* por Luciano Pires
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Luciano Pires, formado em Comunicação
Social, diretor de Comunicação Corporativa da Dana, cartunista
premiado duas vezes no Salão de Humor de Piracicaba, colaborador
de várias revistas, jornais e sites, conferencista e escritor.
E-mail:
luciano@lucianopires.com.br
Internet:
http://www.lucianopires.com.br
O que fazer diante dos acontecimentos dos últimos
dias? Por enquanto decidi observar. Quero ver quem vai saber escolher
entre moral e política...
Mas ando agoniado diante da perspectiva de perda do
único recurso que não podemos renovar: o tempo. Imagino
que os 60 ou 90 dias em que estaremos mergulhados na questão
do mensalão e dos Correios, custarão pelo menos dois ou
três anos de resultados futuros, em função das medidas
que não serão tomadas, as discussões que deixarão
de ser feitas, as votações que serão suspensas
e a implosão de alguns grupos...
Um custo necessário? Penso que inevitável.
E para fugir dessa agonia, optei pela leitura. Escolhi Maquiavel.
E fiquei pior...
Nicolau Maquiavel foi um filósofo florentino
que morreu em 1527. Escreveu um livro obrigatório chamado "O
Príncipe", e sua obra pode ser resumida numa frase que ele
jamais escreveu: "Os fins justificam os meios".
Pois leia um pouco do que Maquiavel escreveu:
"Deve ter-se presente que um príncipe,
e, sobretudo um príncipe novo, não pode observar todas
aquelas coisas pelas quais os homens têm fama de bons, tendo mesmo
necessidade, para manter o Estado, de proceder contra a fé, contra
a caridade, contra a humanidade, contra a religião. É
preciso mesmo que tenha o ânimo disposto a mudar segundo o que
lhe mandem os ventos e as variações da fortuna e, como
acima disse, não se separar do bem podendo fazê-lo, mas
saber entrar no mal se for necessário".
"Deve ainda um príncipe ter grande cuidado
em que não lhe saia da boca uma só coisa que não
esteja cheia das cinco qualidades atrás ditas e que ao verem-no
e ao ouvirem-no pareça todo piedade, todo fé, todo integridade,
todo religião. (...) Todos vêem aquilo que tu pareces,
poucos sentem o que és, e estes poucos não se atrevem
a opor-se à opinião dos muitos que têm a majestade
do Estado que os defenda (...) Faça, pois um príncipe
por vencer e por manter o seu Estado; os meios serão sempre julgados
honrosos e de todos louvados. Porque o vulgo deixa-se sempre levar pela
aparência e o sucesso das coisas; e no mundo não há
senão vulgo e os poucos só têm lugar quando os muitos
não têm em que apoiar-se. Há presentemente um príncipe,
que não quero nomear, que só prega paz e boa fé
e é inimicíssimo duma e doutra; e se fosse a observar
uma e outra, muitas vezes lhe teria prejudicado a reputação
ou o Estado".
O Príncipe a que Maquiavel se referia era Fernando,
o católico, rei de Aragão. Você acredita que isso
foi escrito quase 500 anos atrás?
Dizem que Maquiavel toda noite colocava trajes formais
para encontrar-se com personalidades importantes do passado, através
da leitura de livros.
Pois hoje à noite vou dormir de terno.