* por Tom Coelho
* Tom Coelho, com formação em Economia
pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP, especialização
em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA-FEA/USP,
é empresário, consultor, professor universitário,
escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting e Diretor Estadual
do NJE/Ciesp. Contatos através do e-mail
atendimento@tomcoelho.com.br.
Visite:
www.tomcoelho.com.br.
“Aos 20 reinará a vontade; aos 30, a sagacidade;
aos 40, o bom senso.”
(Benjamin Franklin)
A vida tem me tratado bem. Não que tenha sido
ou que esteja sendo fácil. Mas fazendo apologia à teoria
da relatividade, tudo é uma questão de referencial.
Tive uma saúde debilitada já na mais
tenra idade. Lembro-me com exatidão das longas jornadas empreendidas
por minha mãe, eu de mãos dadas a ela, saltando de um
ônibus para outro, em direção a um hospital público
para tratamento de uma febre reumática. A posologia prescrevia
penicilina benzatina, além de corticóides para amenizar
as incômodas dores incidentes nas articulações.
As injeções eram doloridíssimas. E aplicadas com
uma freqüência incomum – dias alternados no início
do tratamento até a periodicidade mensal.
Como se não bastasse, também fui premiado
com as mais diversas manifestações alérgicas. É
mais fácil eu sucumbir a partir de um comprimido contendo dipirona
do que diante de uma guilhotina!
Do reumatismo herdei um sopro cardíaco, seqüela
comum à enfermidade. Da alergia, uma pretensa fragilidade nas
vias respiratórias. Porém, não houve espaço
para tais manifestações. Entreguei-me ao esporte, praticando
as mais diversas atividades, de basquetebol a artes marciais, passando
por natação, canoagem, iatismo e até pára-quedismo.
Hoje, dedico-me à esgrima e ao surfe. O primeiro para competir
e satisfazer uma necessidade tenaz de colocar-me à prova. O segundo
para simplesmente não ter que competir contra ninguém
– nem eu mesmo. Que o mar faça sua vontade.
Minha família constituiu-se grande e restrita
ao mesmo tempo. Grande, porque formada por mais quatro irmãs.
Restrita, porque não se estendia aos primos, tios e mesmo avós.
Admiro quem teve ou tem a presença onisciente das “nonas”
e a casa sempre cheia aos domingos. Todavia, os fatos de meu pai não
estar em casa para assistir ao telejornal anterior à novela e
não compartilharmos juntos das refeições à
mesa, não foram suficientes para nos tornar menos unidos ou para
arrefecer o amor que ainda hoje nos envolve, mesmo após a partida
de minha mãe.
De filho a pai, de amigo a amante, de namorado a esposo
– e, depois, ex-marido – os relacionamentos pessoais foram
cada qual lapidando minha personalidade, cunhando meu caráter,
marcando minha alma. Do êxtase do beijo à amargura da separação,
todos foram significativos. Um sentimento destilou-me o prazer. O outro,
o aprendizado. O amadurecimento ensina que não vale a pena ofender,
embora você o faça; doutrina que assim como o corpo se
acostuma à dor, o coração assimila o rompimento
quando percebe que a pior solidão é aquela que se sente
acompanhado.
Entre conhecidos e colegas, veio o legado de alguns
bons amigos. Muitos perderam-se no tempo, mas não se esvaíram
da memória. Os amigos e as brincadeiras, estas praticadas à
luz do luar, tarde da noite, pijamas à mostra, sem trânsito
para ferir ou insegurança para amedrontar. Os jogos não
eram eletrônicos, por isso custavam pouco. Bastavam palmas, pernas
e sorrisos.
Hoje os amigos são outros e curiosamente os
melhores surgiram eletronicamente, não sintetizados, é
claro, mas apresentados pelo clique de um botão. Gente de tudo
quanto é lugar, uns próximos, outros distantes, mas sempre
presentes como se estivessem diante de mim na sala de estar. Confortam
e pedem consolo. Ajudam e clamam por auxílio. Para ficar completo,
falta apenas o abraço. Ah... se houvesse o teletransporte!
Profissionalmente, levei quinze anos para me descobrir.
Por vezes, mais difícil do que a descoberta é a aceitação.
Enfrentar o receio de trocar o pouco certo ao muito duvidoso. Você
faz o que tem medo e ganha coragem depois, não antes. Mas isso
também não se ensina na escola acadêmica, apenas
se aprende na escola da vida.
Quando você depura tudo o que lhe cerca percebe
que a simplicidade começa a reinar. E ser simples não
significa ser pequeno, mas dispor do que é crítico e imprescindível.
Luz e calor do sol, companhia e aconchego brilhante da lua. Cores, sabores
e texturas dos alimentos. Ritmo, melodia e harmonia dos sons. Filme
com pipoca e refrigerante a dois. Fé e gratidão.
Mas nunca estamos satisfeitos. Pessoalmente eu deveria
nutrir uma sensação de quietude. Uma onda no mar, uma
nota no saxofone, uma tarde com os filhos, uma cerveja gelada com os
amigos, um beijo apaixonado, uma refeição saborosa, uma
noite revigorante, um bom livro, uma mão que assiste a quem precisa,
uma dívida do passado resgatada, um artigo escrito com amor e
lido com prazer.
Contudo, há um mundo enigmático lá
fora. Um mundo de diferenças habitado por pessoas indiferentes.
Um mundo que cultua o conflito, que se afasta do consenso. Um mundo
que desejo mais que conhecer, registrar.
Por isso pretendo escrever “Diários de
Guerra”. Percorrer nações na iminência, durante
e após um conflito bélico. Compreender o porquê
de sua ocorrência e quais seus efeitos sobre a sociedade, a cultura
e a economia de um país. Estudar a correlação com
as várias religiões, crenças e dogmas. E, fundamentalmente,
observar e analisar os reflexos sobre as pessoas.
Este é um projeto para daqui alguns anos cuja
duração e início estão diretamente relacionados
à oportunidade de compartilhá-lo com um veículo
da mídia eletrônica ou impressa. Com apoio, tornar-se-á
rapidamente viabilizado. Sem apoio, apenas demandará mais tempo.
Talvez eu esteja buscando conhecer melhor a humanidade.
Talvez esteja em busca de conhecer a mim mesmo. Talvez esta busca contínua
seja apenas uma forma de reverenciar minha própria liberdade.
Sei apenas que prefiro a angústia da busca à paz da acomodação.