* por Tom Coelho
* Tom Coelho, com formação em Economia
pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP, especialização
em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA-FEA/USP,
é empresário, consultor, professor universitário,
escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting e Diretor Estadual
do NJE/Ciesp. Contatos através do e-mail
atendimento@tomcoelho.com.br.
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Na trajetória pela
conquista do diploma desperdiçamos o prazer do estudo, o sabor
do aprendizado. Com olhos fixos na almejada copa da árvore, a
mesma onde colhíamos jabuticabas, e mangas, e goiabas, e onde
o poder agora parece nos aguardar, esquecemos da amplidão da
floresta, perdemos a magia da diversidade.
O Desejado Pergaminho
“Decepção não mata, ensina
a viver.”
(Provérbio)
Infância alegre e feliz à lembrança
remete de brincadeiras que caíram em desuso. Jogos que não
podiam ser individuais, mas apenas coletivos, e que por conta disso
já nos ensinavam a magia do fazer em grupos, do construir equipes,
do formar times.
Peripécias cultivadas com mãos arteiras
e pés descalços; bolas, piões, pipas e bonecas;
joelhos esfolados, galos na cabeça; frutas na copa das árvores,
plantar bananeira. Tudo interrompido apenas pelo compromisso da lição
de casa, ou “o dever”. Ditado e tabuada, nomes de rios e
de presidentes. Feito isso, podia-se aproveitar mais um pouco do luar
que iluminava as ruas e da brisa que as varria.
Anos depois, adolescência plena, os ditados viraram
redação, e as tabuadas, equações. A educação
apropriou-se do expediente dos “trabalhos” como metodologia.
Construir instrumentos musicais com materiais descartáveis, elaborar
um informativo a partir de notícias recortadas de jornais e revistas.
Tarefas prazerosas, respectivamente, para aqueles dotados de talento
artístico e editorial. Tarefas desgostosas para os mesmos, em
papéis inversos, quando não as apreciavam.
Um salto no tempo e a memória vislumbra noites
que avançam madrugadas adentro, livros no colo, refrigerante
de cola no copo, olhos cansados, temas diversos sendo estudados para
avaliações rotineiras chamadas “provas”, como
quem denuncia que devemos comprovar que entendemos, que decoramos, mas
não necessariamente que aprendemos.
Ensino médio que vai, vestibular que passa,
faculdade que chega. Os ditados, que outrora se transformaram em redações,
agora evoluem para teses e monografias. As tabuadas, antes promovidas
a equações, ganham o status de cálculos diferenciais
e integrais.
Na infância, você questiona o porquê
de memorizar os nomes dos rios. Mas, tudo bem, aceita fazê-lo
para granjear uma boa nota e, por conseguinte, o sorriso estampado no
rosto de seus pais.
Na adolescência, você se pergunta os motivos
pelos quais deve estudar química se pretende ser um historiador;
biologia, quando deseja ser engenheiro. Mas, tudo bem, supera mediocremente
as aulas e avaliações, afinal, na faculdade estará
isento deste “destempero”.
No ensino superior, custa-lhe aceitar que cálculos
estatísticos tenham que ser conduzidos a partir de fórmulas
matemáticas quando o computador está à disposição
para apontar o resultado em uma fração de segundos. Mas,
tudo bem, você aceita mais esta, tudo porque está desde
sua mais tenra idade em busca do desejado pergaminho: o diploma.
Na trajetória pela conquista do canudo, documento
com a capacidade singular de anunciar ao mundo as qualidades e competências
pretensamente adquiridas, tal qual divisas que ilustram uniformes de
oficiais, desperdiçamos o prazer do estudo, o sabor do aprendizado.
Com olhos fixos na almejada copa da árvore, a mesma onde colhíamos
jabuticabas, e mangas, e goiabas, e onde o poder agora parece nos aguardar,
esquecemos da amplidão da floresta, perdemos a magia da diversidade.
Diploma em punho, vem a decepção de que
ele nada garante, seja a percepção de conhecimento, seja
a segurança de um emprego. A descoberta maior é de que
ele é insuficiente. E, agora, talvez até indesejável,
porque embotou sonhos e talentos do passado. Frustração
com gosto de traição.
As portas foram apenas destrancadas, mas devem ser
abertas por dentro de cada um de nós. Se você puder resgatar
sonhos e talentos, não apenas na memória, mas também
na ação, poderá refletir: “Vivi. E aprendi
a viver”.
PS: Este artigo é
dedicado ao meu amigo João Padilha, um jovem com 72 anos completos
que iniciou recentemente um curso de especialização pela
Internet. João sempre escreve para comentar os textos relatando
em tópicos “o que aprendeu” a partir de cada um deles.
Esquece-se de relacionar o que ensina. Disse-me em sua última
mensagem: “Enquanto em mim repousar o suspiro de vida, tudo o
que posso executar para vencer o medo, não hesitarei em fazê-lo”.