* por Tom Coelho
* Tom Coelho, com formação em Economia
pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP, especialização
em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA-FEA/USP,
é empresário, consultor, professor universitário,
escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting e Diretor Estadual
do NJE/Ciesp. Contatos através do e-mail
atendimento@tomcoelho.com.br.
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Com telas
e telões como coliseus e jogadores como gladiadores, temos nosso
devotado circo. Com o bolsa-família, o aumento do salário
mínimo e a correção da tabela do imposto de renda,
temos nosso pão. Imperadores da Roma Antiga devem estar orgulhosos
de seu legado milenar.
Pão, Circo e o Patriotismo
da Bola
“Só há duas opções
nesta vida: se resignar ou se indignar.”
(Darcy Ribeiro)
Só se fala nisso. Os jornais impressos lançam
cadernos exclusivos. Os noticiários no rádio e na televisão
dedicam blocos inteiros para abordar o assunto. Surgem programas de
debates de todos os tipos. De comentaristas esportivos a ex-atletas,
passando por atores e atrizes, músicos e colunáveis, todos
parecem dotados de uma licença poética para opinar sobre
resultados, lances e escalações. Fazem prognósticos
como se fossem cientistas, criticam como se pudessem nortear decisões.
As cidades ganham um colorido em verde e amarelo. Bandeiras
tremulam nas sacadas dos edifícios, nas janelas dos veículos,
nas mãos dos pedestres. As ruas ficam desertas durante os jogos,
o comércio fecha, a indústria pára.
Enquanto isso, projetos deixam de ser votados no Congresso;
empresas adiam investimentos; escândalos políticos são
engavetados pela memória.
Há pouco mais de vinte anos, precisamente em
janeiro de 1984, uma campanha pelas eleições diretas para
presidente da República reuniu 300 mil pessoas no centro de São
Paulo. E em agosto de 1992, foi a vez da manifestação
popular pelo impeachment do então presidente Fernando Collor
de Mello, reunir mais de 500 mil pessoas em 17 cidades.
Antes destes eventos, podemos mencionar, na década
de sessenta, 1968, o “ano que não terminou”. E a
abertura política celebrada pela lei da anistia aos cassados
pelo regime militar, decretada em agosto de 1979. Mobilizações
de caráter cívico parecem ocorrer neste país em
ciclos de dez anos. Estamos atrasados...
A pátria de chuteiras hasteia suas bandeiras
apenas a cada quatro anos por pacotes de alegria de noventa minutos.
Em torno da bola, mostra uma capacidade ímpar de união
e civismo. Quisera eu ver igual demonstração de organização
por outras causas. Pela educação, pela saúde, pelo
controle dos gastos públicos, pela redução da carga
tributária, pela segurança, pela redução
das desigualdades sociais, pela ética na política.
Em vez disso, optamos por enaltecer atletas que, salvo
exceções, esqueceram o significado da palavra humildade.
Fazemos apostas e comentários que não levam a nada. Discutimos
sobre as decisões equivocadas de um treinador que age exatamente
como a maioria dos líderes de nossas empresas, desperdiçando
talentos em defesa de sua inflexibilidade.
Com telas e telões como coliseus e jogadores
como gladiadores, temos nosso devotado circo. Com o bolsa-família,
o aumento do salário mínimo e a correção
da tabela do imposto de renda, temos nosso pão. Descalços,
desdentados, descamisados, mas brevemente felizes.
Imperadores da Roma Antiga devem estar orgulhosos de
seu legado milenar.