* por Tom Coelho
* Tom Coelho, com formação em Economia
pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP, especialização
em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA-FEA/USP,
é empresário, consultor, professor universitário,
escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting e Diretor Estadual
do NJE/Ciesp. Contatos através do e-mail
atendimento@tomcoelho.com.br.
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Temos
o hábito de praticar o que se poderia definir como “elogio
à ingratidão”. Tanto fazemos que conseguimos o objetivo
oposto ao que antes nos movia. Perdemos o emprego. Somos deixados pela
pessoa amada.
O EXERCÍCIO DA PERDA
“Enquanto o poço não seca, não
sabemos dar valor à água.”
(Thomas Fuller)
Um dia você se depara com a logomarca de sua
empresa estampada numa página de revista, numa folha de jornal
ou em um outdoor. E seu rosto ganha contornos de um breve sorriso.
Passando em frente à companhia você admira
a imponência das instalações. A grade que delimita
sua divisa, as amplas janelas envidraçadas, o uniforme do segurança
que guarda a entrada.
Caminhando pelos corredores você cruza com seus
colegas cumprimentando-os efusivamente. O cafezinho servido na copa
tem aroma e sabor agradáveis. Você avista sua área
de trabalho, contemplando desde o grampeador até o monitor que
descansa sobre a mesa, passando pela cadeira com rodízios.
Todas estas imagens lhe remetem a bons momentos e a
uma sensação de orgulho e prazer. Mas também de
tristeza porque você não mais trabalha lá...
Numa manhã ensolarada de domingo você
resolver organizar seus pertences. Malas, bolsas e armários são
o alvo principal. Entre o abrir e fechar de gavetas, o remexer em caixas
e envelopes amarelados pela ação do tempo, você
encontra cartas e fotos da pessoa amada. E você relê estas
cartas. E você observa as fotos. E um filme de sua vida passa
diante de seus olhos. E, tomado pela emoção, seus olhos
podem marejar.
Como se não bastasse, você pode ouvir
uma canção. Música ao longe que não passa
de mais uma composição entre tantas outras para a maioria
das pessoas, mas que para você representa a ancoragem de um momento
único, especial. Pode simbolizar o primeiro beijo, a primeira
declaração de amor, a primeira noite juntos.
E todos estes objetos e sons fazem você viajar
para dentro de si e sentir a graça da alegria e da felicidade.
Uma sensação que somente o amor pleno pode nos proporcionar.
Porém, emoções vividas outrora porque você
não mais está ao lado daquela pessoa amada...
Temos o hábito de praticar o que se poderia
definir como “elogio à ingratidão”. Lutamos
com tenacidade para alcançar nossas metas. Aceitamos privações,
enfrentamos discórdias, declinamos de nossas mais fortes convicções,
tudo para satisfazer a um desejo.
Agimos assim, seja para adentrar uma organização,
seja para conquistar um coração. E vibramos muito com
nosso êxito. No início, a empresa em que trabalhamos é
a melhor dentre todas as demais. O ambiente é o mais favorável,
as atividades são as mais adequadas, as oportunidades são
as mais promissoras.
Analogamente, os amores que principiam são perfeitos.
A atração é permanente e acolhedora, o diálogo
é constante e engrandecedor.
Porém, a rotina fermenta o açúcar
das relações. E transforma iniciativa em apatia, companheirismo
em desprezo, generosidade em mesquinhez. Tanto fazemos que conseguimos
o objetivo oposto ao que antes nos movia. Perdemos o emprego. Somos
deixados pela pessoa amada.
Henri Becque dizia: “A liberdade e a saúde
se assemelham: o verdadeiro valor só é dado quando as
perdemos”. Acredito que este princípio seja ainda mais
amplo...
Por isso, quero fazer-lhe um convite para praticar
um novo tipo de exercício. Eu o chamo de “exercício
da perda”. Trata-se de uma ginástica mental através
da qual você passa a vislumbrar cenários, como quem estivesse
numa partida de xadrez, imaginando o impacto de seus próximos
movimentos em decorrência de suas escolhas, de suas decisões
pessoais.
Não pretendo, com isso, incentivar a manutenção
de relações medíocres. Há empresas nas quais
não cabemos mais. Tornam-se pequenas para nossos propósitos,
pé direito baixo fazendo-nos bater com a cabeça no teto.
Há amores que se esgotam. Tornam-se protocolares, habituais,
dispensáveis. Em ambos os casos, o melhor é um resoluto
adeus.
Mas não se permita concluir deliberadamente
que o fim chegou apenas porque o estímulo e o entusiasmo do início
foram ofuscados pelas adversidades. Lembre-se sempre de que uma alegria
destrói cem tristezas e de que a gratidão assegura a felicidade.