-lo
de forma inteligente, você não acha?
É por isso que, em tudo que faço, busco
colocar uma pitada de humor. Em absolutamente tudo. O humor bem utilizado
provoca sorrisos. E quando sorriem, mesmo que apenas mentalmente, as
pessoas derrubam as barreiras para suas almas. É quando podemos
gravar lá nossas mensagens.
Com o humor, conseguimos rir de nós mesmos.
Conseguimos aliviar os momentos de tensão. Conseguimos nos vingar
de quem nos atormenta.
Não sei o tamanho do problema nem o que se
passava pela mente perturbada do Timo, mas alimento uma dúvida.
E se ele, em vez de um revolver, tivesse enfrentado
seus problemas com humor?
Talvez levasse uma vida menos atormentada...
Talvez trocasse o desespero pela esperança...
Talvez passasse do choro ao sorriso...
Talvez salvasse sua alma...
Mas, não.
Carente de humor, seu Timo se atirou.